terça-feira, 24 de março de 2020

Colapso. Fim do mundo? “E agora, José?”

Colapso. Fim do mundo? “E agora, José?”
Por Gilvander Moreira[1]

Colapso. Fim do mundo? “E agora, José?”

Em plena quaresma, tempo de 40 dias para conversão pessoal, social, ecológica, social, política, econômica e religiosa, de 2020, estamos em casa, “forçadamente”, em quarentena, na esperança de impedirmos o avanço avassalador do coronavírus, que já matou mais de 10 mil pessoas e infectou outras 250 mil em vários países com a doença COVID-19. Se não for interrompido o contágio comunitário, esse vírus poderá matar milhões de seres humanos no Brasil e em muitos países. Uma crise sem precedentes na história da humanidade chegou com o colapso das condições de vida. Uma guerra biológica - uso de agentes biológicos como arma – em todo o mundo? O medo da morte toma conta de muitas pessoas. Outras, cegadas e em atitude estúpida, ignoram a guerra que já está em território brasileiro, com esse inimigo invisível, mas avassalador: o coronavírus. No Brasil, um país desgovernado por fascistas e estúpidos, o “governo” federal, idolatrando a manutenção de lucros e acumulação de capital de grandes empresas, “para tentar salvar a economia de depressão”, está postergando tomar medidas urgentes que poderiam impedir milhares de mortes. Atitude infame! Futuramente, as autoridades que deveriam tomar decisões políticas para salvar vidas e não tomam por mesquinhos interesses, serão julgadas por crimes de lesa-pátria.
Tudo nos leva a pensar que entrou em colapso o modelo de sociedade capitalista, individualista, consumista, competidora, egocêntrica, narcisista e devastadora da natureza. No mundo, atualmente, estão em curso 378 guerras contra a vida humana e a natureza. Por meio do agronegócio com monoculturas e grandes mineradoras, o mercado idolatrado segue fazendo guerra contra a natureza (a mãe terra, a irmã água, os biomas, toda a biodiversidade), arrasando o meio ambiente. Como dragão do Apocalipse, as grandes mineradoras seguem apunhalando as entranhas da mãe Terra. Chegou o fim do mundo capitalista neoliberal e neocolonial. É momento de pensar profundamente, refletir e converter radicalmente nosso modo de viver, de conviver e de nos relacionar com a mãe Terra, com a irmã água e todos os seres vivos da natureza. A natureza está gritando: “Respeite-me! Se vocês que se dizem humanos continuarem violentando e devastando todas as condições de vida no Planeta Terra, saibam que a espécie humana será extinta assim como foram exterminados os dinossauros e outros”. Diante de massacre de galileus, ordenado pelo governador Pilatos e diante de uma tragédia criminosa (queda da torre de Soloé), Jesus Cristo analisou a situação gravíssima e alertou: “Se vocês não se converterem, vão morrer todos” (Lucas 13,3.5). Por meio da parábola da figueira estéril “há três anos” (Lucas 13,6-9), Jesus propôs seguirmos a sabedoria do camponês: “Senhor, vou cavar em volta da figueira e adubar. Quem sabe, no futuro ela dará fruto!” (Lucas 13,8-9). Cuidar da mãe terra, nossa mãe, eis o caminho para voltarmos a viver e conviver com dignidade.
As cidades grandes se tornaram venenosas com excesso de poluição de vários tipos. O médico italiano Antônio Lupo diz que o coronavírus, na Itália, está tendo maior contágio nas cidades grandes onde a poluição é maior. Diz ele: “Na poeira invisível da poluição o vírus segue contagiando as pessoas”. Continuar vivendo nas grandes cidades será continuar no corredor da morte. O povo deve viver espalhado por todo o território e não amontoado nas grandes cidades. As cidades devem ser pequenas, onde os valores comunitários prevalecem e não o individualismo e a competição das grandes cidades.
A ambientalista antiglobalização Vandana Shiva pondera: “A natureza encolhe à medida que o capital cresce. O crescimento do mercado não pode resolver a própria crise que ele cria. Ou teremos um futuro em que as mulheres liderem o caminho para fazer as pazes com a Terra ou não teremos um futuro humano". Ou seja, não basta pensar que após superarmos a contaminação comunitária do coronavírus, oxalá, nos próximos meses e com um baixo número de mortos, poderemos, depois, voltar a viver do mesmo jeito e fazer o mesmo que estávamos fazendo até agora. Insistir em “mais do mesmo” será de fato galopar rumo à extinção da espécie humana sobre o Planeta Terra que, sem nós, poderá pouco a pouco se revitalizar e cuidar das outras espécies que sobreviverem ao holocausto que o sistema capitalista está impondo à espécie humana.
Obcecados por acumular capital, sob a forma de dízimo, esmola e ofertas, muitos depravados pastores e padres promovem o divórcio da fé cristã com a realidade sociopolítica e ambiental, dão ênfase exclusivamente na espiritualização da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, teimando, assim, em amputar a dimensão social da mensagem bíblica. Desse modo, cultivam analfabetismo político que contribui para eleger pessoas que praticam a necropolítica, a exemplo daqueles que, como o atual presidente da República, defende e justifica a tortura, a violência e a morte. E, pior, induzem o povo a ter uma visão idolátrica de Deus que leva as pessoas a ‘só orar’, ‘só louvar’ e a pensar de forma resignada que “só Deus pode nos livrar dessa tragédia”. Ignoram a orientação do apóstolo Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios: “sejamos cooperadores de Deus” (1Co 3,9). O Deus da vida só tem o poder do amor. Quem ama deixa a pessoa amada livre. Deus propõe, mas não se impõe. Jamais Deus – mistério de amor - vai agir de forma mágica atropelando a natureza e a condição humana. O Deus da vida age, sim, por meio de nós, de forma encarnada e comprometida com os desafios da história. A Bíblia nos apresenta várias situações em que o povo de Deus, conhecendo o perigo que se aproximava, agiu, guiado pela luz divina. Avisado sobre a iminência de um dilúvio, Noé construiu a arca e acolheu nela um casal de todas as espécies. Assim, Noé se tornou um dos pais da ecologia integral. Diante dos sinais de que uma grave seca se instalaria em toda a região do Egito, José armazenou alimentos. Sabendo do Decreto do rei Herodes, que determinava matar toda criança de dois anos para baixo, José e Maria, pai e mãe de Jesus, bem que poderiam ter ficado no mesmo lugar, mas fugiram para o Egito, para salvar o menino Jesus da morte.
No 4º domingo da quaresma, dia 22/03/2020, o Evangelho lido nas missas não presenciais foi João 9,1-41 – sexto sinal -, que narra Jesus curando um cego “de nascença”. Cegado e acostumado ao sistema, parte do povo não reconhecia o jovem que passou a enxergar, só o via enquanto pedinte (Cf. João 9,8). Após ter sido curado por Jesus, o cego foi interrogado pelos fariseus e, de cabeça erguida, por falar a verdade reconhecendo Jesus como profeta, foi perseguido e expulso da sinagoga pelos chefes religiosos (Cf. João 9,13-17.24-34). Ao saber que o cego que passou a enxergar tinha sido expulso, Jesus foi ao encontro dele e viu que ele estava firme para se tornar discípulo do mestre Galileu. No final da narrativa, o Evangelho termina afirmando que cego mesmo era as lideranças do poder religioso e quem passa a enxergar são as pessoas excluídas por um sistema de morte, as que seguem o ensinamento de Jesus Cristo. Por curar, Jesus também foi perseguido até a condenação a pena de morte, mas ressuscitou e está vivo em nosso meio. Em torno dos anos 80 do I século, era comum à Comunidade Judaica o poder de, na sinagoga, interrogar, julgar e até expulsar seus membros (João 9,13.18.22.34). A Sinagoga tinha uma assistência social que ajudava os cegos, as viúvas e os órfãos, mas com a condição que fossem “judeus”. A sinagoga definia quem era “justo” e quem era “pecador”. Os judeus, após a destruição de Jerusalém no ano 70 do I século, chegaram a um acordo com os romanos imperialistas: o judeu que se filiasse a uma sinagoga e nela pagasse o imposto teria seus direitos reconhecidos pelo Império Romano. Quem não se adequasse ao sistema religioso da época era excluído. O pai e a mãe do cego curado por Jesus também foram investigados pelos chefes do poder religioso (Cf. João 9,18-230). Se os pais do cego testemunhassem confirmando que Jesus havia curado a cegueira do filho, eles seriam expulsos da sinagoga e excluídos. Por isso, não puderam dizer a verdade para as autoridades.
Para Jesus Cristo a cegueira “dá oportunidade para a ação de Deus” (Cf. João 9,3). “Temos que realizar as obras de Deus já, enquanto é dia, pois a noite está chegando e ninguém mais poderá trabalhar” (João 9,4), alerta Jesus. Por que fazer ver – gerar conhecimento que liberta - incomoda tanto? Por que o povo é condenado a sobreviver cegado? Quem é verdadeiramente cego: quem assume o caminho da fé e da vida, mesmo fora dos esquemas estabelecidos ou quem prefere a comodidade das instituições e a garantia do poder? Um cego que passa a enxergar estremece o status quo, subverte muita coisa. Ver/conhecer a partir das vítimas é algo revolucionário. Quem passa a ver não precisa mais de esmolas e adquire autonomia. O pior cego não é apenas o que não quer ver, mas aquele que impede os outros de ver, isto é, o pior cego é o que coloca uma venda nos olhos dos outros. Na sociedade capitalista, os arautos do desenvolvimento e do progresso econômico ilimitado, via ideologia dominante e fake news, colocam uma venda nos olhos do povo. Quem, de cabeça erguida, questiona esse sistema de morte que está levando ao Apocalipse da espécie humana, é expulso e excluído do sistema.
No livro Ensaio sobre a cegueira, de 1995, José Saramago, em trezentas páginas, convida-nos a experimentar durante a leitura, sob intenso sofrimento e angústia, que não somos bons e que dói muito reconhecer que não somos bons e que estamos sobrevivendo como cegos. “Estou cego, estou cego, repetia com desespero enquanto o ajudavam a sair do carro, e as lágrimas, rompendo, tornaram mais brilhantes os olhos que ele dizia estarem mortos”. Um motorista parado no semáforosubitamente descobre que está cego. Assim Saramago inicia o romance da história de uma epidemia de cegueira que atingiu todas as pessoas em uma cidade. A convivência social se tornou um caos, com pessoas isoladas e abandonadas à própria sorte. Na cidade em caos, destruição humana campeia. Todos cegos – cegados, melhor dizendo – se batem pela sobrevivência imediata. No desespero, os traços de humanidade são aniquilados.
Já em outra dimensão, José Saramago não está mais entre nós para ver o colapso que ocorre agora no mundo com o coronavírus matando milhares de pessoas e impondo “toque de recolher” em todos os países. Na Itália, país 27 vezes menor que o Brasil, sem cidade com mais de quatro milhões de habitantes, está morrendo mais gente também porque a privatização do sistema de saúde levou à diminuição e ao sucateamento do sistema de saúde do país.
Enfim, o colapso que a pandemia de coronavírus causou no mundo demonstra inequivocamente que se não o fim de todos os mundos chegou, pelo menos o fim do mundo moderno capitalista neocolonial chegou para ficar. Não será mais possível insistir em “mais do mesmo”. Com o poeta Drumond, perguntamos “E agora, José?” Melhor passar a palavra aos povos originários (indígenas) e aos povos tradicionais (quilombolas, geraizeiros, vazanteiros ...) e termos a humildade de aprender com eles a reinventar o jeito de viver e conviver.
Em tempo: para o povo brasileiro não morrer de fome e nem ser forçado a saquear todos os armazéns em busca de comida, o governo federal precisa garantir já renda básica de emergência mensal no valor mínimo de R$300 reais por pessoa para as 77 milhões de pessoas mais pobres do Brasil - aquelas que têm renda familiar inferior a 3 salários mínimos[2].

24/03/2020: 40º aniversário do martírio de Dom Oscar Romero, assassinado dia 24/04/1980, enquanto celebrava uma missa. Foi metralhado pela ditadura militar-civil-empresarial em El Salvador, imposta a mando do Império dos Estados Unidos.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Palavra Ética TVC/BH: Davi Kapenawa, xamã do povo yanomami. Igrejas X Mineração. 02/3/2019



2 - Mirian, da Bíblia, 12 anos, está na Ocupação Vitória, em BH. C/ Mirian e Davi, venceremos. 23/05/15



3 - Famílias do Acampamento Zequinha, Bicas/MG, vivem da agroecologia. Despejo, NÃO! Vídeo 3 - 26/1/2020



4 - Palavra Ética na TVC/BH: Agroecologia na XXI Romaria em MG e Quilombo do Baú Araçuaí. 29/9/2018



5 - Do Agrotóxico para a Agroecologia/1ª Pré-Romaria da XXI Romaria/Águas e Terra/MG/Arcos/23/6/2018



6 - Assentamento Pastorinhas - Agroecologia - www.assentamentopastorinhas.blogspot.com - 16/04/2012







[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Gratidão a Carmem Imaculada Brito e a Nádia Aparecida Sene Oliveira que fizeram a revisão deste texto.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Nota de frei Gilvander: como se comportar e o que fazer em tempos de coronavírus?


Nota de frei Gilvander: como se comportar e o que fazer em tempos de coronavírus?

Foto: Divulgação / Rede virtual

Como se comportar e o que fazer em tempos de coronavírus? Peço licença para lhe dirigir algumas palavras.  Quem fala aqui é frei Gilvander Moreira, frei e padre da Ordem dos Carmelitas. Como agente de pastoral comprometido com a luta em defesa da dignidade humana e por todos os direitos humanos fundamentais, estou gravando este áudio na tarde do dia 18/03/2020. Resolvi gravar este áudio, porque penso e sinto que todas as pessoas e, principalmente as lideranças, têm o dever de contribuir para a superação da noite escura da pandemia do Coronavírus, a COVI 19. Já passei por três pneumonias e sei o que é contrair broncopneumonia e o risco é pior agora, com o coronavírus, ainda sem vacina e sem remédio para curá-lo. Orar faz bem, mas não basta orar. A Bíblia nos apresenta várias situações em que o povo de Deus, conhecendo o perigo que se aproximava, agiu, guiado pela luz divina. Assim foi também com José e Maria: sabendo do Decreto do rei Herodes, que determinava matar toda criança de 2 anos para baixo, bem que poderiam ter ficado no mesmo lugar, mas partiram para o Egito, fugindo da possibilidade de o menino Jesus ser morto. O apóstolo Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios nos orienta dizendo: “sejamos cooperadores de Deus” (1Co 3,9).  
Todo o povo brasileiro precisa levar a sério as orientações de cientistas, médicos e órgãos da área de saúde pública que insistem, nas seguintes recomendações até superarmos a pandemia do coronavírus:
 - O necessário e sensato é mantermos distância de pelo menos 2 metros entre as pessoas.
- Não cumprimentar ninguém pegando na mão, não abraçar e nem beijar.
- Lavar as mãos com frequência, e corretamente, com água e sabão, cuja eficiência é maior, e na impossibilidade de lavar com água e sabão várias vezes ao dia, usar álcool em gel; na ausência do álcool em gel e da água com sabão, pelo menos higienizar as mãos com álcool comum.
- Não levar as mãos ao rosto.
- Manter-se hidratado e alimentar-se bem, para elevar a imunidade e a resistência corporal.
- Ficar em casa. Só sair de casa em caso de extrema necessidade.
- Ao chegar de viagem de qualquer lugar, fique isolado em casa durante sete dias.
- Ao chegar de viagem de lugar epidêmico, fique isolado em casa durante 14 dias.
- Cuidado especial com as pessoas idosas que devem ficar em casa para não se exporem à contaminação pelo coronavírus. Nada de visitas dos netos que estão sem aulas ou de familiares. Idosos devem evitar cuidar de crianças. Nesse tempo, a comunicação com os idosos deve ser feita por telefone, celular ou de forma virtual. Os idosos devem manter a casa arejada.
- Pessoas com câncer, HIV, diabete, tuberculose e outras doenças devem se proteger ainda mais.
- Não participar de reuniões, nem de encontros, nem de seminários, de nenhuma aglomeração de pessoas. Muitas igrejas já suspenderam a celebração de missas e cultos, o que é correto e necessário.
Manter o distanciamento e o isolamento social são posturas necessárias e vitais, porque o remédio para evitar contrair a COVID-19 é interrompermos o contágio comunitário, que acontece em uma progressão maior do que a geométrica: 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1024, 2048, 4096, 8.192, 16.384, 32.768, 65.536, 131.072, 262.144, 424.288, 1.048.576 e assim por diante, em poucos dias e semanas. O jeito para impedirmos uma mortandade de irmãos e irmãs nossos é interrompermos o ciclo do contágio. E quanto antes houver a paralisação completa da circulação de pessoas – com distanciamento e isolamento social -, exceto quem tiver extrema necessidade, menos impacto teremos na atividade econômica do país e mais pessoas serão salvas. É preciso ter consciência de que a suspensão das aulas não significa férias; nada de passeios em shoppings, viagens, lanhouses... As famílias bem que poderiam aproveitar esse tempo em casa para conversar mais uns com os outros, ler bons livros, assistir a bons filmes, brincar em casa, estreitar laços.
No Brasil, com sistema capitalista causando uma imensa desigualdade social, as condições de prevenção e tratamento não são iguais. Se o coronavírus se espalhar muito, para a maioria do povo brasileiro que depende do SUS, se adquirir pneumonia grave, poderá morrer sem ser tratado em um hospital. Grave é que para a classe trabalhadora brasileira, não trabalhar é sinônimo de não poder comer. 
Exigimos que o Governo ofereça um auxílio econômico mensal e que as empresas não demitam até passar a pandemia do coronavírus.
Exigimos medidas socioeconômicas do Estado que promovam a distribuição da riqueza e da renda, pois a ganância por lucros e privilégios de uma minoria não pode estar acima da vida do povo. 
Exigimos que nenhuma família seja despejada de sua moradia, que nenhuma comunidade seja despejada de seu território, que sejam, portanto, suspensas todas as ordens de reintegração de posse. Nenhuma pessoa, nenhuma família pode ser colocada na rua ou à margem de estradas, ao relento, ficando vulnerável ao contágio do Coronavírus.
Exigimos atenção e assistência às pessoas em situação de rua, para que sejam acolhidas em abrigos improvisados nos ginásios de esporte, nas escolas, entre outros espaços adequados e lhes sejam oferecidas higienização e alimentação adequadas.
Exigimos também que os hospitais particulares e os planos de saúde também acolham e tratem todas as pessoas que precisarem de tratamento e internação. Hospital que se negar a acolher e tratar quem precisa estará omitindo socorro, o que é crime. Os hospitais privados e os planos de saúde ganham muito dinheiro ao prestarem serviço público e tem a obrigação de não negar atendimento.
Repudiamos o aumento de preço de itens de primeira necessidade para prevenção do contágio do coronavírus, como o álcool gel.
Alertamos também para o fato de que comprar mantimentos para estocar, como têm feito algumas pessoas com condições financeiras para tal, além de ser uma atitude extremamente egoísta, fará com que o preço dos alimentos aumente, dificultando o acesso para os empobrecidos.
Exigimos que os governos distribuam mantimentos, em especial para desempregados, trabalhadores informais e pessoas em situação de rua. O Estado e a sociedade devem organizar medidas eficazes de atendimento a pessoas em situação rua (que não tem casa), para mulheres da batalha em situação de prostituição, para os presos que estão em prisões superlotadas. Como cuidar de todos que não têm casa? Como proteger os caminhoneiros, os garis, os/as profissionais da saúde e todos/as os/as trabalhadores/as dos serviços essenciais para a manutenção da vida do povo?
É urgente defendermos de forma aguerrida o fortalecimento do SUS. Exigimos a revogação da Emenda Constitucional 95 que congelou por 20 anos os investimentos em saúde e educação.
Defendemos a realização de Auditória Cidadã da Dívida pública e que o Governo pare de pagar 1 trilhão de reais por ano (quase 50% do orçamento) em juros e amortização dessa famigerada dívida pública. Quantos hospitais poderiam ser construídos com esse dinheiro? Quantos profissionais de saúde poderiam ser contratados? Como seria a expansão do coronavírus se esses recursos fossem investidos em prevenção? Ajudaria muito se continuassem atuando no SUS brasileiro os 10 mil médicos cubanos mandados embora por Bolsonaro. Que os médicos cubanos sejam chamados com urgência para ajudar no socorro ao povo brasileiro.
O coronavírus está demonstrando o que a classe dominante por egoísmo e ganância insiste em negar. Estado mínimo só beneficia a classe dominante, aumenta assustadoramente a desigualdade social e é assassino, pois sacrificará os pobres que contraírem broncopneumonia pela COVID-19, porque o Sistema Único de Saúde (SUS) sucateado não terá condições de atendê-los. Aliás, o SUS não é único, pois tem outro poderoso sistema: o privado, que mercantiliza a saúde das pessoas para acumular capital para grandes empresas do setor de saúde privada. O coronavírus está confirmando também a análise de Karl Marx segundo a qual na sociedade capitalista há luta de classes: classe dominante (detentora dos meios de produção e do capital) superexplorando a classe trabalhadora. Se os trabalhadores não vão trabalhar, a produção e a economia do país desabam.
Quanto antes nos distanciarmos uns dos outros fisicamente, até passar a pandemia do coronavírus, mais rápido poderemos nos abraçar para comemorarmos a superação dessa pandemia. Estamos todos no mesmo barco. Solidariedade libertadora e humanidade se tornaram condições sine qua non para continuarmos vivendo na nossa única Casa Comum, o planeta Terra.
Oxalá possamos aprender lições importantes com essa disseminação acelerada do Coronavírus, que nos alerta para a necessidade da empatia, da defesa da vida, ainda que muitos, em seu egoísmo, em sua ignorância, incapazes que são de pensar no bem comum, queiram priorizar os lucros e a acumulação de capital. 
Que a luz e a força divina nos guiem, nos protejam e nos inspirem  na prática de todas as cautelas e lutas necessárias em defesa de uma vida digna para todos e todas e para toda a criação,   para, assim, construirmos uma sociedade justa, solidária e sustentável ecologicamente. Enfrentemos essa noite escura de cabeça erguida, com muito amor no coração e com esperança, fazendo nossa parte, pois o Deus da vida está conosco nos abençoando. Fiquemos sem abraço, sem aperto de mão e sem beijos até superarmos a pandemia do coronavírus para que possamos nos abraçar depois. Frei Gilvander Moreira.


Obs.: Segue, abaixo, a mesma Nota, em vídeo.



terça-feira, 17 de março de 2020

Minerar no Parque Alto Cariri deixará Salto da Divisa, MG, sem água.

Minerar no Parque Alto Cariri deixará Salto da Divisa, MG, sem água. 
Por Gilvander Moreira[1]

Comunidade Tradicional Agroextrativista e Artesã da Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa, MG, dia 31/12/2016. Fotos: Divulgação / CPT/MG.

Na cidade de Salto da Divisa, no Baixo Jequitinhonha, MG, e em frente ao portão de entrada da Barragem da Usina Hidrelétrica da empresa Itapebi Geração de Energia S.A, que atinge vários municípios em Minas Gerais e na Bahia, dia 14 de março de 2020, aconteceu a Romaria das Águas e da Terra da Diocese de Almenara, com o tema: “Terra e Água, santuários de vida”; e o lema: “Jequitinhonha: ver, sentir e cuidar”. Durante a Romaria, com a participação de centenas de romeiros e romeiras de vários municípios do Baixo Jequitinhonha, várias denúncias foram feitas.
O povo do município de Salto da Divisa está correndo o risco de ficar sem água, por causa da exploração minerária da mineradora Nacional de Grafite, que está planejando minerar dentro do Parque Estadual Alto Cariri, criado em 2008, onde existem as únicas 16 nascentes do município, que irrigam o Rio Piabanha, que abastece o Assentamento Dom Luciano Mendes e toda a população que ainda sobrevive na zona rural do município. A Comunidade Camponesa Agroextrativista e Artesã da Cabeceira do Piabanha, constituída por 12 famílias de camponeses posseiros há 66 anos na cabeceira do rio Piabanha, no município de Salto da Divisa, dentro do Parque Estadual Alto do Cariri, já reconhecida pelo Estado de Minas Gerais, resistiu na terra, nos últimos cinco anos, sob ameaças de fazendeiros, da mineradora Nacional de Grafite e pelo projeto de Lei 1480/2015, do deputado estadual Carlos Pimenta (PDT), que busca alterar os limites do Parque Estadual Alto Cariri. Se for aprovado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o PL 1480/2015 alterará os limites do Parque Estadual Alto do Cariri para beneficiar a mineradora Nacional de Grafite, que pretende minerar dentro do Parque que está parcialmente no município de Salto da Divisa e é onde estão as nascentes do rio Piabanha, que passa por várias fazendas e margeia o Assentamento Dom Luciano Mendes, além de gerar água para a mineradora Nacional de Grafite, que está pouco acima do Assentamento Dom Luciano. As nascentes da Cabeceira do Piabanha são as únicas nascentes que ainda resistem no município de Salto da Divisa. Se os deputados de Minas Gerais aprovarem na ALMG o PL 1480/2015 abrindo espaço legal para mineradora Nacional de Grafite minerar dentro do Parque Alto Cariri, toda a população do município de Salto da Divisa ficará sem água, porque minerar na Cabeceira do Piabanha dizimará todas as 16 nascentes de água classe especial que jorram dali.

 

Algumas famílias da Comunidade Tradicional da Cabeceira do Piabanha, bombardeadas por muita pressão e ameaçadas, aceitaram “contra a própria vontade”, proposta de acordo forçado pelo juízo da Vara Agrária do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para deixarem a área, mas sempre dizem: “Nascemos na Cabeceira do Piabanha e ali será sempre nossa terra”. No dia 26 de fevereiro de 2020, três famílias saíram amarguradas de dentro do Parque Estadual Alto Cariri e, em seguida, o fazendeiro, protagonista dos conflitos, colocou gado dentro do parque. Como pode TJMG conceder reintegração de posse para fazendeiro dentro de um parque estadual? Como pode o Governo de Minas Gerais não cuidar do Parque Estadual Alto Cariri? É injustiça que clama aos céus retirar famílias tradicionais que nasceram na Cabeceira do Piabanha, transformado em Parque em 2008, deixar fazendeiro colocar gado dentro do Parque e, pior, aprovar na ALMG o PL 1480/2015 para viabilizar mineração dentro do Parque Estadual Alto Cariri! Um fazendeiro de Salto da Divisa, dia 10 de outubro de 2015, promoveu emboscada a três agentes de pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), quando voltavam da Comunidade Camponesa Agroextrativista e Artesã da Cabeceira do Piabanha.
No ano de 2016, Assentados do Assentamento Dom Luciano já denunciavam: “Está difícil por causa da falta de chuva e também porque a mineradora Nacional de Grafite está acabando com a água do rio Piabanha com ferrugem e rejeitos de mineração de grafite”. De fato, em outubro de 2016, a produção estava fraquíssima por causa da falta de chuva e também porque a mineradora Nacional de Grafite estava represando a pouca água do rio Piabanha e as 25 famílias do PA Dom Luciano e as fazendas a jusante ficavam sem água. Um vaqueiro de uma das fazendas de Salto da Divisa me informou também em 2016: “O gado bebe água na cocheira em 13 tanques com sistema de boias. Captamos água com uma bomba no rio Piabanha e distribuímos para uma rede de canalização de 160 mil metros de canos de água em toda a fazenda. Captamos cerca de 9 mil litros d’água por dia. Água para beber nós compramos na COPASA, na cidade de Salto da Divisa”.



O município de Salto da Divisa tem histórico de devastação de suas matas. Atualmente o município não tem nenhuma comunidade rural, exceto os Assentamentos Dom Luciano Mendes e Irmã Geraldinha, a Comunidade Quilombola Braço Forte e famílias que ainda resistem em ilhas do violentado Rio Jequitinhonha. Salto da Divisa foi transformado em monocultura do capim para criação de gado. Em Salto da Divisa e em todo o Baixo Jequitinhonha, os fazendeiros colocavam os empreiteiros para derrubar a mata e transformar em pastagem de capim colonião. Os agregados podiam fazer uma pequena roça para a subsistência – mandioca, banana, milho, abóbora, feijão, batata doce, arroz e alguma verdura -, mas no ano seguinte não podiam replantar. Aldemir Silva Pinto, Sem Terra assentado no Assentamento Dom Luciano Mendes, resgata a história assim: “Os agregados podiam criar galinha e porcos, mas todos deviam estar aramados, isto é, com um arame no focinho para não fuçar o capim. O capim não podia ser tocado. Ai de quem arrancasse um pé de capim. Só capim deveria ficar. A gente fazia cerca apenas na frente da roça. O excesso de produção a gente vendia na feira na cidade de Salto da Divisa. Quando os fazendeiros precisavam, eles compravam feijão e arroz dos agregados. Como toda a região era mata, os fazendeiros colocavam os trabalhadores para abrir a mata pra frente. Naquela época chovia muito. A COBRAS era uma serraria que tinha no Salto da Divisa, que serrava madeira e vendia pra fora. A COBRAS abriu estrada para carrear a madeira. Com seis juntas de bois, cansei de arrastar madeira pra fora da mata até uma praça onde os caminhões pudessem pegar a madeira. Primeiro, se jogava a madeira em cima dos caminhões no braço, depois com uma catraca. Só na fazenda Monte Cristo – que tinha 19 mil hectares -, ao longo do rio Piabanha, de um lado e do outro, até a cabeceira, havia 366 famílias que moravam como agregadas. Esse processo foi até acabar com as matas e virar tudo capim. Era a época dos coronéis. Se eles dissessem: ‘Você não deve passar mais aqui’ tinha que ser obedecido. Eles iam pisando devagar, encurtando o jeito de o sujeito viver, encurtando o direito de fazer roça e quando eles chamavam para trabalhar para eles tinha que ir. Se não fosse, era motivo para ser expulso. O gerente falava na cara. Iam azucrinando o trabalhador até ele sair. Colocavam o gado para comer a roça. Cerca era de madeira. Não tinha arame ainda. Não adiantava plantar porque o gado comia tudo. Muita gente daqui foi embora para o Pará, porque se ouvia que era fácil conquistar terra lá. Eu fui o último dos 366 chefes de família a sair. A gente criava um jegue para carregar carga. Eles davam uma vaca para a gente amansar e tirar leite. Se alguém fizesse um crime e chegasse aqui, o coronel Tinô dizia: ‘Entre lá pra dentro’. E ninguém mexia com a pessoa. Aqui era um fim de mundo. Tinha chegada, mas não tinha saída”.
Na Romaria das Águas e da Terra da Diocese de Almenara, também foi denunciado que a empresa Itapebi Geração de Energia S.A. continua violentando todo o povo de Salto da Divisa, porque desde a construção da barragem de Itapebi, em 1997, ainda não indenizou de forma justa centenas de pescadores, de lavadeiras, de extratores de pedras e de todo o povo da cidade de Salto da Divisa que ficou sem poder desfrutar das águas do Rio Jequitinhonha, que foi apunhalado de morte por mais essa barragem que atinge quatro municípios.
Enfim, o povo de Salto da Divisa já foi violentado por coronéis, pela empresa Itapebi com a construção da barragem, e agora tem sobre si uma nova espada de Dâmocles: a mineradora Nacional de Grafite com seus interesses em minerar dentro do Parque Estadual Alto Cariri. Basta de mineração devastadora!

17/3/2020.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Em defesa da Comunidade Tradicional da Cabeceira do Piabanha/Salto da Divisa/MG 2a parte. 08/06/16



2 - 76 anos, Sr. Manoel, 63 anos com 12 famílias tradicionais/Cabeceira do Piabanha/MG. 08 06 16



3 - Posseiros da Cabeceira do Piabanha/MG lutam pelos seus direitos, na ALMG: ameaças, não!



4 - Ameaças à Comunidade Tradicional da Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa, MG, e a CPT. 08/06/16



5 - Mineradora Grafite planeja minerar Parque Alto Cariri e fazendeiros ameaçam posseiros. 12/07/16



6 - Comunidade Tradicional da Cabeceira do Piabanha, em Salto da Divisa/MG. Respeito, exigimos! 08/06/16



- Atingidos pela barragem de Itapebi em Salto da Divisa, MG: Irmã Geraldinha. 12/08/14



8 - Promotor do MP/MG, de Jacinto, MG: compromisso com os atingidos pela Barragem de Itapebi. 08/06/16



9 - Pescadores de Salto da Divisa, MG, exigem seus direitos pisados por empresas e barragem. 08/06 /16



10 - Vazanteiros de Salto da Divisa, MG, lutam pelos seus direitos pisados pela barragem. 08/06/16



11- Pedreiros de Salto da Divisa, MG, lutam pelos seus direitos pisados pela barragem. 08/06/16



12 - Em Salto da Divisa, MG, casas desabando pela barragem de Itapebi e extratores pisados. 08/06/16


13 - Lavadeiras de Salto da Divisa, MG, exigem seus direitos pisados pela Itapebi com barragem. 08/06/16


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

terça-feira, 10 de março de 2020

Vale: inferno na vida do povo e da natureza?


Vale: inferno na vida do povo e da natureza?
Por Gilvander Moreira[1]


A realidade demonstra que a mineradora Vale mente, engana, pressiona quem se opõe aos seus interesses, faz propaganda enganosa, coopta lideranças e políticos, coloca o Estado de joelhos diante dos seus interesses de acumulação de capital e, assim, a Vale tem sido inferno para o povo e para a natureza. Dia 05 de março de 2020, aconteceu em Catas Altas, MG, audiência coordenada por representante da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental (SEMAD), do Governo de Minas Gerais. Tinha sido anunciado que a audiência seria para discutir a reabertura das Minas de Tamanduá e Almas, da mineradora Vale, mas, estranhamente, a Vale apresentou projeto de ampliação da mina de São Luiz, do Complexo de Fazendão. A Vale pretende expandir a cratera da mina de São Luiz, que passaria dos atuais 135,71 hectares para 215,67 hectares, um aumento de 79,96 hectares.
A audiência foi um circo de horrores. A Vale montou um circo com grande tenda, com centenas de cadeiras alugadas; na entrada, moças do cerimonial colhiam assinaturas e nomes das pessoas; seguranças privados revistavam as pessoas, com detector de metais, inclusive; mesa com saquinhos de lanche para quem quisesse; mesa com copos de água para quem quisesse; um grande número de policiais militares e seguranças privados acompanharam a audiência que, como em um “circo”, foi, de fato, um espetáculo de horrores. Por que e para que tantos policiais e seguranças privados? Se fosse projeto para gerar vida para a comunidade, não precisava desse temor. Entretanto, como já sabem que é projeto de morte que vão tentar empurrar goela abaixo do povo, convocam o braço repressor do Estado para inibir e controlar a imensa indignação e revolta que as pessoas da comunidade sentem. Eram uns quinhentos participantes, entre os quais uns trezentos funcionários da Vale trazidos com o propósito de coibir questionamentos ao projeto de ampliação de mina. Uniformizados, sentaram à frente de todos. Muitos pareciam não saber que: a) o uniforme verde da Vale está com sangue; b) funcionam como uma máquina de guerra contra o povo, a natureza, todos os seres vivos e as próximas gerações, pois vão deixando terra arrasada por onde passam.
Sob pagamento da Vale, a empresa Total Ambiente apresentou estudos de impacto ambiental afirmando nas entrelinhas que, de fato, a ampliação da mina de São Luiz causará uma série de impactos socioambientais irreversíveis: “na área foram cadastradas 67 nascentes”, que serão secadas certamente; “Na área há sete cavernas”, que serão destruídas com anuência cúmplice do CECAV/ICMBio; “O lençol freático será rebaixado”, o que secará inúmeras nascentes na região e causará falta d’água. E  nesse rol de mentiras alardeadas, alegam que tudo será mitigado e “a Vale monitorará ...” Dá nojo ouvir os/as diretores/ras da Vale tentarem defender o indefensável. Nem eles acreditam no que estão falando. Falam, porque são em-pregados e para receber seus salários e não serem demitidos; atuam como porta-vozes de um projeto de morte. Não sentem vergonha de trabalharem em uma empresa assassina? A consciência dos diretores da Vale não os acusa quando colocam a cabeça no travesseiro? É justo ganhar um salário que custa o sangue do povo e a degradação da natureza?
Ao manterem em funcionamento uma máquina de guerra, como a Vale, estão desonrando os quase 300 mortos pelo crime/tragédia da Vale e do Estado em Mariana e em Brumadinho. Abusam da linguagem e agridem o bom senso ao dizer que “a Vale busca trabalhar em parceria com a comunidade”, que “o diálogo é o caminho”, que “o lema da Vale é a vida em primeiro lugar”. Ouvir isso é trágico e não apenas cômico, pois a realidade demonstra exatamente o contrário: que o lema da Vale é o lucro e a acumulação de capital a qualquer custo, que não dialoga, mas submete as comunidades a intermináveis violências. Não bastam as quase trezentas pessoas assassinadas pela Vale e pelo Estado em Mariana e Brumadinho, sepultadas vivas? Até quando vão insistir em “mais do mesmo”? Será preciso matar 10 mil, 50 mil? Minerarão até não ter mais nem uma gota d’água para beber nem para viabilizar a exploração minerária?
É um absurdo a Vale e o Governo de Minas Gerais continuarem insistindo em ampliar mineração em Minas Gerais. Não podemos tolerar a reprodução e ampliação desse projeto de morte que só produz “terra arrasada”. Temos que discutir é a redução de 95% da mineração em Minas Gerais e no Brasil. Lutar por territórios livres de mineração não é apenas uma utopia, tornou-se uma necessidade para garantir o mínimo de condições objetivas de vida para o povo, para os seres vivos da biodiversidade e para as próximas gerações. Continuar ampliando mineração significa cuspir no rosto de todos os mártires da Vale e do Estado e pavimentar o caminho para continuar reproduzindo os crimes continuados. Em alto e bom som, várias pessoas humanizadas bradaram denunciando as ações da Vale, durante a audiência controlada: “Basta! A Vale não tem caráter”; “A Vale só mente!”; “O Povo não é capacho da Vale, que espiona o povo no Morro da Água Quente, em Catas Altas, MG"; "Tudo o que a Vale fala é mentira. A Vale está matando o povo do Morro da Água Quente, em Catas Altas"; "Vale não pode fazer em Catas Altas o que fez em Barão de Cocais: terror, expulsão de comunidades e morte”; “A Vale só mata”; "Na Vale, vi trabalhador chorando quando percebeu o que estava fazendo"; “Muitos trabalhadores da Vale estão com depressão”. Quem assistir aos vídeos da Audiência em Catas Altas, se for pessoa idônea, humanizada, concluirá que a Vale não tem o direito de seguir ampliando mineração, pois significa ampliar a devastação, os crimes e causar mortandade.
 Catas Altas é um município abençoado, munido de um patrimônio natural, paisagístico, arquitetônico e imaterial inigualável! Possui, inclusive, diversos sítios históricos e ambientais tombados e inventariados em nível federal, estadual e municipal. É lá que está grande parte da Serra do Caraça e toda a sua biodiversidade encantadora! Lá o Santuário do Caraça atesta há mais de 250 anos a dimensão espiritual da região.
Os lugares onde as mineradoras se instalam são verdadeiros paraísos naturais, culturais e arqueológicos, mas após a sua invasão, inicia-se um processo absurdo de usurpação, que sacrifica no altar do deus do mercado a dignidade humana e a dignidade da mãe terra, da irmã água, da flora, da fauna e extinguem-se as condições de vida para as próximas gerações. O crime da Vale e do Estado também foi um atentado contra o Espírito do Deus da vida. Da perspectiva bíblica e teológica, é preciso recordar que toda a criação – os seres humanos, a fauna, a flora e os biomas - é sagrada. A terra é mãe e a água é irmã. “Água, fonte de vida” foi o lema da Campanha da Fraternidade de 2004. “O Espírito de Deus está nas águas”, diz o segundo versículo da Bíblia (Gênesis 1,2). O Espírito vivificador não apenas paira sobre as águas, mas permeia e perpassa as águas. Logo, matar as nascentes, os córregos e os rios é cometer um pecado contra o Espírito Santo, pecado capital que não tem perdão. Integrantes do sistema capitalista, os megaprojetos de mineração são projetos satânicos e diabólicos, que, como o dragão do Apocalipse (Apocalipse 12), cospe fogo e devora tudo o que encontra pela frente. Antes de serem cooptadas pelo Império Romano e pelo imperador Constantino, as Primeiras Comunidades Cristãs se regiam por um Código de Ética que alertava as pessoas cristãs que trabalhar em instituições que reproduzissem o sistema escravocrata do império romano era algo imoral. Um cristão não podia, por exemplo, ser soldado e nem militar do império romano, pois estaria, na prática, reproduzindo um sistema idólatra. É ético trabalhar para uma empresa que reproduz um sistema de morte?
Tiro o chapéu para os/as militantes do MAM (Movimento Popular pela Soberania na Mineração) que não estão medindo esforços para estar ao lado dos povos que estão se levantando e metendo o ‘pé no barranco’ para resistir contra a máquina de triturar vidas das mineradoras.
Benditos os prefeitos que se negam a conceder Declaração de Conformidade para projetos minerários devastadores. Malditos os prefeitos que continuam ajoelhados diante do poderio econômico e político das mineradoras lideradas pela Vale.  Por territórios livres de mineração e da peste da ganância, seguimos lutando. Basta de minério-dependência. A vida exige respeito.

10/03/2020.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, são registros feitos durante a Audiência Pública, em Catas Altas, MG, dia 05/03/2020 para discutir projeto de ampliação de mina da Vale no município de Catas Altas.

1 - Vale mente e comete crimes também em Catas Altas, MG. Por território Livre de Mineração! Vídeo 1 - 05/03/2020.



2 - Verdades na cara da Vale. "Mineração nas minas Tamanduá e Almas/Catas Altas/MG, JAMAIS!" (Sandra Vita) - Vídeo 2 – 05/03/2020.



3 - "Povo não é capacho da Vale, que espiona o povo no Morro da Água Quente, em Catas Altas/MG". Vídeo 3 – 05/03/2020.



4 - "Em Catas Altas/MG, por mim nem mina São Luiz, da Vale, não deveria ter" (Marta de Freitas). Vídeo 4 – 05/03/2020.



5 - "Tudo o que a Vale fala é mentira. A Vale está matando o povo do Morro da Água Quente, em Catas Altas, MG" (Cláudio). Vídeo 5 – 05/03/2020.



6 - "Vale não pode fazer em Catas Altas, MG, o que fez em Barão de Cocais. Basta! Vale só mata”. Vídeo 6 – 05/03/2020.



7 - Em Catas Altas, MG, "... na Vale, chorou quando viu o que estava fazendo". Vale não tem caráter". Vídeo 7 – 05/03/2020.



8 - "A Vale faz guerra ..." "E o cuidado com nossa Casa Comum?" Catas Altas, MG. Vídeo 8 - 05/03/2020



9 - Vale, respeite a Serra do Caraça! Temos que reduzir a mineração em 95%. Catas Altas, MG. Vídeo 9 – 05/03/2020.



10 - Vale não cumpre condicionantes e não responde a perguntas das Comunidades. Catas Altas, MG. Vídeo 10 – 05/03/2020.



11 - "Vale está de olho nas nossas águas". "É muito grave o que a Vale fez em Catas Altas, MG". Vídeo 11 - 05/03/2020.









[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

terça-feira, 3 de março de 2020

“Bom” samaritano: “impuro” e “odiado” como exemplo

“Bom” samaritano: “impuro” e “odiado” como exemplo
Por Gilvander Moreira[1]


O tema da Campanha da Fraternidade 2020 – Fraternidade e Vida, Dom e Compromisso – e o Lema Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34) nos convidam a pensar e a agir tendo o “bom” samaritano como exemplo, conforme o episódio-parábola do “Bom” Samaritano (Lc 10,25-37), que apresenta um contexto histórico com muitas semelhanças com o contexto atual e demonstra como o samaritano conseguiu manter o coração aberto e mãos solidárias a partir de quem estava, segundo Teresinha de Jesus, “metade vivo, metade morto”.
O início da vida pública de Jesus Cristo foi marcado por uma grande e crescente receptividade do seu projeto (Ensinamento e Práxis) pelo povo empobrecido. A princípio, ele fascinava a todos. “As multidões acorriam para Jesus” (Lc 6,17-19), mas pouco a pouco Jesus foi aprofundando sua postura e radicalizando sua Opção pelos Pobres, marginalizados e excluídos da sociedade (Lc 4,18-19). A “lua de mel” com “gregos e troianos” - era de “paz e amor” - durou pouco. Começaram a surgir conflitos com poderosos (Lc 13,31), pois sua prática incomodava os interesses dos que viviam explorando e escravizando o povo. Jesus descobriu que precisava formar melhor seus discípulos e discípulas, pois viu que a adesão popular inicial era ‘fogo de palha’ e ‘oba oba’. Com o avanço da missão pública de Jesus, os conflitos com os poderosos da economia, da política e da religião foram aumentando gradativamente. Em seus últimos dias, os embates[2] de Jesus com as autoridades judaicas e grupos religioso-políticos renomados se intensificaram (Cf. PALLARES, 1994, p. 117).
Quem eram os samaritanos para os judeus e vice-versa? Por razões históricas, reinava entre judeus e samaritanos um grande ódio. Alguns motivos aparecem na Bíblia ao falar da infidelidade religiosa. Por exemplo, samaritanos fazem resistência à reconstrução do templo de Jerusalém, após o retorno do exílio babilônico (Cf. 2Rs 17,24-41 e Esd 4,1-5). Em Eclesiástico 50,25-26, os samaritanos são considerados “um povo estúpido”. Talvez Eclo 50,25-26 tenha influenciado o Evangelho de João (Jo 4,9), onde diz que os samaritanos não se davam bem com os judeus e Jo 8,48, onde os judeus acusam Jesus de ser samaritano e, portanto, endemoniado. Uma interpretação rabínica de Êxodo 21,14 diz expressamente que os samaritanos não são “próximos”. “Do lado judeu, a hostilidade era tão grande que nas sinagogas os samaritanos eram frequentemente malditos; os judeus rezavam a Deus para não dar a eles nenhuma parte na vida eterna, recusavam um testemunho feito por um samaritano, não aceitavam nenhum serviço deles” (FEUILLET, 1980, p. 345).
 “As relações entre os judeus e os mestiços samaritanos, que estiveram submetidas às mais diversas oscilações, tinham experimentado nos tempos de Jesus especial agravamento, depois que os samaritanos, entre os anos 6 e 9 da Era Cristã, em Jerusalém, durante uma festa da Páscoa, por volta da meia‑noite, tornaram a praça do Templo impura, esparramando aí ossadas humanas; reinava de ambas as partes ódio irreconciliável. Vê‑se então claramente que Jesus e o Evangelho de Lucas escolhem exemplos extremos” (JEREMIAS, 1976, p. 203). Segundo o historiador do primeiro século, Flávio Josefo, “os samaritanos armaram emboscadas para peregrinos que vinham às festas judaicas e o procurador Cumanus, subornado pelos samaritanos, não interveio. Assim judeus atacaram vilas samaritanas e massacraram seus habitantes” (GIUSEPPE, 1904, XX. 5,4).
Muitos acontecimentos contribuíram para piorar as relações entre samaritanos e judeus, tais como, a construção de um templo samaritano sobre o Monte Garizin no 4º século antes da Era Cristã, e que foi destruído pelos judeus sob o reinado de João Hircano em 129 antes da Era Cristã. O Monte Garizin tem quase 3 mil metros de altitude e é muito mais imponente do que o Monte Sion, onde foi construído o templo de Jerusalém. A própria questão geográfica pode ter gerado ciúmes e críticas entre judeus e samaritanos. Também azedou as relações entre samaritanos e judeus a finalização do Pentateuco Samaritano na segunda metade do 2º século antes da Era Cristã. O texto sagrado para os samaritanos se reduz ao Pentateuco (Torá), os cinco primeiros livros da Bíblia, com algumas diferenças do Pentateuco judeu-cristão. Os samaritanos recusam os demais livros da Bíblia como textos inspirados.
Esse "ódio irreconciliável" entre judeus e samaritanos foi cultivado por quase mil anos de história. É possível que tenha se iniciado após a morte do rei Davi, com a separação dos Reinos do Norte e do Sul, em 931 antes da Era Cristã, quando Roboão se tornou rei em Judá, com “duas” tribos, no sul, e Jeroboão se impôs como rei em Israel, nas “dez” tribos do norte. Esta separação foi forçada e violenta e certamente deixou muitas feridas (Cf. 1Rs 11,26-12,33). Em 722 antes da Era Cristã, o povo do Reino do Norte foi exilado para a Assíria. É provável que os judeus "sulistas" tenham cantado vitória dizendo: foram exilados, porque eram infiéis à Aliança e idólatras. A Assíria "repovoou" o norte da Palestina com pessoas das mais diversas etnias. No coração dos samaritanos nortistas pode ter ficado ressentimento. A vez dos judeus "sulistas" chegou entre 597 e 587 antes da Era Cristã, quando, após vários exílios, foram exilados para a Babilônia. Os judeus do sul sentiram na pele aquilo que já tinha se passado com os "irmãos" do norte. Depois vieram as diversas tentativas de retorno para a Palestina, terra da promessa de Javé aos povos escravizados. A volta do exílio e o processo de reconstrução foram muito complicados, porque havia resistência dos judeus e samaritanos quanto à fixação novamente na terra. É a partir desta história que se entendem os diversos atritos e agressões que se sucederam entre judeus e samaritanos.
Nos tempos do rei Herodes houve um grande crescimento econômico, à custa de uma tremenda injustiça social. Muitas terras de judeus foram expropriadas no norte da Palestina, o que gerou uma massa de desempregados urbanos no sul, com consequentes distúrbios sociais inseridos em um contexto propício para a disseminação de insegurança social.
O Samaritano apontado pela Campanha da Fraternidade de 2020 como modelo/exemplo a ser seguido era: um personagem anônimo; identificado pelo seu país de origem; estrangeiro; impuro e herege, segundo os judeus. “Está em viagem”, no mesmo movimento que o Sacerdote e o Levita; não se sabe se ele ia ou vinha de Jerusalém e este detalhe é importante: tanto o assaltado, quanto o sacerdote e o levita viajavam no mesmo sentido, de Jerusalém para Jericó, mas é possível que o samaritano estivesse viajando na direção contrária. Isto pode significar que o samaritano tinha suas responsabilidades pessoais; estava "em viagem" (de Jerusalém a Jericó?) trabalhando. Enquanto isso, o sacerdote e o levita estavam voltando de seu turno de trabalho no templo, em Jerusalém, e esta circunstância lhes daria maior disponibilidade de tempo.
Oxalá a Campanha da Fraternidade de 2020, na sua 56ª edição, nos ajude a perceber que há muitos padres, pastores e leigos assumindo, na condução de igrejas, postura de Sacerdote e Levita: insensíveis aos clamores do povo injustiçado do nosso querido Brasil. Muitas vezes, com espiritualismos, puritanismos, vida cômoda e amputando a dimensão social do Evangelho de Jesus Cristo, esses falsos pastores ficam só na “toca” dos templos religiosos e se fazem de cegos diante dos clamores dos crucificados dos nossos dramáticos dias. Entretanto, existem, graças a Deus, muitas pessoas que são consideradas ‘impuras’, ‘hereges’, ‘de fora’ dos templos, ‘comunistas’ ... que, na prática, estão sendo solidárias assim como foi o “bom” samaritano. Ah! O samaritano não fez solidariedade ingênua, assistencialista que gera dependência. O samaritano foi também profeta, pois exercitou um tipo de solidariedade que deixou brasas sobre a cabeça do sacerdote, do levita, do escriba (doutor da lei = teólogo) e, provavelmente dos podres poderes políticos, econômicos e religiosos da época.

Referências.
FEUILLET, A. “Le bom Samaritain (Luc 10,25-37). Sa signification christologique et l’universalisme de Jésus,” EspVie 90 (1980), p. 345.
GIUSEPPE, F. Antiquités Judaiques. Paris, 1904, XX. 5,4.
JEREMIAS, J. As Parábolas de JesusSão Paulo: Paulinas, 1976.
PALLARES, J. C. Dios es Puro Corazón, la misericordia de Dios en San LucasMessico, 1994.

BH, MG, 03/3/2020.
Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 - Sr. Joel Pereira Gonçalves, 100 anos nas ruas de Belo Horizonte/MG, bom samaritano. 20/4/17



2 - Palavra Ética na TVC/BH: Fernando de Gois, bom samaritano da Chacará 4 pinheiros/trecheiro. 20/06/16


3 - Fernando de Góis: de frei a Bom Samaritano de crianças a adultos na rua. (1a parte). 06/16/16


4 - Fernando de Góis: de frei a Bom Samaritano de crianças a adultos na rua (2a parte). 14/06/16


5 - Fernando de Góis: de frei a Bom Samaritano de crianças a adultos na rua (3a parte). 14/06/16


6 - Fernando de Góis: de frei a Bom Samaritano de crianças a adultos na rua (4a parte). 14/06/16


7 - Fernando de Góis: de frei a Bom Samaritano de crianças a adultos na rua (5a parte) 14/06/16






[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III
[2]  Como por exemplo: Lc 19,45-46; 20,9-26; 21,1-4; 22,2.52;  todo o capítulo 23.