Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Mateus 20,20 28: Festa de São Tiago, apóstolo e mártir. Reflexão bíblica. Frei Gilvander - 25/7/2020.
Vídeo de Frei Gilvander, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares. Acompanhe a luta pela terra e por Direitos também via www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com
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Dia
25 de julho: Dia da/o trabalhador/a rural, Mulher Negra, Pai Nosso dos
Mártires/1,6 ano de crime – 25/7/2020.
Dia 25 de julho de 2020: Dia
da/o trabalhador/a rural, Dia Mulher Negra, 35 anos de criação do Pai Nosso dos
Mártires e 1,6 ano do crime/tragédia da Vale e do Estado em Brumadinho, MG, que
sepultou 272 pessoas vivas e matou o rio Paraopeba, em Minas Gerais.
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Uma parábola que está na Bíblia, no Evangelho de
Marcos, nos coloca em contato com a situação dos sem-terra da atualidade e dos
Sem Terra[2]
do primeiro século na Palestina colônia do império romano. Ei-la: “Escutem. Um
homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; os
passarinhos foram e comeram tudo. Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde
não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda. Porém,
quando saiu o sol, os brotos se queimaram e secaram, porque não tinham raiz.
Outra parte caiu no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram, a sufocaram e ela
não deu fruto. Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo;
rendeu trinta, sessenta e até cem por um. E Jesus dizia: Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça!” (Marcos 4,3-9).
É o trabalho dos camponeses que está refletido no
enredo da parábola do semeador! Trabalho duro, de sol a sol, dificultado por
conta da política praticada pelo poder do Império Romano e pelos seus
representantes na Palestina. A situação no campo se tornou de extrema penúria.
Havia grandes extensões de terra nas mãos de poucos, particularmente romanos ou
seus representantes. As aristocracias das cidades de Tiberíades e Jerusalém
eram também proprietárias de muita terra, em geral as mais férteis. A produção
visava particularmente à exportação. A parábola do semeador fala de um
trabalhador camponês que resiste e não se sujeita a cumprir os papéis
subalternos e submissos que o sistema imperial lhe impõe. Seu trabalho se dá no
lançar sementes à beira do caminho, na pedra, entre espinhos e, finalmente, em
terra boa. A parábola chama a atenção para as duras condições de trabalho dos
camponeses pobres explorados e expropriados e nos convoca a perceber como é
grave a realidade que é narrada! Aos camponeses que não baixam a cabeça só
resta a beira da estrada, o terreno com pedras ou cheio de espinhos, e isso se
sobrar. A parábola nos leva a refletir sobre a injustiça da situação concreta vivenciada
pelo camponês, mas aponta também para outro horizonte: o da alegria da fartura,
o da produção abundante. Na verdade, as três primeiras etapas do trabalho do
camponês aparecem em um crescente, apontando para a semeadura em terra boa, com
o resultado esperado. A persistência do trabalhador terá sua recompensa. Além
disso, deve-se notar que a parábola não declara quem é o destinatário da
produção ou se outra pessoa que não o trabalhador camponês se aposse dela. Mas
é inevitável pensar sobre isso pois, é sabido que os impostos injustos
acabariam por açambarcar boa parte de
sua produção. No horizonte do texto do evangelho de Marcos 4,3-9, da década de 70 do primeiro século da Era Cristã,
o destinatário da produção não pode ser senão o semeador quem trabalha a terra!
Essa parábola profética se atreve a propor a utopia da terra libertada: sem
donos, sem quem se aposse do trabalho de outros, sem que um plante para outro
colher. Utopia narrada poeticamente no livro do profeta Isaías: “Os homens
construirão casas e as habitarão, plantarão videiras e comerão os seus frutos.
Já não construirão para que outro habite a sua casa, não plantarão para que
outro coma o fruto” (Isaías 65,21-22a).
No Evangelho de Lucas há duas narrativas de envio
de discípulos: Lucas 10,1-12, em que Jesus sugere aos discípulos irem para a
missão despojados e desarmados, e Lucas 22,35-38, que trata da hora do combate,
da luta, do enfrentamento. Na missão de construção de uma sociedade justa e
solidária, ao tomar partido ao lado dos superexplorados e ‘dar nomes aos bois’,
explicita-se as divisões e desigualdades sociais existentes na sociedade
capitalista. Os incomodados tendem naturalmente a querer silenciar aqueles/as
que os estão incomodando. Nesta hora de perseguições exige-se resistência. Por
isso, o evangelho de Lucas propõe aos discípulos para o exercício da missão “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no
máximo” (Lucas 22,36-38). No artigo “Seguir Jesus, desafio que exige
compromisso”, ponderamos: “Resistir não é violência, é legítima defesa. Diante
de qualquer tirania e de um Estado violentador, vassalo do sistema capitalista
que sempre tritura vidas e pratica injustiças, é dever das pessoas resistir
diante das opressões perpetradas contra os empobrecidos, os preferidos de
Jesus.” Lucas, em Lc 22,35-38, sugere desobediência civil – econômica, política
e religiosa. Em uma sociedade desigual, esse é “outro caminho” a ser seguido
por nós, discípulos e discípulas de Jesus, o rebelde de Nazaré.
Os quatro evangelhos da Bíblia[3] relatam
que Jesus, próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, indignado, ocupou o
templo de Jerusalém, lugar sagrado. O nazareno fez um chicote de cordas e
expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e bois, destinados aos
sacrifícios. Derramou pelo chão as moedas dos cambistas e virou suas mesas. Aos
que vendiam pombas (eram os que diretamente negociavam com os mais pobres
porque os pobres só conseguiam comprar pombos e não bois), Jesus ordenou:
‘Tirem estas coisas daqui e não façam da casa do meu Pai uma casa de negócio’
(João 2,16). O templo era espaço sagrado, lugar do culto e de se humanizar. O
templo era uma instituição transformada em uma espécie de Banco Central do país
+ bancos + bolsa de valores. Atualmente, o território brasileiro com todos seus
biomas e com todos os povos são nosso “templo” que está sendo violentado pelos
novos ‘vendilhões do templo’, os fascistas e os capitalistas. Feliz quem,
possuído por uma ira santa, participar da luta para expulsar os atuais
mercadores da vida e que degradam as condições objetivas que a viabilizam. Há
que se semear na própria terra e não em terra alheia ou para que usufrua o
patrão. O desafio é ser discípulo/a crítico e criativo e lutar de forma
coletiva para expulsar os atuais ‘vendilhões do templo’, que insistem em usurpar
todas as formas de vida existentes em nosso país: o povo, os biomas e toda a biodiversidade
que ela congrega. Tudo isso para que a vida, o que há de mais sagrado, e todas
as condições para sua existência sejam garantidas.[4]
21/7/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.
1 - Frei Gilvander contra despejo de famílias Sem
Terra do MST em Campo do Meio, sul de MG - 07/7/2020
2 - Sem Terra sobreviventes do massacre de
Felisburgo, MG, jamais vão aceitar despejo. Vídeo 2 12/3/20
3 - "Sem medo de ser mulher" e Cruz do
Compromisso na IV Romaria/Águas/Terra/Bacia/rio Doce. Vídeo 10
4 - Quem luta coletivamente conquista. Sem Terra, do
MTC, em Córrego Danta, MG. Vídeo 7 - 16/8/2019.
5 - Sem Terra produz alimentos saudáveis: MTC em
Córrego Danta, centro-oeste/MG. Vídeo 4 - 16/8/2019
[1] Frei e padre da
Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel
em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese
Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT,
CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e
Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis
– Facebook: Gilvander Moreira III
[2]
Sem Terra diz respeito aos sem-terra conscientes e organizados que estão na
luta pelo acesso à terra e sem-terra são os expropriado do acesso à terra, os
explorados.
[3]Mateus
21,12-13; Marcos 11,15-19; Lucas 19,45-46 e João 2,13-17.
[4]Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora
em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.
Reflexão sobre Mateus 13,24-43 e Chaves de Leitura do Evangelho de Mateus. Por Frei Gilvander - 19/7/2020.
Neste
vídeo, frei Gilvander Moreira reflete sobre o Evangelho do XVI Domingo do Tempo
Comum, dia 19/7/2020, domingo e também dá chaves de leitura para uma
interpretação sensata e libertadora do Evangelho de Mateus. Videorreportagem de
frei Gilvander Moreira da CPT, das CEBs, do CEBI e do SAB.
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Política ambiental de Ricardo Salles é alvo de críticas de ambientalistas, empresários e ex-integrantes do governo - Fantástico - 19/7/2020.
O Ministério Público Federal responsabiliza o ministro pela falta de credibilidade gerada pelo desmonte das políticas ambientais. *Vídeo original: G1 Fantástico - 19/7/2020
*Divulgação: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares.
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Dom
Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?"
- Debate Inter-Religioso, dia 12/7/2020.
Para iniciar nosso Debate
Inter-Religioso sobre uma pergunta que precisa interpelar nossa consciência:
Fora, Bolsonaro e todo o (des)governo federal? O Movimento Inter-Religioso do
Vale do Aço, em Minas Gerais, pela Democracia, Justiça, Paz e Vida, promove
mais uma Live com o objetivo de contribuir para que as pessoas religiosas se
posicionem de forma ética, responsável, justa e coerente com o Evangelho de
Jesus Cristo e com a fina flor da sua fé que precisa ser libertadora e jamais
conivente com opressões de nenhuma espécie. Quem votou em Jair Bolsonaro e em
políticos que estão na prática defendendo posturas contrárias ao bem comum que
arrume um jeito de “compensar” esse erro gravíssimo. Conclamamos todos/as ao
compromisso com o Movimento de luta pela Democracia, Justiça, Paz e Vida, o que
passa necessariamente por FORA BOLSONARO E TODO O (DES)GOVERNO FEDERAL, pois
não podemos ser omissos e nem cúmplices diante de um (des)governo genocida que
está matando de inúmeras formas. Estão gritando por direitos a mãe Terra, a
irmã Amazônia e os outros biomas, a irmã água, os povos indígenas, os
quilombolas, os LGBTQIs, os sem-terra, sem-teto, os desempregados, o povo
negro, os povos das periferias, os 500 mil irmãos nossos que estão em situação
de rua, as mulheres vítimas de feminicídio, o povo ludibriado por falsos
pastores, por falsos padres, por falsos líderes religiosos que barganham com um
governo fascista e abusam do nome de Deus e de textos bíblicos para acumular
dinheiro, se aproveitando das angústias das pessoas com discursos religiosos
“sem pé nem cabeça” ... Todos esses gritos ensurdecedores precisam interpelar
nossa consciência. Desta Live participaram: 1) Dom Vicente Ferreira, bispo
auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e da Comissão de Ecologia Integral e
Mineração da CNBB; 2) Makota Celinha, coordenadora do CENARAB e do Candomblé;
3) Filipe Gibran, pastor da Frende de Evangélicos pelo Estado Democrático de
Direito; 4) Irmã Claudicéa Ribeiro, da Congregação de Filhas de Maria
Missionárias; 5) Paulo Amaral, do Movimento Inter-Religioso pela Democracia,
Justiça, Paz e Vida e Movimento Negro do Vale do Aço, MG; 6) Frei Gilvander
Moreira, da CPT e CEBI. Aqui neste vídeo o pronunciamento do bispo Dom Vicente
Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate
Inter-Religioso, dia 12/7/2020. Com cabeça erguida, de forma profética, Dom
Vicente Ferreira se posicionou exigindo Fora, Bolsonaro e todo o (des)governo
federal.
No Instagram: Frei Gilvander
Moreira (gilvanderluismoreira)
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Ao celebrarmos os 45 anos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) - 1975 a 2020 – importante se faz recordarmos os ensinamentos e a atuação dos profetas Amós, Oseias e Isaías. Na Bíblia, no livro de Amós, nos capítulos 1 a 9, de meados do século VIII antes da era cristã, encontramos literatura de protesto e resistência. “O acento principal da mensagem de Amós está na crítica social e no anúncio de um juízo iminente de Deus na história, bem como na tênue, mas clara exigência do restabelecimento da justiça como alicerce das relações sociais” (REIMER, 2000, p. 171). A profecia de Amós constitui-se como uma exigência veemente pelo restabelecimento da justiça social[2]. Segundo Haroldo Reimer, no artigo “Amós – profeta de juízo e justiça”, a profecia de Amós é: “Uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o governo expansionista de Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C.” (REIMER, 2000, 188).
Em outros termos, o profeta Amós não apenas critica pessoas exploradoras, mas também questiona enfaticamente o sistema monárquico que as gera. Não somente as mazelas pessoais estão na mira de Amós, um camponês que entrou para a história como profeta da luta por justiça social. Ele compreendia as causas profundas da injustiça e tinha consciência de que o problema fundamental da iniquidade reinante na sociedade não é fruto somente de fraquezas pessoais, mas tem como causa matriz estruturas sócio-econômico-político-culturais e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas. Na mira do profeta Amós também estão relações comerciais que causam às pessoas endividamento, escravizam e aprisionam retirando-lhes a liberdade e o direito de serem pessoas humanas.
A profecia de Oseias aconteceu provavelmente entre os anos 755 a 721 antes da era cristã, no reino do Norte, na Palestina/Israel, durante os últimos anos do reinado do rei Jeroboão II e de Oseias, filho de Ela. No primeiro capítulo do livro de Oseias está uma forte crítica contra a dinastia de Jeú. Os capítulos 2 e 3 de Oseias refletem certa prosperidade de produção no campo e tranquilidade política, marcas do reinado de Jeroboão II. Do capítulo 5 em diante, estão reflexos da crise que se instaura na Palestina/Israel, devido a pressões externas vindas do Império Assírio. Com a chamada guerra siro-efraimita e a subjugação de parte do território pelo rei da Assíria Teglat-Falasar III, por volta do ano 733 antes da era cristã, aumenta significativamente o clima de violência e insegurança interna. Os capítulos finais do livro de Oseias testemunham os acontecimentos em torno do ano 724 antes da era cristã, data do cerco à cidade de Samaria e da destruição do reino do Norte com o consequente exílio do povo para a Assíria, potência imperialista da época. O profeta Oseias identificava os detentores do poder religioso como causadores de violência social. Segundo a profecia de Oseias, os sacerdotes são os grandes culpados pela violência reinante na sociedade. O povo percebe que os sacerdotes haviam se transformado em assassinos e se comportavam como malfeitores: “Como bandidos na emboscada, um bando de sacerdotes assassinam pelo caminho de Siquém e cometem horrores” (Oseias 6,9). Com a participação do profeta Oseias, o povo percebe a ilusão que é acreditar no Império Assírio como caminho de salvação: “Não é a Assíria que nos salvará, não montaremos mais cavalos, jamais chamaremos novamente de nosso Deus a um objeto feito por nossas próprias mãos, pois é em ti, só junto de ti, que o órfão encontra compaixão” (Oseias 14,4). “Não montar mais cavalos” significa não acreditar mais em militarismo e nem em repressão como solução para problemas e injustiças sociais. Guiado pelo profeta Oseias, o povo se desvencilha de idolatrias que na prática resultavam em opressão e superexploração, inclusive dos mais vulneráveis, entre eles, os órfãos. O povo cai na real e consegue ver que os reis e príncipes são insensatos, mentirosos e se matam por disputas internas (cf. Oseias 7,1-7) e por disputas políticas externas (cf. Oseias 5,1-15; 7,8-16; 8,8-14; 10,6-15). Diante dessa dramática máfia religiosa e política, o povo, passando por um processo sofrido de conversão, conclui, voltando-se para o Deus Javé: “... é em Ti que o órfão encontra misericórdia” (Oseias 14,4). A hipocrisia e o cinismo dos sacerdotes na condução do culto fazem o povo descobrir que o caminho para a libertação não passa pelos sacrifícios, mas pela misericórdia. A conclusão é: Misericórdia, sim; sacrifício, não! (Oseias 6,6).
Atuando na Palestina por volta do ano 730 antes da era cristã, o profeta Isaías criticou o latifúndio e a grilagem de terras, porque na sua época, tempo de sistema político monárquico, os latifundiários estavam solapando o projeto comunitário das tribos autônomas sem poder centralizado. No livro de Isaías a grilagem de terras é denunciada com veemência: "Ai dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível, até serem eles os únicos moradores da terra” (Isaías 5,8). E Isaías denunciou, também, as autoridades dos poderes executivo, legislativo e judiciário: "Ai daqueles que fazem decretos iníquos e daqueles que escrevem apressadamente sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos pobres do meu povo, para fazer das viúvas a sua presa e saquear os órfãos” (Isaías 10,1-2)! Isaías anuncia, ainda, uma esperança consistente: "O fruto da justiça será a paz” (Isaías 32,17). Ou seja, para o profeta Isaías é impossível conquistar paz verdadeira sem a justiça.
Como resultado desta breve análise, podemos concluir que os profetas Amós, Oseias e Isaías, irmanados, proclamam: injustiça social e idolatria religiosa, NÃO![3]
Referências
REIMER, Haroldo. Amós – profeta de juízo e justiça. In: Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas releituras. RIBLA 35-36, p. 171-190. Petrópolis: Vozes e São Leopoldo: Sinodal 2000.
14/7/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima, pois são profetas Amós, Oseias e Isaías que viveram ou vivem no nosso meio atualmente.
1 - Padre Antônio Amorst, 85 anos, missionário em Gov. Valadares e Tumiritinga, MG. Parte I
2 - Padre Antônio Amorst, 85 anos, profeta de Deus no Vale do Rio Doce, MG. Parte II - 11/9/2019.
3 - Padre Antônio Amorst foi imprescindível na CPT/MG na luta pela terra no Vale do Rio Doce. 11/9/2019
4 - Tributo ao Padre Ernesto: Um Profeta no meio do Povo - 27/7/2019
5 - Alvimar da CPT por Luciano di Fanti: "profeta, homem de Deus, sábio, palavra de peso. 22/08/16
6 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra em MG. 1a parte.
7 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra. 2a parte. 07/16
8 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra. 3a parte.
9 - Alvimar Ribeiro dos Santos, "Alvimar da CPT": pai/mestre/profeta na luta pela terra. 4a parte.
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br – www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Cf. também SICRE, José Luís. A justiça social nos profetas. São Paulo: Paulus, 1990; REIMER, Haroldo. Leis de mercado e direito dos pobres na Bíblia Hebraica. In: Estudos Bíblicos, n. 69, p. 9-18. Petrópolis, Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 2001.
[3]Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.