terça-feira, 13 de outubro de 2015

Carta aberta à Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais: Diga Não ao Projeto de Lei n. 2.946/2015.

Carta aberta à Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais: Diga Não ao Projeto de Lei n. 2.946/2015.

“O Projeto de Lei nº 2.946/2015, ora proposto pelo Governador Fernando Pimentel, altera consideravelmente a base conceitual do Sistema Estadual de Meio Ambiente sendo notório o caráter predominantemente centralizador da política ambiental de Minas Gerais nas esferas do poder executivo, pretendido pelo atual governo, o que fere tanto o ordenamento jurídico estadual e federal como o direito à participação da sociedade civil e de outros entes que participam das instâncias colegiadas que compõem o SISEMA, de acordo com a legislação vigente.”

Belo Horizonte, 13/10/2015

À Comissão de Constituição e Justiça
Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Assunto: Projeto de Lei nº 2.946/2015

Considerando que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (art.225 da Constituição do Brasil e art. 214 da Constituição de Minas Gerais).
Considerando que para assegurar a efetividade do direito a que se refere o art. 225, incumbe ao Estado (§ 1º do art. 225 da Constituição do Brasil), entre outras atribuições “estabelecer, através de órgão colegiado, com participação da sociedade civil, normas regulamentares e técnicas, padrões e demais medidas de caráter operacional, para proteção do meio ambiente e controle da utilização racional dos recursos ambientais. (inciso IX do § 1º do art. 225 da Constituição do Brasil)
Considerando que o Projeto de Lei nº 2.946/2015, de autoria do Governador Fernando Pimentel, publicado no Diário do Legislativo no dia 8/10/2015, dispõe sobre o Sistema Estadual de Meio Ambiente – SISEMA - e dá outras providências no âmbito da política ambiental de Minas Gerais.
Considerando que o Decreto nº 46.733, de 30/3/2015 que “Institui Força-Tarefa com a finalidade de diagnosticar, analisar e propor alterações no funcionamento do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SISEMA” em seu art. 5º diz que “Os órgãos e entidades que compõem a Força-Tarefa deverão atuar de maneira articulada com o Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM – , nos termos do Decreto nº 44.667, de 3/12/2007.”
Considerando que o Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM - “tem por finalidade deliberar sobre diretrizes, políticas, normas regulamentares e técnicas, padrões e outras medidas de caráter operacional, para preservação e conservação do meio ambiente e dos recursos ambientais, bem como sobre a sua aplicação pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, pelas entidades a ela vinculadas e pelos demais órgãos locais. (art 3º do Decreto nº 44.667, de 3/12/2007)
Considerando que os órgãos e entidades que compuseram a Força-Tarefa não atuaram de maneira articulada com o Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM - e que as alterações no funcionamento do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SISEMA - apresentadas no Projeto de Lei nº 2.946/2015 não foram apresentadas ao COPAM no âmbito do Plenário e também da Câmara Normativa Recursal (CNR).
Considerando que em ambas as estruturas do COPAM - Plenário e CNR - conselheiros demandaram informações sobre o andamento dos trabalhos da força-tarefa instituída pelo Decreto nº  46.733, de 30/3/2015 e salientaram a necessidade do resultado final ser pautado para deliberação das estruturas colegiadas e, assim, para conhecimento também da sociedade.
Considerando que o Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Luiz Sávio de Souza Cruz, na 163ª reunião do Plenário do COPAM, realizada em 22/4/2015, informou que ele era “o representante do COPAM na força-tarefa e que o momento atual é de formulação de propostas para, posteriormente, serem apresentadas para o Conselho e, se for o caso, à Assembleia Legislativa” e na 164ª reunião do plenário do COPAM, realizada em 15/7/2015 disse que “Quanto ao projeto de reestruturação do Sisema, foi criado um grupo para redigir uma proposta, que será apresentada ao COPAM logo que estiver formatada”.
Considerando que em 7/4/2015 foi encaminhado ao Governador Fernando Pimentel um ofício, endossado por 25 organizações socioambientais, a respeito do Decreto nº 46.733, de 30/3/2015, que institui a “Força-Tarefa com a finalidade de diagnosticar, analisar e propor alterações no funcionamento do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SISEMA”, solicitando o agendamento de uma reunião para tratar do assunto, que não foi realizada.
Considerando que o teor do Projeto de Lei nº 2.946/2015, ora proposto pelo Governador Fernando Pimentel, altera consideravelmente a base conceitual do Sistema Estadual de Meio Ambiente sendo notório o caráter predominantemente centralizador da política ambiental de Minas Gerais nas esferas do poder executivo, pretendido pelo atual governo, o que fere tanto o ordenamento jurídico estadual e federal como o direito à participação da sociedade civil e de outros entes que participam das instâncias colegiadas que compõem o SISEMA, de acordo com a legislação vigente.
Considerando que não podemos retroceder agora num processo histórico no qual se construiu, arduamente, a possibilidade de participação social na gestão ambiental, que é um dos nossos direitos fundamentais, conforme rege a Constituição Brasileira e Mineira.
Considerando que frente à escassez hídrica em Minas Gerais a gestão ambiental adquire mais do que nunca uma importância estratégica que não pode ser focada no aspecto estritamente econômico, que demanda do Estado agilizar licenciamentos, e muito menos ser centralizada por nenhum setor da sociedade, precisando ser obrigatoriamente participativa, até para que a população se sinta verdadeiramente parte do processo em busca de soluções.
Considerando que a situação de inconstitucionalidade e ilegalidade do projeto de lei em causa, se transformada em norma, se traduzirá em ato inconstitucional e ilegal da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e em insegurança jurídica, o que deve ser evitado não só em prol dos empreendedores, como da população e da conservação, preservação e recuperação dos bens naturais e da melhoria da qualidade ambiental do Estado.
Considerando que a legalidade e os princípios democráticos devem ser observados em qualquer proposição apresentada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Considerando que “às comissões, em razão da matéria de sua competência, da matéria compreendida em sua denominação ou da finalidade de sua constituição, cabe, entre outras, “receber petição, reclamação, representação ou queixa de qualquer pessoa contra ato ou omissão de autoridade ou entidade públicas”. (inciso X do art. 100 do Regimento Interno da ALMG)
Considerando que é da competência da Comissão de Constituição e Justiça, entre outras, “os aspectos jurídico, constitucional e legal das proposições”. (inciso III do art. 102 do Regimento Interno da ALMG) assim como “propor a sustação dos atos normativos do Poder Executivo que exorbitem da competência regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”. (inciso XVII do art. 102 do Regimento Interno da ALMG)
São essas, Senhor Presidente e demais membros da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, as razões que me levam a requerer a essa Comissão de Constituição e Justiça que delibere pela inconstitucionalidade e ilegalidade do Projeto de Lei nº 2946/2015.

Assina em sintonia com os movimentos socioambientais que lutam por Justiça socioambiental,
Frei Gilvander Luís Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
RG 790.151 SSP/DF,
End.: Rua Iracema Souza Pinto, 695, Planalto, CEP: 31720-510, Belo Horizonte, MG.
Belo Horizonte, MG, 13 de outubro de 2015.

Obs.: Quem puder e quiser assinar e divulgar essa Carta Aberta, beleza!

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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

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sábado, 10 de outubro de 2015

A CPT também apoia as Ocupações de Timóteo, MG, e repudia os despejos anunciados para iniciar dia 13/10/2015. Nota pública.

A CPT também apoia as Ocupações de Timóteo, MG, e repudia os despejos anunciados para iniciar dia 13/10/2015. Nota pública.
Muitas pessoas das Ocupações de Timóteo, MG, me telefonaram nos últimos dias implorando apoio, pois estão entrando em desespero na iminência de despejos anunciados. “Estamos em desespero. Pelo amor de Deus nos ajudem. As crianças, os idosos e nós não estamos mais dormindo sob o pavor dos despejos que anunciaram. É muita injustiça nos despejar...”, clamaram comigo. Só não se comove com o sofrimento dos oprimidos quem tem coração de pedra.
Ao lado das Brigadas Populares, a CPT apoia e acompanha a luta das Ocupações de Timóteo, MG. Não aceitamos despejos sem alternativa digna PRÉVIA. Eu, frei Gilvander Moreira, e a CPT em MG apoiamos a luta justa, legítima e necessária das centenas de famílias das Ocupações de Timóteo, MG. Eu estive em Timóteo algumas vezes para apoiar a luta das Ocupações do Recanto Verde, do Macuco e do Limoeiro. Gravei, inclusive, sete vídeos e coloquei no youtube e nas redes sociais (Procure no www.youtube.com “Ocupações de Timóteo”) para reforçar a luta das Ocupações de Timóteo. É injusto e inadmissível despejar as centenas de famílias das Ocupações de Timóteo sem alternativa digna PRÉVIA. A melhor alternativa e digna para as ocupações é a regularização urbanística e projeto socioambiental de convivência com o rio, que já foi proposta pelas Brigadas Populares e pelo povo das Ocupações, e para isso estamos lutando. É injustiça que clama aos céus demolir 300 casas construídas com muito suor e na raça - as famílias devem a metade do que investiram para construir as 300 casas - e jogar as famílias na rua ou sob a pesadíssima cruz do aluguel ou empurrá-las para cima das costas de parentes para sobreviverem de favor
Inadmissível também um prefeito do PT, Keisson, que foi eleito graças aos votos das famílias das ocupações, ter exigido judicialmente a reintegração de posse. Keisson, do PT, agora pode e deve SUSPENDER os despejos e retomar o processo de negociação séria e idônea. As Brigadas Populares e o povo das ocupações sempre estiveram abertos a negociação, mas negociação séria, justa e ética. As Brigadas e o povo têm propostas justas de negociação.
Inadmissível também o TJMG mandar despejar sem alternativa digna prévia. Por que o TJMG não segue a decisão/orientação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de Brasília, que suspendeu os despejos das Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte, MG, e disseram claro que não pode haver despejo sem respeitar a dignidade humana e os direitos fundamentais da pessoa?
Inadmissível também o Governo de Minas Gerais, do PT, colocar a força policial para aterrorizar o povo e fazer despejos forçados. Não foi para isso que milhares de famílias das ocupações do campo e urbanas votaram em Pimentel, em Dilma, no PT. Exigimos também que o Governo de MG dedique às ocupações urbanas tratamento semelhante ao que está dispensando ao MST.
O governador de MG, Fernando Pimentel, dia 15/01/2015 recebeu a coordenação do MST. Já desapropriou 3 fazendas para o MST, decisão justa. Helvécio Magalhães e Odair Cunha, secretários do governador Pimentel, têm participado ativamente do encaminhamento dos pleitos das ocupações do MST. O ex-governador Anastasia, do PSDB, recebeu as lideranças das ocupações durante 2,5 horas e se comprometeu em encontrar uma solução justa e equilibrada para as ocupações da Izidora e, assim, não despejou as ocupações da Izidora. Mas Pimentel, já no 10º mês de governo, ainda não recebeu ninguém das ocupações urbanas. Por quê? Pimentel e autoridades do Governo de MG, não se esqueçam que nos últimos anos mais de 50 mil famílias foram para ocupações urbanas em MG: 30 mil famílias em BH e RMBH, 10 mil em Uberlândia e 10 mil em várias outras cidades de MG. Só em Unaí há mais de 4 mil famílias sem-casa cadastradas no Movimento dos Sem Casa de Unaí.
O peso da cruz do aluguel, fruto da especulação imobiliária, ou da humilhação que é sobreviver de favor está insuportável. Com o papa Francisco afirmamos: “Toda família tem direito a moradia digna. Todo trabalhador tem direito a emprego e direitos. E todo sem-terra tem direito a terra.” Continuar tratando as ocupações como caso de polícia, com repressão, é injustiça e burrice, pois só piora muito o já gravíssimo problema social. É injustiça grave despejar as ocupações urbanas propondo apenas auxílio-moradia e vagas promessas de reassentamento futuramente. Isso é migalha, é empurrar o gravíssimo problema social pra frente e agravá-lo.
Conclamamos as autoridades do PT (prefeito de Timóteo, Keisson, do PT e Governo de MG), do TJMG e das forças policiais a se abrirem para negociação séria e idônea. Alertamos que insistir em fazer despejos forçados pode causar massacre.
Assina,
Pela CPT, frei Gilvander Moreira.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 10 de outubro de 2015.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

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Prelazia de São Félix do Araguaia, MT: uma das locomotivas da profecia: o que vi e ouvi em uma viagem.

Prelazia de São Félix do Araguaia, MT: uma das locomotivas da profecia: o que vi e ouvi em uma viagem.
Por frei Gilvander Moreira[1]

Partindo de Belo Horizonte, MG, dias 27 de setembro de 2015, após 27 horas seguidas de viagem de avião, ônibus e automóvel cheguei a Santa Terezinha, umas das cidadezinhas da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Por lá, durante cinco dias vi e ouvi muita coisa que merece ser partilhada. Vi com os meus olhos, com a minha cabeça e com o meu coração. Se já tinha ouvido que a região é conhecida como sertão, pude ver um sertão diferente. Diferente do sertão mineiro e do sertão nordestino. Foi uma oportunidade de relembrar que não há sertão, mas sertões.
Mato Grosso era mato grosso. Hoje não mais, porque “está sendo fritado em pouca gordura”: o estado mato-grossense está sendo despelado. Lá, toda a pele da mãe terra está sendo arrancada com desmatamentos para a pecuária e depois pelas monoculturas da soja e do milho. O agronegócio impõe-se por todo lado. Nas estradas de chão batido, muitas carretas transitam levando a riqueza produzida em solo que vai se tornando cada vez mais pobre. Nas veredas e no cerrado, ainda existente, vê-se a presença de muitos cajueiros, pequis e buritizeiros. “Onde a gente vê reserva florestal é terra indígena. O que não é terra indígena já foi tudo derrubado e transformado em pastagens e depois em lavoura. Não sei para que índio precisa de tanta terra,” comentava uma gaúcha no ônibus da empresa Xavante, empresa com nome indígena, mas de propriedade de brancos.
Meu sangue ferveu de ira ao ouvir um trabalhador negro, no pequeníssimo aeroporto de Confresa, dizer: “Porcaria de índio.” Ouvi falar que muitos fazendeiros dizem: “índio bom é índio morto” e que um grande político – coronel moderno - foi aplaudido em praça pública ao dizer: “índio não precisa de terra, pois não trabalha”. Os mesmos que apunhalam os povos indígenas, a começar pela linguagem preconceituosa, grilando suas terras, são os mesmos que já gritaram muitas vezes: “Fora dom Pedro Casaldáliga!” “Fora Prelazia de São Félix!” Um fazendeiro perguntou a um padre recém-chegado para ser missionário na Prelazia: “O senhor é contra ou a favor do progresso?” E ameaçou: “Se for um dos nossos, será bem-vindo! Se não! ...”
Meu coração se alegrou ao ouvir: “Se não fosse a presença e o apoio firme de dom Pedro Casaldáliga, das irmãzinhas de Jesus, e de todos/as os/as agentes de pastoral da Prelazia de São Félix, os povos indígenas Tapirapé, Xavante, Carajá e outros não teriam reconquistado parte dos seus territórios.” Vi um grande grupo de indígenas delimitando seu território reconquistado, fazendo cerca na divisa com um mega latifúndio. À beira de uma estrada federal ainda sem asfalto e toda esburacada, vi ruínas de um lugarejo que a Força Nacional e o Exército puderam devolver o território aos povos indígenas. “Vieram e disseram para as famílias que quem aceitasse sair espontaneamente das terras indígenas ganharia um lote de terra em outra localidade próxima, mas quem não saísse seria expulso após seis meses. Assim aconteceu,” me informou um agente de pastoral.
Passei ao lado da Fazenda Rio Preto com uma grande fachada e segurança na entrada. “Essa fazenda tem 100 mil hectares. O dono cria 200 mil bois aí”, me informaram. Ao lado dessa fazenda está o território do povo indígena Xavante com 160 mil hectares para 1400 indígenas. A Força Nacional e o Exército estiveram na área em 2012 para desentrusar fazendeiros que grilavam terras indígenas e derrubaram muitas casas de “brancos” que foram construídas na área indígena. Muitas pessoas dizem que os indígenas têm muita terra, mas não acham que 100 mil hectares para um só “branco” seja problema.
O agronegócio avança como um tsunami, mas deixa atrás de si um rastro de destruição: terras devastadas, nascentes exterminadas, terra, ar e águas envenenadas pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, trabalhadores submetidos a situações análogas à de escravidão etc. Foi na Prelazia de São Félix que iniciou a Campanha Permanente contra o Trabalho Escravo, uma das atividades da CPT (Comissão Pastoral da Terra). Um missionário me informou: “Após as primeiras chuvas e enchentes, todo ano aqui na região do rio Araguaia, acontece uma grande mortandade de peixes, porque a enorme quantidade de agrotóxicos pulverizado nas lavouras vai para os cursos d’água. Morre muito peixe e o número de pessoas doentes cresce assustadoramente.” A UTI mais próxima está em Cuiabá, MT, ou em Goiânia, GO, distante de 1000 a 1500 Kms. Para se tentar salvar alguém em situação grave só através de taxi aéreo, que custa cerca de 15 mil reais.
Muitos indígenas, peões e lideranças foram assassinados na região. Ouvi que ainda existem muitos jagunços que ameaçam quem se opõe aos interesses dos donos de terras. Em Ribeirão Cascalheira, visitei o Santuário dos Mártires da Caminhada. Emocionante caminhar onde o padre João Bosco Burnier, missionário jesuíta, foi martirizado de 11 para 12 de outubro de 1976. Ouvi que Dom Pedro Casaldáliga, ameaçado de morte na Prelazia, e o padre João Bosco Burnier, após celebrarem com o povo os festejos de N. Sra. Aparecida, incomodados pelos gritos de duas mulheres presas – Margarida e Santana – foram interceder por elas na delegacia-cadeia de Ribeirão Cascalheira. As mulheres estavam “impotentes e sob torturas: um dia sem comer e beber, de joelhos, braços abertos, agulhas na garganta, sob as unhas; essa repressão desumana”, relata dom Pedro no livrinho “Martírio do Pe. João Bosco Penido Burnier”, da Ed. Loyola.
Naquela ocasião, Dom Pedro e o padre João Bosco chegaram à delegacia, se apresentaram e tentaram cumprimentar os policiais que os esperavam enfileirados em atitude agressiva. Tentaram dialogar com serenidade, mas os policiais cuspiam insultos e ameaças. Padre João Bosco disse aos policiais que denunciaria aos superiores dos mesmos as arbitrariedades que vinham praticando. Essas palavras foram como riscar um palito de fósforo em um barril de combustível. “O soldado Ezy pulou até ele – três metros apenas – dando-lhe uma bofetada fortíssima no rosto. Inutilmente dom Pedro tentou cortar ali o impossível diálogo: “João Bosco, vamos ...” O soldado, seguidamente, descarregou também no rosto do padre João Bosco um golpe de revólver e, num segundo gesto fulminante, o tiro fatal, no crânio”, escreveu dom Pedro para nós e para as futuras gerações.
Agonizando em um automóvel pelas estradas esburacadas do Xingu, antes de morrer em Goiânia no dia 12 de outubro, por volta das 17:00h, padre João Bosco lamentou com saudade comovedora: “Sinto não ter tomado nota do que os índios (Tapirapé) falaram...” Ainda bem que as Irmãzinhas de Jesus, que convivem com os povos Tapirapés, desde 1952, em seus diários registraram muita coisa da vida do povo Tapirapé, parte publicado no livro Renascer de um povo. A camisa ensanguentada do mártir padre João Bosco está exposta no Santuário dos Mártires da Caminhada. Na missa de corpo presente estenderam uma faixa: “Sem derramamento de sangue não há libertação”.  O corpo do padre João Bosco virou semente de muitos missionários militantes da causa da justiça e da paz.
Padre João Bosco deixou para nós como testamento sua doação de vida e também lições proféticas, tais como: “Contra esses abusos da autoridade e da falsa justiça, temos que opor os nossos protestos e a nossa ação pública; mesmo com risco de ficarmos expostos às represálias e à incompreensão das “autoridades””. “Embora transitoriamente separados, acontece conosco o que se passa quando, de dentro da casa com persiana, olhamos para a rua. Vemos todos os movimentos dos transeuntes, enquanto eles, por seu lado, não nos enxergam. Assim também os que já estão com Deus na posse da felicidade eterna acompanham as nossas vidas com todos os pormenores e nos ajudam com a sua amorosa assistência e intercessão.”
Após a missa de 7º dia do padre João Bosco, a delegacia-cadeia de Ribeirão Cascalheira foi destruída pelo povo possuído por uma ira santa. Alguém questionou: “Será que isso é violência?” O povo respondeu: “Violência é eles matarem o padre João, e queimar as nossas casas.” O que existe hoje em Ribeirão Cascalheira é o Santuário dos Mártires da Caminhada, que recebe a cada cinco anos a Romaria dos Mártires da Caminhada, a próxima acontecerá de 16 a 18 de julho de 2016, para celebrar também os 40 anos do martírio do padre João Bosco. Quem puder ir viverá uma experiência indescritível de conversão, de espiritualidade profética.
Na missa de 7º dia do padre João foi dito: “Como dizia Lourenzo, índio Bororó, na época em que assassinaram o padre Rodolfo, em Merure: “A arma é o argumento dos covardes”.” “Padre João morreu no nosso lugar porque não tivemos coragem de ir juntos lá”. “Essa cadeia só serviu para prender e judiar gente pobre: posseiros e peões. Nunca se viu um rico nela.”
Acima das coisas que vi com os olhos, com a cabeça e com o coração, vi a eloquência do testemunho espiritual profético do padre João Bosco, de dom Pedro Casaldáliga, que segue irradiando espiritualidade profética, mesmo que agora esteja sentado em uma cadeira, ou deitado em uma cama, na companhia do irmão Parkinson, de três bons samaritanos – padres agostinianos – e de três anjos que o acompanham diariamente. Vi a paixão, a simplicidade, a humildade e a profecia presente em toda a equipe de agentes de pastoral da Prelazia de São Félix: leigos/as, freiras, freis, padres e o bispo dom Adriano Ciocca, todos/as missionários/as, de mãos dadas tocando em e para frente o legado espiritual e profético da Prelazia e abraçando os novos/velhos e grandes desafios da hora presente.  Obrigado a todos/as que me acolheram na fraternidade e por tudo o que me ensinaram em poucos dias de intensa convivência em retiro na Casa de Pastoral de Santa Terezinha, às margens do rio Araguaia.
Belo Horizonte, MG, 08 de outubro de 2015.





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; natural de Rio Paranaíba, MG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT (Comissão Pastoral da Terra), do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), do SAB (Serviço de Animação Bíblica) e de Movimentos Sociais de luta por terra e moradia; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; e-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br  - www.twitter.com/gilvanderluis  - Facebook: Gilvander Moreira

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Denúncia urgente: Ataque de fazendeiro e “pistoleiros” em Salto da Divisa, MG. Violação de Direitos Humanos em MG. BH, 06/10/2015.

Denúncia urgente: Ataque de fazendeiro e “pistoleiros” em Salto da Divisa, MG. Violação de Direitos Humanos em MG.


Hoje, dia 06/10/2015, o coordenador estadual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de MG, Edivaldo Ferreira Lopes, e os agentes da CPT Paulo André e a Irmã Geraldinha (Geralda Magela da Fonseca) - do Acampamento Dom Luciano Mendes, do MST - foram à Comunidade tradicional da Cabeceira do Piabanha, no município de Salto de Divisa, no Vale do Jequitinhonha, MG, para se reunir com as 12 famílias que estão sendo ameaçadas pelo fazendeiro Regis da Cunha Peixoto Pimenta. As famílias já estavam na área quando foi criado um Parque estadual. O fazendeiro Regis da Cunha Peixoto Pimenta, que vem ameaçando as famílias há muito tempo, chegou ao final da reunião, acompanhado de homens aparentando ser pistoleiros, e ameaçou agredindo Edivaldo, Paulo André e a Irmã Geraldinha. Tomaram a chave do carro deles. Eles correram para o meio do mato temendo que pudessem ser mortos pelos homens tipo jagunços. 
A área é parque estadual, não pertence ao Regis que vem ameaçando a comunidade há muito tempo. 

EXIGIMOS DAS AUTORIDADES:

1 - Pedimos ao Secretário da SEDs (Secretaria de Defesa Social), Bernardo Santana, e ao comando maior da PMMG, Cel. Bianchine, e ao comando maior da Polícia civil de MG para que enviem com urgência viaturas para a área para proteger a comunidade e os três agentes da CPT. 
2 - Pedimos também ao ministério Público da área de conflitos agrários e ao Dr. Afonso Henrique de Miranda, procurador do MP/MG, tomar as medidas necessárias para impedir a ação do ameaçador Regis da Cunha Peixoto Pimenta e seus comparsas. 
3 – Pedimos ao Secretário estadual dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, tomar todas as providências para que os direitos fundamentais das 12 famílias ameaçadas e dos três agentes da CPT – Edivaldo, Paulo André e Irmã Geraldinha – sejam garantidos.
Basta de coronelismo em Salto da Divisa, MG, e em qualquer lugar.

Nota pública urgente da CPT/MG.

Belo Horizonte, MG, Brasil, 06 de outubro de 2015, às 16:50h.

Maiores informações com Amanda, cel. 31 9485 4207 ou com Irmã Geraldinha, cel. 33 88832915.

18ª ROMARIA DAS ÁGUAS E DA TERRA de Minas Gerais: Brejo dos Crioulos irradiando luta pela terra e mística libertadora.

18ª ROMARIA DAS ÁGUAS E DA TERRA de Minas Gerais: Brejo dos Crioulos irradiando luta pela terra e mística libertadora.
Por frei Gilvander Moreira e Maria do Rosário Carneiro.

TERRITÓRIO QUILOMBOLA: LUTA E RESISTÊNCIA. JUNTOS FAZEMOS A DIFERENÇA. “Eu darei esta terra à sua descendência,” disse Deus a Abraão. (Gn 13, 15)

Dia 04 de outubro de 20115, um domingo, dia de São Francisco de Assis, aconteceu a 18ª Romaria da Terra e das Águas de Minas Gerais no território quilombola Brejo dos Crioulos, no Norte de Minas, na diocese de Janaúba e arquidiocese de Montes Claros. Em uma mística libertadora, de resistência e defesa da terra, das águas, da dignidade humana e de compromisso com a preservação ambiental e cultural, cerca de 2 mil pessoas marcharam, sob um sol escaldante, sete quilômetros por estrada de terra, abraçando aquele chão sagrado, cantando, rezando, refletindo e assumindo compromisso de continuar a luta por direitos. O almoço comunitário foi no meio da caminhada na comunidade de Furado Seco. Quanta fartura de alimentos e de hospitalidade! Após a caminhada, a missa de encerramento da Romaria foi presidida pelo arcebispo da arquidiocese de Montes Claros, Dom José Alberto, e pelo bispo da Diocese de Janaúba, dom Ricardo, ao lado de vários padres e com o povo.
A Carta da Romaria endereçada também à presidenta nacional do INCRA exige a titulação do território. “Já cansamos de esperar”, alertou José Carlos, o Veio, presidente da Associação Quilombola. Às 18:00h, hora da Ave Maria, foi erguido e fincado, como símbolo da XVIII Romaria da terra e das águas de MG, um cruzeiro de aroeira, de 10 metros de altura, com duas foices e enxada nos braços da grande cruz.
Na companhia de Carlúcia e do cantor Carlos Farias, após sermos carinhosamente acolhidos na Comunidade de Araruba, uma das oito comunidades quilombolas de Brejo dos Crioulos, acompanhados por um jovem quilombola, o Tequinho, fomos para a Comunidade Orion, chamado de assentamento centro, onde aconteceu uma noite cultural belíssima.
Tequinho nos contou sua história e falou da luta da Comunidade. Ele sofre de epilepsia e está tentando a aposentadoria por invalidez. O INSS lhe negou e teve que entrar na justiça, mas precisa levar um casal de vizinhos, como testemunhas, no dia da audiência e nem ele e nem seus vizinhos têm condições de pagar as passagens. Percebemos o limite do acesso a justiça que mesmo tendo a possibilidade de acesso a justiça gratuita (sem pagamento de custas processuais), muitos são excluídos, porque o acesso é limitado. Não seria o caso do juiz ir ao quilombo e ouvir as pessoas? Quem sabe um dia? Tequinho, pessoa muito alegre e irreverente, nos contou vários casos, sempre com uma pitada de ironia, mas um dos casos que mais ênfase colocava, era o da ida a Brasília, quando foi uma caravana, pressionar o governo Federal para que desapropriasse as terras.
         Na noite cultural, tudo era cultura negra, dos quilombos do Brasil, da luta e da resistência quilombola. Os moradores faziam questão de contar e recontar a história da conquista da terra. Alegria irradiava!
         No palco das apresentações, crianças e jovens quilombolas cantavam e dançavam transmitindo recados na defesa da terra e das águas, conclamando para o cuidado com a natureza. Em seguida, diversos artistas populares se apresentaram, dentre eles, Farinhada, Carlos Farias e João Bento.
Refrescando a memória: Brejo dos Crioulos foi povoado pelo povo negro que fugiu da escravidão nos canaviais do nordeste e, subindo o rio São Francisco, chegaram à região do Rio Verde, no Norte de Minas. Em 1999, com a presença e acompanhamento da Comissão Pastoral da Terra, o povo quilombola tomou consciência dos seus direitos e, após o laudo antropológico afirmar a identidade quilombola, muitas lutas foram travadas. Em 2011 muitos quilombolas se acorrentaram em Brasília diante do Palácio do Planalto. A presidenta Dilma se sensibilizou, chamou os quilombolas para dentro do palácio e assinou decreto desapropriando 17.302 hectares de terra. A polícia iniciou, mas não realizou o processo de desentrusão de vários fazendeiros que estavam grilando o território. Foi na luta e na raça que os quilombolas de Brejo dos Crioulos foram ocupando as fazendas de grileiros e reconquistando o seu território. Mas ainda falta a titulação que será em nome da Associação Quilombola Brejo dos Crioulos. Não será propriedade individual, mas coletiva.
“Temos muito mais a conquistar”, diziam muitos quilombolas. “Já faz quase três anos que a chuva não cai por aqui”, desabafou uma quilombola.  Mas o povo segue com fé, na luta coletiva e na resistência.
A Romaria foi precedida por uma semana de missões. Dezoito missionários/as da terra e das águas visitaram, conviveram e celebraram com o povo das oito comunidades quilombolas de Brejo dos Crioulos.
Enfim, que beleza a expressão de fé libertadora misturada com a vida e de uma forma muito especial marcada pelos traços do povo negro quilombola. Despedimo-nos assumindo o compromisso com a continuidade da luta por direitos e até a XIX Romaria em 2016.
Belo Horizonte, MG, 06 de outubro de 2015.


        


sábado, 26 de setembro de 2015

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Pimentel desapropriou 3 fazendas p/ MST, em Felisburgo, Novo Cruzeiro e ...

A prisão de Jobert Fernando é ilegal, injusta e perseguição a quem luta contra injustiças.

A prisão de Jobert Fernando de Paula é ilegal, injusta e perseguição a quem luta contra injustiças.
Por frei Gilvander Moreira, da CPT.


Dia 25 de setembro de 2015, ficamos indignados ao saber da prisão do companheiro lutador Jobert Fernando de Paula, trabalhador da CEMIG, sindicalista do SINDIELETRO, militante do Movimento Luta de Classes e do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas). Jobert está preso no Ceresp de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Jobert foi preso como bode expiatório. Segundo o advogado Thales Viote Augusto é uma clara criminalização das ocupações urbanas. Um pátio de carros da prefeitura de Nova Lima, que fica ao lado de uma das ocupações urbanas, pegou fogo e querem incriminar alguém, preferencialmente que seja das ocupações. O caso tem um pano de fundo parecido com o que o juiz Sérgio Moro tem feito. Jobert foi preso para “confessar” ou entregar quem provocou o referido incêndio. Os advogados do Sindieletro estão atuando em prol de Jobert. “A prisão dele é arbitrária, pois do ponto de vista legal ele já poderia ter sido liberado”, afirma o advogado Thales Viote.
Em 2004, ano da Campanha da Fraternidade sobre Água, fonte de vida, ao criarmos o Movimento Capão Xavier Vivo, que lutou em defesa dos quatro mananciais de Capação Xavier – 10% do abastecimento público de Belo Horizonte -, contra a abertura da mina Capão Xavier, da Mineradora Vale, sofremos ameaças de morte e vimos de perto o coronelismo ainda reinante em Nova Lima. Apenas o vereador Octávio de Freitas teve a coragem de abraçar a luta contra a Mineração em Capão Xavier. Todos os outros vereadores de Nova Lima, prefeito e etc vociferavam na defesa das mineradoras MBR e Vale. Só a mineradora Vale se diz proprietária de 70% do território de Nova Lima, uma injustiça que brada aos céus. As Mineradoras Anglo Gold e outras vêm usando e abusando do território de Nova Lima e impondo seu poderio. Em Nova Lima, milhares de trabalhadores são vítimas da silicose, causada pelas mineradoras. Jobert, Anderson, o MLB, o Sindieletro, o povo das Ocupações urbanas e outras forças vivas estão questionando um monte de injustiças que continuam ocorrendo em Nova Lima. Por isso Jobert foi preso pela segunda vez dentro de dois meses. Jobert Fernando, preso político!
Em inúmeras lutas coletivas do Sindieletro, do MLB, das Ocupações urbanas e do Campo, do MST, do Movimento Quem Luta Educa e etc sempre Jobert estava presente. Eu conheço Jobert e sou testemunho da idoneidade, da ética e do caráter humanista dele. Jobert, um grande lutador, companheiro nosso de tantas lutas.
Estou indignado com a prisão injusta de Jobert, mais um companheiro de luta preso arbitrariamente. Bem dizia Jesus de Nazaré: “Feliz quem tem fome e sede de justiça, porque será saciado” (Mt 5,6). Jobert tem fome e sede de justiça. “Felizes os que sofrem perseguição por estarem lutando por justiça, pois o reino de Deus é deles. Felizes vocês quando injuriarem e perseguirem vocês, e, mentindo, difamarem vocês por minha causa” – a causa de Jesus Cristo e dos injustiçados que lutam de cabeça erguida. (Mt 5,10-11).
Jobert, estamos com você. Mexeu com você, mexeu conosco e com muita gente de luta. Conquistaremos sua libertação e você será mais forte e aguerrido na luta ao lado dos injustiçados.
Exigimos a libertação de Jobert Fernando e o fim da criminalização dos movimentos sociais e de seus militantes. Conclamamos todas as entidades de defesa dos Direitos Humanos, Defensoria e Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público a intervirem na defesa de Jobert e nesta luta contra a criminalização dos pobres e seus defensores.

Veja no link, abaixo, Nota Pública do Movimento Luta de Classes.

Assina, frei Gilvander Moreira, da CPT.
Belo Horizonte, MG, 27/09/2015.




VII Encontro Mineiro de CEBs, Unaí, MG, 18 a 20/09/15: Carta Final, Bênç...

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Prefeitura de BH criminaliza as Ocupações urbanas, segundo frei Gilvander Moreira

Prefeitura de BH criminaliza as Ocupações urbanas.
Por frei Gilvander Moreira.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) mais destrói casas do que constrói e tenta jogar pobre contra pobre para justificar sua insensibilidade e omissão com milhares de famílias que estão debaixo da pesadíssima cruz do aluguel.
Hoje, dia 25/09/2015, a PBH realizou mais uma reunião do Conselho Municipal de Habitação com o objetivo de criminalizar as 8 mil famílias das Ocupações da Izidora (Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória) alegando que “as invasões estão impedindo a construção de moradias em BH”. Mentira.
Com relação à reportagem que saiu na TV Globo, MGTV, hoje, dia 25/09/2015, ao meio dia, devemos esclarecer o que segue para restabelecer a verdade:
1.   A PBH alega que a fila cresceu e que há hoje 17 mil famílias na Fila da moradia. Há 7 anos exigimos a publicação dessa fila, mas essa   fila, a da habitação, é fila mentirosa, pois, se é que existe, não anda e cuja lista de nomes nunca é apresentada. A PBH usa essa hipotética fila como desculpa para perseguir as ocupações urbanas, o que é injustiça covarde.
2.   Cerca de 25 mil famílias em Belo Horizonte tiveram que ir para ocupações nos últimos anos, porque a “fila, se é que existe, não anda”. Pior, a PBH exclui as ocupações do Conselho Municipal de Habitação. Essa é outra injustiça inadmissível. Por que aceitar no Conselho quase só quem está “resignado” esperando na fila? Por que não aceitar quem está lutando coletivamente por um direito humano fundamental, o de morar com dignidade?
3.   Ter um coronel aposentado como presidente da URBEL, coordenando a política habitacional, é eloquente, pois revela a postura da PBH: não trata o gravíssimo problema da habitação como caso de Política, mas como caso de polícia.
4.   Cumpre recordar que as Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória) e todas as outras ocupações coletivas não são invasões, são ocupações, algo legítimo, justo e inclusive já referendado por decisão do STF. Além disso, as Ocupações cumprem a função social de uma propriedade, que estava abandonada, função social esta, que é um princípio importantíssimo assegurado na Constituição brasileira. Insistir em falar de ocupações chamando-as de invasões é injustiça, é criminalização.
5.   A PBH não tem contrato assinado para construir 13 mil apertamentos pelo Programa Minha Casa Minha Vida. Isso é mentira. Tem apenas um Contrato com a Caixa Econômica Federal, mas que está suspenso, contrato para construir 8.896 “apertamentos”, em prédios, 90% de 7 a 8 andares, segundo o engenheiro da construtora Direcional. O que se diz a mais é apenas promessa enganosa, pode ser que se torne realidade daqui a uns 5 ou 10 anos.
6.   Por que a PBH não revela o tamanho do lucro que a construtora Direcional terá ao comprar por 63 milhões de reais 50 hectares de terra da Granja Werneck, terras com sérios indícios de grilagem, e ter um lucro de mais de 400 milhões de reais, podendo inclusive terceirizar toda a construção? E mais: deixando milhares de famílias em “apertamentos” muito pequenos, sem elevadores, sem ser moradia digna.
Enfim, esclarecemos isso por respeito à dignidade humana que é pisada por interesses escusos não confessados e também porque “a verdade liberta”, gostava de dizer Jesus de Nazaré.
Veja no link, abaixo, Reportagem da TV Globo no MGTV de 25/09/2015:



VII Encontro Mineiro de CEBs, Unaí, MG, 18 a 20/09/15: CEBs e os desafio...

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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Prefeitura de Belo Horizonte insiste em mentir e em cometer injustiças sobre Política habitacional. Nota pública.

Prefeitura de Belo Horizonte insiste em mentir e em cometer injustiças sobre Política habitacional.
Nota pública das Ocupações da Izidora, BPs, MLB e CPT.
   “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.” (Bertolt Brecht)
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (URBEL) insistem em mentir e em continuar cometendo injustiça sobre a Política habitacional, por vários motivos.
A PBH, nos últimos 7 anos, mais demoliu/destruiu casas do que construiu. Mais de 14 mil casas foram demolidas pela PBH nos últimos 10 anos para construir “casas” para automóveis, ou seja, para ampliar avenidas e construir viadutos - que podem cair, inclusive!. Assim, se cuida melhor da dignidade dos automóveis do que da dignidade humana. Injusto.
O déficit habitacional em BH estima-se que esteja acima de 150 mil moradias. Pesquisa da Fundação João Pinheiro, com dados de 2010, diz que, naquele ano, o déficit era de 78 mil moradias. Nos últimos 5 anos esse número aumentou muito.
O povo cansou de esperar em uma fila mentirosa, a fila da habitação, fila que - se é que existe - não anda e cuja lista de nomes nunca é apresentada. Não suportando mais a pesadíssima cruz do aluguel ou a humilhação que é sobreviver de favor, para diminuir o estrago que a PBH vem fazendo na área habitacional, o povo resolveu ir para Ocupações urbanas, onde, nos últimos 8 anos, já construíram mais de 12 mil casas dignas.
As Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória), com cerca de 8 mil famílias, são Ocupações legítimas, justas e em franco processo de consolidação. Ocuparam terrenos abandonados que não cumpriam sua função social e já construíram mais de 5 mil casas por meio de autoconstrução. Em média, 10 mil reais por cada casa, e os moradores estão devendo cerca de 50% desse valor, pois muitos deles tiveram que pegar empréstimo para construir. Dia 17/09/2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em julgamento de mérito de um Mandado de Segurança, manteve a decisão do Ministro Og Fernandes, que proíbe despejos das Ocupações da Izidora. Além dessa decisão favorável ao povo, há 31 ilegalidades nos processos de reintegração de posse da Izidora e na Operação Urbana Simplificada do Isidoro (o nome correto é Izidora, mulher negra quilombola que lavava roupa no ribeirão que passou a ter seu nome), conforme estudo apresentado pelo Grupo de Pesquisa Indisciplinar, da UFMG. O contrato com a Caixa Econômica Federal (CEF), para construir 8.896 apartamentos de 43 m², em prédios de 8 andares, sem elevadores, pelo Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV),  está suspenso por várias pendências, entre elas: a) a PBH mentiu para a CEF dizendo que tinha na área ocupada apenas cerca de 60 a 160 famílias em 27/12/2013, quando o contrato foi assinado. E a realidade é que desde julho de 2013 já existiam aproximadamente 8 mil famílias ocupando as áreas; b) pesquisa cartorial feita pelo padre Piggi na cadeia dominial da matrícula 1202 (documento da Granja Werneck S/A que consta do contrato da CEF), comprova que a documentação da Granja Werneck é falsa, forjada ilegalmente em cartórios, sem cadeia dominial e com título Torrens falso. Logo, se trata de terras griladas, terras devolutas que devem ser resgatadas e devolvidas ao Governo de MG.
A PBH/URBEL tem sido irresponsável no trato da gravíssima questão habitacional de BH, pois alimenta a especulação imobiliária, não dialoga com o povo das Ocupações urbanas e nem com os movimentos sociais que as acompanham. Prova disso é que as Ocupações urbanas, com cerca de 25 mil famílias em Belo Horizonte, estão excluídas do Conselho Municipal de Habitação.
  PBH/URBEL não priorizou construir moradias dignas para a população e agora, ardilosamente, quer colocar povo contra povo, ao tentar jogar a culpa pela falta de moradia popular nas Ocupações. As Ocupações são solução, e não problema.
As Ocupações da Izidora sempre estiveram abertas à negociação, desde que seja justa e ética. Não aceitamos despejos: nem vermelho e nem branco/humanizado. As Ocupações da Izidora já apresentaram mais de 10 propostas na Mesa de Negociação coordenada pelo Governo de MG. Há como compatibilizar o MCMV na Izidora com a continuidade de parte das Ocupações, mas para isso exigimos garantias em 7 pontos, tais como: A) Cadastro prévio e idôneo, com acompanhamento do Ministério Público, Defensoria Pública, PUC/MG e UNA, BPs, MLB e CPT; B) Construção do MCMV em várias etapas para viabilizar, sem maiores transtornos, o reassentamento de todas as famílias que precisam e que estão vivendo nas Ocupações; C) Desapropriação, regularização fundiária e urbanização de toda a Ocupação Rosa Leão e das partes das Ocupações Vitória e Esperança que estão fora do MCMV; D) Auxílio pecuniário de 500 reais para cada família até o reassentamento; E) Comitê gestor plural; F) Mudanças no contrato com a CEF, que garantam reassentamento, rediscussão das áreas comerciais e critérios que não excluam quem mora e precisa. Com tantos cortes no orçamento do Governo Federal haverá dinheiro para construir MCMV na Izidora?
Respeitamos os núcleos de moradia, mas repudiamos a PBH tentar nos dividir para dominar. Há diversas formas de se lutar. Alertamos que muita gente que está nas Ocupações se cansou de esperar na fila da habitação. Os núcleos têm o direito e o dever de pressionarem a PBH para que construa “pra ontem” moradia digna, mas culpar as Ocupações pela falta de moradia em BH é injustiça, é inverter as responsabilidades: as Ocupações são consequência da falta de política habitacional séria, e não a sua causa. Reafirmamos que as Ocupações têm construído mais casas do que a PBH. Repudiamos a postura da PBH que tenta dividir os Sem-casa e o Povo das Ocupações.
A PBH alega que não há terrenos, mas insistiu em vender 129 terrenos da municipalidade. No Barreiro há muitos terrenos grilados que já deveriam ter sido resgatados e destinados a um grande programa habitacional.
Ainda vale lembrar que o Povo das Ocupações luta também pela reforma urbana, para que toda a cidade seja acessível, segura, sustentável e atenda a todas e todos que a constroem cotidianamente, coletivamente.
Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito. De cabeça erguida, em luta coletiva, seguiremos batalhando por moradia própria, digna e adequada para todas e todos.

Belo Horizonte, 24 de setembro de 2015.

Assinam essa nota:
Coordenações das Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória)
Frente Pela Reforma Urbana das Brigadas Populares em Minas Gerais (BPs)
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)


Contatos para maiores informações: frei Gilvander (31 9473 9000); Charlene (31 8534 4911); Rose (31 8941 2083); Elielma (31 9343 9696); Isabella (31 9383 2733); Leonardo (31 9133 0983).

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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Frei Carlos Mesters no VII Encontro Mineiro de CEBs, Unaí, de 18 a 20 09...

Ocupações Urbanas nas ruas contra ajuste fiscal nas costas do povo brasileiro. Isso é injustiça gravíssima!

Ocupações Urbanas nas ruas contra ajuste fiscal nas costas do povo brasileiro. Isso é injustiça gravíssima!
Em Belo Horizonte, as organizações Brigadas Populares e MLB e as ocupações da Izidora e do Barreiro, ocuparam na manhã de hoje, quarta-feira, dia 23/09/2015, o Ministério da Fazenda como parte do ato nacional contra os cortes do orçamento federal nos gastos sociais, sobretudo do Ministério das Cidades. Reivindicam também mais orçamento do Estado para habitação de interesse social: 1) Mais recursos para a construção habitacional do Estado; 2) Recursos para urbanização das comunidades/ocupações.
Segue o manifesto nacional do ato:
Dia 23/09/2015 TOMAMOS AS RUAS!
Mais uma vez repudiamos as soluções adotadas pelo Governo Federal que joga o custo da crise nas costas dos trabalhadores mais pobres e dos servidores públicos. Desta vez foi anunciado o corte de mais R$26 bilhões no Orçamento. Os principais cortes referem-se ao congelamento no salário de servidores e ao financiamento do Minha Casa Minha Vida, além de R$3,8 bilhões na saúde.
A terceira fase do MCMV foi anunciada no último dia 10/9 e seu formato incorporou várias das propostas apresentadas pelos movimentos, tais como: maior priorização da modalidade Entidades, aumento do limite de renda da faixa 1, recurso para equipamentos públicos e regulamentação de áreas comerciais nos condomínios.
Mas de nada adianta ganhar e não levar. Não houve compromisso do Governo com a definição do orçamento do programa nem com metas de novas contratações. O cenário se agravou ainda mais com os novos cortes anunciados que deixam ainda mais distante o direito humano de milhões de famílias pobres de morar dignamente.
Com o adiamento do MCMV, carro chefe do Ministério das Cidades, o Governo Federal ficou praticamente sem nenhum investimento na política urbana. Tal cenário poderia ser diferente se houvesse combatido a raiz do problema: a estrutura fundiária das cidades e a segregação urbana. Problemas que devem ser tratados com uma reforma urbana estrutural. O MCMV sem outras medidas não tem conseguido, como vemos desde 2009, reduzir o número de famílias sem teto no Brasil e, portanto, não deve ser tratado como única saída possível para a questão habitacional. Seguimos lutando por uma reforma urbana de verdade: que depende também de políticas estruturais de controle da especulação, regularização fundiária e de medidas de garantia da infraestrutura urbana para as famílias pobres, medidas que vem sendo deixadas de lado nos últimos anos de governo.
Por isso, mobilizamos milhares de pessoas hoje, dia 23/09/2015, em mais de 10 capitais do país contra os cortes e pelas reformas populares. Deixamos claro que não aceitamos pagar a conta da crise.
Além disso, o Fórum Dos Servidores Públicos Federais, a categoria mais diretamente atingida pelos cortes, somou-se às nossas mobilizações e fizeram sua jornada hoje também. Entendemos que esta iniciativa fortalece a luta contra o ajuste fiscal e avança na unidade dos/as trabalhadores/as para uma saída popular para a crise.
O problema fiscal só será realmente solucionado se atacado em suas raízes: a gigantesca dívida pública e o injusto sistema tributário. Por isso, defenderemos nas ruas a taxação das grandes fortunas, de dividendos e remessas de lucro, maior progressividade no Imposto de Renda e uma auditoria da dívida pública. Os ricos, banqueiros e empresários devem pagar a conta. A saída para a crise é com o povo e não contra ele.
Assinam essa Nota:
MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto)
MLB (Movimento de Luta nos Bairros, vilas e favelas
Brigadas Populares
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)

Contatos: Charlene (31 85344911) Isabella (31 93832733), Leonardo (31 91330983), Cadu (31 93982553) e Rose (31 89412083).

Sobre a ausência insurgente: da política habitacional à política urbana! Nota sobre o falso conflito MCMV x Ocupações.

Sobre a ausência insurgente: da política habitacional à política urbana!
Nota sobre o falso conflito MCMV x Ocupações.

“A quem possa interessar. Escutaram? Esse silêncio é o som do seu mundo caindo. É o do nosso mundo ressurgindo. O dia que foi o dia era noite. E noite será o dia que será o dia.” (Sub-Comandante Marcos)
   
     No dia 02 de junho de 2015, o Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), a Central dos Movimentos Populares (CMP), a Confederação Nacional de Associações de Moradores(CONAM) e a União Nacional por Moradia Popular (UNMP) foram recebidos pelo Ministro das Cidades, Gilberto Kassab, pelo governador Fernando Pimentel e pela Secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães, no Palácio da Liberdade (foto abaixo).
     No dia 18 de setembro de 2015, o ministro das Cidades esteve novamente em Belo Horizonte para a entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida no bairro Paulo VI (foto abaixo). No mesmo dia, o MNLM soltou nota intitulada “Maior entrega do MCMV em BH sob impasse”em que considera as ocupações da região da Izidora como atraso ao início da sobras e conclama todos os núcleos de moradia a exigir, em caráter de urgência,do Conselho Municipal de Habitação uma audiência pública para debater a questão. Hoje o MNLM soltou convocatória para plenária do Conselho Municipal de Habitação a ser realizada no dia 29/09 no auditório da truculenta Guarda Municipal para "discutir a quantas anda a maior entrega do MCMV em BH, na Granja Werneck, região Izidora."
     Frisamos que nos colocamos a favor da solidariedade a todas as formas de luta pela reforma urbana, pois acreditamos no povo organizado em marcha por uma vida melhor. Por isso realçamos que não será a oposição entre as ocupações da Izidora e os núcleos de moradia que resolverá o déficit habitacional na cidade, mas sim a somatória de várias formas de luta e expressão do povo dando voz  aos silenciados. Aliás, parte das famílias das ocupações vieram de núcleos de moradia. Cansaram de esperar em uma fila que não anda, pois é um engodo.
     No entanto, as imagens e a nota são muito simbólicas. Gilberto Kassab é conhecido pelos movimentos sociais em São Paulo, cidade que (des) entre 2006 e 2012,como o prefeito inflamável, ou o “Nero” do PSD – na sua gestão ocorreram mais de 500 incêndios em favelas na cidade em áreas de interesse do mercado imobiliário. Fato é que o Ministro das Cidades representa diretamente o setor do capital imobiliário no governo federal.
     Já Fernando Pimentel e Inês Magalhães representam a financeirização da política habitacional expressa no Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Tal programa foi diretamente construído pelo capital imobiliário em associação direta com o Governo Federal sem considerar a participação dos movimentos sociais e destruindo o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) que havia sido construído de forma participativa.
     As fotos também representam um silêncio. Uma ausência que incomoda o sistema – uma ausência insurgente. As ocupações urbanas de Belo Horizonte e Região Metropolitana nunca foram recebidas pelo Governador Fernando Pimentel, nunca foram ouvidas diretamente por ele. Mesmo Anastasia do PSDB recebeu lideranças das Ocupações da Izidora. No entanto, essa ausência representa a coragem do novo, representa aqueles e aquelas que querem construir a cidade e a Política Urbana de form ajusta. Dentre as ocupações da Izidora temos a ocupação Esperança. Não é à toa esse nome. A esperança tem duas lindas filhas: a raiva e a coragem. Justa raiva do estado de coisas em que vivemos e coragem para mudar essa situação e ir à luta!  O déficit habitacional é falsamente enfrentado com uma política habitacional mercadológica sem a efetivação de instrumentos do Estatuto das Cidades.
     Acreditamos em uma Política Urbana que não seja confundida com política habitacional gerida pela construção civil. Esse silêncio e essa ausência representam os escombros da cidade construída como mercadoria e o ressurgimento do direito à cidade para milhares de famílias que vivem e lutam nas ocupações! As ocupações não são problema, mas solução.
     É uma grande injustiça social empurrar o gravíssimo problemas social pra frente com auxílio moradia despejando ocupações legítimas que estão dando função social a terrenos que não cumpriam sua função social e eram propriedades especulativas, muitas delas terras griladas.

Belo Horizonte, 21 de setembro de 2015

Assinam essa nota,
Frente Pela Reforma Urbana das Brigadas Populares em Minas Gerais
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Por uma cidade onde haja tudo para todos!


 Obs.: Nota publicada originalmente no link, abaixo:

https://www.facebook.com/notes/brigadas-populares-minas-gerais/sobre-a-aus%C3%AAncia-insurgente-da-pol%C3%ADtica-habitacional-%C3%A0-pol%C3%ADtica-urbana-nota-sobr/482570645258551