terça-feira, 27 de novembro de 2018

Kely, seus filhos e outras famílias na Izidora/BH, precisam de ajuda. Se...



Kely, seus filhos e outras famílias das Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte, MG, precisam de ajudar. Seja solidário/a - 24/11/ 2018.


Muitas famílias nas
Ocupações-comunidades da Izidora (Rosa Leão, Esperança, Vitória e Helena
Greco), em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, tiveram suas casas ou barracos destelhados pelas fortes chuvas e fortes rajadas de vento nos últimos dias na capital mineira. Eis um exemplo concreto, abaixo. Na divisa entre a
Ocupação-Comunidade Helena Greco e Ocupação –Comunidade Rosa Leão, em Belo
Horizonte, MG, uma família precisa de ajuda urgente. Trata-se de Kely e seus
dois filhos, Keven, de 4 anos e meio, e Kawê, de 3 anos. Kely é portadora de
pênfigo, doença popularmente conhecida como “fogo selvagem” e, por isso, recebe
o Benefício de Prestação Continuada – LOAS, no valor de um salário mínimo. E é
com esse salário mínimo que Kely sobrevive. A família mora em um barracão pelo
qual paga 250,00 por mês. Cômodo único, sem banheiro, cheio de rachaduras e
mofo, essa moradia deixa Kely e seus filhos em situação de maior
vulnerabilidade ainda. Solidária, a Coordenação da Ocupação-Comunidade Helena
Greco, por meio da Josi, uma das Coordenadoras, ofereceu moradia para Kely e
seus filhos na Ocupação. Entretanto, o barraco disponibilizado ficou destelhado
devido às fortes chuvas que ocorreram em Belo Horizonte, nos últimos dias. São
necessárias 12 telhas para cobrir o barraco, no custo de, aproximadamente, 500
reais. A Comunidade não tem esse dinheiro para comprar as telhas. É urgente,
portanto, a solidariedade das pessoas de boa vontade. Nesse vídeo, o depoimento
comovente de Kely e da Josi, da Coordenação da Ocupação-Comunidade Helena
Greco. É necessário o socorro urgente para doação de telhas.

Quem puder ajudar,
favor entrar em contato com:
- Josi (Ocupação Helena
Greco - 0xx31 98748 1736),
- Charlene (da Ocupação
Rosa Leão - 0xx31 98575 5745),
- Edna (da Ocupação
Esperança, zap n. 31 985412758)
ou Lu (da Ocupação
Vitória - n. zap: 31 989656115)
ou com frei Gilvander
(gilvanderlm@gmail.com) https://www.facebook.com/freigilvande...

“Solidariedade é a dor
do outro doendo na gente.” (frei Gilvander)

*Reportagem em vídeo de
frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira,
colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 24/11/2018.
* Inscreva-se no You
Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander,
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sábado, 24 de novembro de 2018

Ocupação do MST/Campo do Meio/MG: despejo, NÃO! ALMG/Dr. Afonso Henrique...





Ocupação do MST em Campo do Meio/MG: na ALMG - Dr. Afonso Henrique, procurador do MP/MG: "Trabalhadores rurais transformam terra abandonada em vida digna". Vídeo 2. 22/11/2018.

Aconteceu dia 22 de novembro de 2018, uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Cristiano Silveira (PT). O assunto: ameaça gravíssima e profundamente injusta de despejo de 450 famílias de Sem Terra do MST, acampadas há 20 anos no latifúndio de 3.900 hectares da ex-usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. Essas 450 famílias estão totalmente inseridas na terra, da qual sobrevivem e fazem girar a economia da região, com produção agroecológica de diversos produtos, inclusive o Café Guaií, principal produto cultivado, que tem o diferencial de ser totalmente agroecológico. Moradores da Ocupação lotaram o Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira na ALMG, local da audiência, para pedir apoio contra a ordem de reintegração de posse e garantir sua permanência na terra. Nesse vídeo, a intervenção do Dr. Afonso Henrique de Miranda Teixeira, Procurador de Justiça e Coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Conflitos Agrários, que defendeu os trabalhadores e as trabalhadoras rurais do Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais. Dr. Afonso Henrique foi enfático ao afirmar que o acampamento é um exemplo a ser seguido no Brasil, já que os trabalhadores “transformaram uma terra abandonada em vida e vida digna.” O Procurador de Justiça afirmou ainda que o Ministério Público vai atuar no sentido de reverter a decisão do TJMG.
*Vídeo original das gravações da TV Assembleia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Divulgação de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.
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Quilombo Campo Grande do MST/Sul de MG/ALMG/Dep. Rogério Correia/Vídeo 1...







Quilombo Campo Grande do MST, ameaça de despejo no sul de MG. Na ALMG,
Dep. Rogério Correia - Vídeo 1. 21/11/2018.

A Comissão de Direitos Humanos, da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais (ALMG), em atendimento ao requerimento do Dep. Estadual Rogério Correia,
do PT, realizou Audiência Pública no dia 22/11/2018 para debater sobre Ação de
Reintegração de Posse do latifúndio da massa falida da ex- usina Ariadnópolis,
ocupado por 450 famílias do Quilombo Campo Grande (11 Acampamentos do MST), em
Campo do Meio, sul de Minas. Moradores da Ocupação lotaram o Espaço Democrático
José Aparecido de Oliveira na ALMG, local da audiência, para pedir apoio contra
a ordem de reintegração de posse e garantir sua permanência na terra onde
produzem grande quantidade de alimentos agroecológicos e têm sua vida inserida
na terra, inclusive com Escola Estadual lá instalada. Nesse vídeo, a
intervenção do Deputado Rogério Correia (PT), que defendeu um acordo entre as
instituições para que a liminar de reintegração seja derrubada e as famílias
tenham respeitado seu direito de permanecer na terra. Para ele, já se passaram
duas décadas do início da ocupação, as famílias já estão estabelecidas, fizeram
construções, produzem no local, e não é justo despejá-las agora.
*Vídeo original das gravações da TV Assembleia da Assembleia Legislativa
de Minas Gerais. Divulgação de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do
CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.
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Carta de dona Célia, da Ocupação Dandara, em Belo Horizonte, MG, ao receber a medalha "Comenda da Paz", em 2011, do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CONEDH).


Carta de dona Célia, da Ocupação Dandara, em Belo Horizonte, MG, ao receber a medalha "Comenda da Paz", em 2011, do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CONEDH).

Dona Célia, da Ocupação Dandara, em Belo Horizonte, MG,
dia 18/3/2011. Foto: M. R. O. Carneiro.


Dia 18 de março de 2011, eu recebi uma noticia que me fez refletir como é bom e importante ser cidadã. Frei Gilvander me disse que eu ia receber a Comenda da Paz Chico Xavier dia 25 de março lá em Uberaba, MG. Recebi a medalha feliz da vida. Eu nunca tinha posto o pé num avião. Fui a Uberaba de Avião. Gostei. Não senti medo.
Voltei um pouco no meu passado e recordei como foi difícil superar tantas dificuldades. Fui abandonada pelo esposo que eu confiava, traída e largada em um lugar aonde eu não conhecia ninguém. Foi difícil cuidar de três filhos. Fui para o Rio de Janeiro com o sonho de melhorar a vida e ganhar uma casa própria, mas lá não consegui nada. Cheguei a pesar apenas 35 quilos.
Chegando a Belo Horizonte, MG, fui morar na casa do meu pai. Fiz um longo tratamento de saúde. Quando eu estava quase curada comecei a catar latinha, papel etc., para ajudar nas despesas de casa. Nunca desisti de sonhar, pois ainda teria uma causa para terminar: criar meus filhos. Morei de favor até chegar à Comunidade Dandara.
O que eu e meus filhos conseguíamos só dava para sustentar o básico e não dava para comprar um terreno e nem uma casa. A cada dia meu sonho se tornava mais longe, pois até o cômodo que eu havia conseguido construir no lote do meu pai por meio de mutirão estava prestes a cair, pois os cupins fofaram a terra por baixo da casa e cada vez mais aparecia rachaduras nas paredes e no banheiro. As paredes chegaram a se separar, a chuva de gelo que deu em Belo Horizonte destruiu todo o meu telhado. Seria fácil consertar, mas mais uma vez esbarramos no dinheiro, pois a gente não tinha nem mesmo dinheiro para comprar a mistura do mês. Quem dera para arrumar o telhado! Remendamos com cacos de telhas. Não dava para saber onde estava molhando mais: se era lá dentro ou lá fora. Vivíamos apavorados sem saber quando as paredes iriam cair. Para quem não acredita vou contar: meus olhos estavam em lágrimas por mais uma vez ter sido humilhada, por estar morando de favor.
Liguei a televisão e vi uma das melhores notícias da minha vida. Na TV dizia que tinha acontecido uma ocupação no bairro Céu Azul, em Belo Horizonte. Tomei uma das decisões mais importantes da minha vida: ir para a ocupação lutar para ter a minha casa própria. Chamei a minha filha Priscila para ir lutar pela sua moradia, pois ela sonhava em ter sua casa para morar com seu filho, um dos meus lindos netos: o Ruan. Muito sonhadora e guerreira, Priscila  não pensou duas vezes para ir. Ficou mais animada do que eu mesma. Mesmo com um filho com bronquite asmática, Priscila se prontificou ir de vez e começou a morar na Ocupação Dandara desde o primeiro dia da ocupação: dia 09/4/2009. Não saía de lá pra nada. Penso que um dia eu vou ver ela recebendo uma medalha parecida com esta Comenda da Paz Chico Xavier, que tive a alegria e a responsabilidade de receber. Priscila já lutou muito, mas muito mesmo, para ter uma vida melhor...  Ela e todo o povo da ocupação.
 Liguei para minha outra filha, a Ideslaine, que é casada com o José.  Hoje têm dois lindos filhos Isaque e Yasmin, mas na época só tinha a Yasmin que tinha dois meses.  Hoje ela tem dois aninhos e o Isaque, 10 meses. Eu chamei Ideslaine para ir tentar conseguir uma casa para a família dela, pois sabia que ela devia mais de dois 2 meses de aluguel e estava prestes a ser despejada. Contei para Ideslaine o que eu vi e ouvi na televisão. No início ela ficou receosa, mas, dentro de poucos minutos, resolveu ir, pois ela sabia que a Yasmin precisava de um lar. Logo que chegou aqui na Ocupação Dandara, ela não desistiu. Ela e o esposo conseguiram montar uma barraca maior de lona, pois ela precisava trazer algumas coisas de sua mudança como colchão, fogão, as roupas da Yasmin. Ali seria sua casa para sempre. O restante de sua mudança ela pediu para deixar no lote do meu pai. Eu a admirei muito. Mesmo sabendo que o restante dos seus móveis estava jogado ao relento, ela não se abatia e nem se preocupava, pois maior seria sua vitória quando conseguisse uma casa. Ela sempre acreditou em Deus que diz: “não cai uma folha da árvore se Deus não quiser.” Ideslaine não merece uma medalha, mas várias, pois mesmo com pressão alta, diabete gestacional, gravidez de alto risco, a filha com bronquite asmática, ela não desistiu de lutar por terra e moradia.
No dia seguinte liguei para o serviço do meu filho Edésio e disse a ele que estava na Dandara. Ele perguntou o que era Dandara e eu respondi que era uma ocupação e ele nos apoiou no mesmo momento. Saiu do serviço e foi nos ajudar a arrumar nossas barracas. Os meus primeiros dias na Dandara foram pesadelos, pois a polícia não deixava melhorar as barracas. Os nossos banheiros eram piores do que banheiro público de rodoviária, pois foram construídos de tábuas e em mutirão. Pior é que os banheiros ficaram do lado de fora do cordão de isolamento da polícia e tínhamos medo até de usá-los. Para usar o banheiro precisávamos ir de duas pessoas, pois uma usava e a outra olhava a polícia e os homens.
Foi muito difícil a adaptação de morar debaixo de uma lona preta. Mais triste para mim foi ver as crianças adoecendo por causa da friagem. Mas o pior de tudo foi quando descobrimos que a água da mina estava contaminada. Bateu-me um desespero, porque muitas pessoas já tinham tomado dela. Foi aí então que chegamos à conclusão que não podia ficar assim. Foi feita reunião com a COPASA exigindo água tratada. Depois de muita persistência, o caminhão pipa começou a vir, mas como era difícil ver pessoas idosas, mães com bebê de colo e grávidas carregando água na lata. Houve dia de não haver tempo de comer ajudando essas pessoas a carregarem suas águas, pois o caminhão só ia até na rua, não entrava na ocupação. Existiam mais de mil barracas. Para piorar o nosso caso o caminhão pipa parou de vir. Nós mulheres nos organizamos e resolvemos manifestar. Fomos para rua. Como era difícil e revoltante ver nossas crianças sem água há cinco dias. A polícia veio com tudo e teve mulheres feridas com balas de borracha e cassitetadas, mas valeu a pena. Conquistamos um padrão de água apesar de a conta vir um absurdo da cara: mais de nove mil reais por mês. A COPASA não nos deu tarifa social.
Quando me adaptei naquela forma de luta, me apaixonei pelo nome Dandara. Como são gostosas nossas assembleias. Ver o povo lutando é uma beleza! Na primeira festa que fizemos, ajudei a fazer canjicão, fiz caldos de mandioca e feijão. Fiquei cansada, porque na época a  gente ainda não tinha água. A gente tinha que lavar as mandiocas nos vizinhos e buscar água para cozinhá-las. A luz era gato e não aguentava liquidificador. Tentamos fazer com que a CEMIG colocasse um padrão para nós, mas depois de a gente ir muitas vezes na Assembleia Legislativa de Minas, descobrimos que um tal de TAC – Termo de Ajuste de Conduta – impedia a COPASA de colocar água em assentamentos irregulares. Se colocasse, teria que pagar uma multa absurda por dia. Esse tal de TAC é uma forma covarde de negar direito aos pobres e dá uma capa de legalidade a algo que é injusto. Como pode deixar mil famílias sem água?! Água é bem comum, fonte de vida ou é mercadoria?
 Voltando ao que eu estava falando conseguimos fazer os caldos e demos conta naquele dia. Senti-me muito importante, porque descobri que posso conseguir tudo com muito esforço. Uma das lutas maiores que participei na Dandara foi quando depois de várias tentativas de diálogo com a prefeitura de Belo Horizonte e não obter sucesso, resolvemos fazer um ato de misericórdia que foi ir a pé da Dandara até à prefeitura, uns trinta quilômetros. Para quem não conhece, a Dandara fica depois da Lagoa da Pampulha no bairro Céu Azul, região da Nova Pampulha. Nesse dia vi tantas pessoas passarem mal pelo esforço e vi minhas filhas e netos lutando por um sonho que hoje é real, mas corre o risco de acabar. A cena que eu não consigo explicar, porque na mesma hora me dá vontade de chorar, foi ver minha neta, tão novinha, carregada por várias pessoas para que minha filha descansasse. Eu sentia uma alegria incontrolável que era ver minhas filhas lutando por seus filhos assim como eu fiz e não simplesmente se tornarem marginais indo para o mundo do crime para conseguir dinheiro fácil. Minha forma de expressar o que eu estava sentindo era gritando bravamente nossos gritos de luta, tais como: “Pátria livre!!!” E  todos respondiam: “Venceremos!”
Fiquei rouca no final, mas valeu a pena. Minha maior decepção foi que depois de todo esse esforço não recebemos respostas positivas. Hoje corro o risco de ter os meus sonhos frustrados e ter um despejo e ver essa grande família que é a Comunidade Dandara morando na rua. Agradeço a Deus todos os dias por ter nos enviado seus anjos para nos ajudar: as Brigadas Populares, o MST, a CPT e um Grupo de apoiadores que nos estenderam a mão e não nos abandonam. Eles nos trazem a esperança de ter uma vida digna e a Deus especialmente por ter me dado vida e força para continuar lutando.
O meu clamor aos nossos governantes é que pensem um pouco mais na nossa situação. Pelo amor de Deus, pensem nas crianças que ainda não viveram nem a metade do que eu vivi. Ter o futuro delas interrompidos? Isso não podemos admitir! Por isso estamos dispostos a doar a nossa vida em defesa da Comunidade Dandara. Não aceitaremos voltar a viver na humilhação. Basta de sobreviver excluído.
Dandara é filha da Comunidade Camilo Torres, que já tem uma neta: a Comunidade Irmã Dorothy, nossa filha. Juntas essas três comunidades – Camilo Torres, Dandara e Irmã Dorothy – somos 1.200 famílias, cerca de 6 mil pessoas. Com muita alegria recebi a Comenda da Paz Chico Xavier não no meu nome próprio, mas em nome de Dandara, Camilo Torres e Irmã Dorothy. A Comenda que recebi não é só minha, é de todos nós. Obrigado ao Conselho Estadual de Direitos Humanos, o CONEDH, que indicou o nosso nome. Seguiremos lutando, agora, com mais ânimo ainda!  
Belo Horizonte, 29 de março de 2011.

Obs.: A carta, acima, foi escrita pela Dona Célia com a ajuda das duas filhas dela: Priscila e Ideslaine. Frei Gilvander Moreira corrigiu o português.
Informações sobre a Comenda, por Frei Gilvander:
O vice-governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, participou, dia 25/3/2011, em Uberaba, da entrega da Comenda da Paz Chico Xavier. Onze personalidades de destaque na sociedade foram homenageadas, entre ela dona Célia Maria dos Santos Pereira, da Comunidade Dandara, de Belo Horizonte; e o cantor e compositor Paulinho Pedra Azul. Também foram agraciadas duas entidades assistenciais, a Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central (Hospital Dr. Helio Angotti) e a Casa de Auxílio e Fraternidade Olhos da Luz.
A Comenda da Paz Chico Xavier destina-se a homenagear pessoas físicas e jurídicas que tenham se destacado na promoção da paz, por meio de atividades relacionadas com pesquisas científicas, artes e cultura, campanhas pacifistas, combate à fome e a miséria, geração de emprego e renda, educação e ações para promoção da dignidade humana.
Instituída em 1999, pelo então governador Itamar Franco, a medalha é entregue anualmente em Uberaba, cidade onde o líder espírita, morto em 2002, aos 92 anos, passou parte da vida. A solenidade faz parte do encerramento das comemorações do centenário de nascimento de Chico Xavier. Natural de Pedro Leopoldo, ele nasceu em 2 de abril de 1910. Aos 49 anos, mudou-se para Uberaba, onde viveu até o falecimento.
Entre os agraciados com Comenda da Paz Chico Xavier estão Arnaldo Rocha, Célia Maria dos Santos Pereira (da Comunidade Dandara), os empresários Olavo Machado Junior e Geraldo Lemos Neto, as médicas Maria de Lourdes da Costa e Marlene Rossi Severino Nobre, o cantor e compositor Paulinho Pedra Azul, os professores Tomaz de Andrade Nogueira e Wilson Chaves (in memoriam), a Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central – Hospital Dr. Helio Angotti e a Casa de Auxilio e Fraternidade Olhos da Luz.




sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Justo é assentar as 450 famílias do MST, em Campo do Meio, MG, no latifúndio da Ariadnópolis, e jamais despejar

Sem Terra do MST do latifúndio da ex-usina Ariadnópolis,
participando de Audiência Pública na Assembleia
Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, dia 22/11/2018.
Foto: Wiliam Santos.



Justo é assentar as 450 famílias do MST, em Campo do Meio, MG, no latifúndio da Ariadnópolis, e jamais despejar. Por Gilvander Moreira[1]


Aconteceu ontem, dia 22 de novembro de 2018, uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Cristiano Silveira (PT). O assunto: ameaça gravíssima e profundamente injusta de despejo de 450 famílias de Sem Terra do MST, acampadas há 20 anos no latifúndio de 3.900 hectares da ex-usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais.
Em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT), eu disse lá ... “Agradecemos ao Deputado Rogério Correia e ao deputado Cristiano Silveira, ambos do PT, por terem realizado, dia 21 de novembro de 2018, Audiência Pública na ALMG em homenagem aos 40 anos da CPT/MG, ocasião em que apresentamos o livro anual da CPT “Conflitos no Campo Brasil”, relativo a 2017, e, emocionados, prestamos mais um Tributo aos Companheiros Alvimar Ribeiro e Tiãozinho (In memorian), ambos da CPT/MG.”
Sou testemunha da justeza e da legitimidade da luta pela terra em Campo do Meio, no latifúndio da ex-usina Ariadnópolis, pois acompanho a luta do MST no sul de Minas há mais de 10 anos. Já divulgamos vários textos, entrevistas e vídeos ecoando a voz e a luta dos Sem Terra do MST, acampados há 20 anos no mega latifúndio da ex-usina Ariadnópolis, que, após perpetrar grande devastação socioambiental, faliu em 1996, deixando milhares de trabalhadores sem receber salário e os direitos trabalhistas. Fiz uma Tese de Doutorado, na Faculdade de Educação da UFMG sobre a Luta pela Terra enquanto Pedagogia de Emancipação Humana. Uma das minhas experiências concretas de pesquisa foi justamente a Luta pela Terra em Campo do Meio. Se for preciso, podem arrolar minha Tese como documento que também atesta a legitimidade da luta das 450 famílias do MST no latifúndio da Ariadnópolis (A tese de Gilvander Luís Moreira sobre a Luta pela Terra está disponível no link http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUOS-AVDG5Z/tese_de_gilvander_na_fae_ufmg___05_6_2017_texto_final.pdf?sequence=1 )

Estamos na Semana da Consciência Negra, em que celebramos Zumbi e Dandara, do Quilombo dos Palmares, de Alagoas, que, em 1670, contava com mais de 20 mil pessoas e resistiu por mais de 100 anos ao sistema escravista. Recentemente, os 11 Acampamentos do MST, em Campo do Meio, MG, em homenagem à resistência quilombola no estado de Minas Gerais, batizou o nome da sua luta de “Quilombo Campo Grande”, em que cada Sem Terra é outro Zumbi e outra Dandara. O Quilombo dos Palmares é considerado um grande símbolo nacional de luta, mas é importante também ressaltar que a antiga Confederação dos Quilombos Campo Grande vem sendo considerada por historiadores ainda muito maior do que foi o Quilombo dos Palmares, tendo sido composta por, pelo menos, 27 núcleos de resistência, espalhados por territórios que abrangem hoje, em Minas Gerais, o Centro-oeste, o Alto São Francisco, o Sudoeste e o Triângulo Mineiro e , em 1752, segundo o pesquisador Diogo de Vasconcelos, chegou a possuir vinte mil habitantes. Os líderes quilombolas Ambrósio e Pedro Angola da Confederação do Quilombo Campo Grande devem ser também lembrados por todos da luta. Na segunda metade do século XVIII, houve várias investidas repressivas que visavam desbaratar os principais núcleos quilombolas. A perseguição e a matança de negros escravizados foi grande e hedionda. O capitão do mato, Bartolomeu Bueno Prado, fez questão de trazer para mostrar ao governador da capitania de Minas Gerais 3.900 pares de orelhas de negros escravizados assassinados. Apesar da intensa perseguição, muitas pessoas quilombolas conseguiram fugir para as matas, pois a existência de rotas de fuga antes da chegada das milícias saqueadoras e repressivas era uma forte estratégia de resistência negra. A história oficial divulgou o extermínio total dos quilombolas, da mesma maneira que dizia não haver mais indígenas nas matas e nas vilas! Muitos indígenas e quilombolas se mantiveram na invisibilidade como forma de resistência ao sistema repressor e ao preconceito racial e social. Todavia, atualmente muitas comunidades remanescentes de quilombolas que estão se organizando e lutando por seus direitos em Minas Gerais têm a sua raiz na belíssima história dessa grande Confederação de Quilombos Campo Grande. Uma história que foi por muito tempo escondida pelos poderosos e que temos o dever de revelar e de divulgar!
A luta nesta região é, pois, muito antiga, e as perseguições por parte dos latifundiários e empresários do agronegócio continuam. Quem está insistindo no despejo das 450 famílias está incitando a violência e serão responsáveis caso ocorra massacre. A CPT/MG alertou o Estado de Minas Gerais 1,5 ano antes do massacre de Felisburgo, ocorrido dia 20 de novembro de 2004. Entretanto, o Estado permaneceu cúmplice do latifúndio e acabou acontecendo o massacre de Felisburgo. Será preciso ocorrer outro massacre de Sem Terra em Minas Gerais como o de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 17 de abril de 1996? Os Sem Terra de Campo do Meio já sofreram 11 despejos e estão determinados a não aceitar mais nenhum despejo. A luta dos Sem Terra do MST em Campo do Meio busca resgatar uma imensa dívida histórica com o povo negro e camponês, inúmeras vezes submetidos à situação análoga à escravidão no sul de Minas Gerais. Agentes de pastoral da CPT/MG atuaram no sul de MG ainda nas décadas de 1980 e 1990, ao lado de 15 sindicatos de Trabalhadores Rurais combativos, combatendo o trabalho escravo. Em Campos Gerais, próximo a Campo do Meio, na manifestação contra o despejo nas terras da Ariadnópolis, dia 7 de novembro último (2018), ficamos felizes ao encontrarmos ex-agentes da CPT/MG, hoje integrantes da Cooperativa Camponesa, que acolhe a produção orgânica, agroecológica das 450 famílias da Ariadnópolis, o Café Guaií inclusive, principal produto da Cooperativa, que tem o diferencial de ser totalmente puro.
Vários “acidentes” – crimes premeditados – ceifaram a vida de muitos trabalhadores boias-frias no sul de MG sendo transportados para a colheita do café, enquanto eram transportados em caminhões de boias-frias ou em ônibus velhos. No Município de Antônio do Amparo, na BR 381, um caminhão com 32 boias-frias tombou dia 19 de agosto de 2008. Resultado: 14 morreram na hora e outros 18 ficaram gravemente feridos. Campo do Meio já foi palco de luta contra a escravidão. Portanto, a luta pela terra em Campo do Meio nas terras da ex-usina Ariadnópolis é também para saldar um pouco essa imensa dívida histórica com o povo negro e camponês.
Recordo também que a desembargadora Márcia Maria Milanez, presente na audiência pública, quando era 3ª vice-presidenta do TJMG, ajudou a evitar o despejo da Ocupação Dandara, em Belo Horizonte, hoje com 2.500 famílias assentadas. Ela defendeu em uma postura sensata na época: “Quando se tem que despejar, deve-se despejar no início da ocupação e não depois que o povo já está enraizado”. Logo, como despejar 450 famílias que ocupam o latifúndio da Ariadnópolis há 20 anos, onde já estão mais do que enraizados? Onze despejos já foram feitos lá no latifúndio da Ariadnópolis, mas o povo reocupou. Recordo também que quando as 9 mil famílias das Ocupações-Comunidades da Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, estavam sob gravíssima ameaça de despejo, em agosto de 2014, um grupo de Sem Terra do MST de Campo do Meio trouxe e partilhou com as famílias das Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória) um caminhão de alimentos produzidos nos 11 Acampamentos do latifúndio da Ariadnópolis. Esse gesto de solidariedade nunca será esquecido pelo povo das Ocupações-Comunidades da Izidora que também se somarão na luta para impedir o despejo das 450 famílias em Campo do Meio. Portanto, mexer com o MST em Campo do Meio significa mexer também com as Ocupações da Izidora, na capital mineira.
Uma das bem-aventuranças de Jesus diz: “Felizes os humildes, porque conquistarão a terra” (Mateus 5,5). Eu digo: “Felizes vocês, Sem Terra do MST, que ocupam o latifúndio da Ariadnópolis há 20 anos, porque vocês conquistarão esta terra”. Por outro lado, é preciso dizer: malditos os que insistem em despejar os Sem Terra e egoisticamente só maquinam para continuar reproduzindo a privatização da mãe terra. A quem diz que “a lei e as decisões judiciais precisam ser respeitadas”, alertamos que a Lei Maior, a Constituição Brasileira de 1988, precisa, sim, ser respeitada, pois ela prescreve direito à terra, desapropriação de latifúndios que não cumprem a função social, como era o caso do latifúndio da ex-usina Ariadnópolis ao ser ocupado. Defender simplesmente o direito à propriedade é evocar a Constituição Imperial de 1824, a que prescrevia direito absoluto à propriedade. Isso não é mais tolerável no nosso país. Precisamos recordar que o Deus da Vida não é neutro e nem cúmplice de nenhuma opressão e nem discriminação. Ao criar tudo, o Deus da vida, nas ondas da evolução, criou a mãe terra para todos, não fez cerca e nem passou escritura de terra para ninguém. Como diz sensatamente o filósofo Rousseau, o mal entrou no mundo quando alguém resolveu cercar um pedaço de terra e dizer “isso é meu” e os vizinhos, de braços cruzados e resignados, aceitaram. Assim nasceu o latifúndio, a propriedade capitalista da terra, que é algo satânico e diabólico, pois no regime de agronegócio e monoculturas, mais do que commodities e acumulação de capital, os latifúndios e os grandes empresários do campo produzem desertificação do nosso território, epidemia de câncer e Alzheimer, além de expulsar o campesinato para as periferias das grandes cidades e engendrarem a violação dos direitos humanos fundamentais nas cidades. Por tudo isso, faremos o possível e o impossível para que a liminar de reintegração de posse seja suspensa e o assentamento definitivo das 450 famílias do MST aconteça na mãe terra de Ariadnópolis. Isso é o justo e pelo justo sempre lutaremos! “Nossos direitos vêm, nossos direitos vêm. Se não vêm nossos direitos, o Brasil perde também ...”
BH, 23/11/2018.

Obs.: Abaixo, vídeos que mostram Acampados do MST de Campo do Meio, do latifúndio da Ariadnópolis, trazendo um caminhão de alimentos para as ocupações da Izidora, em Belo Horizonte.

1 - MST doa um caminhão de alimento para as Ocupações do Isidoro. Apoio firme. 22/08/2014.



2 - MST e Povo das Ocupações urbanas unidos na luta por terra e moradia. 23/08/2014.



3 - MST reforçando a luta das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória. 22/08/2014.



4 - Palavra Ética, na TVC/BH: Adolescentes das Ocupações. MST apoia ocupações da Izidora. 20/09/2014.


Obs.: Abaixo, fotos da Audiência Pública na ALMG, dia 22/11/2018. Foto: Wiliam Santos.


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Sem Médicos/as Cubanos/as, a dignidade de 28 milhões de pessoas pobres será agredida.


Médico Cubano atuando em zona rural brasileira.


Sem Médicos/as Cubanos/as, a dignidade de 28 milhões de pessoas pobres será agredida.
Por Gilvander Moreira[1]


Na República Federativa do Brasil, segundo o Art. 1º, III, da Constituição brasileira, de 1988 (CF/88), um dos fundamentos é princípio da dignidade da pessoa humana. E, segundo o Art. 3º, III, da CF/88, um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil é erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. O que significa a saída dos Médicos Cubanos do Programa Mais Médicos?
As afirmações preconceituosas sobre Cuba e novas condições inaceitáveis impostas por Bolsonaro para a continuidade dos 11.429 médicos cubanos no Programa Mais Médicos são inconstitucionais, pois violentam a dignidade da pessoa humana de 28 milhões de brasileiros empobrecidos que só tinham os médicos cubanos para lhes atender em caso de doença. E vai na contramão de um dos principais objetivos da República Federativa que é erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Óbvio que o Governo Cubano e o povo cubano, que desde 1959 vivem de cabeça erguida diante do império dos Estados Unidos e do capital, não aceitariam as condições inaceitáveis e iriam romper com o Programa Mais Médicos.
Eu tive a alegria de conhecer e conversar muitas vezes com muitos/as Médicos/as Cubanos/as no Brasil, na Venezuela e em Cuba. E já fui bem atendido várias vezes por Médicos/as Cubanos/as, inclusive. Conheço vários/as jovens do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que cursaram medicina na Escola Latino-Americana de Ciências Médicas (ELAM), em Cuba. Sou testemunha da competência, da dedicação e do amor ao próximo com que os/as Médicos/as Cubanos/as cumprem sua profissão, aliás, sua vocação à medicina. Peregrinando por inúmeras cidades mineiras e em outros estados, o que tenho ouvido é que “os Médicos Cubanos são melhores que os médicos brasileiros. Atendem o povo com muito amor, competência e dedicação.” É claro que toda regra tem exceção. Há no Brasil muitos/as Médicos/as com letra maiúscula, Médicos/as por vocação, mas também é verdade que há muitos médicos/as que usam a medicina como meio para acumular capital. Estou comovido com os 28 milhões de brasileiros pobres que entrarão para a história como os primeiros a sentirem no próprio corpo as consequências da eleição de 2018 e indignado com a postura de Bolsonaro que levou Cuba a sair do Programa Mais Médicos.
Em Cuba, na ELAM, criada em 1999, milhares de jovens latino-americanos já se formaram em Medicina. O estado cubano custeia tudo: além dos professores e da manutenção da universidade, oferece hospedagem, alimentação, livros, cadernos e ainda dá uma ajuda de custo mensal. Os livros usados são devolvidos ao final de cada ano para que outros estudantes possam estudar neles. É interessante registrar: enquanto nos Estados Unidos gastam-se 350 mil dólares para formar um/a médico/a, em Cuba 120 mil dólares é o suficiente.
“Cuba é uma fábrica de médicos”, ouvi de Mongui, um cubano que se sente embaixador popular do Brasil em Havana. A excelência cubana na medicina tem o seguinte objetivo: conquistar os melhores remédios para todas as pessoas com o custo mais econômico possível e de forma sustentável. Em Cuba, o Ministério da Saúde, as faculdades de medicina e os médicos incentivam e incluem cada vez mais todos os tipos de medicina alternativos e naturistas – homeopatia, geoterapia, ervas medicinais, massagem etc. Prioriza-se muito a medicina preventiva que passa necessariamente por uma alimentação saudável, sem agrotóxicos. Existem mais de 60 mil Médicos Cubanos trabalhando voluntariamente em missões internacionalistas, em 69 países, contribuindo com o resgate da saúde de milhões de pessoas. Só na Venezuela estão mais de 20 mil cuidando da saúde pública do povo nas periferias e garantindo, em contrapartida, o envio de petróleo venezuelano para movimentar 11 milhões de cubanos/as em Cuba. Em 69 países, os/as Médicos/as Cubanos/as são responsáveis pelo atendimento primário da população, algo parecido com o médico de família. Estão nas favelas e bairros pobres; lá vivem e atendem com competência e dedicação os pobres. Recordo-me de ter ouvido em Caracas, no 6º Fórum Social Mundial, três jovens camelôs dizendo com veemência: "Por mais de 50 anos, os médicos venezuelanos recém-formados se recusaram a ir para interior, para os bairros, para a periferia. Só queriam ficar na capital, ganhar dinheiro à custa da dor. Agora, a partir do Governo de Hugo Chávez, eles tiveram sua chance de ajudar o povo. Não quiseram. Então foi preciso apelar para a solidariedade cubana. Vieram os Médicos de Cuba e estamos tendo acesso à saúde nos lugares mais distantes e pobres". O mesmo ocorreu no Brasil.
É ridículo dizer que por não estarem ficando com a integralidade dos seus salários, os/as Médicos/as Cubanos/as estariam trabalhando como escravos. Isso é julgar com régua capitalista o povo cubano que se rege por princípios socialistas. Em Cuba, há, de fato, a garantia para toda a população, via sistema público, de infraestrutura e rede de saúde, educação e segurança. Em conversa com várias Médicas e Médicos Cubanos, ouvi o seguinte: “Não viemos aqui no Brasil para ganhar dinheiro, mas por amor ao próximo. Estudamos medicina para cuidar das pessoas, nunca para ganhar dinheiro. Quando terminamos o curso de medicina em Cuba, fazemos um juramento de cuidar sempre da vida ameaçada em Cuba e em qualquer país do mundo. Quando se é de esquerda, socialista, somos mais cristãos, pensamos mais no próximo. Todo o povo do mundo é nosso próximo, é nossa família. Somos e devemos nos comportar todos como irmãos e irmãs. Vivemos para servir a sociedade a partir da nossa vocação e profissão”. No Brasil, grande parte dos médicos/as é formado/a em Universidades públicas, com orçamento público bancado pelo povo e depois muitos se tornam empresários na área de saúde. Cadê a contrapartida social de todo o estudo feito em universidades públicas à custa do povo, em última instância?
Mesmo com as dificuldades internas para a produção de alimentos, em Cuba, todas as crianças de 0 dia a 7 anos de idade e as gestantes têm garantido um litro de leite por dia. Cuba é administrada considerando todos os cubanos como sendo uma só família. Em Cuba, há prioridades que devem ser satisfeitas: alimentação, saúde, educação, transporte público, cultura e esporte. As reivindicações pessoais são atendidas, desde que sejam viáveis e no interesse de todos. O povo cubano é um povo sadio. Come-se o necessário para viver, sem exageros. Não vi sequer uma pessoa obesa em Cuba. A alimentação é orientada por nutricionistas e contém todos os nutrientes necessários para uma boa saúde.
Em Cuba, vimos que a agricultura está diretamente associada à saúde. Via de regra, em Cuba, os alimentos são produzidos de forma orgânica e agroecológica, usa-se poucos agrotóxicos na agricultura. É uma tremenda contradição colocar como ministra do Ministério da Agricultura uma ruralista “rainha do veneno”, deputada que, como vassala do agronegócio, insiste em aumentar a quantidade de agrotóxicos na agricultura brasileira. Isso aumenta ainda mais a já existente “epidemia” de câncer, alzheimer e outras doenças.
Eticamente só se pode mudar o que existe se for para substituir por algo melhor. Maquinar para retirar milhares de Médicos/as Cubanos/as sem antes apresentar substitutos/as semelhantes ou melhores é, enfim, violar o fundamento da “dignidade da pessoa humana” e um dos principais objetivos da República Federativa do Brasil, que é “erradicar a pobreza ... e reduzir as desigualdades”. Quantas vidas custarão essa postura e as palavras preconceituosas de Bolsonaro que levaram o Governo Cubano a romper com o Programa Mais Médicos? Na prática, Bolsonaro está criando o Programa Menos Médicos, que causará mais mortes e mais lucro para os empresários dos planos de saúde.

BH, 21/11/2018.

1 – Médico cubano do Programa Mais Médicos enfatiza a necessidade de medicina humanista no Brasil



2 - Médicos Cubanos atenderam milhares de comunidades indígenas pelo Brasil




3 - Médicos Cubanos vão nas casas dos pacientes em favelas do Rio de Janeiro



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
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domingo, 18 de novembro de 2018

Povo Indígena Kiriri em Caldas, sul de MG: de boia-fria à luta pela te...





Povo Indígena Kiriri em Caldas, sul de MG: de boia-fria à luta pela terra. Noite de 06/11/2018.

Desde março de 2017, 16 famílias do Povo Kiriri, vindas do Oeste da Bahia, moram em uma área situada no bairro rural do Rio Verde, distante 7 km da sede de Caldas, no sul de Minas Gerais. Assim que a área foi ocupada, o Povo Indígena Kiriri foi notificado de Liminar de Reintegração de Posse, reivindicada pela UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais) e Governo de Minas Gerais. Em outubro de 2018, eles receberam um novo mandado de reintegração de posse que determinava que saíssem do local até o fim de outubro. A área onde os Kiriri estão possui cerca de 60 hectares, dos quais informam que estão ocupando apenas 26 hectares. É que há mais de dez famílias não índias ocupando parte da área, com casas de alvenaria muito boa, inclusive. Mesmo não tendo título de propriedade, essas famílias não indígenas não foram objeto de liminar de reintegração de posse. Percebe-se, pois, aí, mais uma discriminação institucional contra os indígenas. Os Kiriri já fincaram raízes nessa terra: estão já com 13 casas de pau a pique e barro construídas, plantando lavouras na linha da agroecologia sem agrotóxicos, vivendo em comunidade e cultivando a inspiradora mística e espiritualidade Kiriri. Graças à luta do Povo Indígena Kiriri e à Rede de Apoio que se formou, a UEMG mudou seu posicionamento e, em reunião no Ministério Público Federal, em Pouso Alegre, no dia 06/11/2018, manifestou-se por meio da Professora Joana Beatriz Barros Pereira, Diretora da UEMG em Campanha, representando a reitora Lavínia Rosa Rodrigues, com acordo de cessão das terras aos Kiriri. Nova reunião deve ser marcada como Governo de Minas Gerais para firmar os termos desse acordo. Nesse vídeo, o depoimento de indígenas da Aldeia Kiriri sobre sua luta diária pela sobrevivência, como boias-frias, na sofrida colheita de batatas em fazendas da região, enquanto aguardam o momento da colheita do que plantaram e, com esperança, a posse da terra.
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Caldas/MG, 06/11/2018.
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