Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Vídeos de Alcimar José de Oliveira comprovam: mineradora da MIB (empresa Mineração Ibirité Ltda), em Córrego do Feijão, município de Brumadinho, MG, tem barragens, sim. E de alto risco! Vídeo 2 da entrevista de frei Gilvander com Dona Vicentina e Alcimar. 20/2/2019.
No Distrito de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, a preocupação, o medo, a angústia e a incerteza em relação ao presente e ao futuro, assumem dimensão imensurável. O pacato povoado que tem em sua memória histórica a tranquilidade, a qualidade de vida garantida pela agricultura familiar, a convivência harmoniosa com a natureza e uns com os outros, hoje convive com a ameaça constante do avanço da mineração e seus efeitos socioambientais desastrosos. A ganância, a ambição do capital e dos capitalistas querem seguir em ritmo acelerando, desrespeitando totalmente a vida e a história do povo do Distrito de Córrego do Feijão. Nem mesmo o crime tragédia da mineradora Vale e do Estado, que aconteceu a partir das 12h28 do dia 25/1/2019, em Brumadinho/MG, causando centenas de mortes, causando a morte do rio Paraopeba e de toda a biodiversidade atingida pela lama tóxica, foi capaz de barrar a ânsia do lucro das mineradoras, que já retomam suas atividades. VALE e MIB (Mineradora Ibirité Ltda.) se cercam de artifícios, com a proteção do Estado e insistem com as atividades minerárias, colocando em risco a vida das famílias e o que ainda resta da natureza. Nesse vídeo, a segunda parte da entrevista de frei Gilvander com Dona Vicentina, 83 anos, com o marido deficiente para cuidar, e Alcimar, moradores do Distrito de Córrego do Feijão. Com as fortes imagens gravadas em outubro de 2018, Alcimar comprova que, ao contrário do que é divulgado pela MIB e pelo prefeito de Brumadinho, Alvimar Barcelos, a mineradora da MIB tem, sim, barragens no Distrito de Córrego do Feijão, e bem próximas à comunidade. E são barragens de alto risco!
Alcimar e dona Vicentina, do Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG, sofrem as consequências das violências causadas pelas mineradoras Vale e MIB na região. Foto montagem: Nádia Oliveira.
*Filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Distrito de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, MG. 20/2/22019.
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Mineradoras VALE e MIB, em Córrego do Feijão, Brumadinho/MG: Desrespeito com a vida e com a história. Frei Gilvander entrevista Dona Vicentina, 83 anos, e Alcimar, moradores do Distrito de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, MG. Vídeo 1. 20/2/2019.
No Distrito de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, a preocupação, o medo, a angústia e a incerteza em relação ao presente e ao futuro, assumem dimensão imensurável. O pacato povoado que tem em sua memória histórica a tranquilidade e a qualidade de vida garantida pela agricultura familiar, convivência harmoniosa com a natureza e uns com os outros, hoje convive com a ameaça constante do avanço da mineração e seus efeitos socioambientais desastrosos. A ganância, a ambição do capital e dos capitalistas querem seguir em ritmo acelerando, desrespeitando totalmente a vida e a história do povo do Distrito de Córrego do Feijão. Nem mesmo o crime tragédia da mineradora Vale e do Estado, que aconteceu a partir das 12h28 do dia 25/1/2019, em Brumadinho/MG, causando centenas de mortes, causando a morte do rio Paraopeba e de toda a biodiversidade atingida pela lama tóxica, foi capaz de barrar a ânsia do lucro das mineradoras, que já retomam suas atividades. VALE e MIB (Mineradora Ibirité Ltda.) se cercam de artifícios, com a proteção do Estado e insistem com as atividades minerárias, colocando em risco a vida das famílias e o que ainda resta da natureza. Nesse vídeo, a primeira parte da entrevista de frei Gilvander com Dona Vicentina, 83 anos, com o marido deficiente para cuidar, e Alcimar, moradores do Distrito de Córrego do Feijão, com relatos e depoimentos comoventes e preocupantes acerca das ações das Mineradoras VALE e MIB, que ferem totalmente a dignidade da pessoa humana e violenta o meio ambiente de forma devastadora.
Barragem no complexo de mineração em Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG, tem sinais que aparentam deslizamento recente. Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press.
*Filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Distrito de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, MG. 20/2/2019.
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Ka
Ribas, do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, de Brumadinho/MG, na reunião
da Câmara de Atividades Minerárias (CMI) do COPAM: "Não aceitamos
mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG". 22/2/2019.
Em sua intervenção na reunião da Câmara de
Atividades Minerárias - CMI - do Conselho Estadual de Políticas Ambientais
(COPAM), do Governo de Minas Gerais, no dia 22/2/2019, que teve na pauta a
votação pela retomada da mineração na Serra da Piedade, situada nos municípios
de Caeté e Sabará, dia 22/2/2019, Ka Ribas, do Movimento Águas e Serras de Casa
Branco, município de Brumadinho, MG, exigiu a preservação da Serra da Piedade,
em Caeté e Sabará, MG e afirmou: “Chega de Mineração. Já matou demais!”. Mesmo
sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de
Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera -
que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta
popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado
lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a
AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir
licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é
essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes,
agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já
vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver
nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de
mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de
uso de água superficial e subterrânea. A Serra da Piedade é protegida por três
tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível
municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de
cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração
na Serra da Piedade. A Serra da Piedade é responsável por parte significativa
do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já
perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável
por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na
Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais
mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem
que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial
e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que
eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais
pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que
as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo
administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja,
o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental
protagonizada pelas mineradoras.
Ka Ribas na Reunião da CMI/COPAM, dia 22/02/2019, repudiando projeto de mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG. Foto montagem: Nádia de Oliveira.
*Filmagem de Lúcio Guerra
Júnior. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG,
26/1/2019.
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“(...) as prostitutas vos precederão no Reino de
Deus” (Mateus 21,31).
“De que me vale ser filho da santa / Melhor
seria ser filho da outra / Outra realidade menosmorta / Tanta mentira, tanta força bruta…”
(Música Cálice, de Chico Buarque)
Certa vez, Jesus reuniu as discípulas e
os discípulos e os convidou para a missão: "Quando vocês forem anunciar a
Boa Nova do Reino, não levem dinheiro nem comida, mas confiem no povo. Digam: O
Reino chegou! Está chegando!'" E as discípulas e os discípulos assim foram
para a missão. Maria Madalena e Jesus também foram. Andaram, andaram. Estava
começando a escurecer, quando, a convite de Maria Madalena, Jesus chegou num
dos “hotéis de alta rotatividade” da rua Guaicurus, no centro de Belo
Horizonte, região onde se concentra o maior número de mulheres que exercem a
prostituição como profissão na capital de Minas Gerais. Jesus viu prédios
velhos e mal cuidados. Viu os quartos de alguns hotéis em péssimas condições
sanitárias, muito pequenos, e com pouca ventilação. Alguns não tinham sequer
água encanada, em outros, apenas uma pia, ou um pequeno bidê e pia.
Perspicaz e com fino faro, Jesus não viu
apenas as condições físicas dos hotéis de prostituição. Jesus viu milhares de
mulheres que ali tentavam ganhar o pão de cada dia, quase todas mães, filhas empobrecidas
de famílias do interior e até de outros estados do Brasil. Jesus ouviu ali que
certos saduceus, ricos piedosos, sem nunca ouvir as ‘mulheres da batalha’ –
‘mulheres da vida’ -, as taxavam de promíscuas, de pecadoras e libertinas.
Jesus ficou indignado com esse moralismo. Jesus viu que a luz e força divina estavam
presentes naquelas mulheres prostituídas, pois encontrou muita humanidade no
meio delas. Jesus viu que desde muito cedo aquelas jovens tiveram de buscar
meios de promover o próprio sustento. Jesus viu nelas mães, que precisaram
prover os próprios filhos desde a infância. Jesus viu que todas tinham no
coração um grande sonho: melhorar de vida. “Sonhamos com dias melhores”, Jesus
ouviu isso de várias.
Com muito respeito, após ver e ouvir
muito, Jesus começou a dialogar com as ‘mulheres da batalha’. Perguntou: “Quais
os motivos que levaram vocês a abraçarem a prostituição como uma profissão?”
Uma a uma, foram dizendo: falta de orientação familiar, falta de oportunidades,
necessidade de luxo, ilusão, baixa escolaridade, falta de profissão, filhos
para sustentar, dificuldades da vida, necessidade de comprar o amor da família
etc.
Jesus viu que as ‘mulheres da batalha’ almoçavam
às pressas. Caso perdessem tempo, não conseguiriam pagar a diária no fim do dia
e perderiam o acesso à chave do quarto no dia seguinte, por 6 ou 8 horas. “Não
repare, mas coma com a gente!”, disseram a Jesus. Enquanto almoçava com elas,
Jesus arriscou perguntar: “O que causa medo em vocês?” Disseram: “Os homens
violentos com seus desejos abusivos, o autoritarismo dos gerentes dos hotéis, o
medo de não conseguir pagar a diária, a falta de chaves (quartos) para
trabalhar, o hotel sem clientes, AIDS, drogas, a doença mental, a
discriminação...”. Uma que não quis revelar o nome desabafou: “A maior tristeza
da prostituta é ser discriminada. Como posso falar que sou prostituta? Muitas
pessoas nos julgam sem conhecer a gente a fundo. Deus não discrimina ninguém.”
Com olhar atento, respeitoso e sentindo
com o coração, Jesus percebeu que reinava ali um clima amistoso. Ele viu que a ‘zona’
permite que a mulher encontre espaços para exercer um pequeno poder e para que
os homens expressem suas fragilidades. Jesus ouviu lá: “Muitos homens vêm aqui
para conversar e chorar; outros se tornam “clientes fixos” e estabelecem conosco
um pacto de ajuda mútua.” Jesus se comoveu ao ouvir de uma ‘mulher da batalha’:
“No dia que eu estava mal, as meninas vieram conversar comigo e eu acalmei. É
pior ficar sozinha nessas horas.” Jesus ouviu também ‘mulheres da vida’ falando
dos seus direitos trabalhistas e previdenciários sempre negados. Jesus
asseverou que o princípio da dignidade da pessoa humana implica conceder
direitos trabalhistas e previdenciários também às ‘mulheres da batalha”.
Jesus viu também como uma mulher mais
experiente dava dicas a uma novata. Jesus viu que elas tinham fé em Deus, na
vida e sentiam-se amadas por Deus. Jesus, quando menos se esperava, se viu
rodeado por muitas mulheres. Ele espontaneamente acabou dizendo: “A paz esteja
com vocês. Meu Deus é o Deus de vocês. Ele é nosso pai e nos ama infinitamente.
Não pune e nem castiga ninguém, mas pede conversão e perdoa. Está sempre de
braços e coração aberto para acolher todas suas filhas e seus filhos. Não
tenham medo! Deus está com vocês. Ama vocês.” Nesse momento, uma delas falou:
"Jesus, aqui todo mundo conhece você. Você é muito amigo da gente.
Sinta-se em casa no meio de nós!" E Jesus desapareceu fisicamente da
presença delas. “Cadê Jesus que estava aqui?”, gritou uma. Outra respondeu:
“Ele está dentro de nós. Está vivo em nós e no nosso meio.”
Aquelas mulheres, uma vez mais, fizeram
uma profunda experiência de Deus. Aquele homem que esteve com elas, diferente
de outros homens que costumam visitá-las, não veio para usá-las e explorá-las,
mas demonstrou profundo amor. Amor que entra no quarto de prostituição, que
rompe todos os preconceitos e discriminação e toca a essência humana. Amor que
anuncia a misericórdia e denuncia as injustiças. Aquelas mulheres sentiram-se
profundamente amadas por este homem que liberta com sua capacidade de sentar ao
lado e afagar a vida ferida de quem espera um gesto de amor e respeito.
Ao chegar a sua casa, Jesus olhou para
sua mãe Maria e disse: "Mãe, o Reino de Deus também está lá no meio das
‘mulheres da batalha’! Mas fiquei indignado com os donos dos hotéis que ganham
uma montanha de dinheiro submetendo as mulheres a situações degradantes. Vou
enviar minhas discípulas e meus discípulos para que revelem às ‘meninas da
batalha’ o amor de Deus e exijam dos patrões e do poder público respeito e
condições dignas para elas".
Nos corpos das ‘mulheres da batalha’ e
nos corpos das agentes de Pastoral da Mulher Marginalizada, Jesus Cristo visita
todos os dias e noites hotéis de prostituição. Agora entendo porque Jesus
gostava de dizer: “As prostitutas vos precederão no Reino de Deus” (Mateus
21,31) e porque narrou no Evangelho de Mateus que somos também descendentes de
prostitutas.
Alguém extasiado pela beleza e
encanto de uma poesia de Adélia Prado, disse a Adélia Prado, que acabava de
fazer uma palestra: “Adélia, você é a autora dessa poesia?” A poetisa de
Divinópolis divinamente respondeu: “Não. Autora é a humanidade.” Com isso
Adélia queria dizer: A inspiração para essa poesia brotou em mim, mas poderia
ter brotado em qualquer pessoa do presente ou do passado, daqui ou de outro
lugar. Somos filhas e filhos não apenas de nossos pais e mães, mas de nossos
avós, bisavós …, de todos os nossos ancestrais. Fazemos parte de uma única
comunidade de vida. Somos elos vivos de uma grande teia da vida.
Com saudade de Eliseu Lopes, grande
biblista do CEBI que agora vive em plenitude, partilho com vocês o que ele
sabiamente nos ensinou sobre mulheres prostituídas na nossa ascendência. Com
Eliseu recordamos: “Jesus de Nazaré tem linhagem. Não é qualquer um. Antes de
tudo, sua árvore genealógica em que os nomes são estacas que se alinham ao
longo de toda a história do povo da Bíblia, a começar por Abraão, o Pai Abraão.
Para o povo da Bíblia, o notável é que as genealogias, no patriarcalismo
dominante, só comportavam nomes masculinos, mas no Evangelho de Mateus (Mt 1),
figuram cinco nomes de mulheres chamadas de prostitutas, que dignificam a
ascendência de Jesus de Nazaré: Tamar, Raab, Rute, a mulher de
Urias (Betsabeia) e Maria. São mulheres que ocupam um lugar
importante na História do povo da Bíblia. São mulheres que se distinguiram pela
coragem, pela fidelidade, pela resistência, pela criatividade e pela
astúcia.
Tamar, nora de Judá,
ficou viúva e seu cunhado Onan se recusou a cumprir a lei do “levirato”, que
dizia que o irmão do morto deveria assumir a viúva para dar-lhe descendência.
Fiel à Lei, corajosa, criativa e astuciosa, Tamar disfarçou-se de prostituta
para conseguir do sogro o seu direito, precavendo-se, com a exigência de um
penhor, contra as inevitáveis consequências da gravidez (Gênesis 38).
Raab, também era
considerada prostituta, acolhe na periferia da cidade de Jericó os Sem Terra
espiões enviados por Josué, esconde-os para preservá-los do faro canino dos
policiais, dá-lhes a fuga com as devidas instruções para escaparem ilesos e
declara que o motivo de sua corajosa generosidade é sua fidelidade ao Deus de
Israel. Na hora de partilhar a terra, a família de Raab ganhou um lote. Assim,
a aliança dos pobres do campo com os pobres da cidade começou com uma mulher
prostituída, Raab (cf. Josué 2 na Bíblia). A Bíblia faz questão de dizer que
Jefté, grande juiz no meio do povo, era filho de uma prostituta (Juízes 11,1).
Rute, heroína do
romance com seu nome, teve a coragem de deixar seu povo para acompanhar a sogra
Noemi, num comovente testemunho de fidelidade à amiga. Teve a astúcia de conquistar
as boas graças de Booz. Note-se que a história de Rute pertence à literatura de
resistência à restauração implantada pelo sacerdote Esdras. Com Rute se
privilegia uma estrangeira com a condição de bisavó de Davi (Rute 4,18-23).
A beleza de Betsabeia, mulher de Urias, enlouqueceu o rei Davi. Ela teve um
papel saliente na sucessão de Davi e graças a ela é que o trono foi ocupado
pelo seu filho Salomão. O simples fato de ser mãe de Salomão e a coragem com
que enfrentou as intrigas da corte em um momento mais do que crítico, a
consagram (I Reis 1).
Enfim Maria, jovem, fiel ao chamado do Deus da vida, corajosa, lutadora pela
fraternidade econômica, politica, social, cultural e religiosa. A única não
estrangeira, provavelmente era da estirpe de Davi, pois seu noivado com José
supõe laços de parentesco. A mais jovem, talvez ainda quase adolescente,
precocemente madura e lúcida. Ficou grávida ainda solteira. Teve muita coragem
para enfrentar a inevitável maledicência do povo da pequena cidade de Nazaré na
Palestina colonizada pelo Império Romano e pelo poder religioso do sinédrio.
Com o progresso da gestação que se tornou visível, José mergulhou na angústia e
caiu em um dramático dilema: denunciá-la para que fosse punida com os rigores
da Lei ou abandoná-la. Ia optar pela segunda alternativa, quando um anjo do
Deus da vida lhe apareceu em sonho e o tranquilizou com a revelação do mistério
(Mt 1,18-25). Jesus de Nazaré é descendente de Tamar, Raab, Rute, a mulher de
Urias (Betsabeia) e Maria, mulheres consideradas impuras, mas muito humanas.
“A
maior tristeza da prostituta é ser discriminada. Como posso falar que sou
prostituta? Muitas pessoas nos julgam sem conhecer a gente a fundo. Deus não
discrimina ninguém”, desabafam muitas ‘mulheres da batalha’. Jesus e Maria
também foram discriminados. Por isso também, o Evangelho de Mateus fez questão
de mostrar a presença de cinco mulheres tidas como prostitutas na história de
Jesus. O povo da Bíblia viu nelas coragem, criatividade, sensatez, audácia,
liberdade, disposição para a luta, muita humanidade… Isso levou Jesus a
asseverar: “As prostitutas precederão vocês no reino dos céus” (Mateus 21,37).
Só podia ser Maria Madalena quem
convidou Jesus para entrar em um hotel de prostituição. Apresentada como
prostituta, Maria Madalena revela-se uma mulher corajosa, feminista, verdadeira
discípula de Jesus e companheira fiel. E, certamente, não é por acaso que Maria
Madalena é apresentada como testemunha da ressurreição e a primeira a fazer a
experiência de Jesus Ressuscitado - uma mulher considerada prostituta!
Ainda bem que o padre André Luna nos
alerta na música Seu nome é Jesus Cristo:
"Seu nome é Jesus Cristo e é
difamado e vive nos imundos meretrícios, mas muitos o expulsam da cidade
com medo de estender a mão a ele. Entre nós está e não o conhecemos. Entre nós
está e nós o desprezamos."
Enfim, como Tamar, Raab, Rute, a mulher
de Urias (Betsabeia) e Maria há tantas mulheres que batalham, são amadas pelo
Deus da vida e não podem ser discriminadas. Devem ser respeitadas na sua
dignidade humana e precisamos estar ao lado delas na luta pelos seus direitos
fundamentais.
Belo
Horizonte, MG, 05/3/2018.
Obs.: O vídeo, abaixo, versa sobre o assunto correlato ao
texto, acima.
1 - Palavra
Ética, na TVC/BH: Júnia Roman Carvalho, defensora pública.
[1] Frei e padre da Ordem dos
carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em
Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e
Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos”
no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br–www.twitter.com/gilvanderluis–Facebook: Gilvander Moreira III
Punição para os criminosos do crime da Vale e do Estado. Respeito à vida (Frei Gilvander), em Sarzedo, MG, 04/2/2019.
Punição para os criminosos do crime da Vale e do Estado, impedimento das mineradoras, respeito à dignidade humana e de toda a natureza. É o que propõe frei Gilvander em sua intervenção na Audiência Pública em Sarzedo, MG, noite de 04/2/2019. Moradores de Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte/MG, se organizaram para cobrar que três barragens em atividade lado da cidade de Sarzedo, da mineradora Itaminas Comércio de Minérios S.A., seja retirada da cidade. Depois do crime tragédia da mineradora Vale e do Estado, ocorrido a partir de Brumadinho/MG, dia 25/1/2019, que deixou centenas de mortos, matou o Rio Paraopeba e de consequências socioambientais desastrosas e imensuráveis, os moradores de Sarzedo, MG, se preocuparam com a segurança pois há vários bairros abaixo das três barragens da Itaminas e exigiram respostas sobre a situação real das barragens e garantias para que não rompam. As comunidades localizadas logo abaixo do terreno onde ocorre a mineração correm sérios riscos com um possível rompimento dessas três barragens de rejeitos tóxicos de mineração da Itaminas. A mobilização popular dos habitantes de Sarzedo, apoiados por diversas entidades e movimentos sociais, conquistou a realização de uma audiência pública para discutir o assunto e encaminhar ações que garantam a segurança e a qualidade de vida da população. Nesse vídeo, a intervenção de frei Gilvander, da CPT, que, num pronunciamento eloquente e profético, propõe a prisão dos criminosos envolvidos no rompimento das barragens de Brumadinho e outras barragens em Minas Gerais, que também causaram mortes, devastação e desastre socioambiental; propõe também o impedimento das grandes mineradoras e o respeito à dignidade da vida humana e de toda a biodiversidade com políticas públicas voltadas para a vocação primeira de Sarzedo e outros municípios da região, que é a agricultura familiar, com preservação do meio ambiente, garantindo assim, melhor qualidade de vida. Para frei Gilvander, o único interesse dessas mineradoras é o lucro, sem nenhuma responsabilidade com a vida humana e toda biodiversidade.
Frei Gilvander Moreira, da CPT, em Audiência contra mineração
em Sarzedo, MG, dia 04/02/2019. Foto: Kapua Lana Puri.
*Filmagem de Márcio Beraldo. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Sarzedo, MG, 04/2/2019.
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"Mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG, é crime e pecado mortal"- afirma frei Gilvander.
Em sua intervenção na reunião da Câmara de Atividades Minerárias - CMI - do Conselho Estadual de Políticas Ambientais (COPAM), do Governo de Minas Gerais, no dia 22/2/2019, que teve na pauta a votação pela retomada da mineração na Serra da Piedade, situada nos municípios de Caeté e Sabará, dia 22/2/2019, frei Gilvander exigiu a preservação da Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG e afirmou: “Mineração na Serra da Piedade é crime e pecado mortal!”.
Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea. A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade. A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras.
Frei Gilvander Moreira se posiciona contra mineração na Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG.
*Filmagem de Pedro de Philips. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 26/1/2019.
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Mineração
na Serra da Piedade, em Caeté, MG: mais um crime, mais uma ferida. Dom
Walmor/BH. 23/1/2019.
O dia 22 de fevereiro de
2019 entrará para a História como o dia em que o Conselho Estadual de Política
Ambiental (COPAM), do Governo de Minas Gerais, por meio da Câmara de Atividades
Minerárias (CMI), autorizou mais um crime hediondo: a concessão de Licença
Prévia concomitante com a Licença de Operação para a mineradora AVG
Empreendimentos Minerários Ltda. minerar na Serra da Piedade com lavra a céu
aberto com tratamento úmido, ou seja, crucificar no altar do ídolo mercado a
Serra da Piedade, patrimônio histórico, natural e religioso de mineiros e
brasileiros, sede da Basílica de Nossa Senhora da Piedade, padroeira do estado
de Minas Gerais. A conselheira Teca e o conselheiro Júlio Grillo explanaram de
forma bem embasada que não havia a menor possibilidade de concessão das
Licenças Prévia e de Instalação, ‘por mil motivos’, entre eles o fato do IBAMA,
o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Conselho
do Monumento Natural Estadual da Serra da Piedade não terem dado anuência.
Mesmo sendo um patrimônio
histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra
da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora
Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada
em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da
Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou
a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para
minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o
abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores
familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações
de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário
de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo
assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial
e subterrânea.
A Serra da Piedade é
protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e
paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN
e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
(IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença
para reabrir mineração na Serra da Piedade.
A Serra da Piedade é
responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e
região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e
pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A
cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa
ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do
IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que
estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como
escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara
a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de
licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças
transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de
pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice
de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras. A retomada da
mineração na Serra da Piedade, município de Caeté, MG, abre mais um crime e
mais uma ferida no coração de Minas Gerais e dos mineiros. É o que afirma Dom
Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, em um de seus
pronunciamentos sobre a decisão do Governo de Minas Gerais, que, por meio da
CMI/COPAM com a maioria de seus conselheiros, atendeu os interesses do capital
e dos capitalistas, em detrimento da vida, da cultura, da religiosidade, da
sacralidade das águas e da terra. 23/2/2019.
Veja o que a mineração já fez na encosta da Serra da Piedade. Devastou e deixou a destruição lá. Foto: Divulgação / www.luzias.com.br
Cf. também o artigo "A
Serra da Piedade gera vida; CMI/COPAM e Mineradoras, morte", de frei
Gilvander, no link:
Edição de Nádia Oliveira,
colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 26/1/2019.
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