Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Xamã e líder Yanomami, Davi Kapenawa: Sabedoria que ve da Mãe terra. Vídeo 1 – 05/11/2017.
Em novembro de 2017, Davi Kapenawa, xamã, líder espiritual do povo indígena Ianomami, participou do Seminário "Igrejas e Mineração - Ecoteologia - em Mariana, MG, próximo a Bento Rodrigues, onde dia 05/11/2015 aconteceu o crime tragédia das mineradoras Samarco/Vale/BHP Billiton com a cumplicidade do Estado e a omissão da sociedade civil. Davi Kapenawa é liderança espiritual com respeitabilidade nacional e internacional. Ele é autor do liro de mais de 700 páginas: A Queda do Céu. Livro de leitura imprescindível. Aqui nesse vídeo o registro que frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI, fez do pronunciamento de Davi Kapenawa no evento. Aqui a parte I, vídeo 1.
Davi Kapenawa, xamã, líder espiritual Ianomami, no Seminário Ecoteologia e Mineração, em 05/11/2017, em Mariana, MG. Foto: G. L. Moreira
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 09/12/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
O MST mantém cerca de 20 cursos em nível nacional para formar agentes em agroecologia / Divulgação/MST
Diante da grande diversidade de
frutas produzidas no Assentamento Primeiro do Sul, do MST[2],
em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais - banana, goiaba, maracujá, laranja,
mamão etc. - um grupo de mulheres assentadas organizou e está trabalhando em
uma microindústria de doces para o consumo próprio e venda do excedente na
Feira da Agricultura Camponesa na Praça da Caixa D’água na cidade de Campo do
Meio. As 50 famílias Sem Terra assentadas, em trabalho cooperado, compraram um
tanque coletivo com a capacidade para resfriar 1.500 litros de leite. O
caminhão da cooperativa CAPEBE busca o leite dia sim, dia não. Segundo Sebastião
Mélia Marques, assentado no PA[3]
Primeiro do Sul: “A produção de leite está baixa, pois a prioridade nossa é a
produção de café.”
Para além da produção agrícola e
do leite, a base da produção no PA Primeiro do Sul é a produção de café. A
produção de café no sul de Minas Gerais, próximo a São Paulo, evoca as fazendas
cafeeiras que tiveram seu berço em São Paulo e foram alavancas do capitalismo
agrário no Brasil. Produzia-se café basicamente para a exportação, porque o
café era artigo de luxo. Os fazendeiros de meados do século XIX investiram na
produção e na comercialização de café como instrumento de acumulação do
capital. Não era alimento de subsistência como o feijão, o arroz e a mandioca.
É o que José de Souza Martins, no livro O Cativeiro da Terra,recorda: “O café, na Europa e nos
Estados Unidos, um artigo de sobremesa e foi historicamente um artigo de luxo.
Luxo exibido pelo refinamento de bules e colheres de prata, bules e xícaras de
porcelana finíssima, verdadeiras obras de arte. Foi a bebida da ostentação
social e pública e do prazer da sociabilidade burguesa” (MARTINS, 2013, p.
157).
Entre várias outras
peculiaridades, o sul de Minas Gerais se caracteriza por ser região cafeeira.
As famílias camponesas do MST que ocuparam a fazenda Jatobá, que se tornou o PA
Primeiro do Sul, vieram quase todas do trabalho assalariado nas fazendas de
café da região. Culturalmente tinham a experiência e a tradição de plantar
café. Por isso, já no primeiro ano, em 1997, várias famílias iniciaram o
plantio de café. Mas somente após dois anos de plantio, o pé de café dá a
primeira colheitinha. Sebastião Mélia complementa: “Apenas no terceiro ano, o
café dá uma colheita que quita as dívidas que gastaram com ele e sobra um
pouquinho.” Atualmente, a base econômica do PA Primeiro do Sul é a produção de
café, representando 70% da produção do assentamento. Os outros 30%
constituem-se de produção diversificada: milho, feijão, arroz, gado, hortaliças
e pequenos animais. É o que informa Wadilsom Manoel, Sem Terra Assentado no PA
Primeiro do Sul: “Aqui ninguém planta somente café. Eu, minha companheira e
nossos dois filhos, por exemplo, plantamos 80% do lote em café, cerca de 30 mil
pés de café, em oito hectares do nosso lote. Plantamos também 1.500 pés de
eucalipto. Plantamos feijão no meio do café. No pasto, de forma consorciada,
mexemos com gado e abelhas. Criamos peixes também. Nossa renda varia muito. O
café produz uma boa safra em um ano e no ano seguinte só uma safrinha. Como diz
o Tiãozinho, um ano o café faz o dono e no outro ele se refaz.”
Na cultura do café são feitos
três cortes: o esqueletamento, o corte em cima e o corte embaixo para o pé de
café se refazer. Os assentados fazem 70% do trabalho com auxílio de pequenas
máquinas, mas a colheita ainda continua sendo quase toda manual. O cafezal
precisa de muita chuva e está exigindo muito adubo químico e venenos. Segundo
dados do IBGE, do Censo Agropecuário de 2017, divulgados em 26 de julho de 2018,
o uso de agrotóxicos aumentou 21,2% nos últimos
11 anos no Brasil. A aplicação
de agrotóxicos na agricultura do Brasil se elevou de 2,7 quilos por hectare em
2002 para 6,9 quilos por hectare em 2012, um aumento de 155% no período de dez
anos. Segundo a Revista Problemas
Brasileiros: “Não à toa, o Brasil continua a liderar o ranking mundial do
consumo de agrotóxicos, indústria que movimenta mais de 2 bilhões de dólares ao
ano. O povo brasileiro consome, em média, 7 litros per capita de veneno a cada ano, o que resulta em mais de 70 mil
intoxicações agudas e crônicas em igual período, segundo dados do Dossiê da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)”. Cerca de 64,1% dos produtos
utilizados na agricultura em 2012 foram considerados pelos indicadores como
perigosos e 27,7% muito perigosos. A Região Sudeste é a que teve a maior
aplicação de agrotóxicos, com 8,8 quilos por hectare, em 2012. Os três estados
que mais aplicam agrotóxico na produção agrícola são Goiás, Minas Gerais e São
Paulo, sendo que este bateu o recorde de consumo proporcional com 10,5 quilos
por hectare.[4]
O MST está animando os Sem Terra,
no processo produtivo a migrar de “Ocupar, resistir e produzir” para “Ocupar,
resistir e produzir de forma agroecológica”. A luta do MST no sul de Minas
iniciou-se em 1996, época em que o MST entendia a luta pela terra e pela
reforma agrária basicamente como a partilha e a socialização da terra. Já se
discutia reforma agrária para além da democratização da terra, mas era ainda
incipiente a discussão sobre a necessidade e a pertinência da produção
agroecológica. Diante da terra concentrada em poucas mãos, o contexto era de
fome e de miséria avassaladoras. O que predominava era o latifúndio. A reforma
agrária era vista como política pública que viabilizaria a superação do
latifúndio.
Atualmente
o que predomina na agricultura brasileira é o agronegócio, com uso
indiscriminado de agrotóxico, em monoculturas nos latifúndios e utilização de
tecnologia de ponta quase toda ela não nacional. Diante desse novo cenário, a
agroecologia para o MST, para a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a para a Via
Campesina como um todo se tornou um paradigma necessário para a superação do
agronegócio, principal inimigo dos Sem Terra na atualidade. Sílvio Neto, do
MST, ao fazer resgate histórico, reflete: “Com o massacre de Eldorado dos
Carajás foi revelado que o latifúndio é o grande mal. Desmascaramos a crueldade
do latifúndio. O que eles fizeram? Colocaram o agronegócio. O MST tinha se
tornado o novo ao desmascarar o latifúndio como o atrasado, o que mata e
oprime. Mas o agronegócio, se beneficiando do avanço técnico e tecnológico, é
introduzido como algo novo, divulgado aos quatro ventos como algo que vai
elevar a balança comercial, que vai produzir alimentos para toda a população.
Com a chegada do agronegócio nos anos 90 do século XX, o MST passa a ser
considerado como atrasado ao insistir na socialização da terra. Nesse novo
contexto de apropriação da terra e de produção agropecuária, o paradigma da
agroecologia se torna necessário, não apenas porque o MST ama a natureza, mas
porque se torna uma necessidade política para o MST tentar se colocar novamente
como algo novo diante do agronegócio, que é algo mais atrasado do que o
latifúndio antigo. Nós temos sido classificados como atrasados, mas sabemos que
não somos. Mas a sociedade ainda não nos reconhece como o novo que produz
alimentação saudável. A avalanche do agronegócio é muito poderosa.”
Com os
retrocessos aos direitos sociais e ambientais que estão sendo impostos pelo
Governo Bolsonaro fortalecer a luta pela produção de alimentos agroecológicos
se torna mais necessário, pois, por meio do Ministério da Agricultura,
comandado pela ruralista Tereza Cristina, foi liberado quarenta novos produtos
comerciais com agrotóxicos que deverão chegar ao Brasil nos próximos dias.
Alguns, já conhecidos pelos empresários do agronegócio, mas que passam agora a
ser utilizados também em outras culturas, entre elas a de alimentos. Publicação
no Diário Oficial da União de 10 de janeiro de 2019 traz o Registro de 28
agrotóxicos e princípios ativos liberados. Isso é marcha rumo à guerra química.
Por isso, produzir alimentos saudáveis de forma agroecológica se tornou uma
necessidade imperiosa e uma questão ética imprescindível.
Referências.
MARTINS, José de Souza. O
Cativeiro da Terra. 9ª edição. São Paulo: Contexto, 2013.
Belo Horizonte, MG, 22/01/2019.
Obs.: Veja, abaixo, vídeo sobre a Feira da Agricultura Camponesa de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais.
[1] Frei e padre da Ordem dos
carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em
Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e
Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos”
no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br–www.twitter.com/gilvanderluis–Facebook: Gilvander Moreira III
O
dever de OCUPAR pelo direito de MORAR: Ocupação Professor Fábio Alves, em Belo
Horizonte, MG/Vídeo 2 - 09/12/2018.
Diante de tantas
dificuldades por que passam os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras,
milhões em situação de subemprego, milhões de desempregados, excluídos dos
programas de moradias populares e cada vez mais oprimidos pelo capital e pelos
capitalistas também pela especulação imobiliária, torna-se impossível
sobreviver tendo que suportar a cruel e pesadíssima cruz do aluguel. Ocupar passa
a ser uma necessidade urgente. A bem da verdade, numa sociedade em que morar é
privilégio, ocupar é um direito e um dever. E foi assim que nasceu a Ocupação
Professor Fábio Alves, na divisa de Belo Horizonte com Ibirité, bairro
Marilândia: em março de 2018, movidas pela necessidade de moradia e
sobrevivência, algumas famílias decidiram ocupar um grande terreno até então
abandonado, sem cumprir qualquer função social, servindo de despejo de
entulhos, com matagal abrigando animais peçonhentos e todo tipo de lixo e
descarte. A Ocupação Prof. Fábio Alves cresceu e hoje são 712 famílias
cadastradas. Com as próprias mãos estão construindo uma comunidade. Centenas de
crianças, jovens, gestantes, idosos, trabalhadores e trabalhadoras formam esta
Ocupação. Em comum, a baixa renda, a luta por sobrevivência e o sonho da casa
própria – sagrado direito de todos e todas – que lhes permitirá viver com
dignidade e paz. A Ocupação Professor Fábio Alves é acompanhada pelo Movimento
Luta Popular - LP -, com apoio da CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) e conta
também com expressiva Rede de Apoio. A determinação de todas e todos é
manterem-se firmes na luta e resistência pelo direito à permanência no terreno
onde já estão construindo suas casas. Todos os esforços serão feitos para que
seja respeitado o princípio da dignidade humana, contra qualquer ação de
despejo.
Visão parcial da Ocupação Professor Fábio Alves, no Barreiro, em Belo Horizonte, MG. Foto: G. L. Moreira
*Reportagem em vídeo de frei
Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo
Horizonte/MG, 09/12/2018.
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no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander,
acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a
diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar,
compartilhe. Sugerimos.
Ocupação Professor Fábio Alves, no Marilândia, em Belo Horizonte/MG: Ocupar para garantir moradia e dignidade/ Vídeo 1 - 9/12/2018.
Há quase um ano, algumas famílias, já sem condições de suportar a pesadíssima cruz do aluguel e lutando pra sobreviver, ocuparam um grande terreno abandonado, localizado na divisa de Belo Horizonte com Ibirité, no bairro Marilândia. Nascia assim a Ocupação Professor Fábio Alves. Aos poucos, foram chegando mais e mais famílias, pela mesma necessidade de moradia. Em outubro, já eram quase 500 famílias e, atualmente, a Ocupação conta com 712 famílias cadastradas. Dessas famílias fazem parte um grande número de crianças, pessoas idosas, gestantes, trabalhadores e trabalhadoras que lutam pelo sagrado direito de ter onde morar com dignidade e paz. Os barracos de lona abrigam o sonho da casa própria e abrigam também o alimento que chega à mesa, antes muitas vezes muito escasso para garantir o pagamento do aluguel ou para custear a vida sobrevivendo de favor em casas de parentes. A Ocupação prof. Fábio Alves é acompanhada pelo Movimento Luta Popular (LP) e conta com o apoio da CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) e de uma expressiva Rede de Apoio. Juntos – Comunidade e apoiadores – lutam pela permanência das famílias no terreno, contra qualquer forma de intimidação, ameaças e, sobretudo, contra o despejo, inadmissível!
Alegria que irradia na luta pela conquista da casa própria na Ocupação Professor Fábio Alves, no Barreiro, em Belo Horizonte, MG. Foto: G. L. Moreira
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 09/12/2018.
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Ocupação
Prof. Fábio Alves, em Belo Horizonte/MG: Ocupar é uma necessidade. Despejo,
não! - Vídeo 1- 13/1/2019.
Setecentas famílias na
região do Barreiro, em Belo Horizonte/MG, correm risco de ser DESPEJADAS -
Ocupação Professor Fábio Alves - Resiste.
Fábio Alves foi Professor de
Direito da PUC/Minas, advogado popular envolvido na defesa de direitos humanos
e sociais básicos. Atuou na defesa de muitas ocupações em seu direito básico à
moradia. Atuou na defesa dos direitos dos povos Indígenas, por meio do CIMI
(Conselho Indigenista Missionário), atuou na Comissão de Direitos Humanos da
Arquidiocese de Belo Horizonte, MG; atuou na luta das APACs (Associação de
Proteção aos Condenados) de Minas Gerais; e em muitas outras frentes de lutas
populares. A Ocupação Professor Fábio Alves fica localizada na região do
Barreiro, em Belo Horizonte. Setecentas famílias ocuparam um terreno abandonado
há mais de 20 anos, onde funcionava a antiga Rádio Capital. As famílias que
ocupam a área são todas de trabalhadoras e trabalhadores desempregados, ou que
vivem de salário mínimo. Muitas delas compostas apenas por mulheres, crianças e
idosos. A ocupação do terreno representa a busca de uma alternativa para um
grave problema social, a ausência de moradia. Em novembro de 2018, apareceu um
suposto proprietário reivindicando a área, uma empresa Paulista, que não
conseguiu comprovar a posse do terreno e cuja propriedade é bastante duvidosa.
A própria empresa que solicita a reintegração de posse apresentou uma escritura
do terreno em nome de outra empresa, a Construtora Tenda. No meio do processo
foi apresentada uma documentação, fornecida pela URBEL (Companhia Urbanizadora
e de Habitação de Belo Horizonte), de uma autorização da prefeitura para a
construção na área de um condomínio de 1.200 apartamentos pelo programa Minha
Casa, Minha Vida. De acordo com a empresa, o condomínio atenderia famílias da
faixa 1; de acordo com a URBEL faixa 1,5. Um projeto que ainda não tem
licenciamento ambiental e muito menos aprovação de recursos por parte do
Governo Federal. Um projeto que foi assinado pela URBEL após a ocupação do
terreno pelas 700 famílias. Outro elemento que requer investigação é a origem
do terreno e quais os interesses por trás dos acordos com a Construtora. Ao que
tudo indica, este foi mais um dos terrenos que era do Estado de MG e foi
transferido a particulares por razões pouco claras, apontando, mais uma vez,
governantes beneficiando empresas ou indivíduos com recursos públicos, para
atender a privilégios individuais. O que as 2.800 pessoas que formam a ocupação
Professor Fábio Alves reivindicam é muito simples: • Um lugar para morar - que
os governos tenham programas habitacionais que atendam de fato famílias de
baixa renda. • Se há um projeto de construção de moradias populares para o
terreno, que as famílias sejam parte deste projeto; se não há, que esta ou
outra área seja destinada a autoconstrução. • As famílias esperam que nem
Kalil, nem Zema e nem o Poder Judiciário lavem as mãos, e que haja uma solução
justa e pacífica para conflito social. Para que isto aconteça, é muito
importante a solidariedade de todos os lutadores e lutadoras do estado de Minas
Gerais, de todos e todas que acreditam que o direito à vida, o direito à
moradia e à dignidade humana são superiores ao direito à especulação e ao
lucro.
Está aumentando o número de casas de alvenaria construídas ou em construção na Ocupação Professor Fábio Alves, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG. Foto: G. Moreira
DIA 24/1/2019, ÀS 18h30, NA
AVENIDA AMAZONAS, 491, 10º ANDAR, SERÁ REALIZADO UM ENCONTRO DE APOIADORES COM
O OBJETIVO DE DEFINIR ALGUMAS AÇÕES, PARTICIPE. COM LUTA, COM GARRA, A CASA SAI
NA MARRA. Assinam esta Nota: - MORADORES DA OCUPAÇÃO PROFESSOR FÁBIO ALVES -
MLP (MOVIMENTO LUTA POPULAR) - CSP-CONLUTAS (Central Sindical e Popular
Conlutas) - CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) Belo Horizonte/MG, 20 de
janeiro de 2019.
*Reportagem em vídeo de frei
Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo
Horizonte/MG, 13/1/2019.
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Ocupação
Professor Fábio Alves: Setecentas famílias dão VIDA a terreno abandonado na
luta pelo direito à moradia. Despejo, não! Vídeo 2 – 13/1/2019.
Um terreno abandonado há
décadas, sem qualquer função social,no
bairro Marilândia, em Belo Horizonte/MG, próximo à divisa de Belo Horizonte com
Ibirité, preocupava e colocava em risco os moradores ao redor. Um matagal
servia de depósito de entulhos, lixos de toda espécie, descarte até mesmo de
corpos, esconderijo da criminalidade, além de abrigar os mais diversos animais
peçonhentos. Em março de 2018, algumas famílias, que já nãosuportavam mais o peso cruel da cruz do
aluguel ou a humilhação de morar de favor, tiveram como única alternativa a
ocupação.Dedicaram-se à limpeza do
terreno e lá instalaram barracas de lona, fazendo delas os seus lares, o seu
abrigo, a sua moradia.Aos poucos, a
Ocupação foi crescendo e hoje são 712 as famílias cadastradas participando da
Ocupação. Num trabalho coletivo, num ambiente de harmonia, trabalhadoras e
trabalhadores de baixa renda, apesar das dificuldades, da falta de estrutura,
foram e continuam se organizando em comunidade, na luta por uma moradia digna.
Na Ocupação Professor Fábio Alves, a dureza da luta é enternecida pelo riso das
crianças com suas brincadeiras – e são centenas de crianças -, pelo sorriso
iluminado das gestantes que se sentem confiantes porque poderão oferecer aos
filhos um lar seguro, livre da opressão da especulação imobiliária, livre das
humilhações. Essa dureza da luta é enternecida também pela serenidade dos
muitos idosos que ali colocam a esperança de uma velhice com dignidade e paz e
se mistura ainda aos sonhos dos jovens, dos pais, de mulheres e homens que,
enfrentando todas as adversidades impostas pelo sistema do capital e dos
capitalistas que explora e exclui, seguem firmes na luta e resistência em busca
dos seus direitos garantidos pela Constituição Federal do Brasil.
A Ocupação Professor Fábio
Alves se fortalece, se consolida. Hoje, já são dezenas de casas de alvenaria,
outras em construção, e o ritmo ali é acelerado de trabalho, de construção de
uma verdadeira Comunidade. Entretanto, tudo isso está ameaçado. Recentemente,
no dia 17 de janeiro/2019, a juíza Lílian Bastos de Paula, da 22ª Vara Cível de
Belo Horizonte, expediu Liminar de Reintegração de Posse, determinando o prazo
de 30 dias para o despejo. É uma decisão injusta, desumana, que fere o
principio da dignidade humana.As setecentas
famílias da Ocupação Professor Fábio Alves, o Movimento Luta Popular (LP), que
acompanha a Ocupação, a CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) e toda a Rede de
Apoio não aceitam essa decisão sem que se esgotem todas as possibilidades de
negociação e sem apresentar uma alternativa prévia de moradia digna. É covardia
despejar 700 famílias, como se fossem objetos descartáveis. Para onde vão? Como
vão viver?E todo o investimento que
fizeram nas construções? Mais que tijolos e telhas, mais que lonas e madeirites,
ali existem vidas, existem sonhos e direitos de gente que buscou solução para
um gravíssimo problema que o Poder Público não consegue resolver, que é a falta
de moradia. Um terreno abandonado ganha vida de vidas que ali se fortalecem.
Toda reintegração de posse é uma desintegração de sonhos. RESPEITO, SIM.
NEGOCIAÇÃO, SIM. DESPEJO, NÃO!
Visão panorâmica parcial de casas de alvenaria construídas na Ocupação Professor Fábio Alves, no bairro Marilândia, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG, dia 13/01/2019. Foto: G. L. Moreira
*Reportagem em vídeo de frei
Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo
Horizonte/MG, 13/1/2019.
* Inscreva-se no You Tube,
no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link:
https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as
notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por
direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Sem Terra Fátima e Maatuzalém. Foto: G. L. Moreira.
No
conflito agrário que se arrasta há mais de 20 anos envolvendo diretamente mais
de 450 famílias acampadas em 11 acampamentos – Quilombo Campo Grande - no
latifúndio da ex-usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais, as
famílias Sem Terra sofreram seis despejos. Em 18 de maio de 2009, ocorreu o
mais cruel despejo dos acampamentos naquelas terras. A violência e a destruição
foram grandes. Em audiência com o juiz da Vara Agrária de Minas Gerais, no
Fórum de Campos Gerais, o juiz anunciou que iria acontecer reintegração de
posse, mas não disse o dia. De surpresa, dia 18 de maio de 2009, o poder
judiciário de Minas e o então governador Aécio Neves (PSDB), com o apoio de
mais de 200 policiais da Polícia Militar, fortemente armados, com cães,
cavalaria, helicópteros, três UTIs[2]
móveis, caminhão do Corpo de Bombeiros, ônibus de policiais, atirador de elite
e dezenas de policiais de operações especiais da Tropa de Choque,usando caminhões e tratores da
prefeitura de Campo do Meio, sob o comando do prefeito Vilson Rodrigues
Pereira, do PSDB,após vários dias de pressão e ameaças aos Sem Terra acampados,
despejaram 123 famílias de 5 acampamentos, sendo 4 acampamentos do MST: Sidney
Dias, Irmã Dorothy, Tiradentes e Rosa Luxemburgo; e 1 acampamento organizado
pela FETAEMG. A mando do Coronel Guimarães, tratores com arados e patrolas da
Prefeitura de Campo do Meio destruíram as lavouras de arroz, feijão, mandioca,
milho, laranja, abacate e hortaliças dos Sem Terra, dos acampamentos. As
máquinas foram operadas por funcionários do gerente da massa falida da
ex-usina. Estima-se que seriam colhidas 1.600 sacas de feijão (Fonte: laudo da
EMATER[3]),
quatro toneladas de melancia, quatro mil pés de mandioca e grande plantação de
milho, todos no ciclo de colheitas. Passaram o trator com arado em cima de
porcos vivos - inclusive uma porca prenha -, mataram um cachorro a tiro e o
jogaram dentro de uma cisterna, de onde as famílias puxavam água no saril.
Deixaram outros animais abandonados na imensa área devastada. Quando chegamos
dois dias após o cruel despejo, uma gata magricela miava, resistindo em cima
dos escombros da casa da família que a acolhia. As cercas de arame que protegiam
as plantações foram também destruídas pelos tratores da Prefeitura de Campo do
Meio, sob escolta da polícia militar. Árvores nativas replantadas pelos Sem
Terra acampados foram arrancadas pelos tratores. A camponesa do Acampamento
Tiradentes, Eva Auxiliadora de Freitas, acampada desde 12 de junho de 2008
relata: “Foi uma tragédia. Muito triste. Derrubaram tudo. Com cavalaria,
chegaram e foram entrando e destruindo tudo. Deram tiro na cabeça de um
cachorro, matou e jogou na cisterna para a gente não beber mais água da
cisterna. Até os pomares foram destruídos. Passaram tratores em cima de tudo,
até de porcos e galinhas. As casas foram destruídas com tratores e
retroescavadeira. Não deram prazo para a gente retirar nem as telhas. A gente
sabia que eles estavam cumprindo ordens, mas a gente não entende como eles
conseguiram reintegração de posse, se eles não são os verdadeiros donos. Todos
nós despejados fomos acolhidos no galpão do PA Primeiro do Sul, aqui ao lado da
Ariadnópolis. Muitos companheiros se espalharam, mas depois voltou todo mundo.
Atualmente há muitos companheiros que sofreram muito com os despejos, mas não
desistiram da luta, já estão assentados no PA Nova Conquista II aqui na
Ariadnópolis”.
Um dos
segredos da luta que tem levado à resistência e à determinação de nunca mais
aceitar despejo nos 3.900 hectares do latifúndio da Ariadnópolis tem sido a
relação de apoio mútuo, de companheirismo e cumplicidade na luta. Vinte e cinco
famílias que estavam acampadas ali foram acolhidas e assentadas no Projeto de Assentamento
(PA) Primeiro do Sul – o primeiro do MST no sul de Minas, fica ao lado -, em
substituição às que desistiram. Após a desistência de uma família, em sintonia
com a coordenação estadual do MST, em assembleia, as famílias do Assentamento
Primeiro do Sul começaram a convidar outras que estavam acampadas nas terras da
Ariadnópolis. A relação de apoio mútuo, de companheirismo e cumplicidade entre
as famílias assentadas no Assentamento Primeiro do Sul e as centenas de
famílias acampadas em onze acampamentos no latifúndio da Ariadnópolis tem sido
uma das colunas mestras para fazer a luta pela terra avançar no município de
Campo do Meio, conforme nos informa Sílvio Neto, da coordenação nacional do MST:
“As dificuldades de acesso aos créditos, a escassez de alimentação e as
dificuldades para produzir foram superadas, porque conseguimos manter as
famílias do Assentamento Primeiro do Sul em permanente luta coletiva. Em vários
momentos, o PA Primeiro do Sul se converteu em Frente de Massa na luta pelos
3.900 hectares do latifúndio da Ariadnópolis. O laço estreito que as famílias
do PA Primeiro do Sul tem com as famílias acampadas nas terras da Ariadnópolis
coloca as famílias do PA Primeiro do Sul em constante enfrentamento para a
conquista definitiva das terras da Ariadnópolis. Por outro lado, as famílias
acampadas na Ariadnópolis, em constante relação com o PA Primeiro do Sul, são
animadas a fortalecer a produção, seguindo o exemplo do PA Primeiro do Sul.
Essa comunhão entre os assentados do PA Primeiro do Sul e as 450 famílias
acampadas da Ariadnópolis tem sido um pilar de sustentação política da nossa
organização no Sul de Minas. Em vários despejos quem acolheu as famílias
despejadas foram os assentados do PA Primeiro do Sul. Houve ocupações na
Ariadnópolis feitas pelos assentados, não para se buscar um segundo lote, mas
para garantir a derrota do latifúndio para que outras famílias de companheiros
tivessem acesso à terra.”
A luta
pela conquista do latifúndio Ariadnópolis e a luta pela conquista da Fazenda
Jatobá – fazendas contíguas -, que se tornou o PA Primeiro do Sul, são lutas
umbilicalmente conectadas. Não há como compreender a luta dos assentados do PA
Primeiro do Sul desvinculada da luta de centenas de famílias acampadas nas
terras da Ariadnópolis e nem do trabalho de centenas de trabalhadores rurais
durante o funcionamento da Usina até 1996. Em Campo do Meio, desde 1998, quando
ocorreu a primeira Ocupação nas terras da Ariadnópolis, tem havido, sob vários
aspectos, relações de apoio mútuo entre acampados e assentados. Foi nas terras
da Ariadnópolis que a Ocupação da Fazenda Jatobá foi planejada, com o apoio de
sindicalistas do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) da região e com o apoio
de liderança do MST designada para criar o MST no Sul de Minas. Mas também foi
nas terras da Fazenda Jatobá, já ocupada e transformada em Assentamento, que a
primeira ocupação das terras da Ariadnópolis foi organizada. Assentados do PA Primeiro
do Sul foram protagonistas na concretização de vários acampamentos no
latifúndio da Ariadnópolis, conforme recorda o assentado no PA Primeiro do Sul Sebastião
Mélia: “As famílias aqui do PA Primeiro do Sul é que faziam frente no embate
dos enfrentamentos para ocupar o grande latifúndio da Ariadnópolis. Também para
garantir a permanência dos acampados lá. E quando vinham os despejos, o PA
Primeiro do Sul se tornava o refúgio dos acampados. Aqui no PA Primeiro do Sul
é que as famílias despejadas eram acolhidas por uns dois ou três meses até a
gente reorganizar os acampamentos lá. No início da Ocupação das terras da
ex-Usina Ariadnópolis, as famílias assentadas no PA Primeiro do Sul prestavam
ajuda econômica aos acampados da seguinte forma: primeiro doando alimentos e
depois cedendo sementes de milho, de feijão e de arroz para os companheiros
plantarem”.
Em tempos
de fascismo e de extrema direita no poder, com mídia manipuladora e igrejas que
dopam seus fiéis aos amputar a dimensão social da fé cristã e do Evangelho de
Jesus Cristo, necessário se faz aprendermos com lutas inspiradoras como a do
MST em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais.
Belo
Horizonte, MG, 15/01/2019.
Obs.: Veja nos links,
abaixo, vídeos que fazem referência aos vários despejos sofridos pelas famílias
acampadas no latifúndio da antiga usina Ariadnópolis:
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[1] Frei e padre da Ordem dos
carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em
Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e
Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos”
no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br–www.twitter.com/gilvanderluis–Facebook: Gilvander Moreira III