quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

NATAL, ONTEM E HOJE, LÁ E CÁ. Por Frei Gilvander

NATAL, ONTEM E HOJE, LÁ E CÁ. Por Frei Gilvander Moreira[1]

Presépio com Jesus palestino na casa de Geralda Soares, pesquisadora indígena e ardorosa defensora dos direitos humanos e socioambientais. Foto: Gerada Soares, a Gêra.

Alegra-te! Coragem! “Não tenham medo! Eu vos anuncio uma notícia libertadora, que será grande alegria para os povos: hoje, na cidade de Davi – Belém -, nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo, nosso Senhor” (Lc 2,10-11), bradou um/a mensageiro/a do divino aos pastores. “Nasceu numa manjedoura” (Lc 2,12), em um cocho de ração para animais. “Olhe a glória de Deus brilhando...”, canta Zé Vicente.

Considerados impuros, discriminados e os mais excluídos da sociedade escravocrata do Império Romano, “os pastores foram, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16). “Todos os que ouviam os pastores anunciando o nascimento do divino no humano, ficaram maravilhados” (Lc 2,18).

Em tempos de políticos opressores como o rei Herodes, na periferia do escravocrata Império Romano, na Palestina, o evangelho de Mateus (Mt 2,1-12) diz que, magos, seguindo a “estrela de Belém”, o divino irradiando no humano em todas as culturas, “encontraram Jesus com Maria, sua mãe, em uma casa” (Mt 2,11) – não no templo nem na sinagoga e nem em palácios -, o reverenciaram e “voltaram para seus territórios por outro caminho” (Mt 2,12), driblando o repressor rei Herodes.

Atualmente, em uma sociedade capitalista superexploradora, com idolatria do mercado, com um monte de dualismos perpassando as experiências humanas e religiosas, o mais comum é vermos pessoas celebrarem o Natal olhando só para o nascimento de Jesus Cristo, nosso Mestre, Salvador, Libertador, porque testemunha e ensina um jeito divino de convivermos, mas não perceberem Jesus (re)nascendo cotidianamente no nosso meio e em nós. Esse dualismo distorce o sentido mais profundo e libertador do Natal, porque nos induz a olhar só para dois mil anos atrás e reforça a mágica que diz “só Jesus tem poder!” e, assim, nós seríamos zero à esquerda, impotentes, para enfrentar e superar as injustiças.

Faz bem nutrirmos profunda gratidão, admiração, reverência e respeito por Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado no humano, nascido há dois mil anos, mas precisamos ver outros Jesus (re)nascendo atualmente em nós, no nosso meio, perto e longe de nós, pois o mesmo Espírito Santo que guiava e inspirava Jesus Cristo continua agindo em nós e espera que sejamos “outros Cristos”, como dizia dom Oscar Romero, antes de ser martirizado pela ditadura militar-civil-empresarial que se abatia sobre o povo em El Salvador.

O evangelho de Jesus Cristo diz várias vezes sobre a necessidade de compreendermos que Cristo está no irmão e na irmã, especialmente nos empobrecidos como nos mostra Mateus 25,31-46: Jesus está presente em quem está preso, passa fome, está nu, doente, é migrante, é estrangeiro, sedento, violentado, injustiçado. “Eu estava preso e você não me visitou, com fome e você não me alimentou, com sede e você não me deu água, nu e você não me vestiu, eu era estrangeiro e você não me acolheu” (Mt 25,35-36). O amor a Deus só é autêntico se amarmos o próximo, que inclui toda a humanidade e todos os seres vivos da biodiversidade, inclusive as pedras que também são vivas. Quem não vê Deus e Jesus no próximo e no distante não está no caminho libertador.

O sensato é superarmos o dualismo e vermos Jesus (re)nascendo, ontem e hoje, lá e cá. O Natal é como uma moeda que tem duas faces: em uma, Jesus Cristo que nasceu pobre no meio dos pobres há dois mil anos lá na Palestina, e na outra face da moeda, Jesus segue (re)nascendo atualmente, em nós, perto e longe de nós, a partir dos últimos da sociedade, dos/as mais violentados/as.

Jesus nasce de Maria, mulher do povo e revolucionária que “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes” (Lc 1,52), como Jael, mulher estrangeira do povo quenita, do cântico da juíza Débora (Jz 4,17-21; 5,24-27) e Judite (Jt 13,18; cf. Gn 14,19-20), mulheres reconhecidas como BENDITAS por terem golpeado os generais Sísara e Holofernes, opressores do povo. Jesus diariamente segue renascendo em mães solos que, em uma sociedade patriarcal e machista, se tornam heroínas que criam, cuidam e educam seus filhos que nascem nas periferias, sem-terra, sem-teto.

Jesus contou com o apoio de José, seu pai, “homem justo” (Mt 1,19) como Noé, um dos primeiros Chico Mendes que se dedicou a salvar “um casal de cada espécie” no dilúvio, como tantos pais hoje que, operários ou camponeses, são pais justos com consciência de classe trabalhadora e não apenas vendem sua força de trabalho, mas com justiça e ética constroem relações sociais libertadoras.

Jesus nasceu sem-terra na periferia de Belém no porão/estacionamento de uma pensão como milhões de pessoas que nascem em países com a terra em cativeiro, aprisionada por latifundiários e empresários do agronegócio e, por isso, são obrigadas a migrarem e a se tornarem mão de obra barata.

Jesus nasceu sem-teto como milhões que, após amargarem a pesadíssima cruz do aluguel ou a humilhação que é sobreviver de favor sendo peso nas costas de parentes ou por terem sido jogados nas agruras das ruas e ficarem expostos às suas intempéries, ocupam terrenos ou prédios abandonados e lutam aguerridamente construindo mais casas do que o poder público. Só em Belo Horizonte, MG, os sem-teto construíram 50 mil casas em 150 ocupações em 18 anos. Muitos já me disseram: “Como servente de pedreiro ou como pedreiro, já ajudei a construir mais de 200 casas/apartamentos, mas só aqui na Ocupação estou construindo a casa da minha família, graças a Deus e à nossa luta coletiva”. “Trabalhei 27 anos como faxineira no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Quando adoeci me demitiram. Só aqui na Ocupação estou construindo minha casa e resgatando minha saúde, pois quatro filhos meus com suas famílias também estão construindo as casas deles aqui na Ocupação Esperança. Isso me faz dormir em paz. Só na luta coletiva conseguimos nos libertar da pesadíssima cruz do aluguel que adoece e mata muita gente aos poucos”, diz emocionada dona Nadir.

Jesus nasceu sendo acolhido por pastores considerados impuros e os mais discriminados e Jesus renasce a cada dia nas pessoas LGBTQIA+, no povo do candomblé, da Umbanda, do Espiritismo e em todas as outras pessoas discriminadas na nossa racista e hipócrita sociedade.

Jesus foi encontrado pelos magos do oriente, onde o sol sai e fertiliza as infinitas expressões de vida e de culturas. Atualmente, Jesus renasce nos Povos Originários (Indígenas), no Brasil, em mais de 300 Povos que, com mística e espiritualidade libertadora, são guardiões da floresta, do cerrado, da natureza e, com sabedoria ancestral, convivem em harmonia com o ambiente impedindo a “queda do céu”.

Jesus nasceu de Maria e de José, que com coragem questionaram o rigorismo farisaico e o dogmatismo judeu e renasce hoje e sempre nas pessoas, que, com muito amor, combatem os fundamentalismos, os moralismos e a extrema-direita fascista é usa e abusa o nome de Deus e versículos bíblicos para encobrir as políticas de morte que defendem com truculência.

Jesus nasceu no movimento popular religioso que vinha de longe, de profetas e profetisas, e hoje renasce nos/as militantes de Movimentos Sociais e de Pastorais Sociais que irmanam os povos no campo e na cidade para lutarem coletivamente pelos seus direitos e pelo bem comum.

Despertemos do sono da mediocridade, da escuridão da omissão/cumplicidade e da indiferença que a sociedade capitalista impõe. Abramos os olhos para ver e sentir que "Ele está no meio de nós." Jesus está no meio de nós, especialmente nos pequenos, em tantas pessoas e na Mãe terra, oprimidas e violadas em seu direito de viver com dignidade. Que a luz do Natal seja a luz a nos guiar na direção de Jesus que está clamando por vida, no meio de nós! Enfim, é Natal, ontem e hoje, lá e cá. Sejamos Natal, presença do divino no mundo a partir dos últimos!

18/12/2024.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Peneirando o sentido do Natal de Jesus Cristo - Por frei Gilvander - 30/12/2021

2 - Frei Carlos Mesters: “O sentido verdadeiro do Natal de Jesus Cristo.” – 17/12/2021

3 - Homilia de frei Gilvander na Matriz de Arinos/MG: "Natal, divino no humano. Honrar pais/ancestrais!"

4 - Natal autêntico c 220 famílias, Ocupação Terra Prometida, Ibirité/MG: Nós c moradia própria e saúde

5 - Natal na Ocupação Terra Prometida, Ibirité/MG: "Livres da cruz do aluguel, construindo nossas casas"

6 - Que maravilha crianças e mães em Natal Solidário na Ocupação Rosa Leão, na Izidora, BH/MG. Vídeo 2



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; assessor da CPT, CEBI, Movimentos Sociais e Ocupações. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br             www.gilvander.org.br - www.twitter.com/gilvanderluis             Face book: Gilvander Moreira III – Canal no You Tube: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos

sábado, 16 de novembro de 2024

ESPIRITUALIDADE INSPIRA E ORIENTA O MOVIMENTO DAS COMUNIDADES POPULARES. Por frei Gilvander

ESPIRITUALIDADE INSPIRA E ORIENTA O MOVIMENTO DAS COMUNIDADES POPULARES. Por frei Gilvander Moreira[1]

3º Encontro de Formação do Movimento das Comunidades Populares (MCP), no Instituto Padre João Geisen, na cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, PE. Foto: José
Alves, do MCP.

De 8 a 11 de novembro de 2024 tive a alegria e a responsabilidade de participar e assessorar o 3º Encontro de Formação do Movimento das Comunidades Populares (MCP), no Instituto Padre João Geisen, na cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, PE. O tema: Espiritualidade Libertadora. Com a participação de dezenas de lideranças do MCP de oito estados, o Encontro foi muito bom e inspirador.

Com 55 anos de história e lutas permanentes em onze estados[2], o MCP segue construindo comunidades autônomas com vida comunitária e uma série de projetos que primam por ações coletivas em busca dos direitos dos pobres e do bem comum, atuando sempre a partir dos últimos da sociedade, os mais injustiçados. Além de acompanhar luta de posseiros pela terra, de sem-terra por moradia, de quilombolas por território, na linha da Economia Solidária – Economia de Francisco e Clara -, o MCP organizou e coordena Bancos Comunitários chamados de GIC (Grupo de Investimento Coletivo), onde os mais empobrecidos se associam com investimentos mínimos, com juros abaixo do mercado idolatrado e viabilizam empréstimos com juros mínimos que torna possível às pessoas que sobrevivem com pouquíssimo dinheiro comprar o que necessitam e se desenvolverem na vida sem se tornarem escravas da agiotagem das transnacionais de cartão de crédito e dos empréstimos de bancos capitalistas com juros abusivos e extorsivos.

O MCP organiza consórcio de 10, 20 ou 30 pessoas, mais ou menos, para se constituir um fundo que a cada mês, por sorteio, um dos membros pode acessar o dinheiro necessário para comprar algo que se fosse na engrenagem legal do capitalismo, a pessoa teria que se endividar muito. Fazem também consórcio para compras coletivas da semana para o sustento. Ao comprar coletivamente para 10, 20 ou 30 famílias se consegue desconto de até 20% e as despesas de transporte ficam muito menores e o tempo das pessoas fica mais livre também, porque todos/as não precisam ir às compras semanalmente. Organizam e sustentam Mercados Coletivos, Casas de Material de Construção Coletivas, Grupo de Trabalho Coletivo na Construção Civil, Grupo de Costureiras, Refeição Coletiva uma vez por mês para fortalecer a amizade, a convivência, celebração de aniversários, avaliar as ações coletivas e agradecer a Deus pelas conquistas. Criaram escolinhas comunitárias que são mantidas pelas famílias sem ajuda de prefeitura e nem de empresas. Tudo isso para as pessoas experimentarem que é possível e mil vezes melhor viver fora de relações escravocratas que o sistema capitalista impõe a todos/as, superexplorando até chupar a última gota de sangue no altar do ídolo mercado/capital. Ter patrão é aceitar ser escravizado.  O MCP Busca de forma coletiva construir vida comunitária com autonomia, buscando romper com as dependências que o sistema do capital impõe.

Morando nas comunidades das periferias das cidades ou no campo, os irmãos e irmãs do Movimento das Comunidades Populares (MCP) há 55 anos se dedicam a construir Comunidades Populares com 10 Colunas. Ei-las:

1ª coluna: SOBREVIVÊNCIA COLETIVA (economia), que integra: Grupo de Investimentos Coletivo (GIC), Grupos de Produção Coletiva (GPC), Grupos de Compras e Vendas Coletivas (GVC ), Grupo de Trabalho Coletivo para prestação de serviço (GTC), com o lema: "Onde há cooperação, não existe exploração!".

2ª coluna: RELIGIÃO LIBERTADORA. Refeições Coletivas, Semana Santa e Natal. Se Deus é Pai, nós somos irmãos e irmãs. Por isso, devemos viver em Comunidade. Lema: "Quem ama de verdade vive no coletivo e não passa necessidade!"

3ª coluna: FAMÍLIA COMUNITÁRIA, que inclui realizar Chá de Bebê, creche, escola infantil. Clubinhos ou Grupo de Crianças e Adolescentes. Dia das Mães, dia dos Pais, Dia dos/as Avós e Dia dos Idosos. Lema: "No campo ou na cidade, família de verdade é na Comunidade!" A partir do processo de realização do 1° Congresso do MCP, descobrimos que a primeira e melhor escola de formação é a barriga da mãe, o colo do pai e os braços da Comunidade.

4ª coluna: SAÚDE, com o lema: "Para o corpo remédio caseiro, para a alma amor verdadeiro.” Tarefas: organizar grupo de saúde popular na comunidade; produzir as plantas medicinais e fazer remédio caseiro; criar caixinha e fundo comunitário de saúde; organizar espaço para acolher as pessoas doentes; tratar as doenças emocionais e não só as físicas; lutar para melhorar a saúde pública dentro e fora da Comunidade.

5ª coluna: MORADIA e URBANIZAÇÃO. Lema: "Moradia e urbanização, só com luta e mutirão!" Lutar por terrenos, casa e saneamento. Ocupação, Reivindicação ou Mutirão.

6ª coluna: ESCOLA. Lema: “Construir escolas comunitárias e lutar para melhorar a escola pública.”

7ª coluna: ESPORTE. Organizar o esporte comunitário, principalmente o futebol. Lema: "Mais importante do que vencer é participar"!

8ª coluna: ARTE. Dança, canto, poesia, teatro, grupos musicais, capoeira... Lema: "Arte popular, para juventude se unir e o povo participar.”

9ª coluna: LAZER. Festas, passeios... Lema: "Lazer com bebida, não; nós queremos união."

10ª coluna: INFRAESTRUTURA. Espaço comunitário para pôr em prática as dez colunas. Lema: "Limpa, bonita e organizada, assim deve ser nossa morada!"

Dedicamos o 1º dia do Encontro para resgatarmos a história, a práxis e a espiritualidade do Movimento “Encontro de Irmãos”, “batizado” por Dom Hélder Câmara na Festa de Pentecostes do ano de 1969, anos de chumbo da ditadura militar-civil-empresarial com brutal repressão às lideranças populares que defendiam os direitos humanos fundamentais e, por isso, contestavam a ditadura que violava de forma atroz a dignidade humana impondo o arbítrio e o autoritarismo político-militar que impôs a miséria, a fome, o analfabetismo e o endividamento dos povos no Brasil, concedendo isenção de impostos para empresários que invadissem a Amazônia, expulsassem os posseiros e expropriassem a terra que eles usavam em harmonia com a floresta.

O Movimento popular-religioso “Encontro de Irmãos”, com o lema “pobre evangelizando pobre”, tinha o objetivo de, a partir da espiritualidade libertadora, superar a fome, a miséria, o analfabetismo e todas as injustiças que se abatiam sobre o povo. Com a bênção e o incentivo de Dom Hélder Câmara, o Encontro de Irmãos se disseminou pela Arquidiocese de Recife em Grupos de Irmãos que faziam semanalmente Círculos Bíblicos, de casa em casa, nas comunidades das periferias e nos campos, envolvendo quem precisava, com acolhida, abraço solidário. Em círculos de poucas pessoas buscava-se ouvir a Palavra de Deus, os apelos divinos, a partir da realidade e da Bíblia.

Ficou evidenciado neste 3º Encontro de Formação do MCP que Espiritualidade une as pessoas e os povos, enquanto as religiões e igrejas como instituições, via de regra, ao priorizarem a reprodução de si mesmas, estão, na prática, desunindo as pessoas e os povos, usando e abusando da fé do povo simples e humilde, usando indevidamente o nome de Deus, catando versículos bíblicos que lhes interessam, em leitura fundamentalista e literalista, para justificar a acumulação de capital de seus chefes (pastores, padres, bispos... – dois dos dez homens mais ricos do Brasil são pastores) e defender políticas de morte capitaneadas pela extrema-direita fascista, que de forma idolátrica tem como lema “Deus acima de todos.”.

Enfim, espiritualidade torna o ser humano mais humano e, assim, verdadeiramente comprometido com a vida, que seja plena para todos, todas, todes e para toda a criação, sempre a partir da sabedoria dos últimos da sociedade, os mais violentados. Feliz quem se torna aprendiz dos/as empobrecidos/as e assimila a fraternidade que eles e elas testemunham. Mais do que Círculo Bíblico, é preciso Encontro de irmãos e irmãs, o que tem o poder de implodir o sistema do capital idolatrado e apontar o caminho para a construção de uma sociedade justa economicamente, com paz e amor.

16/11/2024.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Frei Betto fala sobre Espiritualidade no 12º Encontro Nacional de Fé Política. em BH/MG. Vídeo 2


2 - Espiritualidade de Encontros humanizadores: Palavra Ética com frei Gilvander Moreira – 21/12/23

3 - Marcelo Barros: Livro OS SEGREDOS DO NOSSO ENCANTO - fé cristã e espiritualidades indígenas e negras

4 - COM FÉ E MÍSTICA DOS MÁRTIRES, O POVO PALESTINO VENCERÁ! Fora, Israel genocida! Por frei Gilvander

5 - Afeto, amor e cuidado em Espiritualidade Libertadora no 3º dia do XV Intereclesial das CEBs, em Rondonópolis, MT, na Plenária-mãe “Casa Comum”. Vídeo 10 - 20/07/23

6 - Momento Orante de Espiritualidade libertadora no 3º dia do XV Intereclesial das CEBs, em Rondonópolis, MT, na Plenária-mãe “Casa Comum”. Vídeo 9 - 20/07/23

7 - TOQUE DO COLETIVO ALVORADA: A Espiritualidade humanista e militante de Frei Gilvander - 30/3/22

8 - Semeando Espiritualidades 52: Espiritualidade e luta pela terra. Por Frei Gilvander - 06/12/21


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, Movimentos Sociais e Ocupações. 

E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br             www.gilvander.org.br

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[2] Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

CASA-LAR DOS CEGOS DE MG: linda comunidade ameaçada de despejo! Por frei Gilvander

CASA-LAR DOS CEGOS DE MG: linda comunidade ameaçada de despejo! Por frei Gilvander Moreira[1]

Renato Leonardo, presidente da Associação União Auxiliadora dos Cegos de MG, na porta do prédio da entidade ameaçada de despejo. Foto: Frei Gilvander

Nossa atuação no meio dos empobrecidos na luta pelos seus direitos se inspira no Deus da vida, que ouviu os clamores dos escravizados sob as garras do imperialismo dos faraós no Egito e em Jesus Cristo, que cresceu na periferia da Palestina sofrendo todas as injustiças e as discriminações que se abatiam sobre os Povos colonizados pelo Império Romano e discriminados pela religião oficial, o judaísmo ritualista e moralista. Neste contexto, por amor, Jesus Cristo se esmerava em empatia e, por isso, abraçou a causa dos considerados impuros: os empobrecidos, os adoecidos, os cegados, os paralisados e os jogados para fora da convivência social. Ao optar pelos “impuros” consolava-os e incomodava os exploradores.

Ao fazermos opção pelos empobrecidos, primeiro nos comovemos e ficamos indignados diante das injustiças que se abatem sobre pessoas e grupos que, geralmente, sozinhos, têm mais dificuldade de se defender. Aproximamos para conhecer, nos fazemos solidários e tentamos entabular lutas que levem à superação das injustiças reinantes. Pelas primeiras impressões vemos a carência e as necessidades das pessoas. Entretanto, com a convivência e o aprofundamento da luta por direitos, na convivência com as pessoas injustiçadas, ficamos encantados ao descobrir e perceber a existência de belezas e maravilhas que revelam um poço de humanidade, de sabedoria e força de resistência infinita que o povo injustiçado tem.

Assim está acontecendo na luta para impedirmos o despejo da Casa-Lar dos Cegos de Minas Gerais, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, onde a sede única da Associação filantrópica União Auxiliadora dos Cegos de Minas Gerais está com despejo decretado por um desembargador do Tribunal Regional Federal 6ª Região (TRF6)[2], decisão  que violenta a dignidade humana e todos os direitos humanos fundamentais dos cegos que moram na Casa-Lar dos Cegos de MG, vários há mais de 45 anos, vários negros e sem parentes ou qualquer vínculo afetivo fora do ambiente em que vivem e, portanto, sem rede de apoio para além da União Auxiliadora.

O prédio da União Auxiliadora dos Cegos de MG, em decisão injusta, foi leiloado por 720 mil reais, sendo que, se fosse para vender, o prédio vale mais de 5 milhões de reais. Esta decisão precisa ser revista. Clamamos ao desembargador do TRF6 para que reveja esta decisão. Já enviamos Ofício à Ministra Macaé Evaristo, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, reivindicando que o Governo Federal abra uma Mesa de Negociação que exclua a decisão de leilão do prédio e o despejo dos Cegos do seu histórico lar no bairro Santa Tereza em Belo Horizonte. Esperamos que o Governo Federal – Lula, Haddad e Macaé – tenha sensibilidade humana e perdoe a dívida de INSS de 50 anos atrás e deixe a Associação Filantrópica União Auxiliadora dos Cegos de MG em paz, melhor dizendo, que destine à União Auxiliadora dos Cegos de MG recursos necessários para ela ser revitalizada para voltar a ser espaço de acolhida de centenas de cegos que clamam por apoio em BH, Região Metropolitana, MG e Brasil.

Toda vez que volto à Casa-lar dos Cegos da União Auxiliadora aprendo muito com eles e experimento os valores que nutrem o dia-a-dia de uma verdadeira comunidade. O Sr. Renato Leonardo, presidente da União Auxiliadora dos Cegos de MG, cuida com muito carinho e dedicação de todos. Há sete anos, mensalmente, Renato doa sangue para colher plaquetas que são vitais para dez pessoas que precisam melhorar a saúde. “Somos cegos, mas não somos mendigos. Não aceitaremos migalhas. Lutamos pelo nosso direito de continuar na nossa Casa-Lar. Não aceitamos despejo jamais”, pontua Renato.

Trabalhando em um notebook no quarto dele, encontrei o Edson, cego natural de Barbacena, MG, que mora há 9 anos na Casa-Lar dos Cegos de MG, Além do braile, é formado em massoterapia e Tecnologia da Informação. Ele trabalha produzindo livro em áudio. Revelando profundo amor pela Casa-Lar União dos Cegos de MG, Edson nos contou que muitos cegos que foram acolhidos e moraram na casa enquanto estudavam, hoje são profissionais trabalhando no Ministério Público, no Tribunal de Justiça e em outros órgãos públicos. São advogados, massoterapeutas, muitos trabalham com tecnologia da informação. “Cheguei nesta casa 9 anos atrás sem eira e nem beira. Aqui é um cego ajudando o outro. Minha vida se transformou depois que fui acolhido nesta casa-lar. Nas Décadas de 50 e 60 do século XX, os cegos que aqui chegavam saíam pedindo ajuda para construir esta casa. O esforço e o trabalho de todos que contribuíram para construir esta casa precisa ser considerado. Não se pode pisar na memória de todos que batalharam para construir esta casa. Esta casa, nosso lar, tem sido mãe para muitos cegos de MG e de outros estados. Todos que passaram por aqui, mais de mil em sete décadas, construíram aqui mais de mil sonhos que não podem jamais serem destruídos. Dói muito pensar nesta decisão judicial que poderá devastar vidas e sonhos,” diz emocionado Edson, enquanto produz mais um audiolivro.

O Sr. Juvenal, 80 anos, nascido em Itagi, no sul da Bahia, chegou cego e como mendigo em Belo Horizonte dia 30 de novembro de 1971 – ele não esquece a data que chegou em BH! Sobreviveu 1,5 ano em um abrigo público em BH. Depois foi para um barraco na favela no morro da Serra. Mora na sede da União Auxiliadora dos Cegos de MG há 44 anos. Faz questão de dizer: “Nosso companheiro Zé Dias mora aqui há 50 anos. Ele foi para a igreja agora, como vai toda semana.” “Foi aqui nesta nossa casa-lar que aprendi a andar nas ruas da cidade. Antes eu só ficava sentado. Uma professora que tinha aqui durante um mês me ensinou a andar nas ruas. Agora, se precisar, ando para qualquer lugar. Se eu encontrasse o desembargador que decidiu leiloar nossa casa e nos expulsar daqui, eu diria para ele: “Coloque-se no lugar de nós, cegos!” Eu ajudei na grande campanha para arrecadar dinheiro para construir esta casa. Todos os cegos que faziam parte da Associação União Auxiliadora dos Cegos saíam pedindo e o povo na época era solidário e ajudava. Esta nossa casa-lar foi construída com dinheiro do povo, “tijolo a tijolo. Como pode tomar algo que foi construído pelos cegos com apoio do povo e entregar para um grande empresário?! Não é justo tirar nossa casa-lar de nós que precisamos para entregá-la para quem não precisa,” diz indignado Juvenal, revelando profunda sabedoria.

Feliz vendo a luta contra o despejo crescer, o Sr. Elvécio, 74 anos, diz: “Esta é nossa casa-mãe, um presente que caiu do céu, pois eu, cego, morava em um barraco na favela no Alto do bairro Vera Cruz, mas, com uma doença nas pernas, eu não conseguia subir mais o morro. Fui acolhido aqui e ganhei vida nova. Aqui somos uma família. Vivemos uns ajudando os outros.”

Amanda, tesoureira e secretária da Casa-Lar dos Cegos de MG, revela o carinho e o amor com que organiza a documentação, o bazar e uma sala de visita, “o cantinho do sonho”, com sofás e ornamentação em uma sala espaçosa reservada para os cegos receberem visitas e conviver à vontade. “Aqui não é apenas uma associação. Somos uma família. Todos aqui são cuidado com muito amor. Aqui é o lar dos cegos de MG. Retire esta decisão de despejo, por favor”, pede Amanda. A cozinheira Maria prepara com muito amor e dedicação as refeições de todos da casa.

Murilo, cego que veio de Fortaleza, no Ceará, e mora na Casa, nos mostra como os cegos aprendem a ler e a escrever em braile, e alerta: “A União Auxiliadora dos Cegos de MG é também uma escola, que tem garantido para centenas de cegos a possibilidade de escudar e se desenvolver na vida”.

Como o profeta Zacarias, clamamos: “Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros” (Zc 7,9). Reverter a decisão de despejo dos cegos da Casa-Lar dos Cegos de Minas Gerais é praticar justiça social, é praticar empatia, demanda constante do Deus da vida. 

31/10/2024.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - DESPEJO? SEDE DA UNIÃO AUXILIADORA DOS CEGOS DE MG com decisão do TRF6 p despejo de 8 cegos. Vídeo 1



2 - “Se nos despejar daqui, nos porá no caixão." Há 70 anos UNIÃO AUXILIADORA DOS CEGOS DE MG. Vídeo 2



3 - “DAQUI SÓ SAÍMOS NO CAIXÃO. NÃO ACEITAMOS SER DESPEJADOS. UNIÃO AUXILIADORA DE CEGOS DE MG Vídeo 3



4 - “Aqui, nosso lar. 70 anos de história. Despejo, JAMAIS!” UNIÃO AUXILIADORA DOS CEGOS DE MG. Vídeo 4


5 - “TRF6, Lula, Macaé Evaristo e empresário, pelo amor de Deus, não nos despeje. Somos cegos”. Vídeo 5



6 - CEGOS de MG: “JOGAR NÓS PRA RUA..?" UNIÃO AUXILIADORA DOS CEGOS DE MG sob ameaça de despejo. Vídeo 6



7 - CASA-LAR DOS CEGOS DE MG, DESPEJO por TRF6: ““TIRAR DE QUEM PRECISA?” Santa Tereza, BH/MG. Vídeo 7



 

8 - POR DENTRO DA CASA-LAR DOS CEGOS DE MG AMEAÇADA DE DESPEJO em BH/MG. Não pode ser destruída. Vídeo 8



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, Movimentos Sociais e Ocupações. 

E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br             www.gilvander.org.br

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[2] Processo n. 0036885-69.2015.4.01.3800

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

COM FÉ E MÍSTICA DOS MÁRTIRES, O POVO PALESTINO VENCERÁ! Por frei Gilvander

COM FÉ E MÍSTICA DOS MÁRTIRES, O POVO PALESTINO VENCERÁ! Por frei Gilvander Moreira[1]

Protesto contra o Genocídio que Israel sionista e colonialista está cometendo contra o Povo Palestino, na avenida Paulista, em São Paulo, SP. Foto: Lucas Martins.

Profundamente comovido e indignado com o brutal e macabro genocídio que o Estado de Israel sionista e colonialista segue cometendo com o heroico Povo Palestino, Libanês..., estou aqui para ecoar os gritos e os clamores ensurdecedores de um Povo que não se vergará jamais, pois com a fé e a mística dos mártires é e será sempre invencível.

O Ministério da Saúde da Palestina, Press TV, Hispan TV e Federação Árabe Palestina Brasil (FEPAL) informaram, dia 23 de outubro de 2024, que, em Gaza, na Palestina, em 381 dias de genocídio, já são mais de 120 mil feridos e mais de 43 mil palestinos assassinados, sendo que 44% dos mortos são crianças (19 mil) e 24,5% são mulheres (10,5 mil). Já são 11 mil palestinos presos pelos genocidas e estão sob os escombros 10 mil pessoas desaparecidas. Um brutal holocausto do Povo Palestino-Árabe.

Segundo a revista científica The Lancet, que se baseou em dados da ONU[2], o número de mortos até 5 de julho de 2024 somava 186 mil mortos, incluindo os que estão sob os escombros ou os que morreram por causa da falta de acesso a hospitais, alimentos, água  ou abrigo. Quatro mortes indiretas para cada morte direta. Portanto, com população estimada em 2,3 milhões de habitantes, 8% da população total de Gaza deve sido assassinada pelo Estado de Israel sionista.

Em comunicado veiculado dia 15 de agosto de 2024, Volker Türk, alto comissário da ONU para os direitos humanos, disse[3]: "Em média, aproximadamente 130 pessoas morreram todos os dias em Gaza durante os últimos dez meses (desde o dia 7 de outubro de 2023). A magnitude da destruição de casas, hospitais, escolas e locais de culto pelo Exército israelense é profundamente chocante. Hoje é um marco sombrio para o mundo inteiro. O povo de Gaza lamenta hoje a morte de 40 mil palestinos."[4]

Leia com o coração acolhedor, sem preconceitos, abaixo, a impressionante, firme, verdadeira e justa Carta Póstuma, uma espécie de testamento, do Palestino Comandante Mártir Iahiya HASSAN SINWAR, que viveu e combateu pelos direitos do Povo Palestino e por sua Pátria até o último suspiro. Deixou ensinamentos imortais, que ficarão marcados para sempre na mente e no coração do Povo Palestino e dos/as oprimidos/as de todo o mundo.

Na Carta Póstuma, o Palestino HASSAN SINWAR, martirizado pelo exército de Israel sionista, escreveu à mão em Árabe. Segue, abaixo, a tradução em português feita por Mohamad Ali, que chorou várias vezes ao ler a Carta no Programa Oriente Médio em Revista, de 22 de outubro de 2024, no You Tube Canal da Geopolítica.[5]

 “Eu sou Yahiya, filho de refugiado que transformou o exílio de um lar temporário em um sonho de batalha eterna.

Enquanto escrevo estas palavras, lembro cada momento que passei na minha vida: desde minha infância nos becos, aos longos anos de prisão e cada gota de sangue derramada no solo desta terra – a Palestina.

Nasci no campo de refugiados de Khan Younis, 1962, em uma época em que a Palestina era uma memória dilacerada e mapas esquecidos nas mesas dos políticos.

Eu sou um homem cuja vida foi tecida entre o fogo e as cinzas e percebi cedo que viver sob ocupação significa apenas uma prisão perpétua.

Desde a minha infância soube que viver nesta terra não é algo comum e que quem nasce aqui deve carregar em seu coração uma arma que não se quebra e que o caminho para a liberdade é longo.

Minha mensagem para vocês começa aqui, daquele menino que lançou a primeira pedra contra o judeu sionista ocupante e que aprendeu que as pedras são as primeiras palavras que pronunciamos diante de um mundo que permanece em silêncio diante de nossa ferida.

Aprendi nas ruas de Gaza que o ser humano não se media pelos anos de vida, mas pelo que oferece à sua Pátria, ao seu país. Assim foi a minha vida: prisão e batalha, dor e esperança.

Fui preso pela primeira vez em 1988 e fui condenado à prisão perpétua, mas nunca conheci o caminho do medo.

Naquelas celas escuras, via em cada parede uma janela para um horizonte distante e em cada grade uma luz que iluminava o caminho para a liberdade.

Na prisão, aprendi que a paciência não é apenas uma virtude, mas uma arma… uma arma amarga, como beber o mar gota a gota.

Minha mensagem para vocês: não temam as prisões, elas são apenas uma parte de nosso longo caminho rumo à liberdade.

A prisão me ensinou que a liberdade não é apenas um direito roubado, mas uma ideia que nasce da dor e é refinada pela paciência. Quando saí na troca de prisioneiros “Wafaa al-Ahrar” em 2011, não saí como antes; saí mais fortalecido e com uma fé maior de que o que fazemos não é apenas uma luta passageira, mas o nosso destino, que carregamos até a última gota de nosso sangue.

Minha mensagem é que continuem apegados à resistência, à dignidade que não se negocia e ao sonho que nunca morre. O inimigo quer que abandonemos a resistência, que transformemos nossa causa em uma negociação interminável…

Mas eu lhes digo: não negociem o que é direito de vocês! Eles temem sua resistência mais do que temem suas armas.

A resistência não é apenas uma arma que carregamos, mas é o nosso amor pela Palestina em cada respiração que tomamos, é nossa vontade de continuar, apesar do bloqueio e da agressão.

Minha mensagem é que permaneçam leais ao sangue dos mártires, àqueles que partiram e nos deixaram este caminho cheio de espinhos. Eles pavimentaram o caminho da liberdade com seu sangue, então não desperdicem esses sacrifícios em cálculos políticos e truques diplomáticos.

Estamos aqui para continuar o que os primeiros começaram e não nos desviaremos deste caminho, não importa o custo. Gaza foi e continuará sendo a capital da resistência e o coração da Palestina, que não para de bater, mesmo quando o mundo parece se fechar para nós.

Quando assumi a liderança do Hamas em Gaza, em 2017, não foi apenas uma transição de poder, mas uma continuação de uma resistência que começou com pedras e continuará com armas.

Eu sentia, a cada dia, a dor do meu povo sob o cerco, a cada dia, e sabia que cada passo que damos em direção à liberdade vem com um preço. Mas eu lhes digo: o preço da rendição é muito maior; por isso, segurem-se à terra como as raízes se seguram ao solo, pois nenhum vento pode arrancar um Povo que decidiu viver.

Na Batalha do Dilúvio de Al-Aqsa, eu não era o líder de um grupo ou movimento, mas a voz de cada Palestino que sonha com a libertação.

Minha fé me guiou para acreditar que a resistência não é apenas uma opção, mas uma obrigação.

Queria que esta batalha fosse uma nova página no livro da luta palestina, onde as facções se unissem e todos se colocassem em uma única trincheira, contra o inimigo que nunca distinguiu entre crianças e idosos, ou entre pedra e árvore.

O Dilúvio de Al-Aqsa foi uma batalha de espíritos antes de corpos e de vontade antes de armas.

O que deixei não é um legado pessoal, mas um legado coletivo para cada Palestino que sonhou com a liberdade, para cada Mãe que carregou seu Filho nos ombros enquanto ele era Mártir, para cada Pai que chorou de dor por sua Filha que foi assassinada por uma bala traiçoeira.

Minha última mensagem é que vocês se lembrem sempre de que a resistência não é em vão e não é apenas um tiro disparado, mas uma vida vivida com honra e dignidade.

A prisão e o bloqueio me ensinaram que a batalha é longa e que o caminho é árduo, mas também aprendi que os povos que recusam a rendição criam seus próprios milagres com suas próprias mãos.

Não esperem que o mundo faça justiça a vocês, pois vivi e testemunhei como o mundo permanece em silêncio diante de nossa dor. Não esperem justiça, sejam vocês a justiça.

Carreguem o sonho da Palestina em seus corações e transformem cada ferida em uma arma e cada lágrima em uma fonte de esperança.

Esta é a minha mensagem: não entreguem suas armas, não deixem de atirar pedras, não esqueçam seus mártires e não negociem um sonho que é direito de vocês.

Estamos aqui para ficar, em nossa terra, em nossos corações e no futuro de nossos filhos.

Recomendo-lhes a Palestina, a terra que amei até a morte, e o sonho que carreguei em meus ombros como uma montanha que nunca se curva.

Se eu cair, não caiam comigo, mas carreguem a bandeira que nunca caiu e façam do meu sangue uma ponte para uma geração que nascerá de nossas cinzas ainda mais forte.

Não esqueçam que a Pátria não é uma história contada, mas uma verdade vivida, e em cada Mártir que nasce do ventre desta terra, nascem mil Combatentes.

Se o dilúvio voltar e eu não estiver com vocês, saibam que fui a primeira gota nas ondas da liberdade e que vivi para ver vocês continuarem a jornada.

Sejam um espinho em sua garganta, um Dilúvio que não conhece recuo, e não descansem até que o mundo reconheça que somos os donos do direito e que não somos apenas números nos boletins de notícias.”

(Mensagem escrita em árabe com uma caneta em um papel.)

Yahya Ibrahim Hassan Sinwar / Gaza - Palestina – 2024

Como Hitler e os nazistas foram jogados na lata de lixo da história e todos os violentos e opressores foram vencidos, vocês também judeus sionistas, colonialistas e genocidas, que insistem na brutalidade, serão vencidos e serão jogados na lata de lixo da história. E os/as palestinos/as mortos/as ressurgirão e serão milhões cada vez mais humanos e fortes. Que a luz e a força divina nos guiem sempre na luta pela paz com justiça. Viva a luta do povo palestino! CESSAR FOGO, JÁ! E respeito ao Estado Palestino e ao Estado do Líbano, JÁ!

24/10/2024.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - EM BH/MG, ATO EM MEMÓRIA DO 1º ANO DO GENOCÍDIO PALESTINO, + DE 50 MIL MORTOS POR ‘israel' GENOCIDA

2 - Viva o Povo Palestino! Ai de Israel genocida, sionista! Grande GRITO! 30º Grito dos Excluídos, BH/MG

3 - Palestina Tania Correa Abdala: "sionismo genocida de Israel mata meu Povo Palestino. Basta!" Vídeo 6

4 - YAHYA SINWAR, UM MARTIR NUNCA SE VAI - ORIENTE MÉDIO EM REVISTA, 22/10/24

5 - Curso Palestina 24 – Do “Lar nacional” na Palestina ao “Grande Israel”: expansões e limpezas




[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, Movimentos Sociais e Ocupações. 

E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br             www.gilvander.org.br

www.twitter.com/gilvanderluis             Face book: Gilvander Moreira III – Canal no you tube: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos

[2] Organização das Nações Unidas.

[3] Fonte: AFP, Al Jazeera e Haaretz.

[5] Veja no link https://www.youtube.com/live/fa6QXwflW3c , visto dia 24/10/24, às 13h.