sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Minas Gerais e o Brasil precisam de uma profunda Reforma Urbana. Propostas das Ocupações Urbanas aos Candidatos ao Governo de Minas Gerais, em 25/09/2014.


Minas Gerais e o Brasil precisam de uma profunda Reforma Urbana.
Propostas das Ocupações Urbanas aos Candidatos ao Governo de Minas Gerais, em 25/09/2014.

O processo de urbanização do Brasil teve início em meados do século 20, quando o desenvolvimento do capitalismo provocou a ruína da população rural e sua intensa migração, levando ao surgimento de dezenas de cidades de médio e grande porte e a uma maior integração do território nacional.
É a partir da década de 1970 que o país torna-se urbano, ou seja, mais de 50% de sua população passa a morar nas cidades. Nesse período, a urbanização do país estava intimamente ligada à industrialização, pois as novas fábricas que surgiam eram instaladas em locais onde houvesse infraestrutura adequada, mão de obra disponível e um mercado consumidor capaz de absorver as mercadorias produzidas.
Essas indústrias, especialmente as de tecidos e de alimentos, estavam localizadas principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, levando milhões de pessoas sem-terra a migrarem das zonas rurais em busca de emprego nessas cidades.
O chamado êxodo rural foi motivado pela diminuição dos postos de trabalho na agricultura em consequência da modernização e da mecanização do trabalho agrícola, e pela concentração das terras nas mãos dos grandes latifundiários, que expulsavam os camponeses pobres de suas propriedades. Assim, os trabalhadores rurais sem-terra, não tendo como sobreviver no campo, dirigiam-se às cidades em busca de emprego, salários e melhores condições de vida.
Em 1970, o país já tinha 55,9% da população morando nas cidades. Hoje, de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 84,3% da população brasileira é urbana, o que representa mais de 160 milhões de pessoas. Ou seja, de cada dez habitantes do Brasil, oito moram em cidades.

Pequeno histórico da Luta pela Reforma Urbana.

A luta pela Reforma Urbana teve início nos anos 1960, quando o povo foi às ruas apoiar as chamadas “reformas de base” do governo João Goulart. No entanto, o golpe fascista militar-civil-empresarial de 1964 abortou esse processo de mobilização e a realização das Reformas de Base propostas, entre elas, a reforma urbana.
Na Constituinte de 1988, o Movimento Nacional pela Reforma Urbana encaminha uma proposta de emenda popular sobre a questão urbana, conquistando pela primeira vez na história do país um capítulo dedicado ao assunto na Constituição.
Após a Constituinte, nasce o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), que passa a pressionar o Congresso Nacional para regulamentar o capítulo da política urbana presente na Constituição de 1988, e, em 2001, finalmente é aprovada a Lei Federal denominada Estatuto da Cidade.
Com a vitória de Lula (PT) nas eleições para a Presidência da República, em 2002, e de Dilma (PT) em 2010, o Governo Federal atende parcialmente às reivindicações dos movimentos de moradia e do FNRU. Entre elas, destacamos a criação do Ministério das Cidades (2003), a implantação do Conselho das Cidades (2003), a realização das Conferências das Cidades (2003, 2005, 2007, 2010 e 2013), o processo de elaboração dos Planos Diretores Participativos (2005-2006) e a aprovação da lei que criou o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (2005). Ocorre uma maior integração da política de habitação com outras políticas, como saneamento, infraestrutura e mobilidade, e aumenta os recursos investidos na construção de moradias.
Porém, os resultados práticos dessa mudança são muito pequenos, pois o que predomina são os interesses das grandes empreiteiras e da especulação imobiliária. O desenvolvimento das cidades continua perverso e desigual, aprofundando a segregação e a exclusão do povo pobre.

O Déficit Habitacional no Brasil e em Minas Gerais.

Segundo a Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional brasileiro ultrapassa os 6,9 milhões de unidades (Fonte: Déficit Habitacional Municipal no Brasil 2010). Destas, 5,885 milhões encontram-se nas cidades. Mais: de acordo com o Relatório do Programa Habitat, órgão ligado à ONU, 52,3 milhões de brasileiros (cerca de 28% da população e quatro vezes mais do que reconhece o governo) vivem nas 16.433 favelas cadastradas no país, número que chegará a 55 milhões de pessoas em 2020.
Se somarmos a isso os moradores de cortiços, loteamentos ilegais, ocupações e os moradores em situação de rua, o total chega a 36,6% da população.
O déficit habitacional em Minas Gerais ultrapassa 1/2 milhão de moradias – 557.000, segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro baseada em dados do Censo de 2010. Só na cidade de Belo Horizonte estima-se que esse número esteja acima de 150.000 moradias! Mais de 200.000, na RMBH.
O governo do Estado de Minas Gerais há mais de 20 anos não constrói nenhuma moradia na região metropolitana de BH, região que concentra o maior déficit do estado.
Estimamos que em Belo Horizonte nos últimos 10 anos mais de 18 mil famílias foram para ocupações urbanas; Na região metropolitana de Belo Horizonte, cerca de 25 mil famílias e em Minas Gerais, cerca de 70 mil famílias estão em ocupações.
Há em todo o Estado de Minas Gerais cerca de 270 liminares de reintegração de posse visando expulsar milhares de famílias de ocupações urbanas e no campo.
A prefeitura de BH está mais demolindo casas do que construindo casas. Está arrumando “casas” para os automóveis e deixando o povo sem casa. Isso é injustiça que clama aos céus!

Nossas Propostas aos candidatos ao Governo de MG nas eleições de 2014:

1)      Desapropriar todas as áreas privadas que sejam de interesse social e destinar os terrenos e prédios públicos ociosos para fins de moradia popular;
2)      Por fim à enorme concentração da propriedade fundiária e à elevação crescente do preço do solo urbano;
3)      Impor limites de quantidade e de tamanho máximo à propriedade do solo;
4)      Garantir a função social da propriedade, ou seja, o uso socialmente justo de todo o espaço urbano;
5)      Por fim à cobrança do IPTU para as famílias com renda até três salários mínimos;
6)      Início do processo de regularização urbana das ocupações de Minas Gerais, com garantia de ligação de água, esgoto, luz, titulação e áreas de lazer. Importante mudança na implementação das tarifas sociais de serem mais abrangentes e para todas as famílias com renda até três salários mínimos. A COPASA e a CEMIG devem prestar serviços e ter gestão estatais que visem a qualidade do atendimento e a real melhoria de vida da população de baixa renda e não trabalhar com parâmetros do mercado;
7)      Despejo zero no estado de Minas Gerais, tanto para ocupações urbanas quanto do campo;
8)      Os Movimentos Sociais Populares com ou sem CNPJ terem direito a participação efetiva nos conselhos estaduais;
9)      Incentivo à produção social da moradia, que já vem sendo desenvolvida com sucesso por várias cooperativas habitacionais e movimentos;
10)   Métodos alternativos de construção que garantam a diminuição do custo de produção e maior qualidade da habitação;
11)   A capacitação de cooperativas e associações para a autogestão;
12)   A preservação, o cuidado e o respeito ao meio ambiente;
13)   A participação da comunidade beneficiada em todas as etapas da construção, bem como o respeito às necessidades das famílias;
14)   A existência de equipamentos e serviços públicos essenciais para a vida em comunidade: praças, escolas, creches, postos de saúde, quadras esportivas, transporte coletivo etc;

Assinam esse Manifesto com Propostas,
 MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), Brigadas Populares, CPT (Comissão Pastoral da Terra), Coordenações das Ocupações Urbanas de Belo Horizonte e da RMBH.

Contatos para maiores informações:
Com Poliana (cel. 31 92839027), com Leonardo (cel.: 91330983), com Rafael Bittencourt (cel.: 31 9469 7400) ), com Charlene (cel.: 31 9338 1217 ou 31 8500 3489), com Edna (cel.: 31 9946 2317), com Elielma (cel.: 31 9343 9696). 

Belo Horizonte, MG, Brasil, 25 de setembro de 2014.

Povo das Ocupações Urbanas de Belo Horizonte e RMBH apresentam reivindicações aos candidatos ao Governo de MG, em 25/09/2014



Povo das Ocupações Urbanas de Belo Horizonte e RMBH apresentam reivindicações aos candidatos ao Governo de MG, em 25/09/2014. Cf. no vídeo, abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=-iGJZ29eU28&feature=autoshare


Uma irmã, um rio e muitas terras, Documentário sobre a Luta pela terra em Salto da Divisa, MG, com Irmã Geraldinha.

Uma irmã, um rio e muitas terras, Documentário sobre a Luta pela terra em Salto da Divisa, MG, com Irmã Geraldinha.


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Road Movie RESISTE ISIDORO entrevista Dr. Joviano Mayer sobre as Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, na região do Isidoro.

Road Movie RESISTE ISIDORO entrevista Dr. Joviano Mayer sobre as Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, na região do Isidoro. 

Eu vi o horror e vos acuso! Por Andrea Zhouri. Licença de Operação para Mineração em Conceição do Mato Dentro é horror, injustiça!



Eu vi o horror e vos acuso!
Por Andrea Zhouri.

É meu dever: não quero ser cúmplice. Todas as noites eu veria o espectro do inocente que expia cruelmente torturado, um crime que não cometeu.
Por isso me dirijo a vós gritando a verdade com toda a força da minha rebelião de homem honrado.
Estou convencido de que ignorais o que ocorre. Mas a quem denunciar as infâmias desta turba de malfeitores, de verdadeiros culpados, senão ao primeiro magistrado do país?!
(...) Antes de tudo, a verdade sobre o processo e a condenação de Dreyfus. (...)
(Emile Zola, Eu acuso. O Processo do Capitão Dreyfus, 1898)
Eu vi o horror. E não foi no século 19, nas trevas do Congo de Joseph Conrad ou na Amazônia selvagem de Roger Casement. Eu vi o horror em pleno século 21, no dia 29 de setembro de 2014, a uma semana das eleições, em um ginásio poliesportivo em Diamantina, Minas Gerais, Brasil.
Num ritual macabro de tortura psicológica e emocional que durou aproximadamente 11 horas, a Unidade Colegiada do Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais, a URC-Jequitinhonha, performou um simulacro de democracia para conceder a Licença de Operação para a criminosa empresa mineradora da África do Sul, a Angloamerican.
Funcionários técnicos da empresa levaram trabalhadores uniformizados que, constantemente atiçados pelos mesmos, xingavam seus parentes comunitários, lavradores idosos, homens e mulheres que há muito lutam por seus direitos sistematicamente violados pela empresa com a conivência do governo do estado de Minas Gerais: direito à terra e à água, direito de serem vistos e ouvidos como cidadãos da nação brasileira. Eu vi uma empresa sem compostura, sem dignidade, cruel, covarde e cínica. Eu vi governantes mineiros exatamente da mesma forma. Eu vi conselheiros imorais, subservientes, fantoches. Eu vi técnicos incompetentes e irresponsáveis.
O povo sentado nas arquibancadas, longe da mesa decisória, longe dos olhos dos conselheiros, cercados de policiais fortemente armados que guardavam somente um dos lados da arquibancada, aquele onde estava o povo sofrido, “massacrado”, em suas próprias palavras, pelo projeto Minas-Rio.
Eu vi o coronelismo ainda vivo, a herança latifundiária que massacrou índios e escravos no Brasil colônia e continua a fazê-lo até os dias de hoje, sob o pretexto de representarem a modernidade e o desenvolvimento de Minas Gerais. Lavradores e lavradoras, a maioria composta por afro-descendentes, foram chamados de oportunistas e gente de má-fé. Conselheiros, dentre os poucos que se pronunciaram, anunciaram explicitamente que “não precisavam fazer o correto. Eu vi o desmanche das instituições construídas arduamente pela sociedade brasileira. Eu vi o mandonismo, a confiança na impunidade.
Eu vi a alegria sádica dos funcionários técnicos da Angloamerican, que, como num rinque de box, riam e jogavam palavras de escárnio na cara de homens e mulheres idosas do campo brasileiro que passam por um sofrimento social incalculável. Eu vi como os pobres, negros e rurais são pisados e humilhados. Mas eu vi esse mesmo povo lutar bravamente, gritar por seus direitos, dizer a verdade na cara do poder. Eu vi a união e a força daqueles que nunca desistem.
Por isso eu acuso.
A insensibilidade e a crueldade da gente branca, rica, letrada e desenvolvida, responsável pelo atraso brasileiro.
Gestores públicos sem honra, sem compostura, sem compromisso, sem responsabilidade.
Por isso eu vos acuso! Aécio Neves, Alberto Pinto Coelho e todo o governo de Minas Gerais.
Eu acuso Alceu Torres, Danilo Vieira, Rodrigo (técnico da SUPRAM-Jequitinhonha) de cinismo, incompetência, imoralidade na condução da sessão de tortura moral que foi a reunião da URC Jequitinhonha no dia 29 de setembro.
Eu acuso os conselheiros da URC-Jequitinhonha que votaram a favor desta licença criminosa na pessoa de Andreza Lemos Meira, representante de instituição científica e de pesquisa, de produção de conhecimento e notório saber. Em 11 horas de reunião, após ouvir denúncias seriíssimas, pronunciamentos de três professores doutores de uma universidade federal, pronunciamentos de alunos que fazem pesquisas na área do projeto, a conselheira sequer fez uma única pergunta. Atitude incompatível a qualquer cientista ou pesquisador. Acuso-a de ocupar indevidamente uma cadeira do COPAM na condição de pesquisadora, cientista ou pessoa de notório saber. No seu lattes consta apenas graduação em direito obtida ainda em ano recente (2010).
Eu acuso a URC Jequitinhonha e a Angloamerican da promoção consciente e planejada do sofrimento social, da inauguração de nova modalidade de sofrimento, o sofrimento científico, e do crime de racismo ambiental.
Andréa Zhouri[1], cidadã brasileira.





[1] Profa. Dra. do Departamento de Antropologia e Arqueologia/FAFICH-UFMG
Coordenadora do GESTA-UFMG, azhouri@gmail.com ,Tel. 55-31-3409 6301