terça-feira, 5 de março de 2019

Ka Ribas na CMI/COPAM: Não aceitamos mineração na Serra da Piedade, em C...




Ka Ribas, do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, de Brumadinho/MG, na reunião da Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do COPAM: "Não aceitamos mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG". 22/2/2019.

 Em sua intervenção na reunião da Câmara de Atividades Minerárias - CMI - do Conselho Estadual de Políticas Ambientais (COPAM), do Governo de Minas Gerais, no dia 22/2/2019, que teve na pauta a votação pela retomada da mineração na Serra da Piedade, situada nos municípios de Caeté e Sabará, dia 22/2/2019, Ka Ribas, do Movimento Águas e Serras de Casa Branco, município de Brumadinho, MG, exigiu a preservação da Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG e afirmou: “Chega de Mineração. Já matou demais!”. Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea. A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade. A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras.

Ka Ribas na Reunião da CMI/COPAM, dia 22/02/2019, repudiando projeto de mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG. Foto montagem: Nádia de Oliveira.

*Filmagem de Lúcio Guerra Júnior. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 26/1/2019.
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Jesus visita hotel de prostituição


Jesus visita hotel de prostituição
Por frei Gilvander Moreira[1]

Arte: Divulgação / redes sociais
"Quando Deus andou no mundo..!"

                               
“(...) as prostitutas vos precederão no Reino de Deus” (Mateus 21,31).
De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra / Outra realidade menos      morta / Tanta mentira, tanta força bruta…” (Música Cálice, de Chico Buarque)

Certa vez, Jesus reuniu as discípulas e os discípulos e os convidou para a missão: "Quando vocês forem anunciar a Boa Nova do Reino, não levem dinheiro nem comida, mas confiem no povo. Digam: O Reino chegou! Está chegando!'" E as discípulas e os discípulos assim foram para a missão. Maria Madalena e Jesus também foram. Andaram, andaram. Estava começando a escurecer, quando, a convite de Maria Madalena, Jesus chegou num dos “hotéis de alta rotatividade” da rua Guaicurus, no centro de Belo Horizonte, região onde se concentra o maior número de mulheres que exercem a prostituição como profissão na capital de Minas Gerais. Jesus viu prédios velhos e mal cuidados. Viu os quartos de alguns hotéis em péssimas condições sanitárias, muito pequenos, e com pouca ventilação. Alguns não tinham sequer água encanada, em outros, apenas uma pia, ou um pequeno bidê e pia.
Perspicaz e com fino faro, Jesus não viu apenas as condições físicas dos hotéis de prostituição. Jesus viu milhares de mulheres que ali tentavam ganhar o pão de cada dia, quase todas mães, filhas empobrecidas de famílias do interior e até de outros estados do Brasil. Jesus ouviu ali que certos saduceus, ricos piedosos, sem nunca ouvir as ‘mulheres da batalha’ – ‘mulheres da vida’ -, as taxavam de promíscuas, de pecadoras e libertinas. Jesus ficou indignado com esse moralismo. Jesus viu que a luz e força divina estavam presentes naquelas mulheres prostituídas, pois encontrou muita humanidade no meio delas. Jesus viu que desde muito cedo aquelas jovens tiveram de buscar meios de promover o próprio sustento. Jesus viu nelas mães, que precisaram prover os próprios filhos desde a infância. Jesus viu que todas tinham no coração um grande sonho: melhorar de vida. “Sonhamos com dias melhores”, Jesus ouviu isso de várias.
Com muito respeito, após ver e ouvir muito, Jesus começou a dialogar com as ‘mulheres da batalha’. Perguntou: “Quais os motivos que levaram vocês a abraçarem a prostituição como uma profissão?” Uma a uma, foram dizendo: falta de orientação familiar, falta de oportunidades, necessidade de luxo, ilusão, baixa escolaridade, falta de profissão, filhos para sustentar, dificuldades da vida, necessidade de comprar o amor da família etc.
Jesus viu que as ‘mulheres da batalha’ almoçavam às pressas. Caso perdessem tempo, não conseguiriam pagar a diária no fim do dia e perderiam o acesso à chave do quarto no dia seguinte, por 6 ou 8 horas. “Não repare, mas coma com a gente!”, disseram a Jesus. Enquanto almoçava com elas, Jesus arriscou perguntar: “O que causa medo em vocês?” Disseram: “Os homens violentos com seus desejos abusivos, o autoritarismo dos gerentes dos hotéis, o medo de não conseguir pagar a diária, a falta de chaves (quartos) para trabalhar, o hotel sem clientes, AIDS, drogas, a doença mental, a discriminação...”. Uma que não quis revelar o nome desabafou: “A maior tristeza da prostituta é ser discriminada. Como posso falar que sou prostituta? Muitas pessoas nos julgam sem conhecer a gente a fundo. Deus não discrimina ninguém.”
Com olhar atento, respeitoso e sentindo com o coração, Jesus percebeu que reinava ali um clima amistoso. Ele viu que a ‘zona’ permite que a mulher encontre espaços para exercer um pequeno poder e para que os homens expressem suas fragilidades. Jesus ouviu lá: “Muitos homens vêm aqui para conversar e chorar; outros se tornam “clientes fixos” e estabelecem conosco um pacto de ajuda mútua.” Jesus se comoveu ao ouvir de uma ‘mulher da batalha’: “No dia que eu estava mal, as meninas vieram conversar comigo e eu acalmei. É pior ficar sozinha nessas horas.” Jesus ouviu também ‘mulheres da vida’ falando dos seus direitos trabalhistas e previdenciários sempre negados. Jesus asseverou que o princípio da dignidade da pessoa humana implica conceder direitos trabalhistas e previdenciários também às ‘mulheres da batalha”.
Jesus viu também como uma mulher mais experiente dava dicas a uma novata. Jesus viu que elas tinham fé em Deus, na vida e sentiam-se amadas por Deus. Jesus, quando menos se esperava, se viu rodeado por muitas mulheres. Ele espontaneamente acabou dizendo: “A paz esteja com vocês. Meu Deus é o Deus de vocês. Ele é nosso pai e nos ama infinitamente. Não pune e nem castiga ninguém, mas pede conversão e perdoa. Está sempre de braços e coração aberto para acolher todas suas filhas e seus filhos. Não tenham medo! Deus está com vocês. Ama vocês.” Nesse momento, uma delas falou: "Jesus, aqui todo mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa no meio de nós!" E Jesus desapareceu fisicamente da presença delas. “Cadê Jesus que estava aqui?”, gritou uma. Outra respondeu: “Ele está dentro de nós. Está vivo em nós e no nosso meio.”
Aquelas mulheres, uma vez mais, fizeram uma profunda experiência de Deus. Aquele homem que esteve com elas, diferente de outros homens que costumam visitá-las, não veio para usá-las e explorá-las, mas demonstrou profundo amor. Amor que entra no quarto de prostituição, que rompe todos os preconceitos e discriminação e toca a essência humana. Amor que anuncia a misericórdia e denuncia as injustiças. Aquelas mulheres sentiram-se profundamente amadas por este homem que liberta com sua capacidade de sentar ao lado e afagar a vida ferida de quem espera um gesto de amor e respeito.
Ao chegar a sua casa, Jesus olhou para sua mãe Maria e disse: "Mãe, o Reino de Deus também está lá no meio das ‘mulheres da batalha’! Mas fiquei indignado com os donos dos hotéis que ganham uma montanha de dinheiro submetendo as mulheres a situações degradantes. Vou enviar minhas discípulas e meus discípulos para que revelem às ‘meninas da batalha’ o amor de Deus e exijam dos patrões e do poder público respeito e condições dignas para elas".
Nos corpos das ‘mulheres da batalha’ e nos corpos das agentes de Pastoral da Mulher Marginalizada, Jesus Cristo visita todos os dias e noites hotéis de prostituição. Agora entendo porque Jesus gostava de dizer: “As prostitutas vos precederão no Reino de Deus” (Mateus 21,31) e porque narrou no Evangelho de Mateus que somos também descendentes de prostitutas.
 Alguém extasiado pela beleza e encanto de uma poesia de Adélia Prado, disse a Adélia Prado, que acabava de fazer uma palestra: “Adélia, você é a autora dessa poesia?” A poetisa de Divinópolis divinamente respondeu: “Não. Autora é a humanidade.” Com isso Adélia queria dizer: A inspiração para essa poesia brotou em mim, mas poderia ter brotado em qualquer pessoa do presente ou do passado, daqui ou de outro lugar. Somos filhas e filhos não apenas de nossos pais e mães, mas de nossos avós, bisavós …, de todos os nossos ancestrais. Fazemos parte de uma única comunidade de vida. Somos elos vivos de uma grande teia da vida.
Com saudade de Eliseu Lopes, grande biblista do CEBI que agora vive em plenitude, partilho com vocês o que ele sabiamente nos ensinou sobre mulheres prostituídas na nossa ascendência. Com Eliseu recordamos: “Jesus de Nazaré tem linhagem. Não é qualquer um. Antes de tudo, sua árvore genealógica em que os nomes são estacas que se alinham ao longo de toda a história do povo da Bíblia, a começar por Abraão, o Pai Abraão. Para o povo da Bíblia, o notável é que as genealogias, no patriarcalismo dominante, só comportavam nomes masculinos, mas no Evangelho de Mateus (Mt 1), figuram cinco nomes de mulheres chamadas de prostitutas, que dignificam a ascendência de Jesus de Nazaré: Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias (Betsabeia) e Maria. São mulheres que ocupam um lugar importante na História do povo da Bíblia. São mulheres que se distinguiram pela coragem, pela fidelidade, pela resistência, pela criatividade e pela astúcia. 
Tamar, nora de Judá, ficou viúva e seu cunhado Onan se recusou a cumprir a lei do “levirato”, que dizia que o irmão do morto deveria assumir a viúva para dar-lhe descendência. Fiel à Lei, corajosa, criativa e astuciosa, Tamar disfarçou-se de prostituta para conseguir do sogro o seu direito, precavendo-se, com a exigência de um penhor, contra as inevitáveis consequências da gravidez (Gênesis 38).
Raab, também era considerada prostituta, acolhe na periferia da cidade de Jericó os Sem Terra espiões enviados por Josué, esconde-os para preservá-los do faro canino dos policiais, dá-lhes a fuga com as devidas instruções para escaparem ilesos e declara que o motivo de sua corajosa generosidade é sua fidelidade ao Deus de Israel. Na hora de partilhar a terra, a família de Raab ganhou um lote. Assim, a aliança dos pobres do campo com os pobres da cidade começou com uma mulher prostituída, Raab (cf. Josué 2 na Bíblia). A Bíblia faz questão de dizer que Jefté, grande juiz no meio do povo, era filho de uma prostituta (Juízes 11,1).
Rute, heroína do romance com seu nome, teve a coragem de deixar seu povo para acompanhar a sogra Noemi, num comovente testemunho de fidelidade à amiga. Teve a astúcia de conquistar as boas graças de Booz. Note-se que a história de Rute pertence à literatura de resistência à restauração implantada pelo sacerdote Esdras. Com Rute se privilegia uma estrangeira com a condição de bisavó de Davi (Rute 4,18-23).
A beleza de Betsabeia, mulher de Urias, enlouqueceu o rei Davi. Ela teve um papel saliente na sucessão de Davi e graças a ela é que o trono foi ocupado pelo seu filho Salomão. O simples fato de ser mãe de Salomão e a coragem com que enfrentou as intrigas da corte em um momento mais do que crítico, a consagram (I Reis 1).
Enfim Maria, jovem, fiel ao chamado do Deus da vida, corajosa, lutadora pela fraternidade econômica, politica, social, cultural e religiosa. A única não estrangeira, provavelmente era da estirpe de Davi, pois seu noivado com José supõe laços de parentesco. A mais jovem, talvez ainda quase adolescente, precocemente madura e lúcida. Ficou grávida ainda solteira. Teve muita coragem para enfrentar a inevitável maledicência do povo da pequena cidade de Nazaré na Palestina colonizada pelo Império Romano e pelo poder religioso do sinédrio. Com o progresso da gestação que se tornou visível, José mergulhou na angústia e caiu em um dramático dilema: denunciá-la para que fosse punida com os rigores da Lei ou abandoná-la. Ia optar pela segunda alternativa, quando um anjo do Deus da vida lhe apareceu em sonho e o tranquilizou com a revelação do mistério (Mt 1,18-25). Jesus de Nazaré é descendente de Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias (Betsabeia) e Maria, mulheres consideradas impuras, mas muito humanas.
A maior tristeza da prostituta é ser discriminada. Como posso falar que sou prostituta? Muitas pessoas nos julgam sem conhecer a gente a fundo. Deus não discrimina ninguém”, desabafam muitas ‘mulheres da batalha’. Jesus e Maria também foram discriminados. Por isso também, o Evangelho de Mateus fez questão de mostrar a presença de cinco mulheres tidas como prostitutas na história de Jesus. O povo da Bíblia viu nelas coragem, criatividade, sensatez, audácia, liberdade, disposição para a luta, muita humanidade… Isso levou Jesus a asseverar: “As prostitutas precederão vocês no reino dos céus” (Mateus 21,37).
Só podia ser Maria Madalena quem convidou Jesus para entrar em um hotel de prostituição. Apresentada como prostituta, Maria Madalena revela-se uma mulher corajosa, feminista, verdadeira discípula de Jesus e companheira fiel. E, certamente, não é por acaso que Maria Madalena é apresentada como testemunha da ressurreição e a primeira a fazer a experiência de  Jesus Ressuscitado - uma mulher considerada prostituta!  
Ainda bem que o padre André Luna nos alerta na música Seu nome é Jesus Cristo: "Seu nome é Jesus Cristo e é difamado e vive nos imundos meretrícios, mas muitos o expulsam da cidade com medo de estender a mão a ele. Entre nós está e não o conhecemos. Entre nós está e nós o desprezamos."
Enfim, como Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias (Betsabeia) e Maria há tantas mulheres que batalham, são amadas pelo Deus da vida e não podem ser discriminadas. Devem ser respeitadas na sua dignidade humana e precisamos estar ao lado delas na luta pelos seus direitos fundamentais.

Belo Horizonte, MG, 05/3/2018.

Obs.: O vídeo, abaixo, versa sobre o assunto correlato ao texto, acima.
1 - Palavra Ética, na TVC/BH: Júnia Roman Carvalho, defensora pública.





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III

domingo, 3 de março de 2019

Punição para os criminosos do crime da Vale e do Estado. Respeito à vida...



Punição para os criminosos do crime da Vale e do Estado. Respeito à vida (Frei Gilvander), em Sarzedo, MG, 04/2/2019.

Punição para os criminosos do crime da Vale e do Estado, impedimento das mineradoras, respeito à dignidade humana e de toda a natureza. É o que propõe frei Gilvander em sua intervenção na Audiência Pública em Sarzedo, MG, noite de 04/2/2019. Moradores de Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte/MG, se organizaram para cobrar que três barragens em atividade lado da cidade de Sarzedo, da mineradora Itaminas Comércio de Minérios S.A., seja retirada da cidade. Depois do crime tragédia da mineradora Vale e do Estado, ocorrido a partir de Brumadinho/MG, dia 25/1/2019, que deixou centenas de mortos, matou o Rio Paraopeba e de consequências socioambientais desastrosas e imensuráveis, os moradores de Sarzedo, MG, se preocuparam com a segurança pois há vários bairros abaixo das três barragens da Itaminas e exigiram respostas sobre a situação real das barragens e garantias para que não rompam. As comunidades localizadas logo abaixo do terreno onde ocorre a mineração correm sérios riscos com um possível rompimento dessas três barragens de rejeitos tóxicos de mineração da Itaminas. A mobilização popular dos habitantes de Sarzedo, apoiados por diversas entidades e movimentos sociais, conquistou a realização de uma audiência pública para discutir o assunto e encaminhar ações que garantam a segurança e a qualidade de vida da população. Nesse vídeo, a intervenção de frei Gilvander, da CPT, que, num pronunciamento eloquente e profético, propõe a prisão dos criminosos envolvidos no rompimento das barragens de Brumadinho e outras barragens em Minas Gerais, que também causaram mortes, devastação e desastre socioambiental; propõe também o impedimento das grandes mineradoras e o respeito à dignidade da vida humana e de toda a biodiversidade com políticas públicas voltadas para a vocação primeira de Sarzedo e outros municípios da região, que é a agricultura familiar, com preservação do meio ambiente, garantindo assim, melhor qualidade de vida. Para frei Gilvander, o único interesse dessas mineradoras é o lucro, sem nenhuma responsabilidade com a vida humana e toda biodiversidade.

Frei Gilvander Moreira, da CPT, em Audiência contra mineração em Sarzedo, MG, dia 04/02/2019. Foto: Kapua Lana Puri.

*Filmagem de Márcio Beraldo. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Sarzedo, MG, 04/2/2019.

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sábado, 2 de março de 2019

Frei Gilvander: "Mineração na Serra da Piedade/Caeté/MG, crime/pecado mo...



"Mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG, é crime e pecado mortal"- afirma frei Gilvander.

Em sua intervenção na reunião da Câmara de Atividades Minerárias - CMI - do Conselho Estadual de Políticas Ambientais (COPAM), do Governo de Minas Gerais, no dia 22/2/2019, que teve na pauta a votação pela retomada da mineração na Serra da Piedade, situada nos municípios de Caeté e Sabará, dia 22/2/2019, frei Gilvander exigiu a preservação da Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG e afirmou: “Mineração na Serra da Piedade é crime e pecado mortal!”.
Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea. A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade. A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras.

Frei Gilvander Moreira se posiciona contra mineração na Serra da
 Piedade, em Caeté e Sabará, MG.  

*Filmagem de Pedro de Philips. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 26/1/2019.
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Mineração na Serra da Piedade, Caeté, MG: mais um crime, mais uma ferida...




Mineração na Serra da Piedade, em Caeté, MG: mais um crime, mais uma ferida. Dom Walmor/BH. 23/1/2019.

O dia 22 de fevereiro de 2019 entrará para a História como o dia em que o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), do Governo de Minas Gerais, por meio da Câmara de Atividades Minerárias (CMI), autorizou mais um crime hediondo: a concessão de Licença Prévia concomitante com a Licença de Operação para a mineradora AVG Empreendimentos Minerários Ltda. minerar na Serra da Piedade com lavra a céu aberto com tratamento úmido, ou seja, crucificar no altar do ídolo mercado a Serra da Piedade, patrimônio histórico, natural e religioso de mineiros e brasileiros, sede da Basílica de Nossa Senhora da Piedade, padroeira do estado de Minas Gerais. A conselheira Teca e o conselheiro Júlio Grillo explanaram de forma bem embasada que não havia a menor possibilidade de concessão das Licenças Prévia e de Instalação, ‘por mil motivos’, entre eles o fato do IBAMA, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Conselho do Monumento Natural Estadual da Serra da Piedade não terem dado anuência.
Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea.
A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade.
A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras. A retomada da mineração na Serra da Piedade, município de Caeté, MG, abre mais um crime e mais uma ferida no coração de Minas Gerais e dos mineiros. É o que afirma Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, em um de seus pronunciamentos sobre a decisão do Governo de Minas Gerais, que, por meio da CMI/COPAM com a maioria de seus conselheiros, atendeu os interesses do capital e dos capitalistas, em detrimento da vida, da cultura, da religiosidade, da sacralidade das águas e da terra. 23/2/2019.

Veja o que a mineração já fez na encosta da Serra da Piedade. Devastou e deixou a destruição lá. Foto: Divulgação / www.luzias.com.br 

Cf. também o artigo "A Serra da Piedade gera vida; CMI/COPAM e Mineradoras, morte", de frei Gilvander, no link:


Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 26/1/2019.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

A Serra da Piedade gera vida; a CMI/COPAM e as mineradoras, morte!


A Serra da Piedade gera vida; a CMI/COPAM e as mineradoras, morte!
Por frei Gilvander Moreira[1]

Cratera de mineração que a mineradora Brumafer deixou na Serra da Piedade, em Caeté, região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Grande luta popular conquistou o fechamento da mineração na Serra da Piedade em 2005, mas dia 22/02/2019, criminosamente, a CMI/COPAM autorizou a reabertura de mineração na Serra da Piedade, uma insanidade inadmissível. Fotos: Divulgação / Movimento Serras e Águas de Minas
O dia 22 de fevereiro de 2019 entrará para a História como o dia em que o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), do Governo de Minas Gerais, por meio da Câmara de Atividades Minerárias (CMI), autorizou mais um crime hediondo: a concessão de Licença Prévia concomitante com a Licença de Operação para a mineradora AVG Empreendimentos Minerários Ltda. minerar na Serra da Piedade com lavra a céu aberto com tratamento úmido, ou seja, crucificar no altar do ídolo mercado a Serra da Piedade, patrimônio histórico, natural e religioso de mineiros e brasileiros, sede da Basílica de Nossa Senhora da Piedade, padroeira do estado de Minas Gerais. Vi e dou testemunho que, exceto Maria Teresa Corujo (Teca), representante do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (FONASC-CBH); Júlio César Dutra Grillo, representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/MG), e Adriana Alves Pereira Wilken, representante do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), os conselheiros da CMI/COPAM estão atrelados aos interesses do capital e à ganância sem fim das mineradoras. Estão surdos a todos os argumentos sensatos e chegam à reunião já para cumprir ordens dos grandes interesses econômicos para licenciar todos os projetos reivindicados pelas mineradoras. Na CMI/COPAM acontece um jogo de cartas marcadas, pois entre os doze conselheiros, apenas uma representa a sociedade civil. Nove conselheiros representam o Governo de Minas Gerais e entidades parceiras das mineradoras: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SEDECTES), Secretaria de Estado de Governo (SEGOV), Secretaria de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais (SECCRI), Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), Agência Nacional de Mineração (ANM), Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (SINDIEXTRA), Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (FEDERAMINAS) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). Com essa composição nada democrática, o resultado é sempre o mesmo: aprovam todos os projetos pleiteados pelas mineradoras que estão causando um colapso nas condições de vida do povo, dos biomas, matando os rios e espalhando terror psicológico sobre milhares de famílias que moram abaixo de barragens de lama tóxica das mineradoras. A composição da CMI/COPAM demonstra que o Estado de Minas Gerais está de mãos dadas com as grandes mineradoras, insistem em um projeto de “desenvolvimento” que na prática gera subdesenvolvimento e imensa injustiça socioambiental.

Celebração da Juventude no Santuário Basílica da Serra da Piedade, em Caeté, MG. Foto: Divulgação / Pastoral da Juventude.
No auditório que fica no mezanino da Rodoviária de Belo Horizonte, com lotação para 120 pessoas, a reunião extraordinária da CMI/COPAM aconteceu das 9 horas às 17h30. A mineradora AVG trouxe dezenas de trabalhadores que chegaram cedo e ocuparam boa parte das cadeiras disponíveis. Dezenas de pessoas das comunidades, católicos/as e aliados/as da Serra da Piedade não foram autorizadas a entrar no auditório porque boa parte já estava cheia de trabalhadores da mineradora. Estratégia sempre usada pelas grandes mineradoras: lotam as cadeiras disponíveis para dificultar ainda mais a participação popular. Também uma grande lista de empregados inscritos para falar destina-se a consumir tempo e energia dos verdadeiramente interessados em participar e contribuir. Escravos da mineração, esses trabalhadores não percebem que os poucos empregos que as mineradoras oferecem custam muito sangue, pois geram violência social, desemprego na região, prostituição, gravidez precoce, dizimam as nascentes de água e os lençóis freáticos, poluem tudo, entopem as estradas de carretas de minério que matam muita gente no trânsito e ainda geram muitos problemas de saúde pública. Enfim, deixam a terra arrasada após minerar tudo que querem. Os municípios viviam e vivem muito melhor antes da chegada das mineradoras. Com as mineradoras chega devastação socioambiental. Para manter ares de idoneidade, no início da reunião se tocou o Hino Nacional e se fez um minuto de silêncio pelos mortos pelo crime tragédia da mineradora Vale, com a cumplicidade do Estado, a partir do rompimento de barragens com lama tóxica, em Córrego do Feijão, Brumadinho, dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28.

Após justificar com uma série de argumentos sensatos, éticos, técnicos, administrativos e jurídicos, a conselheira Teca exigiu a retirada de pauta do projeto da mineradora AVG de minerar na Serra da Piedade. De forma monocrática, como foi estabelecido no regimento interno, o presidente da reunião decidiu não retirar de pauta o pedido de Licenças Prévia e de Instalação concomitantes para a mineradora AVG se instalar na Serra da Piedade e reabrir mineração na área. A conselheira Teca e o conselheiro Júlio Grillo explanaram de forma bem embasada que não havia a menor possibilidade de concessão das Licenças Prévia e de Instalação, ‘por mil motivos’, entre eles o fato do IBAMA, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Conselho do Monumento Natural Estadual da Serra da Piedade não terem dado anuência.

Cratera de mineração deixada pela mineradora Brumafer, comprada pela mineradora AVG, na Serra da Piedade, em Caeté, região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Foto: Divulgação / Movimento Serras e Águas de Minas
Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea.
A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade.


A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras.
Em 1956, o IPHAN realizou o tombamento da Serra da Piedade, todavia reconhecendo os aspectos cenográficos de todo o conjunto natural e cultural da Serra da Piedade, e a ameaça constante do desmatamento, da mineração e da degradação ambiental, decidiu-se pela necessidade primordial de expansão do tombamento federal por meio da definição de um polígono de proteção que abrangesse a antiga área federal tombada, os tombamentos estadual e municipal, que pudessem garantir a visibilidade integral do bem, incluindo sua linha de perfil, os recursos hídricos, a biodiversidade e os aspectos cênicos. Reconheceu-se assim, a conservação do importante conjunto arquitetônico do santuário do Século XVIII, cuja padroeira foi esculpida por Aleijadinho; dezenas de cavernas, sítios arqueológicos históricos, aves e plantas raras, mais de oitenta nascentes e áreas de recarga de aquíferos. A área de entorno inclui, por sua vez, as cidades históricas, e também protegidas, Sabará, Caeté e Raposos. Importante ainda destacar que a Serra da Piedade está inserida em Unidades de Conservação (Área de Proteção Ambiental - APA), Águas da Serra da Piedade, Monumento Natural Estadual Serra da Piedade (MONAE) e nas Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, integrando ainda por sua relevância o cadastro nacional dos Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil (SIGEP).
O Promotor de Justiça do Ministério Público Estadual (MP/MG), Marcos Paulo Souza Miranda, expoente no âmbito da legislação no que tange a questão do patrimônio histórico e cultural, autor de vários artigos e obras a respeito, é bastante coerente e preciso em sua assertiva, defendendo a abstenção da mineração em área tombada: “Assim, não se admite, por exemplo, exploração de recursos minerais em uma serra objeto de proteção por tombamento, pois nos termos dos art. 17 do DL n. 25/1937 é juridicamente vedado qualquer ato que implique em mutilar ou destruir a coisa tombada e as atividades minerárias são tipicamente degradantes e destrutivas” (MIRANDA, 2014, p. 98).
Frente a toda a importância da Serra da Piedade acima indicada, se conseguiu paralisar a atividade minerária há 13 anos por meio de uma Ação Civil Pública movida pelo IPHAN, Ministério Público do Estado de Minas Gerais e Ministério Público Federal e, com o objetivo de se recuperar o passivo ambiental e a cratera que a mineradora Brumafer deixou na Serra da Piedade, foi celebrado em 2012 um acordo na justiça federal.
No entanto, desde os primeiro momento do processo de licenciamento da AVG para essa recuperação, ficou claro que o objetivo da mineradora era um grande absurdo. É estranho alegar “necessidade de cumprimento de decisão judicial proferida dia 12/02/219” dentro de apenas dez dias. Alegar que para resolver o passivo ambiental é preciso minerar 100 milhões de toneladas de minério durante 15 anos é mentira ardilosa. Recuperar o passivo ambiental, sim; minerar mais, inadmissível! Além de inúmeras outras violências socioambientais, superlotar as estradas de acesso a Caeté e ao Santuário Basílica de Nossa Senhora da Piedade com mais um grande número de carretas de minério tornará impossível 500 mil romeiros e romeiras visitar o santuário anualmente sem alto risco de tragédias. Nova mineração na Serra da Piedade vai secar grandes lençóis freáticos e agudizar a crise hídrica que já está batendo às portas de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Minerar mais na Serra da Piedade irá devastar o patrimônio histórico e paisagístico da região, além de aumentar a violência socioambiental. Irá também inviabilizar a produção de agricultura familiar, hortas, apicultura, turismo religioso e ecológico. Conceder as Licenças Prévia e de Instalação para a AVG reabrir mineração na Serra da Piedade antes de completar um mês do crime tragédia da mineradora Vale é uma prova do conluio do Estado com as mineradoras, é uma imoralidade, é cuspir nos rostos das centenas de pessoas mortas e ignorar a morte do Rio Paraopeba e a punhalada que o Rio São Francisco está sofrendo com o crime tragédia da Vale e do Estado. Ah! Foi esta mesma CMI/COPAM que dia 11 de dezembro de 2018 liberou a expansão da mineração da mineradora Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG.
Durante mais de oito horas de reunião, as únicas conselheiras e conselheiro da CMI/COPAM que usaram a palavra para argumentar inúmeras vezes foram Maria Teresa Corujo (Teca), do FONASC-CBH; Júlio Grillo, do IBAMA/MG, e Adriana Alves Pereira Wilken,  do CEFET-MG. Todos os outros conselheiros da CMI/COPAM, salvo alguma palavra aqui ou ali, ficaram em silêncio o tempo todo, muitas vezes bocejando ou olhando no celular. Os argumentos apresentados durante sete horas pelas duas conselheiras acima referidas, pelo conselheiro do IBAMA e por dezenas de pessoas que falaram cada um/a, de 5 a 10 minutos, ao microfone, não foram ouvidos pelos conselheiros representantes do Governo de Minas Gerais e de entidades ligadas às grandes mineradoras que votaram a favor da reabertura de mineração na Serra da Piedade: 1) da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SEDECTES); 2) da Secretaria de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais do Governo de Minas Gerais (SECCRI); 3) da Secretaria de Estado de Governo (SEGOV); 4) do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM); 5) do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais  (SINDIEXTRA), 6) da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (FEDERAMINAS); e 7) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (CREA-MG). Votaram contra reabrir mineração na Serra da Piedade: Teca, do FONASC-CBH; Júlio Grillo, do IBAMA/MG; e Adriana, do CEFE/MG. Abstiveram-se os conselheiros da ANM (Agência Nacional de mineração) e da CODEMIG. Assim, com sete votos favoráveis, as Licenças Prévia e de Instalação foram concedidas à mineradora AVG para reabrir mineração na Serra do Piedade, em Caeté: mais um crime hediondo e socioambiental autorizado pelo Estado de Minas Gerais em conluio com os megainteresses econômicos das grandes mineradoras que só sabem servir ao ídolo mercado e, como dragão do Apocalipse, deixar um rastro imenso de devastação socioambiental. Enfim, perdemos mais uma batalha, mas não perderemos essa luta necessária, justa e legítima que é salvar a Serra da Piedade da ganância dos capitalistas. Conclamamos todas as pessoas de boa vontade e as forças vivas da sociedade a se somarem na luta pela anulação dessa decisão injusta, inconstitucional e imoral da CMI/COPAM.

Belo Horizonte, MG, 26 de fevereiro de 2019.

Referência Bibliográfica.

MIRANDA, m. p. s. Lei do Tombamento Comentada. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2014. v. 1. 284p.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.

1 - Mineração na Serra da Piedade, Caeté, MG: mais um crime, mais uma ferida. Dom Walmor/BH. 23/1/2019.




2 - Serra da Piedade - 25 de fevereiro de 2019



3 - CRIME DA VALE/ESTADO EM BRUMADINHO/MG: IRRESPONSABILIDADE/Prof.Klemens/Profa. Andréa Zhouri/26/1/19



4 - Rompimento de barragens: Falha da governança ambiental/Profa. Andréa Zhouri/UFMG/26/1/2019



5 - “Licenciamento ambiental decente é necessário”/Professor Dr. Klemens/UFMG/ Vídeo 2 – 26/1/2019.


6 - Estado de MG a serviço das mineradoras/Prof. Dr. Klemens/UFMG/Vídeo 1 - 26/1/2019.



 Fotos, abaixo: frei Gilvander Moreira.















[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III

CRIME DA VALE/ESTADO EM BRUMADINHO/MG: IRRESPONSABILIDADE/Prof.Klemens/P...



Irresponsabilidade, arrogância técnica e desvalor das vidas marcam crime da VALE, com autorização do Estado, em Brumadinho/MG. Final da entrevista com Prof. Dr. Klemens e Profa. Dra. Andréa Zhouri, da UFMG. 26/1/2019.

Em entrevista a frei Gilvander, da CPT, o professor Dr. Klemens e a professora Dra. Andréa Zhouri, ambos do GESTA (Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais) da UFMG, comentam sobre as negligências nas análises dos processos de licenciamento ambiental no Estado de Minas Gerais, que, via de regra acontecem, com os “malabarismos” burocráticos para acelerar a concessão do licenciamento, além de total desrespeito com as questões socioambientais, com a vida para atender exclusivamente os interesses econômicos, os interesses do mercado, a fúria gananciosa das mineradas, apoiadas, descaradamente, pelo Estado. Nesse vídeo final da entrevista, gravado por frei Gilvander, o professor Dr. Klemens e a professora Dra. Andréa, falam de suas expectativas e pequenas esperanças após o crime hediondo praticado pela Vale, com licença do Estado, a partir das 12h28 do dia 25/1/2019, em Brumadinho/MG. Para Klemens e Andréa, é fundamental que o Estado, conselheiros e a sociedade em geral, sejam capazes de aprender com essa tragédia e suas gravíssimas consequências e cuidem melhor do meio ambiente, respeitando assim a dignidade da vida, em toda sua biodiversidade.

Professora Dra. Andréa Zhouri em entrevista a frei Gilvander sobre o Crime Tragédia da Vale e do Estado, a partir de Brumadinho, dia 25/01/2019, às 12h28.

Filmagem e condução da entrevista: frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 26/1/2019.

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