terça-feira, 23 de julho de 2019

Vem aí o mês da Bíblia, em 2019, com a I Carta de João


Vem aí o mês da Bíblia, em 2019, com a I Carta de João
Gilvander Moreira[1]

Capa do livrinho do CEBI-MG - Texto-base - para o mês da Bíblia de 2019.

Em Minas Gerais, há mais de 20 anos, um grupo de biblistas do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI-MG)[2] publica anualmente um livrinho que busca ser um Texto-Base sobre o livro bíblico do mês da Bíblia: setembro. Em 2019, todas as pessoas e comunidades cristãs são convidadas a refletir e inspirar a caminhada, especialmente no mês de setembro, sobre a Primeira Carta de João: Carta do Discípulo Amado às Primeiras Comunidades Cristãs, a nós e às Comunidades cristãs da atualidade. O livrinho tem como título A Comunhão entre Deus e Nós e como subtítulo Uma leitura da Primeira Carta de João feita pelo CEBI-MG.
As Primeiras Comunidades Cristãs, no meio de muitas perseguições e violências, divisões internas, inclusive, sob a influência do Discípulo Amado, tiveram a sabedoria, a coragem e o discernimento para manterem a unidade e a perseverança na caminhada cultivando a utopia de serem fieis ao verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo e não se perderem na caminhada.
Vivemos um tempo perigoso no Brasil e no mundo. Tempo de ascensão de ideias e políticos “linha dura” e de militares ao poder político, tanto no executivo quanto no legislativo, no nível federal e em muitos estados, de poder judiciário parcial e seletivo, decidindo para reproduzir e ampliar as desigualdades sociais, violentando o espírito democrático construído com muita luta, suor e sangue no Brasil. Tempo de fake news (falsas notícias) fomentando ódio e discriminações. Tempo de poder da mídia trombeteando aos quatro ventos a ideologia dominante, estamos em tempos de fundamentalismos, de céus povoados de anjos e entidades, de “demônios” por todos os lados, de gritaria de deuses – idolatria do capital. Tempo de promessas, de busca insaciável de bênçãos, de procissões, de peregrinações, de necessidade de expiação.  Tempo de moralismo, de religiões sem Deus, de salvação sem escatologia, de cristianismo light, de libertações que não vão muito além da autoestima. Tempo de teologia da prosperidade em igrejas eletrônicas. Enfim, tempos de neopentecostalismo tanto dentro da igreja católica como em uma infinidade de outras igrejas. E tudo isso levando a graves retrocessos com relação a políticas públicas que beneficiariam a maioria do povo: corte de direitos sociais, amputação de direitos trabalhistas e previdenciários, etc.
Nesse contexto, será muito bom lermos e compreendermos bem na Bíblia Primeira Carta de João (1 Jo), pois um dos graves obstáculos que as comunidades cristãs do discípulo amado – autor da I Jo - estavam atravessando era as investidas de grupos espiritualistas que estavam desencarnando a fé cristã e amputando a dimensão social da fé em/de Jesus Cristo e no seu Evangelho.
Para compreendermos de forma sensata e libertadora a Primeira Carta de João às comunidades joaninas, melhor dizendo, Carta de João às Comunidades do Discípulo Amado e especificamente compreendermos a parte de 1 Jo 2,29–4,6 que propõe às pessoas e às comunidades cristãs que ‘para ser filha e filho de Deus temos que ser pessoas justas’ é preciso várias coisas. Primeiro, ler, reler e tresler o texto devagarinho, de preferência de forma comunitária. Segundo, considerar a caminhada histórica das Comunidades Cristãs do Discípulo Amado. Tiveram uma origem (1ª fase) calcada na experiência da ressurreição de Jesus Cristo. Passaram por uma 2ª fase, durante a qual foram espirradas para a Diáspora, entre os gentios, considerados pagãos, na Ásia Menor, após serem expulsas da Sinagoga na década de 80 do século I. Vivenciaram uma 3ª fase, por volta do ano 100 depois de Cristo, época da redação das Cartas “joaninas” por um coordenador de comunidade, em Éfeso, endereçadas às Comunidades Cristãs do Discípulo Amado. E chegaram a uma 4ª fase, durante o Século II, depois das “Cartas Joaninas”. Nessas várias fases, as Comunidades do Discípulo Amado passaram por várias crises. E nós hoje, leitoras e leitores da ‘I Carta de João’ somos convidadas/os a beber da seiva original de todas as fases anteriores e, principalmente, como filhas e filhos do Deus da Vida, vivendo e convivendo de forma justa e lutando pela superação de toda e qualquer injustiça que se abate sobre qualquer pessoa ou ser vivo da biodiversidade.
Importante notar que são várias comunidades do discípulo amado, não apenas uma. Nós também, mesmo participando de comunidades diferentes, precisamos estar em comunhão conspirando em sintonia com projeto do Evangelho de Jesus Cristo que quer vida e liberdade em abundância para todos/as e para todos os seres vivos (Cf. Jo 10,10). A caminhada histórica das Comunidades Cristãs do Discípulo Amado, passando por quatro fases, se deu como se as quatro fases fossem uma corda onde estivessem entrelaçados quatro fios. Cada fase corresponde a um fio, que não deve ser visto de forma isolada, mas como um conjunto entrelaçado. Um fio sozinho é fraco, mas quando se juntam muitos fios, entrelaçando-os, a força da fraqueza surge e se torna invencível. Assim, uma pessoa ou comunidade sozinha e isolada é frágil, mas quando se articula com outras pessoas e comunidades injustiçadas e estabelece caminhada conjunta em comunhão supera obstáculos por vezes tidos como instransponíveis, e conquista direitos. No meio das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) é comum ouvirmos: “isolada, sou um pedaço de pessoa. Participando da comunidade me torno pessoa inteira.”
Outros dois critérios imprescindíveis para uma boa compreensão da mensagem da Primeira Carta de João e, especificamente, de 1 Jo 2,29-4,6, são o contexto que envolvia as comunidades do Discípulo Amado e como buscavam vivenciar internamente projeto de Jesus Cristo ressuscitado. O contexto era tremendamente adverso: imperialismo romano que superexplorava o povo submetido ao regime de escravidão – 1/3 das pessoas de um império com 60 milhões de habitantes não eram consideradas pessoas, mas coisas/mercadorias –, contexto de violentação do povo também pela exploração tributária – quem mais pagava impostos embutidos em tudo o que se comprava eram os pobres. As instituições religiosas predominantes mais próximas das Comunidades do Discípulo Amado eram o Judaísmo rigorista, fundamentalista e moralista ou as religiões mistéricas ou as religiões imperiais, todas anticristãs. Pela utopia do reino de Deus testemunhado por Jesus Cristo e também por necessidade, as Comunidades do Discípulo Amado buscavam colocar em prática um Projeto de vida que se pautava por quatro aspectos entrelaçados: amor, justiça, solidariedade e fraternidade.
Em 1 Jo 1,1-2,28, vemos que as pessoas das Comunidades do Discípulo Amado buscavam andar na luz, porque “Deus é luz” (1 Jo 1,5). Sim, Deus é luz, mas não é só luz; Deus é também justiça. Por isso na parte de 1 Jo 2,29-4,6 vemos que andar na luz implica viver na justiça. Mas que tipo de justiça a Primeira Carta de João defende e que deve ser a bússola que nos guia? Certamente não é a justiça legalista e capitalista, nem a do mercado e nem a da meritocracia. A justiça que o Deus da vida quer inclui uma reorganização geral e profunda da sociedade onde o bem comum seja a coluna mestra. Implica também superar o sistema do capital e o capitalismo. Intuo que a música ‘Clamando pela posse da terra’, de Antônio Pereira de Almeida, o Antônio Baiano da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de Goiás, no CD Encanto pela terra, de 1999, canta o tipo de justiça do qual devemos ser construtoras e construtores. Canta Antônio Baiano assim:
“Clamando pela posse da terra, no campo milhares estão.
Esse grito está incomodando a quem sempre viveu da exploração.
O QUE POSSO FAZER? O QUE TENHO A DIZER, MEU PAI? QUE SE FAÇA JUSTIÇA, REPARTAM AS TERRAS, PARTILHEM O PÃO ENTRE NÓS FILHOS  TEUS!
Não posso mais enumerar os mártires deste país. Na roça e também na cidade,
    crueldade, correm rios de sangue.
A quem serve a lei e o poder, a polícia e a Constituição?
Assassinam sem piedade, permanecem impunes nesta nação.
Passo a passo fazemos caminho, sempre em busca de organização.
De mãos dadas sigamos em frente, formando a corrente pra libertação.”

Belo Horizonte, MG, 23/7/2019.

Obs.: Quem quiser adquirir o Livrinho Texto-base do mês da Bíblia, do CEBI-MG, de 2019 - A Comunhão entre Deus e Nós e como subtítulo Uma leitura da Primeira Carta de João feita pelo CEBI-MG - entrar em contato com CEBI-MG: Secretaria Estadual CEBI-MG
Rua da Bahia, 1148 – Edifício Maleta, Sala 1215 - Centro – Belo Horizonte/MG
CEP: 60.160-011 - Telefone: (31) 3222 1805 - E-mail : secretariado@cebimg.org.br



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.  E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br            
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sexta-feira, 19 de julho de 2019

Vozes do Quilombo Souza/Vila Teixeira/BH. Rádio Itatiaia: Frei Gilvander...



Vozes do Quilombo Souza, na Vila Teixeira, em Belo Horizonte, MG. Rádio Itatiaia: Frei Gilvander e Gláucia. DESPEJO, NÃO! - 18/7/2019.

Vozes do Quilombo Souza no Programa Chamada Geral, com Júnior Moreira, na Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, MG: Frei Gilvander Moreira, da CPT, e a quilombola Gláucia Martins. Na pauta do programa, o injusto e ilegal despejo da Comunidade Quilombola da Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, coração histórico de Belo Horizonte, para o dia 25 de julho próximo. Uma injustiça que clama ao céu!



*Áudio gravado por frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 18/7/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Quilombo Souza/BH/Vila Teixeira:Documentos comprovam propriedade/Despejo...




Quilombo Souza: Documentos comprovam direito à propriedade. RESPEITO AOS DIREITOS, SIM. DESPEJO, NÃO! - Audiência Pública ALMG - Vídeo 5 - 11/7/2019.

Dezesseis famílias, com cerca de quarenta pessoas que moram na Rua Teixeira Soares, na chamada Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, podem ser despejadas no dia 25 de julho agora (2019), atendendo a decisão judicial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A sentença judicial de desocupação está fundamentada em um processo que, na opinião de operadores do direito e outros presentes à Comissão de Direitos Humanos nessa quinta-feira,11/7/2019, está contaminado por diversas irregularidades. A situação desses moradores foi discutida na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Audiência Pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos, a pedido da deputada estadual Andreia de Jesus (PSOL). Vários integrantes das famílias, além de representantes de órgãos que lidam com a questão, participaram dessa audiência. Os moradores da Vila Teixeira se autodeclaram um Quilombo no último dia 30, o que, pode impedir a reintegração de posse, conforme o Procurador da República Dr. Hélder Magno da Silva. A proteção do Quilombo, bem como seus direitos, são garantidos pela Constituição da República e por vários tratados internacionais. A Convenção 169 da OIT da ONU, por exemplo, assegura os direitos das Comunidades Tradicionais, entre as quais estão as Comunidades Quilombolas. A lei considera que remanescentes das comunidades de quilombos são grupos étnicos-raciais com trajetória histórica própria e relações territoriais específicas. O justo, humano, ético e legal é a Comunidade Quilombola da Vila Teixeira ser, por legítimo direito, reconhecida como tal e ter garantido seu direito ao território, cujos ancestrais ali chegaram no início do século passado, inclusive sendo os quilombolas os responsáveis executores de muitas melhorias ali realizadas, como o asfalto, por exemplo. Nesse vídeo 5, a fala eloquente, emocionada, o clamor das quilombolas Gláucia, Camila e Alessandra, que, em nome das famílias do Quilombo Souza, fazem ressoar sua voz por respeito ao direito à propriedade, comprovada com documentos diversos, por respeito à sua dignidade humana, por justiça!

Comunidade Quilombola Souza, da Vila Teixeira, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, em protesto no TJMG. Crédito: Movimento Teixeira Resiste / Arquivo Pessoal.

*Vídeo original do streaming da TV Assembleia da ALMG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Apoio e divulgação: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Belo Horizonte, MG, 11/7/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

“É inadmissível despejar o Quilombo Souza, em Belo Horizonte”/Frei Gilva...



"É inadmissível fazer o despejo do Quilombo Souza, na Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, coração de Belo Horizonte", diz frei Gilvander, na Audiência Pública na ALMG - 11/7/2019 – Vídeo 6.

Dezesseis famílias, com cerca de quarenta pessoas que moram na Rua Teixeira Soares, na chamada Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, podem ser despejadas no dia 25 de julho agora (2019), atendendo a decisão judicial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A sentença judicial de desocupação está fundamentada em um processo que, na opinião de operadores do direito e outros presentes à Comissão de Direitos Humanos nessa quinta-feira,11/7/2019, está contaminado por diversas irregularidades. A situação desses moradores foi discutida na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Audiência Pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos, a pedido da deputada estadual Andreia de Jesus (PSOL). Vários integrantes das famílias, além de representantes de órgãos que lidam com a questão, participaram dessa audiência. Os moradores da Vila Teixeira se autodeclaram um Quilombo no último dia 30, o que, pode impedir a reintegração de posse, conforme o Procurador da República Dr. Hélder Magno da Silva. A proteção do Quilombo, bem como seus direitos, são garantidos pela Constituição da República e por vários tratados internacionais. A Convenção 169 da OIT da ONU, por exemplo, assegura os direitos das Comunidades Tradicionais, entre as quais estão as Comunidades Quilombolas. A lei considera que remanescentes das comunidades de quilombos são grupos étnicos-raciais com trajetória histórica própria e relações territoriais específicas. O justo, humano, ético e legal é a Comunidade Quilombola da Vila Teixeira ser, por legítimo direito, reconhecida como tal e ter garantido seu direito ao território, cujos ancestrais ali chegaram no início do século passado, inclusive sendo os quilombolas os responsáveis executores de muitas melhorias ali realizadas, como o asfalto, por exemplo. Nesse vídeo 6, Frei Gilvander, da CPT, fala do absurdo que é essa ação de despejo, clama por respeito aos direitos da Comunidade Quilombola da Vila Teixeira e lembra que só perde quem deixa de lutar ou desiste da luta.



*Vídeo original do streaming da TV Assembleia da ALMG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Apoio e divulgação: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Belo Horizonte, MG, 11/7/2019. *Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Ação contra o Quilombo Souza: Ilegalidades/Desrespeito aos direitos/Dr.J...




Quilombo Souza: Caso eivado de ilegalidades e indícios de fraude. DESPEJO, NÃO! - Dr. Joviano Mayer, na ALMG - Vídeo 4 - 11/7/2019.

Dezesseis famílias, com cerca de quarenta pessoas que moram na Rua Teixeira Soares, na chamada Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, podem ser despejadas no dia 25 de julho, atendendo a ordem do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. A sentença judicial de desocupação está fundamentada em um processo que, na opinião de operadores do direito e outros presentes à Comissão de Direitos Humanos nessa quinta-feira,11/7/2019, está contaminado por diversas irregularidades. A situação desses moradores foi discutida na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Audiência Pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos, a pedido da deputada Andreia de Jesus (PSOL). Vários integrantes das famílias, além de representantes de órgãos que lidam com a questão, participaram dessa audiência. Os moradores da Vila Teixeira se autodeclaram um Quilombo no último dia 30, o que, pode impedir a reintegração de posse, conforme o Procurador da República Dr. Hélder Magno da Silva. A proteção do Quilombo, bem como seus direitos, são garantidos pela Constituição da República. A lei considera que remanescentes das comunidades de quilombos são grupos étnicos-raciais com trajetória histórica própria e relações territoriais específicas. O justo, humano, ético e legal é a Comunidade Quilombola da Vila Teixeira ser, por legítimo direito, reconhecida como tal e ter garantido seu direito ao território, cujos ancestrais ali chegaram no início do século passado, inclusive sendo os quilombolas os responsáveis executores de muitas melhorias ali realizadas, como o asfalto, por exemplo. Nesse vídeo 4, a fala do Dr. Joviano Gabriel Maia, Advogado Popular da Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza, que aponta irregularidades no processo, indícios de fraude e exige o respeito à do direito à permanência das famílias quilombolas em seu território, na Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG.

Muro do Quilombo Souza, na Vila Teixeira, em Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, mostra a resistência. Despejo é inaceitável!

*Vídeo original do streaming da TV Assembleia da ALMG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Apoio e divulgação: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Belo Horizonte, MG, 11/7/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Irmãs Dominicanas com Opção pelos Pobres: exemplo a ser seguido.


Irmãs Dominicanas com Opção pelos Pobres: exemplo a ser seguido.
Por Gilvander Moreira[1]

Irmã Geraldinha: Bíblia na mão, evangelho de Jesus Cristo no coração, boné da luta e camiseta da paz, ao lado do rio Jequitinhonha. Mulher imprescindível na luta pela terra em Salto da Divisa. Foto: frei Gilvander
A dizimação da população indígena do Baixo Jequitinhonha, em Minas Gerais, de forma extremamente sangrenta, e a concentração da propriedade capitalista da terra geraram acumulação de riqueza e poder em poucas mãos. Isso contribuiu, de maneira estrutural para a configuração política e social da região do Baixo Jequitinhonha, conforme afirma Luís Antonio Alves: “O “vale da fartura”, rico para a agricultura, foi transformado num descampado com o mínimo de moradores para a manutenção da pecuária extensiva. Onde moravam centenas de famílias, ficou somente uma pessoa para cuidar de mais de mil bois do coronel. A expressão “vale da miséria” surgiu quando o povo foi expulso das fazendas, indo parar na cidade, sem perspectiva alguma de sobrevivência. Havia muitas promessas dos fazendeiros e políticos, mas nada aconteceu. Chegando à cidade, o povo não teve meios para sobreviver. [...]. Restou explorar o rio Jequitinhonha: a lavagem de roupa, a pesca, a extração de areia e de rochas para construção” (ALVES, 2008, p. 31).
A chegada das Irmãs Dominicanas - Irmã Solange de Fátima Damião, Irmã Teresinha de Jesus Reis, Irmã Rosa Maria Barbosa e Irmã Geraldinha (Geralda Magela da Fonseca) – em Salto da Divisa, no Baixo Jequitinhonha, se tornou um divisor de águas na história do povo da região. Por isso, conhecer um pouco da trajetória da Irmã Geraldinha e do trabalho pastoral das Irmãs Dominicanas no município de Salto da Divisa é imprescindível para se compreender a luta pela terra no Baixo Jequitinhonha.
Os fazendeiros do município de Salto da Divisa logo perceberam que a atuação pastoral das Irmãs Dominicanas iria incomodar a ordem estabelecida da região. É o que relata Alves: “Os latifundiários logo perceberam na linha pastoral das Irmãs uma ameaça ao status quo deles. Eles afirmavam que as Irmãs eram do PT e que todos deveriam ter cuidado ao se relacionar com elas. Diziam que elas estavam levando problemas para Salto da Divisa, que criariam divisão entre ricos e pobres, porque os trabalhadores passaram a exigir carteira assinada, não queriam mais votar no patrão, nem em seus candidatos. O medo dos fazendeiros se justificava pela perda do domínio sobre o povo, mas também pelas reflexões que faziam sobre a reforma agrária, fim do trabalho escravo e luta por direitos trabalhistas. A organização e conscientização passaram a ser percebidas através de vários conflitos que foram surgindo entre o povo e a elite da sociedade saltense. As domésticas começaram a reivindicar melhores salários, registro trabalhista e melhor assistência no trabalho junto à patroa. As mulheres que sofriam violência dos maridos começaram a denunciar as agressões na delegacia de polícia, o que provocou reação por parte dos maridos; muitas vezes elas foram forçadas a retirar o boletim de ocorrência. Eles diziam: “Você não vai mais para essas reuniões, pois você ficou diferente. Você não respondia para mim, e agora responde, eu batia sozinho e agora você quer bater em mim”. Irmã Rosa relata que houve muitas separações depois disso. Os trabalhadores rurais, que roçavam os pastos, descobriram que seu salário era uma miséria, e que estavam vivendo num regime de escravidão” (ALVES, 2008, p. 38).
Com 54 anos, Irmã Geraldinha, cujo nome civil é Geralda Magela da Fonseca, é freira das Irmãs Dominicanas, atua pastoralmente em Salto da Divisa desde fevereiro de 1993, na Pastoral dos Direitos Humanos, na luta por direitos ao lado das famílias atingidas pela barragem e hidrelétrica de Itapebi, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), na Pastoral da Criança e na Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Irmã Geraldinha, pilar fundamental e um dos principais segredos da perseverança dos camponeses Sem Terra na luta pela terra em Salto da Divisa. Antes de se engajar na luta pela terra, Irmã Geraldinha participou da Pastoral Carcerária em São Domingos do Prata, MG, durante dois anos. Na capital de São Paulo, ela trabalhou na Pastoral das Crianças em Situação de Rua. Irmã Geraldinha, ao ser entrevistada, recordou: “A gente ia para a rua e convidava as crianças para ir para uma casa de apoio, onde as crianças tomavam banho, recebiam café da manhã e reforço escolar.” Cerca de 700 crianças em situação de rua eram acolhidas nesses projetos na capital de São Paulo, enquanto irmã Geraldinha estava sendo presença pastoral lá.
Irmã Geraldinha relata o início do trabalho dela e de outras freiras dominicanas em Salto da Divisa: “Depois, ao chegar a Salto da Divisa, MG, no Baixo Jequitinhonha, eu comecei a ouvir muitas famílias reclamando que tinham sido expulsas da terra. Eu vi ali uma possibilidade de trabalhar na origem dos presos e das crianças em situação de rua, os que eu encontrei lá na capital de São Paulo. Começamos, por meio dos Círculos Bíblicos, a refletir sobre a situação das famílias expulsas do campo. Nas décadas de 1970 a 1990, milhares de famílias foram expulsas da terra na região do Salto da Divisa. Como ajudar esse povo a voltar às suas raízes? A gente via que as fazendas eram improdutivas e começamos a luta pela terra. Antigamente os fazendeiros proibiam ensinar a ler e a escrever. Em Salto da Divisa, de 1993 a 1998, trabalhei na Pastoral da Criança, porque tinha muita criança que morria de desnutrição. Incentivamos a plantação de hortas comunitárias e nos fundos de quintais. Na reflexão bíblica, o povo foi descobrindo os direitos que o povo tinha. A gente provocou a descoberta dos direitos sociais. Antes de ocuparmos a terra tivemos que ocupar a consciência do povo oprimido para que se reconhecesse portador de direitos. A casa do Sr. Aldemir, na cidade de Salto, até hoje não tem documento no nome dele. Primeiro, tivemos que semear a terra na cabeça das pessoas desterradas para que eles passassem a acreditar que eles tinham direito. A partir da Bíblia, levamos o povo a descobrir que a terra pertence a Deus e, portanto, a todos. Até nos bancos da igreja tinham os bancos exclusivos da família doadora, por exemplo, o coronel Zimbu. Os coronéis mandavam expulsar quem eles queriam e matar quem eles queriam. Irmã Terezinha, minha colega, trabalhou muito na construção de casas e na construção de fossas sanitárias. Isso por meio de mutirão e captando projetos de solidariedade. Um final de semana, um grupo fazia blocos de cimento e areia e outro grupo construía as casas ou reformava as casas existentes, mas em péssimas condições. A história de Salto da Divisa teve várias etapas de conscientização. Nós, irmãs, fomos acusadas de sermos comunistas. A questão da violência na cidade nos levou a criar o Grupo de Apoio e Defesa dos Direitos Humanos (GADDH), em 1997, após um homem ter assassinado uma mulher a machadada. Isso chocou o povo. Policiais da região não queriam investigar o crime, pois achavam que a culpa era da mulher assassinada. Criamos a Associação Asas da Liberdade, onde buscamos apoio em um grupo francês para fazermos reforço escolar às crianças. A Comarca da cidade de Jacinto, em 1997, não tinha juiz, nem promotor e nem defensor público. Só em Almenara. A prostituição era intensa, inclusive com meninas adolescentes. Os fazendeiros usavam a prostituição para a primeira experiência sexual de seus filhos. E depois, em 1999, o grupo integrante do GADDH abraçou a luta contra a barragem e a hidrelétrica de Itapebi. O latifúndio e o poder público municipal e o estadual estiveram o tempo todo ao lado da empresa que estava construindo a barragem de Itapebi. Até hoje a empresa tem pendências sobre a maioria das medidas compensatórias não cumpridas. As lavadeiras foram pisadas nos seus direitos de lavar roupa nas águas do rio Jequitinhonha. A barragem de Itapebi encheu dentro de um dia, quando as irmãs dominicanas estavam de férias. A empresa se desculpou dizendo que tinha chovido muito. Mentira. Há 13 anos a barragem está cheia e os direitos das lavadeiras, dos pescadores e dos extratores de areia continuam violados. O clamor por justiça continua ensurdecedor. Em Salto da Divisa os fazendeiros agem de forma orquestrada.”

Belo Horizonte, MG, 16/7/2019.

Referência.
ALVES, Luís Antonio. Ação Pastoral das Irmãs Dominicanas em Salto da Divisa, MG, de 1993-2005. (Dissertação). São Paulo: Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, 2008. Disponível em http://livros01.livrosgratis.com.br/cp080579.pdf 

Obs.: Abaixo, vídeos que versam sobre o assunto apresentado, acima.
1 - Irmã Geraldinha lutando pelos direitos dos atingidos pela barragem e hidrelétrica de Itapebi, em Salto da Divisa:



2 - Em entrevista na TV Comunitária de Belo Horizonte – www.tvcbh.com.br -, no Programa Inconfidências Mineiras, Irmã Geraldinha narra sua história de luta por Direitos Humanos no município de Salto da Divisa, MG. Veja nos seis links a seguir:












3 - Documentário da TV Canal Futura “Uma irmã, um rio e muitas terras”, que retrata a luta pela terra  empreendida pela Irmã Geraldinha no meio do povo Sem Terra, dos posseiros e atingidos pela barragem e hidrelétrica de Itapebi, em Salto da Divisa, MG.






[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB, CEBs e Movimentos Sociais Populares; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III

Grandes interesses do capital em despejar o Quilombo Souza, no Santa Ter...




Grandes interesses econômicos em despejar o Quilombo Souza, no Santa Tereza em BH? Vídeo 2. 11/7/2019.

Dezesseis famílias, com cerca de quarenta pessoas que moram na Rua Teixeira Soares, na chamada Vila Teixeira, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, podem ser despejadas no dia 25 de julho, atendendo a decisão inconstitucional e injusta do Tribunal de Justiça de Minas Gerais |(TJMG). A sentença judicial de desocupação está fundamentada em um processo que, na opinião de operadores do direito e outros presentes à Comissão de Direitos Humanos nessa quinta-feira,11/7/2019, está contaminado por diversas irregularidades. A situação desses moradores foi discutida na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Audiência Pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos, a pedido da deputada estadual Andreia de Jesus (PSOL). Vários integrantes das famílias, além de representantes de órgãos que lidam com a questão, participaram dessa audiência. Os moradores da Vila Teixeira se autodeclaram Quilombo Souza no último dia 30, o que, pode impedir a reintegração de posse, conforme o Procurador da República Dr. Hélder Magno da Silva. A proteção do Quilombo, bem como seus direitos, são garantidos pela Constituição da República e na Convenção 169 da OIT da ONU. A lei considera que remanescentes das comunidades de quilombos são grupos étnicos-raciais com trajetória histórica própria e relações territoriais específicas. O justo, humano, ético e legal é a Comunidade Quilombola Souza, da Vila Teixeira, ser, por legítimo direito, reconhecida como tal e ter garantido seu direito ao território, cujos ancestrais ali chegaram no início do século passado, inclusive sendo os quilombolas os responsáveis executores de muitas melhorias ali realizadas, como o asfalto, por exemplo. Nesse vídeo 2, frei Gilvander Moreira, da CPT, continua a entrevista com Gláucia, Gislene e Marcos, quilombolas do Quilombo Souza, na Vila Teixeira, no Bairro Santa Teresa, em Belo Horizonte. Inadmissível despejar 16 famílias tão humanas que vivem há mais de 70 anos na área, com documentos dos terrenos, inclusive. A decisão judicial precisa ser revista com urgência, pois é inconstitucional e injusta e está adoecendo as pessoas com a tensão de iminente despejo.

Gislene, do Quilombo Souza, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, enquanto era entrevistada por frei Gilvander: "Não aceitaremos o despejo. Lutaremos até o fim com todas nossas forças para honrarmos a memória do nosso bisavô Petronilho que foi escravizado e ajudou a construir Belo Horizonte e a catedral da Boa Viagem, inclusive. Foto: frei Gilvander

Filmagem e edição de Frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Belo Horizonte, MG, 11/7/2019.
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