quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Carta-memória do LESTÃO das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base).

Carta-memória do LESTÃO das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base).

               Queridas Irmãs e Irmãos Romeiras e  Romeiros do Reino do Campo e da Cidade, CEBs na caminhada profética de luta por Justiça,
                Em nome da Trindade santa, a melhor comunidade, mistério de amor infinito, embaladas/os neste sonho que se tornou realidade - o LESTÃO das CEBs -, Encontro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de Minas Gerais e Rio de Janeiro, saudamos vocês com muito carinho.   Nos dias 04, 05 e 06 de outubro de 2013, representantes das CEBs dos regionais Leste 1 e 2 se reuniram no Seminário Dom Orione,  na Arquidiocese de Juiz Fora, MG.  
                As/os 250 representantes das CEBs de MG e do RJ  foram recebidas/os  ao som dos seus tradicionais hinos, onde os símbolos de cada Estado foram dando vida ao Caldeirão (Grande Plenária).  Na primeira noite, inspirada por São Francisco de Assis, o pastor que nos acolheu,  o arcebispo dom Gil Moreira, destacou três pilares da virtude cristã:  humildade, pobreza voluntária e respeito.  A partilha aconteceu com as comidas típicas mineiras:  rapadura, broa, pão de queijo, marmelada e goiabada.
              No sábado, iniciamos o dia com uma inspiradora e questionadora celebração dos Mártires da Caminhada. Fizemos a memória dos mártires de ontem e de hoje de todas as religiões, na certeza que estes não foram enterrados, mais sim, plantados como sementes do Reino para a construção de uma Igreja - e sociedade - libertadora e profética.  "São os que vêm chegando da grande tribulação. Eles lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do cordeiro", nos alerta Apocalipse 7,14. E nós onde temos lavado as nossas vestes? Que identidade temos revelado através do nosso modo de ser e de agir?
             No Caldeirão, aprofundando o tema "Justiça e Profecia a serviço da vida", padre Nelito Dornelas  destacou: "Deus é justiça e cria a justiça, sendo que a justiça é graça, fundamento de uma nova ordem e de um novo mundo possível".  A profecia é o caminho para a conquista da justiça.  O assessor das CEBs junto a CNBB, Sérgio Coutinho, inspirando-se nas narrativas proféticas bíblicas, nos apresentou a tensão existente entre o Deus que caminha com o povo camponês, com profetas e profetisas VERSUS o Deus do Templo e do Palácio, com sacerdotes, reis e doutores da lei. Jesus enfrentou a teologia do Templo e segue o exemplo das profetisas e profetas. Por isso foi perseguido. Logo, vimos que a profecia requer memória: "Recordem que vocês foram escravos no Egito. E agora vocês querem escravizar!?” (Mais de 100 vezes em Deuteronômio)"; Denúncia: "Vocês esfolam o povo!" (Miq 3,1-3); E anúncio da Boa Nova: "Eis que vou criar um novo céu e uma nova terra." (Is 65,17-25)
         Após a exposição dos assessores, fomos para os Ranchos (Mini Plenárias), com quatro temáticas diferentes: 1) CEBs no Campo e na cidade; 2) CEBs e Compromisso missionário;  3) CEBs e o Protagonismo da juventude; 4)  CEBs e sua  vocação profética.
A reflexão dos Ranchos continuou em pequenos grupos (Chapéus)[1].
Em "CEBs no Campo e na cidade" vimos que há uma tensão entre os estilos de vida do Campo e da Cidade, sendo que a cultura urbana tem sido hegemônica e opressora. Os camponeses têm muito a nos ensinar. A base da experiência bíblica é a vida camponesa. Só evitaremos o caos do "apocalipse ecológico" (aquecimento global) caso resgatemos os modos de vida das populações tradicionais - ribeirinhos, indígenas, quilombolas, Geraizeiros, quebradeiras de coco, vazanteiros, camponeses, enfim. Vida simples, austera, comunitária, ajuda mútua e relação fraterna com a natureza. Eis o farol.
Em "CEBs e Compromisso missionário" vimos que missão não é apenas missão ad gentes, mas é se comprometer com os clamores das ruas. Sentimo-nos confirmadas/os pelo papa Francisco que convidou a Igreja “para sair de si mesma, em direção à periferia, a dar testemunho do evangelho e a encontrar-se com os demais." Francisco profetizou: "Prefiro uma Igreja acidentada, a doente por fechar-se.” Com o papa criticamos as “estruturas caducas” que “não nos fazem livres, mas escravos."
Em "CEBs e o Protagonismo da juventude" três perguntas guiaram nossa reflexão: a) Em que medida os jovens participam das CEBs? b) Quais as razões para uma participação reduzida dos jovens? c) Como favorecer uma presença mais significativa de jovens nas CEBs? Vimos a necessidade de acolher o protagonismo dos jovens nas CEBs (II e III Conferências do CELAM, Medelín e Puebla: Opção pelos pobres e pelos jovens), não somente como quantidade, mas principalmente como qualidade eclesial disposta a acompanhar as mudanças e enfrentar os desafios das nossas comunidades com suas vivências e experiências diferentes. É preciso abrir-nos às realidades diversas e criar espaços para os jovens falarem, se manifestarem e principalmente serem ouvidos.
Bem como ajudar nossos jovens a conhecerem e se integrarem na história e memória das CEBs, flexibilizando atitudes e estruturas para caminhar juntos e fazer das CEBs um lugar da juventude.
Em "CEBs e sua vocação profética" vimos que é urgente resgatarmos a dimensão profética da vida cristã. Construirmos comunidades proféticas e não apenas pessoas proféticas. "Se calarem a voz dos profetas, as pedras gritarão ..." (Lc 19,40). "Eu só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente ..." (Mercedes Sosa). Reafirmamos o nosso compromisso com aquelas e aqueles que lutam pela justiça, nas CEBs ou fora das CEBs: Pastorais Sociais (CPT, CIMI, Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, Pastoral da Sobriedade, Pastoral das Favelas, Pastoral dos Migrantes, Pastoral Afro-brasileira, Pastoral Carcerária, Pastoral dos Direitos Humanos, dentre outras) e Movimentos sociais populares, tais como, o MST, o Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimentos socioambientais, Movimento Negro e quilombolas, Movimento de Mulheres, CEBI, Movimento do Povo de Rua, Movimento dos Sem Teto, Movimento dos povos indígenas, Movimento Candelária Nunca Mais, Mães dos jovens vítimas pela violência, Campanha contra o extermínio dos jovens, Movimentos dos professoras/res que lutam por uma educação pública de qualidade etc.
Sábado à noite uma aconchegante Noite Cultural alegrou a todas e todos. Forró, samba e piadas! Que beleza! Foi humanizador também a convivência com famílias de três paróquias que, de braços abertos e coração bondoso, acolheram todas/os as/os 250 participantes em suas casas.
Na celebração eucarística de domingo alimentamos nossa dimensão espiritual.
Sob a liderança do Grupo de Animação, no encanto das músicas com espiritualidade libertadora, sentimos a presença viva dos artistas da caminhada, sobretudo do cantor e compositor José Martins, de saudosa memória.
Agradecemos de coração a todas as pessoas que não mediram esforços na preparação do LESTÃO das CEBs. Nossa eterna gratidão às famílias que nos acolheram em seus lares. Aos padres Orionitas nosso obrigado por terem cedido o espaço e nos acolhido fraternalmente.
Sentimos a ausência das irmãs e irmãos das CEBs do Estado de Espírito Santo que, infelizmente, não puderam vir participar conosco. Às CEBs do Espírito Santo, palco dos dois primeiros intereclesiais (1975 e 1976), devemos muito.
Na esperança de realizarmos um Intereclesial do LESTÃO (MG, RJ e ES), caminhamos rumo ao 13o Intereclesial em Juazeiro do Norte e Crato, no Ceará, de 7 a 11 de Janeiro de 2014, com as bênçãos do Padre Ibiapina, Padre Cícero, beata Maria de Araújo, beato José Lourenço, padre José Comblin e N. Sra. das Dores. Seguimos na caminhada profética lutando por justiça a serviço da vida.

Juiz de Fora, MG, 4 a 6 de outubro de 2013.



[1] Usamos na organização do Encontro os símbolos que serão vivenciados no 13o Intereclesial das CEBs em Juazeiro do Norte e Crato, CE: Caldeirão diz respeito à comunidade de resistência liderada pelo beato José Lourenço. Ranchos são os lugares onde os Romeiros/as do padre Cícero se hospedam durante os dias de romaria. Chapéu é um símbolo forte dos/as romeiras de Juazeiro do Norte.

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