Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
sexta-feira, 15 de abril de 2016
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Entrevista com Frei Betto: várias críticas e alertas, em 10/04/2016.
Entrevista
com Frei Betto: várias críticas e alertas, em 10/04/2016.
- O ex-presidente
Lula pode assumir a vaga de ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma. Como
o senhor vê este fato? Acha que ele funciona como uma espécie de “salvador da
pátria”, podendo reverter o quadro pró-impeachment?
Frei Betto: Não penso
que Lula foi chamado em função da possibilidade de impeachment. O governo Dilma
está sem rumo e Lula, devido ao êxito de seus dois mandatos, foi convocado para
tentar salvá-lo. Por outro lado, como tem muita habilidade política e de
negociação - o que falta a Dilma - sem dúvida ele já contribui para evitar o
impeachment. Ainda que não lhe permitam virar ministro, ele passa a ser, de
fato, o primeiro-ministro...
- Diante das opções
cogitadas pela oposição ao governo Dilma, como impeachment, renúncia e novas
eleições, o que o senhor avalia como o mais provável? Qual o impacto disso na
situação política do Brasil até 2018?
FB: Entre as vozes
das ruas e as das urnas, fico com as últimas. Embora crítico do governo Dilma,
sobretudo pelo excessivo ônus do ajuste fiscal sobre o segmento mais pobre da
população, julgo que qualquer interrupção do mandato da presidente é golpe
branco, como já ocorreu em Honduras e Paraguai. E se o governo não completar
seu mandato até 2018 abriremos um precedente que favorecerá, em mandatos
futuros, permanente instabilidade política.
- O senador Aécio
Neves considerou “utópica” essa ideia de novas eleições. Dilma chegou a dizer
que precisaria primeiro convencer o Congresso. O sr. acha a proposta factível?
FB: Dilma diz e
repete que não renuncia. Ora, se aceitar antecipar novas eleições estará, de
fato, renunciando. E isso significará um reconhecimento público, por parte do
PT, de que ele fracassou na condução deste país. O governo tem ainda dois anos
e oito meses pela frente. Se o PT fizesse autocrítica e redefinisse os rumos do
governo, implementando reformas estruturais que sempre prometeu e nunca
realizou, o mandato da Dilma e a credibilidade do partido ainda teriam
esperança de recuperação.
- O senador Cristovam
Buarque defende que seria bom para o PT voltar a ser oposição. O senhor também
acredita nesta avaliação?
FB: Desde que Caim
matou Abel, ninguém quer largar o osso do poder. Vide o PMDB: consegue a proeza
de manter um pé no governo e o outro na oposição... Assim, tenta garantir o
presente e o futuro. O PT só voltará à oposição se assim exigirem as urnas.
- A imagem do PT com
o eleitorado sofreu um considerável desgaste diante dos escândalos mais
recentes. O senhor imagina a possibilidade de uma recuperação do partido?
FB: Às vezes, tenho a
impressão de que a ficha do estrago até agora não caiu para o PT. Seus
dirigentes presos, são culpados ou inocentes na opinião do partido? A política
econômica do governo é de Dilma ou do partido? Como sugerem Tarso Genro e
Olívio Dutra, o PT precisa, urgentemente, fazer uma séria autocrítica. E tentar
recuperar seus três capitais simbólicos perdidos: ser o partido de organização
da classe trabalhadora, ser o partido da ética e ser o partido das reformas
estruturais do Brasil. Fora disso, o PT estará condenado a integrar a geleia
geral da estrutura partidária brasileira.
- O PMDB apoiou
oficialmente o governo federal por 13 anos, antes de anunciar seu rompimento
neste ano. Como o senhor vê o futuro do partido?
FB: O PMDB é o único
partido com futuro garantido nessa institucionalidade política viciada por
fisiologismo, nepotismo e corrupção. Se ficar, o bicho toma posse; se correr,
assume o poder... Enquanto não houver uma séria reforma política, o PMDB será o
grande fiel da balança desse circo chamado Congresso Nacional brasileiro.
- A esperada ‘guinada
à esquerda’ do PT ainda é alcançável? Ainda é possível uma conciliação do
partido com uma pauta mais ligada a movimentos sociais?
FB: Julgo que é muito
difícil. Ao longo de 13 anos de governo, o PT só se lembrou dos movimentos
sociais - que lhe deram origem - na hora de apagar incêndios. Não valorizou os
movimentos sociais, como valorizou os empresários; pouquíssimo fez em defesa da
reforma agrária, dos povos indígenas e dos quilombolas; mantém uma carga
tributária altamente prejudicial ao consumidor pobre; constrói Belo Monte e
outras hidrelétricas sem respeitar as populações locais, sobretudo indígenas e
ribeirinhos; aprovou um Código Florestal vergonhoso para um país que fala em
preservação ambiental etc. Enfim, o PT no governo agarrou o violino com a
esquerda e tocou com a direita... Embora eu considere os dois primeiros
mandatos de Lula e o primeiro de Dilma os melhores de nossa história
republicana.
- Diante de um
processo de impeachment e tantos escândalos de corrupção, qual o caminho para a
esquerda brasileira se viabilizar numa próxima eleição?
FB: Que esquerda?
Cadê o trabalho de base, a formação de novos militantes, o projeto histórico?
Milhões de brasileiros, desde 2013, ocupam as ruas para fazer protestos, e não
para trazer propostas! Sem proposta alternativa ao que está aí, fundada em
programa consistente de reformas estruturais, o Brasil não tem futuro, exceto o
risco de passar do Estado de Direito para o Estado da direita.
- Se Dilma conseguir
evitar o impeachment, como governar com uma base tão fragilizada?
FB: Vejo apenas uma
saída: fazer o que fez Evo Morales na Bolívia, que hoje conta com o apoio do
Congresso, da população e do mercado; apoiar-se em seus pilares de origem,
os movimentos sociais. Fora disso, temo que queira recompor sua base política à
base da receita tradicional do toma lá, dá cá - e não faltarão deputados
federais e senadores que, no dia seguinte à reprovação da proposta de
impeachment, estarão na fila do beija-mão na porta do Planalto.
Dez lições da múltipla crise brasileira Por Leonardo Boff. 12/04/2016.
Dez lições da múltipla crise brasileira
Por
Leonardo Boff.
"Toda crise acrisola, purifica e
faz madurar. Que lições podemos tirar dela?", pergunta Leonardo Boff, teólogo, escritor e filósofo, ao
elencar dez lições.
Eis
o artigo.
Toda crise acrisola,
purifica e faz madurar. Que lições podemos tirar dela? Elenco algumas.
Primeira
lição: o
tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim com é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não
queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade
profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os
políticos também os da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos
sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que
herdamos que seja democrático, includente, justo e sustentável.
Segunda
lição: superar
a vergonhosa desigualdade social impedindo
que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa
desigualdade se traduz por uma perversa concentração de terras, de capitais e
de uma dominação iníqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo
e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da
dívida pública. Enquanto não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os
bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e
pobre.
Terceira
lição: prevalência
do capital social sobre o capital individual.
Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente a fome e fazê-lo
um consumidor, mas
fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e
pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.
Quarta
lição: cobrar
uma democracia participativa, construída de baixo para
cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais
que enriquecem a democracia representativa que, por causa de sua histórica
corrupção, o povo sente que ela não mais o representa.
Quinta
lição: a
reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente, atendia as
classes que detém o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre
o povo de fora. Ele está aí mais para garantir privilégios do que para realizar
o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular
e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial
atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com
as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma
política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas
partidária.
Sexta
lição: o
dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da
constituição de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase
exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população
brasileira) feitos escravos, carvão para o processo produtivo; os pobres
em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados e humilhados pelas
classes dominantes. Urge políticas compensatórias e pro-ativas para criar-lhes
oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade
moderna.
Oitava
lição: fim
do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de
tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto
desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para
sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na
nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha
e desastrada política de conciliação ou de coalizão, mas uma concertação que
acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de
caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das
artes, das mulheres, das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda
mínima aceita por todos.
Nona
lição: O
caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e
privatista. Em outras palavras, o bem comum (res
publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso
se concretiza por políticas sociais que atendam as demandas mais gerais da população
a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se
restringem apenas a ser distributivas, mas importa serem redistributivas
(diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista
da redução da desigualdade social.
Décima
lição: inclusão
da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com
seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à
altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de
direitos formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um
novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de
nossa civilização.
terça-feira, 12 de abril de 2016
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