terça-feira, 10 de novembro de 2020

Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por Frei Gilvander

Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por Frei Gilvander Moreira[1]



Que beleza que o povo estadunidense na última eleição derrotou Donald Trump, chefe da barbárie, adepto de Mussolini e Hitler e elegeu os candidatos do partido opositor, Joe Biden e Kamala Devi Harris como presidente e vice, respectivamente, dos Estados Unidos, sendo ela a primeira mulher negra a assumir tal posição. O mundo inteiro acompanhou algum tempo antes o assassinato do negro George Floyd, barbaramente morto por um policial branco que, após algemá-lo, pisou com truculência em seu pescoço durante quase 10 minutos e o asfixiou. Tudo isso em um dos países entre os considerados mais “desenvolvidos”, os Estados Unidos da América. Floyd clamou muitas vezes: "Eu não posso respirar". O Deus da vida ouviu o clamor de Floyd e suscitou no mais profundo da história um grande e intenso processo de luta exigindo Justiça, ancorado no lema “Vidas negras importam!” George Floyd teve sua vida ceifada, mas a justiça divina animou a derrubada do chefe da barbárie, Trump, que tripudiou em cima desse crime bárbaro e de tantos outros que ele cometeu, tais como: construir muro na divisa com o México, separar crianças das mães de imigrantes que tentavam entrar nos Estados Unidos em busca de sobrevivência, tratar de modo anticientífico e criminoso a pandemia do novo coronavírus, entre inúmeros outros. Trump e quem está com ele serão jogados na lata de lixo da história. George Floyd se tornou um grande símbolo da injustiça e da resistência do povo negro e dos demais povos massacrados em todo o mundo. Seu martírio não foi em vão. George Floyd vive e viverá sempre em nós e em nossa luta por tudo o que é justo. 

Politicagem e política coronelista, clientelista e assistencialista são estratégias para manter e aumentar todas as formas de dominação. Já Política com P maiúsculo é um jeito crítico e criativo de amar se colocando ao lado de quem é injustiçado e lutando para retirar as armas das garras dos opressores. As pessoas que fazem Política com ética agem de forma emancipatória, propondo e construindo políticas públicas com participação popular, visando organizar uma sociedade justa no campo e na cidade, com respeito socioambiental e admiração pela imensa diversidade cultural presentes no Estado laico. Entretanto, política é osso duro de roer. Se não roermos esse osso, somos roídos por ele. Quem diz “não gosto de política”, se considerando neutro e apolítico, assume a pior postura política: a da omissão cúmplice das atrocidades protagonizadas pela classe dominante com seus políticos profissionais que não representam o povo, e sim o capital e os grandes interesses do mercado idolatrado. Quem opta por ficar neutro, não votar, votar em branco ou anular o voto, na prática, apoia os piores candidatos que são os que têm mais dinheiro para fazer campanhas milionárias, utilizando muita propaganda mentirosa e até mesmo comprando voto, mesmo sendo legalmente proibido. Procure conhecer a história do/a candidato/a. “Diga-me com quem andas...”. Quem o financia? Fujam das candidaturas ricas, as que têm as maiores campanhas. Fujam dos/as candidatos/as que pagam cabos eleitorais. Esses fazem política como negócio. Investem na campanha para lucrar depois com as benesses que ganharão do poder público.

Na última eleição presidencial, se os mais de 42 milhões de eleitores (31%) que se abstiveram, ou votaram em branco ou anularam o voto, tivessem votado, talvez não teria sido eleito como presidente do Brasil o pior dos 13 candidatos, alguém que tem um torturador como ídolo, apoiador de milícias, que só pensa em disseminar fake news, ódio e incrementar o lucro da indústria de armas incentivando o armamentismo na sociedade. Na última eleição presidencial nos Estados Unidos, mesmo com voto facultativo, aumentou o número de votantes. Muita gente vendo Trump, o chefe da barbárie, semear guerra, discriminação e violentar os direitos humanos e ambientais, votou por sua derrubada, o que considero correto para estancar a espiral de ódio e de intolerância que Trump estimulou durante quatro anos. O resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos “adia o fim do mundo”, conforme diz Ailton Krenak, e por algum tempo “impede a queda do céu”, conforme diz o xamã ianomâmi Davi Kopenawa.

Em uma democracia burguesa, que é formal e caricatural, se diz que os eleitos passam a ser representantes do povo. Na realidade, 80% dos eleitos não representam o povo, mas, sim, grandes interesses do capital, grandes empresas que fazem lobby para manter a maioria dos políticos subservientes aos seus idolátricos interesses. Jesus Cristo e as primeiras comunidades cristãs já denunciavam: “Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados benfeitores” (Lucas 22,25). Em uma sociedade capitalista com lógica e estrutura para reproduzir a desigualdade social, trabalhador/a votar em empresário/a é o mesmo que galinha votar em raposa para tomar conta do galinheiro. “Trabalhador/a deve votar em trabalhador/a”, propõem a Pastoral Operária e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) há muitas décadas.

Em uma sociedade racista e escravocrata como é o Brasil, negro/a não deve votar em branco/a da classe dominante, pois, se assim fizer, estará votando em quem lhe superexplorará e reproduzirá as políticas opressoras. Negro/a deve votar em negro/a que participa do Movimento Negro e é militante da causa do povo negro: superar todo tipo de escravidão e de racismo reinante na sociedade. Os presídios atualmente no Brasil são na prática novos Navios Negreiros, antros de tortura e de pisoteamento na dignidade da pessoa humana. Logo, quem vota em militaristas e quem defende endurecimento de penas e repressão policial está condenando os próprios irmãos e irmãs que serão presos e jogados para detrás das grades e violentados de muitas formas.

Em uma sociedade com 51% da população constituída por mulheres, o que garantirá um grau efetivo de representação nos Executivos municipais e nas câmaras de vereadores, será a eleição de pelo menos 51% de mulheres para compor os poderes Executivo e Legislativo municipais. Em Belo Horizonte, por exemplo, em uma Câmara Municipal com 41 vereadores, apenas quatro são mulheres. Por isso, em Belo Horizonte precisam ser eleitas, no mínimo, 21 mulheres como vereadoras. Basta de 90% dos parlamentares serem homens e na maioria das vezes machistas e patriarcais. Pesquisas demonstram que países governados por mulheres estão conseguindo salvar muito mais vidas durante a pandemia do novo coronavírus.

Se na sociedade existe cerca de 14% das pessoas com orientação sexual homoafetiva, 14% dos eleitos para prefeitos/as e vereadores/as precisam ser de pessoas LGBTQIA+. Se no Brasil há quase um milhão de indígenas resistindo bravamente diante do genocídio que lhes é imposto pelos capitalistas, onde há indígenas candidatos/as devem receber os votos necessários para se elegerem. Se na sociedade há mais de 10% das pessoas com alguma deficiência física ou mental, 10% das vagas das câmaras municipais precisam ser para este grupo social que humaniza as relações humanas e sociais. E assim por diante para conquistarmos de fato representatividade entre os/as eleitos/as.

Atenção! Não acredite em candidatos/as que utilizam o discurso “Deus e a família acima de todos e de tudo”. Deus não quer estar acima de tudo e de todos. O Deus da vida está em nós, no nosso meio, caminha com o povo oprimido nas suas lutas libertárias. Quem fica acima quer poder para dominar. Deus não quer isso. Deus é amor e por amor fica ao nosso lado, jamais acima. Alardear também “família acima de tudo” é outra mentira esfarrapada, pois atualmente existem mais de 40 tipos de família na sociedade brasileira e precisam ser respeitadas na sua dignidade e na sua forma plural se ser e existir. Não dá mais para impor aquele modelo de família tradicional arcaica e que tinha o marido patriarcal e machista e anulava a dignidade da mulher que, submissa e resignada, mantinha uma aparência de família modelo. A pluralidade de valores precisa ser acolhida, admirada e respeitada na sociedade. Acabou-se o tempo de imposição de um modelo que insistia em uniformizar a sociedade. Os que usam e abusam do nome de Deus e levantam a bandeira da defesa da família são na realidade os que mais desrespeitam a vontade do Deus da vida e violentam as famílias, pois impedem a realização de reforma agrária, porque não aceitam a partilha e democratização da terra. Impõem políticas de repressão às injustiças sociais, porque querem reproduzir especulação imobiliária e um sistema de moer vidas. Cortam direitos trabalhistas, sociais e previdenciários, porque estão a serviço dos banqueiros que furtam 24 horas por dia de mil formas o povo. Agindo assim, são falsos religiosos e violentam as famílias que ficam sem terra, sem moradia, sem direitos. Os cem pastores que foram eleitos deputados federais estão, salvo exceções, junto com as bancadas da bala e do boi, na Câmara Federal aumentando a latifundiarização e apoiando agronegócio que dissemina epidemia de câncer com o uso abusivo de agrotóxicos e desertifica os territórios. Pessoa religiosa que defende isso é falsa, hipócrita e, pior, opressora.

Enfim, não seja Analfabeto Político, nos pede Bertolt Brecht, porque “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

E, atenção! Dia 15 de novembro de 2020, vote observando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para não pegar e nem transmitir coronavírus; e vote nos partidos de esquerda e em candidatos que têm história de compromisso com a luta por justiça social. Senão você poderá sair da cabine de votação com as mãos sujas de sangue, como milhões saíram na eleição de 2018. Vote pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Oxalá sejam eleitos/as os/as melhores candidatos/as – se não, os/as menos piores e que respeitem o que pede Jesus Cristo: “Governe como aquele/a que serve!” (Lucas 22,26) construindo e efetivando políticas públicas que gerem uma sociedade com justiça, paz, solidariedade, amor ao próximo e respeito ao meio ambiente e às próximas gerações, sem discriminações[2].

10/11/2020.

Obs.: Os vídeos nos links e o áudio, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Live: A Inter-Religiosidade, as Eleições Municipais e o "Fora, Bolsonaro"! - Por Justiça! 08/11/2020

2 - Greg News: Eleições Municipais. O que está em jogo nas eleições de 2020? Poder do prefeito. 09/10/20



3 - 7a Live: A "Fratelli Tutti" do Papa Francisco e o papel dos Cristãos na Política: Fora, Bolsonaro?

4 - Live 4: Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal! 100.000 mortos pela COVID-19 – Debate Ecumênico

5 - Dom Vicente Ferreira na Live "Fora, Bolsonaro e o (des)governo federal?" - Debate Inter-Religioso

6 - 3ª Live do Movimento Inter-Religioso do Vale do Aço, MG: Fora, Bolsonaro? – Debate Inter-Religioso.

7 - Live - Fora Bolsonaro e o (des)governo federal? - Debate inter-religioso

8 - Live Cristãos também gritam: “FORA BOLSONARO!" - Frei Gilvander, Pastor Daniel, Renata, Sara/Paulo



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

 

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