Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Coronavírus:
"Fique em Casa!" E quem não tem casa? Conversa com Bial / Padre Júlio
Lancellotti / Adriano – 1ª parte – 17/6/2020.
Coronavírus: Fique em Casa!
E quem não tem casa? Pedro Bial conversa com Padre Júlio Lancellotti e o
morador de rua, Adriano Casado, sobre a problemática das milhares de pessoas
que estão em situação de rua e suas necessidades durante a pandemia do novo coronavírus
e fora dela. Programa Conversa com Bial, Rede Globo, dia 17/6/2020.
(1ª Parte)
Conversa com Bial: padre Júlio Lancelloti e Adriano Casado, 17/6/2020.
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Inibir
lutas necessárias é erro político grave - Por frei Gilvander - 17/6/2020.
*Texto e filmagem: Frei Gilvander, da CPT, das
CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares.
Edição de Nádia Oliveira,
colaboradora da CPT-MG.
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“Que fazer?” Pergunta imprescindível em momentos de sufoco, de apuros; pergunta que as multidões, publicanos e soldados fizeram ao profeta João Batista enquanto ele participava de um grande movimento popular e religioso de luta pela superação das desigualdades sociais, econômicas e políticas. “Que fazer?” Título de livro de Wladimir Lenin, de 1902. Que fazer em nível pessoal, familiar, comunitário, social e político diante da escalada em progressão geométrica da pandemia do novo coronavírus, que no mundo já ceifou a vida de mais de 432 mil pessoas; no Brasil, mais de 44 mil mortos? A primeira coisa é buscar as melhores informações e análises que estejam em sintonia com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Autoridades sanitárias e epidemiologistas idôneos nos informam que o Brasil está tendo o mais ineficaz e ineficiente combate à pandemia. Até mesmo o antipresidente dos Estados Unidos, Trump, já disse que se os Estados Unidos estivessem seguindo a forma irresponsável, criminosa e genocida que o desgoverno federal brasileiro tem adotado, já teriam lá mais de 2 milhões de mortos. Nas entrelinhas, observando a diferença de população, Trump alertou que no Brasil o número de mortos poderá ultrapassar 1 milhão. Pesquisas mostram que aqui a letalidade está sendo uma das maiores do mundo: de 5,3 a 10% de quem contrai o coronavírus está morrendo. Isso mostra que o número de mortos no Brasil poderá, lamentavelmente, chegar a 1,5 milhão de mortos, conforme já alertado por pesquisas científicas. Criminosa também é a política de grande subnotificação e a baixíssima política de testagem via métodos sérios. Pesquisas indicam que o número de mortos e de contaminados pode ser 5 ou 6 vezes maiores. “Multiplique por 5 ou 6 os números oficiais”, alertam epidemiologistas.
Já está demonstrado em muitos países que manter o distanciamento físico e o isolamento social são posturas necessárias e vitais, porque sem vacina ou medicação que salve as pessoas contaminadas pelo coronavírus, o “remédio” para evitar contrair a COVID-19 é interrompermos o contágio comunitário. Não podemos aceitar a mentira posta pelos grandes empresários e pelo antipresidente: salvar vidas ou salvar a economia. Esta é uma falsa polarização. A melhor economia é aquela que salva vidas e essa deve ser a prioridade política absoluta.
Atenção quem, movido por crenças religiosas intimistas, mágicas e dualistas, diz assim: “Deus está no comando”, “Jesus me protege” e similares! Quem acredita que “só Deus” e “só Jesus” nos livrará da COVID-19 e, por esse tipo de fé, não leva a sério as medidas de precaução, morrerá por ignorância religiosa e disseminará o vírus e levará à morte de muita gente, sem perceber que o modelo econômico que violenta a vida da classe trabalhadora é idolátrico e satânico. Enfim, o (neo)pentecostalismo com suas mediocridades religiosas poderá aumentar em muito o número de mortes durante a pandemia.
Pessoalmente, na família e nas relações comunitárias e sociais, que fazer?[2] Manter a quarentena com distanciamento físico de pelo menos 2 metros entre as pessoas; não cumprimentar ninguém pegando na mão (não abraçar e nem beijar); lavar as mãos com frequência e corretamente, com água e sabão, cuja eficiência é maior, e, na impossibilidade de lavar com água e sabão várias vezes ao dia, usar álcool em gel; na impossibilidade destas últimas medidas, pelo menos higienizar as mãos com álcool comum; evitar levar as mãos ao rosto; manter-se hidratado e alimentar-se bem para elevar a imunidade e a resistência corporal; ficar em casa, só sair de casa em caso de extrema necessidade; ao chegar de viagem de qualquer lugar, ficar isolado em casa durante sete dias; ao chegar de viagem de lugar epidêmico, ficar isolado em casa durante 14 dias; cuidado especial com as pessoas idosas que devem ficar em casa para não se exporem à contaminação pelo coronavírus. Nada de visitas dos netos que estão sem aulas ou de familiares. Idosos devem evitar cuidar de crianças. Nesse tempo, a comunicação com os idosos deve ser feita por telefone, celular ou de forma virtual. Os idosos devem manter a casa arejada; pessoas com câncer, HIV, diabete, tuberculose, doenças cardíacas e outras doenças devem se proteger ainda mais; não participar de reuniões, nem de encontros, nem de seminários, de nenhuma aglomeração de pessoas; manter a suspensão da celebração de missas e cultos, o que é correto e necessário.
Além das cautelas de evitar o contágio a partir do externo a nós, precisamos fortalecer nossas forças e energias internas. É hora de ouvirmos profissionais da nutrição, da medicina naturista e místicos, que dizem: alimentar-se bem evitando produtos transgênicos, envenenados por agrotóxicos ou enlatados; alimentar-se com alimentos saudáveis vindos da agricultura familiar com agroecologia; orar pelo menos 30 minutos por dia; meditar todos os dias, ler ou ouvir poesias e músicas inspiradoras; fazer exercícios físicos e trabalhos manuais; evitar o sedentarismo; exercer cotidianamente a solidariedade. Isso e muito mais para elevar a própria imunidade, reforçando nossas forças e energias vitais.
Politicamente, todo o povo precisa lutar de mil formas para que o Estado, nos seus vários níveis e passando pelos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), governe implementando políticas públicas que garantam o bem estar de toda a população. As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e os Movimentos Sociais Populares[3] já apresentaram aos governos centenas de propostas justas e sensatas para enfrentarmos a noite escura da pandemia do novo coronavírus, aí se incluindo a medida imprescindível: Fora, Bolsonaro e todo o desgoverno federal, que tem sido genocida e fomentador da escalada de mortes no meio do povo. A estarrecedora reunião ministerial de 22 de abril de 2020 demonstrou a podridão do desgoverno federal. Não bastam migalhas, como 600 reais de auxílio emergencial. É preciso renda mínima justa para todas as pessoas e famílias. É preciso revogar a Emenda Constitucional 95 (PEC 95) que congelou por 20 anos os investimentos em saúde e educação. Não podemos mais tolerar a não realização de Auditória Cidadã da Dívida pública – prescrita pela Constituição de 1988. É fundamental que o Governo pare de pagar 1 trilhão de reais por ano (quase 50% do orçamento) para banqueiros em juros e amortização dessa famigerada dívida pública. Quantos hospitais poderiam ser construídos com esse dinheiro? Quantos profissionais de saúde poderiam ser contratados? Como seria a expansão do coronavírus se esses recursos fossem investidos em prevenção? Continuar a sangria de recursos públicos para os banqueiros significa continuar matando de muitas formas o povo por meio de uma política genocida.
A Argentina está dando de 10 a 0 no Brasil no enfrentamento à pandemia. Vivendo há mais de três meses na Argentina, Julieta Amaral nos informa: “Na Argentina, desde o início da pandemia do novo coronavírus, houve um esforço conjunto, independente de posições políticas, para enfrentar a pandemia. A defesa da vida em primeiro lugar foi o caminho escolhido, mesmo com a preocupação com a economia que aqui é mais precária que a do Brasil, sobretudo por causa da monumental dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) contraída pelo desgoverno Macri. Antes da chegada da pandemia, o povo argentino estava divido politicamente, mas se uniu para salvar as vidas e a economia. O presidente Alberto Fernández, em coletiva de imprensa, sempre informa a situação, comunica decisões e anima o povo a continuar a luta contra o coronavírus a partir do esforço de todos. Na televisão, o presidente aparece sempre acompanhado de diferentes lideranças, do governo e da oposição, na busca de melhores caminhos de salvação da vida do povo argentino, especialmente dos mais vulneráveis. Em sua maioria, as posições, são consensuais e contam sempre com o assessoramento técnico nas várias áreas: saúde, educação, economia, desenvolvimento social etc. O Presidente é excelente mediador, equilibrado, sensato, humano e preocupado também com o futuro econômico do país.
Os seguintes itens foram consensuados e estão sendo implementados na Argentina: 1) Quarentena obrigatória, vigiada e com punição educativa dos irresponsáveis que não a cumprem (O isolamento imposto tem sido extenso e rigoroso; há mais ou menos um mês que começaram os protocolos provinciais e locais para afrouxamento do isolamento ‘social’, particularmente onde há poucos ou nenhum caso de contágio. Na região de Buenos Aires e de algumas outras províncias/estados, continuam as regras rígidas do início; 2) Cuidado especial com as pessoas idosas; 3) Manutenção dos serviços essenciais com todos os cuidados necessários para evitar contágio (a população se envolve para denunciar abusos e supervisionar as entradas das cidades); 4) O governo proibiu demissões, liberou um salário mínimo para as famílias comprovadamente em situação precária, facilitou empréstimos para empresas pagarem salários e não demitirem os trabalhadores, possibilitou atraso nas contas de serviços básicos como água, energia e gás para famílias de baixa renda, proibiu aumento dos alugueis e supervisiona os preços nos supermercados e comércio em geral.
Até o dia 15 de junho de 2020, na Argentina foram contabilizadas 842 vítimas fatais pela COVID-19 e 31.577 casos positivos em todo o país, sendo que 88% estão na capital e região metropolitana. O resultado tem sido a relativa tranquilidade da população, a manutenção da curva de contágio pelo coronavírus sem ascensão brusca, o não colapso do sistema de saúde e o reconhecimento da posição sábia do governo, apesar dos conflitos que não deixam de existir e da preocupação com empregos e com a retomada das atividades econômicas em geral.”
Que aprendamos com o governo argentino e com seu povo antes que tenhamos que chorar a morte de 1,5 milhão de pessoas no nosso querido Brasil. E quem sobreviver a esta noite escura de pandemias sanitária, política, econômica, ambiental, racista, homofóbica... que se prepare para não voltar à “normalidade de antes” que foi exatamente a que nos impôs a dura realidade que hoje vivemos. A humanidade só terá futuro se conseguir se libertar de todas as seduções do sistema de morte que é o capitalismo e aprender a viver de forma simples e austera em harmonia com todos os seres vivos e com a natureza, como vivem os nossos parentes indígenas, quilombolas e o campesinato[4].
16/6/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.
1-1º de Maio e as Pandemias do Coronavírus e Política: Luta pela Vida, por frei Gilvander - 30/4/2020
2 - Frei Gilvander: "O que a quarentena nos ensina?" - Na luta por direitos - 2a Parte - 24/4/2020
3 - Frei Gilvander: Sem Quarentena, quem vai morrer? - 1ª Parte/Na luta por direitos - 23/4/2020
4 - Homem invade ato pacífico no RJ por mortes pela Covid-19 e derruba cruzes/Fantástico/Globo/14/6/2020
5 - Argentina dá de 10 a 0 no Brasil no enfrentamento à pandemia: Julieta Amaral e Frei Gilvander
6 - Em 2 meses, Carmem fez e doou 1.320 máscaras para evitar o novo coronavírus. Mãos à obra pela vida
7 - OMS atualiza orientações sobre o uso de máscaras - Jornal Nacional - 05/6/2020
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br – www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III
Reflexão
bíblica sobre Evangelho de Mateus 9,36-10,9 - Por frei Gilvander, do CEBI -
14/6/2020.
Videorreportagem
de frei Gilvander Moreira
da CPT, das CEBs, do CEBI e do SAB.
Frei Gilvander Moreira assessorando Encontro de CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), em Taiobeiras, MG. Acomapnhe: www.cebsdeminas.com.br
*Filmagem e edição de frei Gilvander
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Francisco de Assis e o Papa Francisco: Ecologia Integral - Por Frei Gilvander (vídeo) - Na luta por direitos - 10/6/2020.
O Papa Francisco inicia a Carta Encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas), de 18 de junho de 2015, sobre o cuidado da Casa Comum, exclamando: “Louvado sejas, meu Senhor!”, invocando o Cântico das Criaturas cantado por Francisco de Assis. Isso é eloquente por vários motivos: Primeiro, porque “Louvado sejas” dito diante do planeta Terra e de toda a biodiversidade revela admiração e encanto pela natureza que nos envolve e da qual fazemos parte. Segundo, pedagogicamente é mais promissor conclamar para o compromisso com a defesa da nossa única Casa Comum a partir do encantamento e da beleza e não a partir do medo e da insegurança que despertam tantas mazelas socioambientais que nos colocam no meio da maior crise ecológica de todos os tempos. Assista ao vídeo na íntegra, com excelente e oportuna reflexão proposta por frei Gilvander. *Texto e filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos. #FreiGilvander #NaLutaPorDireitos #PalavrasDeFéComFreiGilvander #PalavraÉticaComFreiGilvanderMoreira
Manifestação em Brasília, dia 07/6/2020. Foto: Reprodução/Twitter/George Marques
O dia 07 de junho de 2020, um domingo,
poderá entrar para a história do povo brasileiro como o dia do início das lutas
massivas e organizadas que puseram fim ao desgoverno federal de Jair Bolsonaro
genocida, ao fascismo, ao racismo e à engrenagem capitalista superexploradora,
machista, homofóbica, ecocida, etnocida e antiecológica. Houve lindas e
inspiradoras manifestações populares em vinte capitais. Lutas por: “Fora
Bolsonaro, em defesa da Democracia e pelo resgate de todos os direitos sociais,
trabalhistas e ambientais”; “Fora fascistas”, “Basta de Racismo e de violência
contra as juventudes negras e da periferia”; tudo isso foi ouvido
dia 7 de junho em alto e bom som país afora. Gritos de luta irradiaram energia
revolucionária e a marcaram para sempre, tais como: “Recua, Fascista, é o Poder
Popular que Tá na Rua”; “Terrorista é quem tem Gabinete do Ódio”; “O Diabo
Veste Farda”; “Eu não Consigo Respirar” ou “Ei, Burgueses, a Culpa é de vocês”;
“Nenhum passo atrás, ditadura nunca mais!”; “Vidas Negras Importam!”;
“Democracia!” ...
Nos dias anteriores a 7 de junho, fiquei
indignado ao ver e ouvir lideranças que se dizem de esquerda com discursos
rasos inibindo o povo de ir para as ruas lutar por direitos. Alegavam riscos de
contágio pelo novo coronavírus, risco de apanhar da polícia, risco do
antipresidente usar as manifestações como pretexto para “não deixar a
democracia respirar”. Uns alegando que “não queremos mais mártires”. Enfim, tentando
meter medo no povo e inibir a ida às ruas para as lutas tão necessárias e
urgentes. É triste ver que há lideranças que já erraram tanto e que seguem
repetindo os erros, o que traz como consequência o descrédito do povo que acaba
por se enfiar debaixo do espinheiro que é um desgoverno fascista. Não é apenas
ilusão, mas erro político grave acreditar em “bananeira que já deu cacho”. As
lideranças devem ir aonde o povo está. O povo se antecipou e foi para as ruas,
chama para as ruas, lugar onde historicamente se decidem os rumos de suas
vidas.
É muito suspeito o discurso que diz
"não queremos mais mártires". Ouvi muito esta cantilena no meio de
quem é da classe alta, da elite ou da pequena burguesia (classe média), mas que
dizem ter boas intenções e práticas assistenciais. Já ouvi muito “não queremos
mais mártires” na boca de pessoas com análises moderadas e posturas políticas moderadas.
De forma não confessada quem diz assim tem a ilusão de que apenas com eleições
e negociações institucionais conquistaremos a superação do capitalismo, essa
máquina de moer vidas, com todas as suas formas de matar. Aliás, toda pessoa
cristã é discípula de um mártir: Jesus Cristo, martirizado pelo conluio dos
podres poderes da política, da economia e da religião. Quem é de esquerda é
discípulo de Che Guevara, Rosa Luxemburgo e tantos outros camaradas
martirizados pelos opressores. Dom Pedro Casaldáliga disse mil vezes: “Feliz de
um povo que não esquece e honra seus mártires”. Não é possível acontecer
ressurreição sem passar pela sexta-feira da paixão. As primeiras comunidades
cristãs também tiveram que rechaçar os que queriam só uma teologia da glória
que negava o Jesus Cristo Crucificado. Em uma sociedade capitalista organizada
para reproduzir a desigualdade social não acontecem mudanças profundas sem
mártires. É duro, mas é a realidade. Como nos resguardar dizendo não querer
novos mártires se o martírio está sendo o cotidiano do povo negro, do povo
indígena, de mulheres e de toda classe superexplorada deste país? Como honrar os
milhares de mártires da pandemia da Covid-19, resultado do descaso com a saúde
pública que o desgoverno Bolsonaro e a necropolítica agravam cotidianamente? E
quem mais está morrendo? Lembremo-nos de “um hino de luta”: “A Carne”, música
cantada lindamente por Elza Soares, de autoria de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses
Cappelletti.
(...) “De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito (Pode acreditar)
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar, brigar
Se liga aí
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Na cara dura, só cego que não vê
A carne mais barata do mercado é a carne negra” (...)
Por posturas que não vão além de
políticas compensatórias, não apenas desconfio, mas tenho certeza de que diante
de tanta superexploração, os/as moderados/as estão sendo cúmplices da
reprodução da violência estrutural e da superexploração. Em uma sociedade
desigual, os omissos não são apenas omissos, são cúmplices e coniventes com os
sistemas opressivos. Quem fica na inação “esperando o momento propício, sem
riscos”, pela omissão, faz a pior “ação”: se torna cúmplice da reprodução da
violência. É grande ilusão pensar que é possível lutar por direitos sem correr
riscos. Impossível conquistar a superação do sistema de morte sem lutas
arriscadas. Antigamente, as pessoas que inibem lutas por direitos eram chamadas
de “pelegas”, as que amortecem a fricção da luta de classe, em analogia ao couro
colocado sobre os arreios para tornar o assento
do cavaleiro confortável. Sem lutas massivas e arrojadas não acontecerá
a superação do autoritarismo e de todas as violências estruturais. Só posturas
institucionais serão sempre tímidas e paliativas. O fascismo e o nazismo
cresceram na Europa graças também a posturas conciliadoras de partidos e
movimentos sociais que ficavam com excesso de cautela. Em meus trinta anos de
luta por direitos sociais, nunca vi nenhuma conquista de direitos acontecer sem
lutas arrojadas. Ao contrário, já vi muitas posturas moderadas atrapalharem
muito as lutas. Uma liderança popular que se diz de esquerda não tem o direito
de inibir lutas, pois quem inibe lutas necessárias por direitos está jogando ao
lado dos opressores. Basta de posturas moderadas! São cúmplices de opressão,
repito. Manter todas as precauções para não se contaminar com o novo
coronavírus, sim, é necessário, mas jamais deixar de lutar por todos os
direitos com organização e afinco. Enfim, sem lutas massivas e arrojadas nas
ruas e em todos os cantos e recantos, nas periferias e na floresta, quem
continuará sendo martirizado é o povão, a mãe Terra, os biomas e toda a
biodiversidade.
Leia o que diz Darcila Rodrigues, mulher
negra e lutadora: “É difícil respirar, principalmente quando o relato de grande
parte do povo, insiste em se calcar na ótica da classe média. Dia 06 de junho
último, ouvi diversos "conselhos" para que o povo não saísse às ruas
sob o pretexto de proteção contra a pandemia do novo coronavírus. No entanto, o
povo já foi obrigado a ir para as ruas para trabalhar e a levar o vírus para
suas casas e comunidades. Só a classe média e alta pode, de fato, fazer
quarentena. O povo tem sido empurrado para se aglomerar nos ônibus coletivos e
metrôs, porque está sendo obrigado a ir trabalhar para produzir principalmente
para os empresários. O povo já tão violentado tem sido atraído para se
aglomerar nas portas da Caixa Econômica Federal para receber uma migalha de auxílio
emergencial de 600 reais, que para milhões de pessoas não chega. Ir às ruas no
dia 7 de junho, não foi um gesto suicida, foi um gesto de dignidade, um
pouco do que ainda resta para aquela parte do povo que sabe o que é
luta, o que é dor, fome, injustiças e as sentem no próprio corpo a necessidade de
conquistar direitos. Esta mesma parcela do povo que tem sua força ancorada na esperança
de que um dia possa respirar, pois a cada dia de nossas vidas nos tiram o ar
pisando no nosso pescoço de muitas formas. Tristemente só compreende isso quem
de fato sofre, pois os alienados que se entendem por classe média, mesmo tendo
um pé depositado em sua jugular, já se adaptaram ao ar rarefeito, a uma
vida limitada de ar e de sonhos. Pensam só em sobreviver.”
Margarida Alves, martirizada a mando de
latifundiários da monocultura da cana de açúcar, dizia sempre: “É melhor morrer
na luta do que morrer de fome”. O sangue de George Floyd, de João Pedro, do
menino Miguel, dos milhares de brasileiros/as que estão sendo mortos de mil
formas pela necropolítica reinante precisa continuar circulando nas nossas
artérias, suas vozes devem se expressar agora e sempre por meio daquelas e
daqueles que se comprometem com as lutas pela superação do sistema do capital,
isso para adiarmos o fim do mundo.
Observando todas as medidas de segurança
para evitar o contágio do novo coronavírus, o povo deve, sim, seguir se
manifestando com coragem e compromisso até depois de conseguir a derrubada
deste desgoverno genocida e a implementação de outro governo justo
economicamente, democrático politicamente, solidário socialmente, responsável
ambientalmente e respeitador da diversidade cultural presente no nosso país.
Enfim, inibir lutas necessárias é um grave erro político, pois “as mães negras
não aguentam mais chorar. Chega!”. “Enquanto houver opressão e repressão haverá
luta!” “Quantos outros não foram filmados?” Em vários pontos do planeta Terra
este grito marcou definitivamente as manifestações antifascistas de junho de
2020: “Vidas Negras Importam!”[2]
09/6/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o
assunto tratado acima.
1
- Domingo no Brasil é marcado por protestos em 20 capitais
[1] Frei e
padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e
bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da
CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e
Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
[2]Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, que fez a
revisão deste texto.