terça-feira, 30 de julho de 2019

Padre Ernesto, profeta do Reino de Deus no meio do povo

Padre Ernesto, profeta do Reino de Deus no meio do povo
Por Gilvander Moreira[1]

Padre Ernesto de Freitas Barcelos. Fotos: Maria José de Souza (Maju) e Maria Imaculada de Oliveira e Silva.
O sol brilhou mais dia 8 de setembro de 1955, porque estava nascendo Ernesto de Freitas Barcelos, que se tornou padre do clero da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, MG, e, acima de tudo, um profeta do Reino de Deus no meio do povo. Dia 27 de julho de 2019, às 8h30, iniciou-se mais uma linda festa no céu, pois com quase 64 anos “combatendo o bom combate”, sendo profeta do Reino de Deus no meio do povo, padre Ernesto fez sua travessia para a vida plena, vida terna e eterna. Em Pitangui, MG, padre Ernesto iniciou sua caminhada aqui no Planeta Terra e também nos deixou fisicamente.
Falar sobre o padre Ernesto é difícil, pois diante dele temos que tirar as sandálias, porque estamos diante de uma “terra sagrada”, pessoa sagrada que, como Jesus Cristo, conquistou pelo seu jeito de ser e agir uma santa autoridade. Padre Ernesto jamais se curvou diante dos poderosos.  Em missão em Acaiaca, MG, fiquei profundamente comovido quando soube da passagem do padre Ernesto para a eternidade. Inesperadamente ele partiu... Penso que todas as pessoas que tiveram a alegria e a responsabilidade de conviver com padre Ernesto, de fazer pastoral e missão libertadoras ao lado dele têm o dever de escrever e/ou gravar áudio e/ou registrar em vídeo algo do muito que padre Ernesto fez e ensinou no meio do povo pelo Brasil afora. A Bíblia existe graças às milhares de pessoas que perceberam a importância e a necessidade de registrar os ensinamentos e a práxis das profetizas e dos profetas na caminhada do povo da opressão para a libertação. Arrisco escrever aqui um pouco do muito que vi, ouvi, senti e aprendi com padre Ernesto, tendo tido a alegria e a responsabilidade de lutar ao lado dele inúmeras vezes, desde 1994.
Padre Ernesto me marcou indelevelmente desde a 1ª vez que o vi. Foi em uma missa na igreja de Cristo Libertador, em Ipatinga, MG, onde ele conclamava a todas/os que lotaram a igreja e um grande número de padres presentes a repudiar as ameaças de morte que estava sofrendo o padre Ricardo Resende, da CPT de Rio Maria, no Pará. Padre Ernesto me ensinou que as ameaças de morte a quem está na luta contra as injustiças são também ameaças de ressurreição.
Padre Ernesto sempre nos interpelava para a vivência coerente com o ensinamento de Jesus Cristo e com o seu Evangelho; primeiro, por ter vivido sempre de forma simples e austera. Sempre calçando sandálias de dedo, com camiseta das CEBs, ou das Romarias da Terra e das Águas, ou de Pastorais Sociais, ou do Grito dos Excluídos – umas camisetas trazia a inscrição "Desobedeça!"; outra, "Luto pela democracia"; outra, "A causa indígena é de todos nós" - , embornal, no ombro, com balas de rapadura e gengibre que ele sempre levava para partilhar, e trajando calça surrada. Para proteger a cabeça do sol, Ernesto usava chapéu de palha ou bonés das romarias, da Pastoral Carcerária, do MST, das CEBs ... Símbolo da aliança com a causa dos injustiçados, o anel de tucum Ernesto sempre carregava em um dedo da mão. Com esse estilo de vida simples padre Ernesto testemunhava a única possibilidade de futuro na nossa única Casa Comum, o Planeta Terra: construirmos uma sociedade do Bem Viver e Conviver, freando o progresso e o desenvolvimento econômico  de uma minoria, socializando os bens da criação e preservando ao máximo a mãe terra, as nascentes, revitalizando as bacias hidrográficas, reconstituindo os biomas e ecossistemas e, óbvio, vivendo com o mínimo de forma sóbria e austera. Padre Ernesto não apenas fez Opção pelos Pobres, mas viveu pobre.
Padre Ernesto sempre apontava o rumo certo e libertador das lutas populares, sempre com Opção de Classe Trabalhadora e de Classe Camponesa, Opção pelos Pobres. Padre Ernesto nunca fez média com a pequena burguesia e muito menos com a classe dominante. Ele estava sempre do lado dos empobrecidos e violentados por uma sociedade capitalista, máquina de moer vidas. Padre Ernesto sabia e ensinava que o Evangelho de Jesus Cristo é ótima notícia para os empobrecidos, mas péssima notícia para os opressores.
Padre Ernesto trabalhou em paróquias durante décadas, mas nunca se restringiu à burocracia das paróquias e nem ficou limitado aos limites geográficos das paróquias ou da sua Diocese. Com teimosia e garra, padre Ernesto participava sempre de todas as lutas do povo. Ele marcava presença em tudo que gera vida, fraternidade real e liberdade para o povo. Foi protagonista na Pastoral Carcerária, ciente de que todo preso é um preso político e devemos lutar para construirmos uma sociedade sem prisões, pois Jesus iniciou sua missão pública possuído por uma ira santa ao saber que o profeta João Batista tinha sido preso e, algemado, tinha sido empurrado para dentro de uma prisão de segurança máxima, conforme escreveu o historiador Flávio Josefo. Padre Ernesto alertava sempre que Jesus anunciou em seu discurso de abertura de sua missão pública um projeto de libertação integral: econômica, política, social e espiritual, onde consta a libertação dos presos, inclusive. Jesus foi prisioneiro político condenado injustamente pelos podres poderes da economia, da política e da religião.
Padre Ernesto sempre foi um animador das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), cônscio de que as CEBs são o jeito normal/antigo da igreja ser e agir, sendo fermento no meio da massa alienada e cegada, luz no meio das trevas das opressões e corrupções e sendo sal para impedir tantas deteriorações, entre as quais a desencarnação da fé cristã, a amputação da dimensão social da fé cristã, os espiritualismos, os intimismos e os fundamentalismos. Para participar dos Intereclesiais (Encontros Nacionais das CEBs), padre Ernesto sempre organizava uma caravana de romeiras e romeiros que, mesmo não sendo representantes das CEBs no Intereclesial, participavam de vários momentos dos Intereclesiais e bebiam na mesma fonte de espiritualidade libertadora.
Padre Ernesto foi sempre um agente de pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), pois sabia que sem a partilha, a socialização e a democratização da mãe terra não haverá justiça agrária, nem justiça urbana, nem justiça socioambiental e nem respeito aos direitos humanos fundamentais. Padre Ernesto foi um entusiasta animador, organizador e participante das Romarias das Águas e da Terra no estado de Minas Gerais e em outros estados. Inesquecível ver a paixão do padre Ernesto pela Bíblia lida e interpretada em uma linha libertadora. As homilias do padre Ernesto e suas falas nas Romarias, sempre inspiradas na Bíblia, brotavam de genuína inspiração bíblica. Padre Ernesto participou junto com uma caravana de 50 pessoas das CEBs do Vale do Aço das duas Romarias da Terra do noroeste de Minas Gerais, realizadas em Arinos em 25/7/1991 e 25/7/1993, romarias que levaram à prisão e condenação do assassino dos camponeses posseiros irmãos Januário e José Natal e à fuga do mandante do assassinato dos posseiros, o fazendeiro José Alfredo, que desapareceu. Interrompeu-se com essas duas romarias a matança sem nenhuma punição de camponeses no noroeste de Minas Gerais.
Padre Ernesto participava também do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), pois sabia que a Bíblia, se interpretada de forma sensata a partir dos empobrecidos, se torna um farol aceso e um motor possante na nossa caminhada e luta pela construção do Reino de Deus a partir do aqui e do agora. Padre Ernesto era essencialmente missionário, apóstolo do Reino de Deus, ungido e outro Cristo no nosso meio. Por isso, ele animava, organizava e realizava Missões Populares, não em uma linha só de devoção, mas em uma perspectiva de entrosamento da fé cristã com a realidade do povo. Padre Ernesto foi missionário em regiões assoladas por injustiças agrárias e sociais, tais como: Rio Maria no Pará, onde padre Ernesto lutou ao lado do padre Ricardo Resende fortalecendo a luta dos camponeses contra as violências perpetradas pelo latifúndio e pelos latifundiários. Padre Ernesto atuou pastoralmente também na Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, ao lado do profeta, místico e poeta Dom Pedro Casaldáliga e de sua Equipe missionária. Padre Ernesto foi missionário no norte de Minas Gerais, em Riacho dos Machado e região. Foi também missionário no Vale do Jequitinhonha em Fronteira dos Vales, em Bandeira etc.
Padre Ernesto não era neutro politicamente. Ele participava também do Movimento de Fé e Política, pois sabia que política não se reduz a política partidária e nem a politicagem, mas é luta pelo bem comum. Padre Ernesto, onde estava, era um ardoroso defensor dos Direitos Humanos fundamentais. Por isso foi muito incompreendido, perseguido e caluniado por pessoas integrantes da pequena burguesia e/ou da classe dominante.
Padre Ernesto também lutou na defesa dos direitos dos povos indígenas. Eis um exemplo: a partir de 1986 é que a luta e visibilidade do Povo Indígena Kaxixó, que resiste nos municípios de Martinho Campos e Pompéu, no centro-oeste mineiro, teve início no cenário indigenista e indígena no país, considerados como povo ressurgido.  O sindicato dos trabalhadores Rurais (STR) de Pompéu por meio de seu presidente, o Sr. Ivo Machado, foi a primeira entidade que acudiu e assessorou os Kaxixó quando as perseguições e conflitos perpetrados pelos fazendeiros locais se acirraram. De imediato, o sindicalista Ivo Machado (assassinado tempos depois) fez contato com o coordenador da CPT/MG, padre Jerônimo Nunes, que visitou junto com o padre Ernesto as Comunidades Kaxixó situadas à beira do rio Pará. Foram decisivas as colaborações iniciais da CPT/MG à luta Kaxixó, cuja equipe também contou com a participação de Geraldo Cristino de Assunção, conhecido carinhosamente como Tiago, agente de pastoral da CPT/MG, e do Padre Ernesto, grande conhecedor da região de Pitangui, sua terra natal. Padre Ernesto realizou inúmeras visitas ao Povo Indígena Kaxixó, inclusive quando da realização dos trabalhos de campo relativos ao projeto: “Kaxixó: Quem é este povo”, desenvolvidos pelas entidades CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva) e ANAI (Associação Nacional de Ação Indigenista), quando visitou taperas antigas, grutas, sítios arqueológicos e cemitérios indígenas, ajudando na identificação do território ancestral Kaxixó.
Se tivesse tempo, poderíamos citar inúmeras frases anunciadas pelo padre Ernesto com muita paixão e amor ao próximo. Por exemplo, padre Ernesto, sempre bem-humorado e atencioso com todos/as dizia: “Jesus passou no nosso meio só fazendo o bem para todos, principalmente para os oprimidos e explorados. Eu gosto muito de uma frase do Gandhi que diz ‘Eu não conheço uma pessoa que mais fez bem para a humanidade do que Jesus, mas vocês que se dizem cristãos atrapalham a mensagem de Jesus’.  ... As coisas partilhadas rendem. ... Quem calunia os que lutam por justiça não têm perdão. Caminhemos na justiça, no amor, pois justiça e paz se encontrarão.”
Realmente o Roberval, da Pastoral dos Migrantes, tem razão ao cantar que padre Ernesto foi – e continuará sendo - “um padre amigo, sem riqueza e sem poder”. Padre Ernesto não foi sepultado, mas semeado no coração da mãe terra. Padre Ernesto virou semente e se multiplicou.
Gratidão eterna, padre Ernesto, pelo imenso legado espiritual, ético, profético e revolucionário que você nos deixou. Perdemos sua presença física, mas você continuará sempre vivo em nós, na luta. Que o Deus da vida nos dê a coragem e a sabedoria necessária para honrarmos seu nome, seus ensinamentos, sua coragem e seu jeito destemido de lutar ao lado dos empobrecidos construindo o Reino de Deus aqui e agora também. Enfim, como padre Ernesto, que compartilha o nome com Ernesto Che Guevara, é sempre mais do que nossas visões parciais e localizadas nos permitem alcançar e também para o texto não ficar muito longo, termino com a eloquente poesia “Na porta do céu”, do Padre Antônio Claret, outro profeta do Reino de Deus no meio do povo, sobre Padre Ernesto de Freitas Barcelos:

Na porta do céu

Tira esse avental
E entra logo Ernesto
Camarada justo e fiel
A casa é tua
Descansa
E não me leves a mal:
Da voz rouca
Da pouca saúde da perna
Da viagem breve
Do peso (leve)
Do preço (caro) da coerência
E da licença pra partir.

Belo Horizonte, MG, 30/7/2019.

Obs. 1: Eis, abaixo, além de vídeos, algumas fotografias do padre Ernesto de Freitas Barcelos.












Obs. 2: Os vídeos, abaixo, ilustram o tratado acima.

1 - Tributo ao Padre Ernesto: Um Profeta no meio do Povo - Versão melhor. 27/7/2019


2 - Padre Ernesto, presente em nós na luta! O seu sonho não morreu. - 28/7/2019



3 - Padre Ernesto faz denuncia crimes em Felisburgo, MG, no III Enc de CEBs de Almenara - 2 a 4 12/2011


 4 - Parte 6: 20a Romaria das Águas e da Terra/MG. O Grito da Terra II. Padre Ernesto. Unaí, 23/7/17



5 - Padre Ernesto, Veio e Simão: XVIII Romaria da terra e das águas de MG (8a parte), Brejo.



6 - Marcha Profética - 20a Romaria das Águas e da Terra/MG "Nas Veredas da Fé"- 22/7/2017


7 - "Nas Veredas da Fé" e a 20a Romaria das Águas e da Terra/MG- 2a Parte - 22/ 7 /2017


8 - 20a Romaria das Águas Terra/MG/Rádio Veredas: frei Gilvander/padre Ernesto/Gilsilene/Udelton






[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Ocupações; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.  E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –  www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

sexta-feira, 26 de julho de 2019

CPT-MG 40 anos - Madalena: CPT e Rede de Apoio - A Força da Unidade - Ví...




Nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos de luta - 1979 a 2019 / Madalena: CPT e Rede de Apoio - A Força da Unidade - Vídeo 4 - 07/3/2018.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Minas Gerais, celebra, neste ano de 2019, seus 40 anos de luta, , inspirada pela memória subversiva do Evangelho de Jesus de Nazaré. Frei Gilvander Moreira e equipe de Resgate dos 40 anos de luta da CPT/MG mobilizam-se para colher depoimentos, relatos, histórias e testemunhos de Agentes de Pastoral da CPT ou pessoas a eles/elas ligadas, para que seja resgatada a memória histórica dessa luta solidária, transformadora, libertadora, junto aos camponeses e camponesas. Nesse vídeo, a 4ª parte do depoimento de Madalena, Agente de Pastoral da CPT/MG no Vale do ex-rio Doce, a partir da cidade de Governador Valadares. Uma vida de luta em defesa dos oprimidos, dos sem terra, sem voz e sem vez.


*Reportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT/MG. Governador Valadares/MG, 07/3/2018.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Nota de apoio à ACAMARES (Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo, MG): valorizando vidas e tecnologias limpas


Nota de apoio à ACAMARES (Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo, MG): valorizando vidas e tecnologias limpas


Catadoras no atual galpão da ACAMARES, fazendo a triagem dos Materiais Recicláveis – Sarzedo, MG. Fotos: Alenice Baeta.


A sede da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo (ACAMARES) fica em um galpão situado na Rua São Judas Tadeu, nº 80, no Distrito Industrial do município de Sarzedo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), MG. Por entre inúmeras pilhas variadas de materiais recicláveis, trabalha uma aguerrida equipe, composta por 9 mulheres catadoras e 1 homem catador. O galpão é dividido em escritório, sala de reunião e de oficinas, além dos ambientes destinados ao acondicionamento, triagem e máquinas de prensa para confecção dos fardos de materiais recicláveis.  
A ACAMARES trabalha muito para se manter em funcionamento. Atualmente, possui uma parceria com a prefeitura de Sarzedo, na modalidade de fomento, por meio do Termo nº 06/2019, que garante infraestrutura para o desenvolvimento da atividade. No entanto, a primeira necessidade, com base na Lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, é a coleta seletiva. A coleta seletiva com inclusão social e produtiva dos catadores é o reconhecimento do trabalho dos(as) catadores(as) como serviço essencial na gestão municipal dos resíduos sólidos. Não existe em Sarzedo coleta seletiva municipal. Há apenas um caminhão que recolhe materiais recicláveis em alguns setores administrativos da prefeitura e em algumas lojas do comércio local, não tendo uma rota definida, nem equipe com treinamento para a coleta seletiva. Este modelo que o município chama de coleta seletiva é feito sem a participação dos catadores e sem mobilização social e participação popular. Infelizmente, o material recolhido, que é muito pouco, é entregue no galpão da ACAMARES, sem cumprir uma rotina. A falta de cumprir uma agenda de coleta faz com que os pontos de coleta venham se enfraquecendo e conseqüentemente diminuindo a quantidade de material que chega ao galpão.
Atualmente, a ACAMARES recebe o maior volume de material do município vizinho, Mário Campos, e de algumas empresas locais. O intuito da equipe da ACAMARES, que pertence ao Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), é que a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que vigora há nove anos, seja simplesmente cumprida em Sarzedo.
Em entrevista a frei Gilvander Moreira, associadas da ACAMARES relatam que o atual galpão está pequeno e que, por isso, não há condições de armazenamento de materiais e colocação de caçambas de vidro e sucatas. Por esse motivo na ACAMARES há materiais armazenados na área externa do galpão, de forma inadequada. Isso já foi oficializado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que ainda não deu uma solução. Tudo isso compromete a logística e organização do trabalho e, por consequência, a renda da ACAMARES fica muito mais baixa do que necessitam e planejam.
Cada trabalhador/a da ACAMARES tem recebido em média 570 reais por mês, o que é muito pouco para mães e pais de família se manterem. Os/As trabalhadores/as contam que gostam muito do ofício de catador/a e têm muito orgulho de saber que estão colaborando para a limpeza da cidade onde moram. As/Os catadoras/es têm a plena consciência de que cada vidro, plástico, papel ou alumínio reciclado reduz o consumo de matéria-prima e diminui a poluição da água, do ar e do solo. Segundo uma das catadoras, “o lixo é o nosso ouro.” Pena que o poder público local parece ainda não ter percebido a grandeza deste importante empreendimento limpo e inovador na cidade, que poderia gerar muito emprego, inclusive.  
A Lei n. 12.305, de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, esclarece sobre a necessidade de uma gestão integrada e instrui sobre o gerenciamento de resíduos sólidos e as responsabilidades dos geradores, do poder público e os instrumentos econômicos aplicáveis. Tal lei proibiu lixões e aterros irregulares no Brasil, estabelecendo prazo para o seu fechamento; prazo que já foi adiado. Em seu artigo terceiro, indica a necessidade de um acordo setorial, ou melhor, parcerias a serem firmadas entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. Ainda orienta sobre a necessidade de um controle de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos no país, indicando ainda a premência da implantação de um plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos. Em nível estadual, a Lei 18.031/2009 arbitra este tema destacando os princípios da não-geração, redução, reaproveitamento, reciclagem, tratamento e disposição final, ambientalmente adequada, reiterando a política de responsabilidade socioambiental compartilhada entre setor público, geradores, transportadores, distribuidores e consumidores. Orienta que as ações que cabem aos governos deverão se pautar, entre outros aspectos, pelo reconhecimento da atuação das/os catadoras/es nas ações que envolvam o fluxo de resíduos sólidos, como forma de garantir-lhes condições dignas de trabalho. Esclarece ainda entre outros, sobre necessidade de consórcios municipal, intermunicipal, coleta seletiva e gestão integrada de resíduos sólidos. Cadê COLETA SELETIVA E GESTÃO INTEGRADA em Sarzedo?
Deve-se sempre incentivar as tecnologias limpas, em vez de empreendimentos que causam danos ao meio ambiente e à saúde das pessoas, como vem sendo observado em Sarzedo, que parece dar preferências a atividades de mineradoras, terminais ferroviários e incineradoras de resíduos tóxicos industriais (empresa ECOVITAL), entre outros. Segue um resumo das medidas emergenciais REIVINDICADAS PELA ACAMARES a serem estabelecidas no que se refere ao funcionamento eficaz de uma política de resíduos sólidos em Sarzedo:
. Cumprimento da legislação vigente relativa à política de resíduos sólidos no município, por meio de uma rede contínua de compartilhamento envolvendo poder público, empresas e moradores locais e por meio também de programas ambientais e de educação popular que promovam a conscientização da sua importância;
. Apoio eficaz do poder público municipal a ACAMARES, assumindo a remuneração de um salário mínimo pelo trabalho prestado pelas catadoras e catadores, garantindo que a ACAMARES consiga manter em dia a contribuição com o INSS, transporte (Cartão Ótimo) e cesta básica;
. Locação da ACAMARES em um galpão mais ampliado, com área externa, para que possa aumentar e ampliar as atividades de coleta e colocação de caçambas para vidros e sucatas e, por conseguinte, contratação de novas/os trabalhadoras/es/catadoras/es, gerando empregos e renda na cidade; 
. Investimento em tecnologias limpas, prezando a limpeza do município, preservação do meio ambiente e saúde da sua população. A reciclagem apresenta-se como uma solução logisticamente viável, economicamente rentável e ambientalmente correta. Urgente que Sarzedo promova uma política integrada que esteja em sintonia com a legislação em vigor, que envolva de forma eficaz o poder público local, as empresas que ali atuam e os moradores locais comprometidos com a rede dos 5Rs, ou seja: as fases Repensar, Reduzir, Recusar, Reutilizar e Reciclar;
. Implementação da coleta seletiva com inclusão socioprodutiva de catadores, mobilização e sensibilização da população envolvendo as secretarias de Meio Ambiente, Desenvolvimento Social, Educação, Saúde e Comunicação.

Assinam esta Nota:
Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo (ACAMARES)
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)
Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES)
Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclado (MNCR)
Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT)

Sarzedo-MG, 25 de julho de 2019.

Álbum de Fotos:

 
Frei Gilvander, da CPT/MG, entrevistando as catadoras de material reciclável da ACAMARES, em Sarzedo-MG.
Fardos já montados de jornais, plásticos e papelão no galpão da ACAMARES.
Equipe da ACAMARES e representante da CPT/MG e do Movimento SOS Sarzedo.
Obs.: Os vídeos, abaixo, compõem a Reportagem em vídeo que frei Gilvander fez na ACAMARES, em Sarzedo, MG, dia 03/7/2019.
1 - ACAMARES, em Sarzedo, MG: cooperativa de catadoras/es clama por apoio do poder público. Vídeo 1



2 - Catadoras em Sarzedo, MG, da ACAMARES, clamam por apoio. Cadê o prefeito? Vídeo 2. 03/7/2019



3 - Quanta humanidade nas Catadoras em Sarzedo, MG, da ACAMARES, mas cadê o apoio do prefeito? Vídeo 3


4 - Catadoras da ACAMARES, limpam a cidade de Sarzedo, MG, mas tem pouco apoio. Vídeo 4. 03/7/2019



5 - Prefeitura de Sarzedo/MG precisa cumprir a Política Nac Resíduos sólidos e apoiar ACAMARES. Vídeo 5



quarta-feira, 24 de julho de 2019

Madalena: coragem e união na luta pela terra: nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos (1979 a 2019) - Vídeo 3 - 07/3/2018.


Madalena: coragem e união na luta pela terra: nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos (1979 a 2019) - Vídeo 3 - 07/3/2018.



A Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Minas Gerais, celebra, neste ano de 2019, seus 40 anos de luta, , inspirada pela memória subversiva do Evangelho de Jesus de Nazaré. Frei Gilvander Moreira e equipe de Resgate dos 40 anos de luta da CPT/MG mobilizam-se para colher depoimentos, relatos, histórias e testemunhos de Agentes de Pastoral da CPT ou pessoas a eles/elas ligadas, para que seja resgatada a memória histórica dessa luta solidária, transformadora, libertadora, junto aos camponeses e camponesas. Nesse vídeo, a 3ª parte do depoimento de Madalena, Agente de Pastoral da CPT/MG no Vale do ex-rio Doce, a partir da cidade de Governador Valadares. Uma vida de luta em defesa dos oprimidos, dos sem terra, sem voz e sem vez.

Nova Logomarca da CPT/MG.

*Reportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT/MG. Governador Valadares/MG, 07/3/2018.
 *Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos de luta - 1979 a 2019/ Madalena: Luta pela terra e protagonismo na 1ª Romaria das Águas e da Terra de MG - Vídeo 2 - 07/3/2018.


Nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos de luta - 1979 a 2019/ Madalena: Luta pela terra e protagonismo na 1ª Romaria das Águas e da Terra de MG - Vídeo 2 - 07/3/2018.



A Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Minas Gerais, celebra, neste ano de 2019, seus 40 anos de luta, , inspirada pela memória subversiva do Evangelho de Jesus de Nazaré. Frei Gilvander Moreira e equipe de Resgate dos 40 anos de luta da CPT/MG mobilizam-se para colher depoimentos, relatos, histórias e testemunhos de Agentes de Pastoral da CPT ou pessoas a eles/elas ligadas, para que seja resgatada a memória histórica dessa luta solidária, transformadora, libertadora, junto aos camponeses e camponesas. Nesse vídeo, a 2ª parte do depoimento de Madalena, Agente de Pastoral da CPT/MG no Vale do ex-rio Doce, a partir da cidade de Governador Valadares. Uma vida de luta em defesa dos oprimidos, dos sem terra, sem voz e sem vez.

4a Romaria das Águas e da Terra da bacia do Rio Doce, em Itabira, MG, dia 02/6/2019. Foto: Heitor Bragança

*Reportagem e filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT/MG. Governador Valadares/MG, 07/3/2018.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos de luta - 1979 a 2019/ Madalena: Coragem e Ousadia no Vale do ex-Rio Doce, MG - Vídeo 1 - 07/3/2018.


Nos caminhos e nas trilhas da CPT/MG: 40 anos de luta - 1979 a 2019/ Madalena: Coragem e Ousadia no Vale do ex-Rio Doce, MG - Vídeo 1 - 07/3/2018.



A Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Minas Gerais, celebra, nesse ano de 2019, seus 40 anos de luta, , inspirada pela memória subversiva do Evangelho de Jesus de Nazaré. Frei Gilvander Moreira e equipe de Resgate dos 40 anos de luta da CPT/MG mobilizam-se para colher depoimentos, relatos, histórias e testemunhos de Agentes de Pastoral da CPT ou pessoas a eles/elas ligadas, para que seja resgatada a memória histórica dessa luta solidária, transformadora, libertadora, junto aos camponeses e camponesas no estado de Minas Gerais. Nesse vídeo, a 1ª parte do depoimento de Madalena, Agente de Pastoral da CPT/MG no Vale do ex-Rio Doce, MG, a partir da cidade de Governador Valadares. Uma vida de luta em defesa dos oprimidos, dos sem terra, sem voz e sem vez.

Madalena, da CPT/MG, durante entrevista para os 40 anos da CPT/MG dia 07/3/2018. Foto: frei Gilvander

*Reportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT/MG. Governador Valadares/MG, 07/3/2018.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Despejar Quilombo Souza no coração de Belo Horizonte é injusto e absurdo...



Despejar o Quilombo Souza no coração de Belo Horizonte é injusto e inconstitucional. Vídeo 2. 19/7/2019.

Ilegalidades e irregularidades na decisão do TJMG que mandou despejar o Quilombo Souza, em BH. Despejo iminente da Comunidade Quilombola Vila Teixeira Soares, em Belo Horizonte, MG: injustiça gritante. A Associação de Moradores do bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, MG, e uma grande rede de apoio vêm a público se manifestar veementemente contra o desalojamento da Vila Teixeira Soares, comunidade tradicional quilombola consolidada que está sob ameaça de despejo por uma ordem judicial ilegal, inconstitucional e injusta. São 16 famílias que estão para serem despejadas no próximo dia 25 de julho de 2019, sem qualquer indenização ou reassentamento prévio. A ameaça do despejo impulsionou as famílias da Vila Teixeira Soares a resgatarem sua memória, construir sua linha do tempo e se reconhecer como Quilombo Urbano – o 4º em Belo Horizonte - por meio de assembleia de auto declaração realizada no último dia 30 de junho, que contou com a participação da nossa Associação, parlamentares, Ministério Público, etc. O risco do despejo também fez lideranças da Vila retornarem à terra de origem da matriarca e do patriarca fundadores da comunidade para comprovar e obter certidão oficial de batismo do patriarca Petronillo registrado no "livro de batismo dos escravos". Esse e muitos outros documentos oficiais foram encaminhados à Fundação Palmares para fins de reconhecimento do território como remanescente quilombola passível de proteção, nos termos do Decreto Nº 4.887/2003 e da Portaria FCP Nº 98/2007. A Fundação Cultural Palmares já expediu o Certificado reconhecendo a Comunidade Souza como Comunidade remanescente de quilombo. Isso já foi publicado no Diário Oficial da União. Parte considerável da área é território ancestral negro autodeclarado e que batalha pelo seu reconhecimento como comunidade remanescente quilombola, situada no bairro Santa Tereza, patrimônio histórico da capital mineira. A Vila se forma no início do século XX, pela matriarca negra Elisa, nascida sob a Lei do Ventre Livre, casada com Petronillo, que foi pessoa escravizada até a promulgação da Lei Áurea em 1888. Ambos se casaram e migraram do interior do estado de Minas Gerais, cidade de Além Paraíba, para Belo Horizonte, em busca de melhores condições de sobrevivência. Instalaram-se no bairro de Santa Tereza antes de 1915, ano em que nasceu um dos filhos do casal registrado em cartório já na capital. O patriarca Petronillo chegou a trabalhar na construção da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira de Belo Horizonte. O terreno em que construíram sua morada fazia parte da Ex-Colônia Américo Werneck e foi adquirido em 1923, conforme contrato de compra e venda que foi levado a registro. As famílias ameaçadas de despejo pagam IPTU ao município desde o ano de 1955! São contribuintes e não são considerados como pessoas cidadãs. Neste vídeo 2, frei Gilvander continua entrevistando o advogado Dr. Joviano Gabriel, que fala sobre uma série de ilegalidades, irregularidades e indícios de fraudes no processo que levou à decisão do TJMG de despejo da Comunidade Quilombola Souza, de Belo Horizonte.

Foto: Divulgação / Movimento Teixeira Resiste


Filmagem e edição de frei Gilvander, da CPT, CEBs e CEBI. Belo Horizonte, 19/7/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.