terça-feira, 6 de agosto de 2019

Quem pratica a Justiça é filho/a de Deus


Quem pratica a Justiça é filho/a de Deus
Gilvander Moreira[1]

Foto: Divulgçaão / Rede Virtual.

No mês da Bíblia, em setembro, em 2019, somos convidados/as a estudar e refletir sobre e a partir da 1ª Carta de João, na Bíblia. Ao ler e estudar a 1ª Carta de João (1 Jo), faz bem termos em mente os clamores por justiça que advém dos porões da humanidade e das entranhas dos povos injustiçados. A 2ª parte da 1ª Carta de João (1 Jo 2,29-4,6) versa sobre a Justiça e afirma que quem pratica a justiça é filho/a de Deus. Esta 2ª parte está organizada em quatro partes menores, nas quais se fazem quatro exortações básicas. São elas: a) 1 Jo 2,29 - 3,2 - Deus é justo; b) 1 Jo 3,3-10 - Romper com o pecado; c) 1 Jo 3,11-24 - Praticar o amor; d) 1 Jo 4,1-6 - Saber discernir.
A 1ª Carta de João é escrita em forma de homilia, que é o seu gênero literário. O texto todo é perpassado por uma relação de proximidade e profundo carinho pelas Comunidades do Discípulo Amado. Isso transparece no vocabulário muito afetivo. A palavra ‘filhinhos’ aparece nove vezes na 1ª Jo[2] e a palavra ‘amados’ é usada cinco vezes[3]. Isso demonstra que o autor da Carta escreve para corrigir fraternalmente as comunidades cristãs, mas não é ríspido e, volta e meia, demonstra carinho e ternura no trato com as pessoas.
Deus é justo (1 Jo 2,29-3,2). ‘Deus é justo’ (1 Jo 1,9) e ‘Jesus Cristo é justo’ (1 Jo 2,1.29; 3,7), eis as duas primeiras afirmações de fé das Comunidades Cristãs do Discípulo Amado. “Vocês sabem que Jesus é justo; reconheçam, pois, que toda pessoa que pratica a justiça nasceu de Deus” (1 Jo 2,29). Jesus de Nazaré, condenado à pena de morte por crucifixão, porém Ressuscitado, está sendo fonte de inspiração e de luta no seio das Primeiras Comunidades Cristãs, e também, obviamente, no interior das Comunidades do Discípulo Amado, nas várias fases pelas quais as comunidades passaram, dentro e fora da Palestina, colônia do Império Romano. Entretanto, calúnias e difamações sobre a pessoa e a prática de Jesus não eram apenas coisas do passado. Havia nas Comunidades do Discípulo Amado ou ao redor delas, pessoas acusando Jesus Cristo de ser injusto. Essa crítica recaía também sobre as pessoas participantes das comunidades, pois ‘Como seguir alguém que era considerado injusto?’, alegavam os acusadores. A 1ª Carta de João tem também o objetivo de defender Jesus Cristo e seus seguidores e seguidoras dessa e de muitas outras acusações. Daí, a afirmação categórica advinda da experiência pessoal das pessoas integrantes das comunidades: Jesus é Justo e, por praticar a justiça, nós o consideramos Filho de Deus. Não basta ser batizado para ser filho ou filha de Deus: é preciso praticar a justiça. E não qualquer tipo de justiça, mas a Justiça libertadora e emancipatória. As comunidades do evangelista Mateus alertavam: “Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da lei e dos fariseus, vocês não entrarão no reino dos céus” (Mt 5,20). Mateus estava se referindo aos doutores e fariseus ritualistas, fundamentalistas e moralistas, o que restou do farisaísmo após a guerra judaica, quando a cidade de Jerusalém e o templo foram devastados, por volta dos anos 70 do século I da era cristã.
Para as Comunidades do Discípulo Amado, “Deus é Pai” (1 Jo 3,1), não é o Deus temido, justiceiro e castigador. Se Deus é Pai, todas as pessoas são filhas e filhos de Deus, portanto, irmãs e irmãos e têm a mesma dignidade. Ninguém pode ser escravizado e nem discriminado ou rejeitado. “Somos filhas e filhas de Deus”, diziam alto e em bom som as pessoas participantes das Comunidades do Discípulo Amado. Isso era um ‘chute na canela’ do sistema escravocrata do imperialismo romano, pois ‘puxava o tapete’ da naturalização do relacionamento “senhor X escravo”. Anulava a hierarquia social e tornava ilegítimo o que a ideologia dominante da época repetia cotidianamente. Com isso, muitas pessoas escravizadas sentiam-se animadas a ingressarem nas Comunidades do Discípulo Amado, pois lá iriam ser tratadas com dignidade de pessoa humana e não mais como escravos. Reconhecer que Deus e Jesus são justos, leva à necessidade de se romper com relações sociais de pecado e de opressão.
Romper com o pecado (1 Jo 3,3-10). Se ficarmos na leitura superficial de 1ª Carta de João poderemos ser tentados a cair em dualismos e em moralismos. O autor da 1ª Carta de João é radical e só conhece “branco ou preto”, não há meio termo; exige-se posição clara e não política de boa vizinhança ou “acender uma vela a Deus e outra ao diabo”. A 1ª Carta de João exorta as Comunidades do Discípulo Amado a romperem com o pecado. Porém, não se refere a pecado no sentido moralista e, sim, a um sistema de pecado, engrenagem de morte que passo a passo vai empurrando as pessoas para a morte. Dessa engrenagem fazia parte o que impunha o imperialismo romano: a escravidão, a exploração tributária e a ideologia dominante, que agredia a dignidade da pessoa humana e apresentava os violentados como se fossem violentos e os violentos como se fossem vítimas.
Pecar é violar a lei” (1 Jo 3,4), mas qual lei? Certamente não o legalismo judaico-farisaico, que impunha um monte de leis moralistas para excluir e discriminar as pessoas empobrecidas. A 1ª Carta de João se refere à Lei original, que tem como fundamento o Decálogo bíblico (Ex 20,13) que tem como seu princípio fundamental a 5ª palavra, que afirma: “Não matarás!” ou dito de forma positiva: “Farás viver!”. As Comunidades do Discípulo Amado se opunham ao pecado para defender a vida, não de forma abstrata, mas por meio de condições materiais e objetivas que viabilizam a vida com dignidade.
Toda pessoa que permanece em Jesus – e no seguimento do seu projeto – não peca” (1 Jo 3,6). O que implica ‘permanecer’ em Jesus e ‘não pecar’? As Comunidades do Discípulo Amado eram frágeis e minoritárias. Participar de uma comunidade, ainda vista por muitos como uma seita herética, era um desafio. Dizer que se pertence a uma igreja majoritária é cômodo. O que predominava na época das Comunidades do Discípulo Amado eram as religiões imperiais – que divinizavam o imperador, os reis e seus sacerdotes - e as religiões mistéricas – que insistiam mais no culto como caminho de aproximação a Deus. Nesse contexto, a 1ª Carta de João exorta as pessoas a permanecerem (hipomonê, em grego) nas Comunidades do Discípulo Amado, a não perder a paixão do primeiro amor e, principalmente, a não desanimar diante das adversidades e das perseguições. ‘Permanecer’ significa resistir de baixo para cima e de dentro para fora. Na terra, a raiz da mandioca resiste de forma orgânica e, por isso, cresce e faz rachar a terra. É resistir para existir. Assim era a convicção do autor de 1 Carta de João.
Quem pratica a justiça é justo, assim como Jesus é justo” (1 Jo 3,8). A 1ª Carta de João enfatiza a prática que revela a justiça. Não basta dizer que somos justos. Nesse ponto, a 1ª Carta de João está em consonância com as comunidades de Tiago e com as comunidades lucanas que também enfatizam a PRÁTICA como critério do seguimento de Jesus Cristo. O autor da Carta de Tiago dizia: “A fé sem obras é morta” (Tg 2,17); é preciso prática libertadora. Para Lucas, a prática é decisiva. Isto é comprovado pelo Evangelho de Lucas e por Atos dos Apóstolos – obra lucana - em expressões tais como: “Façam coisas para provar que vocês se converteram...” (Lc 3,8a); “As multidões, alguns cobradores de impostos, alguns soldados... perguntaram a João Batista: ‘O que devemos fazer? ’” (Lc 3,10. 12.14). Um escriba pergunta a Jesus: “O que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (Lc 10,25) e depois de contar o “episódio-parábola” do Bom Samaritano, Jesus responde dizendo: “Vá, e faça a mesma coisa” (Lc 10,37). Muitos outros textos podem ser evocados para respaldar a conclusão de que Lucas dá uma grande prioridade à AÇÃO. O primeiro versículo dos Atos dos Apóstolos traz a seguinte frase: “... tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar”. A prática é recordada antes do ensinamento, o que quer dizer que acima da ortodoxia está a ortopráxis, prática correta e libertadora. Mais importante do que ter uma “opinião certa” é ter uma ‘prática correta, libertadora’. Lucas quer dizer que uma das grandes características das comunidades cristãs deve ser a ação, a prática, o testemunho. Não se trata de qualquer tipo de ação, mas de ação solidária e libertadora. Para ser libertadora, a ação não pode ser assistencialista, nem paternalista, nem clientelista, não pode ser para o pobre, mas COM o empobrecido. A ação libertadora acontece na atuação COM os pobres e A PARTIR DELES, estabelecendo lutas concretas que levam a conquistas dos seus direitos. No tocante à prática da justiça, o Evangelho de Lucas, Atos Apóstolos, a Carta de Tiago e a 1ª Carta de João estão irmanados.

Belo Horizonte, MG, 06/8/2019.

Obs.: Quem quiser adquirir o Livrinho Texto-base do mês da Bíblia, do CEBI-MG, de 2019 - A Comunhão entre Deus e Nós e como subtítulo Uma leitura da Primeira Carta de João feita pelo CEBI-MG - entrar em contato com CEBI-MG: Secretaria Estadual CEBI-MG
Rua da Bahia, 1148 – Edifício Maleta, Sala 1215 - Centro – Belo Horizonte/MG
CEP: 60.160-011 - Telefone: (31) 3222 1805 - E-mail : secretariado@cebimg.org.br



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.  E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br            
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[2] Cf. 1 Jo 2,1.12.14.18.28; 3,7.18; 4,4; 5,21.
[3]1 Jo 3,2.21; 4,1.7.11;

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Movimento "Fé e Cidadania", em Passos, sudoeste de MG. Vídeo 1 - 09/6/2019.


Movimento "Fé e Cidadania", em Passos, sudoeste de MG. Vídeo 1 - 09/6/2019.


Dias 8 e 9/6/2019 aconteceu um Encontro de Formação em “Fé e Cidadania, em Passos, no sudoeste de Minas Gerais. O mandato da vereadora dona Cida, do PT, organizou o Encontro e convidou frei Gilvander para assessorar. O Tema foi “Fé e Cidadania”. No final, ficou acordado a continuidade do Movimento "Fé e Cidadania" e foi gravado dois pequenos vídeos. Segue aqui o Vídeo 1.

Durante do Encontro de Fé e Cidadania, em Passos, MG, dias 8 e 9/6/2019. Foto: frei Gilvander
*Filmagem e edição: frei Gilvander Moreira, da CPT, CEBs e CEBI.

*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.


quarta-feira, 31 de julho de 2019

Quilombo Lapinha, em Matias Cardoso, MG: Pelo direito constitucional ao território tradicional, despejo não! Vídeo 4. 24/7/2019.


Quilombo Lapinha, em Matias Cardoso, MG: Pelo direito constitucional ao território tradicional, despejo não! Vídeo 4. 24/7/2019.


As 170 famílias da comunidade “Quilombo Lapinha”, localizada em Matias Cardoso, norte de Minas Gerais, receberam a notícia de uma liminar de reintegração de posse, despejo, para ser executada no inicio mês de agosto. Caso não seja revertida, 170 famílias em retomada de território ao lado do Rio São Francisco podem ser despejadas. A situação está muito tensa, pois as Comunidades do Quilombo Lapinha jamais aceitarão despejo. O Quilombo Lapinha possui reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares e possui também o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), que delimita o território tradicional. Todos os quilombolas já têm suas casas construídas e terra plantada que lhes dá o sustento. No Quilombo tem energia elétrica, escola, serviço de saúde, entre outros equipamentos públicos que lhes são de direito. Desde o século XVIII, as famílias constroem no local sua história, reafirmam a sua cultura e perpetuam os saberes e dinâmicas de cuidado com a mãe terra e com o irmão Rio São Francisco. Apesar desse contexto histórico de vivência e de cuidado do território de maneira sustentável, o Quilombo Lapinha está sob ameaça iminente de despejo. Espera-se que o Governo de Minas Gerais reverta a decisão e cumpra o direito constitucional de acesso dos quilombolas ao seu território tradicional. Reivindicamos também que o Ministério Público Federal (MPF) e Defensorias Públicas Estadual e da União, DPE/MG e DPU sigam firmes na defesa judicial dos Quilombos Lapinha. É claro também que a competência jurídica sobre Comunidades Quilombolas é da justiça Federal. E há também decreto do Governo do estado de Minas Gerais pró permanência das Comunidades Quilombolas Lapinha mas áreas retomadas. Logo, a decisão judicial do TJMG está recheada de inconstitucionalidades, ilegalidades, irregularidades e injustiça que clama aos céus. NEGOCIA, ZEMA. NEGOCIA, GOVERNO.

Ao romper da aurora do dia 28/12/2018, no Quilombo Lapinha, em Matias Cardoso, Norte de Minas Gerais, ao Som dos tambores as famílias receberam com muita alegria e expectativas a notícia da publicação do decreto de interesse social do quilombo Lapinha. Fruto de muitos anos de lutas, teimosia e resistência. Agora continuar na luta incansável pra manter e avançar a titulação do território. "Território livre e o nosso povo Liberto"... Fonte: informe e foto de Zilá de Mattos, da CPT.

*Filmagem e fotos de Zilah de Mattos, agente de pastoral da CPT-MG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Matias Cardoso, norte de MG, 24/7/2019. Apoio e divulgação: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Quilombo Lapinha, município de Matias Cardoso, MG: A Voz dos Tambores grita e clama: Esse território é nosso. Despejo, nunca! - Vídeo 3 - 24/7/2019.


Quilombo Lapinha, município de Matias Cardoso, MG: A Voz dos Tambores grita e clama: Esse território é nosso. Despejo, nunca! - Vídeo 3 - 24/7/2019.



As 170 famílias da comunidade “Quilombo Lapinha”, localizada em Matias Cardoso, norte de Minas Gerais, receberam a notícia de uma liminar de reintegração de posse, despejo, para ser executada no inicio mês de agosto. Caso não seja revertida, 170 famílias em retomada de território ao lado do Rio São Francisco podem ser despejadas. A situação está muito tensa, pois as Comunidades do Quilombo Lapinha jamais aceitarão despejo. O Quilombo Lapinha possui reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares e possui também o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), que delimita o território tradicional. Todos os quilombolas já têm suas casas construídas e terra plantada que lhes dá o sustento. No Quilombo tem energia elétrica, escola, serviço de saúde, entre outros equipamentos públicos que lhes são de direito. Desde o século XVIII, as famílias constroem no local sua história, reafirmam a sua cultura e perpetuam os saberes e dinâmicas de cuidado com a mãe terra e com o irmão Rio São Francisco. Apesar desse contexto histórico de vivência e de cuidado do território de maneira sustentável, o Quilombo Lapinha está sob ameaça iminente de despejo. Espera-se que o Governo de Minas Gerais reverta a decisão e cumpra o direito constitucional de acesso dos quilombolas ao seu território tradicional. Reivindicamos também que o Ministério Público Federal (MPF) e Defensorias Públicas Estadual e da União, DPE/MG e DPU sigam firmes na defesa judicial dos Quilombos Lapinha. É claro também que a competência jurídica sobre Comunidades Quilombolas é da justiça Federal. E há também decreto do Governo do estado de Minas Gerais pró permanência das Comunidades Quilombolas Lapinha mas áreas retomadas. Logo, a decisão judicial do TJMG está recheada de inconstitucionalidades, ilegalidades, irregularidades e injustiça que clama aos céus. NEGOCIA, ZEMA. NEGOCIA, GOVERNO.

Território tradicional do Quilombo Lapinha é constituído por cinco comunidades em Matias Cardoso, MG. Foto: J. R. Ripper

*Filmagem de Zilah de Mattos, agente de pastoral da CPT-MG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Matias Cardoso, norte de MG, 24/7/2019. Apoio e divulgação: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Quilombo Lapinha, em Matias Cardoso, no norte de MG: “Lutar e Resistir. Do Quilombo não vamos sair.” Vídeo 2 – 24/7/2019.


Quilombo Lapinha, em Matias Cardoso, no norte de MG: “Lutar e Resistir. Do Quilombo não vamos sair.” Vídeo 2 – 24/7/2019.



As 170 famílias quilombolas da comunidade “Quilombo Lapinha”, localizada em Matias Cardoso, norte de Minas Gerais, receberam a notícia de uma liminar de reintegração de posse, despejo, para ser executada no inicio mês de agosto. Caso não seja revertida, parte das 170 famílias em retomada de território ao lado do Rio São Francisco podem ser despejadas. A situação está muito tensa, pois as 5 Comunidades do Quilombo Lapinha jamais aceitarão despejo. O Quilombo Lapinha possui reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares e possui também o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), que delimita o território tradicional. Todos os quilombolas já têm suas casas construídas e terra plantada que lhes dá o sustento. No Quilombo Lapinha tem rede de energia elétrica, escola, serviço de saúde, entre outros equipamentos públicos que lhes são de direito. Desde o século XVII, as famílias constroem no local sua história, reafirmam a sua cultura e perpetuam os saberes e dinâmicas de cuidado com a mãe terra e com o irmão Rio São Francisco. Apesar desse contexto histórico de vivência e de cuidado do território de maneira sustentável, o Quilombo Lapinha está sob ameaça iminente de despejo. Espera-se que o Governo de Minas Gerais se abra para negociação, não insista em fazer o despejo e cumpra o direito constitucional de acesso dos quilombolas ao seu território tradicional. Reivindicamos também que o Ministério Público Federal (MPF) e Defensorias Públicas Estadual e da União, DPE/MG e DPU sigam firmes na defesa judicial do Quilombo Lapinha. É claro também que a competência jurídica sobre Comunidades Quilombolas é da justiça Federal. E há também decreto do Governo do estado de Minas Gerais pró permanência das Comunidades Quilombolas Lapinha nas áreas retomadas. Logo, a decisão judicial do TJMG está recheada de inconstitucionalidades, ilegalidades, irregularidades e injustiça que clama aos céus. Os quilombolas da Lapinha estão determinados: “LUTAR E RESISTIR. DO QUILOMBO NÃO VAMOS SAIR.” NEGOCIA, ZEMA. NEGOCIA, GOVERNO.

Quilombola do Quilombo Lapinha. Foto: acervo da CPT/MG.

*Filmagem de Zilah de Mattos, agente de pastoral da CPT-MG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Matias Cardoso, norte de MG, 24/7/2019. Apoio e divulgação: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

Quilombo histórico Lapinha, em Matias Cardoso, norte de MG: 170 famílias ameaçadas de despejo. NEGOCIAÇÃO, JÁ! - Vídeo 1 - 24/7/2019.


Quilombo histórico Lapinha, em Matias Cardoso, norte de MG: 170 famílias ameaçadas de despejo. NEGOCIAÇÃO, JÁ! - Vídeo 1 - 24/7/2019.


170 famílias da comunidade “Quilombo Lapinha”, localizada em Matias Cardoso, norte de Minas Gerais, receberam a notícia de uma liminar de reintegração de posse, despejo, para ser executada no inicio mês de agosto. Caso não seja revertida, 170 famílias em retomada de território ao lado do Rio São Francisco podem ser despejadas. A situação está muito tensa, pois as Comunidades do Quilombo Lapinha jamais aceitarão despejo. O Quilombo Lapinha possui reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares e possui também o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), que delimita o território tradicional. Todos os quilombolas já têm suas casas construídas e terra plantada que lhes dá o sustento. No Quilombo tem energia elétrica, escola, serviço de saúde, entre outros equipamentos públicos que lhes são de direito. Desde o século XVIII, as famílias constroem no local sua história, reafirmam a sua cultura e perpetuam os saberes e dinâmicas de cuidado com a mãe terra e com o irmão Rio São Francisco. Apesar desse contexto histórico de vivência e de cuidado do território de maneira sustentável, o Quilombo Lapinha está sob ameaça iminente de despejo. Espera-se que o Governo de Minas Gerais reverta a decisão e cumpra o direito constitucional de acesso dos quilombolas ao seu território tradicional. Reivindicamos também que o Ministério Público Federal (MPF) e Defensorias Públicas Estadual e da União, DPE/MG e DPU sigam firmes na defesa judicial dos Quilombos Lapinha. É claro também que a competência jurídica sobre Comunidades Quilombolas é da justiça Federal. E há também decreto do Governo do estado de Minas Gerais pró permanência das Comunidades Quilombolas Lapinha mas áreas retomadas. Logo, a decisão judicial do TJMG está recheada de inconstitucionalidades, ilegalidades, irregularidades e injustiça que clama aos céus. DESPEJO, NÃO. NEGOCIAÇÃO, JÁ!


*Filmagem de Zilah de Mattos, agente de pastoral da CPT-MG. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Matias Cardoso, norte de MG, 24/7/2019.
*Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

CEBs e Políticas Públicas: Vida e Dignidade no Campo e na Cidade

CEBs e Políticas Públicas: Vida e Dignidade no Campo e na Cidade

XIV Encontrão de CEBs de Taiobeiras, no norte de MG, Arquidiocese de Montes Claros, dia 28/7/2019. Fotos: Nilson, das CEBs de Taiobeiras.

XIV Encontro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de Taiobeiras, norte de Minas Gerais - Paróquia São Sebastião de Taiobeiras - Arquidiocese de Montes Claros.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são na igreja e na sociedade sinal de fé cristã e libertação. Na sua caminhada profética e missionária, as CEBs defendem vida digna para todos/as, justiça e direitos iguais. Que o acesso à terra, à água, ao alimento, à saúde e à educação de qualidade seja para todos/as. Assim como o direito de ir e vir, trabalhar e se divertir, direito de conviver com a família, comunidade e sociedade.
Inspirados pela palavra que nos convoca para o compromisso cristão e chamados a ser igreja em saída, as CEBs da Paróquia São Sebastião de Taiobeiras realizam domingo, dia 28 de julho de 2019, o 14º Encontrão com o tema: “CEBs e Políticas Públicas – Vida e Dignidade no Campo e na Cidade”. Participaram mais de 400 pessoas vindas das Comunidades Eclesiais de Base de Taiobeiras, Indaiabira, Salinas, São João do Paraíso, Novo Horizonte e Rio Pardo de Minas.
Celebramos os 30 anos de caminhada de nossas CEBs aqui do município de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, na Arquidiocese de Montes Claros. Foram recordadas a vida e a história de nossas comunidades e de tantas pessoas que participaram da construção desta história conduzindo a bandeira das CEBs e os Roteiros de Reflexão que motivaram e continuam motivando os Círculos Bíblicos e a organização das comunidades ao longo dos últimos 30 anos.
Celebramos também o dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural. Mulheres e Homens incansáveis, que, com carinho, cultivam a terra e produzem o alimento para o sustento das famílias do campo e da cidade. O encontro teve inicio na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Taiobeiras e seguimos em marcha passando pelos bairros Nossa senhora de Fátima e Santos Cruzeiro até o Centro de Formação São Sebastião, onde continuamos o 14º Encontrão das CEBs. Tivemos a alegria de contar com a assessoria de Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Leigos do Brasil; do frei Gilvander Luís Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT); e do Artista Popular Sebastião Estevão, nosso querido Farinhada. Estiveram presente as Irmãs religiosas da Paróquia de Taiobeiras e da Paróquia Santo Antônio, de Salinas, também representantes do movimento sindical, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Geraizeiro, Escola Família Agrícola (EFA) Nova Esperança, associações e mandatos populares. Foi um marcante momento de celebração, formação e animação com apresentações culturais envolvendo os jovens e o grupo cultural “As Mineirinhas”, inclusive.
Estamos muito felizes, com a presença de todos. Somos CEBs, povo corajoso. Hoje é um dia muito importante: 30 anos de Caminhada das CEBs na Paróquia de Taiobeiras e celebrando o dia dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. Era para ser um dia de pura alegria, mas vivemos as tristezas pelas perdas de grandes conquistas sociais. Somos convidados a sermos como o Trem das CEBs que anda pra frente, lembrando que precisamos caminhar com um olho na Bíblia e outro na vida”, disse Geraldo Caldeira Barbosa, diretor do STR de Taiobeiras.
Nossa assessora Sônia refletiu conosco, entre tantas que coisas que “é com grande alegria que nos reunimos mais uma vez neste chão, neste turrão norte mineiro. Para refletir sobre Espiritualidade das CEBs. Poderíamos começar perguntando: O que é espiritualidade? Espiritualidade é o que estamos vivendo aqui hoje, que fala da vida, da realidade, embasadas na Palavra de Deus, no direito e na Justiça. Quando falamos de espiritualidade falamos de Deus que caminha conosco. A espiritualidade das CEBs tem Bíblia na mão e na vida. As músicas das CEBs falam da vida em comunidade. A espiritualidade das CEBs não deve se comparar a samambaia, nem ao abacaxi, nem ao abacate. Precisamos assumir em nossas vidas a espiritualidade modelo laranja, Igreja organizada com muitas comunidades, dentro do mundo como as sementes dentro da laranja. Tudo junto, gosto e sabor. Precisamos ter a espiritualidade de Jesus Cristo, que não fez distinção de ninguém, juntamente com o grande incentivador de uma Igreja em saída, o Papa Francisco. As celebrações de nossas igrejas nem sempre trabalham a realidade.  A ausência de saúde, água e políticas públicas clamam, pois se não estava bom, agora se tornou pior. Devemos ter cuidado com a maneira em que usamos o nome de Deus. Concluiu com musica “ninguém solta a mão de ninguém.”
Frei Gilvander, outro assessor nosso, iniciou sua fala dizendo: “Dia é tempo de luz. Noite é tempo de trevas. As palavras dia e Deus parecem, são primas irmãs. Logo, dizer ‘bom dia’ é dizer ‘bom Deus”. Precisamos trabalhar uma sociedade que valorize a gratuidade. Destacou quatro pontos necessários para se ter Políticas Públicas: 1) Superar o medo e encher-nos de Coragem e Fé; 2) Honrar Jesus Cristo, mártir e preso político na sua época; honrar os antepassados; 3) Lutar por justiça, atacando o mal pela raiz. Não basta sermos pessoas solidárias; 4) Devemos ser parecidos com o Bom Pastor do Evangelho de João (Jo 10), que, por amor ao próximo convida o rebanho para sair do redil (curral) e ir para campo aberto em vida de pastagens abundantes, o que passa pela luta por direitos, por cidadania. Infelizmente, a maioria dos líderes religiosos, atualmente, sejam padres ou pastores, estão convidando o povo para ficar entocado dentro das igrejas. Assim, estão sendo falsos pastores. O correto é convidar o povo para ‘para fora’ para o espaço do público e lutar pelos direitos, associando as dimensões espiritual e social da fé cristã. Precisamos colocar em prática o Jesus da missão toda, primeira parte solidária, curas partilhas, misericórdia, compaixão; a segunda, luta por justiça e denúncia das injustiças. O Medo é o contrário de Fé. Sinônimo de fé é coragem.  Ótimo remédio para vencer o medo é participar de lutas concretas. “Povo unido jamais será vencido. Povo organizado jamais será pisado.”
O momento da partilha dos alimentos, na hora do almoço, nos fez recordar a partilha dos pães, narrado no Evangelho de Lucas 9,10 -17 e também em Mateus, Marcos e Lucas. O alimento vindo das comunidades e trazido gratuitamente foi suficiente para alimentar mais de 400 pessoas e ainda sobrou “12 cestos”.  O mesmo se deu na partilha dos 30 bolos que as comunidades trouxeram para a festa dos 30 anos de história e caminhada das CEBs na paróquia em Taiobeiras. A partilha não acontece somente no alimento, mas também na luta em defesa dos Direitos Humanos fundamentais. Neste sentido foi elabora, lida e aprovada uma carta em defesa do Quilombo Lapinha, município de Matias Cardoso, no norte de Minas Gerais, onde 170 famílias se encontram injustamente ameaçadas de despejo. A Carta propõe a suspensão do despejo até que seja encaminhada Negociação série e idônea na Mesa de Mediação de conflito do Estado de Minas Gerais.
O encontro teve o encerramento marcado pela celebração participativa da Eucaristia com muita animação com entrada dos vagões do Trem das CEBs, bandeiras de todas as comunidades, os bolos como oferta, fruto do trabalho e da mãe terra e a imagem da mãe Aparecida que nos inspira, protege e nos impulsiona para a luta em defesa dos empobrecidos – os preferidos do Deus da vida -, cumprindo a profecia do Magnificat: “Ele agiu com a força de seu braço, dispersou os arrogantes de coração; derrubou dos tronos os poderosos e exaltou os humildes; encheu de bens os famintos e despediu os ricos sem nada” (Lc1,51-53).

Durante o Encontro foi homenageado o Padre Ernesto de Freitas Barcelos.
Na porta do céu / Tira esse avental / E entra logo Ernesto / Camarada justo e fiel /A casa é tua / Descansa / E não me leves a mal: Da voz rouca / Da pouca saúde da perna / Da viagem breve / Do peso (leve) / Do preço (caro) da coerência / E da licença pra partir.
(Poesia escrita pelo Padre Antônio Claret)

Taiobeiras, norte de MG, 28 de julho de 2019.

Obs.: Eis, abaixo, algumas fotografias do XIV Encontrão das CEBs de Taiobeiras, dia 28/7/2019.