Educação: cuidar da
mãe Terra e de seus filhos/as, responsabilidade de todos.
Por frei Gilvander Moreira[1]
Dia 23 de maio de 2016, fiz palestra no
Teatro Municipal Vera Cruz, de Uberaba, MG. Mais de mil estudantes e
professores, dentre outras pessoas, participaram. Eis, abaixo, o que orientou
nossa reflexão e partilha de experiências sobre o tema: Educação: cuidar da mãe Terra e
de seus filhos/as, responsabilidade de todos/as. Obrigado pelo convite.
Que beleza a realização do II Seminário da Pastoral da Educação da Arquidiocese
de Uberaba, MG. Parabéns a todos/as que organizaram e a todos/as que estão aqui
participando. Mesmo estando com minha agenda muito cheia, aceitei o convite e
vim de longe para tentar contribuir, porque esse assunto é muito sério. Vim
para partilhar e socializar algumas reflexões com vocês e partilhar várias
experiências.
Como
deve ser uma Escola e nossa Educação para que de fato nos ensine a cuidar da
mãe Terra e de seus filhos/as?
Não pode ser uma Escola do decoreba e só
aprender conteúdos para ser aprovado no ENEN e ingressar em um curso universitário.
Não pode ser uma escola que apenas nos prepare tecnicamente para sermos escravizados
no mercado de trabalho. Não pode ser uma educação bancária (Paulo Freire), nem
uma escola que reproduz as desigualdades sociais (Bordieu). Não pode ser uma
Educação apenas escolar, mas também e principalmente extraclasse.
Que seja uma educação que proporcione aos
estudantes vivenciar experiência de convivência com a natureza, com os povos
indígenas, com os camponeses, com o povo da periferia, das ocupações. Que seja
uma educação/escola onde os estudantes sejam protagonistas, sujeitos ativos e
não passivos. Que seja uma escola do diálogo entre educadores e educandos,
envolvendo toda a comunidade, mas que seja diálogo a partir da realidade dos
educandos e dos desafios que nos envolvem.
O QUE
FAZER E COMO FAZER?
Um pequeno camponês cearense, ao refutar a
transposição da águas do rio São Francisco dizia: “Não precisamos de projetos
faraônicos, mas de milhares de pequenos projetos feitos pelo povo a partir do
povo. Projetos gigantescos só beneficiam os tubarões.”
Muitas
crises estão afetando as pessoas e todos os demais seres que habitam nossa Casa
Comum. A CRISE ECOLÓGICA já acendeu o sinal vermelho há muito tempo. A
temperatura do planeta está aumentando. As calotas polares estão derretendo. “O
mundo está em chamas”, já dizia, ainda no século XVI, Teresa de Jesus,
espanhola e freira carmelita, uma das três mulheres consideradas doutoras pela
Igreja. O que acontece, todavia, é que do século XVI para cá, o modo de
produção industrial, os estilos de vida impostos pelo modelo capitalista e
tecnocrático somente agravaram os problemas ambientais no Planeta. “Não brinque
com fogo”, dizia a mamãe Leontina. Urgente se tornou interrompermos a espiral
de autodestruição da humanidade e de todo o planeta.
Pela
quarta vez ecumênica, a Campanha da Fraternidade (CF) aborda um assunto sobre a
crise ecológica. A CF de 2016 tem como
Tema:
“Casa comum, nossa responsabilidade”,
como
Lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca (Amós 5,24)
e como Objetivo Geral: “assegurar o direito ao SANEAMENTO BÁSICO para todas as
pessoas.
Quatro
Campanhas da Fraternidade Ecológicas, de 1979 a 2016: em 37 anos:
1ª)
CF/1979: sobre Ecologia, com o lema “Preserve o que é de todos.”
2ª)
CF/2004: sobre A água, com o lema “Água, fonte de vida.” (25 anos depois).
3ª)
CF/2011: Vida no Planeta, com o lema “A criação geme em dores de parto”,
refletiu sobre a crise ecológica mundial. (7 anos depois).
4ª)
CF/2016: Casa comum, nossa responsabilidade. (apenas 5 anos depois).
Ao perguntar “Quem aqui nasceu na roça, no
campo?” e “Quem nasceu na cidade e vive na cidade?”, observei que das mais de
mil pessoas presentes no auditório do teatro apenas 5% tinham nascido no
campo/roça e que 95/% tinham nascido na cidade. Sugeri a importância de
todos/as fazerem experiência de vida com os camponeses, com os quilombolas, com
os Sem Terra, com os povos indígenas.
Ver,
Julgar e Agir: eis
o método da Ação Católica, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), das
Pastorais sociais, dos movimentos sociais populares e da Teologia da Libertação.
Como era nosso mundo? (olhar para o passado a
partir dos oprimidos). Como está? (analisar o presente para partir dos
injustiçados). E como deve se tornar o nosso mundo? (projetar o futuro, utopia,
a partir dos últimos).
Como era no passado
nossa Casa Comum, o planeta Terra?
Gênesis 1,2: “O Espírito de Deus
está nas águas.”: Tudo é sagrado. A Terra é sagrada e assim deve ser considerada.
A Terra é Templo sagrado. Não podemos mais continuar profanando nossa única
Casa Comum: o planeta Terra.
Gênesis 2,4-15: O ser humano, em um
paraíso, é convidado a ser jardineiro, cuidador do ambiente e de todos os seres
vivos.
É
hora de resgatarmos a mística e a espiritualidade de São Francisco de Assis: a
fraternidade universal. “Irmão sol”, “irmã água”, irmã árvore, irmão oxigênio,
irmã borboleta, irmão peixe, irmão sapo, irmão morcego etc.
Levítico 25: ano
sabático: de
7 em 7 anos, deixar a terra repousar e de 50 em 50 anos – Jubileu -,
reorganização geral da vida social. As terras compradas devem ser devolvidas
aos seus antigos donos/administradores. Os endividados devem ter suas dívidas
perdoadas. Isso prescreve o jubileu bíblico.
Somos natureza, somos corpo, somos ambiente.
Como
está no presente nossa única Casa Comum, o planeta Terra?
Vivemos tempo de aquecimento global e de
escurecimento global.
Quando vejo uma criança, tenho dois
sentimentos. Por um lado, sinto a ternura de Deus, o encanto, a graciosidade, a
transparência, a vida ressurgindo, a esperança está nas crianças. Por outro
lado, me pergunto: que futuro terá essa criança diante da maior devastação
socioambiental da história?
Temos que ter responsabilidade geracional,
além de responsabilidade social. No futuro nossos filhos e netos, vão nos
perguntar: Onde estavam vocês e o que vocês fizeram para nos herdar esse mundo
devastado?
99% das pessoas têm boas intenções, mas de
boas intenções a estrada para o inferno do capital está pavimentada.
A Terra é um grande ser vivo: Gaia, segundo o cientista James Lovelock, no livro A vingança de Gaia. “Deus sempre perdoa, o ser humano, às vezes,
mas a natureza nunca perdoa”, diz a sabedoria popular.
Leonardo Boff e frei Betto escreveram vários
livros sobre o tema Cuidar da Terra, nossa única casa comum. (Sugiro a leitura dos
livros Saber cuidar. Ética do humano – compaixão
pela Terra. Petrópolis, Vozes, 1999 e O
cuidado necessário. Petrópolis, Vozes, 2012. Frei Betto, A obra do Artista – uma visão holística do
Universo. Rio, José Olympio, 2011.)
Como ser vivo, a Terra, Gaia, está adoecida,
já quase na UTI. Está sofrendo queimaduras de 1º, 2º e 3º graus. Nós seres humanos somos a espécie animal que
mais depende de todos os outros seres vivos. Segundo, estudos das Universidades Federais do
Ceará, do Mato Grosso, UNB e Fio Cruz, mais de 34% da alimentação que chega na
mesa do povo brasileiro está envenenada, porque foi produzido com o excesso de
agrotóxico. Assistam aos 2 filmes do cineasta Sílvio Tender: O VENENO ESTÁ NA MESA I e II (estão no
youtube).
Comida
de verdade é a comida da vovó. Quando eu era criança no final de década de
1960, uma das alegrias ao chegar à casa da vovó Laurinda, no município de Rio
Paranaíba, era degustar a comida: 30 panelinhas com todo tipo de verdura, tudo
natural, sem uma gota de agrotóxico. É de dar água na boca!
Sedentarismo está sendo uma das
maiores causas de morte da atualidade. Os avanços tecnológicos estão tornando
as pessoas cada vez mais sedentárias.
1 - Ecologia
ambiental. Mais
de 16 bilhões por ano na indústria de Pet shop, planos de saúde para animais.
2 - Ecologia social. O ser humano é o
animal que não pode ser esquecido.
3 - Ecologia integral.
Todos
os seres vivos devem ser respeitados, pois fazem parte da grande comunidade de
vida. Por exemplo, o sapo é um grande ecologista e o morcego, um grande
semeador.
4 - Ecologia
política. Não
basta dizer que a culpa é de todas as pessoas e que cada um/a deve fazer a sua
parte. Isso só tranquiliza consciência, mas não resolve nada. É preciso
perceber a trama de poder que envolve todas as relações sociais. O grande
inimigo não são as pessoas, mas o sistema capitalista – sistema do capital –
que prima por lucrar, acumular e gerar mais-valia e, por isso, vai devastando
tudo em nome do capital.
Como o pecado entrou no mundo? Alguém cercou um
pedaço de terra e disse: “isso é meu.” E os outros aceitaram resignadamente.
Quem faz greve de fome, se estiver com a saúde
boa, pode aguentar uns 40 dias. Se fizer greve de água, aguenta no máximo uns
10 dias. Se fizer greve de oxigênio, aguenta no máximo uns 3 minutos. Dependemos
todos os segundos da nossa vida do irmão oxigênio, que é fruto do encontro dos
raios solares com o verde das plantas.
Os elementos químicos
da tabela periódica
estão em nós, na terra e em todos os seres vivos. O papa Francisco enfatiza na
Encíclica Louvado Sejas: “O nosso corpo é constituído pelos elementos
do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e
restaura-nos” (n. 2).
Viver é uma
experiência eucarística de comunhão permanente. As plantas e o sol nos oferecem
oxigênio e nós, pela expiração, oferecemos gás carbônico para as plantas. Mas
com a devastação ambiental o desequilíbrio natural é rompido. Diz o papa
Francisco na encíclica Louvado Sejas que
não podemos “considerar a natureza como
algo separado de nós ou uma mera moldura de nossa vida” (n. 139).
O
papa Francisco nos alerta: não basta constatar as consequências das estruturas
da sociedade em que vivemos, como a desigualdade social e a degradação
ambiental. É preciso conhecer as causas. Pois “a deterioração do meio ambiente e da sociedade afetam de modo especial
os mais frágeis do planeta. (...) os
efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas
mais pobres” (n. 48). Aqui a dimensão holística adquire um caráter
social: “Tudo está inter-relacionado e o
cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é
inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros” (n.
70).
Minha
experiência pessoal com o meio ambiente.
Seis meses antes do golpe de 1964, eu nasci
na roça no município de Rio Paranaíba, MG. Nasci na roça e cresci roçando
capoeira e cortando mata para fazer lavoura de milho, feijão e arroz, em Unaí e
Arinos, no Noroeste de Minas Gerais. Cortei muitas árvores, mas hoje não tenho
coragem de cortar mais nem uma árvore. Carreguei muita lata d´água na cabeça
para a mamãe fazer almoço, janta e para tomarmos banho na bacia em dois ou no
máximo três litros de água. Senti na pele a escassez de água no Noroeste de
Minas. Por isso não desperdiço água. Quando eu era criança, ouvi muitos
fazendeiros dizerem: “temos que formar a fazenda.” Descobri depois que “formar”
significava desmatar tudo. Passar o trator com correntão e derrubar todo
cerrado, deixando a terra pelada sem nenhuma árvore e plantar capim brachiara
em todo o terreno. Isso era despelar a terra. Após estudar e experimentar as
agruras da devastação ambiental, percebo que o que os fazendeiros entendiam
como “formar a fazenda” era deformar a fazenda, matar a riquíssima biodiversidade
existente.
Trabalhando como meeiro, ao lado do papai, descobri que a sociedade é organizada de forma injusta e desigual. Não é justo e
Deus não quer que uma minoria se aproprie das riquezas – meios de produção –
(terra, indústrias, fábricas, capital financeiro etc) e condene a maioria do
povo sendo (super)explorado.
Com uma professora de História aprendi que devemos ler a história a partir dos oprimidos e
injustiçados. Com o livro História da
riqueza do homem, de Leo Huberman, comecei a curar a cegueira que a
ideologia dominante impõe a toda a população.
Descobri como funciona a sociedade: exploração do capital.
Descobri que no início tudo era muito bom: paraíso terrestre. Na Bíblia, nas
Américas antes de 1492, nas comunidades africanas, o povo negro era livre. As
comunidades camponesas eram solidárias.
Temos uma origem muito bonita, uma
responsabilidade grande para construirmos um mundo justo e solidário.
Saneamento,
uma necessidade humana: Em 2013, segundo o Ministério da Saúde (DATASUS), foram notificadas
mais de 340 mil internações por infecções gastrointestinais no país. Se 100% da
população tivesse acesso à coleta de esgotos sanitários, haveria uma redução em
termos absolutos de 74,6 mil internações.
Sem Saneamento para todos os 204 milhões de
brasileiros não há como superar as epidemias de dengue, zika e chikungunha. Não
basta fazer o que o Dr. Osvaldo Cruz, no início do século XX, descobriu como
remédio para deter a malária: evitar a retenção de água, o que viabiliza a
multiplicação das larvas do mosquito.
A LIÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS
Uma reflexão de Leonardo
Boff sobre as lições que podemos receber dos povos indígenas: indígenas sentem
e veem a natureza como parte de sua sociedade e cultura, como prolongamento de
seu corpo pessoal e social. Para eles a natureza é um sujeito vivo e carregado
de intencionalidades. Não é como para nós modernos, um objeto mudo e sem
espírito. A natureza fala e o indígena entende sua voz e mensagem. Por isso ele
está sempre auscultando a natureza e se adequando a ela num jogo complexo de
inter-relações. Há sábias lições que precisamos aprender deles face às atuais
ameaças ambientais. Importa entender a Terra, não como algo inerte, com
recursos ilimitados, disponíveis ao nosso bel prazer. Mas como algo vivo, a Mãe
do índio a ser respeitada em sua integridade. Se uma árvore é derrubada, faz-se
um rito de desculpa para resgatar a aliança de amizade. Precisamos de uma
relação sinfônica com a comunidade de vida, pois como foi comprovado, Gaia
(terra) já ultrapassou seu limite de suportabilidade. Se deixarmos as coisas
correrem e não fizermos nada as ameaças se tornarão devastadora realidade.
(Leonardo Boff, O desafio Amazônico,
19/02/2007).
Em 1852, o governo
dos Estados Unidos propôs comprar as terras dos índios. O cacique Seattle estranhou a proposta e expôs a sua preocupação
numa carta ao Presidente. Segue aqui um trecho da carta: “O presidente em
Washington informa que deseja comprar nossa terra. Mas como é possível comprar
ou vender o céu ou a terra? A ideia nos é estranha. Se nós não possuímos o
frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão comprá-los? Cada parte
desta terra é sagrada para meu povo. ... Somos parte da terra e ela é parte de
nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso e a águia são nossos irmãos.
O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do cavalo, o ser
humano, pertencem todos à mesma família. A água brilhante que se move nos rios
e riachos não é apenas água, mas é o sangue de nossos ancestrais. Se lhes
vendermos nossa terra, lembrem-se de que o ar é precioso para nós, o ar
partilha seu espírito com toda a vida que ampara. Uma coisa sabemos: nosso Deus
é também o seu deus. A terra é preciosa para ele. Esta terra é preciosa para
nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas um Deus.
Nenhum ser humano, vermelho ou branco, pode viver à parte. Afinal, somos
irmãos!" (Joseph Campbell, O Poder
do Mito, 14ª edição, São Paulo: Editora Palas Atenas, 1996, pp.34 e 36)
São duas maneiras
diferentes de relacionar-se com a terra. Para Seattle, o chefe indígena, a
terra é dom de Deus e fonte de identidade. Para o Presidente dos Estados Unidos
a terra é apenas uma mercadoria, um objeto de troca. Para Arru, o índio do
Xingu, a terra, o chão, o passado, o céu, tudo faz parte de uma sabedoria universal que nos envolve e da
qual nós somos apenas uma parte. Não somos os donos do mundo; tomamos conta, e
temos que prestar conta. Dizia um descendente dos índios lá do Ceará: “Eu não
sou pessoa. Sou pedaço de pessoa. A pessoa é a comunidade. Vivendo em
comunidade me torno pessoa”. São duas mentalidades distintas: a dos índios e a
nossa. Temos muito a aprender deles. Nos últimos três ou quatro séculos, uma
ciência utilitarista que só busca seu próprio proveito, privou-nos desse
contato com a natureza e, por conseguinte, da sabedoria que nasce do contato
com a mãe terra, Pachamama.
A mensagem do povo negro e do povo camponês para nós.
Visões e práticas
opressoras:
1 - O Antropocentrismo
é uma estupidez. Uma convicção profunda permeia toda a Encíclica Laudato Si’: a
convicção que o papa Francisco, carinhosamente, propõe a todas as pessoas de
boa vontade: “Visto que todas as
criaturas estão interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o
valor de cada uma, e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros (n. 42).”
Isso mesmo: Nós, seres humanos, somos os seres vivos que mais dependem de todos
os outros seres vivos. Logo, é estupidez o antropocentrismo que exalta o ser
humano individualmente abrindo, espaço para o sistema pisar, violentar e
assassinar tantos seres vivos.
2 “Crescei
e dominai a terra, submetei-a!” (Gênesis 1,28). Esse versículo bíblico
interpretado de forma fundamentalista e literalmente tem justificado a devastação
do meio ambiente.
3 Mentiras
que correm soltas na Mídia: Quem mais
gasta água? 16,8%, as famílias; 70% o agronegócio com hidronegócio e as
indústrias eletrointensivas. As grandes empresas são consumidoras livres, pois
podem comprar energia da empresa que lhe fizer o melhor preço, sendo o sistema
elétrico brasileiro todo interligado. Mas as famílias são consumidores cativos,
pois são obrigadas a comprar energia da empresa que fornece no local. A superação
dessa opressão passa por energia solar em todas as residências.
4 A mídia polui o nosso espírito, fura
os olhos do povo. Roberto Marinho disse: “o mais importante não é o que a TV
Globo mostra, mas o que ela esconde.” Toda “notícia” no jornal Nacional é
propaganda disfarçada, pois tem o objetivo de conduzir a população para
consumir tal produto ou defender propostas que no fundo são de interesse da
classe dominante. Pauta da mídia: a tríade economicismo, violência e
entretenimento. Por que so isso? Por que não noticiar o que de bom e emancipatório
acontece? Noticiar o que de bom acontece na sociedade também é cuidar do
ambiente.
5 Pacto
satânico entre o agronegócio e a indústria farmacêutica. Quanto mais se
envenena a produção agrícola, mais os donos do agronegócio lucram, mais a
população fica adoecida e cai no colo da indústria farmacêutica que, assim,
lucra/furta de forma absurda.
6 Transporte
individual, não. Transporte público de qualidade, sim. A automovelatria causa
concentração de riqueza e poluição imensa.
7 Progresso
para quem? Nem todo progresso é bom. Bom, sim, é desenvolvimento social. Progresso
só para acumulação de capital para umas poucas grandes empresas e seus
acionistas significa miséria e devastação socioambiental.
Visões e práticas libertadoras:
1)
Deus,
nas ondas da evolução, criou tudo muito bonito e colocou o ser humano para ser
jardineiro, para cuidar.
2)
Tudo
o que acontece em qualquer ponto do planeta terra atinge a todos.
3)
Dois
sistemas de água na cidade de São Paulo: água na torneira e captação de água da
chuva. Isso diminui as enchentes, reduz o preço da conta d’água no final do mês.
4)
Agroecologia, sim; agronegócio, não. O
MST tem o maior banco de sementes crioulas do mundo. Cursos de agroecologia em
níveis técnico, universitário, mestrado e doutorado.
5)
Música de qualidade, sim; lixo musical,
não. Música de raiz, música que nos fazem pensar, sentir e amar. Música
romântica, sim, mas sem discriminação contra a mulher e sem racismo. Violeiros,
por exemplo. Pena Branca e Xavantinho. Que beleza!
6)
Coleta seletiva, mas não basta
separar em casa. É preciso cobrar da prefeitura o cumprimento da Política
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) que exige a inclusão dos
catadores na política municipal assegurando apoio econômico e contratação das
cooperativas de catadores. A utopia é Reduzir
o consumo, Reutilizar as coisas, Reciclar os resíduos e Repensar o estilo de vida e nosso sistema
político e econômico. Colocar em prática um estilo de vida simples e
austero.
7) A
luta coletiva educa. Só educação escolar não basta.
Não basta cada um/a fazer sua parte. É
preciso atuação comunitária e coletiva a partir dos injustiçados.
Dentro do sistema capitalista não há solução.
Capitalismo é uma máquina de moer vidas. Quanto mais se desenvolve, mais
devastação socioambiental causa.
Experimente fazer a experiência de ficar sem
respirar: greve de oxigênio.
Com o auxílio dos omissos, dos cúmplices e
dos coniventes, o capitalismo causou – e continua aprofundando – a maior crise
ecológica de todos os tempos dos humanos sobre a face da terra. As mineradoras com suas máquinas pesadas,
cada vez mais potentes, como dragões cuspindo fogo, dizimam milhões de
nascentes d’água pelo mundo afora. Ao formar crateras, deixam a mãe Terra
dilacerada. Grandes empresas do agronegócio ampliam as monoculturas de eucalipto,
de soja, de café, de cana etc e, assim, deixam um rastro de destruição nunca
antes visto. O esgotamento dos solos férteis é um risco para a segurança e
soberania alimentar da humanidade. Megaempresas do hidronegócio transformaram a
água em mercadoria. Um litro de água em alguns lugares, como aeroportos, custa
um absurdo.
É grande o nosso desafio. Por isso faz bem
recordar que o pequeno Davi venceu
Golias e que segundo o profeta Daniel, da Bíblia, uma pedrinha que crolou da montanha, ao bater nos pés de barro do
gigante, acabou por despedaçá-lo. O pequeno Davi venceu Golias, porque se
conhecia muito bem, buscou conhecer bem o inimigo e escolheu a melhor estratégia
e tática. Sozinhos somos frágeis, mas agindo em conjunto, coletivamente,
podemos muito mais do que pensamos que podemos.
Frei Gilvander Luís Moreira
Facebook: Gilvander Moreira.
Uberaba, 23 de maio de 2016.
[1] Padre carmelita, graduado em
Filosofia e Teologia, mestre em Ciências Bíblicas e doutorando em Educação pela
FAE/UFMG; www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.gilvander.org.br – gilvanderufmg@gmail.com Face:
Gilvander Moreira.
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