Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Francisco de Assis e o Papa Francisco: Ecologia Integral - Por Frei Gilvander (vídeo) - Na luta por direitos - 10/6/2020.
O Papa Francisco inicia a Carta Encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas), de 18 de junho de 2015, sobre o cuidado da Casa Comum, exclamando: “Louvado sejas, meu Senhor!”, invocando o Cântico das Criaturas cantado por Francisco de Assis. Isso é eloquente por vários motivos: Primeiro, porque “Louvado sejas” dito diante do planeta Terra e de toda a biodiversidade revela admiração e encanto pela natureza que nos envolve e da qual fazemos parte. Segundo, pedagogicamente é mais promissor conclamar para o compromisso com a defesa da nossa única Casa Comum a partir do encantamento e da beleza e não a partir do medo e da insegurança que despertam tantas mazelas socioambientais que nos colocam no meio da maior crise ecológica de todos os tempos. Assista ao vídeo na íntegra, com excelente e oportuna reflexão proposta por frei Gilvander. *Texto e filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos. #FreiGilvander #NaLutaPorDireitos #PalavrasDeFéComFreiGilvander #PalavraÉticaComFreiGilvanderMoreira
Manifestação em Brasília, dia 07/6/2020. Foto: Reprodução/Twitter/George Marques
O dia 07 de junho de 2020, um domingo,
poderá entrar para a história do povo brasileiro como o dia do início das lutas
massivas e organizadas que puseram fim ao desgoverno federal de Jair Bolsonaro
genocida, ao fascismo, ao racismo e à engrenagem capitalista superexploradora,
machista, homofóbica, ecocida, etnocida e antiecológica. Houve lindas e
inspiradoras manifestações populares em vinte capitais. Lutas por: “Fora
Bolsonaro, em defesa da Democracia e pelo resgate de todos os direitos sociais,
trabalhistas e ambientais”; “Fora fascistas”, “Basta de Racismo e de violência
contra as juventudes negras e da periferia”; tudo isso foi ouvido
dia 7 de junho em alto e bom som país afora. Gritos de luta irradiaram energia
revolucionária e a marcaram para sempre, tais como: “Recua, Fascista, é o Poder
Popular que Tá na Rua”; “Terrorista é quem tem Gabinete do Ódio”; “O Diabo
Veste Farda”; “Eu não Consigo Respirar” ou “Ei, Burgueses, a Culpa é de vocês”;
“Nenhum passo atrás, ditadura nunca mais!”; “Vidas Negras Importam!”;
“Democracia!” ...
Nos dias anteriores a 7 de junho, fiquei
indignado ao ver e ouvir lideranças que se dizem de esquerda com discursos
rasos inibindo o povo de ir para as ruas lutar por direitos. Alegavam riscos de
contágio pelo novo coronavírus, risco de apanhar da polícia, risco do
antipresidente usar as manifestações como pretexto para “não deixar a
democracia respirar”. Uns alegando que “não queremos mais mártires”. Enfim, tentando
meter medo no povo e inibir a ida às ruas para as lutas tão necessárias e
urgentes. É triste ver que há lideranças que já erraram tanto e que seguem
repetindo os erros, o que traz como consequência o descrédito do povo que acaba
por se enfiar debaixo do espinheiro que é um desgoverno fascista. Não é apenas
ilusão, mas erro político grave acreditar em “bananeira que já deu cacho”. As
lideranças devem ir aonde o povo está. O povo se antecipou e foi para as ruas,
chama para as ruas, lugar onde historicamente se decidem os rumos de suas
vidas.
É muito suspeito o discurso que diz
"não queremos mais mártires". Ouvi muito esta cantilena no meio de
quem é da classe alta, da elite ou da pequena burguesia (classe média), mas que
dizem ter boas intenções e práticas assistenciais. Já ouvi muito “não queremos
mais mártires” na boca de pessoas com análises moderadas e posturas políticas moderadas.
De forma não confessada quem diz assim tem a ilusão de que apenas com eleições
e negociações institucionais conquistaremos a superação do capitalismo, essa
máquina de moer vidas, com todas as suas formas de matar. Aliás, toda pessoa
cristã é discípula de um mártir: Jesus Cristo, martirizado pelo conluio dos
podres poderes da política, da economia e da religião. Quem é de esquerda é
discípulo de Che Guevara, Rosa Luxemburgo e tantos outros camaradas
martirizados pelos opressores. Dom Pedro Casaldáliga disse mil vezes: “Feliz de
um povo que não esquece e honra seus mártires”. Não é possível acontecer
ressurreição sem passar pela sexta-feira da paixão. As primeiras comunidades
cristãs também tiveram que rechaçar os que queriam só uma teologia da glória
que negava o Jesus Cristo Crucificado. Em uma sociedade capitalista organizada
para reproduzir a desigualdade social não acontecem mudanças profundas sem
mártires. É duro, mas é a realidade. Como nos resguardar dizendo não querer
novos mártires se o martírio está sendo o cotidiano do povo negro, do povo
indígena, de mulheres e de toda classe superexplorada deste país? Como honrar os
milhares de mártires da pandemia da Covid-19, resultado do descaso com a saúde
pública que o desgoverno Bolsonaro e a necropolítica agravam cotidianamente? E
quem mais está morrendo? Lembremo-nos de “um hino de luta”: “A Carne”, música
cantada lindamente por Elza Soares, de autoria de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Ulisses
Cappelletti.
(...) “De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito (Pode acreditar)
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar, brigar
Se liga aí
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Na cara dura, só cego que não vê
A carne mais barata do mercado é a carne negra” (...)
Por posturas que não vão além de
políticas compensatórias, não apenas desconfio, mas tenho certeza de que diante
de tanta superexploração, os/as moderados/as estão sendo cúmplices da
reprodução da violência estrutural e da superexploração. Em uma sociedade
desigual, os omissos não são apenas omissos, são cúmplices e coniventes com os
sistemas opressivos. Quem fica na inação “esperando o momento propício, sem
riscos”, pela omissão, faz a pior “ação”: se torna cúmplice da reprodução da
violência. É grande ilusão pensar que é possível lutar por direitos sem correr
riscos. Impossível conquistar a superação do sistema de morte sem lutas
arriscadas. Antigamente, as pessoas que inibem lutas por direitos eram chamadas
de “pelegas”, as que amortecem a fricção da luta de classe, em analogia ao couro
colocado sobre os arreios para tornar o assento
do cavaleiro confortável. Sem lutas massivas e arrojadas não acontecerá
a superação do autoritarismo e de todas as violências estruturais. Só posturas
institucionais serão sempre tímidas e paliativas. O fascismo e o nazismo
cresceram na Europa graças também a posturas conciliadoras de partidos e
movimentos sociais que ficavam com excesso de cautela. Em meus trinta anos de
luta por direitos sociais, nunca vi nenhuma conquista de direitos acontecer sem
lutas arrojadas. Ao contrário, já vi muitas posturas moderadas atrapalharem
muito as lutas. Uma liderança popular que se diz de esquerda não tem o direito
de inibir lutas, pois quem inibe lutas necessárias por direitos está jogando ao
lado dos opressores. Basta de posturas moderadas! São cúmplices de opressão,
repito. Manter todas as precauções para não se contaminar com o novo
coronavírus, sim, é necessário, mas jamais deixar de lutar por todos os
direitos com organização e afinco. Enfim, sem lutas massivas e arrojadas nas
ruas e em todos os cantos e recantos, nas periferias e na floresta, quem
continuará sendo martirizado é o povão, a mãe Terra, os biomas e toda a
biodiversidade.
Leia o que diz Darcila Rodrigues, mulher
negra e lutadora: “É difícil respirar, principalmente quando o relato de grande
parte do povo, insiste em se calcar na ótica da classe média. Dia 06 de junho
último, ouvi diversos "conselhos" para que o povo não saísse às ruas
sob o pretexto de proteção contra a pandemia do novo coronavírus. No entanto, o
povo já foi obrigado a ir para as ruas para trabalhar e a levar o vírus para
suas casas e comunidades. Só a classe média e alta pode, de fato, fazer
quarentena. O povo tem sido empurrado para se aglomerar nos ônibus coletivos e
metrôs, porque está sendo obrigado a ir trabalhar para produzir principalmente
para os empresários. O povo já tão violentado tem sido atraído para se
aglomerar nas portas da Caixa Econômica Federal para receber uma migalha de auxílio
emergencial de 600 reais, que para milhões de pessoas não chega. Ir às ruas no
dia 7 de junho, não foi um gesto suicida, foi um gesto de dignidade, um
pouco do que ainda resta para aquela parte do povo que sabe o que é
luta, o que é dor, fome, injustiças e as sentem no próprio corpo a necessidade de
conquistar direitos. Esta mesma parcela do povo que tem sua força ancorada na esperança
de que um dia possa respirar, pois a cada dia de nossas vidas nos tiram o ar
pisando no nosso pescoço de muitas formas. Tristemente só compreende isso quem
de fato sofre, pois os alienados que se entendem por classe média, mesmo tendo
um pé depositado em sua jugular, já se adaptaram ao ar rarefeito, a uma
vida limitada de ar e de sonhos. Pensam só em sobreviver.”
Margarida Alves, martirizada a mando de
latifundiários da monocultura da cana de açúcar, dizia sempre: “É melhor morrer
na luta do que morrer de fome”. O sangue de George Floyd, de João Pedro, do
menino Miguel, dos milhares de brasileiros/as que estão sendo mortos de mil
formas pela necropolítica reinante precisa continuar circulando nas nossas
artérias, suas vozes devem se expressar agora e sempre por meio daquelas e
daqueles que se comprometem com as lutas pela superação do sistema do capital,
isso para adiarmos o fim do mundo.
Observando todas as medidas de segurança
para evitar o contágio do novo coronavírus, o povo deve, sim, seguir se
manifestando com coragem e compromisso até depois de conseguir a derrubada
deste desgoverno genocida e a implementação de outro governo justo
economicamente, democrático politicamente, solidário socialmente, responsável
ambientalmente e respeitador da diversidade cultural presente no nosso país.
Enfim, inibir lutas necessárias é um grave erro político, pois “as mães negras
não aguentam mais chorar. Chega!”. “Enquanto houver opressão e repressão haverá
luta!” “Quantos outros não foram filmados?” Em vários pontos do planeta Terra
este grito marcou definitivamente as manifestações antifascistas de junho de
2020: “Vidas Negras Importam!”[2]
09/6/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o
assunto tratado acima.
1
- Domingo no Brasil é marcado por protestos em 20 capitais
[1] Frei e
padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e
bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da
CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e
Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
[2]Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, que fez a
revisão deste texto.
LIVE de Lançamento do Filme CORAÇÃO DA DIVISA - Em defesa da Comunidade Tradicional de Cabeceira do Piabanha e contra mineração no Parque Estadual Alto Cariri em Salto da Divisa, MG – 05/6/2020.
O documentário “Coração da Divisa” aborda a história de Cabeceira do Piabanha, uma centenária comunidade tradicional do sertão de Minas Gerais, que luta contra os interesses da mineradora Nacional de Grafite. No centro dessa disputa está não só a luta pela permanência do modo de vida e do território da comunidade, bem como um complexo hídrico e a subsistência do Parque Estadual Alto do Cariri, em Salto da Divisa, MG. O Documentário aborda conflito entre Comunidade Tradicional e a mineradora Nacional do Grafite e latifundiários. A exploração minerária pretendida pela mineradora Nacional do Grafite coloca em risco território remanescente da Mata Atlântica em Minas Gerais A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona a essencialidade de um bem vital: a água. Em tempos em que o acesso a esse precioso bem natural se torna um fator decisivo para a vida de milhões, 12 famílias ribeirinhas lutam para manter vivo o complexo hídrico do Parque Estadual do Alto Cariri, em Salto da Divisa, MG. A região abriga as 16 únicas nascentes de água potável do município de Salto da Divisa, na região do Vale do Jequitinhonha. Há mais de 70 anos, o patrimônio hídrico e ambiental é protegido pela Comunidade Tradicional, Agroextrativista e Artesã Cabeceira do Piabanha. No entanto, esse bem está ameaçado. Além de abrigar diversas fontes hídricas, a região também é rica em jazidas de grafite. Dois fatores que tornaram a comunidade um alvo constante do interesse de empresas mineradoras. Coagidos com ameaças, famílias foram forçadas a deixar a região de Cabeceira do Piabanha, que é uma Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã reconhecida pelo governo do estado de Minas Gerais. O povoado, que se formou nos anos 50 do século XX, vive desde então da terra, com a produção e a venda de alimentos agroecológicos. A comunidade era constituída por 12 famílias que protegiam as nascentes que fundam o rio Piabanha, um dos afluentes do Rio Jequitinhonha, no Parque Estadual Alto do Cariri. Desde 2014 os ribeirinhos são cotidianamente ameaçados por fazendeiros e mineradora. Até mesmo animais domésticos da comunidade foram assassinados como forma de intimidar as famílias. Em 2015, em um dos mais marcantes episódios, três agentes de pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Edivaldo Ferreira, Paulo André e Irmã Geraldinha - foram vítimas de uma emboscada quando voltavam da Cabeceira do Piabanha. Após seis anos de violência cotidiana, por segurança, parte das famílias foi forçada a deixar a região. "Não é a mesma coisa. Nosso sonho é um dia reconquistar a nossa Cabeceira do Piabanha. Lá é a nossa terra, é lá que nossos avós, pais e irmãos estão enterrados", desabafa com a voz embargada o trabalhador rural Nivaldo Morais Nascimento. A defensora pública Dra. Ana Cláudia Storck, da Defensoria Pública de Minas Gerais, explica que a comunidade deveria ser protegida pelo governo do estado: "A Cabeceira do Piabanha é uma das comunidades protegidas pela Constituição Federal, no seu modo de criar, fazer e viver. São comunidades, que muitas vezes, com a própria vida, defendem um patrimônio ambiental" declara. O Parque Estadual Alto do Cariri foi fundado em 2008 pelo Decreto 44.726. Atualmente, a região conta com uma área de 6.151,1380 hectares e fica na divisa dos municípios de Santa Maria do Salto e Salto da Divisa, no Baixo Jequitinhonha, MG. O território é um importante remanescente de Mata Atlântica, responsável pela preservação de espécies ameaçadas como o macaco monocarvoeiro, maior primata das Américas. No entanto, essa reserva está sob ameaça. Desde 2015 tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais o PL 1480/2015 que propõe a alteração dos limites do parque. A nova demarcação retira o território da Comunidade de Cabeceira do Piabanha dos limítrofes do parque. Com isso, a mineração no território - que hoje é proibida por lei, por se tratar de uma área de preservação - fica permitida. A extração mineral na área das nascentes seria um ponto final não só para o curso hídrico, mas também para toda a reserva ambiental do seu entorno, inclusive o Parque Estadual do Alto Cariri. Enquanto o mundo briga contra o coronavírus, no #CoraçãodaDivisa ribeirinhos lutam por nossas águas. Nos últimos meses, o mundo parou. O número avassalador de mortes imobiliza. Para frear o alto índice de contágio pelo #coronavírus, o acesso à água é fator decisivo. Enquanto o mundo tenta conter a propagação do vírus, no #CoraçãodaDivisa ribeirinhos lutam para manterem vivas as águas do Parque Estadual Alto do Cariri (MG).
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, CEBs, SAB e CEBI.
Edição: Frei Gilvander
Belo Horizonte, MG, 05/6/2020.
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Coração
da Divisa (filme): Comunidade de Cabeceira do Piabanha sob
violência de latifundiários e de mineradora Nacional do Grafite – (Doc. Pt-Esp-Eng-Ger
- 05/6/2020).
Coração da Divisa (2020)
Documentário | 16m04s | Rupestre Filmes.
Uma comunidade tradicional na divisa de Minas
Gerais com Bahia, luta contra os interesses da mineradora Nacional de Grafite.
No centro dessa disputa, a preservação ou destruição de uma área repleta de
nascentes, o abastecimento com alimentos saudáveis de toda a cidade e a
subsistência do Parque Estadual Alto do Cariri em Salto da Divisa, MG. Comissão
Pastoral da Terra apresenta, uma produção Rupestre filmes Ficha técnica:
Direção Pedro Faria Rurian Valentino Produção Igor Ribeiro Sá Martins Edivaldo
Ferreira Lopes Geralda Magela da Fonseca Direção de fotografia Pedro Faria
Fotografia Pedro Faria | Câmera Loïc Ronsse | Drone Áudio Rurian Valentino |
Som Direto Felipe Guedes Flocco | Pós-Produção Montagem, Edição e Finalização
Rupestre Filmes Loïc Ronsse Trilha Sonora Aboiador de Viola Pereira da Viola e
João Evangelista Rodrigues Brasil Nome de Vegetal Celso Adolfo Lamento do Rio
Gonzaga Medeiros e Pereira da Viola Mãe do Céu Morena Padre Zezinho Missa do
Galo Pereira da Viola, João Evangelista Rodrigues e Wilson Dias Povo Unido é
Povo Forte Domínio Público Saudade da Terra Boa Pereira da Viola Texto Elaine
Bezerra Tradução das legendas Silvia Elizabeth Contreras Morales | Espanhol
Estêvão Veríssimo Dias dos Santos | Inglês Walney Souza Martins | Inglês José
Carlos Alves Pereira | Alemão Assessoria de Comunicação Amélia Gomes.
Cena do filme documentário "Coração da Divisa", de Rupestre Filmes / CPT/MG
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Trabalhador caiu de torre de 45 metros em trabalho da CYMI no território geraizeiro, Grão Mogol, no norte de MG
Dia 01/06/2020, as comunidades geraizeiras de Vale da s Cancelas, no município de Grão Mogol, no norte de MG, verificaram que várias placas e mourões haviam sido quebrados, algumas placas desapareceram e os arames haviam sido cortados, numa demonstração clara de desrespeito que demonstra, mais uma vez, que a fala dos representantes da empresa Mantiqueira de que reconhecem e respeitam o território e as comunidades é mera retórica. Frisamos que esta não é a primeira vez que isso ocorre, pois uma placa colocada na Fazenda Buriti Pequeno/São Lourenço em outubro de 2019 já havia sido arrancada muito antes empresa ser imitida na posse. Aproveitando o ensejo, cabe reforçar, também, que há muito temos reforçado nossa preocupação, nessa pandemia do novo coronavírus, com a saúde não só dos geraizeiros, mas também dos trabalhadores contratados, principalmente porque entre estes também se encontram geraizeiros. Foi com grande preocupação, portanto, externada em momentos anteriores, que observamos dias atrás a chegada de vários trabalhadores trazidos de outros locais para trabalhar na obra. Aqui, cabe ressaltar que em qualquer município que se chegue hoje a recomendação é ficar em confinamento por, no mínimo, 7 dias de modo a verificar a ocorrência de sintomas da Covid-19. Mas este não foi o caso dos trabalhadores transportados pela empresa CYMI, coligada da empresa Mantiqueira, para o Vale das Cancelas, que já foram postos para trabalhar tão logo chegaram. A esses vieram se somar outros tantos que chegaram à noite de 01 de junho (última segunda-feira) para se somar à verdadeira corrida contra o tempo empreendida pela Mantiqueira para concluir os trabalhos no território, que tem acontecido até mesmo aos sábados e domingos. E eis que recebemos a triste notícia de que um trabalhador da obra, que teria chegado na noite de segunda-feira no Vale das Cancelas para trabalhar, veio a óbito em 02/06/2020, após cair de uma torre. Trata-se de Lucenildo Salustiano de Lima, um trabalhador de 35 anos, natural de de Goiana, no Pernambuco. O comentário dentre os trabalhadores da empresa e de moradores do distrito de Vale das Cancelas é de que, na pressa de iniciar os trabalhos, não lhe foram fornecidos os equipamentos de proteção adequados ao serviço e, estando vulnerável ao fazer seu trabalho na torre nº38/2, ele caiu de uma altura aproximada de 45 metros, não resistiu à queda e morreu subitamente com o impacto da queda. As informações ainda estão sendo investigadas pelos órgãos competentes conforme demonstra o Boletim de Ocorrência anexo (REDS nº 2020-026215791-001), mas esse acontecimento deve ser registrado imediatamente diante do perigo a que os trabalhadores da obra e os geraizeiros estão sendo expostos com a continuidade da obra. Equipamentos não apropriados. 45 metros de altura. Plástico cobrindo o corpo. 02/6/2020 às 10h, a morte. Lucenildo deixou sua esposa viúva e filhos pequenos. Local: Fazenda São Lourenço, Geraizeiros de Buriti/São Lourenço, próximo da Retomada Alvimar Ribeiro dos Santos, em Grão Mogol. Segundo o B.O, os trabalhadores denunciaram a empresa Cymi. Eles não querem voltar a trabalhar, estão inseguros. A empresa quer que eles peçam demissão. A Cymi é do grupo da Mantiqueira do grupo da Brookfield disse que vai trazer mais 40 trabalhadores. E a COVID-19? Grão Mogol não tem condições de atender na área de saúde. “A PM está dando apoio à empresa e derrubando a identidade dos geraizeiros, inclusive o cerrado que está sendo pisoteado por caminhões. Os geraizeiros estão recuperando o cerrado e agora a empresa Mantiqueira destruindo tudo”, afirmam geraizeiros. Os geraizeiros temem que a empresa esteja trazendo novo coronavírus para a região. As Comunidades não foram consultadas previamente sobre o empreendimento, que prescreve a Convenção 169 da OIT, da ONU. Os trabalhadores estão correndo risco de morte e as comunidades também.
Videorreportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, CEBs, SAB e CEBI.
Edição: Frei Gilvander
O progresso perpetrado pelo sistema capitalista matou no norte de Minas Gerais, em território geraizeiro, o trabalhador Lucenildo, natural de Goiana, Pernambuco, enquanto ele trabalhava em obra de montagem de rede de transmissão de energia das empresas CYMI e Mantiqueira. Ele no primeiro dia de trabalho, às 10h do dia 02/6/2020, caiu de uma torre de energia, de uma altura de 45 metros. Foto feita por colegas trabalhadores.
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“Basta
de remédios que são novos venenos!” (Frei Gilvander) - Na luta por direitos
(Vídeo) - 02/6/2020
*Texto e filmagem de frei
Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de
Movimentos Populares.
Edição de Nádia Oliveira,
colaboradora da CPT-MG.
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pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander,
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O papa Francisco (D) escava o solo em árvore plantada por indígena das comunidades amazônicas representativas, nos jardins do Vaticano – VATICAN MEDIA/AFP
O Papa Francisco inicia a Carta Encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas), de 18 de junho de 2015, sobre o cuidado da Casa Comum,exclamando: “Louvado sejas, meu Senhor!”, invocando o Cântico das Criaturas cantado por Francisco de Assis. Isso é eloquente por vários motivos: Primeiro, porque “Louvado sejas” dito diante do planeta Terra e de toda a biodiversidade revela admiração e encanto pela natureza que nos envolve e da qual fazemos parte. Segundo, pedagogicamente é mais promissor conclamar para o compromisso com a defesa da nossa única Casa Comum a partir do encantamento e da beleza e não a partir do medo e da insegurança que despertam tantas mazelas socioambientais que nos colocam no meio da maior crise ecológica de todos os tempos.
Uma convicção profunda permeia toda a Encíclica Laudato Si’, convicção que o papa Francisco, carinhosamente, propõe a todas as pessoas de boa vontade: “Visto que todas as criaturas estão interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o valor de cada uma, e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros” (Laudato Si’ n. 42). Isso mesmo: nós, seres humanos, somos os animais que mais dependem de todos os outros seres vivos. Logo, é estupidez o antropocentrismo que exalta o ser humano individualmente abrindo espaço para o sistema capitalista pisar, violentar e assassinar todas as outras formas de vida.
O papa Francisco adverte já no segundo parágrafo da Laudato Si’: “Entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que “geme e sofre as dores do parto” (Romanos 8,22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra” (cf. Gênesis 2,7; Laudato Si’ n. 2). Ninguém deve ficar indiferente. Francisco dirige seu apelo a todas/os: “À vista da deterioração global do ambiente, quero dirigir-me a cada pessoa que habita neste planeta [...] Nesta encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa Casa Comum” (n. 3). Que nada nos seja indiferente! Que beleza ver o papa Francisco olhando para além dos muros da Igreja Católica e conclamando ao diálogo todas as pessoas crentes ou não, todas as igrejas, todas as religiões. E diálogo com todos os seres vivos da Terra, acrescentamos.
Ao longo da Encíclica Laudato Si’, o papa Francisco inúmeras vezes se refere ao “ser humano”, a “nosso comportamento irresponsável”, “aos seres humanos que destroem a biodiversidade”, “a humanidade”, a “atividade humana” e a termos similares, para de alguma forma chamar a atenção de todos para a gravidade da crise ecológica que se agrava cotidianamente, chegando a gerar a pandemia no novo coronavírus. Da perspectiva dos Movimentos Sociais e das ciências sociais críticas ao capitalismo, é imprescindível ponderar a existência de classes sociais com interesses antagônicos e contraditórios, na sociedade. Os principais responsáveis pela devastação socioambiental são aqueles/as que fazem parte da classe dominante, os que detêm o poder econômico e político na sociedade. A classe trabalhadora não está isenta de responsabilidade, mas é muito mais vítima do que algoz nos crimes socioambientais que ora estão sendo perpetrados. Nesse ponto, o Papa Francisco foi mais contundente em sua fala durante o Discurso aos Movimentos Sociais proferido na Bolívia, em junho de 2015.
Que bom ouvir do Papa: “Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma Ecologia Integral, vivida com alegria e autenticidade. [...] Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior” (Laudato Si’ n .10). Para Francisco de Assis, qualquer criatura é uma irmã, inclusive a morte.
Além de resgatar os ensinamentos e o testemunho libertador de Francisco de Assis, é indispensável cultivarmos a memória de todos/as mártires e lutadores por justiça socioambiental, como Chico Mendes, mártir seringueiro, sindicalista e ativista político e ambiental que lutou em favor da preservação das seringueiras e das populações que delas dependem para sua subsistência; Zé Maria Tomé, da Chapada do Apodi, mártir da luta contra os agrotóxicos; Francisco Anselmo, mártir da luta contra a instalação de Usinas de álcool e açúcar no Pantanal; José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, casal de militantes socioambientalistas do Pará, mortos por madeireiros; Augusto Ruschi agrônomo, ecologista e naturalista e de muitos outros/as.
“Francisco pedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte do horto por cultivar, para aí crescerem as ervas silvestres” (Laudato Si’ n. 12). Ao resgatar essa perspectiva agroecológica de Francisco de Assis, o Papa nos dá o ensejo de dizer que sem agroecologia, agricultura familiar e reforma agrária não há salvação para a humanidade. O agronegócio é antiecológico, pois com o uso indiscriminado e criminoso de agrotóxicos, está envenenando a comida do povo[2], desertificando os territórios, expulsando o campesinato para as periferias das cidades e concentrando cada vez mais a estrutura fundiária do país em propriedades capitalistas.
O papa Francisco está preocupado em “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral” (Laudato Si’ n. 13). Temos que alertar: a categoria “desenvolvimento sustentável”, em décadas passadas, parecia apontar para uma alternativa emancipatória. No entanto, há muito tempo essa categoria foi absorvida pelas empresas e tornou-se uma peça de propaganda enganosa. Strictu sensu, falar em desenvolvimento sustentável é contraditório, pois ‘desenvolvimento’ implica crescimento econômico, progresso, o que leva ao consumo de bens naturais. E ‘sustentável’ é uma categoria da área da ecologia e implica garantir a continuidade dos ciclos de matéria e energia, para as gerações presentes e futuras. Logo, ou se desenvolve e cresce economicamente ou se busca alternativas para garantir a sustentabilidade ecológica. Diante da agudização da crise ecológica, o ético e sensato nos parece ser manter a “comunidade de vida” do planeta Terra, o que passa necessariamente por estilo de vida simples e austero e pela diminuição do desenvolvimento econômico que destrói as condições de vida. Isso também por responsabilidade geracional. O próprio papa Francisco adverte na Encíclica: “Não é suficiente conciliar, a meio-termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. [...] O discurso do crescimento sustentável torna-se um diversivo (tergiversação) e um meio de justificação que absorve valores do discurso ecologista dentro da lógica da finança e da tecnocracia, e a responsabilidade social e ambiental das empresas reduz-se, na maior parte dos casos, a uma série de ações de publicidade e imagem” (Laudato Si’ n. 194).
Enfim, Francisco de Assis e o Papa Francisco pedem de todos/as nós dedicação amorosa e compromisso inarredável na construção de uma sociedade onde as relações sociais sejam pautadas por ECOLOGIA INTEGRAL. Esse caminho é justo e necessário para garantirmos as condições ambientais que viabilizem a continuidade da vida humana na nossa única Casa Comum, o planeta Terra[3].
02/6/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.
1 - Palavra Ética: Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho/MG, dia 25/01/2020. Sociedade do Bem Viver (2º programa).
2 - Palavra Ética: Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, MG, dia 25/01/2020. Vale não vale nada – 14/03/2020.
3 - Laudato Si’ 5 anos: a Ecologia Integral em tempos de coronavírus e crise climática – LIVE com Átila Iamarino, Carlos Nobre, Dom Leonardo Steiner e Cleusa Andreatta.
4 - Economia Popular, Pereira da Viola, Wilson Dias, partilha de alimentos e MAM na I Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, MG. Vídeo 23 – 25/01/2020.
5 - Pereira da Viola e Wilson Dias na I Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, MG. Vídeo 21 - 25/01/2020.
6 - Vozes proféticas na I Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, MG: 1 ano do crime doloso da Vale e do Estado. Vídeo 9 -25/01/2020.
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br – www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III
[2]Cf. no You Tube os dois Filmes-documentários de Sílvio Tendler O Veneno está na mesa, I e II.
[3]Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.