domingo, 24 de janeiro de 2021

DIA TRISTE EM BELO HORIZONTE PELA APROVAÇÃO DA LEI QUE PROÍBE O TRABALHO DE 10.000 CARROCEIROS/AS. As bandeiras da justiça, da verdade e da vida digna flamulam a meia altura. NOTA PÚBLICA!

 DIA TRISTE EM BELO HORIZONTE PELA APROVAÇÃO DA LEI QUE PROÍBE O TRABALHO DE 10.000 CARROCEIROS/AS. As bandeiras da justiça, da verdade e da vida digna flamulam a meia altura.  NOTA PÚBLICA!

No dia de ontem, 22 de janeiro de 2021, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) sancionou a lei que extingue o trabalho e o sustento financeiro de 10 mil famílias carroceiras em Belo Horizonte e Região Metropolitana. Foi sancionado “o coração, os pulmões, os rins e a coluna mestra do PL 142” e vetado pontos secundários, que serão comentados aqui. De autoria do então vereador e empresário Osvaldo Lopes (então PHS, hoje PSD), o projeto de lei 142/2017 prevê que em prazo máximo de 10 anos a tração animal em Belo Horizonte não mais exista e seja passível de punição a desobediência dos que permanecerem em prática. O prefeito ainda anunciou que será enviado projeto do executivo, tratando especificamente sobre medidas de apoio aos carroceiros durante o processo de transição. Proíbe, encurrala colocando no corredor da morte 10.000 carroceiros/as e suas famílias e diz que “vai encaminhar medidas de apoio”. Isso é o mesmo que perguntar a quem foi dada uma sentença de morte: que tipo de morte você escolhe? A inexistência concreta dessa proposta se soma à violência da criminalização, uma vez que gera maior insegurança e incerteza quanto ao futuro da comunidade carroceira.

A tentativa de criminalização dos carroceiros é baseada em argumentos falaciosos depositados em cima da suposição de que o modo de vida de milhares de famílias seria baseado nos maus-tratos aos animais. Sob a capa do pretenso cuidado com os animais impera o manto do RACISMO, do ÓDIO AOS POBRES, do HIGIENISMO, do AUTORITARISMO, da VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS, entre os quais estão os carroceiros, quilombolas, os ciganos, agricultores familiares e demais comunidades tradicionais que utilizam a carroça no seu dia a dia para trabalhar e como modo de fazer e viver.



Não existe nenhum estudo responsável sobre o assunto. A prefeitura, na figura do prefeito Alexandre Kalil, em conluio com os vereadores que aprovaram o projeto e os defensores advindos de movimentos que dizem defender o direito dos animais, não tem sequer um estudo ou pesquisa sobre a condição das carroceiras e dos carroceiros em Belo Horizonte. Não são capazes de apresentar o número oficial de trabalhadores e trabalhadoras, o número de animais envolvidos e nem o número de animais apreendidos pelo poder público, vítimas de maus-tratos advindos do trabalho carroceiro. Estima-se que haja mais de 10.000 carroceiros/as em BH e mais de 20 mil cavalos, mas foi aprovada uma lei racista sem sequer um censo.

O poder público jamais deve se afirmar sobre achismos. A vida dos mais empobrecidos/as não pode ser destruída pelo poder de achismos advindos de pessoas poderosas e influentes. De novo, reina o anti-cientificismo típico de governos autoritários e fascistas. Tampouco pode o poder público lavar as mãos ante a responsabilidade de decisões importantes. O prefeito Kalil foi o Pilatos que, por covardia, condenou as famílias carroceiras ao calvário da miséria. Um covarde não tem envergadura para exercer a direção de cidade alguma, muito menos a de Belo Horizonte – tão grande, tão complexa, tão diversa.



Uma cidade com a grandiosidade, a complexidade e a diversidade de Belo Horizonte não pode excluir carroceiras e carroceiros. Elas e eles são ciganos, são quilombolas, indígenas, agricultores familiares - carroceiros por tradição de cultura e família, são Povos e Comunidades Tradicionais, protegidos pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da ONU.

O prefeito Kalil e os 28 vereadores, entre os quais muitos pastores, levarão impresso às suas histórias a covardia de tentar extinguir a profissão e o modo de vida das pessoas pobres que buscam VIDA DIGNA para suas famílias – compostas de humanos e animais – por meio do trabalho com carroças, uma cultura milenar.

Assim como não se constrói uma casa pelo telhado, casas não devem ser desmontadas pelo alicerce. Na lei 11.285/2021, racista, aprovada, dizem como senhores escravocratas: “Cavalo para sustentar família pobre não pode. Cavalo e cachorro que são “domesticados” (violentados) para estraçalhar pessoas pelos desígnios de forças militares pode”. Colocar cachorros adestrados para farejar drogas letais e mergulhar em lama tóxica e biocida, pode? Não há questionamentos sobre a indústria farmacêutica, a cosmética e a militar na mesma proporção que a perseguição aos carroceiros. “Para isso pode maltratar os animais”, dizem hipocritamente.



As  vitórias serão festejadas pelas patadas impressas no peito do povo preto e pobre - e pobre não por origem, mas por consequência histórica da escravidão e das relações sociais escravocratas que insistem em se reproduzir cotidianamente. Podem, realmente ser chamadas de vitórias? Há quem ganha perdendo. Perde-se humanidade, ética, caráter, sensibilidade, respeito... E se isso não os incomoda, mais gravemente afetados estão por esse sistema de destruição e morte, que coloca o capital acima de tudo e de todos.

O Brasil, tendo adotado a ilegalidade da escravidão há pouco mais de um século, se recusa a abolir a escravidão como prática social sobre os corpos negros. Sob a hipócrita capa da proteção aos animais, há o regozijo sobre o sofrimento negro - “que puxem eles as carroças!” - reverberam!

Por isso, a lei 11.285/2021 aprovada é RACISTA, porque é COVARDE! São aguerridos contra os pobres – quase sempre pretos - e são submissos aos poderosos das indústrias e das armas militares – quase sempre brancos. São COVARDES, são RACISTAS e têm ÓDIO AOS POBRES! O ÓDIO AOS POBRES é tal que se maquia se como projeto educativo!

Pretensamente, a prefeitura deverá oferecer cursos de formação àqueles que se tornarão desempregados e serão empurrados para a miséria, a fome e a morte lenta, um pouco a cada dia. Entretanto, a questão fundamental não repousa sobre a formação, mas sobre a GARANTIA DE TRABALHO! As pessoas e suas famílias não se sustentam por possibilidades, e sim por efetividades! A conquista do pão, o pagamento das contas, os gastos com saúde e lazer não são advindos de ilusões, mas de trabalho concreto, renda e suor. A prefeitura da capital mineira, os vereadores e as agremiações supostamente dedicadas à pretensa proteção animal garantirão a vida digna das mais de 10 mil famílias carroceiras, com trabalho e renda!? – NÃO!!! São hipócritas! Então, o projeto, transformado em lei, simplesmente não prevê e nem garante isso. Por isso, além de RACISTA e COVARDE, é um projeto de ÓDIO AOS POBRES! NÃO BASTA A POBREZA, DEVEM SER JOGADOS NA MISÉRIA!



A prefeitura de BH sabe que em Porto Alegre, RS, sob administração de direita e antipopular, após a proibição do trabalho dos/as carroceiras, apenas uma ínfima minoria conseguiu algum tipo de outro trabalho, e pesquisa da própria prefeitura demonstrou que milhares de famílias foram empurradas para a miséria e a fome.

Pisar, violentar e cuspir na Comunidade Tradicional Carroceira em Belo Horizonte entristece o horizonte e violenta a história de BH, cidade construída pelo povo carroceiro desde o Curral del Rey. Por várias décadas, antes da tração motora, os carroceiros foram imprescindíveis para a construção de BH. Centenas e centenas de carroças pegavam as mercadorias na Praça da Estação trazida pelos trens e distribuíam para toda a cidade. No Museu de Arte e Ofícios, situada na mesma Praça da Estação, estão expostas nas vitrines carroças antigas e utensílios dos carroceiros e tropeiros. Considerado o primeiro projeto museológico dedicado integralmente ao tema do trabalho, das artes e dos ofícios de todo o país, entende-se que há um reconhecimento desta categoria sociocultural, em nível nacional, mas parece que a atual gestão da capital mineira prefere ouvir os “negacionistas”. Há ainda vários artigos, publicações, livros e teses de mestrado e de doutorado sobre a memória, a história, os direitos e a tradição carroceira. Os racistas, na prática, dizem: “No museu e nos livros podem estar, mas nas ruas como cultura viva não pode”. Matar a diversidade cultural é exterminar o futuro de uma cidade que queremos justa, fraterna, solidária, o que passa necessariamente pela valorização e reconhecimento da imensa diversidade biocultural presente na cidade. Tudo isso apunhalado agora por esta lei racista.



O que fazer com os milhares de animais (cavalos, éguas, burros e mulas) que foram proibidos de integrar a comunidade carroceira? A solução apresentada pelos que tentam criminalizar os carroceiros tem sido a “adoção solidária”. Como proposta, os animais serão adotados por pessoas que possuam e apresentem capacidades técnicas e econômicas suficientes para tratar os animais. Essas “capacidades” indicam um determinado modo de tratamento e certa visão – todas elas estritamente ligadas a uma concepção burguesa que quer limitar o cuidado com os animais à concepção reduzida de se ter os animais como seres enclausurados em apartamentos e castrados em nome da docilidade e submissão. Adestramento e controle social preconizados por grupos higienistas e racistas, aos quais as carroceiras e os carroceiros jamais se submeterão!

Esse distanciamento das múltiplas práticas desenvolvidas pelos povos é uma concepção burguesa e absolutamente redutora e estúpida ante a história e cultura desenvolvida na relação entre seres humanos e animais. Serão entre 15 e 20 mil animais que não terão mais garantias de cuidado, porque trabalhadoras e trabalhadores ainda mais empobrecidos que agora não serão capazes de sustentar os animais. Obviamente não se trata de uma adoção, mas de um confisco dos cavalos, parceiros integrantes das famílias carroceiras, imprescindíveis para o trabalho diário para garantir o pão de cada dia! Na prática, roubo dos pobres pelos ricos! A “adoção solidária” em verdade significa o confisco dos animais cuidados pelos empobrecidos e entregues aos economicamente ricos. Belas palavras para encobrir um pérfido objetivo!

Carroceiras e carroceiros construíram a história do mundo e também de Belo Horizonte. Contribuem com a limpeza urbana e, por causa disso, devem ser reconhecidos como agentes de saúde pública e precisam ser respeitados como Comunidade Tradicional composta por homens e mulheres, letrados e analfabetos, carrega história e cultura e luta contra os maus-tratos para com animais. Más atitudes de maus trabalhadores existem em todas as profissões. Em nenhuma delas a extinção da profissão é apontada como solução. Há maus professores, médicos, juristas, garis, padres, pastores, veterinários, vereadores, deputados, carroceiros etc. Maus trabalhadores devem ser monitorados, indicados para a transformação de práticas nocivas e mesmo retirados e/ou proibidos de exercerem a profissão.

Deste modo, o Movimento das Carroceiras e Carroceiros não nega a existência de maus-tratos, que não são a regra, e tampouco compactua com práticas nocivas. A solução para isso está na auto-organização daqueles que trabalham e também na constituição de políticas públicas voltadas para boas práticas trabalhistas e em CUIDADO COM SERES HUMANOS E ANIMAIS. Estão tentando crucificar 10.000 famílias carroceiras, mas estas soerguerão assim como Jesus Cristo ressuscitou após ser crucificado pelos podres poderes da religião opressora, da política imperial e do poderio econômico dos saduceus, latifundiários da época.

Por fim, seremos enfáticos, A LUTA CARROCEIRA SE ERGUERÁ, TRANSFORMARÁ ASFALTO EM POEIRA E OCUPARÁ AS RUAS E AVENIDAS DE TODA A BELO HORIZONTE E REGIÃO METROPOLITANA!

A defesa do meio ambiente é justa e necessária! Tão justa e necessária quanto a análise real das condições e necessidades daqueles que vivem – animais humanos e não humanos – estes e todas as outras formas de vida.

O RACISMO, o NEGACIONISMO, O ÓDIO AOS POBRES E A COVARDIA devem ser denunciados todos os dias! Não se constrói um futuro promissor à custa de mentiras e preconceitos. O povo pobre e trabalhador que constrói a vida na carroça lutará sempre pelos seus direitos, que são sagrados e necessários!

A comunidade carroceira gritará em cada rincão dessa cidade: “A CIDADE É NOSSA ROÇA! NOSSA LUTA É NA CARROÇA!”

 

Assina esta Nota:

 

ACCBM – Associação dos Carroceiros e Carroceiras Unidos/as de BH e Região Metropolitana

 

Apoiam a luta da Comunidade Carroceira:

- Comissão Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais – CEPCT-MG

- Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – CONEPIR/MG

- Associação dos Carroceiros de Contagem

- Comitiva de Muladeiros de Nova Lima

- Kaipora – Laboratório de Estudos Bioculturais – UEMG

- Comissão Pastoral da Terra – CPT/MG

- CEDEFES – Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva

- Movimento de Organização de Base (MOB)

- Associação Estadual Cultural de Direitos e Defesa dos Povos Ciganos

- Cáritas Brasileira - Regional Minas Gerais

- FONSANPOTMA – Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana

- RENAP - Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares

- Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável (MNCMR)

- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST/MG

- Comitê Chico Mendes

- Centro Franciscano de Defesa de Direitos

- MTD - Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos

- Fórum Político Interreligioso – Belo Horizonte – MG

- Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental – Arquidiocese de Belo Horizonte

- Articulação Embaúba – Parteiras, Raizeiras e Benzedeiras da RMBH

- AMAU - Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana

- Coletivo de Agroecologia do Aglomerado Cabana

- Brigadas Populares

- MLB - Movimento de Luta de nos Bairros, Vilas e Favelas

- Movimento de Libertação Popular (MLP)

- INSEA  (Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável)

- Coalização Pelo Clima - BH

- Projeto Mapeamento de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais – UFMG

- AUÊ – Grupo de Estudos em Agricultura Urbana – UFMG

- GESTA – Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – UFMG

- GEPTT – Grupo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Tecnologias - CEFET – MG

- MUTIRÓ – Núcleo de Estudos em Agroecologia – CEFET-MG/UEMG

- LEAEH – Laboratório de Educação Ambiental e Ecologia Humana - UNIMONTES

- NIISA – Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental - UNIMONTES

 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Fora, Bolsonaro! Queremos vacina e mudança do modelo econômico, já! Por Frei Gilvander

Fora, Bolsonaro! Queremos vacina e mudança do modelo econômico, já! Por Frei Gilvander Moreira[1]


 

Um sopro de esperança irradiou-se para todo o Brasil a partir de São Paulo, dia 17 de janeiro de 2021, dia histórico para o povo brasileiro, com a vacinação da primeira pessoa do país contra a covid-19: Mônica Calazans, mulher, negra e enfermeira. A segunda a receber a vacina foi Vanuza Kaimbé, indígena, técnica em enfermagem e assistente social, de uma aldeia, em Guarulhos, SP. Após muita pressão do povo e das forças vivas da sociedade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) teve que liberar emergencialmente as duas primeiras vacinas: a CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca, que será produzida no Brasil pela Fiocruz.

Continuemos a luta pressionando todas as autoridades para que todo o povo brasileiro seja vacinado o mais rápido possível. Vacina para todos/as, já! Vacina é uma dádiva da vida e de Deus elaborada pela dedicação de pesquisadores/as e cientistas. Malditas as pessoas que se colocam contra vacinar o povo! Só uma pessoa medíocre ou criminosa, que se deleita em ampliar a pandemia, pode se colocar contra o ato de vacinar a população. A vacina, embora imprescindível, não é suficiente! É preciso acolher e levar a sério os alertas repetidos à exaustão pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por infectologistas e epidemiologistas de que é preciso higienizar as mãos com frequência, manter o distanciamento corporal e social e usar máscaras. Essas ações são necessárias para superar a pandemia do novo coronavírus até que todo o povo tenha sido vacinado e a pandemia superada. Em tempos de pandemia, além de imoral, é atitude criminosa promover e/ou participar de aglomerações. Da mesma forma, é crime quando quem tem o dever de fiscalizar as aglomerações não fiscaliza.

Tornou-se intolerável a continuidade do (des)governo federal fascista, genocida e ecocida. Fora, Bolsonaro, já, e todo o seu (des)governo! O presidente da Câmara dos deputados continuar segurando mais de 60 pedidos de impeachment do presidente Bolsonaro é uma injustiça e uma afronta à Constituição Federal. Outra atitude asquerosa é a maioria do Congresso Nacional continuar sendo cúmplice do descalabro do (des)governo federal. O Supremo Tribunal Federal (STF) também está sendo conivente à medida que garante a continuidade do chefe do Executivo mesmo diante de muitos indícios de crimes de responsabilidade, entre outros que ainda não foram julgados. Quem continua apoiando o governo federal está pecando, pois está sustentando uma política de morte avassaladora. É necessário mudança do modelo econômico neoliberal (colonialista) que impera no Brasil desde 1992. O grau de superexploração da classe trabalhadora, da mãe terra, das fontes de água e dos biomas está levando à exaustão as condições de vida no Planeta Terra, nossa única Casa Comum. O mito do progresso e do desenvolvimento econômico só para a classe dominante precisa ser freado, pois a devastação socioambiental já ultrapassou os limites suportáveis pelo nosso planeta posto no altar do sacrifício do ídolo mercado.

Solidariedade com povo de Manaus e todas as pessoas que estão sofrendo é uma necessidade, mas não basta. Não basta a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fazer apelo conclamando a solidariedade de todos/as para que chegue oxigênio em Manaus para estancar o “campo de concentração” que se tornou os hospitais abarrotados de pacientes, em colapso, com centenas de pessoas morrendo por asfixia na capital amazonense. A CNBB também precisa exigir formalmente o impeachment ou a interdição de Jair Bolsonaro e de todo o seu (des)governo. Em 1992, junto com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional), a CNBB foi signatária do pedido de impeachment do corrupto e entreguista ex-presidente Collor de Melo.

O (des)governo federal não está sendo apenas omisso e demonstrando descaso com relação à pandemia e a todas as outras áreas desgovernadas. Sua atitude é bem mais grave e criminosa: está agindo de forma planejada, com requintes de crueldade, para incrementar uma necropolítica que está matando o povo brasileiro de ‘mil formas’. O Congresso Nacional, o STF e todo o Legislativo e o Judiciário, em todos os níveis, via de regra, não estão sendo apenas omissos, mas também cúmplices, já que são coniventes com a política de morte do Executivo federal, que está destruindo o Brasil.

Parte da esquerda brasileira também não está sendo apenas omissa: ao continuar olhando prioritariamente para o próprio umbigo, está sendo cúmplice das injustiças e violências que se abatem sobre o povo. Ficar querendo simplesmente resgatar o estilo de governo do Partido dos Trabalhadores do passado não trará solução capaz de ir às raízes da tremenda desigualdade social e violência socioambiental que campeiam em todo o território nacional.

A religião se tornou no Brasil uma questão política gravíssima, uma vez que grande parte dos líderes religiosos, sejam pastores, padres ou leigos são omissos diante da escalada de violência que assola o povo, a mãe terra, a irmã água e todos os biomas. E, pior, mais do que omissos, são cúmplices, coniventes e sustentadores da política de morte reinante no nosso país, pois estão abusando do nome de Deus e de Jesus, torturando textos bíblicos para justificar posturas criminosas, preconceituosas, fundamentalistas, moralistas, idolátricas. O milagre que Jesus Cristo mais gostava de fazer era curar cegueira, não de forma mágica, mas a partir de um processo de solidariedade que gerava um engajamento pessoal e coletivo profundos na luta por justiça. Entretanto, o que mais os falsos líderes religiosos fazem hoje no Brasil é furar os olhos das pessoas, cegá-las, com uma religião aburguesada, marcada pela ideologia da prosperidade, de forte apelo espiritualista e intimista que reduz a dimensão religiosa a um processo de autoajuda. Agem assim para lucrar e manter seu poder e riqueza à custa da exploração e empobrecimento cada vez maior do povo. Urge resgatar a dimensão social da fé cristã. A gravidade do momento exige de todas as pessoas de boa vontade que retomem a opção pelos pobres e ao fazê-lo assumam uma clara opção em defesa da classe trabalhadora, pois é impossível ser ao mesmo tempo discípulo/a de Jesus Cristo e participar da lógica capitalista que reproduz e exponencia cotidianamente a desigualdade social.

Portanto, é preciso urgentemente consciência, coragem e ousadia e assumir o lado certo na história: lutar por condições de vida com dignidade para todos e todas, sobretudo para os/as empobrecidos/as, explorados/as, injustiçados/as. E isso passa, necessariamente, por lutar pela queda desse (des)governo federal que aí está, pela mudança desse modelo econômico que só faz crescer cada vez mais a desigualdade social e a destruição ambiental.[2]

Em tempo: Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, VETE o PL 142/2017, porque é: autoritário, colonialista, racista institucional e estrutural, etnocêntrico, higienista, injusto, inconstitucional, viola a Convenção 169 da OIT, da ONU; atende ao lobby das grandes empresas de caçamba, e não resultará em bons-tratos dos cavalos, imporá miséria a mais de 10.000 famílias carroceiras em BH e RMBH. Proibir o trabalho dos/as carroceiros/as violenta ainda a história de Belo Horizonte, pois o carroceiro é um ofício e um modo de vida tradicional, protegido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da ONU, tratado do qual o Brasil é signatário desde 2004! Substituir cavalos por motos é absurdo capitalista e contra as normas ambientais internacionais que indicam a urgente necessidade de reduzir a emissão de gás carbônico nas cidades! No meio dos/as carroceiros/as existem muitos ciganos que também é Povo e Comunidade Tradicional, também protegido pela Convenção 169 da OIT da ONU.

20/01/2021 

 Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – Palavra Ética na TVC-BH: Salvar vidas na Pandemia e defesa dos Geraizeiros do norte de MG-27/6/2020

2 - Palavra Ética na TVC-BH: Quarentena para salvar vidas, mineração em Ibirité/MG, não; Quilombo Braço

3 - Frei Gilvander: "Salvar vidas agora, antes que seja tarde!" - Na luta por direitos - 16/4/2020

4 - Quarentena para salvar vidas/2a Parte/Frei Gilvander/Rádio Independente FM 104,9/Ichu/BA- 07/4/2020

5 - Quarentena para salvar vidas - Frei Gilvander/ Rádio Viva Brasil FM - Três Corações, MG - 31/3/2020

6 - Coronavírus: como vencer o capitalismo de desastre?

7 - CORONAVÍRUS, CLIMA E CAPITAL: a irracionalidade destrutiva do capitalismo

8 - PANDEMIA: ESTE SERÁ O FIM DO CAPITALISMO?!!!



 

 

 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.

 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

“A cidade é nossa roça! Nossa luta é na carroça!” A luta da Comunidade Tradicional Carroceira pelos direitos humanos e animais. Por Frei Gilvander

 “A cidade é nossa roça! Nossa luta é na carroça!” A luta da Comunidade Tradicional Carroceira pelos direitos humanos e animais. Por Frei Gilvander Moreira[1]



Está em baila em todas as capitais, nas grandes, médias e em parte das pequenas cidades do Brasil uma enorme pressão para proibir o trabalho dos/as carroceiros/as. Infelizmente, em várias delas já aprovaram leis proibindo o modo de vida carroceiro. Outras cidades estão resistindo. Em Porto Alegre, RS, algum tempo após a proibição do trabalho dos/as carroceiros/as, pesquisa da prefeitura apontou um crescimento do empobrecimento e vulnerabilidade social em milhares de famílias que perderam o seu ganha-pão.



A pressão para se proibir o trabalho dos/as carroceiros/as é liderada, à primeira vista, por pretensos ambientalistas defensores dos animais, mas por trás também está o lobby das grandes empresas de caçamba com ganância para ampliar seus lucros e em tempos de crise garantir a acumulação de capital mesmo à custa do extermínio de modos de vida e cultura tradicionais. Em Belo Horizonte, MG, está na mesa do prefeito Alexandre Kalil um Projeto de Lei, o PL 142/2017, que após quatro anos de tramitação autoritária, sem nenhum tipo de diálogo com as comunidades afetadas, foi aprovado em 2º turno na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) por 28 vereadores no universo de 41, dia 15 de dezembro de 2020 e agora espera a sansão ou veto final. Em pleno cenário de pandemia, os/as carroceiros/as ficaram de fora do plenário, atônitos com tamanho absurdo e desrespeito. Tudo pareceu uma grande manobra. 



Estamos lutando para que seja vetado pelo prefeito Kalil o PL 142, que proíbe o trabalho dos/as carroceiros/as na capital mineira. O legítimo e justo é o veto por muitos motivos. Primeiro, porque se trata de um projeto autoritário, pois não ouviu os/as carroceiros/as e não teve participação popular. O ex-vereador Adriano Ventura, que era um dos autores do PL original, repensou e retirou o PL de tramitação, após descobrir que seria gravíssima violação dos direitos humanos fundamentais da Comunidade Carroceira e também não resultaria em bons-tratos para os cavalos, éguas, mulas e burros. Outro vereador, Osvaldo Lopes, agora deputado estadual, reapresentou o projeto que foi aprovado na CMBH. O PL 142 é uma expressão de racismo institucional e estrutural que permeia a guerra contra os pobres, pois matará aos poucos milhares de famílias que sobrevivem com o trabalho em carroças. O PL 142 é inconstitucional, porque viola os artigos 215 e 216 que garantem a diversidade cultural e também viola e desconsidera os tratados internacionais tais como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas (ONU), que protegem os Povos e Comunidades Tradicionais. A Comunidade carroceira é Povo Tradicional, em Belo Horizonte, já com Auto-Declaração formalizada, o que confere valor jurídico.



O “Ofício de Carroceiro” é histórico e deve ser respeitado enquanto meio de transporte milenar e tradicional, bem como patrimônio biocultural e imaterial, o que implica em um profundo conhecimento ecológico por parte dos/as carroceiros/as e etológico dos cavalos relacionados aos saberes e às madeiras mais adequadas para fabricação das carroças, ao uso de plantas medicinais, às benzeções e outras formas de cuidado da saúde dos animais, bem como o manejo e a coleta de diversas espécies de gramíneas de crescimento espontâneo nas cidades que compõem parte da dieta oferecida aos cavalos. A carroça, que pode possuir vários formatos, tipos e desenhos, ao longo do tempo, constitui-se como artefato e memória tecnológica, que merece registro e inventário patrimonial. Os espaços de uso como ruas, lotes, descampados e seus trajetos constituem territorialidades da tradição carroceira e suas conexões socioespaciais. O modo de vida tradicional de carroceiros e cavalos também envolve formas especificas de sociabilidade, tais como as catiras e as cavalgadas, baseadas na reciprocidade e no parentesco sendo muito comum ver três gerações de carroceiros juntas em uma carroça, constituída como espaço de resistência sempre em movimento. É sempre bom lembrar que muitos carroceiros em áreas rurais ou urbanas podem pertencer duplamente a categorias de outros povos tradicionais, tais como: Ciganos, Agricultores Familiares, Indígenas e Quilombolas.  


    
           

A construção das cidades, mesmo as mais recentes, incluindo Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, não teria sido possível sem o apoio contínuo dos/as carroceiros/as, transportando gêneros alimentícios para os operários, bagagens e mobiliário para os primeiros moradores, além de material de construção e de obras trazidos das estações dos trens.

Segundo o Sr. Sebastião Alves de Lima, presidente da Associação dos Carroceiros e Carroceiras Unidos/as de Belo Horizonte e RMBH, quando houve uma reunião com o Prefeito Kalil, em agosto de 2017, este teria prometido que jamais iria aprovar uma lei que prejudicasse os carroceiros em Belo Horizonte, pois ele reconhecia a importância destes na história do município. O próprio Kalil contou para os representantes dos carroceiros em reunião que ele estaria ciente de que, durante a Segunda Grande Guerra, quando faltou combustível para os caminhões, foram os/as carroceiros/as que levaram matéria-prima para obras de pavimentação na região central de Belo Horizonte.



Parece emblemático uma cidade que tem como nome primeiro “Curral del Rei” querer agora expulsar o que tem de mais genuíno em sua origem.  Segundo Alícia Penna, em 1711 já existia o Arraial do Curral del Rei, sendo seus habitantes denominados curralenses[2]; ainda nos resta parte da Serra do Curral que emoldura o cenário da capital.     

Se sancionado o PL 142, a proibição do trabalho dos/as carroceiros/as causará uma tragédia socioeconômica na capital mineira, pois todos os bairros fora do perímetro da Av. do Contorno, com exceção daqueles enriquecidos, necessitam do trabalho dos/as carroceiros/as, que têm uma função social imprescindível na cidade. Os bairros de classe baixa, populares e periferias não têm condições de pagar caçamba para recolher pequenas quantidades de resíduos, pois o custo é elevado e assim sendo a existência dos/as carroceiros/as ajuda a baixar o preço das caçambas. Nos bairros periféricos, em muitos lugares, não é possível um caminhão caçamba chegar, por causa de ruas estreitas, íngremes ou becos. Enfim, o PL 142 atende, dentre outros, ao lobby das grandes empresas de caçamba e matará aos poucos os cavalos e as famílias de cerca de 10 mil carroceiros/as existentes em BH e RMBH. Este número é estimado já que não foi feito ainda um censo que contemple esta categoria na região. A partir de pesquisa da UFMG, de 2010, estima-se a existência de 10 mil carroceiros/as em BH e Região Metropolitana. Como é possível proibir o trabalho dos/as carroceiros/as sem um censo, sem saber quantos são e qual sua realidade?  Sem os carroceiros/as, o preço das caçambas subirá muito, o que trará um grande impacto econômico para as famílias de classe baixa e popular.



O PL 142 tecnicamente é um absurdo, pois não existem estudos sérios que atestem a viabilidade de se substituir cavalos por motos, "cavalos de lata", o que, além da impossibilidade técnica, aumentará a poluição sonora e do ar e o número de acidentes e mortos. Basta de uso de combustível fóssil na cidade!

A cidade que queremos passa pelo apoio aos/às carroceiros/as, que foram imprescindíveis na construção da capital mineira e de todas as cidades. O PL 142 não garante em nada “bons-tratos” aos cavalos, ao contrário, chega-se à hilariante proposta de “doação solidária”, ou seja, os melhores cavalos poderão ser adotados por pessoas ricas que, segundo alegam, teriam melhores condições de cuidar deles. Isso é cinismo, hipocrisia e covardia sem tamanho, pois, além de deixar de “mãos vazias” mais de 10 mil famílias carroceiras, sem acesso ao seu ganha-pão, ainda deverão doar seus animais para pessoas ricas.  É óbvio que existem casos de maus-tratos, mas não é a regra. Maus-tratos não se combatem só com proibição e repressão! Nos oito anos de governos municipais em Belo Horizonte, com os prefeitos Patrus Ananias e Célio de Castro, foi implementada uma Política Pública com a participação dos/as carroceiros/as, que envolvia a construção de 34 URPVs (Unidades de Recolhimento de Pequenos Volumes), emplacamento das carroças, expedição de carteirinha para os/as carroceiros/as, tudo isso em parceria com a Faculdade de Veterinária da UFMG, que vacinavam e ajudavam os carroceiros/as a cuidar dos animais. E também havia fiscalização. Porém, nos últimos doze anos foi desmantelada esta política pública, ao que tudo indica como uma estratégia  para suprimi-la mais à frente.  Exigimos o resgate dessas políticas públicas.



Enfim, essa tentativa de criminalizar o modo de vida carroceiro é resultado de uma postura colonialista, racista, etnocêntrica e higienista que busca impor sobre toda a sociedade uma única forma de se viver as relações entre humanos e animais.

“A cidade é nossa roça! Nossa luta é na carroça!”, eis o lema dos/as carroceiros/as na capital mineira. Apoiamos este segmento social na luta por políticas públicas sérias e idôneas, com participação popular e respeito aos modos de ser, viver e trabalhar das comunidades tradicionais das quais os/as carroceiros/as fazem parte. Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumento. A burrinha de Balão foi profetisa. Fazemos ecoar aqui o canto de Luiz Gonzaga: “Respeite o jumento” e os/as carroceiros/as no seu modo de ser e de existir. Não adianta alegar que a PM cuida bem dos cavalos da cavalaria, porque além dos suspeitos treinamentos, que podem ser a duras penas, “cuidam bem dos cavalos, mas para fazer maus-tratos a outros: os pobres e negros das periferias que são tratados pior do que aos animais”. Qual o ritmo humano para a cidade que queremos: o ritmo lento dos cavalos que garante trabalho, renda e dignidade ou a correria dos automóveis e das pessoas com o ritmo frenético, agressivo, poluente e excludente baseado nos combustíveis fósseis? Essa luta é justa e dela ninguém pode se omitir.[3]





12/01/2021

 

             Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – "Carroceiros/as é Povo Tradicional com cultura milenar. Kalil, VETE o PL 142": Alenice Baeta-1/01/21

https://www.youtube.com/watch?v=bpRI7M00HS4

2 - Live - Carroceiros/as de BH: "Estão nos julgando sem nos conhecer. Kalil, VETE o PL 142". - 30/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=yDV-hIhdIWw

3 - "Veta, Kalil, o PL 142 racista", exigem os 10.000 carroceiros/as de BH e RMBH Vídeo 3 - 21/12/2020

https://www.youtube.com/watch?v=PZTgegHfZuQ

4 - Carroçasso em BH: 10.000 carroceiros/as exigem que Kalil VETE o PL 142 racista. Vídeo 2 - 21/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=RoWLc4pldig

5 - Carroceiros/as na luta para que Kalil vete o PL 142, RACISTA: início do Carroçasso. Vídeo 1-21/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=FYb79EuOUPE

6 - "A cidade é nossa roça. Nossa luta é na carroça." Carroceiros/as, SIM! Por frei Gilvander - 20/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=1eMVYnnPIjQ

7 - Pelos Direitos do Povo Tradicional Carroceiro e dos Cavalos e Éguas/Frei Gilvander/1ªParte-20/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=uF_03VH-g7k

8 - Lei racista e que faz guerra contra 10.000 carroceiros/as foi aprovada em Belo Horizonte -16/12/2020

https://www.youtube.com/watch?v=VwaOg2jbi0s

9 - Em BH, sancionar PL 142 autoritário sem participação dos carroceiros será injustiça. Vídeo 4 -7/1/21

https://www.youtube.com/watch?v=T84NYqFiJeM

10 - "Carroceiros em BH são necessários para solucionar o problema dos resíduos sólidos". Vídeo 3 -7/1/21

https://www.youtube.com/watch?v=c7a7DR1I5xU

11 - "Proibir carroceiros/as em BH é priorizar grandes empresas de caçamba." Prof. Tiago. Vídeo 2 -6/1/21

https://www.youtube.com/watch?v=fxggdayFPVs

12 - "FUNÇÃO SOCIAL dos/as carroceiros/as é imprescindível em Belo Horizonte" (Eduardo). Vídeo 1 -06/1/21

https://www.youtube.com/watch?v=u2qObNGhNpE

13 - “Quem aprovou o PL 142 para acabar com carroceiros/as em BH nunca passou fome." Valdinalva. Vídeo 2

https://www.youtube.com/watch?v=yB3qJDxsTDQ

14 - Cigana Valdinalva - apelo emocionado, em BH: "Kalil, VETE o PL 142, pois é racista”. Vídeo1 –5/01/21

https://www.youtube.com/watch?v=LocRU5XJles

15 - "Há carroceiros ciganos. Direitos dos ciganos são violados no PL 142 em BH. Vete, Kalil", diz Itamar

https://www.youtube.com/watch?v=j3MS0NQYQlk

16 - “Pelos direitos dos Carroceiros, vereadores/as de BH, arquivem o PL 142” Prof. Emanuel/UEMG/14/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=o2DZ-7Ezu5Y

17 - Grito dos carroceiros de Belo Horizonte contra o PL 142/2017: "Somos Povo Tradicional!" – 13/12/2020

https://www.youtube.com/watch?v=udEr3TvsMeU#7s8d6f87

18 - Luta de carroceiros/as de BH/MG: Trabalho e respeito aos cavalos e éguas. 6ª Parte. 07/7/2018.

https://www.youtube.com/watch?v=ETKjeT0GIWM

19 - Luta dos carroceiros/as e cavalos em BH/MG: pelo direito de existir na cidade/5ª Parte/07/7/2018.

https://www.youtube.com/watch?v=VZiTzcGHfqM

20 - Luta dos/das carroceiros/as pelo direito de trabalhar com cavalos e éguas/BH/MG. 4ª Parte/07/7/2018

https://www.youtube.com/watch?v=NR-_lxATntc

21 - Carroceiros/as, cavalos e éguas em BH/MG: dignidade e sobrevivência, 3ª Parte. 07/7/2018.

https://www.youtube.com/watch?v=5gMBbeiyu48

22 - Carroceiros/as de BH/MG: Cuidado com o meio ambiente e respeito aos animais/2ª Parte/ 07/7/2018.

https://www.youtube.com/watch?v=M7n2YyDD6Vw

23 - Carroceiros e carroceiras de BH/MG: Respeito à cultura, direito ao trabalho. 1ª Parte. 07/7/2018.

https://www.youtube.com/watch?v=WpwAC8XclZ8

24 - Carroceiros/as de Belo Horizonte PROTESTAM na CMBH contra a aprovação do PL 142 INJUSTO - 14/12/20

https://www.youtube.com/watch?v=OzCK_LEFc1I

 

 

 



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] PENNA, Alícia D. O espaço infiel: quando o giro da economia capitalista impõe se à cidade. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, Belo Horizonte, 1997.

 

[3] Gratidão ao Prof. Emmanuel Almada, da UEMG, à Professora Alenice Baeta, do CEDEFES, e à Carmem Imaculada de Brito pela revisão do texto.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A Pandemia e o desrespeito à vida: “O povo está sendo matado por falta de conhecimento”. Por Frei Gilvander

A Pandemia e o desrespeito à vida: “O povo está sendo matado por falta de conhecimento”. Por  Frei Gilvander Moreira[1]


 Charge do Zé Dassilva: o desrespeito ao isolamento

Considero inegável que a espiral de violência e morte que avassala o povo brasileiro é causada pela superexploração do sistema capitalista, máquina cruel de moer vidas, que funciona dia e noite, sob direção da classe dominante que vive no luxo, mas com sangue nas mãos. A elite, por sua vez, goza o luxo e as benesses do poder econômico e político à custa de muito sangue da classe trabalhadora e do apunhalamento das entranhas da mãe Terra gerando extermínio de fontes de água e desertificação de territórios. O mito do progresso e do desenvolvimento econômico só para a classe dominante, que extermina diariamente as condições de vida no planeta Terra, nossa única Casa Comum, gerou a pandemia do novo coronavírus. A ideologia dominante, a crise dos partidos políticos e os falsos religiosos impuseram no Executivo Federal um desgoverno fascista que só sabe matar, tem sede de sangue. Os fascistas continuam no poder pela conivência do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional acovardados que, diante de dezenas de crimes de responsabilidades cometidos por Jair Bolsonaro, seguem não apenas omissos, mas cúmplices da escalada de morte no nosso país, propondo apenas medidas paliativas que disfarçam a crueldade dos mil jeitos de matar em curso e, pior, fazem politicagem diante das lágrimas do povo em desespero. Cegado e anestesiado, até quando o povo aceitará morrer aos poucos sem se rebelar massivamente?

A pandemia do novo coronavírus no Brasil iniciou-se com uma onda que cresceu rapidamente, se prolonga por nove meses e, pior, de novembro de 2020 para cá está crescendo muito. O número de mortos pela covid-19 já ultrapassa 240 mil, se incluirmos 20% de mortos subnotificados. É notório o cansaço do povo diante da pandemia do novo coronavírus. É certo que o povo anseia pela superação da pandemia, mas foi chocante e estarrecedor ver um elevado número de aglomerações suicidas e assassinas durante os festejos de natal e na virada de ano. Recordei-me de uma das muitas cenas eloquentes do filme documentário "A carne é fraca", do Instituto Nina Rosa: cena mostrando que, no desfiladeiro do matadouro, ao pressentirem que à sua frente estão morrendo vacas ou bois com uma cacetada na nuca, as vacas e os bois são tomados por um estresse muito grande, o que injeta adrenalina em todo o corpo. O instinto de vida do gado grita alto diante da iminência da morte, no corredor da morte do matadouro. Nas aglomerações das últimas semanas, gritaram alto o egoísmo e a ignorância de muita gente. Desgovernado por fascistas, o Brasil marcha para se tornar uma ameaça sanitária mundial. Em 2021, daremos conta de enterrar nossos mortos por política de morte – genocida – e pela irresponsabilidade dos cúmplices?

Cabe lembrar que, mesclado com o ódio de classe que a elite tem do povo pobre, “quando a ignorância impera, o amor se cala, se aniquila e os sonhos se desfazem, porque insuportável é a arrogância de quem só conhece suas verdades falsificadas”, alerta Helenice Augusta da Cunha. “A ignorância é a maior enfermidade do ser humano”, dizia Cícero, grande lutador republicano, “pedra no sapato” de imperadores romanos. Ele foi morto e proscrito a mando do imperador Júlio César em 43 antes de Cristo. “Na falta de argumentos a ignorância usufrui da agressividade e da ofensa como modo de ataque”, diz Agni Shathi. “A ignorância é a mãe de todos os males”, diz François Rabelais. “A ignorância mata e quando regada com fé e política, causa o genocídio”, diz Israel Lopes prenunciando o que acontece no Brasil no início de uma nova década. “Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso”, assevera Bertolt Brecht. Dalai Lama diz que “o egoísmo gera a ignorância que origina grandes problemas no mundo”. “Cuidado com o falso conhecimento; ele é mais perigoso do que a ignorância”, diz George Bernard Shaw.

Diante dos alertas repetidos à exaustão pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por infectologistas e epidemiologistas de que é preciso manter o distanciamento corporal e social, e usar máscaras para superarmos a pandemia do novo coronavírus, assistimos às aglomerações estarrecedoras nos dias de Natal e de virada de ano. Aglomerações promovidas por “celebridades” medíocres e ignorantes, por turistas que esqueceram a responsabilidade social, ou por pessoas em geral cansadas de quarentena, além de motivadas pelo próprio comportamento negacionista, genocida e debochado do presidente Bolsonaro em relação à gravidade da pandemia. Neste contexto, temos que perguntar: é ético ou imoral promover aglomerações, participar delas ou se omitir da fiscalização delas? Em tempos de pandemia, além de imoral, é atitude criminosa promover e/ou participar de aglomerações. Da mesma forma, é crime quando quem tem o dever de fiscalizar as aglomerações não fiscaliza.

No Código Penal, muitas ações ou omissões são tipificadas como crime, por exemplo, quando se coloca em risco a vida de uma pessoa. A Constituição Federal, em seu Artigo 5º, protege a inviolabilidade do direito à vida considerando-o o mais importante de todos os direitos, pois a vida é o bem jurídico mais valioso que temos. Com a ocorrência da pandemia de Covid-19 e a edição de inúmeros decretos, seja por Estados e por Municípios, obrigando o uso de máscaras em locais públicos, o não cumprimento do estatuído nesses decretos, ou seja, o não uso da máscara, pode muito bem ensejar crime de homicídio, já que está devidamente esclarecido pelos médicos infectologistas e virologistas que a transmissão do contágio pode levar à morte, especialmente no caso de pessoas com doenças preexistentes ou acima de 60 anos. Em vários países, quem é surpreendido pela polícia em aglomerações está sendo multado.

O artigo 121 do Código Penal, que é formado por apenas duas palavras – “matar alguém” -, estaria sendo infringido, caso ocorra morte, conseguindo-se demonstrar a pessoa de onde partiu a contaminação. O fundamento para chegar a tal punição é que hoje a ciência demonstra a letalidade da covid-19, o que tem sido divulgado à exaustão pela imprensa ecoando os alertas fundamentados na ciência feitos por infectologistas e epidemiologistas.

A partir da obviedade que a doença covid-19 mata e não tem cura e nem o povo foi vacinado ainda, o não uso da máscara e a promoção e/ou participação em aglomerações e os funcionários públicos que não fiscalizam, deveriam ter consequências sérias para estas pessoas que não se sentem tocadas por uma questão de humanidade, pela obrigação de ajudar a não contaminar outrem. Propomos que estas pessoas recalcitrantes em cumprir o determinado pelas autoridades sanitárias sejam levadas a responderem na seara criminal. Enquanto durar a pandemia, aglomerar-se e violar as regras sanitárias se tornou uma questão de saúde e segurança públicas. Nesse caso, o interesse da coletividade – respeito à dignidade da pessoa humana – está acima dos pretensos direitos individuais de pessoas que não são apenas egoístas e irresponsáveis, mas agem de forma criminosa.

Na Bíblia, no quarto capítulo do livro do profeta Oseias, diante da realidade de um povo sendo triturado de mil maneiras, há uma veemente crítica aos “sacerdotes” – líderes religiosos da época -, já que eles representavam o Estado monárquico super-opressor e sanguinário. “Sangue derramado se ajunta a sangue derramado. Por isso, a Terra geme e seu povo está sendo matado” (Os 4,2-3), denuncia Oseias. Destemido, o profeta Oseias aponta os líderes religiosos como causadores da violência: “Eu levanto acusação contra você, sacerdote! Você tropeça de dia, o profeta tropeça com você de noite e você mata a sua própria mãe. O meu povo está morrendo por falta de conhecimento” (Os 4,4-6). Os religiosos do contexto de Oseias rejeitavam o verdadeiro conhecimento (Os 4,6), se agarravam à ignorância, à hipocrisia e a posturas moralistas, como atualmente ocorre com muitas lideranças religiosas. A idolatria alimentada pelos líderes religiosos justificava religiosamente as estruturas e relações sociais de opressão e exploração. Em Oseias 4,1-19, temos uma profecia que denuncia a macro-opressão realizada pelos “sacerdotes”, e outra que põe o dedo na ferida da micro-opressão que acontece nas relações interpessoais, particularmente entre homem e mulher, entre adultos e crianças. O miúdo da vida (o cotidiano) e o macro da vida são as duas pernas presentes de forma entrelaçada na profecia de Oseias. A profecia de Oseias revela para as pessoas o que significa viver sob políticas de morte e alianças com o Império (cf. Os 5,13; 7,11; 8,9), em um ir e vir sem rumo que foi corroendo as forças da nação até chegar ao seu final (cf. Os 5,12; 7,9; 8,8). Isso sem falar da violência que rasgou ventres de mulheres grávidas (cf. Os 14,1) e tirou a vida de crianças de peito (cf. Os 9,11-14).

Enfim, a profecia de Oseias continua atualíssima, quando ele diz: “O meu povo está sendo matado por falta de conhecimento” (Os 4,6). O coronavírus mata, mas a ignorância mata mais. A ignorância gera o caos, a sabedoria não. Os fascistas no poder matariam menos se não encontrassem no meio do povo pequenos fascistas ignorantes, egoístas, estúpidos, irresponsáveis e, em última instância, criminosos também.[2]

05/01/2021

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – Palavra Ética na TVC-BH: Salvar vidas na Pandemia e defesa dos Geraizeiros do norte de MG-27/6/2020

2 - Palavra Ética na TVC-BH: Quarentena para salvar vidas, mineração em Ibirité/MG, não; Quilombo Braço

3 - Frei Gilvander: "Salvar vidas agora, antes que seja tarde!" - Na luta por direitos - 16/4/2020

4 - Quarentena para salvar vidas/2a Parte/Frei Gilvander/Rádio Independente FM 104,9/Ichu/BA- 07/4/2020

5 - Quarentena para salvar vidas - Frei Gilvander/ Rádio Viva Brasil FM - Três Corações, MG - 31/3/2020

6 - Coronavírus: como vencer o capitalismo de desastre?

7 - CORONAVÍRUS, CLIMA E CAPITAL: a irracionalidade destrutiva do capitalismo

8 - PANDEMIA: ESTE SERÁ O FIM DO CAPITALISMO?!!!



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, que fez a revisão deste texto. Carmem é Doutora em Sociologia Política pela UENF.