terça-feira, 1 de outubro de 2019

A quem interessa o desmonte da política cultural e da memória do país?

A quem interessa o desmonte da política cultural e da memória do país? Por Gilvander Moreira[1]

Santuário da Serra da Piedade - Capela - Basílica - Patrimônio Paisagístico, Cultural, Ambiental, Histórico, Arquitetônico, Espeleológico e Religioso. Município: Caeté, Minas Gerais. Foto: G. L. Moreira, 2019.

O povo que sabe da importância de cuidar da cultura e da memória do nosso país foi tomado por uma grande indignação no dia 25 de setembro de 2019 com a exoneração da Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em Minas Gerais, a museóloga Dra. Célia Corsino, por meio de portaria assinada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. A museóloga Célia Corsino tem mais de 30 anos de carreira na proteção de patrimônio e atuava como superintendente desde 2015.  Para perplexidade de todos e todas que se preocupam com a proteção ao patrimônio em Minas Gerais e no Brasil, foi nomeado para o cargo um desconhecido da área patrimonial e cultural, Jeyson Dias da Silva, ex-assessor de um vereador em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, indicado pelo deputado federal Charlles Evangelista (PSL-MG), partido do presidente Jair Bolsonaro. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é uma autarquia federal atualmente vinculada ao Ministério da Cidadania que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. É importante lembrar que a autarquia era antes vinculada ao Ministério da Cultura, que foi fundido pelo (des)governo Bolsonaro no início de 2019 com os Ministérios do Esporte e do Desenvolvimento Social na estrutura “Frankenstein” do recém criado Ministério da Cidadania.
Seguindo a linha de aniquilamento da política de proteção do meio ambiente e das instituições afins, desrespeitando os processos de demarcação de terras dos povos indígenas, quilombolas e demais direitos dos povos tradicionais – protegidos pela Constituição de 1988 e também pela Convenção 169 da OIT[2], da ONU[3] -, incentivando conflitos e perseguição às lutas camponesas, movimentos por habitação, intolerância às comunidades LGBTqia+ e aos movimentos sociais e ambientais em geral, foi lançada agora mais uma cartada fatídica desse (des)governo: atacam a cultura e a memória de forma descarada com a clara desestruturação do IPHAN, instituição federal com 82 anos de história, criada em 1937, que responde pela preservação e proteção do patrimônio cultural brasileiro, com a substituição de seus experientes superintendentes por pessoas sem qualquer idoneidade técnica e cientifica. A Constituição Brasileira de 1988 reiterou a importância deste tema enquanto política primordial, quando, no artigo 216, definiu o patrimônio cultural de forma ainda mais detalhada, como formas de expressão, modos de criar, fazer e viver. São reconhecidas como memória nacional as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e, ainda, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Ainda nos artigos 215 e 216 da Constituição de 1988 foi reconhecida a existência de bens culturais de natureza material e imaterial ou intangível, além de estabelecer as formas de preservação e acautelamento desse patrimônio, por meio do seu registroinventário e tombamento. Por seu turno, em nível internacional, o IPHAN também é o responsável pela conservação, salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio Mundial e no Rol do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, conforme normas da UNESCO[4], respeitando a Convenção do Patrimônio Mundial de 1972 e a Convenção do Patrimônio Cultural Imaterial de 2003, além de seguir as inúmeras Cartas e Recomendações Internacionais e Nacionais análogas das quais o país é signatário.
A mencionada exoneração da Superintendente do IPHAN em Minas Gerais seria assim somente a “ponta do iceberg”, já que nas últimas semanas se seguiram destituições em outros estados estratégicos como Goiás, Distrito Federal e Paraná, desrespeitando os critérios exigidos para a função de superintendência regional, tais como: idoneidade moral, reputação ilibada e perfil profissional compatível com o cargo. Certamente, tais orientações não foram aplicadas para a nomeação dos novos superintendentes e muito menos houve diálogo com a comunidade. Para além da perplexidade, houve reação de muitos segmentos da sociedade, sobretudo de profissionais da área do patrimônio cultural, comunidades tradicionais, grupos e agentes culturais, prefeitos de cidades históricas e até mesmo do Ministério Publico. Muitos outros superintendentes nos outros estados estão na corda bamba, dependendo de indicações de políticos da base governista e da correlação de força das “danças das cadeiras”- um jogo sórdido que vem se instalando nas autarquias, em geral.
Em Goiás, o Ministério Público reagiu de forma atenta e eficaz, recomendando ao ministro da Cidadania, que torne sem efeito a portaria que nomeou Allysson Cabral para o cargo de superintendente regional do IPHAN de Goiás. Tal documento foi assinado por procuradores da República em Goiás e por membros da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico do Ministério Público Federal (MPF - 4CCR). No texto, ainda alegam que o indicado não possui perfil e formação adequados para o cargo e que a nomeação não atende ao interesse público e à legislação, configurando desvio de finalidade. Informam que quem o indicou foi o deputado federal Professor Alcides (PP-GO), que admitiu em entrevista que houve mesmo um sorteio entre os deputados federais goianos da base aliada do governo para definir quem indicaria o superintendente regional. Pelo sorteio, a indicação coube ao próprio deputado. O deputado ainda teria afirmado que o seu designado não teria formação, tampouco experiência para o cargo, mas que seria alguém de sua confiança, o que seria suficiente para motivar tal nomeação.
Minas Gerais (e aqui são lembrados os municípios de Ouro Preto, Congonhas, Diamantina, Mariana, Serro, Paracatu, Caeté, entre outros), Brasília e Goiás têm muito em comum, pois possuem sítios históricos e arquitetônicos inigualáveis, alguns deles com o título de Patrimônio da Humanidade, chancelado pela UNESCO/ONU, e possuem também conjuntos e bens isolados tombados em nível federal. O título de patrimônio da humanidade indica se tratar de ambientes de interesse global, fundamentais para a memória da humanidade, cujas políticas de gestão não devem ser restritas aos países onde os sítios se situam. Tal status pode arrebanhar muita verba e recursos em nível internacional.
Mas por que mesmo emperrar e controlar a atuação do IPHAN? O que está por trás desta rede de manipulação e desmantelamento também desta instituição? Em Minas Gerais (como na região amazônica e outros estados), há inúmeros sítios históricos arqueológicos, paisagísticos e hídricos de grande importância em localidades ambicionadas e ameaçadas por mineradoras, indústrias e pelo agronegócio. Muitos sítios de grande valor se encontram em terrenos de propriedade de mineradoras ou em áreas de decreto de lavra, cuja proteção deveria ser severamente fiscalizada e garantida pelos órgãos patrimoniais nos âmbitos federal, estadual e municipal. Vale lembrar o caso das comunidades das antigas vilas históricas Socorro e Congo Soco, município de Barão de Cocais, MG, retiradas de seus lugares de vida e de memória em função do alegado risco iminente do rompimento da Barragem Sul Superior da mineradora criminosa Vale. Estes territórios, caso a comunidade seja retirada em definitivo da sua localidade de origem, serão apropriados para domínio e expansão territorial e de exploração futura de empresas mineradoras. Outra situação que merece atenção é o caso fatídico e inaceitável da vila colonial Bento Rodrigues, pertencente ao município de Mariana, em Minas Gerais, situado no vale do Gualaxo do Norte, tributário do ex-rio Doce. Além de ter sido atingida diretamente pela lama tóxica da tragédia-crime da Samarco, BHP Billiton e Vale, oriunda do rompimento da barragem Fundão, com a conivência do Estado em 05 de novembro de 2015, ainda foi vitimada covardemente pela segunda vez, um ano depois, pelo alagamento parcial da barragem ou dique S4 que ali foi instalado - apesar dos inúmeros questionamentos feitos na ocasião pelo IPHAN de MG e pelos antigos procuradores da força-tarefa (“Lama Nunca Mais”) do Ministério Público de Minas Gerais (MPE/MG). Porém, com a tarja de “obra emergencial”, as mineradoras rés conseguiram, de forma muito questionável, a autorização para tal obra; o que pode ser comprovado se analisarmos atentamente a argumentação de memorandos e ofícios que constam no processo de referência no IPHAN de Brasília. Felizmente, parte dos atingidos de Bento Rodrigues, conscientes de seu território, de sua história e de seus direitos, têm resistido bravamente às investidas e manipulações das empresas criminosas, cujos interesses estão ocultados pela “Fundação” Renova (muitas vezes, com a cega conivência do poder público municipal, estadual e Ministério Público atual em seus diferentes âmbitos) reagindo de forma heroica a propostas e termos de ajustes que os condicionam à desapropriação de suas terras, que visam, no fundo e ao cabo, a apropriação do sítio de Bento Rodrigues por parte das mineradoras e de demais interesses econômicos e políticos escusos. A mineradora Herculano, que já foi responsável por um crime/tragédia ambiental de grandes proporções em setembro de 2014 com o rompimento de barragem de rejeito no córrego Silva, vale do rio Itabirito, MG, afluente do rio das Velhas, que ocasionou a morte de dois dos seus trabalhadores, insiste de forma perniciosa em se instalar no município de Serro, MG, em localidade que abrange reserva hídrica, além de um território histórico e sagrado de comunidade quilombola tradicional. São tantos os exemplos de desrespeitos, injustiça social e racismo ambiental que daria para tecer uma grande lista, mas ficam aqui estas revoltantes situações.
Outra questão muito emblemática em Minas Gerais e bastante preocupante se refere à proteção da magnífica Serra da Piedade situada no município de Caeté, também tombada em nível federal e em outras esferas, ameaçada severamente por interesse de mineradoras que pretendem obter a conclusão de licença para ali operar. Embora tendo o IPHAN, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Secretaria de Meio Ambiente de MG (SEMAD) o dever e o compromisso histórico de cuidar e de zelar por este patrimônio, dia 22 de fevereiro de 2019, contra parecer do IBAMA, do IEPHA e do IPHAN, a maioria dos conselheiros da Câmara de Atividades Minerária do Conselho de Política do Meio Ambiente (COPAM) do Governo de Minas Gerais forneceu licença inconstitucional, injusta e imoral para reabrir mineração nesta localidade. O superintendente do IBAMA em MG, Júlio Grillo, foi exonerado no dia seguinte por ter se posicionado contra a retomada da mineração na Serra da Piedade. O licenciamento ambiental para reabrir mineração na Serra da Piedade ficou dependendo apenas da posição do IPHAN e IEPHA. Tal fato deixa claro que com um superintendente vassalo da política devastadora do meio ambiente do (des)governo federal, podemos esperar que em breve ele mudará o parecer expedido pela superintendente exonerada que tinha se posicionado contra a retomada da mineração na Serra da Piedade, posição justa, ética e necessária. A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba (morto pela Vale e pelo Estado na tragédia/crime em Brumadinho em 25 de janeiro de 2019), que era responsável por 50% do abastecimento da RMBH. Está ainda inserida em unidades de conservação (Área de Proteção Ambiental (APA)), Águas da Serra da Piedade, Monumento Natural Estadual Serra da Piedade (MONAE) e nas Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, integrando ainda por sua relevância o cadastro nacional dos Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil (SIGEP).
Aproxima-se a ocasião do Sínodo da Amazônia, no qual o papa Francisco, inegável ícone da paz e da justiça socioambiental, e os bispos de nove países da Amazônia vão discutir como proteger as populações nativas e o riquíssimo conjunto ambiental e cultural da região amazônica. Espera-se que este importante debate contribua de forma eficaz e que influencie movimentos e programas internacionais que possam fortalecer para além da Amazônia a proteção de biomas e de todos os povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes projetos econômicos desenvolvimentistas, em especial a mineração, que tem massacrado tantas comunidades em Minas Gerais e tirado a vida e a saúde de tantas pessoas, além de matar e envenenar os rios Doce e Paraopeba.
Constata-se que o projeto de Jair Bolsonaro e de sua equipe de destruir a política cultural no país segue firme e a galope no Congresso Nacional, que prevê no projeto de Lei Orçamentária enviado para o ano que vem (2020) uma redução de aproximadamente 72% de recursos que a área recebe atualmente. Tais cortes e as restrições de qualidade técnica em seu quadro de gestores vão comprometer drasticamente a proteção de milhares de sítios históricos, bens móveis e imóveis, como também programas de pesquisa, proteção e de registro do patrimônio imaterial, de saberes e de fazeres tradicionais de vários povos e comunidades.
O que nos acalenta é que mesmo frente a todo este plano pérfido arquitetado que se revela, nada poderá destruir o soar dos corações ancestrais dos povos tradicionais, seus lugares, sítios milenares, memórias que fluem por gerações, sonhos e territórios. Histórias de resistência, força e luta que seguem. Em nome da nossa responsabilidade geracional urge crescer a luta popular para revertermos os descalabros do (des)governo de plantão no nosso país. Povos que não cuidam da sua cultura e memória estão matando seu próprio futuro. Felizes as pessoas e organizações que não medem esforços para resgatar e cuidar do seu patrimônio histórico e cultural. Maldito quem violenta a cultura e a memória de um povo!

Para maiores informações acesse:

https://www.caurs.gov.br/entidades-publicam-nota-de-repudio-contra-ataques-ao-iphan/

http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/mpf-recomenda-a-exoneracao-de-superintendente-do-iphan-em-goias

https://cidadeverde.com/noticias/309144/governo-troca-tecnicos-e-preve-corte-de-72-de-verbas-do-iphan

https://jornalggn.com.br/politica/sob-a-gestao-bolsonaro-iphan-sofre-corte-orcamentario-e-troca-de-tecnicos-por-apadrinhados-politicos/

 Álbum de fotos:
Santuário da Serra da Piedade - Patrimônio Paisagístico, Cultural, Ambiental, Histórico, Arquitetônico, Espeleológico e Religioso. Detalhe de quebra de canga ferruginosa onde há cavidades e campos rupestres. Município: Caeté, Minas Gerais. Foto: G. L. Moreira, 2019.


Santuário da Serra da Piedade - Patrimônio Paisagístico, Cultural, Ambiental, Histórico, Arquitetônico, Espeleológico e Religioso. Município: Caeté, Minas Gerais. Foto: G. L. Moreira, 2019.

Santuário da Serra da Piedade - Patrimônio Paisagístico, Cultural, Ambiental, Histórico, Arquitetônico, Espeleológico e Religioso. Detalhe do entorno da Serra da Piedade, onde há matas e mananciais hídricos.  Município: Caeté, Minas Gerais. Foto: G. L. Moreira, 2019.
2019.

Belo Horizonte, MG, 1º/10/2019.

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB, CEBs e Movimentos Sociais Populares; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Organização Internacional do Trabalho.
[3] Organização das Nações Unidas.
[4] Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

domingo, 29 de setembro de 2019

Denúncia comovente/Marino/crime/SAMARCO/VALE/BHP/ESTADO/Audiência Públic...



Denúncia comovente de Marino sobre o crime da SAMARCO/VALE/BHP e do ESTADO, em Audiência Pública da ALMG. Parte I - Vídeo 2 - 26/9/2019.

DIA 26/9/2019, em Montes Claros, MG, na UNIMONTES, como parte do VI Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais, aconteceu mais uma Audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), presidida pelas deputadas Leninha, do PT, e Andreia de Jesus, do PSOL. Muitas denúncias e reivindicações foram feitas por lideranças dos Povos e Comunidades Tradicionais. Eis, aqui, o vídeo 2 – Parte I - registrado por frei Gilvander Filmagem e edição amadora de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Montes Claros, MG, 26 de setembro de 2019.

Marino D'Ângelo Jr., atingido pelo crime/tragédia da SAMARCO/VALE/BHP e Estado, em Paracatu de Baixo, no município de Mariana, MG, a partir de 05/11/2015.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Quem luta coletivamente conquista. Sem Terra, do MTC, em Córrego Danta, ...




Quem luta coletivamente conquista. Sem Terra, do MTC, em Córrego Danta, MG, dão exemplo. Vídeo 7 - 16/8/2019.

Dia 16/8/2019, frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG), visitou o Acampamento Nova Esperança 2, do MTC (Movimento dos Trabalhadores Camponeses), no município de Córrego Danta, na região centro-oeste de Minas Gerais, ao lado da BR 262 que liga o Triângulo Mineiro a Belo Horizonte. Lá, 60 famílias há 2 anos e 3 meses ocupam uma fazenda que estava abandonada, sem cumprir sua função social. As famílias estão convivendo em fraternidade e produzindo uma variedade de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos. Além de cultivar a terra, produzem também galinha, frango, porcos etc. Luta justa e necessária que conta com o apoio da CPT em MG.

Eis um verdadeiro camponês! Está no Acampamento Nova Esperança 2, do MTC, no município de Córrego Danta, MG. Foto: frei Gilvander
Filmagem e edição amadora de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Córrego Danta, MG, 16 de agosto de 2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Grandes projetos econômicos são violentadores

Grandes projetos econômicos são violentadores
Por Gilvander Moreira[1]

Visão parcial de onde a mineradora VALE está construindo uma muralha de 70 metros de altura por 1 quilômetro de extensão no distrito de São Gonçalo do Bação - sítio histórico e natural e valor imenso -, no município de Itabirito, MG, causando uma imensa devastação ambiental, cultural e histórica, dia 09/9/2019. Foto: A. Baeta.

O que foi experimentado pelo campesinato no município de Salto da Divisa, na região do Baixo Jequitinhonha, em Minas Gerais, com a implantação do grande projeto da barragem e da hidrelétrica de Itapebi já vinha sendo implantado em todo o país. Ainda em 1989, estudando o avanço avassalador do capital no campo brasileiro, José de Souza Martins avaliava: “Os grandes empreendimentos e os chamados grandes projetos (rodovias, hidrelétricas, projetos de colonização e de mineração) têm chegado ao campo e, particularmente, à Amazônia com uma face mortal. Não chegam apenas para açambarcar terras. Destroem modos de vida, desmoralizam as populações locais, como denuncia o caso dos povos indígenas, cujos territórios foram invadidos e mutilados” (MARTINS, 1989, p. 89).
Atualmente no Brasil, e na maioria dos países do mundo, o povo vive sob as agruras e o tormento dos grandes projetos do capital. No Brasil, estes são executados em nome do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento -, no Nordeste, apelidado de Programa de Ameaça às Comunidades. Dentre os grandes projetos do PAC, os de maior impacto são: as grandes barragens e usinas hidrelétricas, como as de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia; a barragem e hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, em Altamira, no Pará; a Transposição das águas do rio São Francisco (Cf. MOREIRA, 2008a); construção de vários portos e aeroportos e ampliação e modernização de outros; fusão de grandes empresas que concentram cada vez mais o capital e vão matando as pequenas e médias empresas. Exemplos não faltam nas áreas de telecomunicações, de aviação, das construtoras, dos grandes supermercados, dentre muitos outros. “Muitos pensam que esses projetos beneficiam todo o povo, mas, na realidade, trata-se de infraestrutura para viabilizar o crescimento do capital, hoje primordialmente nas garras de empresas transnacionais” (MOREIRA, 2013a, p. 340-341). Quase sempre esses grandes projetos são realizados por grandes empresas, mas por meio de financiamento público, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)[2]. Se olharmos bem, a história se repete, mas desta vez com uma morte diferente. Os homens estão no poder. Todavia, o poder que conta é o poder econômico. Os homens do poder estão subservientes e ajoelham-se diante dos interesses do capital: o chefe do Executivo, o parlamento silencioso e vendido e, principalmente, o Poder Judiciário, que tem a função precípua de exigir o cumprimento das leis e da Constituição, no entanto, de costas para as normas vigentes, mascara os seus julgamentos nas picuinhas do processo, deixando passar a largo a correta interpretação das normas. O desvio das funções constitucionais atribuídas às Forças Armadas afronta o povo brasileiro: o exército foi e continua sendo usado para fazer grandes obras de interesse do capital, tal como a transposição do rio São Francisco, obra faraônica, em benefício dos antigos coronéis da seca e do hidronegócio.
A chegada de um grande projeto em um território a ser anexado pelo capital é sempre envolvida por campanha publicitária espetacular que anuncia estar chegando à região uma alavanca de crescimento econômico e social, geradora de emprego e que não irá causar grandes males à já tão sofrida natureza, a biodiversidade e às pessoas. Chefes da política, da economia e até da religião são cooptados e muita gente seduzida. Assim, parte da população cegada acolhe esses projetos como se fossem benfeitores que trarão emprego e melhorias sociais, mas, logo, descobre que eles geram poucos empregos e, muitas vezes, em condições análogas à de escravidão. O certo é que as grandes obras geram mais desemprego do que empregos. Acontece o que ensina a fábula O Escorpião e o Sapo, que diz: um escorpião pede a um sapo que o leve através de um rio. O sapo tem medo de ser picado durante a viagem, mas o escorpião argumenta que não há motivo para o sapo temer tal traição, pois se picasse o sapo, esse afundaria e o escorpião da mesma forma iria junto afogar.  O sapo concorda e começa a carregar o escorpião, mas no meio do rio, o escorpião, de fato, aferroa o sapo, condenando a ambos. Quando perguntado por que ferroou o sapo, o escorpião responde que esta é a sua natureza. Isso mesmo: a natureza do capitalismo é aferroar vidas o tempo todo e cada vez com mais veneno. O funcionamento do capitalismo exige expansão, crescimento sem limites. Isso é impossível, pois a natureza precisa de tempo para se recuperar das agressões. A mercadoria, base da acumulação do capital, destrói o ambiente e explora os trabalhadores.
Resistir a esses grandes projetos do capital, na luta pela terra ou na resistência nos territórios ou ainda na luta pela retomada de territórios invadidos pelo capital, é mais do que lutar pela terra, é lutar pela preservação de um modo de vida, que era o modo de vida dos nossos ancestrais – os povos indígenas e os camponeses: modo de vida sustentável, justo e ético.
Belo Horizonte, MG, 24/9/2019.

Referência.
MARTINS, José de Souza. Caminhada no chão da noite: emancipação política e libertação nos movimentos sociais do campo. São Paulo: HUCITEC, 1989.
MOREIRA, Gilvander Luís (Org.). Dom Cappio: rio e povo. Frei Luiz, um profeta na luta em defesa da vida do rio São Francisco e do seu Povo. Transposição, não!. São Leopoldo/RS: CEBI, 2008a.
______. Grandes projetos na Bíblia e a resistência do povo. In: A volta de Babel: a Bíblia e os megaprojetos. Revista Estudos Bíblicos, v. 30, n. 120, p. 339-358, out./dez./ 2013a.

Obs.: Abaixo, vídeos que versam sobre o assunto apresentado, acima.

1 - No VI Nordestão das CEBs, os Grandes Projetos são questionados e denunciados. 21/07/2012



2 - Na Chapada do Apodi/RN, 800 famílias resistem a um mega projeto de agro-hidronegócio. 07/12/2012



3 - VALE construindo muralha de 70 metros e 1 Km/São Gonçalo do Bação/Itabirito/MG. Vídeo 4 - 09/9/19



4 - SEGUNDO Palavra Ética com Cappio e Adriano: Transposição do rio São Francisco, não! 29/10/2012







[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB, CEBs e Movimentos Sociais Populares; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III
[2] O S de “social” do BNDES está esquecido, desenvolve-se o econômico à custa do social.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Vida no Campo e Cultura Camponesa: que beleza! Sem Terra/MTC, Córrego Da...




Vida no Campo e Cultura Camponesa: que beleza! Sem Terra/MTC, Córrego Danta/MG. Vídeo 6 - 16/8/2019.
Dia 16/8/2019, frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG), visitou o Acampamento Nova Esperança 2, do MTC (Movimento dos Trabalhadores Camponeses), no município de Córrego Danta, na região centro-oeste de Minas Gerais, ao lado da BR 262 que liga o Triângulo Mineiro a Belo Horizonte. Lá, 60 famílias há 2 anos e 3 meses ocupam uma fazenda que estava abandonada, sem cumprir sua função social. As famílias estão convivendo em fraternidade e produzindo uma variedade de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos. Além de cultivar a terra, produzem também galinha, frango, porcos etc. Luta justa e necessária que conta com o apoio da CPT em MG. Filmagem e edição amadora de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Córrego Danta, MG, 16 de agosto de 2019.

Acampamento Nova Esperança 2, do MTC, no município de Córrego Danta, MG: 60 famílias vivendo em harmonia com a mãe terra, com qualidade de vida e produzindo de forma agroecológica. Foto: frei Gilvander

*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
#LutaPelaTerra

Espiritualidade das CEBs (Parte I): Sônia no XIV Encontrão de CEBs de Ta...



Espiritualidade das CEBs (Parte I): Sônia no XIV Encontro de CEBs de Taiobeiras/MG. Vídeo 6 - 28/7/2019.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são na igreja e na sociedade sinal de fé cristã e libertação. Na sua caminhada profética e missionária, as CEBs defendem vida digna para todos/as, justiça e direitos iguais. Que o acesso à terra, à água, ao alimento, à saúde e à educação de qualidade seja para todos/as. Assim como o direito de ir e vir, trabalhar e se divertir, direito de conviver com a família, comunidade e sociedade. Inspiradas pela palavra que convoca para o compromisso cristão e chamadas a ser igreja em saída, as CEBs da Paróquia São Sebastião de Taiobeiras realizaram dia 28 de julho de 2019, o 14º Encontrão com o tema: “CEBs e Políticas Públicas – Vida e Dignidade no Campo e na Cidade”. Participaram mais de 400 pessoas vindas das Comunidades Eclesiais de Base de Taiobeiras, Indaiabira, Salinas, São João do Paraíso, Novo Horizonte e Rio Pardo de Minas. Foram celebrados os 30 anos de caminhada das CEBs do município de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, na Arquidiocese de Montes Claros. Foram recordadas a vida e a história das comunidades e de tantas pessoas que participaram da construção desta história ao longo dos últimos 30 anos. Foi celebrado também o dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural. Mulheres e Homens incansáveis, que, com carinho, cultivam a terra e produzem o alimento para o sustento das famílias do campo e da cidade. O encontro teve inicio na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Taiobeiras e, em seguida, o povo seguiu em marcha pelos bairros Nossa senhora de Fátima e Santos Cruzeiro até o Centro de Formação São Sebastião, onde teve continuidade o 14º Encontrão das CEBs. O encontro contou com a assessoria de Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Leigos do Brasil; do frei Gilvander Luís Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT); e do Artista Popular Sebastião Estevão, o Farinhada. Estiveram presentes as Irmãs religiosas da Paróquia de Taiobeiras e da Paróquia Santo Antônio, de Salinas, também representantes do movimento sindical, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Geraizeiro, Escola Família Agrícola (EFA) Nova Esperança, associações e mandatos populares. Foi um marcante momento de celebração, formação e animação com apresentações culturais envolvendo os jovens e o grupo cultural “As Mineirinhas”, inclusive. O encontro teve o encerramento marcado pela celebração participativa da Eucaristia com muita animação com entrada dos vagões do Trem das CEBs, bandeiras de todas as comunidades, os bolos como oferta, fruto do trabalho e da mãe terra e a imagem da mãe Aparecida que inspira, protege e impulsiona seus filhos e filhas para a luta em defesa dos empobrecidos – os preferidos do Deus da vida -, cumprindo a profecia do Magnificat: “Ele agiu com a força de seu braço, dispersou os arrogantes de coração; derrubou dos tronos os poderosos e exaltou os humildes; encheu de bens os famintos e despediu os ricos sem nada” (Lc 1,51-53). Durante o Encontro foi homenageado o Padre Ernesto de Freitas Barcelos.

Logotipo das CEBs de Minas Gerais - Comunidades Eclesiais de Base - www.cebsdeminas.com.br


Filmagem e Edição amadora: Frei Gilvander Moreira, das CPT, das CEBs e do CEBI. Taiobeiras, MG, 28/7/2019.
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domingo, 22 de setembro de 2019

VALE gera mais desemprego que emprego. Em São Gonçalo do Bação, MG, tamb...



VALE gera mais desemprego do que emprego. Em São Gonçalo do Bação, Itabirito, MG, também. Vídeo 7 - 09/9/2019.

A mineradora VALE está fazendo mais uma grande obra de devastação ambiental no município de Itabirito, MG, no distrito de São Gonçalo do Bação. A VALE alega que é para conter parte da lama tóxica das barragens de Forquilha I, II e III, da Mina da Fábrica, em Ouro Preto, caso essas barragens rompam. Isso para evitar o soterramento da maior parte da cidade de Itabirito. Entretanto há vários indícios que levam a crer que a VALE está expandindo a mineração na região. Tanto é que contra a vontade do povo de São Gonçalo do Bação, a VALE está construindo mais um Terminal Ferroviário de carregamento de minério e construindo também duas estradas duplicadas, uma que liga São Gonçalo do Bação a Engenheiro Correa e outra que conecta com a BR 040. A devastação ambiental está sendo imensa! Um verdadeiro crime socioambiental. Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI, visitou a obra e a região. Na ocasião gravou entrevista, em vídeo, com Patrícia Estrela de Oliveira Vasconcelos, Promotora de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais.

Povo do distrito de São Gonçalo do Bação, no município de Itabirito, MG, protestam contra a construção de mais um Terminal de carregamento de minério no Bação, vilarejo histórico que está sendo devastado pela mineradora Vale. Foto: A. Baeta.
Veja aqui o vídeo 4 da reportagem em vídeo. Filmagem e edição amadora de frei Gilvander Moreira, São Gonçalo do Bação, Itabirito, MG, 09 de setembro de 2019.
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