quarta-feira, 17 de março de 2021

Lockdown Nacional e Auxílio Emergencial Justo, já! Por Frei Gilvander

 Lockdown Nacional e Auxílio Emergencial Justo, já! Por Frei Gilvander Moreira[1]

Feliz quem ouve os sinais dos tempos e dos lugares e se orienta bem no jeito de conviver e lutar pela construção de uma sociedade justa. Após um ano de pandemia do novo coronavírus, o que vemos no Brasil? O país com mais de 280 mil mortos pela covid-19, isso sem contar os casos de subnotificação (cerca de 20%), os 250 mil mortos de câncer por ano e milhares de outras mortes por outras causas agravadas pela pandemia. O número de mortos aumenta cotidianamente, já ultrapassando 2 mil mortos ao dia, e cresce de forma espantosa o número de pessoas na fila de espera por um leito hospitalar e por UTI[2]. Muitas destas pessoas morrem enquanto esperam as vagas, pois há colapso do sistema de saúde tanto público quanto privado na grande maioria dos 5.570 municípios brasileiros. O Governador do Piauí, Wellington Dias, coordenador da Frente de Governadores para o combate à pandemia, informou dia 12/03/2021 que já existem mais de 40 mil pessoas com covid-19 na fila de espera por UTI em todo o Brasil. Isso é aviso prévio de morte. O número de infectados cresce dia a dia. Novas cepas e variantes do coronavírus surgem e se mostram muito mais perigosas. A Fiocruz defendeu, dia 16/03/2021, no Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19, Lockdown nacional com a interrupção de atividades não essenciais, incluindo a suspensão de aulas presenciais e um toque de recolher nacional de 20 horas às 6 horas, além da ampliação do uso de máscaras. De forma absurda, covarde e injusta, o governo decretou o fim, em 31 de dezembro de 2020, da política pública de auxílio emergencial aos milhões de famílias empobrecidas e em extrema miséria. Assim o governo não contribui com as famílias necessitadas e nem apoia as pequenas e médias empresas. O “ajuste fiscal” segundo os ditames do mercado capitalista idolatrado continua sendo o tabu que não pode ser questionado, dizem. Quem disse que deve ser “ajuste fiscal acima de tudo”? Não. Acima de tudo deve estar a vida com condições objetivas para viabilizá-la. Na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 186, a da maldade, congelaram os salários de funcionários públicos e professores até 2036 em nome do famigerado “ajuste fiscal”, e o Congresso Nacional, sob direção do Centrão-direita, se faz cúmplice da proposta covarde do desgoverno federal de pagar apenas uma migalha de 250 reais de auxílio emergencial por apenas três meses. Isso é, de fato, uma decisão política para matar milhões de pessoas no Brasil e que demonstra que realmente está em curso política de morte (necropolítica) coordenada pelo desgoverno federal fascista e genocida, com a cumplicidade do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na Bíblia os bons pastores e boas pastoras, verdadeiros/as profetas e profetisas são saudados/as como mensageiros do Deus Javé, Deus da vida, solidário e libertador. Importante ressaltar que na Bíblia pastores, profetas e profetisas não dizem respeito apenas à dimensão religiosa da vida, mas se referem às lideranças de todas as áreas da vida social que têm alguma responsabilidade sobre a vida do povo: sacerdotes, reis, escribas (doutores), governantes (políticos), líderes da economia (saduceus) etc. Entretanto, são execrados os falsos profetas e os pastores que se apresentam em pele de ovelha, mas na prática agem como lobos ferozes. A ira santa divina não os tolera. Por isso, Jesus Cristo “chutou o pau da barraca” e expulsou os vendilhões que transformando o templo, lugar sagrado, em um mercado. O território brasileiro com todo o povo e os biomas é nosso lugar sagrado que está sendo profanado por políticos fascistas e genocidas.



No enfrentamento à pandemia temos que reconhecer que os/as cientistas, pesquisadores/as das áreas da saúde pública – epidemiologistas, infectologistas, sanitaristas, microbiologistas etc. – estão sendo na prática ótimos/as pastores/as, verdadeiros/as profetas e profetisas. Além de descobrir vacinas e demonstrar cientificamente os caminhos que podem nos levar à superação da pandemia, estão roucos de tanto tentar educar o povo e alertar as autoridades sobre quais políticas públicas devem ser implementadas.

Neste cenário e contexto, os/as melhores cientistas, professores/as e pesquisadores/as da área da saúde pública estão gritando e a Frente de Governadores já está exigindo do Governo Federal medidas mais efetivas no rumo de Lockdown Nacional por pelo menos 21 dias, como medida sanitária necessária para reduzir a transmissão do coronavírus e impedir a continuidade da aparição de outras cepas e variantes mais letais. De fato, não dá mais para tolerar o desgoverno federal continuar na postura negacionista e alimentando a disseminação do coronavírus e piorando dramaticamente a pandemia. Não basta Lockdown em vários estados e em muitos municípios. Tornou-se necessário um Lockdown Nacional, ou seja, paralisação das atividades no país, com o povo circulando o mínimo possível e colocando em prática todas as medidas de precaução – uso correto de máscara, higienização das mãos, distanciamento corporal e social -, deixando em funcionamento apenas as áreas de atividade essencial, entre as quais não deve estar exploração minerária, como injustamente decretou o desgoverno federal, subserviente aos interesses da mineradora Vale S/A. Apenas essa medida de lockdown em todos os estados e nos 5.570 municípios poderá reduzir a circulação do coronavírus, isso diante do cenário marcado pelo fato de que a maioria da população não será vacinada nos próximos meses, porque o desgoverno federal tramou para não comprar vacinas no momento oportuno que era o 2º semestre de 2020. Os países governados de forma justa, principalmente por mulheres, já fizeram Lockdown Nacional como medida necessária para abreviar a superação da pandemia.

Atenção! Para que uma política de Lockdown seja efetiva é preciso garantir as condições da maioria do povo ficar em casa. Maioria essa que hoje é submetida a jornadas de trabalho excessivas, que não têm vínculos trabalhistas, que é obrigada a se aglomerar no transporte coletivo lotado. E o presidente da República, ao invés de subestimar a Pandemia e as medidas de prevenção, deve ser o primeiro a defender que o povo fique em casa e siga os protocolos sanitários. Isso deve valer também para os governadores, prefeitos, agentes públicos como policiais, entre outros.

Importante lembrar que junto com o Lockdown Nacional se faz necessária a retomada de todas as políticas públicas do governo federal implementadas em 2020, entre as quais o auxílio emergencial justo e digno! Se R$600,00 já era pouco, R$250,00 por apenas três meses é inadmissível, pois é apenas maquiagem para esconder decisão política de matar milhões de fome, na miséria. O auxílio emergencial precisa garantir condições mínimas de alimentação e de pagamento das despesas de uma família. O apoio financeiro às pequenas e médias empresas também é necessário. E as grandes empresas precisam cumprir sua responsabilidade social e investir muitos recursos no tecido social para a superação da pandemia. A classe política ficar acendendo uma vela para a vida do povo e um holofote para a economia capitalista só piora a pandemia. “Ninguém pode servir a dois senhores. Não dá para servir a Deus e ao capital”, profetisa o Evangelho de Mateus (Mt 6,24). Ah! Torna-se necessário também o corte de 50% nos autos salários da classe política nos três poderes (judiciário, legislativo e executivo, em níveis municipal, estadual e federal) e nas empresas também. Os 50% dos autos salários no Brasil dão para garantir a alimentação de milhões de brasileiros até o fim da pandemia. No Brasil, já passou da hora de taxar grandes fortunas, como ocorre já em alguns países no mundo. É preciso também taxar de forma justa as heranças. Eis alíquotas de imposto sobre herança: França (60%), Japão (55%), Alemanha (50%), Inglaterra (40%) e Estados Unidos (40%). No Brasil, o imposto sobre herança tem alíquota média de apenas 3,86%. Após a morte da princesa Diana, 40% da riqueza dela passou para o erário público da inglês por causa da justa taxação sobre herança na Inglaterra.

Portanto, apesar da gravíssima situação imposta pela pandemia do novo coronavírus, seus impactos podem ser minimizados com a adoção de políticas públicas justas que protejam a população como um todo, os empregos e as pessoas em situação de vulnerabilidade social. Recursos existem, é só aplicá-los de forma justa, ética e responsável. Vida em primeiro lugar![3] 

17/03/2021

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Margareth Dalcomo, da Fiocruz: "Teremos o março mais triste de nossas vidas." 14/3/2021

2 - "Não tenho ar": o desespero de brasileiros na semana mais letal da pandemia - Fantástico - 07/3/2021

3 - Padre Eduardo César: "Cristão que é cristão não se alia a projeto armamentista." 05/3/2021

4 - Bolsonaro é “imoral” e “genocida”, afirma o Padre Adauto Tavares, da Paraíba, em missa – 04/03/2021

5 - Clamor de Dom Mauro Morelli por "Vacina Já para todos/as" e por "Vida acima de tudo" – 03/03/2021

6 - Dr. Fabiano Hueb Menezes, de Uberaba, MG: informe vital sobre coronavírus e uso da máscara –27/02/21



 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        – Facebook: Gilvander Moreira III

 

[2] Unidade de terapia intensiva.

[3] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

  

quarta-feira, 10 de março de 2021

Mulheres na luta sempre, na Bíblia e hoje. Por Frei Gilvander

 Mulheres na luta sempre, na Bíblia e hoje. Por Frei Gilvander Moreira[1]



Todo dia é dia de mulher, mas o mês de março é especialmente o Mês das Mulheres, porque dia 8 de março se tornou Dia Internacional de Luta das Mulheres. Na União Soviética, ainda antes da Revolução Soviética de 1917, mulheres camponesas fizeram muitas lutas por terra, pão e liberdade, o que fez eclodir a Revolução socialista de 1917, e nas repúblicas socialistas soviéticas, todo ano, o dia 08 de março passou a ser celebrado como o Dia das Mulheres. Os Estados Unidos tentaram apagar essa história e inventaram uma falsa história que diz ser o dia 8 de março como tendo sido iniciado por mulheres trabalhadoras estadunidenses, o que não é verdade. A maior homenagem que uma mulher pode receber é respeito, admiração e amor. “Não só flores, mas respeito”, exigem as mulheres. “Não apenas nos deseje “feliz dia”. Levante-se e lute conosco!”, bradam as mulheres lutadoras. Lamentavelmente, durante a pandemia do novo coronavírus, houve um aumento da violência contra as mulheres, que ceifa a vida de 5 mulheres por dia, no Brasil, e,  assim sendo, verificamos  que o feminicídio também está crescendo. Em 2018, por exemplo, 4.519 mulheres foram assassinadas, o que equivale a dizer que a cada duas horas uma mulher foi assassinada no Brasil.

Ao longo da história da humanidade, o patriarcalismo foi hegemônico em muitos períodos e lugares, proibindo a mulher de participar da vida pública. Entretanto, desde os primórdios até hoje, as mulheres chegam para ficar. Mesmo sem serem notadas, sem serem contadas, muitas vezes silenciadas, as mulheres seguem atuantes nas comunidades. É preciso vasculhar os textos da história, perceber sua presença e descobri-las atuantes, ontem e hoje. O protagonismo do Movimento das Mulheres atualmente é crescente e tem sido imprescindível para que elas se unam, se organizem e sigam nas lutas. Isso nos faz recordar o protagonismo de inúmeras mulheres na Bíblia como, por exemplo, aconteceu com o Movimento de Mulheres liderado pelas filhas de Salfaad - Maala, Noa, Hegla, Melca e Tersa - que lutou pela superação do patriarcalismo. Que bom que o escritor bíblico conservou o nome delas. Elas viram a injustiça patriarcal que estava na lei segundo a qual a herança passava de pai para filho (não para filha - Cf. Num 27,1-11). Elas se rebelaram, pois estavam sendo excluídas do direito de ter terra, porque não tinham irmãos. E em uma manifestação deram o grito: "Queremos ter direito à propriedade da terra" (Nm 27,4). Depois de um discernimento em assembleia entenderam que esta seria a vontade de Deus e assim o movimento das mulheres da Bíblia conquistou mais um direito que lhes era negado. As mulheres passaram a receber a herança do pai, do mesmo modo que outros parentes próximos. Travava-se assim a luta pela igualdade e dignidade entre homem e mulher. O livro de Números termina com esperança, pois em Nm 36,1-12 aparecem os líderes da tribo de José alertando para o perigo de as mulheres casarem com homens de "fora da tribo", pois elas levavam consigo a terra da herança dos pais e, assim, passo-a-passo, a terra, herança dos pais, poderia ser perdida. O líder Moisés convoca uma assembleia e após discussão aprofundada chega-se à seguinte conclusão: "Mulheres, vocês podem casar-se com quem quiser, mas sempre dentro de algum clã da tribo do seu pai" (Nm 36,6). Assim se conquistava mais uma Lei para assegurar que a terra pertence a Deus e não deve ser vendida (Lev 25,23). Deus se irrita profundamente com quem sequestra a terra em suas mãos. Além das parteiras do Egito – Séfora e Fuá -, de Mirian, Débora, Judite, Rute, Jael e tantas outras do Primeiro Testamento, as mulheres referidas no livro de Números integram o grande Movimento de Mulheres de luta na Bíblia. 

E as mulheres no Movimento de Jesus? No Século I da Era Cristã, a função delas restringia-se à vida familiar, onde desde a infância se exercitavam na organização interna da casa (oikia). Como funcionava no interior das casas as assembleias, a mulher tinha um papel eclesial ativo. A criação de “Igrejas domésticas” possibilitou maior influência e participação da mulher.

Muitas interpretações acabaram por esconder a presença e o protagonismo das mulheres no Movimento de Jesus, antes e depois da Ressurreição de Cristo. Urge relativizarmos certas compreensões que foram colocadas na nossa cabeça e que não resistem a perguntas simples, mas profundamente eloquentes, como aquelas feitas por crianças. Diante do quadro da Santa Ceia, uma mãe, desejosa de fazer sua filha crescer em sensibilidade religiosa, diz: “Veja como é bonito Jesus reunido com os doze apóstolos ao redor da mesa, partilhando o pão!” A filha, de apenas seis anos de idade, retrucou subitamente: “Mamãe, por que só tem homens nesta mesa? Cadê as mulheres? Por que não está aí Maria, a mãe de Jesus? E Maria Madalena, que tanto amava Jesus, por que não está aí? E as crianças que Jesus tanto amava, cadê? Não acredito que Jesus fosse um homem machista capaz de excluir as mulheres e as crianças desse momento tão importante que é a ceia.” 

As questões colocadas por essa menina me fez contemplar com olhar mais penetrante o tradicional quadro da Santa Ceia e acabei constatando que o artista quis, de fato, provavelmente, indicar a presença de duas mulheres participando da Ceia de Jesus. Duas pessoas que participam da ceia não têm barba e nem bigode, traços característicos de todos os outros apóstolos. A ternura da fisionomia indica tratar-se de dois rostos femininos. Uma está à esquerda e outra, à direita de Jesus. Seriam a Mãe de Jesus e Maria Madalena? Ou seria a apóstola Júnia, a quem o apóstolo Paulo envia uma saudação no final da Carta à comunidade Cristã de Roma (cf. Rm 16,7)? Ou seriam mulheres atuantes que, desde a Galileia, seguiram Jesus (Lc 8,1-3), como discípulas, não arredando o pé de acompanhar Jesus até à Cruz? As mulheres foram as primeiras a fazer a experiência que as levaram à conclusão: Jesus ressuscitou e vive em nós. Sabemos os nomes de algumas delas: Maria (chamada Madalena), Joana (mulher de Cuza), Suzana, Maria (a mãe de Tiago o menor) e Salomé (Cf. Mc 15,40-41).

Na Galeria Nacional de Arte de Dublin, na Irlanda, dois quadros sobre o jantar dos/das discípulos/as de Emaús (Cf. Lc 24,13-35) me chamaram muito à atenção. Um quadro destaca que o jantar foi feito por uma mulher escravizada. Um facho de luz solar destaca a escrava preparando o jantar, enquanto os/as discípulos/as conversavam com Jesus na sala. Outro quadro mostra um jantar com muita fartura com a participação de quatro homens, duas mulheres, cão, gato, papagaio etc.

Segundo o livro de Atos dos Apóstolos, quem estava re-unido no momento em que acontece o primeiro Pentecostes sobre a Primeira Comunidade Cristã? Por dezenas de séculos foi colocado na cabeça do povo que o Espírito Santo tinha descido apenas sobre os doze apóstolos e Maria, a mãe de Jesus. Infelizmente, essa é uma interpretação reducionista e apologética que visa enfatizar a presença do Espírito Santo "quase" que somente nos líderes da Igreja Instituição. Rastreando o primeiro capítulo de Atos dos Apóstolos, concluímos que estavam re-unidos: “Os onze e Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas” (Lc 24,10); “algumas mulheres, Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos” (At 1,14); “Galileus” (At 1,11); Cléofas e sua esposa (“os discípulos” de Emaús – Lc 24,13.18). Em Lc 24,13 se diz que dois discípulos fugiram de Jerusalém após a condenação de Jesus à pena de morte. Um deles se chamava Cléofas (Lc 24,18). Em Jo 19,25-26 temos notícia de que Maria, mulher de Cléofas, estava ao pé da cruz, juntamente com outras mulheres. Um princípio de interpretação bíblica diz que a Bíblia se autoexplica, ou seja, uma passagem pode ser iluminada por outras passagens bíblicas. É difícil pensar que Cléofas iria fugir do centro de perseguição, deixando sua esposa sob risco de ser crucificada também, pois a presença dela ao lado de Jesus poderia atiçar a ira dos seus executores. Se Cléofas está acompanhado da sua esposa Maria, temos aqui mais uma vez as mulheres ajudando os homens a experimentar a Ressurreição de Jesus.

É, provavelmente, esse grupo, citado acima, especificado como "cerca de 120” (cf. At 1,15-26), que faz a experiência do Primeiro Pentecostes cristão, que escolhe Matias para ser apóstolo, em substituição de Judas Iscariotes, que também participa da Ascensão, do primeiro Pentecostes da comunidade crista. É muito provável que tenham existido muito mais mulheres no Movimento de Jesus e, sendo bem mais próximas de Jesus, do que muitas tradições religiosas insistem em negar.

Enfim, no passado e no presente, mulheres guerreiras fizeram e fazem a diferença em lutas pela construção de “um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, como aponta Rosa Luxemburgo. Pela vida das mulheres, vacina para todos/as, já! E Impeachment, já![2]

10/03/2021

 Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Presença e atuação das Mulheres na Bíblia. Emancipação ou opressão? Diferentes leituras – 05/03/2021

2 - Mulheres Protagonistas na História do Povo de Deus, na Bíblia, na Monarquia. Mercedes Lopes/Vídeo 2

3 - Mulheres Discípulas de Jesus desde a Galileia, por Irmã Mercedes Lopes. Vídeo 3 - 14/05/2020

4 - Mulheres Protagonistas na Visão Geral da Bíblia (1ª Parte) - Irmã Mercedes Lopes, do CEBI. 9/5/2020

5 - Mulheres guerreiras do MLB no V Congresso Nacional do MLB em Recife. Vídeo 6 - 13/9/2019

6 - Mulheres denunciam violações de direitos humanos em Belo Horizonte: Cadê moradia? 22/04/13

7 - Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte: mulheres guerreiras lutam pela casa própria. 30/09/2012



 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        – Facebook: Gilvander Moreira III

 

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

terça-feira, 2 de março de 2021

Linguagem revolucionária, instrumento de luta. Por Frei Gilvander

Linguagem revolucionária, instrumento de luta. Por Frei Gilvander Moreira[1]


 

Assim como ninguém é neutro e nem apolítico, a linguagem também não é neutra. Assim, precisamos estar atentos/as na escolha das palavras que usamos, pois, muitas vezes, sem perceber, podemos usar uma linguagem que atende aos interesses dos opressores. Se estivéssemos em uma sociedade com relações sociais justas e igualitárias, todas as pessoas poderiam amar todos/as da mesma forma, ser educado/a e solidário/a do mesmo jeito, indistintamente. Entretanto, estamos em uma sociedade com relações sociais injustas, que reproduzem e ampliam cotidianamente a desigualdade social. Em uma sociedade marcada pelo antagonismo entre classes divididas, onde uma domina e a outra trabalha, entre uma que superexplora e se enriquece e outra, que é expropriada de tudo, fica cada vez mais empobrecida e, muitas vezes, quem desrespeita, oprime, explora e violenta é o mesmo que formula e implementa socialmente pela ideologia dominante os pretensos valores que todos/as são induzidos a seguir. É comum observarmos quando os explorados se unem, se irmanam e, de forma organizada, lutam pelos seus direitos serem chamados de “violentos”, de “arruaceiros”, de “foras da lei”.

Para atender aos seus interesses de acumulação de capital e se manter no poder político, a classe dominante sempre coloca os direitos individuais acima dos direitos sociais. Por outro lado, a classe trabalhadora e a classe camponesa precisam sempre (re)afirmar que os direitos sociais estão acima dos direitos individuais. Por exemplo, diante do trânsito bloqueado pelo povo das Ocupações Urbanas que lutam por moradia própria e adequada, os da classe dominante e os aliados/alienados que existem no meio da classe trabalhadora sempre gritam: “Estão atrapalhando o meu direito de ir e vir”. Em resposta, o povo cansado de sobreviver de favor ou debaixo da cruz do aluguel, de cabeça erguida, na luta por moradia adequada, grita em alto e bom som: “O direito à moradia, um direito humano básico e social, está acima do direito de uma minoria ir e vir. Os direitos individuais devem ser respeitados após o cumprimento dos direitos sociais e não antes”.

Em contexto de contradição social que esgarça os conflitos e desencadeia violência dos que controlam os poderes econômico, político, jurídico e midiático, pedir para sermos simpáticos diante de quem está desrespeitando e violentando outros é compactuar com a falta de respeito e violência contra o outro. Pessoas moderadas e conciliadoras sempre dizem que “não é oportuno tratar de assuntos polêmicos e complexos”. Em sociedades com imensa injustiça social que promovem e alimentam o que gera desigualdade social crescente, as pessoas moderadas sempre propõem que se “espere o momento oportuno” para tratar de assuntos polêmicos e complexos. Porém, para as classes violentadas, sem enfrentar os momentos “inoportunos”, nunca haverá “momento oportuno”. Governo fascista e genocida não é apenas incompetente para gerenciar políticas públicas, é também eficiente para matar de muitas formas sorrateiras. Em uma sociedade com tremenda injustiça social, o Estado não é apenas omisso, mas cúmplice da classe dominante, que goza luxo, mas encontra-se manchada com o sangue dos inocentes.

Diante do Acordão da mineradora Vale S/A com Governo de Minas Gerais e Instituições de (In)justiça, que usa e abusa da dor dos/as atingidos/as e pisoteia sobre seus direitos, é preciso dizer que este acordo feito às escondidas é imoral e será necessariamente lesivo para os interesses das vítimas que deveriam ser respeitadas como protagonistas. Mas o que ocorre é que a Vale S/A, criminosa e reincidente, continua sendo a protagonista no processo de negociação, dando todas as cartas, dominando e transitando livremente nos territórios, negando demandas legítimas de milhares de atingidos e de atingidas em toda a bacia do rio Paraopeba, em Minas Gerais. O caminho para a emancipação humana e social passa necessariamente pela centralidade e incidência dos oprimidos e vítimas deste grande crime/tragédia socioambiental, que vêm tentando se organizar, apesar das inúmeras dificuldades impostas ainda pela pandemia da COVID-19, por meio de comissões, conselhos e espaços participativos. Em uma sociedade desigual com estrondosa injustiça social, a verdade está sempre do lado dos explorados e violentados. O explorador é sempre mentiroso, mesmo que esteja travestido de verdade aparente. Em uma sociedade desigual e cruel, o normal e legal é sempre canal para envenenar as relações sociais. Não há paz como fruto da justiça onde há latifúndio e agronegócio, pois estes são violentadores da classe camponesa, da mãe terra, da irmã água e de toda a biodiversidade.

Quem violenta os terreiros, espaços sagrados dos/as irmãos/ãs do Candomblé e da Umbanda, são traficantes da fé cristã e traidores do Evangelho de Jesus Cristo, pois está escrito na Bíblia que “todos/as são imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1,27), “templos do Espírito Santo” (1Coríntios 6,19) e o Deus da vida, mistério de infinito amor, “não faz distinção de pessoas” (Romanos 2,11).

Se as mineradoras dizem ‘mina’, devemos dizer cratera, pois de fato este nome retrata com mais fidelidade a realidade. Não dizem que é cratera, porque tendem sempre a esconder os imensos estragos que causam. Diante das injustiças sociais, os governos não são apenas omissos, são cúmplices, pois decidem de acordo com os interesses do capital. Assim, aqueles/as que assumem o Governo não apenas praticam descaso, mas, na prática, planejam como explorar e matar; não é falta de recursos, é opção por investir nos banqueiros e grandes empresas. O que o Estado aplica nas áreas sociais não é “gasto”, mas investimento. Não basta dizer “a empresa” está desrespeitando nossos direitos. É preciso dizer o nome da empresa e denunciar empresas exploradoras apontando seus nomes. “Dar nome aos bois” é preciso. Não bastar denunciar os grandes projetos, é preciso dizer que eles são projetos de morte, inerentes ao sistema que tem nome: capitalismo, que é máquina de moer vidas, não apenas humanas, mas também vidas vegetais e animais de todos os ecossistemas. Logo, não basta resistir, é preciso superarmos o sistema capitalista, o grande causador dos projetos de destruição. É preciso apontar nossa utopia: construção de uma sociedade socialista e respeitosa com as lógicas e místicas ancestrais dos Povos e Comunidades Tradicionais.

O imprescindível não é falar “devemos ter esperança”, mas gerar lutas que fazem parir a esperança, pois a esperança é filha das lutas populares por direitos. Sem lutas por direitos a esperança se definha e morre aos poucos. A luta por direitos constrói a esperança. Se militamos pela construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver, sob o signo da Ecologia Integral, nossa linguagem não pode ser poluída por palavras antiecológicas. Quando quiser reconhecer que alguém brilha e é uma pessoa lutadora não diga que ela “arrasou”, pois quem arrasa são as mineradoras e o agronegócio perpetrado pela classe dominante e opressora com o fomento do Estado. Não diga “menos favorecidos”, pois a questão não é de mais ou menos favorecidos. A questão é de superexploração de classe. Logo, mais do que “menos favorecidos”, os pobres são empobrecidos, violentados. Não lutamos apenas “por mais justiça”, mas pela construção de uma sociedade justa, pois a que temos não é justa. Não diga apenas que “são inverdades”, tenha a coragem de dizer “são mentiras”, pois não existem meias verdades e meias mentiras e “a verdade liberta” (João 8,32).

Sabemos que a linguagem não é tudo, mas sem linguagem revolucionária não se marcha rumo à revolução. Linguagem revolucionária exige opção de classe, não ser racista, não ser homofóbica, não ser machista e nem patriarcal, não ser eurocêntrica, nem antropocêntrica, nem antiecológica, mas, por outro lado, precisa expressar um jeito emancipatório diante de todas as opressões. Sempre devemos nos perguntar: o jeito que analiso e me posiciono diante dos problemas e injustiças beneficia a quem? Por isso, muitos que se dizem de ‘esquerda’, mas que levantam bandeiras específicas e discursos monotemáticos, devem lembrar que se faz mister buscar dialogar de forma transversal e solidária com as demais lutas e demandas do povo, também legítimas. Por exemplo, é contraditório alguém do grupo LGBTQI+ lutar pelos seus direitos e discriminar o Povo e Comunidade Carroceira, que é um Povo e Comunidade Tradicional com direitos garantidos pela Constituição de 1988 e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da ONU.

Há várias maneiras de ser cúmplice, para além do silêncio, da omissão e da inércia. Temos muito o que aprender com os povos originários e tradicionais que nos ensinam todos os dias, há milênios, que sem respeitar a Mãe-Terra, a ancestralidade e a história dos povos, não teremos condições de sustentar lutas objetivas e desvinculadas de um olhar diacrônico. Se nossa linguagem, que normalmente é fruto do que pensamos e fazemos, beneficiar à reprodução do status quo opressor, estaremos sendo cúmplice de opressão.[2]

02/03/2021

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Curso Teologias da Libertação para os nossos dias – Aula 02. Por Marcelo Barros - 29/7/2020

2 - Curso Teologias da Libertação para os nossos dias – Aula 01 – Por Marcelo Barros - 22/072020

3 - Ocupação Vicentão/BH: das trevas em um prédio, à luz da libertação pela moradia/ 3a Parte.14/1/18

4 - Celebração da Teologia da Libertação na Ocupação Paulo Freire, em Belo Horizonte, MG. 31/05/15

5 - Palavra Ética, na TVC/BH: Delze e Gilvander. Filosofia da Libertação no II Congresso.. 23/09/14

6 - Nancy Cardoso no II Congresso de Filosofia da Libertação na UFRGS, dia 16 09 2014 em POA

7 - Filosofia da Libertação a partir dos povos Kaingang, com Pedro, parente Kaingang, 16/09/2014



 

 

 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

 

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Conviver com o diferente nos humaniza. Por Frei Gilvander

 Conviver com o diferente nos humaniza. Por Frei Gilvander Moreira[1]

 

 Viver é belo e bom, mas conviver é melhor. Contudo, para tanto, há que aprender a se relacionar com o diferente, o que é um desafio que nos humaniza, se a gente não se fecha no nosso mundinho, às vezes medíocre. Por que é tão difícil conviver com o diferente? No Brasil, tornou-se difícil conviver com as diferenças por vários motivos, mas, principalmente, porque vivemos em uma sociedade capitalista, uma sociedade estruturada para reproduzir a opressão, a discriminação, a violência social e negar a beleza e a importância do outro na nossa vida. O comportamento geral é marcado por falsos valores que são trombeteados aos quatro ventos e seduzem as pessoas: o individualismo, o consumismo, o ter, o acumular, o competir. Isso desumaniza as pessoas, pois ninguém é uma ilha, vivemos interconectados na teia da vida. Viver é belo, mas conviver é muito mais belo e imprescindível. Conviver dá mais sentido à vida e é uma via de mão dupla, mas para conviver é preciso conhecer o outro e para conhecer é preciso conviver. Para conviver é preciso ouvir e dialogar. Dialogar supõe respeito e  este, por sua vez, supõe viver o amor para além de um sentimento, como ética da vida e como exercício cotidiano de vida. O diferente de nós que não é opressor não é uma ameaça. É algo que pode nos fazer melhor como seres humanos. E em tempos de mundo virtual e de pandemia, com o necessário isolamento social e/ou o distanciamento físico, o diálogo se torna mais desafiador e necessário. É preciso exercitar. Eu me sinto mais humano depois que passei a conviver com pessoas de religiões de matriz ancestral africana, com pessoas que se declaram ateias, com pessoas com orientação homoafetiva nas suas mais distintas formas de concepção de si mesmas. Pessoas que seguiram toda sua vida tentando se entender enquanto seres humanos neste mundo, vivendo tantas formas de angústia e de sofrimento por não serem escutadas e nem compreendidas, por causa da falta de diálogo.

Por que em pleno século XXI, o preconceito e a intolerância no Brasil estão crescendo? Até quando uma minoria com poder econômico, político, midiático e religioso vai impor o modo da maioria das pessoas existirem? O preconceito, a discriminação e a intolerância se reproduzem cotidianamente no Brasil, injustamente. Vivemos sob um sistema econômico que idolatra o mercado desde 1500, quando europeus colonizadores invadiram o Brasil e iniciaram o processo de exploração.  Estima-se que existiam no Brasil mais de 1.200 povos indígenas falando cerca de 1.200 línguas. Há 521 anos, perduram no Brasil relações sociais escravocratas, de dominação, ou seja, estruturas legais, políticas e econômicas que reproduzem e ampliam a injustiça social, a escravização, a intolerância, a discriminação e o preconceito,. Isso beneficia a classe dominante, pois se admitirem que toda pessoa deve ser respeitada na sua dignidade humana não poderá haver um monte de violências sorrateiras que são impostas à maior parte da população. Até 13 de maio de 1888, reinava no Brasil, oficialmente, a escravidão, com milhões de irmãos e irmãs nossos, povo negro arrancado à força da mãe África, onde viviam em liberdade, e jogados em navios negreiros – mais de 12,5 milhões de negros e negras escravizados/as – milhares jogados ao mar durante a travessia. No Brasil, como mercadoria foram escravizados, vendidos e açoitados no pelourinho. Os relatos da escravidão no Brasil são dramáticos e horripilantes. Em 1850, com a Lei de Terras, fizeram o cativeiro da terra, 38 anos antes de se fazer a abolição formal e mentirosa da escravidão. Legalizaram a escravidão da terra ao determinar legalmente com a Lei 601, de 1850, que poderia acessar a terra apenas quem por ela pagasse. Os negros e negras escravizados/as não podiam comprar terra, pois foram libertados de mãos vazias, pavimentando, assim, o caminho para a escravidão contemporânea que persiste até hoje. Assim, para justificar a tremenda injustiça das atuais leis trabalhistas e previdenciárias, é preciso estimular cotidianamente preconceito, discriminação e intolerância, tudo para disseminar a ideologia segundo a qual a maioria da classe trabalhadora deve sobreviver na miséria apenas com migalhas, enquanto a elite goza luxo e mordomia. Não são por acaso as discriminações e intolerâncias, elas são estrategicamente planejadas e executadas. Quem ganha muito com as discriminações e intolerâncias é a classe dominante. Caluniar, difamar e injuriar de muitas formas é antessala para explorar e violentar logo em seguida, pela marginalização, exclusão, empurrando as pessoas para sobreviver sendo humilhadas de mil formas.

Ao longo da história da humanidade, sempre a classe dominante escolhe os grupos que serão os bodes expiatórios e as bruxas a serem execradas. Antes, foram os bárbaros, os gentios, as bruxas, os considerados hereges e atualmente continuam sendo as mulheres, os negros e as pessoas LGBTQI+, entre outros. Em uma sociedade capitalista, quem tem poder econômico passa a ter poder político e jurídico e com esses poderes nas suas garras definem na prática quem deve ser discriminado e excluído da mesa farta da classe dominante. Se não discriminarem, terão que partilhar terra, riqueza, renda e poder. Se houver a partilha, todos ficarão em pé de igualdade e deverão ser respeitados. Logo, manter e reproduzir as discriminações são condições necessárias para manter a injustiça social que garante o luxo e a mordomia de uma minoria à custa da subjugação da maioria do povo.

Há vários tipos de preconceitos, de discriminação e de intolerância: os escrachados, os sutis, os mascarados, os que falam com “voz mansa”, mas apunhalando pelas costas, entre outros. Precisamos sempre nos perguntar: o jeito com o qual eu analiso a realidade, os problemas, as injustiças e as violências beneficia a quem? Se minha análise da realidade ajuda a reproduzir na prática as violências, então estou sendo reprodutor/a da ideologia dominante, que é um mascaramento da realidade. Se assumo a ideologia dominante repleta de ideias da classe dominante, ideias particulares, difundidas como se fossem ideias universais, mas são apenas os pontos de vistas da elite que está no poder, ideias que lhes interessam, assumo que não sou neutro e, de fato, ninguém o é: consciente ou inconscientemente, voluntária ou involuntariamente, todos nós temos lado e sempre tomamos partido diante das situações de conflitos. Inclusive quem diz “sou neutro” jamais é neutro. Em uma sociedade com brutal injustiça social, quem diz ser neutro está se colocando do lado dos opressores e exploradores. A partir de qual lugar social pensamos e agimos? “O lugar social determina o lugar epistemológico”, diz Karl Marx. Ou seja, se vivo na periferia sendo marginalizado, vejo o mundo a partir da ótica da periferia. Quem faz parte da pequena burguesia, eufemisticamente chamada de classe média, vê o mundo a partir da classe média. Quem é empresário vê o mundo a partir da empresa. Quem é latifundiário ou empresário do agronegócio vê a realidade a partir do latifúndio. Estando em uma sociedade injusta socialmente, faz-se necessário sempre perguntar: a partir de qual lugar social estou falando, pensando e agindo? Isso para que “oprimido não seja hospedeiro de opressor”, para que “explorado não seja cúmplice dos exploradores”. Pois a opressão não seria tão forte se os exploradores e violentadores não encontrassem apoiadores no meio dos explorados e violentados, já dizia Hannah Arendt.

Para superarmos os preconceitos, as discriminações e a intolerância temos que fazer muitas coisas de forma sincronizada. A primeira, é adquirirmos um jeito crítico de ler e interpretar a realidade. Temos que reconhecer que ninguém nasce santo ou endiabrado. Nascemos humanos e as condições sociais objetivas podem nos humanizar ou nos desumanizar. Já dizia Rousseau: "O homem nasce bom, a sociedade é que o perverte". Urge conviver com pessoas e grupos injustiçados/as. Sentarmos todos e todas na mesma mesa e partilhamos a vida, a fé, o pão, as alegrias e as dores. Entretanto, essa mesa, a da partilha e do diálogo, precisa ser no mundo dos empobrecidos e injustiçados. O Deus, mistério de infinito amor, invocado sob muitos nomes, se apaixonou pelo outro, o diferente: o humano. E armou sua tenda entre nós a partir dos últimos: sem-terra, sem-casa, sem dignidade.

Que a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 desperte em nós a maravilha que é conviver com o outro, o diferente, irmão ou irmã que nos dignifica![2]  

 

24/02/2021

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – Capitã Pedrina: "Acordão é desgoverno, é desrespeitos aos atingidos/as. Reverenciamos a Natureza." – 03/02/2021

2 - Diálogo Inter-Religioso e Ecologia Integral - CFE 2021 - Por frei Gilvander - 22/2/2021

3 – A beleza do macroecumenismo na luta pelo bem comum - CFE 2021- Por frei Gilvander - 22/2/2021

4 - Hino da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021: vozes de diversas denominações cristãs de Curitiba

5 - Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021: Conversa de Camila Oliver, Frei Gilvander e Paulo França

6 - (Macro)ecumenismo, SIM! Diálogo e Fraternidade em defesa da vida - Por frei Gilvander - 18/2/2021

7 - "Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor": Campanha da Fraternidade 2021. Por Frei Gilvander

8 - Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE/2021)

http://gilvander.org.br/site/%ef%bb%bfcampanha-da-fraternidade-ecumenica-de-2021-tema-fraternidade-e-dialogo-compromisso-de-amor-lema-cristo-e-a-nossa-paz-do-que-era-dividido-fez-uma-unidade/

 

 

 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

 

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Tributo-Homenagem ao Padre Nelito Dornelas: extraordinário legado espiritual, ético, pastoral, teológico e profético

 Tributo-Homenagem ao Padre Nelito Dornelas: extraordinário legado espiritual, ético, pastoral, teológico e profético (Live gravada em 13/2/2021) - 16/2/2021


*Promoção: CPT-MG, CEBs de MG, CEBs do Brasil, CNLB e Cáritas MG. Mediador: Frei Gilvander, da CPT, das CEBs, do CEBI, do SAB e da assessoria de Movimentos Populares em Minas Gerais.


Edição: Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG.

Acompanhe a luta pela terra e por Direitos também via www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com  www.cebimg.org.br  - www.cptmg.org.br - www.cptminas.blogspot.com.br   

No Instagram: Frei Gilvander Moreira (gilvanderluismoreira)

No Spotify: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos

*Inscreva-se no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander , acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais.

Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos. #DespejoZero #PalavraÉticacomFreiGilvander #ÁguasParaaVida #BarragemNão #FreiGilvander #NaLutaPorDireitos #PalavrasDeFéComFreiGilvander                                                       

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Diálogo inter-religioso e Ecologia Integral. Por Frei Gilvander

 Diálogo inter-religioso e Ecologia Integral. Por Frei Gilvander Moreira[1]

 

Fotos: Divulgação / www.cesep.org.br


Que beleza espiritual, ética e profética a 58ª Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a 5ª Ecumênica, em 2021, sob coordenação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) – CFE 2021 -, com o Tema: “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”; e o Lema: “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Efésios 2,14)!

De forma sórdida, moralista e fundamentalista, um tal Centro dom Bosco, que não é da idônea Congregação dos Salesianos, mas um grupinho de fanáticos reacionários de direita, consciente ou inconscientemente, está insuflando a manutenção e a reprodução de posturas homofóbicas, preconceituosas e de violência contra as mulheres. Ignorando os ensinamentos dos Papas João XXIII, Paulo VI, os documentos do Concílio Vaticano II e do Papa Francisco, “com voz mansa” tem a cara de pau de defender privilégios e discriminações, chegando ao absurdo de defender quem pratica política de morte (necropolítica). São religiosos burgueses que torturam textos bíblicos e usam em vão o nome de Deus para discriminar as mulheres e as pessoas com orientação homoafetiva. Devem ser ignorados. Seus vídeos, cujo grande número de visualizações é resultante de “compras e artificialidades”, são caluniadores da CNBB e do CONIC. Eis dois sinais gravíssimos que esse grupinho fanático ignora: Em 2018, por homofobia, 420 irmãos e irmãs nossos/as do grupo LGBTQIA+ foram assassinados e, por feminicídio, 4.519 mulheres foram mortas, o que equivale a dizer que a cada duas horas uma mulher é assassinada no Brasil, 48 mulheres por dia. De forma justa, ecumênica e necessária, o CONIC e a CNBB, no Texto-Base da CFE 2021, analisam de forma crítica a realidade brasileira tremendamente desigual e recheada de discriminações, intolerância e violências, que devem ser superadas. Quer seja por motivação religiosa ou orientação afetiva/sexual, nenhuma forma de discriminação ou intolerância deve ser aceita. E o Texto-Base sugere pistas concretas para colocarmos em prática o diálogo ecumênico e macroecumênico, como compromisso de amor indispensável na construção de uma sociedade justa, fraterna, ecológica, com admiração e respeito à imensa diversidade existente no nosso país.



Quem fica em oásis de privilégios e se agarra em doutrinas abstratas se torna desumano e alimenta posturas narcisistas que levam a várias formas de violência. De outra forma, a convivência com os pobres e com o diferente faz desabar edifícios erigidos em cima de preconceitos. Quem não conhece o outro e de longe aponta o dedo para julgar de forma fundamentalista e moralista violenta as relações humanas. A mamãe Leontina Rosa de Souza sempre dizia: “para conhecermos alguém precisamos comer um saco de sal juntos”. Ou seja, é pela convivência que a gente passa a conhecer a beleza humana existente no outro, que é diferente. E, ao admirar a beleza do outro, a gente se abre para respeitar e amar quem é diferente e não oprime. Na luta pela terra, pela moradia e pela construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver com sustentabilidade socioambiental, ao lado dos/os atingidos/as pelos crimes/tragédias da mineradora Vale S/A e do Estado, tenho a alegria de conviver com pessoas de muitas igrejas e religiões, vários pastores e pastoras, pais e mães de santo, do Candomblé e da Umbanda, e também com pessoas que seguem o espiritismo. Nunca vi no ensinamento deles e delas e nem nas suas práticas nenhuma postura de discriminação e de intolerância contra católicos, ou evangélicos ou (neo)pentecostais. Sofrendo as mesmas injustiças, estamos juntos e unidos na luta pela bem comum. Sem fazer proselitismo, as pessoas pertencentes a religiões de matriz africana ou indígena apenas reivindicam o direito de manter suas tradições religiosas, a “rezar/orar” de um jeito que é próprio deles. Na esperança de contribuir com o diálogo inter-religioso, com profunda reverência pela Natureza, que é sagrada, e como denúncia de racismo estrutural, partilho, abaixo, um pouco da beleza espiritual, mística, ética e profética da senhora Pedrina de Lourdes Santos, que bradou de forma exuberante na live “Do luto à luta: Vozes do Paraopeba – E o Acordão da Vale S/A com o Governo de Minas Gerais?”, dia 03/02/2021. Pedrina é capitã do Congado de Moçambique há 41 anos, 48 anos no Reinado, é mãe de santo da Umbanda, iniciada no Candomblé e uma das grandes lideranças da luta das comunidades atingidas pelo crime/tragédia da Vale S/A e do Estado da Bacia do Rio Paraopeba, em Minas Gerais. De cabeça erguida, a capitã Pedrina mexeu com todos/as que assistiam à live. Bradou ela:



Eu sou Pedrina de Lourdes Santos. Capitã de Moçambique, há 41 anos e 48 anos no Reinado. Nos últimos anos, iniciei-me no candomblé, sendo que eu nasci de pais umbandistas e há mais de 20 anos eu sigo com as reuniões de umbanda levando à frente a nossa fé, a nossa tradição. Estamos aqui para, mais uma vez, denunciar para a sociedade brasileira e para o mundo o que está acontecendo aqui nas Minas Gerais, a partir de Brumadinho, depois do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale S/A. Vieram como consequências coisas muito tristes. Primeiro, vidas humanas se perderam em meio ao lamaçal desenfreado causado pela inoperância, pela irresponsabilidade da Vale S/A, porque havia sinais desse rompimento. Um crime que poderia ser impedido não foi, trazendo como consequências a tristeza, o desespero para milhares e milhares de pessoas em toda a bacia do Rio Paraopeba. E nós, que somos descendentes dos povos de religião ancestral de matriz africana, assim entendendo os Reinados, a Umbanda, o Candomblé, ficamos terrivelmente prejudicados, porque a nossa fé, devoção, a nossa alma, nossa maneira de ser está na Natureza, onde se dá o nosso culto. Nós reverenciamos a Natureza. O grande criador, invocado sob tantos nomes, é a própria Natureza. Sem a Natureza, nós, os seres criados, não nos perpetuamos, não continuaremos a vivência. Nós estamos impedidos de realizar nossos cultos, de reverenciar a própria Natureza, os nossos antepassados e os nossos ancestrais. Toda a Natureza, com a fauna e a flora, está terrivelmente danificada. Exigimos reparação integral, pois é direito nosso, em toda a bacia do Rio Paraopeba. Nós não pedimos favores, reivindicamos direitos constitucionais. O Estado de Minas Gerais e as instituições de Justiça estão de portas fechadas para nós atingidos/as, sem transparência e sem informação, fazendo acordos que não nos convêm, sem ouvir a cada um de nós atingidos/as.  Nosso povo está adoecido pelos metais pesados que rolaram junto com a lama tóxica, após o rompimento da barragem da Vale S/A em Brumadinho. Muita gente perdeu o seu ganha-pão, pois dependiam das águas correntes e límpidas do Rio Paraopeba. Água é vida. O que se fará com tanto dinheiro, sem a vida? O que vale a vida com dinheiro, sem a água? Sem água doce, como é que vamos viver? Nosso grito é por todas as vidas: vidas humanas, vidas animais, vidas vegetais e vidas minerais. Tudo está interligado. As pessoas também estão perdidas, porque foram afetadas na sua saúde física, mental e emocional, por causa desse desgoverno, que é resultado do sistema capitalista que não deu certo e nunca dará certo, pois valoriza o capital em detrimento da vida das pessoas. Estamos numa luta gigantesca, como a luta de Davi contra Golias. As pessoas estão praticamente morrendo à míngua por falta de saúde pública que não existe. A primeira coisa que se tem que preocupar é se tem água e como é que nós vamos ter saúde. Verificar a contaminação no ar, na terra e no corpo das pessoas.  Como é que eu vou cantar para minha mãe da água doce, para a senhora guardiã, se eu não vejo mais as águas límpidas do rio Paraopeba, que nos possibilitava perpetuar o nosso culto que vem de geração para geração há séculos? Como é que nós vamos ficar aqui sem água? Eles estão querendo nos matar. A minha proposta, meus irmãos e irmãs de toda a bacia do Rio Paraopeba, é que nós vamos sair daqui com a seguinte proposta: se combinaram de nos matar, nós estamos combinando de nos manter vivos na luta até a vitória, juntamente com os povos donos dessa terra chamada Brasil, chamada Minas Gerais, os nossos irmãos indígenas, que também ao longo da Bacia do Rio Paraopeba sofrem com todo tipo de desprezo. Estamos juntos nessa luta para vencer, porque o legado dos nossos antepassados, de nossos ancestrais que floresceram na luta e que deixaram para nós tantos conhecimentos, e é por tantos entendimentos que nós sabemos respeitar a natureza mais do que as autoridades. Nós sabemos ser sensíveis à dor do outro, à lágrima do outro. Admiramos, respeitamos e amamos toda a natureza, que é sagrada. Como é que as autoridades do Estado de Minas Gerais, de Brumadinho, dos Ministérios Públicos Estadual e Federal e das defensorias públicas estadual e da União estão conseguindo deitar a cabeça no travesseiro e dormir com tanta dor, com tanto sangue derramado e com tantos clamores? O Brasil precisa saber que os atingidos e as atingidas não estão sendo considerados, não estão sendo ouvidos, estão desprezados e ignorados. Nós, os povos de tradição de matriz africana, totalmente invisíveis como se nós não existíssemos, denunciamos: ninguém quer nos ver. Deve ser porque incomodamos muito toda vez que juntos entoamos nossas toadas no reinado e nos terreiros. Toda vez que toca um tambor, a vibração desse tambor mexe com o mundo, mexe com a terra, mexe com mar, mexe com as águas dos rios, mexe com as matas, mexe com os animais. Isso é um pulsar, um sentido, que não se aprende na academia, se aprende no dia a dia, no viver, no lutar, no saber aonde tem água e onde é possível tirar um poço e não destruir as fontes dos riachos e dos rios. Como eu aprendi desde criança, repito e vou repetir vida afora: nós negros somos como Aroeira - aroeira para quem não sabe é uma árvore que verga, mas não quebra - esse é o nosso legado, esse é o nosso entendimento. Nós temos um tronco, nós temos uma raiz, nós temos uma sabedoria, um conhecimento que os que estão nos representando não têm. O acordão da Vale S/A com o Governo de Minas Gerais é um desgoverno, um desrespeito aos atingidos/as, uma irresponsabilidade. Sigamos na luta pelos nossos direitos com a bênção do nosso Criador, de Jesus, do Espírito Santo, de Nossa Senhora do Rosário, Senhora das Mercês e de São Benedito. Muito obrigada”.

 Capitã Pedrina, que maravilha seu pronunciamento! Você nos presenteou com uma Aula Magna. O mundo será melhor quando as pessoas admirarem, respeitarem e venerem a Natureza como você nos afirmou, acima.  Dói muito no meu coração quando eu vejo pessoas que se dizem católicas, ou evangélicas, ou (neo)pentecostais revelarem preconceito e muitas vezes criminalizar as religiões ancestrais de matriz africana ou indígena, chegando ao absurdo de destruir terreiros. Tem alguma violência e algo errado nesse testemunho transparente de humanidade, de fraternidade que a capitã Pedrina, mãe de santo e nossa mestra partilhou conosco? Enfim, eis uma amostra da beleza do macroecumenismo colocado em prática na luta pelo bem comum, não “apesar da fé de cada um/a”, mas “por causa da fé de cada um/a”. Isso é o que a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 pede de todos/as nós. Feliz quem acolhe a CFE 2021, a coloca em prática e, assim, contribui na construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver com Ecologia Integral![2]

16/02/2021

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – Capitã Pedrina: "Acordão é desgoverno, é desrespeitos aos atingidos/as. Reverenciamos a Natureza." – 03/02/2021



2 - Hino da Campanha da Fraternidade de 2021. Tema: Fraternidade e Diálogo, compromisso de Amor.

3 – Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE/2021)

http://gilvander.org.br/site/%ef%bb%bfcampanha-da-fraternidade-ecumenica-de-2021-tema-fraternidade-e-dialogo-compromisso-de-amor-lema-cristo-e-a-nossa-paz-do-que-era-dividido-fez-uma-unidade/

4 - No CEDEFES: INDÍGENAS EM BH/MG: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA. 1ª PARTE/23/4/2018.

5 - Makota, candomblecista, no MP/DH de MG: por direitos das pessoas de religião afrodescendente

6 - Pai Juvenal de Oxalá: Diversidade Religiosa-Umbanda. E. M. Machado de Assis - Contagem, MG, 23/11/17



 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

 

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.