Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
O filme NA MISSÃO COM KADU está sendo apresentado em cinemas de várias capitais do Brasil: denúncia veemente à truculência da PM de MG.
O
filme NA MISSÃO COM KADU está sendo apresentado em cinemas de várias capitais
do Brasil: denúncia veemente à truculência da PM de MG.
Por Alexandre
Figueirôa. 1 de novembro de 2016.
O terceiro dia do Janela,
por Vitor Jucá/Divulgação.
O segundo programa da mostra
competitiva de curtas do 9º Janela Internacional de Cinema do Recife acendeu,
mais uma vez, no público presente no cinema São Luiz, na tarde desta
segunda-feira, 31/10/2016, o espírito de indignação e revolta contra os
desmandos das forças políticas conservadoras brasileiras e dos seus braços
armados, no caso, a Polícia Militar de Minas Gerais. O filme Na missão, com
Kadu, sobre a repressão ao movimento de uma ocupação na cidade de Belo
Horizonte, causou uma inesperada catarse na plateia que externou sua reação com
choro copioso de alguns presentes e palavras de ordem ao final da sessão.
Na Missão com Kadu é
um filme-documentário realizado pelo pernambucano Pedro Maia de Brito e
o mineiro Aiano Benfica que junta imagens de depoimentos colhidas
pelos cineastas com imagens feitas por um celular pelo líder comunitário
Ricardo de Freitas Miranda, o Kadu, durante uma passeata realizada pelos
moradores da Ocupação Vitória, na Izidora, região periférica de Belo Horizonte.
Os manifestantes se dirigiam ao Centro Administrativo do governo mineiro em
junho de 2015 e foram reprimidos de forma brutal, o que resultou na prisão de
cerca de cem pessoas e ferimentos em várias delas por balas de borracha,
incluindo crianças, atingidas por bombas de gás lacrimogênio e spray de
pimenta.
O filme NA MISSÃO COM KADU é
uma denúncia contundente contra a ação da Polícia Militar e tem sido usado
pelos ocupantes para tentar sensibilizar a Justiça mineira dos arbítrios
cometidos para definir o direito de uso da área invadida. Existem sérias
dúvidas quanto à legalidade de posse da mesma pelos que dizem ser seus
proprietários e questiona-se também o uso da violência contra uma reivindicação
legítima. O caso torna-se ainda mais dramático quando no final do filme tomamos
conhecimento que o líder comunitário Kadu foi assassinado numa emboscada quatro
meses depois da manifestação.
O filme NA MISSÃO COM KADU
já foi apresentado em cinemas de várias capitais do Brasil e seguirá sendo
apresentado em cinemas de outras capitais. Essas apresentações integram a Rede de
Apoio RESISTE IZIDORA que não aceita despejo forçado de 8.000 famílias (cerca
de 30.000 pessoas) das Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória),
em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG: comunidades em franco processo de
consolidação com 3,5 anos de luta e mais de 5.000 casas de alvenaria
construídas seguindo Plano Urbanístico feito por professores arquitetos da
Associação dos Arquitetos Sem Fronteira-Brasil. Negociação justa, aceitamos;
despejos, jamais! O povo segue alertando as autoridades que tentativa de
despejo forçado pode causar um massacre de proporções inimagináveis.
Obs.: A íntegra da
reportagem está no link, abaixo:
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Em defesa do povo das ocupações de Belo Horizonte.
Em defesa do povo das
ocupações de Belo Horizonte.
Frei Gilvander Luís Moreira, em Audiência Pública na ALMG, na Comissão de
Participação Popular, dia 14/07/2016, em Belo Horizonte, MG.
“Bom dia a todos e a
todas. Estou muito emocionado e para lá de indignado. Primeiro quero agradecer
a sensibilidade da deputada Marília Campos, do deputado Cristiano Silveira e de
todas as lideranças presentes. Parabenizo o povo que está na luta. Parabéns! Não
podemos arredar nem um milímetro da luta. Acompanhei de perto esse despejo
covarde, inconstitucional, ilegal e truculento das Ocupações Maria Vitória e
Maria Guerreira, no dia 20 de junho último. Para mim, foi um dos mais
dramáticos e injustos despejos já acontecidos. Chegaram ao cúmulo de prender a
jornalista Verônica Pimenta, da Rádio Inconfidência. Várias outras lideranças
foram ameaçadas de prisão. Eu, Frei Gilvander, fui proibido pelo Maj. Cláudio
de voltar para o interior da ocupação. Bem-vinda, D. Cláudia do Amaral, grande
lutadora, defensora dos direitos humanos. Deputada Marília, quero lembrar aqui um
pano de fundo. A continuar o poder público – prefeitura, governo de Minas,
Polícia Militar, Guarda Municipal e Tribunal de Justiça – insensível aos clamores
ensurdecedores de milhares de famílias sem casa, estaremos fortalecendo uma
guerra civil não declarada. Nos últimos 10 anos, a Prefeitura de Belo Horizonte
destruiu e demoliu mais de 14 mil moradias. Para quê? Para arrumar moradias
para os automóveis, para alargar avenidas e para fazer
viadutos. Os carros
têm mais dignidade que o ser humano? Não está escrito na Constituição
brasileira que a dignidade humana tem que ser respeitada? E o povo está sendo
escorraçado. Nesses últimos 10 anos, mais de 50 mil famílias em Minas Gerais
foram forçadas a ir para ocupações urbanas. Foram cerca de 15 mil famílias só
em Uberlândia, cerca de 25 mil famílias só em Belo Horizonte e cerca de 35 mil
famílias em Belo Horizonte e na região metropolitana. E 50 mil famílias significa
mais de 200 mil pessoas. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA -
fez uma pesquisa mostrando que, de 2007 a 2012, por 5 anos, Belo Horizonte foi
a segunda capital do Brasil que mais aumentou seu déficit habitacional. Em apenas
5 anos, de 2007 a 2012, o déficit habitacional em Belo Horizonte aumentou em
123 mil moradias, segundo o IPEA. Nesses últimos 10 anos, a prefeitura demoliu
14 mil moradias, mas o povo, nas ocupações, construiu, na raça, cerca de 13 mil
moradias. Vejam bem que a pesquisa do IPEA é de 2007 a 2012, são 5 anos, quando
o déficit habitacional aumentou em 123 mil casas. Em junho de 2013, houve
aquelas grandes manifestações populares no Brasil. Em junho, julho, até outubro
de 2013, 11 mil famílias foram para as ocupações William Rosa e para as três
Ocupações da Izidora. Isso é uma covardia.
Quero denunciar
também que é uma mentira descarada do Márcio Lacerda, prefeito de Belo
Horizonte, que continua com uma cantilena, dizendo: “Em Belo Horizonte não tem
terreno para fazer moradia popular”. Isso é mentira! O Ministério Público e a Defensoria
Pública têm seis ações civis públicas apoiando as ocupações da região do
Barreiro, onde há quase 3 mil famílias. Ali são 150ha, 1.500.000m2, que, até
1992, no século passado, eram terras públicas devolutas do governo de Minas,
que foram, de forma ilegal, por preço de banana, por preço irrisório e sem
licitação,
repassadas para
empresas a fim de construírem parque industrial e fazer especulações. Por lá já
passaram: Marcos Valério, Bradesco, Banco Real e tudo o mais. Então, só no
Barreiro, se a prefeitura e o governo de Minas quiserem, próximo às ocupações
Camilo Torres, Irmã Dorothy, Nelson Mandela, Eliana Silva, Paulo Freire,
Corumbiara, há 150ha muito mal ocupados por empresas e parcialmente vagos. Na
região da Izidora, onde estão três ocupações, são 8 mil famílias que, nos
últimos três anos, construíram cerca de 5 mil moradias, na raça. Ali também há
fortes indícios - já denunciados aqui na Assembleia Legislativa, pelo nosso
querido Padre Piggi, depois de uma pesquisa aprofundada feita nos cartórios de
Belo Horizonte e Santa Luzia - de que toda a região do Isidoro são terras
griladas que eram do governo de Minas no início do século XX.
Lá tem espaço de
sobra também para regularizar as ocupações, fazendo um acordo justo, e há ainda
outros espaços para construir. Mas, ali no Jardim Xodó, pertinho do Zilah
Sposito, do Jaqueline, há um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida, com os prédios
quase prontos, parado há mais de cinco anos. No início do ano passado, a
ocupação Chico Xavier ocupou lá por uma semana, cerca de 100 famílias, mas a
tropa de choque foi até lá e expulsou o pessoal. Os prédios continuam
inacabados há mais de cinco anos. A prefeitura de Belo Horizonte, segundo
sabemos, tem mais de 100 terrenos e imóveis que o prefeito Marcio Lacerda já
passou para o tal BH Ativos, empresa que criou, e quer vender. Então, é mentira
dizer que não tem terreno. Termino dizendo que o Edésio Fernandes, natural de
Belo Horizonte, que hoje é professor na Universidade de Londres, na Inglaterra,
tem estudos demonstrando que Belo Horizonte é uma das capitais que tem o maior
índice de especulação imobiliária do mundo. Deputado Cristiano, deputada
Marília, tem de se aprovar na Assembleia Legislativa um jeito de coibir a
imensa especulação imobiliária, porque o povo não pode viver no ar. Se até
passarinho precisa de ninho para viver, o povo está de parabéns, porque não dá para
viver no ar. A cruz do aluguel está tão pesada que não dá mais para carregar,
estão arrastando. Ninguém é obrigado a viver debaixo da pesadíssima cruz do
aluguel, nas costas de parentes, etc. Tem de aparecer, sim, terrenos para
encaminhar, para ontem, moradia para
essas 200 famílias
que foram covardemente despejadas das ocupações
Maria Vitória, Maria
Guerreira e Jardim Filadélfia. Parabéns a todos que estão nessa luta. Termino
dizendo a todo mundo que está aqui e sentiu isso na pele para não perder a oportunidade.
Na hora em que a deputada terminar, tenham a coragem, levantem o dedo, peçam
para falar e o façam em alto e bom som, porque eu trouxe a câmara para a gente
registrar e colocar na internet. Eu nem sabia e fiquei arrepiado em saber que a
Guarda Municipal tinha até torturado. Isso é coisa para lá de grave. Como é que
se tortura e os caras continuam livres? Nosso repúdio, dizendo que há, sim,
formas de se encaminhar essa questão habitacional. Continuar reprimindo é
burrice, só alimenta a guerra civil não declarada, só aumenta o número de
ocupações. O povo é digno e tem de ser respeitado. Obrigado.” (- Palmas.)
terça-feira, 25 de outubro de 2016
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