quarta-feira, 16 de outubro de 2019

I Palavra Ética na TVC/BH: APAC de Lagoa da Prata, MG. Respeito à dignid...




I Palavra Ética na TVC/BH: APAC de Lagoa da Prata, MG. Respeito à dignidade humana. 12/9/2018.

Por ocasião da realização das missões da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, em Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG, em 2018, frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), durante dois dias, visitou a APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (e às suas famílias e às vítimas e/ou suas famílias), que há 11 anos foi implantada na cidade. O objetivo da APAC é promover a humanização dos condenados que devem cumprir penas nas prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena. Seu propósito é evitar a reincidência no crime e oferecer alternativas para o condenado se recuperar e se ressocializar após o cumprimento da pena. O trabalho da APAC dispõe de um método de valorização humana, vinculada à espiritualidade, para oferecer ao condenado condições de recuperar-se, buscando em perspectiva mais ampla, a proteção da sociedade, o socorro às vítimas e a promoção da justiça restaurativa. Na APAC os presos são chamados de recuperandos e são corresponsáveis por sua recuperação. A presença de voluntários é fundamental oferecendo aos recuperandos a assistência espiritual, médica, psicológica e jurídica. Na APAC, os recuperandos são tratados com respeito. Com uma disciplina necessária, a APAC conta com um conselho formado por recuperandos que contribui decisivamente para a ordem, o respeito e o seguimento das normas e regras. Para isso, contam com o suporte de voluntários/as e funcionários/as, sem o concurso de policiais ou agentes penitenciários. A APAC conta com uma rotina diária que inicia às 6 horas da manhã e termina às 10 horas da noite. Durante o dia todos trabalham, estudam e se profissionalizam, evitando a todo custo a ociosidade. Na APAC as famílias são respeitadas e coparticipes da recuperação. Por meio de encontros formativos, celebrações e visitas aos lares, a APAC tenta, a todo custo, reatar os laços entre recuperandos e seus entes. A APAC recupera também a família de quem cumpre pena. Na APAC a espiritualidade é ecumênica. Cada recuperando é incentivado a assumir a fé que professa, de forma que possa fazer um encontro profundo com o Deus da Vida. O respeito à religião do outro é fundamental e orienta a espiritualidade apaqueana. Enfim, na APAC o cumprimento de pena é individualizado. Por isso as APACs são pequenas unidades, construídas nas próprias comunidades onde os recuperandos cumprem sua pena. São unidades idealizadas para receber no máximo 200 recuperandos. Um presídio que aplica a metodologia APAC é infinitamente mais vantajoso para o Estado, visto que um preso na APAC custa um terço do valor gasto no sistema prisional comum. Além disso, a construção de uma APAC é muito mais barata que a construção de um presídio grande que, quando superlotado, violenta os direitos humanos dos presos. Os resultados positivos tais como baixo índice de reincidência, baixo custo, ausência de violência e rebeliões e poucas fugas têm contribuído para que a metodologia APAC seja conhecida e aplicada. Nesse vídeo, 1º Palavra Ética, com frei Gilvander, reportagem em vídeo que frei Gilvander fez em sua visita à APAC de Lagoa da Prata, no centro-oeste de Minas Gerais, na Diocese de Luz.

Recuperandos fazendo blocos de concreto na APAC Lagoa da Prata/MG. FOTO: Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC)

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Lagoa da Prata, 12 de setembro de 2018.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

ASCALP: Do lixo à dignidade de vida/XXI Romaria/Águas/Terra/MG/Lagoa da ...




ASCALP: Do lixo à dignidade, à cidadania - Vídeo 2 - Missões da XXI Romaria das Águas e da Terra de MG - Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG - 15/9/2018.

No dia 16 de setembro de 2018, aconteceu em Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG, a culminância da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que teve como tema “Das nascentes do São Francisco às Terras da Justiça” e lema “Cuidando da Mãe TERRA e da Irmã ÁGUA”. A XXI Romaria teve início às 8h, na Igreja de São Francisco, seguindo em caminhada até a Praça dos Trabalhadores, ao lado da lagoa-praia da cidade, terminando por volta das 14h. Na semana que antecedeu a culminância da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas, realizada em Lagoa da Prata, mais de cinquenta missionários e missionárias vindos de diversas regiões do Estado de MG realizaram missões nas onze comunidades da Paróquia São Francisco, de Lagoa da Prata. A XXI Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais foi promovida pela Comissão Pastoral da Terra Regional Minas, pela Cáritas Regional Minas Gerais e pela Diocese de Luz. Nesse vídeo, a segunda parte da reportagem feita na Associação de Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Lagoa da Prata (ASCALP), por frei Gilvander Moreira.


*Filmagem e entrevista: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.
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ASCALP: Cooperativa que transforma vidas/XXI Romaria/Águas/Terra/MG/Lago...



ASCALP: Cooperativa que transforma vidas - Missões da XXI Romaria das Águas e da Terra de MG – Vídeo 1 - Lagoa da Prata, Diocese de Luz/MG – 15/9/2018.

 No dia 16 de setembro de 2018, aconteceu em Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG, a culminância da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que teve como tema “Das nascentes do São Francisco às Terras da Justiça” e lema “Cuidando da Mãe TERRA e da Irmã ÁGUA”. A XXI Romaria teve início às 8h, na Igreja de São Francisco, seguindo em caminhada até a Praça dos Trabalhadores, ao lado da lagoa-praia da cidade, terminando por volta das 14h. Na semana que antecedeu a culminância da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas, realizada em Lagoa da Prata, mais de cinquenta missionários e missionárias vindos de diversas regiões do Estado de MG realizaram missões nas onze comunidades da Paróquia São Francisco, de Lagoa da Prata. A XXI Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais foi promovida pela Comissão Pastoral da Terra Regional Minas, pela Cáritas Regional Minas Gerais e pela Diocese de Luz. Nesse vídeo, a primeira parte da reportagem feita na Associação de Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Lagoa da Prata (ASCALP) por frei Gilvander Moreira.

Casal da Associação de Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Lagoa da Prata (ASCALP). Foto: frei Gilvander
*Filmagem e entrevista: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.
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Ocupação Vitória na Izidora em BH celebra 6 anos de luta: 5 mil família...




Ocupação Vitória na Izidora em BH celebra 6 anos de luta: 5 mil famílias com casas. Vídeo 2 - 12/10/2019.

Dia 12/10/2019 aconteceu a Festa de 6 anos de luta e muitas conquistas da Ocupação/comunidade Vitória, na Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Quase 5.000 famílias estão construindo suas casas na luta suada cotidianamente, libertadas da cruz do aluguel e da humilhação que é sobreviver de favor. Mas, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, está sendo muito injusto com as ocupações de BH, pois, tendo sido eleito graças aos milhares de votos do povo das Ocupações, não está cumprindo as promessas de urbanizar e regularizar fundiariamente. No entanto, as Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança, Vitória e Helena Greco), com mais de 8 mil famílias, continuam sem rede de energia (CEMIG), sem rede de água e saneamento (COPASA). Isso já deveria ter sido encaminhado pela Prefeitura de BH junto com COPASA e CEMIG (Governo de MG). Eis aqui o vídeo 2 do registro e entrevistas que frei Gilvander fez durante a festa.

Na festa de 6 anos da Ocupação/Comunidade Vitória, na Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, noite de 12/10/2019. Foto: Carla Cristina.

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terça-feira, 15 de outubro de 2019

De Acampamento a Assentamento Dom Luciano Mendes: da dor à dignidade.

De Acampamento a Assentamento Dom Luciano Mendes: da dor à dignidade.
Por Gilvander Moreira[1]

Maria Aparecida Alves, a Cidona do MST, na luta pela terra em Salto da Divisa, MG. Foto: frei Gilvander
Após o MST[2] nascer e se fortalecer na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, com o assentamento Franco Duarte, em Jequitinhonha; o acampamento Terra Prometida, em Felisburgo; e o assentamento Esperança/Santa Rosa, em Almenara, e após ter acontecido em Unaí, MG, dia 28 de janeiro de 2004, o massacre dos quatro fiscais do Ministério do Trabalho, no mesmo ano, dia 20 de novembro de 2004, o massacre de cinco Sem Terra em Felisburgo, impulsionado pelo trabalho pastoral da irmã Geraldinha, de outras irmãs dominicanas e de militantes do GADHH[3], eis que o MST fincou pela primeira vez sua bandeira em Salto da Divisa, um município sob hegemonia do latifúndio e do capital no campo. O Acampamento Dom Luciano Mendes, do MST, em Salto da Divisa, município com seis mil habitantes, distante 7 km da cidadezinha de Salto[4] e a 880 km de Belo Horizonte, na região do Baixo Jequitinhonha, MG, após um longo processo de gestação, nasceu na madrugada do dia 26 de agosto de 2006, exatamente no dia em que o arcebispo da Arquidiocese de Mariana, MG, Dom Luciano Mendes de Oliveira, faleceu. Por isso e, principalmente, por ele ter sido ao longo de várias décadas uma referência para a igreja popular na linha da Teologia da Libertação, para as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), as pastorais sociais e para os movimentos populares, Dom Luciano foi escolhido para ser o patrono do acampamento.
Assim como irmã Geraldinha, Maria Aparecida Alves, carinhosamente conhecida como Cidona do MST, contribuiu muito com a luta pela terra no Acampamento Dom Luciano Mendes. Inesperadamente, aos 48 anos, Cidona faleceu dia 27 de junho de 2014, às 21h30, enquanto dançava forró em uma festa de aniversário no Assentamento Franco Duarte, município de Jequitinhonha, onde residia há 12 anos após vários anos de acampamento à beira da BR 367.
Irmã Geraldinha recorda como foi a primeira ocupação no município de Salto da Divisa: “A ocupação que se tornou o Acampamento Dom Luciano Mendes aconteceu por volta das 4 horas da madrugada do dia 26 de agosto de 2006, com 186 famílias sem-terra que logo depois foram cadastradas no INCRA[5].[6] O povo levantou de madrugada, pôs os cacaios nas costas e cortou a cerca de mais um latifúndio iniciando o Acampamento Dom Luciano. Com a lona preta nas mãos entramos nessa fazenda chamada Manga do Gustavo. A gente sabia que era terra devoluta” (Irmã Geraldinha).
Naquela madrugada lá estava Cidona, ao lado de 186 famílias, fincando a bandeira do MST no Acampamento que três dias depois foi batizado de Acampamento Dom Luciano Mendes. Na Assembleia que decidiu qual seria o nome do acampamento, Cidona afirmou: “Ocupamos aqui no mesmo dia em que morreu o grande bispo Dom Luciano Mendes, um irmão na luta dos pobres. Por isso proponho a gente homenageá-lo colocando o nome de Dom Luciano no nosso acampamento, pois cultivar a memória profética dele é dever de todos nós” (CIDONA DO MST, dia 29/8/2006).
Nascido na zona rural do município de Vitória da Conquista, criado em Salto da Divisa e pai de 14 filhos, Sr. Manoel Santiago Rocha, Sem Terra, atualmente assentado no Assentamento Dom Luciano Mendes, atesta: “Aqui tudo era mata. Estrada não existia. Tivemos que mudar para a cidade para estudar a meninada”. O Sem Terra José da Silva, nascido em Iguaí, BA, cresceu sendo vaqueiro e se tornou gerente de uma fazenda em Itapetinga, BA. Ele narra as peripécias da história dele até se tornar um Sem Terra assentado no Assentamento Dom Luciano Mendes, assim: “O ex-gerente da fazenda meteu um revólver na minha cara e quase me matou quando soube que o fazendeiro tinha me passado a responsabilidade sobre a fazenda. Eu disse para ele: ‘Eu também tenho revólver, mas não vou puxar minha arma para você. Você tem que me respeitar’. As nossas mulheres chegaram e entraram no nosso meio. A mulher dele gritou com ele: ‘Respeite esse homem’. Ele ficou com o revólver na minha cara e eu com o dedo na cara dele durante quase uma hora. Isso sem motivo nenhum. Ao chegar em casa, eu disse para minha esposa: ‘Essa fazenda me serviu até hoje’. Saí sem receber o que eu tinha direito e fui para São Paulo e fiquei uma temporada lá. A passagem eu paguei após trabalhar em São Paulo. Quando apareceu o MST eu comecei a acompanhar na Bahia em uma área de 900 hectares em Arataca. A gente fazia marchas pra Salvador. Conquistamos a área, fizemos o loteamento e tocou 1500 pés de cacau para cada família. Em uma briga, um assentado matou outro. Naquele tempo, a polícia não entrava no assentamento sem nossa autorização. A partir desse dia, vários amigos passaram a se dizer bravos. “‘Meu revólver queima’, ‘Minha faca é afiada’”, diziam. Vendi os pés de cacau por trezentos contos e resolvi sair. Voltei a ser empregado em uma fazenda por mais cinco anos. Depois entrei em outro acampamento no trevo de Camacã, mas a mulher que morava comigo começou a ficar brava e eu resolvi largar a mulher em uma noite e vim me juntar aos companheiros aqui no Acampamento Dom Luciano Mendes. Na hora que a terra estiver na nossa mão, eu vou procurar meus filhos e convidá-los para vir morar aqui na terra. Luto pela terra pensando nos meus filhos, pois já estou idoso.”
O camponês agregado José Mendes Batista foi expulso pelo fazendeiro Marcos Peixoto, da fazenda Cansanção, e foi morar na cidade de Salto da Divisa. Lá na fazenda, vivendo como agregado, um dia, à noite, ele acordou com tiros dados na sua casa. Aí ele não teve mais condições de continuar morando como agregado. Dona Maria Pereira Rocha, Sem Terra assentada no PA Dom Luciano Mendes, diz: “Entramos na luta pela terra no Acampamento Dom Luciano e, aqui, agora assentados no Assentamento Dom Luciano estamos em paz.” A Sem Terra Cleonice dos Santos Silva Souza, assentada no Assentamento Dom Luciano Mendes, narra o processo de emancipação dela na luta pela terra, assim: “Nós começamos junto com as irmãs fazendo as místicas com as sementes de milho e feijão. Eu não entendia o porquê daquelas místicas. Eu era lavadeira para inteirar o dinheiro do meu esposo Carlos Dias de Souza. Às 4h da madrugada, do dia 26 de agosto de 2006, eu chamei meu filho e fomos para a ocupação que estava nascendo na fazenda Manga do Gustavo. O povo já tinha feito café para todos. Fomos bem recebidos. Não deixaram nós fazermos nossos barracos debaixo da fiação elétrica da CEMIG. Começamos a plantar e produzir naquela terra. Organizamos uma roça coletiva. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) apoiou com o projeto para plantarmos banana. Nós ressuscitamos aquela terra, porque lá só tinha capim. Estamos assentados aqui no Assentamento Dom Luciano Mendes desde 22 de outubro de 2014, mas ainda não recebemos nem um centavo de ajuda do governo. Na nossa primeira plantação aqui colhemos muita mandioca, quiabo e melancia. Mas o ano de 2016 foi difícil por causa da falta de chuva e também porque a mineradora Nacional de Grafite, pela exploração do grafite, está acabando com a água do rio Piabanha. Eu tive uma bênção no Acampamento Dom Luciano: meu filho era viciado em droga e se libertou. Eu vivia insufrida, magrinha, lá na cidade de Salto da Divisa. Depois que eu vim para a terra, eu me libertei desse sofrimento. Melhoramos a saúde. Morar na terra é uma bênção. Todos os meus cinco filhos estão planejando para vir morar comigo aqui na nossa terra conquistada. Eu não sei como, mas a luta pela terra faz muita diferença na sociedade. Aqui na terra a gente vive em paz, cultivando a terra sem agrotóxico e sem ser escravo de patrão. A gente trabalha pra gente e pra quem precisa, sem patrão para gritar conosco, mandar na gente e nos explorar. Essa terra aqui não é só minha, é nossa, de todas as companheiras e todos os companheiros que nos ajudaram a conquistar essa terra. Essa terra é sua também, frei Gilvander. Nós ajudamos inclusive a quem nos discriminou e nos perseguiu. O Assentamento Dom Luciano Mendes fez muita gente adquirir fé na luta pela terra, com a ajuda do MST, dos Direitos Humanos, da CPT, dos freis, do bispo Dom Hugo Maria van Steekelenburg (bispo da Diocese de Almenara), da Irmã Geraldinha e as irmãs Dominicanas, da Defensoria Pública e do Ministério Público da área dos conflitos agrários. Mineradora só estraga a terra, as árvores e as águas. Um filho meu, o Rodrigo, já voltou e está morando conosco aqui no assentamento. Há outros filhos de várias famílias nossas que já voltaram.”

Belo Horizonte, MG, 15/10/2019.

Referência.

Obs.: Abaixo, vídeos que versam sobre o assunto apresentado, acima.
1 - Acampamento Dom Luciano, do MST, tomando posse da Fazenda Monte Cristo, em Salto da Divisa. 22/10/14



2 - Acampamento Dom Luciano, do MST, em Salto da Divisa, MG, festeja conquista da Fazenda Monte Cristo



3 - Palavra Ética, na TVC/BH: frei Gilvander-Acampamento Dom Luciano/MST, Salto da Divisa/MG. 22/09/14.






[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB, CEBs e Movimentos Sociais Populares; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – www.mst.org.br
[3] Grupo de Apoio e Defesa dos Direitos Humanos de Salto da Divisa.
[4] Quando era necessário ir à cidade de Salto da Divisa, as pessoas do Acampamento Dom Luciano iam a pé, de jegue ou de bicicleta. Raramente aparecia uma carona. Podia-se também pegar o ônibus da empresa Mineradora Nacional de Grafite que levava os funcionários da empresa. Esse ônibus passava indo para o Salto às 08h00 da manhã e voltava às 14h00. E ia novamente para o Salto às 16h00 e voltava às 22h00.

[5] Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
[6] “Já passaram pelo Acampamento Dom Luciano mais de 220 famílias”, informa irmã Geraldinha.

Festa de 6 anos da Ocupação Vitória na Izidora em BH: 5 mil famílias c/ ...



Festa de 6 anos da Ocupação Vitória na Izidora em BH: 5 mil famílias c/ casas. Vídeo 1 - 12/10/2019.

Dia 12/10/2019 aconteceu a Festa de 6 anos de luta e muitas conquistas da Ocupação/comunidade Vitória, na Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Quase 5.000 famílias estão construindo suas casas na luta suada cotidianamente, libertadas da cruz do aluguel e da humilhação que é sobreviver de favor. Mas, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, está sendo muito injusto com as ocupações de BH, pois, tendo sido eleito graças aos milhares de votos do povo das Ocupações, não está cumprindo as promessas de urbanizar e regularizar fundiariamente. No entanto, as Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança, Vitória e Helena Greco), com mais de 8 mil famílias, continuam sem rede de energia (CEMIG), sem rede de água e saneamento (COPASA). Isso já deveria ter sido encaminhado pela Prefeitura de BH junto com COPASA e CEMIG (Governo de MG). Eis aqui o vídeo 1 do registro e entrevistas que frei Gilvander fez durante a festa.

Cena da festa de 6 anos da Ocupação/Comunidade Vitória, na Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, dia 12/10/2019. Foto: Carla Cristina.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A PERSEGUIÇÃO A CARLOS MARIGHELLA CONTINUA: AGORA À SUA MEMÓRIA


A Perseguição A CARLOS MARIGHELLA continua: agora à sua memória
Por Alenice Baeta[1]

“Não tive tempo de ter medo” (Carlos Marighella)
                                        
 
Legenda: Reprodução parcial da Carteira de Carlos Marighella no Comitê Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCB). Fonte: Centro de Memória do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia.  

Nascido em 1911, em Salvador, BA, Carlos Marighella herdou do pai e da mãe a combatividade - um imigrante italiano operário metalúrgico e uma negra, filha de escravos trazidos do Sudão, os haussás; casal conhecido por participar de sublevações nas ladeiras do Pelourinho em Salvador contra a escravidão e exploração dos trabalhadores. Muito afeito aos estudos e leituras, Marighella entrou para a faculdade aos 18 anos no curso de Engenharia Civil, na Escola Politécnica da Bahia. Foi preso, pela primeira vez, aos 23 anos por publicar um poema que fazia críticas a um interventor opressor na Bahia, indicado por Getúlio Vargas durante o denominado “Governo Provisório” (MAGALHÃES, 2012).  Escrevia ainda versos libertários, líricos e satíricos, sob forte influência dos conterrâneos Gregório de Matos (considerado um dos melhores poetas barrocos do período colonial brasileiro) e Castro Alves (poeta humanista e abolicionista dos oitocentos).
Camarada de Jorge Amado, o também professor, escritor e poeta Carlos Marighella foi líder e militante do Partido Comunista do Brasil (PCB), tendo sido encarcerado e torturado ao longo de seis anos durante a ditadura imposta pelo Estado Novo (1937- 1945).

Não ficarei tão só no campo da arte,
e anônimo e firme sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio a própria sorte”.
Trecho do poema “Liberdade” de Carlos Marighella.
São Paulo, Presídio Especial, em 1939.

Após ser anistiado, Carlos Marighella foi eleito deputado federal, devido ao seu prestígio e alta capacidade de organização popular e sensibilidade social, juntamente com Luiz Carlos Prestes e outros militantes do seu partido. Apesar de minoritária, a bancada comunista fazia duras intervenções e críticas à elaboração da Constituição de 1946, sendo que um dos principais pontos de atrito no parlamento predominantemente conservador era a necessidade da reforma agrária, a supressão da censura e o fortalecimento dos direitos trabalhistas no campo e na cidade. A reação política autoritária no bojo do governo do general Eurico Gaspar Dutra culminou com a cassação sumária do PCB em maio de 1947, bem como dos mandatos de seus parlamentares comunistas ocorrida em janeiro de 1948, perseguição aos sindicatos, movimentos organizados e aos militantes de oposição.
O inquieto e aguerrido Carlos Marighella aceitou o convite do Comitê Central do Partido Comunista e viajou para a China com o intuito de estudar e acompanhar de perto a situação política daquele país, onde ficou por dois anos. Retornou ao Brasil, assumindo várias funções na direção de seu partido, na clandestinidade, quando produziu inúmeros manuais, textos e poemas que entraram para a história documental da organização dos movimentos de resistência popular e de luta de classes de sua época, boa parte divulgados nos idiomas espanhol, francês e inglês, mas que no Brasil só foram publicados oficialmente após dez anos da sua morte, tais como: “Se fores preso, camarada”; “Por que resisti à prisão”; “Ecletismo e Marxismo”; “Chamamento ao Povo Brasileiro”.  “A Crise Brasileira”, escrito em 1966 (portanto, após o golpe militar/civil/empresarial de 1964), tem sido considerada a melhor produção teórica de Carlos Marighella, onde tece contundente crítica à política de alianças com a burguesia por parte da esquerda, reforçando a importância do fortalecimento e da autonomia dos movimentos operários e camponeses em busca de um governo popular revolucionário (MARIGHELLA, 1979).
Enfrentando conflitos e divergências estruturais em seu partido, Marighella descumpriu as ordens do PCB e foi participar em 1967 em Cuba da “Primeira Conferência  da Organização Latino Americana de Solidariedade (OLAS)”, motivo da sua expulsão do partido. Fora do PCB Carlos Marighella, ainda em Havana (dias após a morte do líder revolucionário Che Guevara na Bolívia), escreve o opúsculo: “Algumas Questões Sobre a Guerrilha no Brasil”, publicado no ano seguinte pelo Jornal do Brasil, chamando a atenção dos repressores para a sua produção intelectual e revolucionária posição política. No Brasil, Carlos Marighella e Câmara Ferreira anunciaram a criação de uma organização de esquerda que ficou conhecida como Aliança Libertadora Nacional (ALN), que propunha a utilização de armas para resistir à ditadura e à tirania, dando início às primeiras operações de guerrilhas urbanas.

De algum lugar do Brasil me dirijo à opinião pública, 
especialmente aos operários, agricultores pobres, estudantes, professores, jornalistas e intelectuais, padres e bispos, aos jovens e à mulher brasileira”.
Trecho do texto: “Chamamento ao Povo Brasileiro”, de CarlosMarighella, em 1968.

Em 1969 Marighella escreve o “Manual do Guerrilheiro Urbano” (MARIGHELLA, 2003) visando estabelecer diretrizes e táticas de resistência do movimento popular armado em contexto urbano frente à ditadura militar/civil/empresarial e às perseguições de suas lideranças.   Considerado o “inimigo número um” e “terrorista” pelo regime ditatorial de 1964, Marighella foi implacavelmente perseguido pelo serviço de inteligência, provavelmente com a ajuda da CIA (Central Intelligence Agency, dos Estados Unidos), sendo brutalmente assassinado em uma emboscada composta por agentes fortemente armados do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), na Alameda Casa Branca, na capital de São Paulo. Seu assassinato completa 50 anos no dia 04 de novembro de 2019. Seu túmulo em Salvador, no cemitério Quinta dos Lázaros, para onde foi transladado dez anos depois, é uma obra prima do também comunista Oscar Niemeyer.  Mas nota-se ainda um grande preconceito das alas conservadoras e retrógradas do país com relação à memória deste pujante líder revolucionário brasileiro. 
Em 2014, por exemplo, causou grande consternação aos profissionais da área de história, intelectuais e militantes de esquerda quando houve negação do pedido de tombamento em âmbito estadual por parte do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) da Bahia da casa de Carlos Marighella, situada na Baixa dos Sapateiros, em Salvador. Grandes conhecedores da biografia de Marighella, Márcio Ferraz e Mário Magalhães, este último, autor da célebre obra: “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, entraram com o justo pedido de tombamento do bem imóvel. Saber que nele o emblemático revolucionário Carlos Marighella passou parte de sua infância e juventude com sua família, e que este mesmo sítio histórico e seu logradouro teria inspirado e sido palco de múltiplos significados da luta popular baiana. A reação foi firme com relação a esta negativa de proteção patrimonial, tanto, que em 2016 após a cobrança e pressão de grupos que defendem a memória das Comunidades Tradicionais Afrodescendentes ou que denunciam os perseguidos pela ditadura, como o Movimento “Tortura Nunca Mais”, foi informado aos familiares de Marighella o interesse por parte do governo em fazer desta casa, finalmente, um ponto cultural e imaterial, componente de um roteiro relativo à memória de resistência do povo baiano.      
Segundo reportagem do jornal BBC, ainda há muito preconceito à pedra monumental, com os seguintes dizeres: "Aqui tombou Carlos Marighella, em 4/11/1969. Assassinado pela ditadura militar", instalada em 1999 a pedido de intelectuais brasileiros que indicaram o local do assassinato de Marighella, na Alameda Casa Branca, na região do Jardim Paulista, zona nobre de São Paulo. Todos os anos, grupos de estudantes e admiradores desse revolucionário se reúnem no local para gritar o nome de Marighella e bater palmas. Em 2013, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo e a viúva do guerrilheiro, Clara Charf, fizeram um grande ato junto ao marco. Com menos regularidade, outras pessoas aparecem para vandalizar e menosprezar a importância do monumento. Clara Charf, companheira de Marighela por 21 anos, até a sua execução pelos militares, conta em suas entrevistas que ele era um homem sábio, à frente de seu tempo, pois era extremamente "anti-racista e feminista", "quando ainda não se usava essa palavra". O sociólogo e crítico literário Antônio Candido comenta o seguinte sobre Carlos Marighella: "Ele pagou o tributo mais alto e mais nobre que um homem pode pagar, que é dar a própria vida por seus ideais. De maneira, que é justo que ele tenha se tornado um grande símbolo coletivo".
Em tempos também obscuros, tenebrosos e destoantes, já em 2019, um filme ou cinebiografia que conta a história deste comunista marxista-leninista vem sofrendo severas retaliações por parte deste desgoverno Bolsonaro, que dificulta a sua divulgação no Brasil e no exterior. Esse filme destinado a relatar o contexto em que viveu o deputado Marighella explicita que o Brasil sofreu um golpe militar/civil/empresarial em 1964, com a tomada de poder pelos militares, ajudados pelo governo norte-americano, sob pretexto de “prevenir” o avanço do comunismo. Os militares, como se sabe, ficaram durante 21 anos no poder, tendo perseguido e assassinado inúmeros estudantes, operários, camponeses, artistas, pesquisadores, intelectuais e militantes em geral, dentre eles, Carlos Marighella, que foi um mártir revolucionário de seu tempo. Figura histórica marcante e inconteste.
O roteirista Rogério Faria possui um projeto ilustrativo muito instigante, que conta com os desenhos de Ricardo Sousa e arte da capa de Phill Zr, sobre a história de Marighella e de seus companheiros, não obstante, em entrevista recente ao site “Quadrinheiros” ele relata que o seu quadrinho sequer foi lançado e que já estaria causando uma alta polarização (mensagens elogiosas e outras, com insultos e agressões) nas redes digitais, somente com a divulgação do financiamento da obra no coletivo “Catarse”.  A publicação aborda ainda a fibra de Marighella, que, mesmo sob tortura, jamais delatou seus companheiros, surpreendendo até mesmo os seus captores e algozes, tendo se tornado desde então o maior guerrilheiro brasileiro do século XX. De fato, Carlos Marighella não teve tempo de ter medo, nos deixando um legado imprescindível.

 Fontes Consultadas

Publicações:
MARIGHELLA, Carlos. Escritos de Carlos Marighela. São Paulo: Ed. Livramento, 1979.
MARIGHELLA, Carlos. Manual do Guerrilheiro Urbano. São Paulo: Ed. Sabotagem, 2003.
MAGALHÃES, Mário. Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
MAGALHÃES, Mário.  Estado da Bahia se nega a tombar casa onde Carlos Marighella cresceu, em 11 de setembro de 2014.

Sites:





Filmes:
-“Batismo de Sangue” - filme brasileiro lançado em 2007, dirigido pelo cineasta Helvécio Ratton. Baseado no livro homônimo de Frei Betto, que foi lançado originalmente no ano de 1983; vencedor do prêmio Jabuti.
-“Marighella” - filme brasileiro lançado em 2019, dirigido por Wagner Moura, produtora O2.




[1] Doutora em Arqueologia pelo MAE/USP; Pós-Doutorado Arqueologia/Antropologia-FAFICH/UFMG; Mestre em Educação pela FAE/UFMG; Historiadora e Membro do CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva - www.cedefes.org.br - : e-mail: alenicebaeta@yahoo.com.br