sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Diocese de Ruy Barbosa, BA: Carta ao Povo de Deus sobre as Eleições de 2018.

Diocese de Ruy Barbosa, BA: Carta ao Povo de Deus sobre as Eleições de 2018.
Dom André de Vitte, bispo da diocese de Ruy Barbosa, na Bahia, e Presidente Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Nossa solidariedade ao Bispo de Ruy Barbosa, BA, Dom André de Vitte, presidente Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que, depois de tornar público a Carta da Diocese de Ruy Barbosa ao Povo de Deus, vem sofrendo agressões nas redes sociais por grupos de eleitores do candidato Jair Bolsonaro, do PSL.
Veja a carta, abaixo.
Diocese de Ruy Barbosa, BA: Carta ao Povo de Deus sobre as Eleições de 2018.
“Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores para privar os pobres dos seus direitos e da justiça” (Isaías 10, 1).
Caros irmãos e irmãs,
O ano eleitoral representa um especial desafio à nossa rede de comunidades. A esse desafio, a Igreja nos convida a dar respostas à luz da nossa fé cristã. Cada pessoa é convidada a exercer o seu direito e a cumprir o dever de dar o seu voto consciente. A Igreja não se sobrepõe à consciência de nenhuma pessoa, mas oferece critérios para o necessário discernimento nesse ano eleitoral.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou vários documentos sobre o ano eleitoral. Entre eles destacamos a CARTA DO FÓRUM NACIONAL DAS PASTORAIS SOCIAIS, SETOR DA MOBILIDADE HUMANA E ORGANISMOS  – http://www.cnbb.org.br/carta-do-forum-das-pastorais-sociais-setor-de-mobilidade-humana-e-organismos-da-cnbb/  – e a Mensagem da CNBB para 07 de setembro: A FORÇA TRANSFORMADORA DE UM POVO – http://www.cnbb.org.br/wp-content/uploads/sites/32/2018/09/Mensagem-7-de-setembro-A-for%C3%A7a-transformadora-de-um-Povo.pdf– .
Com base nesses Documentos, trazemos aqui algumas orientações para um bom exercício da cidadania, à luz da Doutrina Social da Igreja:
3 – Apoiar candidaturas que tenham uma trajetória de compromisso com as lutas por direitos do povo, propostas que apontem para a inclusão social das pessoas mais vulneráveis, pobres e excluídas; priorizem a defesa da vida humana, em todas as suas etapas, e da mãe-natureza; lutem pela igualdade de direitos entre homens e mulheres; defendam os direitos humanos, principalmente das crianças, dos adolescentes, dos jovens, das pessoas idosas e dos encarcerados; lutem pelo reconhecimento dos territórios dos Povos Indígenas, quilombolas, ciganos e comunidades tradicionais; tenham compromisso com a Reforma Agrária, habitação popular e com os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
4 – Conhecer as propostas dos partidos e verificar se correspondem à visão de bem comum coerente com os valores do Evangelho.
5- Verificar se os candidatos têm clareza acerca do cargo que ocuparão e de suas funções.
6- Verificar se os candidatos estão mais preocupados com um bom marketing de sua imagem na campanha ou em apresentar propostas realistas para os grandes problemas sociais do país.
Nas eleições de outubro, devemos avaliar com seriedade cada candidato, cada candidata, suas promessas, sua campanha, as alianças de seu partido e sua atuação política passada. “O bem maior do País, para além das ideologias e interesses particulares, deve conduzir a consciência e o coração tanto de candidatos, quanto de eleitores” (CNBB, Eleições 2018: Compromisso e Esperança). Precisamos ter cuidado na escolha dos senadores e deputados, que constituem o Poder Legislativo. No Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas é que se votam as leis que podem ajudar ou prejudicar o povo. Anular o voto ou votar em branco favorece o pior político, enfraquece a democracia e põe em risco a oportunidade de purificar a política. A cidadania, no entanto, não se esgota no voto. É preciso continuar acompanhando os eleitos, cobrando-lhes o cumprimento de seu dever de servir o povo, através de conselhos municipais e fóruns de cidadania, entre outros.
O Papa Francisco afirma: “Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum. ”
Que Santo Antônio e nossa Mãe Aparecida intercedam junto à Trindade Santa, pelo povo brasileiro, para que possamos resgatar a democracia, vencer a tentação da intolerância e dialogar sempre para anunciar o Reino de Deus, sendo “sal da terra e luz do mundo”.
Assina essa Nota Pública:
CONSELHO DIOCESANO DE PASTORAL
DOM ANDRÉ DE WITTE
Bispo Diocesano da Diocese de Ruy Barbosa – BA – Regional Nordeste II da CNBB

Nota de apoio aos Direitos de Carroceiros/as e Cavalos de Belo Horizonte e Região Metropolitana!

Nota de apoio aos Direitos de Carroceiros/as e Cavalos de Belo Horizonte e Região Metropolitana!

Manifestação de Carroceiros e Carroceiras em Belo Horizonte, MG, contra o PL 142.

Mais uma vez, estamos na defesa dos direitos dos/as carroceiros/as e cavalos de Belo Horizonte, MG! Dia 11 de setembro de 2018 houve tentativa de votar na câmara de vereadores de Belo Horizonte o Projeto de Lei 142/2017, que pretende acabar com o ofício dos carroceiros na cidade. Com a presença dos Carroceiros e Carroceiras em luta contra esse injusto projeto, a sessão foi suspensa. Apresentado pelo vereador Osvaldo Lopes (PHS) e apoiado por parte do movimento em defesa dos direitos animais, o projeto é um grave ataque ao direito e à vida dos mais de 8000 carroceiros e carroceiras da capital mineira.
Os carroceiros e carroceiras fazem parte da história e da vida da cidade de Belo Horizonte. Além de fonte de renda, o trabalho dos/as carroceiros/as é também um modo de vida, uma forma de habitar e produzir a cidade. Os carroceiros e as carrocerias são detentores de saberes tradicionais que compõem o patrimônio cultural das cidades. Foi a partir do trabalho na carroça junto com seus companheiros, os cavalos, que gerações de carroceiros construíram suas vidas, educaram seus filhos, construíram suas casas e contribuíram para que a cidade chegasse até aqui. Negar o direito ao trabalho aos carroceiros é negar parte importante de nossa própria história e negar os direitos de um Povo Tradicional que são os carroceiros e as carroceiras. Cumpre lembrar que a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da ONU, assegura a todos os Povos Tradicionais o direito de se autodefinir como Povo Tradicional e o direito de ter todos seus direitos assegurados pelo Estado.
Uma das principais alegações daqueles que defendem o PL 142/20117 é a eventual existência de maus tratos contra os animais. No entanto, os próprios carroceiros sabem da importância do cuidado e do amor aos animais, já que é com eles que ganham o pão de cada dia. Outros ainda dizem que, mesmo que não haja maus tratos, o trabalho na carroça é uma forma de exploração dos animais. Isso demonstra o caráter classista e etnocêntrico do projeto, já que pretende proibir apenas os carroceiros de trabalhar com seus cavalos, sem dizer uma só palavra sobre os cavalos de haras, fazendas ou mesmo aquele utilizados pela cavalaria da polícia militar. Para os carroceiros, os cavalos não são simples objetos que podem ser substituídos por motos adaptadas ou qualquer outra máquina. Estaria o PL 142/2017 atendendo aos interesses da grandes empresas produtoras e vendedoras de motos? Entre os carroceiros e cavalos as relações são de afeto e cuidado e não relações de mercado.
É importante que todos saibam que os carroceiros e carroceiras estão organizados e na luta por seus direitos. Nos últimos meses diversas reuniões foram realizadas com a prefeitura de Belo Horizonte para a discussão e revisão da portaria conjunta que regulamenta o trabalho dos carroceiros no município de Belo Horizonte. Entre as principais demandas dos carroceiros e das carroceiras está justamente a fiscalização para que haja coibição de maus tratos e a garantia dos direitos dos animais.
A luta dos carroceiros e carroceiras é pelos direitos humanos e animais. E não estamos sós. Diversas pessoas, movimentos, organizações e universidades estão junto conosco nessa luta. O direito ao trabalho nas carroças é parte do direito a uma cidade plural que sabe acolher e respeitar todas as formas de cultura e natureza que nela habitam. Por isso, pedimos o arquivamento do PL 142/2017 e o fortalecimento de políticas públicas que garantam os direitos e a dignidade de carroceiros/as e cavalos.

Na luta, seguimos gritando: “A Cidade é Nossa Roça! Nossa Luta é Na Carroça!”
Assinam essa Nota Pública:
ACCBM – Associação dos Carroceiros e Carroceiras Unidos de Belo Horizonte e Região Metropolitana
Associação dos Carroceiros e Charreteiros das Regiões Norte, Venda Nova e Pampulha
Associação dos Carroceiros de Contagem
Associação dos Carroceiros da Vila São José
Kaipora – Laboratório de Estudos Bioculturais (UEMG)
GESTA – Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (UFMG)
GEPTT – Grupo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Tecnologias (CEFET – MG)
NIISA – Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental (UNIMONTES)
NuQ – Núcleo de Estudos em Comunidades Quilombolas e Tradicionais (UFMG)
CEDEFES – Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva
MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
AMAU – Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana
Associação Amanu – Educação, Ecologia e Solidariedade
Grupo Aroeira – Agroecologia Urbana
MNCR – Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis
REDESOL – Cooperativa Central Rede Solidária de Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Minas Gerais
Associação Mãos Amigas dos Catadores de Materiais Recicláveis de Sabará
Coletivo de Agroecologia do Aglomerado Cabana
COMARB – Associação dos Trabalhadores com Materiais Recicláveis de Baldim
UNICICLA – Associação dos Catadores de Material Reciclável de Nova União
CPT/MG – Comissão Pastoral da Terra – MG
Instituto Guaicuy SOS Rio das Velhas
Projeto Manuelzão (UFMG)
RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares
Eis, abaixo, algumas fotografia os Carroceiras e Carroceiras de Belo Horizonte em luta pelos seus sagrados direitos.
Eis, abaixo, Vídeos que atestam a legitimidade da luta dos Carroceiros e Carroceiras. Se gostar, compartilhe.
1 – Carroceiros e carroceiras de BH/MG: Respeito à cultura, direito ao trabalho. 1ª Parte. 07/7/2018.
2 – Carroceiros/as de BH/MG: Cuidado com o meio ambiente e respeito aos animais/2ª Parte/ 07/7/2018.
3 – Carroceiros/as, cavalos e éguas em BH/MG: dignidade e sobrevivência, 3ª Parte. 07/7/2018.
4 – Luta dos/das carroceiros/as pelo direito de trabalhar com cavalos e éguas/BH/MG. 4ª Parte/07/7/2018.
5 – Luta dos carroceiros/as e cavalos em BH/MG: pelo direito de existir na cidade/5ª Parte/07/7/2018.
6 – Luta de carroceiros/as de BH/MG: Trabalho e respeito aos cavalos e éguas. 6ª Parte. 07/7/2018.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Vida em primeiro lugar!/24º Grito dos Excluídos/BH/MG - 2ª Parte - 07/9/...



Vida em primeiro lugar! – XXIV Grito dos Excluídos/BH/MG - 2ª Parte - 07/9/2018.

Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, realizou, com grande participação popular, o 24º Grito dos Excluídos. “Vida em primeiro lugar! Desigualdade gera violência: basta de privilégios!” Milhares de pessoas fizeram ressoar esse grito pelas ruas da capital mineira. É o grito contra a violação da democracia e dos direitos fundamentais, em consequência do golpe em curso, que fere a vida e a dignidade do povo brasileiro. Um grito contra as medidas politiqueiras criminosas de austeridade que só fazem aumentar a desigualdade social e, por consequência, a violência social. O momento é preocupante, é crítico, e só a mobilização popular, consciente e responsável, pode frear essa tentativa de avanço das forças do capital e dos capitalistas, que defendem privilégios, oprimem, excluem, matam, querem se apoderar das terras, das águas e gerar cada vez mais riqueza para poucos à custa de mais pobreza para muitos. Só a mobilização popular pode dar rumo novo a essa história e construir uma nova sociedade fundamentada na justiça social, a serviço da vida com dignidade para todas e todos. 

Grito dos Excluídos em Belo Horizonte, MG, dia 07/9/2018. 
Foto: Pedro Ângelo/G1.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. 2ª Parte. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 07/9/2018.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

XXI Romaria das Águas e daTerra/MG/Frei GIlvander na Rádio TropicalFM/La...



XXI Romaria das Águas e da Terra de MG: frei Gilvander na Rádio Tropical FM 89,9, em Lagoa da Prata/MG. 12/9/2018.

Registro em áudio da entrevista ao vivo de Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI, à Rádio Tropical FM – 89,9, de Lagoa da Prata/MG, Programa “Pra ser feliz”, na Semana de Missões em preparação à XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, cuja culminância acontecerá dia 16/9/2018, em Lagoa da Prata, Diocese de Luz/MG.


*Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG.

* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.




terça-feira, 18 de setembro de 2018

Pesquisa e ciência neutras?


Pesquisa e ciência neutras?
Por Gilvander Moreira[1]


Fez parte da dominação imperialista a afirmação de uma ciência neutra, pura, apolítica, pretensamente objetiva, portadora de uma verdade única e universal e não comprometida com a causa das classes (super)exploradas. Afirmar a neutralidade da ciência é uma forma de tergiversar sobre o compromisso conservador que as universidades via de regra têm. Assim, muitas vezes, pesquisa-se para manter e reproduzir o sistema estabelecido opressor. Entretanto, “com o marxismo, começou a batalha pelo desmascaramento do discurso pretensamente neutro e objetivo presente no positivismo e no empirismo lógico, e mesmo no historicismo” (OLIVEIRA, 2004, p. 33). E a partir da década de 1980, “os cientistas sociais se veem na contingência de tomar partido, de colocarem com urgência a que interesses sociais e políticos servem. Como nos tempos de Hitler, os cientistas que guardam silêncio ou pretendem ser neutros estão, na prática, tão comprometidos com as atrocidades do sistema vigente como aqueles que o fazem conscientemente” (BONILLA et al., 1987, p. 135).
No contexto dos Anos de Chumbo, no Brasil, de 1964 a 1979, a partir dos militantes que resistem às investidas do capitalismo, surgem os conceitos de “compromisso”, de “inserção”, junto às classes oprimidas pesquisando e somando forças nas suas lutas emancipatórias. “A inserção, como técnica, incorpora o investigador aos grupos populares, não mais de acordo com a antiga relação exploradora de “sujeito e objeto”, mas valorizando a parcela de contribuição dos grupos quanto à informação e interpretação, bem como seu direito ao uso dos dados e de outros elementos adquiridos na investigação” (BONILLA et al., 1987, p. 138).
Uma das raízes da pesquisa participativa está na ideia de compromisso – uma questão ética - com as classes oprimidas na luta coletiva para superar de forma justa seus problemas – injustiças perpetradas pelo capitalismo ao (super)explorar a classe trabalhadora e também o campesinato pela extração ampliada de mais-valia. Com opção de classe busca-se compreender os problemas para resolvê-los de forma emancipatória. Esse compromisso com a opção pelos pobres levou muitos intelectuais que pouco leram Marx a desenvolver metodologias semelhantes às dele. Citamos como exemplo, Paulo Freire, o biblista Carlos Mesters e o sociólogo Orlando Fals Borda.
Mesmo que seja analfabeto e não tenha conhecimento formal erudito, ninguém é ignorante, pois nas relações humanas se ensina e se aprende. Toda pessoa camponesa injustiçada, mas de pé na luta coletiva, “é dona de uma rica experiência de luta, conhece inúmeros modos e maneiras de aprender, sobreviver e se defender; participa amiúde de uma memória coletiva, que forma uma base ideológica e cultural respeitável e, portanto, compreende que qualquer passo adiante que se pretenda dar deve estar afiançado por este conhecimento já existente” (BONILLA et al., 1987, p. 146).
A pesquisa participante não é um instrumental pronto e acabado, precisa ser repensada permanentemente, sempre em busca de emancipação humana, mas ela nunca reivindicará uma pretensa neutralidade científica e política. “A pesquisa participante se situa entre as correntes das ciências sociais que rejeitam a chamada neutralidade científica e partem do princípio de que a investigação deve servir a determinados setores sociais, buscando uma resposta coerente que permita, por um lado, socializar o conhecimento e, por outro, democratizar os processos de investigação e educação” (GIANOTTEN; WIT, 1987, p. 158).
Qualquer atividade humana, até uma pesquisa caracterizada como estritamente acadêmica, por ser intervenção na realidade, transforma a realidade de alguma forma, seja para emancipar ou para reproduzir relações materiais objetivas de desigualdade. A questão não é em si buscar transformar a realidade, mas com que objetivo, com qual utopia e como. Não podemos recair em cientificismo, nem em dualismos, nem em dicotomias, nem em academicismo, nem em sacralização do senso comum, que é ambíguo, muitas vezes contraditório, e diferente de bom-senso. Não recair também nem em romantismo ou basismo, que é o “que sustenta que o povo tem todas as respostas porque dispõe do verdadeiro conhecimento, sacralizando assim o poder popular” (GIANOTTEN; WIT, 1987, p. 164). Nas entranhas de um contexto de crise teórica e de avanço das forças do capital, a pesquisa participante nasceu fora da universidade, melhor dizendo, “quase sempre à margem das universidades e de seu universo científico” (BRANDÃO; STRECK, 2006, p. 29). Na pesquisa participante exige-se relação de confiança entre sujeito pesquisador e o sujeito pesquisado. Da pesquisa participante faz parte a copesquisa, segundo a qual “teoria e prática se distinguem, mas não se separam. Não há teoria que não esteja nutrida de práticas, nem prática que não seja animada por teorias. É caso de perceber os atravessamentos. A prática eficaz pode ajudar a mobilizar teorias até então infecundas, tanto quanto uma boa teoria pode desbloquear práticas ineficazes. Uma prática pura é tão impossível quanto uma teoria pura. Erros simétricos: voluntarismo e intelectualismo. Teoria e prática que não se percebem entre si significam teoria ruim e prática ineficaz” (CAVA, no artigo Copesquisa, 2012, na internet).[2]
A copesquisa se faz “entre sujeitos abertos à mudança de perspectiva. Nesse sentido, ela é perspectivista. O portador do método dispara uma perspectiva de emancipação. À tendência descritiva ou sociológica, tem-se uma tendência política voltada à ruptura” (CAVA, 2012, na internet).[3] Queremos, sim, ruptura com o latifúndio – território acima de 15 módulos fiscais -, essa arma mortífera nas mãos dos quem detêm a propriedade capitalista da terra e, por isso, pela renda da terra violenta o campesinato e também a classe trabalhadora na cidade. Copesquisa é pesquisa das lutas na luta, pesquisa militante onde os saberes são vivos, porque sustentam processos emancipatórios que se dão na constituição de subjetividades revolucionárias. O que interessa é a materialidade da luta pela terra. Por exemplo, a contradição latifundiário versus camponês, acontece não por má intenção, mas por controlar a propriedade capitalista da terra - um dos meios de produção, - o latifundiário explora expropriando o camponês, por causa de condições históricas materiais que são forjadas a partir do momento que uns são proprietários e a maioria das pessoas, não.

Referências.
BONILLA, Victor Daniel. CASTILLO, Gonzalo; BORDA, Orlando Fals; LIBREROS, Augusto. Causa popular, ciência popular: uma metodologia do conhecimento científico através da ação. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Repensando a pesquisa participante. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1987.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues; STRECK, Danilo R. (Org.). Pesquisa participante: o saber da partilha. 2ª edição. Aparecida/SP: Ideias & Letras, 2006.
GIANOTTEN, Vera; WIT, Ton de. Pesquisa participante em um contexto de economia camponesa. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Repensando a pesquisa participante. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1987.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia Agrária: perspectivas no início do século XXI. In: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de; MARQUES, Marta Inez Medeiros (Orgs. ). O Campo no século XXI: território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela e Paz e Terra, p. 29-70, 2004.

Belo Horizonte, MG, 11/9/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1     - 24º Grito dos Excluídos em Belo Horizonte/MG - 1ª Parte - 07/9/2018.



2     - Vida em primeiro lugar/24º Grito dos Excluídos/BH/MG - 2ª Parte - 07/9/2018.



3 - Incêndio/Museu Nacional/RJ: Descaso com a história/Dra. Alenice/Merong e Marinalva, Kamakã/03/9/2018.





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. 
www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III

[3] Ibidem.


As condições reais de vida determinam a consciência


As condições reais de vida determinam a consciência
Por Gilvander Moreira[1]


Não cabe dicotomia entre sujeito e objeto no processo de pesquisa, nem separação entre teoria e prática. O sujeito vê/analisa o objeto, mas este também vê/influencia o sujeito. Não apenas o escultor faz uma escultura a partir da pedra, mas a pedra também molda o escultor. Segundo a filosofia sartreana “a obra constrói seu próprio autor ao mesmo tempo que ele cria a obra” (MÉSZÁROS, 1991, p. 38). Essa perspectiva teórica nos dá a possibilidade de nos aproximarmos/afastarmos metodologicamente do objeto da pesquisa. Esse processo dialético de tensão entre sujeito/objeto não pode ser entendido como neutralidade ou completo afastamento teórico-metodológico do objeto em questão. Ao contrário, por essa razão o processo de pesquisa é um processo dialético. “Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que induzem a teoria ao misticismo encontram sua solução racional na prática humana e na compreensão dessa prática” (MARX; ENGELS, 2007, p. 534 e 539). A Observação Participante “é uma técnica de eleição para o pesquisador que visa compreender as pessoas e as suas atividades no contexto da ação, podendo reunir na Observação Participante, uma técnica de excelência que lhe permite uma análise indutiva e compreensiva” (CORREIA, 2009, p. 31).
Existem muitas alternativas ao sistema do capital e ao pensamento eurocêntrico-colonial na América Latina atualmente. Essas alternativas se expressam na constante desconstrução da ideologia dominante e em lutas sociais que buscam alterar as condições materiais históricas para se efetivar a superação do capitalismo. Essas alternativas estão na episteme de relação, na ideia de libertação através da práxis, na redefinição do papel do/da pesquisador/a social, no reconhecimento do Outro como si mesmo, no caráter histórico, indeterminado, indefinido, inacabado e relativo do conhecimento, na pluralidade epistêmica, na constante revisão de métodos, no (re)conhecimento de outros saberes. Nessa estrada têm sido imprescindíveis as contribuições da Teologia da Libertação, da Filosofia da Libertação, da Sociologia da Libertação e da obra de Paulo Freire – Pedagogia da Libertação -, sem contar inúmeros outros saberes e pensadores que dialogam, se complementam e se inspiram mutuamente.
Ao refletir sobre o sentido do passado, Eric Hobsbawm pondera e pergunta: “É evidente que a sensação de pertencer a uma tradição antiquíssima de rebelião fornece satisfação emocional, mas como e por quê?” (HOBSBAWM, 1998, p. 32-33). Ele mesmo responde: “Nadamos no passado como o peixe na água, e não podemos fugir disso. Mas nossas maneiras de viver e de nos mover nesse meio requerem análise e discussão” (HOBSBAWM, 1998, p. 35).
O mundo é construído pelo trabalho humano, que exige cérebro, músculos, nervos, mãos, enfim todo o corpo, através da ação humana coletiva. O ser humano é um animal histórico, porque trabalha e, por isso, constrói o mundo, transformando a natureza. Podem-se distinguir os seres humanos dos outros animais pela consciência, pela religião ou por outra dimensão, mas eles começam a se distinguir dos outros animais tão logo começam a produzir seus meios de vida. “Ao produzir seus meios de vida, as pessoas produzem, indiretamente, sua própria vida material. O modo pelo qual as pessoas produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da própria constituição dos meios de vida já encontrados e que eles têm de reproduzir” (MARX; ENGELS, 2007, p. 87).
Refutando todo e qualquer idealismo, inclusive os de esquerda, Marx e Engels enfatizam que “tal como os indivíduos exteriorizam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, pois, com a sua produção, tanto com o que produzem como também com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção” (MARX; ENGELS, 2007, p. 87). No mesmo sentido, “a produção de ideias, de representações, da consciência, está, em princípio, imediatamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material das pessoas, com a linguagem da vida real” (MARX; ENGELS, 2007, p. 93). O ser das pessoas é o seu processo de vida real.
Ao pesquisar devemos partir das pessoas realmente ativas, do seu processo de vida real, como ensinam os autores de A ideologia alemã: “[...] não se parte daquilo que as pessoas dizem, imaginam ou representam, tampouco das pessoas pensadas, imaginadas e representadas para, a partir daí, chegar às pessoas de carne e osso; parte-se das pessoas realmente ativas e, a partir de seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida. [...] As pessoas, ao desenvolverem sua produção e seu intercâmbio materiais, transformam também, com esta sua realidade, seu pensar e os produtos de seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência” (MARX; ENGELS, 2007, p.  94).
Marx e Engels desconstroem o idealismo demonstrando sua esterilidade quanto à capacidade de emancipar. Somente mudança de mentalidade não muda nada, só na aparência. Conquistar o fundamental para a produção e reprodução da vida humana e social – alimentação, bebida, moradia e vestuário - em qualidade e quantidade adequadas, é o elementar no processo de emancipação. Asseveram Marx e Engels: “Só é possível conquistar a libertação real [wirkliche Befreiung] no mundo real é pelo emprego de meios reais. [...] ... não é possível libertar as pessoas enquanto estas forem incapazes de obter alimentação e bebida, habitação e vestimenta, em qualidade e quantidade adequadas. A “libertação” é um ato histórico e não um ato de pensamento, e é ocasionada por condições históricas, pelas con[dições] da indústria, do co[mércio], [da agricul]tura, do inter[câmbio]” (MARX; ENGELS, 2007, p. 29).
Não esqueçamos: “O modo de produção capitalista não se circunscreve à produção; ele é modo de produção e modo de circulação de mercadorias e de troca de mercadoria por dinheiro e de dinheiro por mercadoria” (MARTINS, 1983, p. 171). Quanto mais se desenvolve o modo de produção capitalista, com novas técnicas e novos descobrimentos científicos, e com o aprofundamento da divisão do trabalho, mais a história torna-se história mundial. Por exemplo, “se na Inglaterra é inventada uma máquina que na Índia e na China tira o pão a inúmeros trabalhadores e subverte toda a forma de existência desses impérios, tal invenção torna-se um fato histórico-mundial” (MARX; ENGELS, 2007, p. 40). Com isso, a submissão dos trabalhadores a um poder que lhes é estranho – poder dominação - aumenta cada vez mais o mercado mundial. E, por isso, a necessidade de superação do sistema do capital tornou-se questão de vida ou morte. Quanto mais de desenvolve o capitalismo mais ele tritura todo tipo de vida.

Referências.
CORREIA, Maria da Conceição Batista. A observação participante enquanto técnica de investigação. In: Revista Pensar Enfermagem, Vol. 13, n. 2, p. 30-36, Lisboa: 2º Semestre de 2009.
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das letras, 1998.
MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 1983.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã: crítica da mais recente Filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.
MÉSZÁROS, István. A obra de Sartre: busca da liberdade. São Paulo: Ensaio, 1991.

Belo Horizonte, MG, 18/9/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1 - Início das Missões da XXI Romaria/Águas/Terra/MG/Lagoa da Prata/MG/2a Parte/08/9/2018.



2 - Palavra Ética na TVC/BH: Despejo e resistência em Nova Serrana, MG, Ocup. Nova Jerusalém. 07/6/2018.



3 - Vida em primeiro lugar!/24º Grito dos Excluídos/BH/MG - 2ª Parte - 07/9/2018.





[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. 
www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III


Frei Gilvander na Rádio Tropical Digital/XXI Romaria/Águas/Terra/MG/Lago...





Frei Gilvander na Rádio Tropical Digital falando sobre a XXI Romaria das Águas e da Terra de MG, em Lagoa da Prata, MG, dia 14/9/2018.

No clima da feliz expectativa do domingo de culminância da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, 16/9/2018, Frei Gilvander Moreira, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), mais uma vez, esteve na Rádio Tropical, de Lagoa da Prata; desta vez, em sua plataforma itinerante – Rádio Tropical Digital – para divulgar as ações já realizadas e a programação desse sábado, 15/9/2018, e do domingo de romaria, dia 16/9/2018. É preciso fazer ressoar os clamores da vida! É preciso convidar todas as pessoas de boa vontade a reunirem-se e a unirem-se nessa romaria, “Das Nascentes do São Francisco às Terras da Justiça”, “Cuidando da Mãe Terra e da Irmã Água”. Só a mobilização corajosa e responsável das forças vivas da sociedade pode conter as forças opressoras do capitalismo e dos capitalistas que, pra gerar lucros e mais lucros, insistem na depredação da natureza com a exploração desenfreada dos bens naturais, com a prática da monocultura que empobrece o solo, seca nascentes, lagoas, córregos, destroem a biodiversidade e a sociobiodiversidade, comprometendo gravemente o futuro, gerando desigualdade, violência social, miséria, fome. Enfim, destroem a vida, dom de Deus, direito de todos e todas. É preciso que todas as pessoas de boa vontade se tornem romeiros e romeiras da Mãe Terra e da Irmã Água para que a vida sobreviva com qualidade e dignidade para todos e todas, filhos e filhas, criados à imagem e semelhança do Deus da Vida.
*Vídeo original da Rádio Tropical Digital – www.facebook.com/radiotropicaldigital . Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Lagoa da Prata/MG, 14/9/2018.
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