PAULO NA CARTA AOS ROMANOS: VIVER NO AMOR MÚTUO (Rm 13,8-14)? Por Frei Gilvander Moreira1
Capa do livro do TEXTO-BASE do CEBI-MG sobre Carta aos Romanos para mês da Bíblia de 2025
A Carta
do apóstolo Paulo aos Romanos foi escolhida para ser assunto de reflexão nas
Comunidades Cristãs em setembro, mês da Bíblia, de 2025. Organizada em 16
capítulos, inserido no Novo Testamento Bíblico entre os livros de Atos dos
Apóstolos e I Coríntios, a Carta aos Romanos, inspirado texto bíblico, é
endereçada, provavelmente, a Comunidades Cristãs da periferia de Roma, a
capital do império, e, por extensão, também endereçada a nós das comunidades
cristãs atuais. Como 4º pequeno texto sobre a Carta aos Romanos, aqui nos
dedicamos a analisar Rm 13,8-14.
“O amor ao próximo, amor mútuo, garante o
cumprimento de toda a lei” (Rm 13,8), alega o apóstolo Paulo. Ou seja,
nenhum legalismo irá nos salvar. Não basta construir leis e exigir o respeito a
elas. É preciso adesão pessoal ao projeto de Jesus Cristo, prática de amor
mútuo, o que inclui respeito à dignidade humana de toda e qualquer pessoa, sem
exceção.
Em profunda
sintonia com o Evangelho de Jesus Cristo, Paulo comenta que os mandamentos que
se referem à relação com o próximo – “não matar, não roubar, não cobiçar
...” estão sintetizados em “amar o próximo como si mesmo” (Rm 13,9). “Quem
ama não pratica o mal contra o próximo” (Rm 13,10). Paulo está dando dicas
de como fortalecer as relações de fraternidade nas comunidades, o que lhes dará
mais força para enfrentar as autoridades opressoras. Em outras palavras, Paulo
alerta a todos(as) de que o caminho para frear a violência e as injustiças das
autoridades escravocratas e tirânicas passa, necessariamente, pelo
reconhecimento e fortalecimento de “autoridades constituídas” pelo povo,
autoridades democráticas e éticas.
Paulo sente a
necessidade de construir pessoas novas que coloquem em prática a vivência do
amor ao próximo e o cultivo de relações humanas e sociais que sejam “alavancas”
para a superação das violências e das injustiças sofridas pelas comunidades,
sob as agruras do império romano escravocrata. Muitas vezes, quando o marasmo
social é grande e a desesperança se instala ofuscando a utopia e a esperança de
que um projeto justo e bom possa ser construído, é preciso avivar a esperança e
“chacoalhar” as pessoas, injetando ânimo e avivando a utopia de que a
libertação está próxima. Paulo faz isto com maestria. Diz ele: “Acordem!
Está chegando a nossa salvação!” (Rm 13,11). Há momentos em que não devemos
buscar luzes apenas no fim do túnel, mas dentro do próprio túnel.
“Nova aurora
está nascendo. Deixemos as obras das trevas e revistamo-nos de obras da luz!”
(Rm 13,12), reflete Paulo, carinhosamente, tentando levantar o ânimo das
comunidades. Paulo é tão pedagógico que ele também se inclui e exorta na 1ª
pessoa do plural (“Deixemos e revistamo-nos...!”) e não se coloca como
superior (e, por isso,), logo, não diz: Deixem... Revistam...! Provavelmente,
no meio do povo, muitos se referiam às ações brutais do império romano
escravocrata como “obras das trevas”. E para quem se apaixonou por Jesus Cristo
e sua mensagem, no Ressuscitado experimentavam as “obras de luz”, caminho de
vida.
Paulo exorta,
amorosamente, às pessoas das comunidades cristãs: “Vivamos eticamente como
em pleno dia” (Rm 13,13). Libertemo-nos dos vícios que as autoridades imperiais
incutem no povo: “orgias, bebedeira, prostituição, libertinagem, brigas e
ciúmes!” (Rm 13,13). Paulo reflete com as pessoas das comunidades que o
“estilhaçamento” das pessoas é provocado, propositalmente, pelas autoridades
imperiais, pois quanto mais desunido o povo, quanto mais drogado, mais imoral e
sem ética, mais as autoridades imperiais terão motivos para justificar medidas
repressivas, que são impostas como se fossem medidas salvadoras. Quanto mais
violência social, mais as autoridades políticas, de forma eleitoreira, defendem
leis e medidas repressoras, o que não resolvem de forma justa a violência
social, mas angariam um “caminhão” de votos para políticos profissionais.
Em linguagem em
tom apocalíptico, Paulo exorta às pessoas das comunidades que ele deseja,
ardentemente, visitar em breve: “Vistam-se do Senhor Jesus Cristo e não
sigam os desejos dos instintos egoístas!” (Rm 13,14). Em outras palavras,
assimilem em vocês a identidade de Jesus Cristo, o que Paulo já revelou na
Carta aos Gálatas: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”
(Gal 2,20). Paulo busca ajudar as comunidades cristãs a perceber que ‘Senhor” (Kyrios)
é Jesus Cristo e não o imperador, idolatricamente, divinizado. E Jesus é o
Cristo, o Salvador. O imperador não é Senhor e nem Salvador. Eis aqui mensagem
revolucionária e subversiva do apóstolo Paulo que, segundo a Tradição, foi
martirizado em Roma, a mando de autoridades imperiais.
Paulo propõe
subversão na relação com o Império Romano. Concluímos que, em Rm 13,1-14, o
apóstolo Paulo não exorta a uma ingênua subserviência diante de toda e qualquer
autoridade. Respeitar, sim, apenas às “autoridades constituídas”, legítimas, as
que agem em sintonia com o projeto de Deus.
Enfrentar o império era
necessário para quem aderia ao evangelho de Jesus Cristo, porém, para enfrentar
o império, não basta enfrentar as autoridades, denunciando suas injustiças e
arbitrariedades, envolve também se desvencilhar do estilo de vida imperial, da
religião imperial, das instituições imperiais, da ideologia imperial, enfim, de
tudo o que sustenta o sistema imperial. Em linguagem de hoje, podemos dizer que
não basta enfrentar os exploradores exigindo justiça, mas é necessário ser
pessoa justa, ética e solidária que viva, na prática, o amor ao próximo como
Jesus amou e viveu.
Paulo não
condena as boas obras que devem ser praticadas como fruto da fé em Jesus
Cristo. Ele denuncia, apenas, o apego às obras farisaicas e legalistas como se
fossem tábuas de salvação. Vangloriar-se diante de “boas obras” praticadas pode
ser tão antievangélico quanto o aprisionamento em preceitos legais,
doutrinários e litúrgicos. Paulo orienta que a fé em Jesus Cristo Ressuscitado
implica em amar como Jesus amava, sentir como Jesus sentia, conviver como Jesus
convivia e lutar pela fraternidade como Jesus lutava.
26/08/25
Obs.: As
videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1
– VEM
AÍ O MÊS DA BÍBLIA, EM 2025, COM A CARTA AOS ROMANOS. - Por frei Gilvander
Moreira - Vídeo 1
https://www.youtube.com/watch?v=LU7E6zD59zA
2
- ELSA TAMEZ: CARTA AOS ROMANOS É FASCINANTE, MAS DIFÍCIL DE SER COMPREENDIDA.
URGE HISTORICIZAR PAULO
https://www.youtube.com/watch?v=AsbFBunrz5s
3
- CARTA AOS ROMANOS: LEITURA ECOFEMINISTA de Rm 8. IVONI RICHTER REIMER-EQUIPE
DE PUBLICAÇÕES/ CEBI-MG
https://www.youtube.com/watch?v=cMA5VG4SiTk
4
- CARTA AOS ROMANOS: CONTEXTO, CHAVES DE LEITURA, LIBERTAR PAULO. Por Prof. Dr.
PEDRO LIMA VASCONCELOS
https://www.youtube.com/watch?v=Ll7QeihPLHc
5
- CARTA AOS ROMANOS - parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=lgk-RQBgjZo
6
- Reflexão sobre a Carta de São Paulo aos Romanos - Parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=uwEQticYUGI
7
- Mês da Bíblia 2025 - Carta aos Romanos
https://www.youtube.com/watch?v=jER9qOBGgs0
8
- Carta de Paulo aos Romanos 01/06
https://www.youtube.com/watch?v=ZoavOOHyqdo
9
- Carta de Paulo aos Romanos 02/06
https://www.youtube.com/watch?v=LJEbJwe7P8w
10
- Carta de Paulo aos Romanos 03/06
https://www.youtube.com/watch?v=yP6iOaLVePc
11
- Carta de Paulo aos Romanos 04/06
https://www.youtube.com/watch?v=EYssnHh0YKE
12
- Carta de Paulo aos Romanos 05/06
https://www.youtube.com/watch?v=-5ajXfb-mco
13
- Carta de Paulo aos Romanos 06/06
https://www.youtube.com/watch?v=Z-m1zDx0iJc
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