Camponeses dão exemplo de Soberania em
Correntina-BA: Luta em defesa do Cerrado.
“Águas para a vida e não para a Morte – Fora
Mizote”
O município de
Correntina, no Oeste da Bahia, há muitos anos vem sendo alvo dos interesses do
Agronegócio visto, a sua topografia privilegiada, abundância hídrica,
biodiversidade ecológica, variedade de solos, mão de obra barata... o que faz
deste lugar, um dos principais focos, da expansão agrícola na região. Dados do
Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento – LAPIG da
Universidade Federal de Goiás-UFG mostram que entre 2002 e 2009 a área de
Cerrado desmatada na Bahia foi de 6.265 km2 (30 % da área
desmatada de Cerrado no Brasil neste período). As estatísticas são de que o
Cerrado poderá perder 40.000 km2 por década até 2050.
Os municípios que mais desmataram o Cerrado no Brasil estão localizados no
Oeste da Bahia, e são Formosa do Rio Preto (2.066 km2), Correntina (1.067
km2) e São Desidério (990 km2)[1].
Sentindo os impactos deste modelo de expansão da fronteira agrícola brasileira,
ao longo dos últimos anos, e visualizando os severos danos ecológicos, sociais
e econômicos desta insustentabilidade, camponeses, sindicatos, movimentos
sociais, estudantes, ambientalistas e entidades de apoio se uniram nesta
quinta-feira (06/02/14), para dizer não a mais um empreendimento que pretende
se implantar em Correntina. Trata-se da Fazenda Barra Velha, do Grupo Mizote,
que alega possuir cerca de 38.000 hectares, entre os rios do Meio e Santo
Antônio, a Audiência Pública, que seria presidida pelo INEMA teria como
objetivo apresentar o empreendimento, que pretende desmatar 25.000 hectares,
para a sociedade e solicitar do órgão competente a Licença Prévia-LP, para mais
este desmatamento.
Como em 23/10/2013, o povo disse não a este empreendimento, e bradou “Fora
Mizote”, impedindo que a Audiência Pública acontecesse, dando um exemplo de
Soberania, pois são sabidas as mazelas que tal empreendimento causará as suas
comunidades, a sociedade em geral e ao ambiente. Com apitos, faixas, bandeiras,
latas e palavras de ordem, mais de 300 pessoas disseram que não “querem mais desmatamento
na região, e que o Cerrado deve continuar de pé para produzir água e alimentos
para o povo do lugar”. Ao ver as dimensões que a mobilização tomou, e
da impossibilidade de se iniciar a Audiência Pública, mesmo com apoio e reforço
policial, os representante do INEMA e do grupo Mizote retiraram-se do espaço
sob vaias e gritos dos presentes.
A autonomia e o protagonismo dos presentes fizeram com que, logo em seguida, se
instaurasse uma Assembleia Popular, onde os representantes das comunidades,
movimentos sociais e das entidades e organizações puderam reforçar a
importância daquele momento para a “Defesa do Cerrado e do seu povo”.
A organização popular e a necessidade de manter-se em “alerta” contra os
interesses do capital, e da omissão/conivência do Estado foram os pontos fortes
que motivaram a necessidade da continuidade da luta e da caminhada.
Espera-se que a vitória nesta batalha, aponte para a grande vitória almejada
que é manter os Cerrados de pé, e o seu povo com seu modo de vida, que garantam
a sustentabilidade para as atuais e futuras gerações, permitindo que a vida
prevaleça sobre a morte, expressa atualmente pelo falacioso discurso de que o
Agronegócio é responsável pelo superávit primário do país. A realidade de Correntina,
assim como a de outros lugares onde este modelo esta instalado dá margem para
outra interpretação, a de que o somatório dos danos ecológicos (alguns
irreversíveis), a expropriação social, o aumento das desigualdades, a
instabilidade financeira (pois o modelo é financiado com recursos públicos), a
corrupção e a lavagem de dinheiro, e o uso de técnicas agropecuárias obsoletas
nos mostram que o Agronegócio, além de “insustentável”, deveria ser extirpado
da nossa sociedade.
Comunidades
Ribeirinhas e de Fundo e Fecho de Pasto
Associação dos
Pequenos Agricultores de Pedra Branca
Associação
Comunitária da Escola Família Agrícola Rural de Correntina e Arredores-ACEFARCA
Movimento dos
Atingidos por Barragens-MAB
Sindicato dos
Trabalhadores em Educação-SINDTEC-Correntina-BA
Comissão Pastoral da
Terra – Centro Oeste da Bahia
Articulação Popular
São Francisco Vivo
[1] Cf. Cerrado: Oeste da Bahia, sul do Piauí e
Maranhão, leste de Tocantins e Mato Grosso concentram devastação, acessado www.ecodebate.org.br,
em 12/08/2010.
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