terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Xamã e líder Yanomami, Davi Kapenawa: Sabedoria que vem da Mãe terra/Víd...



Xamã e líder Yanomami, Davi Kapenawa: Sabedoria que ve da Mãe terra. Vídeo 1 – 05/11/2017.

Em novembro de 2017, Davi Kapenawa, xamã, líder espiritual do povo indígena Ianomami, participou do Seminário "Igrejas e Mineração - Ecoteologia - em Mariana, MG, próximo a Bento Rodrigues, onde dia 05/11/2015 aconteceu o crime tragédia das mineradoras Samarco/Vale/BHP Billiton com a cumplicidade do Estado e a omissão da sociedade civil. Davi Kapenawa é liderança espiritual com respeitabilidade nacional e internacional. Ele é autor do liro de mais de 700 páginas: A Queda do Céu. Livro de leitura imprescindível. Aqui nesse vídeo o registro que frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI, fez do pronunciamento de Davi Kapenawa no evento. Aqui a parte I, vídeo 1.

Davi Kapenawa, xamã, líder espiritual Ianomami, no
Seminário Ecoteologia e Mineração, em 05/11/2017, em Mariana, MG.
Foto: G. L. Moreira

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 09/12/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Produzir de forma agroecológica?


Produzir de forma agroecológica?
Por Gilvander Moreira[1]

O MST mantém cerca de 20 cursos em nível
nacional para formar agentes em agroecologia /
Divulgação/MST



Diante da grande diversidade de frutas produzidas no Assentamento Primeiro do Sul, do MST[2], em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais - banana, goiaba, maracujá, laranja, mamão etc. - um grupo de mulheres assentadas organizou e está trabalhando em uma microindústria de doces para o consumo próprio e venda do excedente na Feira da Agricultura Camponesa na Praça da Caixa D’água na cidade de Campo do Meio. As 50 famílias Sem Terra assentadas, em trabalho cooperado, compraram um tanque coletivo com a capacidade para resfriar 1.500 litros de leite. O caminhão da cooperativa CAPEBE busca o leite dia sim, dia não. Segundo Sebastião Mélia Marques, assentado no PA[3] Primeiro do Sul: “A produção de leite está baixa, pois a prioridade nossa é a produção de café.”
Para além da produção agrícola e do leite, a base da produção no PA Primeiro do Sul é a produção de café. A produção de café no sul de Minas Gerais, próximo a São Paulo, evoca as fazendas cafeeiras que tiveram seu berço em São Paulo e foram alavancas do capitalismo agrário no Brasil. Produzia-se café basicamente para a exportação, porque o café era artigo de luxo. Os fazendeiros de meados do século XIX investiram na produção e na comercialização de café como instrumento de acumulação do capital. Não era alimento de subsistência como o feijão, o arroz e a mandioca. É o que José de Souza Martins, no livro O Cativeiro da Terra, recorda: “O café, na Europa e nos Estados Unidos, um artigo de sobremesa e foi historicamente um artigo de luxo. Luxo exibido pelo refinamento de bules e colheres de prata, bules e xícaras de porcelana finíssima, verdadeiras obras de arte. Foi a bebida da ostentação social e pública e do prazer da sociabilidade burguesa” (MARTINS, 2013, p. 157).
Entre várias outras peculiaridades, o sul de Minas Gerais se caracteriza por ser região cafeeira. As famílias camponesas do MST que ocuparam a fazenda Jatobá, que se tornou o PA Primeiro do Sul, vieram quase todas do trabalho assalariado nas fazendas de café da região. Culturalmente tinham a experiência e a tradição de plantar café. Por isso, já no primeiro ano, em 1997, várias famílias iniciaram o plantio de café. Mas somente após dois anos de plantio, o pé de café dá a primeira colheitinha. Sebastião Mélia complementa: “Apenas no terceiro ano, o café dá uma colheita que quita as dívidas que gastaram com ele e sobra um pouquinho.” Atualmente, a base econômica do PA Primeiro do Sul é a produção de café, representando 70% da produção do assentamento. Os outros 30% constituem-se de produção diversificada: milho, feijão, arroz, gado, hortaliças e pequenos animais. É o que informa Wadilsom Manoel, Sem Terra Assentado no PA Primeiro do Sul: “Aqui ninguém planta somente café. Eu, minha companheira e nossos dois filhos, por exemplo, plantamos 80% do lote em café, cerca de 30 mil pés de café, em oito hectares do nosso lote. Plantamos também 1.500 pés de eucalipto. Plantamos feijão no meio do café. No pasto, de forma consorciada, mexemos com gado e abelhas. Criamos peixes também. Nossa renda varia muito. O café produz uma boa safra em um ano e no ano seguinte só uma safrinha. Como diz o Tiãozinho, um ano o café faz o dono e no outro ele se refaz.”
Na cultura do café são feitos três cortes: o esqueletamento, o corte em cima e o corte embaixo para o pé de café se refazer. Os assentados fazem 70% do trabalho com auxílio de pequenas máquinas, mas a colheita ainda continua sendo quase toda manual. O cafezal precisa de muita chuva e está exigindo muito adubo químico e venenos. Segundo dados do IBGE, do Censo Agropecuário de 2017, divulgados em 26 de julho de 2018, o uso de agrotóxicos aumentou 21,2% nos últimos 11 anos no Brasil. A aplicação de agrotóxicos na agricultura do Brasil se elevou de 2,7 quilos por hectare em 2002 para 6,9 quilos por hectare em 2012, um aumento de 155% no período de dez anos. Segundo a Revista Problemas Brasileiros: “Não à toa, o Brasil continua a liderar o ranking mundial do consumo de agrotóxicos, indústria que movimenta mais de 2 bilhões de dólares ao ano. O povo brasileiro consome, em média, 7 litros per capita de veneno a cada ano, o que resulta em mais de 70 mil intoxicações agudas e crônicas em igual período, segundo dados do Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)”. Cerca de 64,1% dos produtos utilizados na agricultura em 2012 foram considerados pelos indicadores como perigosos e 27,7% muito perigosos. A Região Sudeste é a que teve a maior aplicação de agrotóxicos, com 8,8 quilos por hectare, em 2012. Os três estados que mais aplicam agrotóxico na produção agrícola são Goiás, Minas Gerais e São Paulo, sendo que este bateu o recorde de consumo proporcional com 10,5 quilos por hectare.[4]
O MST está animando os Sem Terra, no processo produtivo a migrar de “Ocupar, resistir e produzir” para “Ocupar, resistir e produzir de forma agroecológica”. A luta do MST no sul de Minas iniciou-se em 1996, época em que o MST entendia a luta pela terra e pela reforma agrária basicamente como a partilha e a socialização da terra. Já se discutia reforma agrária para além da democratização da terra, mas era ainda incipiente a discussão sobre a necessidade e a pertinência da produção agroecológica. Diante da terra concentrada em poucas mãos, o contexto era de fome e de miséria avassaladoras. O que predominava era o latifúndio. A reforma agrária era vista como política pública que viabilizaria a superação do latifúndio.
Atualmente o que predomina na agricultura brasileira é o agronegócio, com uso indiscriminado de agrotóxico, em monoculturas nos latifúndios e utilização de tecnologia de ponta quase toda ela não nacional. Diante desse novo cenário, a agroecologia para o MST, para a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a para a Via Campesina como um todo se tornou um paradigma necessário para a superação do agronegócio, principal inimigo dos Sem Terra na atualidade. Sílvio Neto, do MST, ao fazer resgate histórico, reflete: “Com o massacre de Eldorado dos Carajás foi revelado que o latifúndio é o grande mal. Desmascaramos a crueldade do latifúndio. O que eles fizeram? Colocaram o agronegócio. O MST tinha se tornado o novo ao desmascarar o latifúndio como o atrasado, o que mata e oprime. Mas o agronegócio, se beneficiando do avanço técnico e tecnológico, é introduzido como algo novo, divulgado aos quatro ventos como algo que vai elevar a balança comercial, que vai produzir alimentos para toda a população. Com a chegada do agronegócio nos anos 90 do século XX, o MST passa a ser considerado como atrasado ao insistir na socialização da terra. Nesse novo contexto de apropriação da terra e de produção agropecuária, o paradigma da agroecologia se torna necessário, não apenas porque o MST ama a natureza, mas porque se torna uma necessidade política para o MST tentar se colocar novamente como algo novo diante do agronegócio, que é algo mais atrasado do que o latifúndio antigo. Nós temos sido classificados como atrasados, mas sabemos que não somos. Mas a sociedade ainda não nos reconhece como o novo que produz alimentação saudável. A avalanche do agronegócio é muito poderosa.”
Com os retrocessos aos direitos sociais e ambientais que estão sendo impostos pelo Governo Bolsonaro fortalecer a luta pela produção de alimentos agroecológicos se torna mais necessário, pois, por meio do Ministério da Agricultura, comandado pela ruralista Tereza Cristina, foi liberado quarenta novos produtos comerciais com agrotóxicos que deverão chegar ao Brasil nos próximos dias. Alguns, já conhecidos pelos empresários do agronegócio, mas que passam agora a ser utilizados também em outras culturas, entre elas a de alimentos. Publicação no Diário Oficial da União de 10 de janeiro de 2019 traz o Registro de 28 agrotóxicos e princípios ativos liberados. Isso é marcha rumo à guerra química. Por isso, produzir alimentos saudáveis de forma agroecológica se tornou uma necessidade imperiosa e uma questão ética imprescindível.

Referências.
MARTINS, José de Souza. O Cativeiro da Terra. 9ª edição. São Paulo: Contexto, 2013.

Belo Horizonte, MG, 22/01/2019.

Obs.: Veja, abaixo, vídeo sobre a Feira da Agricultura Camponesa de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais.








[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – www.mst.org.br
[3] Sigla que designa Projeto de Assentamento.

Dever de OCUPAR pelo direito de MORAR/Ocupação Prof. Fábio Alves/Belo Ho...




O dever de OCUPAR pelo direito de MORAR: Ocupação Professor Fábio Alves, em Belo Horizonte, MG/Vídeo 2 - 09/12/2018.

Diante de tantas dificuldades por que passam os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, milhões em situação de subemprego, milhões de desempregados, excluídos dos programas de moradias populares e cada vez mais oprimidos pelo capital e pelos capitalistas também pela especulação imobiliária, torna-se impossível sobreviver tendo que suportar a cruel e pesadíssima cruz do aluguel. Ocupar passa a ser uma necessidade urgente. A bem da verdade, numa sociedade em que morar é privilégio, ocupar é um direito e um dever. E foi assim que nasceu a Ocupação Professor Fábio Alves, na divisa de Belo Horizonte com Ibirité, bairro Marilândia: em março de 2018, movidas pela necessidade de moradia e sobrevivência, algumas famílias decidiram ocupar um grande terreno até então abandonado, sem cumprir qualquer função social, servindo de despejo de entulhos, com matagal abrigando animais peçonhentos e todo tipo de lixo e descarte. A Ocupação Prof. Fábio Alves cresceu e hoje são 712 famílias cadastradas. Com as próprias mãos estão construindo uma comunidade. Centenas de crianças, jovens, gestantes, idosos, trabalhadores e trabalhadoras formam esta Ocupação. Em comum, a baixa renda, a luta por sobrevivência e o sonho da casa própria – sagrado direito de todos e todas – que lhes permitirá viver com dignidade e paz. A Ocupação Professor Fábio Alves é acompanhada pelo Movimento Luta Popular - LP -, com apoio da CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) e conta também com expressiva Rede de Apoio. A determinação de todas e todos é manterem-se firmes na luta e resistência pelo direito à permanência no terreno onde já estão construindo suas casas. Todos os esforços serão feitos para que seja respeitado o princípio da dignidade humana, contra qualquer ação de despejo.

Visão parcial da Ocupação Professor Fábio Alves,
no Barreiro, em Belo Horizonte, MG. Foto: G. L. Moreira

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 09/12/2018.
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Ocupação Prof. Fábio Alves/BH/MG: Ocupar para garantir moradia e dignida...



Ocupação Professor Fábio Alves, no Marilândia, em Belo Horizonte/MG: Ocupar para garantir moradia e dignidade/ Vídeo 1 - 9/12/2018.

Há quase um ano, algumas famílias, já sem condições de suportar a pesadíssima cruz do aluguel e lutando pra sobreviver, ocuparam um grande terreno abandonado, localizado na divisa de Belo Horizonte com Ibirité, no bairro Marilândia. Nascia assim a Ocupação Professor Fábio Alves. Aos poucos, foram chegando mais e mais famílias, pela mesma necessidade de moradia. Em outubro, já eram quase 500 famílias e, atualmente, a Ocupação conta com 712 famílias cadastradas. Dessas famílias fazem parte um grande número de crianças, pessoas idosas, gestantes, trabalhadores e trabalhadoras que lutam pelo sagrado direito de ter onde morar com dignidade e paz. Os barracos de lona abrigam o sonho da casa própria e abrigam também o alimento que chega à mesa, antes muitas vezes muito escasso para garantir o pagamento do aluguel ou para custear a vida sobrevivendo de favor em casas de parentes. A Ocupação prof. Fábio Alves é acompanhada pelo Movimento Luta Popular (LP) e conta com o apoio da CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) e de uma expressiva Rede de Apoio. Juntos – Comunidade e apoiadores – lutam pela permanência das famílias no terreno, contra qualquer forma de intimidação, ameaças e, sobretudo, contra o despejo, inadmissível!

Alegria que irradia na luta pela conquista da casa
 própria na Ocupação Professor Fábio Alves,
no Barreiro, em Belo Horizonte, MG.
Foto: G. L. Moreira

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 09/12/2018.
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Ocupação Prof. Fábio Alves/BH/MG: Ocupar é uma necessidade. Despejo, não...



Ocupação Prof. Fábio Alves, em Belo Horizonte/MG: Ocupar é uma necessidade. Despejo, não! - Vídeo 1- 13/1/2019.

Setecentas famílias na região do Barreiro, em Belo Horizonte/MG, correm risco de ser DESPEJADAS - Ocupação Professor Fábio Alves - Resiste.

Fábio Alves foi Professor de Direito da PUC/Minas, advogado popular envolvido na defesa de direitos humanos e sociais básicos. Atuou na defesa de muitas ocupações em seu direito básico à moradia. Atuou na defesa dos direitos dos povos Indígenas, por meio do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), atuou na Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG; atuou na luta das APACs (Associação de Proteção aos Condenados) de Minas Gerais; e em muitas outras frentes de lutas populares. A Ocupação Professor Fábio Alves fica localizada na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Setecentas famílias ocuparam um terreno abandonado há mais de 20 anos, onde funcionava a antiga Rádio Capital. As famílias que ocupam a área são todas de trabalhadoras e trabalhadores desempregados, ou que vivem de salário mínimo. Muitas delas compostas apenas por mulheres, crianças e idosos. A ocupação do terreno representa a busca de uma alternativa para um grave problema social, a ausência de moradia. Em novembro de 2018, apareceu um suposto proprietário reivindicando a área, uma empresa Paulista, que não conseguiu comprovar a posse do terreno e cuja propriedade é bastante duvidosa. A própria empresa que solicita a reintegração de posse apresentou uma escritura do terreno em nome de outra empresa, a Construtora Tenda. No meio do processo foi apresentada uma documentação, fornecida pela URBEL (Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte), de uma autorização da prefeitura para a construção na área de um condomínio de 1.200 apartamentos pelo programa Minha Casa, Minha Vida. De acordo com a empresa, o condomínio atenderia famílias da faixa 1; de acordo com a URBEL faixa 1,5. Um projeto que ainda não tem licenciamento ambiental e muito menos aprovação de recursos por parte do Governo Federal. Um projeto que foi assinado pela URBEL após a ocupação do terreno pelas 700 famílias. Outro elemento que requer investigação é a origem do terreno e quais os interesses por trás dos acordos com a Construtora. Ao que tudo indica, este foi mais um dos terrenos que era do Estado de MG e foi transferido a particulares por razões pouco claras, apontando, mais uma vez, governantes beneficiando empresas ou indivíduos com recursos públicos, para atender a privilégios individuais. O que as 2.800 pessoas que formam a ocupação Professor Fábio Alves reivindicam é muito simples: • Um lugar para morar - que os governos tenham programas habitacionais que atendam de fato famílias de baixa renda. • Se há um projeto de construção de moradias populares para o terreno, que as famílias sejam parte deste projeto; se não há, que esta ou outra área seja destinada a autoconstrução. • As famílias esperam que nem Kalil, nem Zema e nem o Poder Judiciário lavem as mãos, e que haja uma solução justa e pacífica para conflito social. Para que isto aconteça, é muito importante a solidariedade de todos os lutadores e lutadoras do estado de Minas Gerais, de todos e todas que acreditam que o direito à vida, o direito à moradia e à dignidade humana são superiores ao direito à especulação e ao lucro.

Está aumentando o número de casas de alvenaria
construídas ou em construção na Ocupação
Professor Fábio Alves, na região do Barreiro,
em Belo Horizonte, MG. Foto: G. Moreira

DIA 24/1/2019, ÀS 18h30, NA AVENIDA AMAZONAS, 491, 10º ANDAR, SERÁ REALIZADO UM ENCONTRO DE APOIADORES COM O OBJETIVO DE DEFINIR ALGUMAS AÇÕES, PARTICIPE. COM LUTA, COM GARRA, A CASA SAI NA MARRA. Assinam esta Nota: - MORADORES DA OCUPAÇÃO PROFESSOR FÁBIO ALVES - MLP (MOVIMENTO LUTA POPULAR) - CSP-CONLUTAS (Central Sindical e Popular Conlutas) - CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) Belo Horizonte/MG, 20 de janeiro de 2019.
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 13/1/2019.
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domingo, 20 de janeiro de 2019

Ocupação Prof. Fábio Alves/BH/MG: Setecentas famílias na luta por moradi...




Ocupação Professor Fábio Alves: Setecentas famílias dão VIDA a terreno abandonado na luta pelo direito à moradia. Despejo, não! Vídeo 2 – 13/1/2019.

Um terreno abandonado há décadas, sem qualquer função social,  no bairro Marilândia, em Belo Horizonte/MG, próximo à divisa de Belo Horizonte com Ibirité, preocupava e colocava em risco os moradores ao redor. Um matagal servia de depósito de entulhos, lixos de toda espécie, descarte até mesmo de corpos, esconderijo da criminalidade, além de abrigar os mais diversos animais peçonhentos. Em março de 2018, algumas famílias, que já não  suportavam mais o peso cruel da cruz do aluguel ou a humilhação de morar de favor, tiveram como única alternativa a ocupação.  Dedicaram-se à limpeza do terreno e lá instalaram barracas de lona, fazendo delas os seus lares, o seu abrigo, a sua moradia.  Aos poucos, a Ocupação foi crescendo e hoje são 712 as famílias cadastradas participando da Ocupação. Num trabalho coletivo, num ambiente de harmonia, trabalhadoras e trabalhadores de baixa renda, apesar das dificuldades, da falta de estrutura, foram e continuam se organizando em comunidade, na luta por uma moradia digna. Na Ocupação Professor Fábio Alves, a dureza da luta é enternecida pelo riso das crianças com suas brincadeiras – e são centenas de crianças -, pelo sorriso iluminado das gestantes que se sentem confiantes porque poderão oferecer aos filhos um lar seguro, livre da opressão da especulação imobiliária, livre das humilhações. Essa dureza da luta é enternecida também pela serenidade dos muitos idosos que ali colocam a esperança de uma velhice com dignidade e paz e se mistura ainda aos sonhos dos jovens, dos pais, de mulheres e homens que, enfrentando todas as adversidades impostas pelo sistema do capital e dos capitalistas que explora e exclui, seguem firmes na luta e resistência em busca dos seus direitos garantidos pela Constituição Federal do Brasil.
A Ocupação Professor Fábio Alves se fortalece, se consolida. Hoje, já são dezenas de casas de alvenaria, outras em construção, e o ritmo ali é acelerado de trabalho, de construção de uma verdadeira Comunidade. Entretanto, tudo isso está ameaçado. Recentemente, no dia 17 de janeiro/2019, a juíza Lílian Bastos de Paula, da 22ª Vara Cível de Belo Horizonte, expediu Liminar de Reintegração de Posse, determinando o prazo de 30 dias para o despejo. É uma decisão injusta, desumana, que fere o principio da dignidade humana.  As setecentas famílias da Ocupação Professor Fábio Alves, o Movimento Luta Popular (LP), que acompanha a Ocupação, a CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra) e toda a Rede de Apoio não aceitam essa decisão sem que se esgotem todas as possibilidades de negociação e sem apresentar uma alternativa prévia de moradia digna. É covardia despejar 700 famílias, como se fossem objetos descartáveis. Para onde vão? Como vão viver?  E todo o investimento que fizeram nas construções? Mais que tijolos e telhas, mais que lonas e madeirites, ali existem vidas, existem sonhos e direitos de gente que buscou solução para um gravíssimo problema que o Poder Público não consegue resolver, que é a falta de moradia. Um terreno abandonado ganha vida de vidas que ali se fortalecem. Toda reintegração de posse é uma desintegração de sonhos. RESPEITO, SIM. NEGOCIAÇÃO, SIM. DESPEJO, NÃO!

Visão panorâmica parcial de casas de alvenaria construídas
 na Ocupação Professor Fábio Alves, no bairro Marilândia,
na região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG, dia 13/01/2019.
Foto: G. L. Moreira

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 13/1/2019.
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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Assentados e Acampados, em apoio mútuo, resistem a seis despejos


Assentados e Acampados, em apoio mútuo, resistem a seis despejos
Por Gilvander Moreira[1]

Sem Terra Fátima e Maatuzalém. Foto: G. L. Moreira.

No conflito agrário que se arrasta há mais de 20 anos envolvendo diretamente mais de 450 famílias acampadas em 11 acampamentos – Quilombo Campo Grande - no latifúndio da ex-usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais, as famílias Sem Terra sofreram seis despejos. Em 18 de maio de 2009, ocorreu o mais cruel despejo dos acampamentos naquelas terras. A violência e a destruição foram grandes. Em audiência com o juiz da Vara Agrária de Minas Gerais, no Fórum de Campos Gerais, o juiz anunciou que iria acontecer reintegração de posse, mas não disse o dia. De surpresa, dia 18 de maio de 2009, o poder judiciário de Minas e o então governador Aécio Neves (PSDB), com o apoio de mais de 200 policiais da Polícia Militar, fortemente armados, com cães, cavalaria, helicópteros, três UTIs[2] móveis, caminhão do Corpo de Bombeiros, ônibus de policiais, atirador de elite e dezenas de policiais de operações especiais da Tropa de Choque, usando caminhões e tratores da prefeitura de Campo do Meio, sob o comando do prefeito Vilson Rodrigues Pereira, do PSDB, após vários dias de pressão e ameaças aos Sem Terra acampados, despejaram 123 famílias de 5 acampamentos, sendo 4 acampamentos do MST: Sidney Dias, Irmã Dorothy, Tiradentes e Rosa Luxemburgo; e 1 acampamento organizado pela FETAEMG. A mando do Coronel Guimarães, tratores com arados e patrolas da Prefeitura de Campo do Meio destruíram as lavouras de arroz, feijão, mandioca, milho, laranja, abacate e hortaliças dos Sem Terra, dos acampamentos. As máquinas foram operadas por funcionários do gerente da massa falida da ex-usina. Estima-se que seriam colhidas 1.600 sacas de feijão (Fonte: laudo da EMATER[3]), quatro toneladas de melancia, quatro mil pés de mandioca e grande plantação de milho, todos no ciclo de colheitas. Passaram o trator com arado em cima de porcos vivos - inclusive uma porca prenha -, mataram um cachorro a tiro e o jogaram dentro de uma cisterna, de onde as famílias puxavam água no saril. Deixaram outros animais abandonados na imensa área devastada. Quando chegamos dois dias após o cruel despejo, uma gata magricela miava, resistindo em cima dos escombros da casa da família que a acolhia. As cercas de arame que protegiam as plantações foram também destruídas pelos tratores da Prefeitura de Campo do Meio, sob escolta da polícia militar. Árvores nativas replantadas pelos Sem Terra acampados foram arrancadas pelos tratores. A camponesa do Acampamento Tiradentes, Eva Auxiliadora de Freitas, acampada desde 12 de junho de 2008 relata: “Foi uma tragédia. Muito triste. Derrubaram tudo. Com cavalaria, chegaram e foram entrando e destruindo tudo. Deram tiro na cabeça de um cachorro, matou e jogou na cisterna para a gente não beber mais água da cisterna. Até os pomares foram destruídos. Passaram tratores em cima de tudo, até de porcos e galinhas. As casas foram destruídas com tratores e retroescavadeira. Não deram prazo para a gente retirar nem as telhas. A gente sabia que eles estavam cumprindo ordens, mas a gente não entende como eles conseguiram reintegração de posse, se eles não são os verdadeiros donos. Todos nós despejados fomos acolhidos no galpão do PA Primeiro do Sul, aqui ao lado da Ariadnópolis. Muitos companheiros se espalharam, mas depois voltou todo mundo. Atualmente há muitos companheiros que sofreram muito com os despejos, mas não desistiram da luta, já estão assentados no PA Nova Conquista II aqui na Ariadnópolis”.
Um dos segredos da luta que tem levado à resistência e à determinação de nunca mais aceitar despejo nos 3.900 hectares do latifúndio da Ariadnópolis tem sido a relação de apoio mútuo, de companheirismo e cumplicidade na luta. Vinte e cinco famílias que estavam acampadas ali foram acolhidas e assentadas no Projeto de Assentamento (PA) Primeiro do Sul – o primeiro do MST no sul de Minas, fica ao lado -, em substituição às que desistiram. Após a desistência de uma família, em sintonia com a coordenação estadual do MST, em assembleia, as famílias do Assentamento Primeiro do Sul começaram a convidar outras que estavam acampadas nas terras da Ariadnópolis. A relação de apoio mútuo, de companheirismo e cumplicidade entre as famílias assentadas no Assentamento Primeiro do Sul e as centenas de famílias acampadas em onze acampamentos no latifúndio da Ariadnópolis tem sido uma das colunas mestras para fazer a luta pela terra avançar no município de Campo do Meio, conforme nos informa Sílvio Neto, da coordenação nacional do MST: “As dificuldades de acesso aos créditos, a escassez de alimentação e as dificuldades para produzir foram superadas, porque conseguimos manter as famílias do Assentamento Primeiro do Sul em permanente luta coletiva. Em vários momentos, o PA Primeiro do Sul se converteu em Frente de Massa na luta pelos 3.900 hectares do latifúndio da Ariadnópolis. O laço estreito que as famílias do PA Primeiro do Sul tem com as famílias acampadas nas terras da Ariadnópolis coloca as famílias do PA Primeiro do Sul em constante enfrentamento para a conquista definitiva das terras da Ariadnópolis. Por outro lado, as famílias acampadas na Ariadnópolis, em constante relação com o PA Primeiro do Sul, são animadas a fortalecer a produção, seguindo o exemplo do PA Primeiro do Sul. Essa comunhão entre os assentados do PA Primeiro do Sul e as 450 famílias acampadas da Ariadnópolis tem sido um pilar de sustentação política da nossa organização no Sul de Minas. Em vários despejos quem acolheu as famílias despejadas foram os assentados do PA Primeiro do Sul. Houve ocupações na Ariadnópolis feitas pelos assentados, não para se buscar um segundo lote, mas para garantir a derrota do latifúndio para que outras famílias de companheiros tivessem acesso à terra.”
A luta pela conquista do latifúndio Ariadnópolis e a luta pela conquista da Fazenda Jatobá – fazendas contíguas -, que se tornou o PA Primeiro do Sul, são lutas umbilicalmente conectadas. Não há como compreender a luta dos assentados do PA Primeiro do Sul desvinculada da luta de centenas de famílias acampadas nas terras da Ariadnópolis e nem do trabalho de centenas de trabalhadores rurais durante o funcionamento da Usina até 1996. Em Campo do Meio, desde 1998, quando ocorreu a primeira Ocupação nas terras da Ariadnópolis, tem havido, sob vários aspectos, relações de apoio mútuo entre acampados e assentados. Foi nas terras da Ariadnópolis que a Ocupação da Fazenda Jatobá foi planejada, com o apoio de sindicalistas do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) da região e com o apoio de liderança do MST designada para criar o MST no Sul de Minas. Mas também foi nas terras da Fazenda Jatobá, já ocupada e transformada em Assentamento, que a primeira ocupação das terras da Ariadnópolis foi organizada. Assentados do PA Primeiro do Sul foram protagonistas na concretização de vários acampamentos no latifúndio da Ariadnópolis, conforme recorda o assentado no PA Primeiro do Sul Sebastião Mélia: “As famílias aqui do PA Primeiro do Sul é que faziam frente no embate dos enfrentamentos para ocupar o grande latifúndio da Ariadnópolis. Também para garantir a permanência dos acampados lá. E quando vinham os despejos, o PA Primeiro do Sul se tornava o refúgio dos acampados. Aqui no PA Primeiro do Sul é que as famílias despejadas eram acolhidas por uns dois ou três meses até a gente reorganizar os acampamentos lá. No início da Ocupação das terras da ex-Usina Ariadnópolis, as famílias assentadas no PA Primeiro do Sul prestavam ajuda econômica aos acampados da seguinte forma: primeiro doando alimentos e depois cedendo sementes de milho, de feijão e de arroz para os companheiros plantarem”.
Em tempos de fascismo e de extrema direita no poder, com mídia manipuladora e igrejas que dopam seus fiéis aos amputar a dimensão social da fé cristã e do Evangelho de Jesus Cristo, necessário se faz aprendermos com lutas inspiradoras como a do MST em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais.

Belo Horizonte, MG, 15/01/2019.

Obs.: Veja nos links, abaixo, vídeos que fazem referência aos vários despejos sofridos pelas famílias acampadas no latifúndio da antiga usina Ariadnópolis:  

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[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III
[2] UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
[3] Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural.