MÁRTIR DOS GARIS, LAUDEMIR CONTINUA VIVO NA LUTA POR DIREITOS. Por Frei Gilvander Moreira1
O gari Laudemir de Souza Fernandes. Foto Reprodução Redes VirtuaisComo
fazia há nove anos, o gari LAUDEMIR DE SOUZA FERNANDES levantou às 2h30 da
madrugada do dia 11 de agosto de 2025 e foi trabalhar, cumprir sua missão que
ele fazia com muito amor: trabalhar na limpeza urbana de Belo Horizonte, MG, na
Localix, uma empresa terceirizada pela Superintendência de Limpeza Urbana
(SLU), autarquia da Prefeitura. Porém, como a capital mineira não tem mais apenas
um belo horizonte, encontrou na rua um empresário branco, bombadão, Renê da
Silva Nogueira Júnior, que se intitulava como “cristão” e “patriota”. Inúmeros
acontecimentos de agressão, violência e assassinatos no Brasil, em tempos de
extrema-direita raivosa, têm sido praticados por pessoas que se dizem cristãs e
patriotas, que destilam ódio e intolerância na convivência humana e social, o
que demonstra que são falsos cristãos e falsos patriotas. Como reflexo disso a direita
política ganhou as últimas eleições em Belo Horizonte e a extrema-direita
disputou até no segundo turno.
Neste
contexto social agressivo, o trabalhador com 44 anos, negro, de periferia,
honrado, ético, cordial, ser humano com empatia, Laudemir, enquanto catava às
pressas sacos de lixo, no bairro Vista Alegre, ao perceber que a motorista do seu
caminhão de lixo, estava sendo ameaçada de morte por um homem branco e bombadão,
que, em seu carro de luxo, aos gritos a ameaçava, Laudemir se fez solidário à
motorista e tentou acalmar os ânimos do criminoso reincidente. Inesperadamente,
por volta das 9h03 da manhã, Laudemir foi alvejado por Renê com um tiro
certeiro e fatal desferido por meio de uma pistola calibre 380. Enquanto
Laudemir limpava a rua recolhendo o lixo, seu sangue foi jogado na rua. É com o
sangue dos mártires, pessoas inocentes e justas, que se escreve a história
autêntica. Laudemir estará muito vivo em todos os garis e em todas pessoas que
lutam por todos os direitos dos garis.
Este
crime hediondo e bárbaro, execrável sob todos os aspectos, gerou comoção em
todo o Brasil e foi muito divulgado pela imprensa, que deve acompanhar atenta o
processo deste crime macabro que não pode cair no esquecimento e deve ser
julgado rápido com o rigor das leis. Mais uma sexta-feira da paixão em Belo
Horizonte com o assassinato brutal, por motivo fútil e abjeto, do Laudemir. O
assassino matou e, em seguida, como se nada tivesse acontecido, foi malhar na
academia, foi para a empresa, depois foi passear com cachorro até ser preso em
flagrante. Acendeu-se luz vermelha em Belo Horizonte e em todas as cidades
sobre as condições de trabalho dos garis.
Dia
20 de agosto último (2025), na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa de MG (ALMG), sob a presidência da deputada Bella Gonçalves,
aconteceu uma emocionante Audiência Pública, com transmissão pelo canal no You Tube
da ALMG. Vídeo que precisa ser visto por toda a população brasileira. A mãe do
Laudemir, dona Irani, não teve forças para falar ao microfone, mas a simples
presença dela clamava por justiça. Liliane, a esposa do Laudemir e agora,
viúva, mulher de uma fé inabalável, falou com firmeza. Em cada frase, uma
espada de verdade que interpela a consciência de quem tem sensibilidade humana
e empatia. Com lágrimas caindo, Liliane França da Silva clamor por JUSTIÇA: “A dor que sinto é imensa. Laudemir
levantava todos os dias às 2h30 da madrugada e ia fazer o que ele amava fazer:
trabalhar na limpeza urbana. Homem honrado, solidário e sempre preocupado com a
família. Eu perdoo o assassino, mas exijo justiça. Meu quarto está vazio. Minha
casa está vazia. Peço às autoridades: Ouçam os garis, pois eles sentem e sabem
o que precisa melhorar no trabalho tão essencial que eles fazem. Respeitem os
garis. Vou fazer da minha dor luta. A vida dos garis não vale menos. Que
Laudemir seja o último gari assassinado. Que nenhuma mãe, esposa, filha/o tenha
que chorar pela morte de outros garis. Que a morte de Laudemir não seja em vão.”
Na
Audiência Pública foi denunciado que Laudemir foi morto com arma do Estado,
pois o assassino Renê usou uma pistola 380, da esposa dele, a delegada da
Polícia Civil, Ana Paula Balbino Nogueira. Por que o assassino usava a arma da
delegada? Ela consentia com o uso da arma dela? A Corregedoria da Polícia Civil
apreendeu a arma e está investigando a eventual participação da delegada no
crime. O criminoso reincidente tinha porte de arma? Se não tinha, ele pediu
porte de arma? Se pediu e não conseguiu, por quê? Ele não conseguiu tirar porte
de arma por ter já praticado vários crimes, tais como matar uma mulher no Rio
de Janeiro por atropelamento, lesão corporal em outra mulher, extorsão e
perseguição? O criminoso também cometeu
falsidade ideológica por dizer que tinha vários cursos, o que foi desmentido
por várias universidades.
Ao
ser encontrado pela Polícia Militar de Minas Gerais (PM/MG), o assassino foi
posto no banco detrás da viatura e foi levado para a delegacia sem ser
algemado. Por que os policiais militares
não o algemaram e nem jogaram no camburão da viatura ao prendê-lo em uma
academia de musculação horas após ele cometer o crime? Por que a PM usa de
truculência com os pobres, pretos e periféricos e é boazinha com pessoas de
classe social média ou alta? Este racismo institucional tem que acabar. Que a
PM respeite os direitos humanos de todas as pessoas e as trate em igualdade de
condições e não de forma seletiva.
O
assassinato do Laudemir demonstra pela enésima vez que armamentismo não gera
segurança pessoal e nem social; ao contrário, aumenta a violência e o número de
mortes. Se o Renê não estivesse armado, ele não teria matado o Laudemir. Quem
defende o armamentismo também é cúmplice do assassinato de Laudemir. A paz
social exige o desarmamento das pessoas. É preciso empatia e capacidade de
dialogar diante dos conflitos.
Renê
cometeu vários crimes ao assassinar a sangue frio o gari Laudemir. Primeiro,
foi machista ao ameaçar uma mulher, a motorista do caminhão da limpeza urbana.
Segundo, homicídio doloso e hediondo. Laudemir foi morto enquanto trabalhava e,
por isso, é também “acidente”/crime trabalhista. Renê assassinou Laudemir
porque o poder judiciário falhou, pois não o condenou por crimes anteriores.
Temos
a responsabilidade de transformar esta dor brutal em um domingo de ressurreição
que só acontecerá se conquistarmos justiça no sentido mais profundo. Justiça
que incluí condenação implacável nas esferas criminal, cível e trabalhista. O
abjeto criminoso não pode voltar a conviver socialmente por décadas. Deve, sim,
ter seu direito de ir e vir retirado. Seus bens precisam com urgência ser
bloqueados e repassados para a mãe do Laudemir, esposa, enteadas e outros
familiares. A justiça trabalhista precisa julgar o “acidente”/crime trabalhista
ocorrido.
O
Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional precisam, com urgência,
regulamentar o pagamento de auxílio periculosidade para todos os garis do
Brasil, pois ainda não lhes é pago. A prefeitura de Belo Horizonte e todas as prefeituras
do país precisam revisar e melhorar as condições de trabalho da limpeza urbana.
É preciso discutir a reestatização da limpeza urbana, o que existia décadas
atrás e garantia melhores salários e melhores condições de trabalho. Os salários
dos garis do Brasil precisam ser justos. Se os garis, ao limpar o meio
ambiente, criam as condições para saúde pública, o salário deles precisa ser
equivalente aos salários dos trabalhadores da saúde, médicos e enfermeiras/os.
As
prefeituras precisam educar permanentemente a população para respeitar, admirar
e cuidar dos garis e multar pessoas que jogam nos sacos de lixo cacos de vidro,
espetos de alumínio ou ferro que ferem os garis. Não é justo trabalhar correndo
atrás do caminhão, correndo risco de cair, pegar sacos de lixo com cacos de
vidro, ponta de espeto, entre outras situações de perigo. Não pode ter meta de
trabalho extenuante. E todas as pessoas que vivem nas cidades precisam reconhecer
que o trabalho dos garis é essencial e deve ser respeitado e valorizado.
Na
Audiência Pública foi dito e enfatizado que é preciso adaptação nos caminhões
para melhorar as condições de trabalho. Foi protocolado na ALMG um Projeto de
Lei para tornar obrigatório o uso de câmeras nos caminhões da limpeza urbana em
Minas Gerais. Foi dito também que já existem em Curitiba, PR, poltronas na
traseira dos caminhões de lixo para que os garis não tenham que andar e correr
o tempo todo de pé no para-choque do caminhão.
Se
não forem feitas as melhorias necessárias, outros garis serão mortos. Em Uberlândia,
MG, esta semana um gari morreu atropelado. Na Audiência Pública, um gari
motorista de caminhão de lixo denunciou que esta semana foi ameaçado por outro
homem. O Ministério Público pediu o bloqueio de três milhões de reais do
assassino Renê e da delegada Ana Paula, mas o Poder Judiciário negou. Decisão
injusta, pois abre brecha para a dissipação dos bens do criminoso, o que poderá
deixar a família enlutada sem indenização.
Enfim,
como Jesus Cristo, justo e inocente, Laudemir foi executado em plena luz do
dia, enquanto trabalhava honestamente. Laudemir se tornou um mártir da luta dos
garis por direitos. Perdemos a presença física do Laudemir, mas ele agora
transvivenciado, partilhando vida plena, terna e eterna, viverá sempre em nós
na luta por todos os direitos dos garis de Belo Horizonte, do Brasil e do
mundo. Nosso abraço solidário a todos os familiares, colegas de trabalho e
amigos/as do Laudemir. Laudemir, presente em nós sempre!
26/08/2025
Obs.: As videorreportagens nos
links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.
1 - EMOCIONANTE CLAMOR POR
JUSTIÇA: LILIANE FRANÇA DA SILVA, ESPOSA DO GARI LAUDEMIR ASSASSINADO, BH/MG
2 - LAUDEMIR, MÁRTIR DA LUTA
DOS GARIS POR DIREITOS. VAMOS DO LUTO À LUTA POR DIREITOS (FREI GILVANDER)
3 - JUSTIÇA PELO GARI LAUDEMIR
E P/ TODOS/AS GARIS: AUDIÊNCIA PÚBLICA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS/ALMG
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