Páscoa de
Jesus: as utopias jamais morrerão
Por Gilvander Moreira[1]
Fotografia tirada no adro da Igreja do Senhor Bom Jesus dos Lavradores, Torres Novas - Ribatejo, Portugal. Foto: Salvador Daqui, via Twitter.
O sentido da Páscoa não pode ser privatizado por
expressões religiosas que desencarnam a fé cristã e amputam a dimensão social
da fé. A ressurreição de Jesus Cristo não garante apenas vida após a morte. É
preciso não esquecer que a Páscoa Judaica, origem da Páscoa Cristã, diz
respeito à libertação dos povos escravizados no Egito pelo imperialismo dos
faraós. Por isso Páscoa envolve reunir os injustiçados, atravessar os “mares
vermelhos”, marchar rumo à terra prometida – terra partilhada e democratizada -
e lutar para conquistá-la. A Páscoa cristã atesta que Jesus de Nazaré, mesmo
sendo inocente e justo, foi condenado à pena de morte, mas ressuscitou. O sonho
ensinado e testemunhado por Jesus jamais será sepultado.
Há quase 2.000 anos ecoa uma notícia revolucionária
dada em primeira mão por Maria Madalena, “apóstola dos apóstolos”, mulher que
amava muito, era muito solidária e lutava contra toda e qualquer injustiça. Irradiando
alegria, a partir do túmulo de Jesus de Nazaré, Maria Madalena saiu correndo e
anunciando por todos os cantos e recantos: “Jesus está vivo, ressuscitou!”
Bateram em ferro frio os chefes dos podres poderes da religião, da política e
da economia, ao pensar que condenando Jesus de Nazaré à pena de morte, poriam
fim no movimento popular e religioso de fraternidade real, testemunhado e
ensinado pelo Galileu da periferia da Palestina. Celebrar a Páscoa de Jesus de
Nazaré é momento oportuno para revigorar nossa fé no Deus da vida, fé na
humanidade, fé nos oprimidos, fé na mãe terra, na irmã água e fé em nós mesmos.
O Evangelho de Mateus diz: "Jesus foi ao encontro
das mulheres e disse: "Alegrem-se! Não tenham medo. Vão anunciar aos meus
irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão!" (Mt 28,9b-10). Meu
colega frei Cláudio van Balen e eu afirmamos: “a partir do testemunho e da mensagem de Jesus de Nazaré, somos todos convidados
a reconhecer o poder da ressurreição instalado no coração das pessoas e de
todos os seres vivos. Todos pertencemos à ordem da transcendência, em que
grandeza divina se faz nossa herança. Que nesta Páscoa, todos renasçamos para a
missão que Deus mesmo nos reservou: sermos portadores/as de vida plena”.
Amigas e amigos, o poder da ressurreição seja luz em nossos
corações, à guisa de uma esperança anônima que nos faça aguardar a participação
na plenitude do ser. Que, em meio ao claro-escuro, com recuos e avanços, com a
aparente predominância dos podres poderes, nos dirijamos, no dia a dia, ao
encontro que Deus e a dádiva da vida nos oferecem. Deixemo-nos contagiar por um
júbilo oculto que nos torne vitoriosos, mesmo quando parecemos sucumbir. Somos
muito mais fortes do que nossos limites. Possamos encontrar na ressurreição de
Cristo a felicidade de nossas existências. Seja essa a alegria capaz de abrir
os túmulos de nossas angústias e medos. Como o mar não escapa das ondas que lhe
são impostas, possamos reconhecer-nos debaixo do poder e da bênção de Deus que
é mistério de infinito amor. Ele nos constituiu herdeiras/os de riquezas
celestes, portadores de um destino infinito: “combater o bom combate e fazer a
diferença”, sempre conspirando a construção de uma sociedade do Bem Viver e
Conviver: justa, solidária, democrática, sustentável ecologicamente, plural culturalmente
e (macro)ecumênica. Experimentemos esse
poder de ressurreição até mesmo em nossas fragilidades, ambiguidades e
contradições. O germe da vida vencendo a morte e do amor superando o egoísmo está
em cada um de nós como a luz do dia, como o ar que respiramos, como a lei
graciosa de um movimento que a nos conduz e encanta.
Celebrar a Páscoa judaica e cristã é cantar e dançar a
ciranda da Ressurreição, da vida triunfando sobre a morte. Jesus foi condenado
à morte, mas ele ressuscitou. Por isso o ideal de vida e liberdade para
todos/as não morre. Com a ressurreição de Jesus as utopias jamais morrerão, os
sonhos de libertação jamais serão pesadelos, a luta dos oprimidos e
injustiçados será sempre vitoriosa (ainda que custe muito suor e sangue) e as
forças da Vida terão sempre a última palavra. Por mais cruéis que sejam, todas
as tiranias, opressões, corrupções e guerras passarão! As crianças e todos que
se regem pela lógica do amor triunfarão. Se olharmos, com benevolência, em volta,
veremos, surpresos, que os sinais de Páscoa superam os sinais de morte.
Injustamente o que é alardeado aos quatro ventos pela grande imprensa –
imprensa dos opressores – é o negativo, aquilo que, como ácido, corrói o tecido
social.
Desejamos a todas e todos Páscoa cheia de Paz, de Justiça
e Solidariedade!
Oxalá pela nossa forma de viver, agir e conviver
sejamos testemunhas de que a vida é mais forte do que a morte, que o amor é
mais forte do que o egoísmo, que a justiça tem mais força que a injustiça. Feliz e sublime Páscoa para todas e todos!
21/4/2019.
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas;
assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais
Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br –
www.twitter.com/gilvanderluis –
Facebook: Gilvander Moreira III
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