domingo, 18 de novembro de 2018

Direito à terra é de quem nela trabalha: Quilombo Campo Grande/MST/Campo...





O direito à terra é de quem nela trabalha. Quilombo Campo Grande, do MST, em Campo do Meio, sul de MG: Despejo, não. 3ª Parte. 07/11/2018.

Determinação judicial absurda, injusta, imoral e inconstitucional de reintegração de posse, autorizada na quarta-feira, 07/11/2018, coloca o Quilombo Campo Grande, constituído de 11 Acampamentos do MST, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, sob ameaça iminente de despejo. São, aproximadamente, 500 famílias que vivem e trabalham há quase 20 anos, onde antes só tinha monocultura da cana para produção de álcool e açúcar, cujas terras ficaram improdutivas após a falência da Usina Ariadnópolis, em 1983. Apenas entre 2017 e 2018, as famílias sem terra, do Quilombo Campo Grande, produziram mais de 8.500 mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão, além de uma diversificada produção de hortaliças, verduras, legumes, galinhas, porcos, gado e leite, tudo produzido sem uso de agrotóxicos, oferecendo assim uma alimentação saudável aos consumidores além de movimentar a economia da cidade de Campo do Meio e região, no sul de Minas Gerais. As famílias vivem na área da usina falida Ariadnópolis, reivindicada pelo espólio da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA), que encerrou suas atividades em 1996, e ainda possui dívidas trabalhistas que ultrapassam R$ 300 milhões de reais. As terras valem em torno de 90 milhões de reais. A comunidade já havia conquistado do Governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, a assinatura de dois decretos de desapropriação de duas áreas da Ariadnópolis para fins de Reforma Agrária. Entretanto , um lobby de deputados ruralistas e do agronegócio conseguiu junto ao poder judiciário a derrubada dos decretos de desapropriação e um juiz substituto da Vara Agrária de Minas decidiu restabelecer Liminar de Reintegração. Um absurdo jurídico e inconstitucional. A terra é sagrada e o direito à terra é de quem nela trabalha. As famílias que vivem no Quilombo Campo Grande (11 Acampamentos de Sem Terra do MST), a partir da terra, constroem sua vida com dignidade, exercitando sua cidadania, gerando renda, na luta coletiva do dia a dia e nas relações com a sociedade em geral. Luta e resistência se fortalecem com grande Rede de Apoio e Solidariedade aos Sem Terra de Campo do Meio. Nesse vídeo, a 3ª parte da reportagem feita em frente ao Fórum da Comarca de Campos Gerais, onde aconteceu grande mobilização popular em defesa do Quilombo Campo Grande, com depoimentos de Sem Terra e apoiadores, no dia da audiência em que foi confirmada a decisão judicial de reintegração de posse, no dia 07 de novembro de 2018.
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campos Gerais, 07/11/2018.
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terça-feira, 13 de novembro de 2018

Resistência e clamor por justiça: Quilombo Campo Grande/MST, em Campo do...



Resistência e clamor por justiça. Despejo, não. Quilombo Campo Grande (MST), em Campo do Meio, sul de MG. 2ª Parte/07/11/2018.

Aproximadamente quinhentas famílias do MST, há 20 anos dando função social a um latifúndio de 4 mil hectares, terra da ex-usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, sul de MG, correm o risco de serem despejadas, por decisão judicial injusta e inconstitucional. Essas famílias, distribuídas em 11 Acampamentos, integram o Quilombo Campo Grande, e já contam com infraestrutura de energia elétrica, casas de alvenaria e produzem uma grande diversidade de produção agroecológica A decisão judicial de reintegração de posse, além de desalojar cerca de 500 famílias, causará a destruição de 1200 hectares de lavoura de milho, feijão, mandioca e abóbora - 40 hectares de horta agroecológica e 520 hectares de café, centenas de casas, currais, quilômetros de cercas e 20 anos de histórias de luta pela terra. Em 25 de setembro de 2015, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, assinou o decreto n. 365/2015 desapropriando por interesse social a maior parte do latifúndio da ex-usina Ariadnópolis, pavimentando juridicamente o caminho para a conquista da integralidade das terras da Ariadnópolis pelo MST. Dia 09 de março de 2016, aconteceu mais uma conquista: o governador Pimentel assinou um 2º decreto (n. 107/2016) desapropriando outra área da Ariadnópolis para fins de reforma agrária. Entretanto, a queda de braço entre Latifúndio e Sem Terra, que acontece há muitas décadas, continuou. Dia 23 de novembro de 2016, o Órgão Superior do TJMG rejeitou o Mandado de Segurança que questionava o Decreto n. 365/2015 do Governador Pimentel. Contudo, um lobby de deputados ruralistas e do agronegócio conseguiu junto ao judiciário a derrubada dos decretos de desapropriação e um juiz substituto da Vara Agrária de Minas decidiu restabelecer Liminar de Reintegração. Um absurdo jurídico e inconstitucional. Nesse vídeo, a segunda parte da reportagem feita com depoimentos de Sem Terra e apoiadores em mobilização à porta do Fórum da Comarca de Campos Gerais, onde foi realizada a audiência em que foi confirmada a ação de reintegração de posse, no dia 07 de novembro de 2018.

Manifestação dos Sem Terra do MST do Quilombo
Campo Grande, em Campos Gerais, sul de MG, dia 07/11/2918,
 contra o despejo determinado pela Vara Agrária de MG.
Foto: Douglas Mansur.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campos Gerais, 07/11/2018.
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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Aldeia Maracanã: símbolo de mística e de resistência Indígena em contexto urbano

Imagem 1 - Aldeia Maracanã, na capital Rio de
Janeiro, RJ. Foto: Alenice Baeta, Nov. de 2012.



Aldeia Maracanã: símbolo de mística e de resistência Indígena em contexto urbano
Por Alenice Baeta[1]


Para quem se interessa pelo tema história e organização indígena nas grandes cidades ou urbes, impossível não ter lido algo sobre a emblemática e fascinante história da luta dos indígenas da aldeia Maraká’nà ou Maracanã, situada no bairro homônimo, na capital Rio de Janeiro, RJ. O território hoje abrangido pelos antigos bairros Imperial de São Cristovão e Maracanã foram originariamente assentamentos indígenas de povos Tamoios que se aliaram aos franceses que buscavam também se estabelecer nas terras fluminenses durante o século XVI, todavia, estes teriam sido expulsos e/ou dizimados pelos colonizadores portugueses e suas tropas militares, que por sua vez, utilizando as inimizades históricas entre os povos indígenas tiveram o auxílio dos índios Temiminó nos combates. Estes, no ano de 1567, quando houve o embate definitivo conhecido como ‘Uruçumirim’, estabeleceram-se nesta região fundando novas aldeias indígenas sobre as dos Povos Indígenas Tamoio.  Segundo M. Pimentel, entre flechas e chamas teria então nascido a cidade do Rio de Janeiro, “... em meio a dezenas de incêndios (cerca de 160 aldeias indígenas foram queimadas), a milhares de flechas e tiros de canhão e outras armas de fogo –, o céu enfumaçado se tingiu de cinza e as águas da Guanabara, de vermelho sangue. [...] Eles tiveram suas cabeças espetadas em estacas e os poucos índios sobreviventes fugiram, buscando abrigo nas serras.”[2]
A efetiva colonização desta localidade teria ocorrido somente ao longo do século XVII, sobretudo a partir 1627 com a fundação da Igreja de São Cristovão, local onde ainda eram atracadas as embarcações de pescadores e que também interligava São Sebastião do Rio de Janeiro aos engenhos de açúcar, roças e demais áreas de cultivo do entorno.
Com a vinda da família real e a sua comitiva para a colônia no início do século XIX, esta localidade foi escolhida para abrigar o Paço Imperial Quinta de São Cristovão que serviria para a sua residência (1808 a 1821). Posteriormente, foi morada oficial da família imperial (1822 a 1889) na qualidade de Palácio Imperial (Quinta da Boa Vista), tendo sediado, inclusive, a primeira Assembleia Constituinte Republicana, de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso como Museu Nacional, em 1892. Em terreno circunvizinho ao Palácio Imperial teria sido construído em 1862 um palacete pelo Duque de Saxe, oficial da Marinha austro-húngara e almirante da Armada Imperial Brasileira que ao se casar com a Princesa Leopoldina de Bragança teria recebido a área como dote por ter contraído matrimônio com uma das filhas do D. Pedro II.
Pouco depois de sua construção, em 1865, o imóvel foi doado pelo genro do imperador ao governo, após uma fase de constantes rebeliões populares acirradas pela crise do sistema escravagista. Segundo o termo de doação, o local deveria ser para “destinação ad eternum à preservação das sementes e das culturas indígenas”. Este ato reconheceu que o terreno tinha a origem indígena e que este deveria ser o seu real destino.
O uso da edificação foi requisitado pelo primeiro diretor como sede do Serviço de Proteção ao Índio (SPI)[3], Marechal Rondon, que na ocasião pertencia ao Ministério da Agricultura e Colonização. Em 1953 se tornou abrigo do recém-criado Museu do Índio por solicitação do antropólogo Darcy Ribeiro que idealizou este centro de referência da memória e da cultura indígena. Mas em 1978, sob a ditadura militar, a sede do Museu foi transferida de forma arbitrária para uma edificação no bairro Botafogo, e o antigo palacete, repatriado por decreto, portanto, de forma autoritária e ilegítima, como patrimônio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que, como uma empresa, teria mais facilidade na alienação do patrimônio público, ratificada, também por decreto, no início da década de 1980, pelo então presidente do Brasil José Sarney.
O prédio fica então abandonado desde 1978, porém, moradores da região relatam que o local teria sido utilizado de forma clandestina por grupos militares e paramilitares em sessões de tortura e execução de pessoas. De fato, há marcas características na edificação que confirmam tais denúncias, tais como reformas fora do padrão construtivo, que visavam blindar o porão do prédio, por exemplo.
No início do século XXI, o território passa a ser pretendido pelo movimento indígena, denominado “Instituto Tamoio dos Povos Originários”, sendo que algumas das lideranças seriam também advogados, antropólogos e historiadores, o que certamente fortaleceu a luta e a organização da retomada, sendo que a maioria de seus membros seriam indígenas moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro, oriundos de bairros periféricos, favelas ou situações de rua. Afonso Guajajara, advogado indígena e membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), cumpria uma intensa agenda política entre Brasília e Rio de Janeiro, sendo auxiliado por seu irmão, professor no ensino fundamental e mestrando em línguas indígenas, na época, que o auxiliava nas tarefas políticas (REBUZZI, 2014: 74).
Após a realização de um congresso na Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), (vizinha do antigo prédio do Museu do índio), em 2006, a “Confederação Tamui” com o apoio de diversas entidades e organizações ocupa a edificação definitivamente, quando batiza o local posteriormente com o nome “Aldeia Maracanã” (Teko Haw Maraká’nà), reivindicando por Ação Civil Pública (ACP), a posse, gestão e manejo indígena do território, como espaço de uso indígena, voltado para a convivência espiritual comunitária de diversas etnocosmovisões com a criação de um Centro de Etnoconhecimento Socioambiental (CESAC).  A Aldeia é constituída como pluriétnica, sendo composta por integrantes de várias etnias, entre elas, Guajajara, Xavante, Pataxó, Fulni-ô, Apurinã, Tukano, Xucuru, Puri, Way-Way, além de inúmeros visitantes tribais de várias partes do país e do planeta.

 
Imagem 2 - Aldeia Maracanã. Ao fundo prédio histórico do Museu do Índio. Rio de Janeiro-RJ. Foto: Alenice Baeta, Nov. de 2012.

Visando manter um bom relacionamento com a vizinhança e o seu apoio permanente, buscando ainda provar a “condição de índios”, quebrando assim as barreiras do preconceito e da intolerância, os indígenas desenvolvem inúmeros eventos programados onde realizam rituais religiosos, entre eles, o toré, rezas, contação de histórias, danças, cantos e aulas públicas. Estas atividades vêm fortalecendo o local como espaço de referência da mística indígena se tornando um importante centro de resistência cultural indígena na cidade do Rio de Janeiro e no país, um verdadeiro ‘museu vivo’, como pretendido por seus idealizadores (REBUZZI, 2014: 73).
Com os preparativos da Copa do Mundo, de 2014, e das Olimpíadas, de 2016, começa mais um capítulo tenebroso de perseguição à Aldeia Maracanã e às suas lideranças por parte de empreiteiras consorciadas e dos governos federal e estadual. O terreno passa a ser requerido pelo Estado do Rio de Janeiro como espaço agregado ao projeto do ‘Complexo Desportivo-Empresarial do Maracanã’ para a construção de um estacionamento.
Segundo texto do site do Laboratório de Cartografia Indígena[4], a CONAB teria alienado o patrimônio público federal para o estado do Rio de Janeiro de forma ilegal, por 60 milhões de reais. A operação de compra e venda do espaço ocupado de moradia e uso de dezenas de famílias indígenas não é precedido de qualquer oitiva ‘com as partes interessadas’. A Aldeia Maracanã chegou assim a receber uma notificação da Procuradoria Geral do Estado que estabelecia um prazo de dez dias para que eles se retirassem do local, mas de acordo com Carlos Tukano, uma das lideranças da Aldeia, eles foram orientados pela Defensoria Pública da União, e optaram por não assinar o recebimento do documento. A empresa de licitação já havia sido contratada em 2013, mas a Aldeia Maracanã resistiu bravamente a uma informal ‘ordem de despejo’ no início desse ano, mesmo com a tropa de choque da polícia militar em sua porta. Mas em 22 de março deste mesmo ano a polícia voltou, desta vez com ordem judicial, com operação militar especial, com orientação para remoção da Aldeia. Eclodiram então confrontos sucessivos com os indígenas, ativistas, estudantes, moradores e apoiadores em geral, que tentaram ocupar as ruas em frente à Aldeia em sua defesa. A polícia militar usou de extrema violência contra os indígenas e demais manifestantes. “Pisou na cabeça do advogado da Aldeia sob o asfalto com seu coturno, além de algemá-lo. Uso de gás de “efeito moral” até contra crianças, idosos… Foi um ato de Terrorismo Institucionalizado de Estado...”[5].
As bilionárias obras de engenharia no estádio Maracanã e no seu entorno comprometeram o antigo território Maracanã que teve inúmeras árvores cortadas, benfeitorias destruídas e áreas pavimentadas com asfalto, comprometendo a situação ecológica do espaço e os projetos ambientais e agroecológicos da comunidade, o degradando severamente. Mas em reação, a Aldeia promoveu mutirões de recuperação ecológica e preservação do prédio histórico.
Ainda segundo dados apresentados pelo site do Laboratório de Cartografia Indígena, em dezembro deste mesmo ano, as empreiteiras lideradas pela Odebrecht, começam a demolir uma das edificações do antigo complexo de pesquisa do antigo Ministério da Agricultura e Colonização, mas o movimento indígena, com o apoio, inclusive de trabalhadores e atingidos pelas operações de reurbanização da cidade, ocupa uma destas edificações em protesto contra as demolições e em defesa do patrimônio público-comunitário indígena material e imaterial.
“A Tropa de Choque invade o prédio ocupado sem mandado, expulsa parte dos ocupantes e mantêm três lideranças indígenas em situação de detenção coercitiva por toda a madrugada, vigiados por dezenas de militares. Às 6h da manhã do dia seguinte, a PM, novamente sem mandado judicial, invade o território ocupado pelos indígenas e o interior do prédio, e retira seus ocupantes à força, arrastados sob escadarias em ruínas, sob o uso de gás de pimenta, imobilizados, sob socos e pontapés e golpes de cassetetes, alguns são detidos, de forma exemplar.”[6]
Apesar das inúmeras denúncias e manifestações em outras localidades da capital, quatro prédios e galpões foram lamentavelmente demolidos pelas empreiteiras e pela gestão público-privada do Consórcio Maracanã, tendo só sobrado, ao final, o prédio tombado do antigo Museu do Índio.
A ACP supracitada foi novamente movimentada pelas lideranças indígenas em 2016, quando foi reconhecida na sentença de juízo federal, o direito de uso, de manejo indígena do imóvel ou território. Espera-se que os órgãos de defesa dos direitos indígenas, como o Ministério Público Federal, a FUNAI e a Polícia Federal, cumpram o seu papel institucional neste processo, garantindo tais direitos na prática.
As atrocidades que ocorreram na aldeia Maracanã foram denunciadas e encaminhadas pela organização Justiça Global para diversas plataformas internacionais de Direitos Humanos. Estas serão também analisadas pelo Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre as injustiças foram listadas uso indiscriminado do spray de pimenta e de bombas de efeito moral pelo batalhão de choque da polícia militar do Rio de Janeiro, além da prisão de pelo menos seis manifestantes sem justificativas ou permissão de acompanhamento de advogados. As lideranças indígenas solicitam ainda explicações formais às autoridades brasileiras sobre a utilização de acusações de desobediência e desacato como instrumento de criminalização de protestos dos povos tradicionais. Reiteram que a liberdade de expressão deveria ter sido assegurada aos indígenas e apoiadores, sendo um direito presente na Constituição Federal e na Declaração Universal sobre os Direitos Humanos. Lembraram ainda da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da ONU, sobre povos indígenas e tribais, ratificada em 2004 pelo Brasil que garante a noção de territorialidade específica e etnicamente construída, além da promoção à plena efetividade dos direitos sociais, econômicos, culturais, respeitando a sua identidade social, cultural, os seus costumes, tradições e suas instituições.
Uma das atividades culturais e de pesquisa que a Aldeia Maracanã (também considerada “Embaixada Indígena” ou “Acampamento Revolucionário Indígena”) desenvolvia no vizinho Museu Nacional era no Centro de Documentação de Línguas Indígenas, o CELIN, que preservava referências de povos indígenas documentadas há pelo menos duzentos anos, com escritos, fotografias, vídeos e gravações de línguas faladas por muitas tribos, inclusive algumas consideradas extintas, com registros de cantos, discursos e histórias, muitos ainda inéditos.  Alguns indígenas da Aldeia, historiadores e pesquisadores da cultura dos povos originários do Brasil passaram assim boa parte dos últimos anos debruçados sobre o acervo etnológico e indígena em laboratórios desta instituição.
Mas infelizmente, mais um momento trágico assola a Aldeia Maracanã e todo o país no dia 02 de setembro de 2018, com um incêndio inaceitável do prédio histórico do Museu Nacional. Segundo os moradores da Aldeia, assim que avistaram as chamas, correram para o local, mas o fogo já teria consumido tudo. Em entrevista para a Revista Piaui[7], o historiador Daniel Tutushamum Puri, de 42 anos, conta que assistiu em silêncio às labaredas que consumiam objetos, fotografias e registros orais de seu povo, os Puri, que já foram considerados extintos pela FUNAI. “O material que estava ali servia de base para pesquisas do nosso povo e de muitos outros povos nativos do Brasil. Era uma forma de ter reconhecida nossa cultura e afirmar nossa existência. Sem eles, é como se fôssemos extintos novamente”, disse Tutushamum, que é mestre em Educação pela USP.
Para José Urutau Guajajara, de 57 anos: “Isso é a morte da memória dos povos originários, uma negligência com o nosso patrimônio. A memória de todas as línguas da América Latina estava aqui. Tínhamos registros sonoros e escritos de povos que já não existem. Estamos vendo a cultura indígena sendo apagada. Uma perda irreparável”, disse Urutau Guajajara, mestre em Linguística e Língua Indígena pela UFRJ. Integrante da tribo Tenetehara-Guajajara, Urutau fez sua tese sobre a estrutura do Ze’egté, sua língua ancestral, no Museu Nacional. Segundo Tutushamum, “a sensação é que nos odeiam... É mais uma destruição para a nossa cultura. Temos a destruição das nossas línguas, dos nossos costumes, das nossas terras e até mesmo dos nossos indivíduos. Então, esse incêndio no Museu Nacional parece parte da mesma agressão. É o que a gente sente,” conclui a liderança em sua entrevista para a revista.
Desde o inexplicável incêndio no Museu Nacional, indígenas da Aldeia Maracanã vem realizando inúmeros rituais, tanto na Aldeia quanto nas proximidades do prédio do Museu em memória ao acervo destruído, pois o imaterial ali permanece... “Rezas para os espíritos ancestrais vem sendo realizadas...” como explica o indígena Dario Jurema Xucuru.
Outra atividade de luta e de expressão deste importante núcleo indígena urbano é a organização da terceira edição do Congresso Intercultural de Resistência dos Povos Indígenas e Tradicionais do Maraka´nà, que busca promover a articulação dos povos tradicionais em torno da luta pela autodemarcação do território, do saber e do seu protagonismo.
 Luto sim, contra estas injustiças e tragédias... em permanente Luta. Sigamos.

 
Imagem 3 - Foto enviada por Dario Jurema da Aldeia Maracanã de uma manifestação de indígenas e ativistas no Rio de Janeiro onde se denuncia o trágico incêndio do Museu Nacional e a destruição total de acervo e de documentação indígena. Outubro de 2018.

Referências.

Artigo citado:
REBUZZI, D. C. Aldeia Maracanã: um movimento contra o índio arquivado. Revista de Antropologia da UFSCAR, 6 (2) Jul/Dez de 2014.

Sites /Matérias Consultadas:
Belo Horizonte, MG, 12 de novembro de 2018.



Entre os dias 15 e 19 de Novembro de 2018 ocorrerá o COIREM - Congresso Intercultural de Resistência dos Povos Indígenas e Tradicionais do Maraka´nà.
“Após enormes ataques sofridos e remoções truculentas, a ‘ReXistência’ da Aldeia Maraka'nà  completa 12 anos desde a nossa retomada e frente ao quadro nacional de brutais ataques contra os povos indígenas, convocamos todos guerreiros e guerreiras à realização do III Congresso Intercultural da ‘ReXistência’ dos Povos Indígenas e Tradicionais do Maraka'nà. Este Congresso visa promover a articulação dos povos tradicionais em torno da luta pela autodemarcação do saber e do território. Vivemos num dos poucos países do continente onde não existe uma universidade indígena. Nosso protagonismo sempre foi negado e é ferramenta fundamental para avançarmos em nossa luta por garantia de nossa dignidade como povos soberanos.”
https://www.facebook.com/events/255345975185846/

[1] Doutora em Arqueologia e Historiadora. Membro do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES); e-mail: alenicebaeta@yahoo.com.br

[3]O SPI foi sucedido pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em 1967.
[6] Cf. Nota 2  ( Site do Laboratório de Cartografia Indígena)
[7] Entrevista para Camila Zarur em 3 de Setembro de 2018.

Quilombo Campo Grande (MST) em Campo do Meio, sul de MG: Despejo, não. 1...



Quilombo Campo Grande (MST) em Campo do Meio, sul de MG: Terra pra quem nela trabalha. Despejo, não. 1ª Parte. 07/11/2018.

Cerca de 500 famílias do Quilombo Campo Grande, constituído de 11 Acampamentos do MST, em Campo do Meio, sul do estado de Minas Gerais, há 20 anos ocupando, trabalhando e produzindo a terra, estão sob ameaça de despejo iminente, depois de decisão judicial favorável à reintegração de posse, em audiência realizada no Fórum de Campos Gerais, MG, no dia 07/12/2018. Um desfecho inaceitável para um dos conflitos agrários mais antigos do país. As 500 famílias dos 11 Acampamentos tiveram do atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, a promessa de tornar o Quilombo um assentamento, mas foram surpreendidas por essa nova ameaça de despejo. O Governador Pimentel assinou decreto desapropriando por interesse social os 3.900 hectares do latifúndio da ex-usina Ariadnópolis visando assentar as 500 famílias que há 20 anos ocupam o mega latifúndio da Ariadnópolis, mas o poder judiciário impugnou o decreto e, pior, levantou Liminar de Reintegração de posse, uma injustiça que clama aos céus. As 500 famílias do Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, sul de MG, já contam com infraestrutura de energia elétrica, casas de alvenaria e produzem uma grande diversidade de produção agroecológica, como café, muitas variedades de milho, feijão, hortaliças, frutas, sementes orgânicas, gado, galinhas, porcos, além de remédios naturais, produzidos com plantas medicinais por eles/elas cultivadas. A safra anual do café Guaií, cuja marca é conhecida em todo o Brasil e também no exterior, chegou a 510 toneladas por ano. Essas 500 famílias geram, com seu trabalho, soberania alimentar, não apenas para quem produz e vive na terra, mas também para milhares de pessoas do município de Campo do Meio e da região, que passaram a ter acesso a um alimento saudável, sem veneno e de qualidade. Os 11 acampamentos também geram distribuição de renda. A terra traz dignidade para cerca de 500 famílias, mais de 2.000 pessoas. É injusta, imoral, extremamente desumana e inaceitável essa decisão judicial que ignora toda uma história de luta pela terra, de resistência, de trabalho, de construção de cidadania e dignidade para atender interesses de grandes fazendeiros, políticos e empresas do agronegócio da região. As 500 famílias vivem na área da falida usina Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA), que encerrou suas atividades em 1996, embora ainda possua dívidas trabalhistas que ultrapassam R$ 300 milhões de reais. Nesse vídeo, a primeira parte de registro feito com depoimentos de Sem Terra e apoiadores em mobilização à porta do Fórum da Comarca de Campos Gerais, onde foi realizada a audiência em que foi confirmada a ação de reintegração de posse, no dia 07 de novembro de 2018.

Amostra da Produção agroecológica dos 11 Acampamentos do MST
 em Campo do Meio no latifúndio da ex-usina Ariadnópolis,
na praça de Campos Gerais, diante do Fórum, dia 07/11/2018.
Foto: Douglas Mansur.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Campos Gerais, 07/11/2018.
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domingo, 11 de novembro de 2018

Barragem de Itaipu, no Paraná: Violência contra indígenas, passado e pr...





Barragem de Itaipu, no oeste do Paraná: Violência contra povos indígenas guarani no passado e no presente. 2ª Parte - 16/10/2018.

A maior hidrelétrica do mundo em termos de geração de energia, Itaipu, localizada no rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai, com 36 anos de funcionamento, apesar da imensa riqueza gerada nessas três décadas, foi incapaz, até hoje, de saldar a dívida que gerou com a remoção de 47 comunidades indígenas dos Povos Guarani para a formação de uma imensa barragem, lago artificial. a hidrelétrica e barragem de Itaipu tem um nome em língua guarani que significa “pedra que canta”, e foi construída em pleno território indígena, em lugar onde, há séculos, os cronistas e historiadores registram a presença de grupos guarani. Estima-se que quase 100 comunidades guarani – falantes dos dialetos nhandeva (conhecidos como Avá-Guarani) e mbya – sofreram o impacto da instalação da usina, e a imensa maioria delas até hoje não recebeu compensação adequada pelos territórios tradicionais que perderam: mais de 80 mil hectares, só do lado brasileiro, segundo cálculos de estudiosos. E esse fato se agrava ainda mais: além de não terem cumprido com suas obrigações legais pelo alagamento do território indígena, a empresa continua desrespeitando os direitos dos Povos Indígenas Guarani e, mais que isso, persegue, humilha, ameaça, violenta, negando-lhes, sobretudo, o direito ao território que lhes pertence por legítimo direito. Com sua população significativamente diminuída, de 6 mil para 1800 parentes, os indígenas guarani seguem em resistência na luta por seus direitos, apesar da grande dificuldade de sobrevivência, uma vez que lhes são negados o direito ao trabalho, o acesso às políticas públicas, entre outros direitos fundamentais. Esse vídeo registra a segunda parte do depoimento/denúncia de Júlia Navarro, Assessora Jurídica da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), llson Soares, Cacique da Aldeia Tekoha Y'Hovy, em Guaíra/PR e de Oscar Benitez, Cacique Ava Guarani , de Itaipulândia/PR, que participaram da reunião da Comissão Nacional de Defesa dos Defensores de Direitos Humanos e enfrentamento à Criminalização dos Movimentos Sociais, em Brasília/DF, no dia 16/10/2018 e denunciaram a situação de injustiça, violência e opressão sofridas pelas aldeias dos Povos Indígenas Guarani, na região oeste do Paraná, praticadas e/ou motivadas por latifundiários do agronegócio da região e por grupos ligados à Itaipu.
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Brasília/DF, 16/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Barragem de Itaipu, no oeste do Paraná, viola direitos de Povos Indígen...



Barragem de Itaipu, no oeste do Paraná, viola direitos de Povos Indígenas Guarani. 1a Parte - 16/10/2018.

A maior hidrelétrica do mundo em termos de geração de energia, Itaipu, localizada no rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai, com 36 anos de funcionamento, apesar da imensa riqueza gerada nessas três décadas, foi incapaz, até hoje, de saldar a dívida que gerou com a remoção de 47 comunidades indígenas guarani para a formação de uma imensa barragem, lago artificial. A hidrelétrica e barragem de Itaipu tem um nome em língua guarani que significa “pedra que canta”, e foi construída em pleno território indígena, em lugar onde, há séculos, os cronistas e historiadores registram a presença de grupos guarani. Estima-se que quase 100 comunidades guarani – falantes dos dialetos nhandeva (conhecidos como Avá-Guarani) e mbya – sofreram o impacto da instalação da usina, e a imensa maioria delas até hoje não recebeu compensação adequada pelos territórios tradicionais que perderam: mais de 80 mil hectares, só do lado brasileiro, segundo cálculos de estudiosos. E esse fato se agrava ainda mais: além de não terem cumprido com suas obrigações legais pelo alagamento do território indígena, a empresa continua desrespeitando os direitos do Povo Indígena Guarani e, mais que isso, persegue, humilha, ameaça, violenta, negando-lhes, sobretudo, o direito ao território que lhes pertence por legítimo direito. Com sua população significativamente diminuída, os indígenas guarani seguem em resistência na luta por seus direitos, apesar da grande dificuldade de sobrevivência, uma vez que lhes são negados o direito ao trabalho, o acesso às políticas públicas, entre outros direitos fundamentais. Esse vídeo registra a primeira parte do depoimento/denúncia de Júlia Navarro, Assessora Jurídica da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), llson Soares, Cacique da Aldeia Tekoha Y'Hovy, em Guaíra/PR e de Oscar Benitez, Cacique Ava Guarani , de Itaipulândia/PR, que participaram da reunião da Comissão Nacional de Defesa dos Defensores de Direitos Humanos e enfrentamento à criminalização dos Movimentos Sociais, em Brasília/DF, no dia 16/10/2018 e denunciaram a situação de injustiça, violência e opressão sofridas pelas aldeias do Povo Indígena Guarani, na região oeste do Paraná, praticadas e/ou motivadas por latifundiários do agronegócio da região e por grupos ligados à Itaipu.

Publicações: Os Avá-Guarani no oeste do Paraná: 

(Re)Existência em Tekoha Guasu Guavira


*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Brasília/DF, 16/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Povo indígena Tuxá em luta pelo território, em Buritizeiros, MG: "A Terr...



Povo indígena Tuxá em luta pelo território, em Buritizeiros/MG: "A terra é mãe!". 09/10/2018.

Há três anos, parte da Comunidade Indígena Tuxá, na aldeia Tuxá Setor Bragagá, se encontra em uma Retomada (Ocupação) na fazenda Santo Antônio, no distrito da Cachoeira da Manteiga, município de Buritizeiro/MG, próximo à confluência do rio Paracatu com o rio São Francisco. Os indígenas Tuxá estão há 65 anos na região de Pirapora. Foram trazidos de localidades atingidas pela barragem de Itaparica, no Rio São Francisco, em Rodelas, na Bahia, para Minas Gerais pela liderança Tuxá Mestre Roque, Os Tuxá reivindicam a fazenda Santo Antônio, de propriedade do Estado de Minas Gerais, bem como o acesso às políticas públicas a que têm direito. Eles querem produzir nessa terra, plantar e colher para sobreviver, manter as suas tradições culturais, sua história. Em uma Nota Oficial da comunidade datada de 23 de novembro de 2015, os Tuxá denunciam o clima de tensão provocado por latifundiários da região que, ao longo dos anos, vêm explorando a terra em retomada, dela fazendo uso indevido para criação de gado, matança de animais silvestres, desmatamento, sendo percebido ali vestígios de atividade madeireira e de carvoaria, entre outras formas de devastação ambiental. Nesse vídeo, o depoimento da Cacica Anália Tuxá, que participou de Reunião com representantes do Governo de Minas Gerais, juntamente com outras lideranças dos Povos Indígenas em Minas Gerais e agente de pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, no dia 09/10/2018. Na pauta da Mesa, a luta dos povos indígenas em Minas Gerais por direitos e pela posse das terras em retomada, terras antes ociosas, sem cumprir qualquer função social e que, para os Povos Indígenas, são fundamentais para sua sobrevivência e sua (re)existência.

Cacica Anália do Povo Indígena Tuxá, de Buritizeiro, MG.

*Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 09/10/2018.
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