quarta-feira, 11 de abril de 2018

Justiça da Casa Grande não é justiça


Justiça da Casa Grande não é justiça. Por frei Gilvander Moreira[1]


A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dia 7 de abril de 2018, é um acontecimento histórico diante do qual não há espaço para omissão ou pretensa neutralidade. Quem não se posicionar será arguido pela história como cúmplice. Mesmo sendo crítico da política de conciliação de classes, da inclusão pelo consumo, da manutenção da política econômica concentradora de riqueza e renda, sem fazer as reformas de base e de outras contradições que Lula, o PT e Dilma praticaram ao longo de 13 anos no governo federal (2013 a 2016), uno-me a todas as pessoas que têm senso de justiça para discordar da condenação e da prisão de Lula, sobretudo da prisão em segunda instância, antes do trânsito em julgado, o que ameaça a presunção de inocência e o direito à ampla defesa de toda pessoa.
Caso a barbárie que é o capitalismo não provoque um apocalipse final para a humanidade e para grande parte de todas as espécies vivas, ao estudar história, as futuras gerações perguntarão a nós, seus pais ou avós: “O que estava acontecendo no Brasil quando o ex-presidente Lula foi preso?” Se não tiverem sido cúmplices, os pais e avós terão que dizer aos filhos/as e netas/os que o contexto socio-econômico-político-cultural e religioso no qual se deu a prisão de Lula era de um país tremendamente desigual e há 518 anos reproduzindo relações sociais escravocratas do tipo Casa Grande versus senzala, dirão que se tratava da continuidade da colonização, agora sob a hipócrita argumentação  de Estado Democrático de Direito.
Dirão que em 2018, no Brasil, quem estava sendo preso e injustiçado não era apenas o Lula, pois o Brasil era uma sociedade capitalista não apenas exploradora da dignidade humana, mas superexploradora da dignidade humana e, pior, devastadora de todas as fontes de vida: envenenadora da mãe terra pelo uso indiscriminado de agrotóxico na agricultura empresarial, a do agronogócio; dizimadora das nascentes de água, dos córregos, rios e lençóis freáticos; devastadora de todos os biomas, que estão sendo tratorados para invadir os territórios das comunidades originárias e tradicionais – indígenas, quilombolas e camponeses dos mais diversos matizes. O capitalismo e os capitalistas, no Brasil – país que deveria ser do povo brasileiro -, reproduzindo uma das maiores concentrações fundiárias do mundo e, pior, crescente. Uma política econômica inviabilizando a realização de uma reforma agrária popular e deixando “a ver navios” 14 milhões de desempregados, com trabalho intermitente análogo à situação de escravidão. Sem controle do tráfico de drogas, mais de 70 mil jovens sendo assassinados anualmente (700 mil em 10 anos). Após o impeachment da presidenta Dilma, consumado em 31 de agosto de 2016, aconteceu sucessivamente um desmonte de direitos sociais das classes trabalhadora e camponesas, direitos conquistados à custa de muita organização e luta popular. Os direitos trabalhistas foram aniquilados por meio da chamada reforma trabalhista, que, na prática, foi aniquilamento da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Cerca de 50% do orçamento do governo sendo sequestrado para reproduzir e ampliar uma dívida pública que apenas em 2017 cresceu 14,3%, ultrapassando 3,5 trilhões de reais e podendo chegar a 100% do PIB em 2022, dívida que já devia, segundo a Constituição de 1988, ter sido auditada e demonstrada como “as veias abertas do Brasil”. Direito à saúde e à educação indo para os ares por meio do congelamento – melhor dizendo, amputação gradativa - de investimentos governamentais nas áreas sociais por 20 anos. A maioria do poder judiciário nitidamente demonstrando disparidade de tratamento ao lidar com crimes de empresários e políticos, os que sustentam o status quo das desigualdades sociais, muitos sendo abonados pelo braço jurídico do Estado.
Pesquisas científicas nos informam que o agronegócio está fazendo mais de 600 mil pessoas contraírem câncer a cada ano. Encarceramento de massas, em presídios superlotados: mais de 700 mil presos quase todos empobrecidos, negros e de periferia, entre os quais 40% são presos preventivamente, sem terem sido julgados ainda. Vários ministros do Governo Federal golpista, mais de 200 deputados federais e dezenas de senadores arrolados em crimes de corrupção sendo livrados das barras da justiça por meio de foro privilegiado, algo nojento que coloca mais de 30 mil pessoas inatingíveis pela justiça.
Ah! Os pais e avós não poderão esquecer que no Brasil, em 2018, o povo brasileiro – 206 milhões de pessoas – estava anestesiado pela imprensa midiática, grande latifúndio de poucas famílias oligárquicas. Essa mídia com imenso poder econômico e tecnológico disseminava a mentira, a criminalização dos movimentos populares e de quem aguerridamente defendia os direitos humanos. A ideologia dominante imperava sempre invertendo as relações sociais: afirmando os oprimidos como opressores e apresentando os opressores como se fossem oprimidos. Enfim, em uma sociedade capitalista com classes antagônicas, com uma elite controlando o Estado – poderes executivo, legislativo, judiciário – as terras, o capital financeiro e a mídia. Caso não tenham sido mortos antes do tempo, os pais e avós das próximas gerações deverão ainda dizer, por fidelidade à verdade, que vários políticos profissionais sobre os quais existem fartas provas de crimes – malas de dinheiro, áudios comprometedores etc. – continuam intocáveis e protegidos pelo poder judiciário. Uns, embora com provas contundentes,  não foram  punidos e nada recaíram sobre eles, mas  outros, condenados  sem provas. Nesse meio, muitas decisões judiciais foram tomadas para fortalecer o status quo capitalista, tal como o impeachment de Dilma Rousseff, sem prova de crime de responsabilidade. O congresso brasileiro destituiu Dilma como se no Brasil houvesse parlamentarismo por voto de desconfiança. Era apenas o começo de um golpe que se desdobrou na prisão de Lula e que seguirá até a classe trabalhadora e camponesa se rebelar massivamente.
Nesse contexto, para seguir fortalecendo o poderio da Casa Grande sobre as novas senzalas, tornou-se necessário, segundo a elite que comanda o Estado brasileiro, condenar sem prova e prender Lula. Cumpria-se, assim, justiça dos doutores da lei e de certos tipos de fariseus. Porém, o Evangelho de Mateus alerta: “Se a justiça de vocês não superar a justiça dos doutores da lei e dos fariseus, vocês não entrarão no reino dos céus” (Mateus 5, 20). Dom Angélico Sândalo, ao lado do Lula, poucas horas antes de ele se entregar para ser preso, pôs o dedo em uma das feridas: “No Brasil, a maior parte da imprensa está a serviço dos poderosos. Os pobres clamam por direitos e por respeito”.
Entretanto, a história demonstra que os vencedores não terão a última palavra e serão varridos da história. Segundo o livro de I Reis 21, na Bíblia, o rei Acab e a primeira dama Jezabel, em meados do século IX antes da era cristã, para roubar as pequenas propriedades dos camponeses da época, tal como Nabot, tiveram que difamar, criminalizar, mentir e engendrar falso julgamento e até matar camponeses, como Nabot, um pequeno agricultor. Mas surgiu, possuído pela ira santa, o profeta Elias para desmascarar a violência que tinha sido cometida. Os que mandaram prender e assassinar Jesus de Nazaré comemoraram, mas, após três dias, a partir de uma mulher, Maria Madalena, que muito amava Jesus, irradiou-se por todo o mundo a mensagem de ressurreição do projeto de fraternidade, justiça e paz para todos e, e entre todos e  tudo. Não podemos nos curvar diante da injustiça. Assim como há o direito de legítima defesa, também há o direito fundamental e o dever à desobediência civil até que triunfe a construção de uma sociedade justa, solidária, sem preconceitos, amorosa e sustentável ecologicamente. No momento, predominam os violentos, mas eles passarão, pois das trevas da injustiça está sendo gestada uma nova aurora, sob a inspiração de Marielle Franco, Margarida Alves, Irmã Dorothy, Chico Mendes e milhares de outros/as lutadores/ras do povo. Enfim, justiça da Casa Grande não é justiça, pois para ser justiça precisa ser a partir da ética e da alteridade muitas vezes violentada. Preparemos um futuro justo, pois as próximas gerações têm direito.

Belo Horizonte, 10/4/2018.


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. 
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Índio Oscar Gamela é entrevistado por Chico Malta/XIV Intereclesial das ...

Oscar
do povo indígena Gamela, no Maranhão. Ameaçados, mas resistindo. XIV
Intereclesial das CEBs, em Londrina, PR, 26/01/2018.

O camponês e jornalista
Francisco de Assis Gomes, de Carrateira/PB, do Jornal Voz das Comunidades,
entrevista o índio Oscar Gamela, de Viana, Maranhão. No contexto profético do
XIV Intereclesial das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), realizado em
Londrina/PR, de 23 a 27 de janeiro/2018, Oscar Gamela fala da luta do seu povo,
do apoio da Igreja e diversos Movimentos Sociais Populares.

*Filmagem de frei Gilvander
Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Realização:
Equipe de Comunicação do 14º Intereclesial das CEBs. Londrina/PR, 26/1/2018.

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Dona Vilma, 73 anos: ameaçada de despejo, em Belo Horizonte. INJUSTIÇA. ...

Dona Vilma, 73 anos: ameaçada de despejo da própria casa, em Belo Horizonte, MG – INJUSTIÇA e VIOLÊNCIA. 1ª parte. 07/4/2018.

Desde 2011, corre uma ação de despejo contra Dona Vilma, de 73 anos, e sua família, uma das primeiras famílias negras que veio para Belo Horizonte e muito contribuiu na construção da cidade. Apesar de documentos que comprovam o pagamento de impostos aos cofres da cidade desde 1926, a família responde à ordem de despejo e demolição de sua casa. Recentemente, a Prefeitura sinalizou com a possibilidade de ceder o direito de uso vitalício da propriedade à Dona Vilma, o que não é uma solução justa. NÃO SE CEDE AQUILO QUE É DE DIREITO. Nessa primeira parte de sua reportagem, frei Gilvander Moreira fala com Heloíza Helena, filha de Dona Vilma, e apresenta a fala da Advogada Popular e integrante do Programa Diálogos Comunitários, da Cáritas Regional MG em parceria com o Ministério Público da área de Direitos Humanos de MG. Maria do Rosário de Oliveira Carneiro expõe a situação jurídica do caso, com abordagem legal e ética.

*Reportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição da Professora Nádia Oliveira, de Conceição das Alagoas/MG, da Equipe de Comunicação da CPT/MG. 1ª Parte. Belo Horizonte/MG, 07/4/2018.

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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Povo da Izidora/BH em luta por direitos: Manifestação em frente à Prefei...

Povo da Izidora/BH em luta por direitos – Manifestação em frente à Prefeitura Municipal – 28/3/2018.

O povo das Ocupações-Comunidades da Izidora, em Belo Horizonte, MG, continua em luta por direitos. No dia 28/3/2018, data da reunião conquistada com o Prefeito Alexandre Kalil, depois de muita luta e resistência, uma grande representação das Comunidades e apoiadores manifestou-se diante do prédio da Prefeitura Municipal, exigindo de Kalil posicionamento decisivo e concreto na reunião com a Comissão de Moradores e Apoiadores. Na pauta, sobretudo, que envie projeto para a Câmara Municipal declarando as áreas das Ocupações da Izidora como AEIS – Área de Especial Interesse Social – para que assim sejam incluídas no Plano Diretor a ser votado pelo Legislativo.
Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI e de Dr. Thales Viotte, Advogado Popular, militante do MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação do CPT/MG. Belo Horizonte/MG, 28/3/2018.

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domingo, 8 de abril de 2018

Povo das Ocupações da Izidora na PBH: AEIS - Direito e justiça.Resultado...

Ocupações da Izidora na Prefeitura/BH: luta por AEIS, direito e justiça. Com Kalil, 2ª Parte, 28/3/2018.

Em reunião com o Prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte/MG, lideranças comunitárias e Apoiadores cobraram compromissos assumidos com as Comunidades,  exigiram respeito aos direitos do povo e, sobretudo, ética na negociação das áreas ocupadas, de forma a serem, primeiramente, declaradas como AEIS – Áreas de Especial Interesse Social - e inseridas no Plano Diretor com AEIS.

Nesse vídeo, os pronunciamentos ao povo, à porta da Prefeitura, de frei Gilvander Moreira, da CPT, e de Dr. Thales Viotte, Advogado Popular, militante do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), após a reunião.
*Filmagem de Dr. Thales Viotte, do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas). Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT/MG. Belo Horizonte/MG, 28/3/2018.

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sábado, 7 de abril de 2018

Povo das Ocupações da Izidora na PBH: Só com luta ... Resultados da reun...

Ocupações da Izidora na Prefeitura de BH: Só com luta se conquista direitos. Reunião com Kalil, 1ª Parte, 28/3/2018.

Depois de longo tempo de luta e resistência, o povo das Ocupações-Comunidades da Izidora, em Belo Horizonte/MG, conquistou uma reunião com Alexandre Kalil, Prefeito de Belo Horizonte, em 28/3/2018, para cobrar compromissos assumidos com as Comunidades e, sobretudo, que envie Projeto de Lei declarando as áreas das Ocupações como AEIS – Áreas de Especial Interesse Social - pra que isso seja inserido no Plano Diretor de Belo Horizonte, a ser votado em breve. Nesse vídeo, pronunciamentos de lideranças comunitárias e apoiadores, ao povo, à porta da Prefeitura, após a reunião.
*Filmagem de Dr. Thales Viotte, do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas). Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT/MG. Belo Horizonte/MG, 28/3/2018.

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terça-feira, 3 de abril de 2018

Prefeitura de Boa Vista/RR cerca Praça para esconder venezuelanos acamp...

Prefeitura de Boa Vista, RR, cerca Praça Simon Bolívar para esconder venezuelanos acampados. 31/3/2018. INJUSTIÇA!

Poderes públicos ausentes, sem compromisso com a dignidade humana. O cuidado com a pessoa humana vale menos que a beleza das praças. É o que mostra o vídeo de Irmã Telma Lage, coordenadora do CMDH (Centro de Migrações e Direitos Humanos) da Diocese de Roraima, gravado em 31/3/2018, quando a Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR decidiu cercar a Praça Simon Bolívar para esconder os venezuelanos ali acampados.
Vídeo de Irmã Telma Lage.

Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT/MG. Apoio: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Belo Horizonte/MG, 31/2/3018.

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