terça-feira, 14 de maio de 2019

CPT, em MG, 40 anos de luta por justiça agrária ao lado dos/as camponeses/sas.


CPT, em MG, 40 anos de luta por justiça agrária ao lado dos/as camponeses/sas.
Por frei Gilvander Moreira[1]

Foto: Arquivo da CPT
No Brasil, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) nasceu em junho de 1975, em plena ditadura militar-civil-empresarial. Em Minas Gerais, a CPT foi criada em 1979. Em 2019, a CPT-MG celebra 40 anos de luta por justiça agrária ao lado dos camponeses e das camponesas. Segundo Ivo Poletto, o primeiro secretário da CPT, "os verdadeiros pais e mães da CPT são os peões, os posseiros, os índios, os migrantes, as mulheres e homens que lutam pela sua liberdade e dignidade em uma terra livre da dominação da propriedade capitalista" (POLETTO, 2015)[2]. A CPT iniciou sua atuação na Amazônia acompanhando pastoralmente a luta dos camponeses posseiros. O fato de estar vinculada à CNBB[3] contribuiu para a CPT defender as/os camponesas/es da repressão imposta pela ditadura militar. Já nos primeiros anos, a CPT se tornou ecumênica, porque dela participavam camponesas/es de várias igrejas e também porque incorporou agentes de outras igrejas cristãs. Ao longo de quatro décadas, a atuação da CPT ampliou dos posseiros para muitas outras expressões do campesinato. A CPT mantém uma Campanha Permanente contra o Trabalho Escravo lutando pela libertação dos "peões", submetidos, muitas vezes, a condições análogas à da escravidão.
O objetivo maior da existência da CPT é ser um serviço pastoral à causa dos/as camponeses/as, sendo um suporte para a sua organização. A CPT os acompanha, não cegamente, mas com espírito crítico e com compromisso eclesial e político (CPT, 1990).[4] A defesa dos direitos humanos dos camponeses permeia toda a atuação da CPT. Por isso, a CPT é também uma entidade de defesa dos Direitos Humanos: uma Pastoral dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras da terra.[5] A CPT está organizada em todo o Brasil em 21 regionais e contribuiu na criação de muitos movimentos sociais camponeses. As lideranças históricas do MST são unânimes em reconhecer a importância da CPT na criação do MST enquanto movimento em nível nacional, conforme asseverou João Pedro Stédile em reiteradas ocasiões. Bernardo Mançano Fernandes registrou uma dessas falas de Stédile no livro Brava gente: A trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil: “O surgimento da CPT, em 1975, em Goiânia (GO), foi muito importante para a reorganização das lutas camponesas. Num primeiro momento ela reuniu os bispos da região amazônica, que percebiam o altíssimo grau de violência cometida contra os posseiros das regiões Norte e Centro-Oeste do país. [...] Outro aspecto importante, com o surgimento da CPT, é o pastoral. [...] A CPT foi a aplicação da Teologia da Libertação na prática, o que trouxe uma contribuição importante para a luta dos camponeses pelo prisma ideológico. Os padres, agentes pastorais, religiosos e pastores discutiam com os camponeses a necessidade de eles se organizarem. A Igreja parou de fazer um trabalho messiânico e de dizer para o camponês: “Espera que tu terás terra no céu”. Pelo contrário, passou a dizer: “Tu precisas te organizar para lutar e resolver os teus problemas aqui na Terra”. A CPT fez um trabalho muito importante de conscientização dos camponeses. Há ainda mais um aspecto que também julgo importante do trabalho da CPT na gênese do MST. Ela teve uma vocação ecumênica ao aglutinar ao seu redor o setor luterano, principalmente nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Por que isso foi importante para o surgimento do MST? Porque se ela não fosse ecumênica, e se não tivesse essa visão maior, teriam surgido vários movimentos. A luta teria se fracionado em várias organizações. [...] A CPT foi uma força que contribuiu para a construção de um único movimento, de caráter nacional” (STEDILE; FERNANDES, 2005, p. 19-21)[6].
A vinculação do MST com a CPT é histórica. O trabalho de base feito pela CPT de 1975 a 1984 foi imprescindível para a criação do MST. Em Minas Gerais, a CPT fez o trabalho de base que viabilizou a 1ª Ocupação do MST em MG, em fevereiro de 1988: Aruega em Novo Cruzeiro. Para Stédile, “A CPT, lá nos primórdios de 1975 a 1984, ia para o interior fazer o trabalho de base e dizia assim: Deus só ajuda a quem se organiza, não pensem que Deus vai ajudar vocês se ficarem só rezando” (STÉDILE, 1997, p. 87-88)[7].
Ao longo de sua história, a CPT realizou quatro congressos nacionais. O I aconteceu em Bom Jesus da Lapa, BA, em 2001 com o tema: “Terra, água, direitos: eis o tempo jubilar”. Foi definida a terra como espaço de vida, não simplesmente como área de produção; a água como direito natural e inalienável que não pode ser reduzida a mercadoria; e a pessoa humana como sujeito de direitos e como necessárias e legitimas as várias formas de luta para garantir estes direitos.[8]  Em 1977, cerca de 120 camponeses da Bahia foram até o Santuário de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, pedir forças espirituais ao Bom Jesus e denunciar sua luta desesperada contra a grilagem de suas terras. Assim se deu a origem das Romarias da Terra no Brasil. Em julho de 2018, em Bom Jesus da Lapa, BA, aconteceu a 41ª Romaria da Terra e das Águas do Estado da Bahia. Em Minas Gerais, em 2018, realizamos a 21ª Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, na cidade de Lagoa da Prata, no centro-oeste de Minas, na Diocese de Luz.
Nos 30 anos da CPT, o II Congresso Nacional da CPT foi realizado em 2005, na Cidade de Goiás, GO, com o lemaFidelidade ao Deus dos Pobres, a serviço dos povos da terra”. “Podemos afirmar, com todas as letras, que, em muitos casos, as terras do agronegócio intensivo e extensivo, não cumprem a necessária e obrigatória função social, exigida pelo art. 186 da Constituição Federal” (CARTA FINAL do II CONGRESSO DA CPT, 2006, p. 15). Na Plenária do II Congresso da CPT, o Sr. Sebastião, camponês cearense, 67 anos, gritou com entusiasmo: “Novos céus e nova terra a gente é quem faz, com a nossa prática!” (CARTA FINAL, 2006, p. 17). Foi acordado no II Congresso da CPT que “a reforma agrária que ainda faz sentido, e pela qual não abrimos mão de continuar lutando, é a que, além de democratizar a propriedade da terra, reestruture ecologicamente o território, para potencializar os benefícios civilizatórios do campesinato atual” (II CONGRESSO DA CPT, 2006, p. 26). O agronegócio, enquanto braço da fase atual do capitalismo no campo, “afeta duplamente os assalariados rurais. Primeiro, tira-lhes a terra, ao tomar-lhes a que têm ou ao dificultar-lhes o acesso à terra que eles nunca tiveram. Segundo, superexplora (destaque nosso) o seu trabalho “livre”, em condições de crescente precarização, até a escravidão” (II CONGRESSO DA CPT, 2006, p. 28).
O III Congresso Nacional da CPT aconteceu em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, em 2010, com o tema: “Biomas, Territórios e Diversidade Camponesa” e o lema: “No Clamor dos Povos da terra, a Memória e a Resistência em Defesa da Vida.” No III Congresso da CPT enfatizou-se uma cosmovisão ecológica integral sobre a Terra, que afirma: “O planeta no qual vivemos se comporta como ser vivo, tem sua alteridade em relação ao ser humano, precisa de sua própria cobertura vegetal para respirar, de uma determinada média de temperatura para abrigar a atual comunidade da vida, de seu ciclo de águas, enfim, tem seu próprio metabolismo, e que o ser humano é parte deste metabolismo, como tudo que existe. Pensar que temos o controle sobre a Terra é uma ilusão da arrogância humana. Nós dependemos da Terra e das condições que ela nos oferece para viver. Somos parte integrante desta imensa vida e temos que aprender que nosso existir é fruto do gigantesco milagre da evolução e da interação de todos os elementos que vêm acontecendo há bilhões de anos” (III CONGRESSO DA CPT, 2010, p. 20).
O IV Congresso Nacional da CPT foi realizado, em Porto Velho, RO, em 2015 com o tema/lema: “Faz escuro, mas eu canto: memória, rebeldia e esperança dos pobres do campo.” Celebramos os 40 anos de atuação da CPT no Brasil e assim nos expressamos na Carta Final: “Com as mãos cheias de esperança, convocamos os povos originários e o campesinato em suas mais diversas expressões: quilombolas, pescadores e pescadoras artesanais, ribeirinhos, retireiros, geraizeiros, vazanteiros, camponeses de fecho e fundo de pasto, extrativistas, seringueiros, castanheiros, barranqueiros, faxinalenses, pantaneiros, quebradeiras de coco-de-babaçu, assentados, acampados, peões e assalariados, sem-terra, junto com favelados e sem-teto, para fortalecer estratégias de aliança e de mobilizações unitárias. Convocamos também igrejas, instituições e organizações para reassumirmos um processo urgente de MOBILIZAÇÃO REBELDE E UNITÁRIA pela vida, que inclua a defesa do planeta TERRA, nossa casa comum, suas águas e sua biodiversidade. Com o Papa Francisco reafirmamos que queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, na nossa realidade mais próxima, uma mudança estrutural que toque também o mundo inteiro. Se no passado a escuridão não nos calou, mas acendeu em nós a esperançosa rebeldia profética, hoje também ela nos impulsiona a continuar a luta ao lado dos povos e comunidades do campo, das águas e das florestas, em busca de uma terra sem males e do bem viver” (CARTA FINAL do IV Congresso da CPT).
Em Minas Gerais, ao longo de 40 anos, a CPT contribuiu para a conquista de 412 assentamentos de reforma agrária para cerca de 20 mil famílias em cerca de 900 mil hectares; animou a criação de Sindicatos de Trabalhadores Rurais autênticos; estimulou oposição sindical quando necessário; combateu trabalho escravo; animou a criação e o fortalecimento de grupos de base, de associações e de cooperativas de pequenos produtores na linha da agroecologia e nos últimos 15 anos está também atuando na resistência diante dos grandes projetos do capital e priorizando a organização e a luta dos Povos e Comunidades Tradicionais. Porém, celebrar 40 anos da CPT-MG, em 2019, em plena ascensão do fascismo, dos militares e de falsos pastores ao poder deve ser tempo de resgatar todas as lutas de 1979 a 2019 para lutarmos de modo emancipatório nos próximos 40 anos, de forma profética e revolucionária.

Belo Horizonte, MG, 14 de maio de 2019.

Obs. 1: Esse foi publicado primeiro pelo Jornal A VERDADE, imprenso e também no link
http://averdade.org.br/2019/02/cpt-40-anos-de-luta-por-justica-agraria/

Obs. 2: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1 - Vem aí os 40 anos da CPT-MG (1979 a 2019): Tributo a Alvimar e Tiãozinho, da CPT/MG. 21/11/2018.


2 - CPT/MG: 40 ANOS, 1979 a 2019 - Joaquim Nicolau: Luta que mudou vidas. 1ª Parte – 07/3/2018.


3 - CPT/MG: 40 ANOS, 1979 a 2019 - Joaquim Nicolau: Uma vida de luta por direitos/2ª Parte/ 07/3/2018.


4 - CPT/MG: 40 anos, 1979 a 2019. Celso: Uma vida de luta e resistência. 1ª Parte. 10/3/2018.


5 - CPT/MG: 40 anos de luta - 1979 a 2019 – Celso fez história na CPT - 2ª Parte – 10/3/2018.





[1] Padre, doutor em Educação, bacharel em Filosofia e Teologia, mestre em Ciências Bíblicas; agente da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III
[3] Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
[4] Cf. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Compromisso Eclesial e Político da Comissão Pastoral da Terra. 4ª Ed. São Paulo: Loyola, 1990.
[6] STÉDILE, João Pedro; FERNANDES, Bernardo Mançano. Brava gente. A trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil. 3ª edição. Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.
[7] Entrevista com João Pedro Stédile. In: ESTUDOS AVANÇADOS. O MST e a questão agrária. São Paulo: IEA, v. 11, n. 31: 69-97, 1997.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Comunidades Tradicionais MG/Audiência na ALMG/Braulino, geraizeiro do no...



Comunidades Tradicionais de MG / Audiência Pública ALMG: Fala de Braulino, geraizeiro do norte de MG. 20/3/2019.

 Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) debate Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais – Fala do Sr. Braulino Caetano dos Santos, liderança geraizeira do norte de Minas. 20/3/2019. Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.

 Braulino Caetano dos Santos, liderança geraizeira do norte de Minas.  

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sábado, 11 de maio de 2019

Júlio Grillo, do IBAMA, na CMI-COPAM, contra mineração na Serra da Piedad...




Júlio Grillo, do IBAMA, na CMI-COPAM, contra mineração na Serra da Piedade, Caeté/MG. 22/2/2019.

Júlio Grillo, do IBAMA, demitido no dia seguinte, em sua intervenção na reunião da Câmara de Atividades Minerárias - CMI - do Conselho Estadual de Políticas Ambientais (COPAM), do Governo de Minas Gerais, no dia 22/2/2019, que teve na pauta a votação pela retomada da mineração na Serra da Piedade, situada nos municípios de Caeté e Sabará, dia 22/2/2019, exigiu a preservação da Serra da Piedade, em Caeté e Sabará, MG e afirmou: “Os princípios da precaução e da prudência precisam ser usados nas decisões sobre projetos de mineração”. Mesmo sendo um patrimônio histórico, paisagístico, natural e religioso do Estado de Minas Gerais, a Serra da Piedade já sofre com a devastação – enorme cratera - que a mineradora Brumafer deixou ao fazer “lavra predatória”. Por grande luta popular iniciada em 2001, foi fechada em 2005 e o passivo ambiental foi deixado lá na Serra da Piedade e precisa ser recuperado. Foi essa a “desculpa” que a AVG, que comprou a Brumafer na ocasião, usou e continua usando para conseguir licença para minerar. A Serra da Piedade na área pretendida pela AVG é essencial para o abastecimento de água de comunidades abaixo, como sitiantes, agricultores familiares e moradores do distrito de Ravena, em Sabará, que já vivem situações de escassez hídrica. E a AVG em seus estudos informou não haver nenhum usuário de água abaixo de onde pretende retomar as atividades de mineração, conseguindo assim a concessão por parte do Estado da totalidade de uso de água superficial e subterrânea. A Serra da Piedade é protegida por três tombamentos, como patrimônio natural, histórico e paisagístico, em nível municipal (Caeté), estadual e federal. Por isso, o IPHAN e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) têm o dever de cuidar desse patrimônio e esperamos que não deem licença para reabrir mineração na Serra da Piedade. A Serra da Piedade é responsável por parte significativa do abastecimento d’água de Belo Horizonte e região metropolitana (RMBH), que já perdeu o Rio Paraopeba – morto pela Vale e pelo Estado -, que era responsável por 50% do abastecimento de BH e RMBH. A cratera que a Brumafer deixou lá na Serra é um passivo ambiental que precisa ser recuperado, mas jamais com mais mineração. Mesmo com a falta de anuência do IBAMA, do IPHAN e do IEPHA, o jovem que presidia a sessão repetia sempre que estava cumprindo uma decisão judicial e, assim, usava a decisão judicial como escudo para encobrir ilegalidades que eram levantadas. Aliás, não tem sido rara a utilização de liminares judiciais pelas mineradoras para pautar processos de licenciamento ou para garantir que as reuniões de deliberação das licenças transcorram ainda que o processo administrativo encontra-se pendente de pré-requisitos indispensáveis. Ou seja, o judiciário também tem sido cúmplice de devastação socioambiental protagonizada pelas mineradoras.

Destruição na Serra da Piedade (Foto: Divulgação / Movimento Serras e Águas de Minas
*Filmagem de frei Gilvander Moreira. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 22/2/2019.
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quinta-feira, 9 de maio de 2019

Povo Kiriri de Caldas/MG/Audiência na ALMG/Comunidades Tradicionais/MG –...



Povo Kiriri de Caldas, sul de MG: Audiência na ALMG/Comunidades Tradicionais têm direitos (Convenção 169 da OIT da ONU) – 20/3/2019.

 Karliusa Kiriri fala em nome do Povo Indígena Kiriri, de Caldas, sul de Minas Gerais, na Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que debate Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, 20/3/2019. Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.



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terça-feira, 7 de maio de 2019

Makota Celinha: Comunidades Tradicionais MG/Audiência Pública ALMG. 20/3...





Makota Celinha: Comunidades Tradicionais em MG/Audiência Pública na ALMG. 20/3/2019.

 Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) debate Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais - Makota Celinha, jornalista e coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência. 20/3/2019. Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.



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Makota Celinha: Comunidades Tradicionais MG/Audiência Pública ALMG. 20/3...





Makota Celinha: Comunidades Tradicionais em MG/Audiência Pública na ALMG. 20/3/2019.

 Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) debate Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais - Makota Celinha, jornalista e coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência. 20/3/2019. Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.

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Crescem os Conflitos e a Violência no Campo; a luta também.


Crescem os Conflitos e a Violência no Campo; a luta também.
Apresentação dos dados da CPT por Gilvander Moreira[1]

Ai dos que ajuntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sozinhos no meio da terra!” (Isaías 5,8).


Dia 12 de abril último (2019), na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou o livro-relatório Conflitos no Campo Brasil 2018. Esta é a 34ª edição anual, desde 1985, de pesquisa da CPT que faz diagnóstico dos conflitos e violência no campo. Os dados recolhidos por mais de 700 agentes de pastoral da CPT, tabulados e analisados por uma equipe com competência técnica e compromisso com a causa do campesinato nas áreas dos conflitos agrários e socioambientais, demonstram o que segue.
Em 2018, aumentou o número de pessoas envolvidas em conflitos no campo. Aproximadamente um milhão de pessoas estiveram envolvidas em conflitos no campo no Brasil, em 2018, mais especificamente foram 960.630 pessoas envolvidas em conflitos contra 708.520 pessoas em 2017, um aumento significativo de 35,6%. Nos conflitos especificamente por terra, foram 118.080 famílias envolvidas em conflitos por terra, em 2018, contra 106.180, em 2017, nesse caso um aumento de 11%. De 2015 a 2018, média anual de 127.188 famílias envolvidas em conflitos na luta por terra no período da chamada ruptura política (2015-2018), iniciada com o golpe parlamentar-jurídico-midiático. Na região Norte estão 51,3% de todas as pessoas envolvidas em conflitos agrários. Isso significa forte indício do avanço/invasão da Amazônia pelo agronegócio via monoculturas.
Acirramento da violência privada faz explodir o número de famílias expulsas. Somente no ano de 2018, o poder privado foi responsável pela expulsão de 2.307 famílias (cerca de 9.228 pessoas) e o poder público por despejar 11.235 famílias (cerca de 44,940 pessoas). A região Norte, com 36,3% das famílias expulsas; a região Sudeste, com 35,6 % e a região Centro-Oeste com 24,9%. Em 2018, ano eleitoral, 28 camponeses foram assassinatos em conflitos no campo, sendo 50% lideranças (14), 16 camponeses no Pará e 3 Sem Terra em Anapu, PA. A CPT analisa que anos eleitorais tendem a ter uma diminuição nesse tipo de violência. Contudo, 2019 já aponta o retorno do aumento dos assassinatos. Nos quatro primeiros meses de 2019, a CPT já registrou 10 assassinatos em conflitos no campo. Porém, os números podem ser maiores do que os registrados. No Pará, Nazildo dos Santos Brito, 33 anos, liderança quilombola, foi assassinado na Comunidade Quilombola Turé III. Ele estava ameaçado de morte por denunciar crimes ambientais praticados pela empresa Biopalma da Amazônia S/A, subsidiária da Vale.
No ano de 2015, quando se inicia o período de golpe parlamentar-jurídico-midiático, vimos a extensão – área - em disputa em conflitos no campo aumentar extraordinariamente em 163%, em relação a 2014, passando de 8 milhões e 134 mil hectares em conflito para 21 milhões e 387 mil hectares! A área de 39 milhões e 425 mil hectares implicada em conflitos por terra, em 2018, corresponde a 4,6% da área total do país, o que mostra a gravidade da injustiça agrária no país.
Em 2018, em relação a 2017, houve um crescimento de: a) 4% no número de conflitos no campo; 35% no número de pessoas envolvidas; c) 40% em conflitos por água; d) 30% em conflitos trabalhistas; e) 10% em conflitos envolvendo a mineração; f) 11% no número de famílias envolvidas em conflitos por terra; g) 6,5% em terras em disputa; h) 59% em famílias expulsas; i) 5,7% maior em famílias despejadas: 11.231.
Em 2018, 482 mulheres sofreram violência nos conflitos no campo: a) 36 foram ameaçadas de morte; b) 6 sofreram tentativas de assassinato; c) 15 foram presas (10 mulheres sem-terra foram presas em julho de 2018 durante ocupação da Fazenda Verde Vale, no município de Alvorada do Oeste, em Rondônia); d) 2 torturadas; e) 6 sofreram ferimentos; f) 2 morreram em consequência dos conflitos. g) 1 sofreu aborto; h) 400 foram detidas (na ação em que denunciavam a privatização das águas em Minas Gerais, elas ocuparam a Nestlé, em São Lourenço, sul de MG. A polícia as manteve detidas por horas dentro dos ônibus que as conduziam e todas passaram por revista). A grande maioria das mulheres que sofreram violência em 2018 são sem-terra. Mas também sofreram violência: 13 indígenas, 2 advogadas populares, 2 agentes de pastoral, 8 quilombolas. Entre as mulheres que sofreram violência 20 eram lideranças. Números da Violência contra mulheres de 2009 a 2018: a) 38 foram assassinadas; b) 80 sofreram tentativas de assassinato; c) 409 receberam ameaças de morte; d) 22 morreram em consequência de conflitos; e) 111 foram presas; f) 410 foram detidas; g) 37 foram estupradas; h) Outras sofreram agressão (75), ameaça de prisão (16), contaminação por agrotóxicos (19), ferimento (52), humilhação (67) e intimidação (94).
A 34ª edição de Conflitos no Campo Brasil, referente ao ano de 2018, dedicou a publicação, entre outras, a duas mulheres: Marielle Franco e Irmã Alberta Girardi. O livro traz, ainda, apenas fotografias de autoria de mulheres, como uma forma de visibilizar a atuação delas nas mais distintas esferas no que tange à realidade do meio rural.
Em 2018, conflitos pela água quebraram novo recorde com maior número desde 2002. Em 2018 foram registrados pela CPT 276 conflitos pela água, envolvendo 73.693 famílias. 2018, portanto, quebrou o recorde de 2017, como o ano com o maior número de conflitos pela água, desde 2002, quando a CPT começou a registrar em separado esse tipo de conflito. Entre as vítimas, 85% delas são comunidades tradicionais. O número de conflitos foi 40% maior e o de famílias envolvidas, 108% maior. Bahia e Minas Gerais foram os estados com mais conflitos pela água em 2018. Cada um com 65 casos (23,55%). Ressalte-se que a maioria dos conflitos resulta em violência.
Em 2018, as mineradoras foram as responsáveis por 50,36% dos conflitos pela água (139 conflitos). 111 deles foram protagonizados por mineradoras internacionais e 28 por mineradoras nacionais. Três conflitos emblemáticos: 1) 58 ações envolvendo a tragédia de Mariana da Samarco/Vale/BHP Billiton, em Minas Gerais; 2) 55 comunidades do Baixo São Francisco Sergipano, na luta pela manutenção dos seus modos de vida, contra os interesses especulativos imobiliários; 3) 30 ações da empresa Hydro Alunorte contra as comunidades paraenses do município de Barcarena. Conflitos envolvendo mineração foram os mais altos em 2018. A mineração, a cada dia, torna-se responsável por boa parte dos conflitos e das violências que as comunidades do campo sofrem. Ela não se restringe à mina explorada. Exige toda uma infraestrutura de sedes, acampamentos, galpões, rodovias, ferrovias, minerodutos, condomínios ou company-town, que “pressupõem diferentes formas de domínio sobre o espaço geográfico”. São novos territórios usados, causando sobreposições e conflitos com os povos e comunidades que vivem e atuam nestes mesmos espaços. Os conflitos envolvendo a mineração atingiram diferentes povos e comunidades do campo de diversas categorias de trabalhadores e trabalhadoras, no campo e na cidade. São pessoas que dependem das águas, das florestas e da terra para reproduzir socialmente sua própria existência com dignidade. Os registros da CPT mostram que de 2004 a 2018 houve 1.123 conflitos em torno à mineração. A partir de 2010 houve uma explosão de conflitos causados pela mineração, o que demonstra que a mineração está causando colapso das condições objetivas de vida do povo e dos ecossistemas.
Em 2018, os conflitos trabalhistas deixaram milhares de trabalhadores reféns do silêncio. Em 2018 houve 89 ocorrências de conflitos trabalhistas – 35% a mais que em 2017, e com 1.477 pessoas envolvidas - 178,8% a mais que em 2017. De 2000 a 2018, a CPT registrou 363 vítimas em conflitos envolvendo agrotóxicos, pessoas que morreram ou tiveram sua vida ameaçada devido ao contato com os venenos jogados na agricultura do agronegócio. Na realidade, os números são muito maiores, pois a imensa maioria dos trabalhadores não denuncia ou não são caracterizados como casos de intoxicação por exposição ao agrotóxico.
Importante lembrar que para os agentes pastorais da CPT contar a cada dia os números dos conflitos e da violência no campo não é fazer um registro frio. É o serviço de alguém que está ao lado dos/as camponeses/as, sofrendo com eles/elas, mas conspirando lutas de resistência e de enfrentamento ao sistema do capital na convicção de que a mãe terra, a irmã água, a biodiversidade e toda a cultura popular jamais podem ser privatizadas como insistem o sistema do capital e seus vassalos. Enfim, enquanto perdurar a iníqua estrutura fundiária, pautada no latifúndio e no agronegócio com monoculturas, a injustiça agrária e socioambiental se reproduzirá e se ampliará e não será possível superar as gravíssimas injustiças sociais que se abatem sobre a maioria do povo brasileiro. Conscientes disso, centenas de agentes da CPT seguem acompanhando pastoralmente o campesinato, em sua imensa pluralidade, e conspirando a democratização e a socialização da terra. Com o profeta Isaías, da Bíblia, seguimos denunciando: Ai dos que ajuntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sozinhos no meio da terra!” (Isaías 5,8). Segundo o Evangelho de Marcos, uma pessoa que estava diante de Jesus crucificado, viu-o expirar e exclamou: “De fato, esse homem é Filho de Deus” (Marcos 15,39). Dói ver e constatar tanta violência acontecendo no Campo Brasileiro, mas somente quem tem a sensibilidade e a coragem de contemplar olho no olho os crucificados da história pode construir dias de ressurreição, de vida e liberdade para todos os seres humanos e para todos os seres vivos.

Obs.: Para acessar a íntegra dos livros-relatórios Conflitos no Campo Brasil, da CPT, acesse www.cptnacional.org.br

Obs.: As tabelas com os dados apresentados acima estão no seguinte link: https://www.cptnacional.org.br/component/jdownloads/category/67-espaco-para-imprensa?Itemid=-1

Belo Horizonte, MG, 07 de maio de 2019.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br             www.twitter.com/gilvanderluis             Facebook: Gilvander Moreira III