domingo, 21 de outubro de 2018

Kiriri, que beleza de Povo Indígena na luta pela terra em Caldas, sul de Minas Gerais!

Parte da Comunidade Indígena Kiriri em momento celebrativo,
na terra ocupada em Caldas, no sul de Minas Gerais, em 2018.
Foto: Sandra Paula Silva das Dores.



Kiriri, que beleza de Povo Indígena na luta pela terra em Caldas, sul de Minas Gerais!
Por frei Gilvander Moreira, da CPT.


Não é por acaso que os/as moradores locais do bairro Rio Verde, de Caldas, no sul de Minas Gerais, vêm apoiando e acolhendo como podem as quase vinte famílias indígenas do Povo Kiriri. Chegaram, inclusive, a fazer um Abaixo-Assinado em apoio ao Povo Indígena Kiriri e à sua permanência definitiva no local. “A terra aqui não é da UEMG. A UEMG nunca esteve na posse dessa terra. Quem tem direitos de permanecer nessa terra são os indígenas Kiriri”, afirmou na reunião Sandra Paula Silva das Dores, representante da Comunidade circunvizinha de Rio Verde, no município de Caldas, no sul de Minas.
Oriundo do município de Muquém do São Francisco, na Bahia, o Povo Indígena Kiriri teve que vir para Minas Gerais, em decorrência da busca de condição de vida, visto que o seu território diminuído pelo avanço do latifúndio não comportava toda a população indígena e as condições climáticas na região estão cada vez mais dramáticas. Desde março de 2017, 16 famílias do Povo Kiriri moram em uma área situada no bairro rural do Rio Verde, distante 7 km da sede de Caldas, no sul de Minas Gerais. Lá, os Kiriri já construíram casa de pau a pique, espaço cultural, plantaram lavouras e já constituiu uma Comunidade, lugar bom de viver e conviver.  Infelizmente, sob o terror psicológico da Polícia Militar e da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), com decisão injusta do poder judiciário, sob pressão do Governo de Minas para despejá-los, foram pressionados por funcionários do Governo estadual e da prefeitura de Caldas a deixarem o local em abril de 2018, tendo sido levados para Patos de Minas em cumprimento a uma determinação judicial que determinou a reintegração de posse das terras que eles ocupavam. Mesmo sem título de propriedade da terra e sem estar na posse da área, a UEMG exigiu e conquistou junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) liminar de reintegração de posse, decisão inconstitucional e injusta. Após perceberem que o local indicado em Patos de Minas era, na verdade, uma terra tradicional quilombola e que também estava ocupada por um Acampamento de Sem Terra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os Kiriri, com o apoio da Comunidade de Caldas, resolveram voltar para o mesmo terreno em Caldas, no sul de Minas, e foram carinhosamente acolhidos pela Comunidade circunvizinha de Rio Verde, bairro de Caldas, próximo à terra ocupada pelos Kiriri.
A área onde os Kiriri estão possui cerca de 60 hectares, dos quais informam que estão ocupando apenas 30 hectares. Há mais de dez famílias não índias ocupando a área, com casas de alvenaria muito boa, inclusive. Frise-se que mesmo não tendo título de propriedade, essas famílias não indígenas não foram objeto de liminar de reintegração de posse. Eis uma discriminação a mais aqui. Anos atrás, este terreno pertencia a um fazendeiro que faleceu e, não possuindo herdeiros, o mesmo teria sido transferido para o Estado de Minas em 1996. Segundo informações, a propriedade rural teria sido ‘doada’ de forma duvidosa para a UEMG. Todavia, segundo representante dos moradores locais, a UEMG jamais apresentou projeto algum de usufruto da área. Pelo contrário, até a chegada do Povo Indígena Kiriri, em 2017, o local era utilizado para retirada clandestina de brita e madeira. Entretanto, assim que houve a ocupação da terra pelo Povo Indígena Kiriri, a UEMG entrou com a Ação de Reintegração de Posse para retomar a posse da terra, posse que a UEMG nunca exerceu. Injustamente, vê-se a UEMG, uma instituição de educação e de ensino, dando um péssimo exemplo, pois age com falta de cidadania e solidariedade aos povos indígenas, já tão massacrados e perseguidos ao longo de nossa história – vítimas neste caso, também de uma prática do racismo institucional.
Os Kiriri estão determinados a não mais aceitar despejo dessa terra onde já fincaram raízes: estão já com casas de pau a pique e barro construídas, plantando lavouras na linha da agroecologia sem agrotóxicos, vivendo em comunidade e cultivando a inspiradora mística e espiritualidade Kiriri.
O álbum de fotografias, de Sandra Paula Silva das Dores e Fernanda Borges, abaixo, revelam a beleza da cultura Kiriri e a justeza da luta das famílias Kiriri por território em Caldas, no sul de Minas Gerais. Quem quiser e puder se somar a essa luta justa, urgente e necessária é bem-vindo/a!

Belo Horizonte, MG, 21 de outubro de 2018.


Assista também ao vídeo, no link, abaixo.
1 - Povo Indígena Kiriri em luta e resistência por território em Caldas/MG. 09/10/2018.


Nota: Padres em defesa da Democracia

Divulgação: http://www.cnbb.org.br



Nota: Padres em defesa da Democracia


Nós, padres, convivendo com o povo, atentos às justas preocupações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com as Eleições-2018, ao parecer de estudiosos e aos sinais da conjuntura, julgamos ser nosso dever nos posicionar em defesa da Democracia. Nossa principal motivação é o Evangelho.
A CNBB, percebendo a peculiaridade das eleições deste ano, reafirma sua atitude profética, sintetizada em cinco palavras:
1) defesa incondicional da VIDA, que é um dom de Deus e se manifesta de múltiplas formas;
2) a construção da PAZ, que passa, necessariamente, pela garantia do Bem Comum e pela melhora da qualidade de vida do povo;
3) o fortalecimento das instituições de combate à CORRUPÇÃO e a todo tipo de exploração;
4) a defesa do MEIO AMBIENTE e seu uso social, com prioridade para a demarcação e respeito às terras indígenas e quilombolas;
5) e a defesa da DEMOCRACIA.

Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard e autor do livro COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, afirma: “se um candidato, em sua vida, carreira política ou durante a campanha defende ideias antidemocráticas, devemos levá-lo a sério e resistir à tentação de apoiá-lo, ainda que, diante de circunstâncias momentâneas, parece ser uma opção aceitável”.
Steven propõe, ainda, um teste infalível, com apenas quatro perguntas, para identificar se um candidato a cargo público tem tendências autoritárias. São elas:
1 – Rejeita, em palavras ou atos, regras fundamentais da democracia?
2 – Põe em dúvida a legitimidade de seus oponentes?
3 – Tolera ou incentiva a violência política?
4 – Admite ou propõe restringir liberdades civis?

“A maioria dos autocratas não passa nesse simples teste”, conclui Steven.
Estamos convictos de que a DEMOCRACIA é fundamental em todo processo político, bem como a centralidade da pessoa humana, a liberdade, a tolerância, o respeito, a valorização da vida em todas as suas manifestações e formas. Seguidores de Jesus Cristo, vitimado pela violência, mas modelo e defensor da não violência, assumimos nosso compromisso com o povo, sobretudo com os mais pobres, sofredores e excluídos.

Assinam essa Nota Pública:

Padre Antônio Claret Fernandes
Padre Ernesto de Freitas Barcelos (dioc. Itabira/Fabriciano)
Padre Geraldo Barbosa
Padre Geraldo Martins Dias
Padre João Batista Barbosa (Tista)
Padre João Paulo Silva
Padre José Afonso Lemos
Padre José Antônio de Oliveira
Padre José Raimundo Alves
Côn. Lauro Sérgio V. Barbosa
Padre Marcelo Moreira Santiago
Padre Paulo Barbosa
Padre Wander Torres Costa
Padre Oscar de Oliveira Germano
Padre Márcio Vieira Viana
Frei Gilvander Luís Gilvander Moreira
Padre Nelito Dornelas
Padre Manoel Guto Godoy
Padre Henrique Farias

(Obs.: não tivemos tempo de recolher a assinatura de milhares de outros padres, mas padres que quiserem assinar essa Nota, adicione seu nome e compartilhe/publique essa Nota Pública em Defesa da Democracia, sugerimos.)

Não há dúvida que no segundo turno da eleição para presidente, dia 28/10/2018, votar em Fernando Haddad n. 13 é a melhor opção para continuarmos sob um regime democrático e na luta por direitos sociais. Se Bolsonaro for eleito, o povo terá dado a autorização para reingressar o Brasil em outra ditadura, com tortura, mais violência, mortes e aumento da desigualdade social e econômica, além de uma imensa devastação ambiental que ocorrerá com a anunciada extinção do Ministério do Meio Ambiente, proibição da já pequena fiscalização dos crimes ambientais pelos fiscais do IBAMA e do ICMBIO e com a redução das reservas indígenas. Isso já anunciado por Bolsonaro para agradar aos interesses dos grandes empresários do agronegócio, das monoculturas e da mineração. Isso não pode acontecer, pois será a desertificação do Brasil.

sábado, 20 de outubro de 2018

Bolsonaro ataca a CNBB e o CIMI, mas frei Sérgio Gorgen e Dom Mauro Morelli mostram a legitimidade da CNBB na defesa dos explorados.

Dom Leonardo Steiner, secretário Geral da CNBB:
"Temos duas candidaturas à Presidência, mas somos a
favor é da democracia. O que pedimos é que o eleitor
católico observe se os candidatos pregam mais ou menos
democracia; se buscam a convivência fraterna com base da educação,
 no respeito e na justiça social ou não."


 

Bolsonaro ataca a CNBB e o CIMI, mas frei Sérgio Gorgen e Dom Mauro Morelli mostram a legitimidade da CNBB na defesa dos explorados.

Jair Bolsonaro disse que a CNBB e o CIMI é a “parte podre da Igreja Católica”. Ataque injusto e covarde. O bispo emérito da Diocese de Duque de Caxias, RJ, Dom Mauro Morelli afirmou: “O candidato Bolsonaro agrediu gravemente e de forma gratuita a Igreja Católica, taxando a CNBB de parte podre da Igreja. De sua boca jorram asneiras e impropérios, revelando um homem desequilibrado e vulgar. Se eleito acabará defenestrado em pouco tempo.” Leia com atenção o texto, abaixo, de frei Sérgio Gorgen: “A Parte Podre da Igreja Católica” e perceba a beleza da missão histórica da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sempre ao lado do povo defendendo com firmeza os direitos dos oprimidos e explorados. E dia 28 de outubro de 2018, no 2º turno das eleições diga Não à ditadura, tortura, militarismo, repressão, comércio de armas e às discriminações. Vote na democracia e no respeito aos direitos sociais.

A Parte Podre da Igreja Católica
Por frei Sérgio Görgen

O candidato fascista à Presidência da República, falando a um grupo de latifundiários que não querem a demarcação de áreas indígenas, ataca o Conselho Indigenista Missionário, CIMI, organização da Igreja Católica que atua junto aos povos indígenas em defesa de seus direitos.
Mas não se atém ao CIMI. No vídeo que chegou ao público brasileiro pelas redes sociais, o candidato da extrema direita vai mais longe: diz que a CNBB é a parte podre da Igreja Católica.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é um colegiado episcopal que representa o conjunto da Igreja do Brasil. É a cabeça de todo o corpo.
A Colegialidade sempre houve no cristianismo em sua tradição católica, desde o tempo dos primeiros apóstolos que se reuniram em Jerusalém depois da Ressurreição de Jesus e decidiam em conjunto como fazer para viver e anunciar o que aprenderam do Mestre.
Mas as formas modernas de Colegialidade, como as Conferências Episcopais nacionais ganharam força com o Concílio Vaticano II realizado entre 1962 a 1965.
Dom Helder Câmara ajudou a criar a CNBB e foi seu primeiro Secretário Geral.
Por sua Presidência passaram bispos de enorme envergadura, como Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheider, Dom Luciano Mendes de Almeida, já falecidos, além de Dom Jaime Chemello, hoje emérito da diocese de Pelotas.
Hoje é presidida pelo Cardeal de Brasília, Dom Sérgio Rocha, homem terno e sereno, homem de escuta e diálogo e de uma espiritualidade forte que transparece a todos que com ele se relacionam.
A CNBB é uma das instituições mais respeitadas pelo povo brasileiro, sempre ao longo da história recente do Brasil, com posições firmes e claras, mas equilibradas, coerentes e solidárias com o povo brasileiro. Não esqueçamos que o grande movimento para a superação da fome e da miséria, que resultou em ações de governo e de estado, nasceu numa Semana Social da CNBB, depois com desdobramentos intensos com Betinho e Dom Mauro Morelli.
O que fez o candidato ao chamar de “parte podre” a CNBB?
Desrespeitou e ofendeu a todos os católicos. Feriu a memória dos grandes que já partiram e presidiram a Conferência e que fizeram pela Nação muito mais que o deputado à trinta anos na Câmara. Ofendeu a honra de todos os ex-presidentes da entidade-cabeça da Igreja do Brasil. Mostrou falta de respeito com o Cardeal atual presidente.
Chamou a CNBB de “parte podre” porque se destaca defendendo os pobres e seus direitos.
Os ataques ao CIMI, à Pastoral da Terra, aos religiosos e religiosas que atuam junto ao povo pobre deste país em defesa de seus direitos, já vem de tempos. Somos vítimas de agressão, desprezo, perseguição e violência há décadas. Muitos testemunharam sua coerência com o Martírio, como Padre Josimo, Irmã Adelaide Molinari, Padre Ezequiel Ramim, Padre João Bosco Burniê, Irmã Dorothy Stang, Santo Dias da Silva, padre Gabriel, só para citar alguns.
O CIMI é o maior testemunho de uma pastoral de risco, evangelicamente solidária com os mais pobres entre os pobres, sinal real do Senhor Crucificado e Ressuscitado entre nós.
Temos casca grossa e sabemos que somos atacados e por que o somos, às vezes até por católicos, que pensam que religião é só rezar para aliviar a consciência sem se envolver com a dor dos pobres de hoje. Ou católicos ricos que usam da Igreja para defender seus interesses de classe e excluir dela os pobres, que então buscam Jesus em outras denominações.
Mas quando se faz um ataque deste quilate à Cabeça da Igreja, é sinal de que o conservadorismo violento deu um passo à frente. Quer intimidar toda a Igreja de Cristo no Brasil.
Lembro uma frase de Jesus: “ se fazem isto ao lenho verde, o que farão com o seco?”
O lenho seco somos nós das pastorais sociais, misturados com as dores, as alegrias e as esperanças dos pobres, os preferidos de Jesus. Se for eleito – luto para que não seja – tristes dias espera o povo e nós com ele.
Responderemos com as atitudes de sempre. Perdoar, mesmo sabendo “que sabem o que fazem” e que interesses defendem. Jesus pediu até o perdão aos inimigos, reconhecendo que o Evangelho do Reino tem inimigos. O perdão cristão pessoal não significa ceder um milímetro na defesa dos pobres e dos perseguidos.
Por que isto, além de amor e paz como referenciais para a vida e a convivência, encontrarão em nós solidariedade com os pobres e destemor e firmeza em sua defesa, mesmo com as todas as implicações que daí virão. Não nos intimidarão, pois Jesus nos diz: “tenham coragem, eu venci o mundo”.
E dirijo humildemente minha prece ao Pai para que os atuais bispos do Brasil se inspirem no nosso único Mestre Comum, Jesus de Nazaré e na memória sempre viva de Hélder, Aloísio, Ivo, Luciano, e tantos outros, nestes tempos difíceis de nossa história nacional.
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Em tempo: FREI BETTO: “TODA A CAMPANHA DE BOLSONARO FOI MONTADA POR SETORES EVANGÉLICOS DOS EUA”.
Sputnik Brasil: “Qual tem sido o papel dos grupos religiosos na promoção da candidatura de Jair Bolsonaro no Brasil?”
Frei Betto: "Toda a campanha de Bolsonaro foi montada por setores evangélicos dos EUA; há um grupo de extrema-direita de origem americana, o Instituto Millenium, representada pelo economista Paulo Guedes, que opera no Brasil para organizar e treinar uma geração de jovens de direita muito beligerante."
Em entrevista à Sputnik Brasil, frei Betto referiu-se às consequências que um eventual governo de Bolsonaro, famoso defensor da última ditadura militar no Brasil, poderia acarretar.
Frei Beto: "Esta onda fascista no Brasil se produz por não ter sido feito aquilo que fizeram na Argentina, no Chile e no Uruguai: condenar os militares responsáveis pela ditadura. Teremos o retorno das mesmas pessoas da ditadura, com a mesma ideia se segurança nacional. Isso vai ter um reflexo claro na política continental e internacional. Todas essas pessoas [apoiantes da ditadura] estão apoiando Bolsonaro".

Povo Indígena Kiriri não arreda o pé da luta pela terra no sul de Minas Gerais.

Divulgação: http://www.racismoambiental.net.br



Povo Indígena Kiriri não arreda o pé da luta pela terra no sul de Minas Gerais.
Por Fernanda Borges[1]


No mês de março do ano de 2017, doze famílias do Povo Indígena Kiriri, vindas da Aldeia Kiriri de Barra, localizada no município de Muquém do São Francisco, região Oeste da Bahia, ocuparam uma área, de aproximadamente cinquenta e cinco hectares, doada pelo estado de Minas Gerais à Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), no município de Caldas, na região sul de Minas. Os moradores do bairro rural do Rio Verde, onde a área ocupada pelos Kiriri está localizada, garantem que não houve, desde o momento da doação das terras, a presença de membros da UEMG no local.
No início da ocupação, os Kiriri montaram algumas barracas de lona na localidade e ali permaneceram por pouco mais de um mês. Atualmente, passaram de 12 para 16 as famílias ali instaladas em casas de pau-a-pique, cobertas por lonas ou telhas doadas pela comunidade. Desde o início da ocupação, os Kiriri recebem ajuda da comunidade local. Contudo, foi no mês de abril de 2018, após o recebimento de uma liminar de reintegração de posse, que estes laços entre o Povo Indígena Kiriri e a Comunidade do Rio Verde se aprofundaram e se fortaleceram.
No mês de agosto de 2017 realizou-se um acordo entre os indígenas, o estado de Minas Gerais e a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) que deveria tentar encontrar outras terras para os Kiriri. Contudo, apesar desse acordo, já em março de 2018, os indígenas receberam uma decisão judicial a partir de exigência da UEMG para reintegrar-se na posse da propriedade.  Com a aproximação dos trinta dias de prazo para o cumprimento da liminar de reintegração, diante de nenhuma resposta da FUNAI ou do estado de Minas Gerais, os Kiriri entraram em contato com o Governo de Minas. A partir do contato, realizado no mês de abril, o grupo soube que a decisão do juiz, tomada em caráter de urgência, poderia ser cumprida a qualquer momento, já que a data limite para saída da localidade foi estipulada para o dia quinze de abril de 2018. Diante daquela situação de pressão para a retirada os indígenas da área ocupada e informado por representantes do Governo de Minas sobre a existência de uma terra no município de Patos de Minas, região do Alto Paranaíba, os Kiriri decidiram, amplamente apoiados e influenciados por representantes do estado de Minas Gerais, a se mudarem para esta nova terra.
Assim, na segunda-feira, dezesseis de abril de 2018, os Kiriri recolheram seus poucos pertences e as telhas de suas casas e esperaram o caminhão de mudança oferecido pelo estado de Minas Gerais chegar ao Rio Verde para dar início ao trajeto a ser percorrido até as terras de Patos de Minas. O caminhão não chegou, mas a Comunidade do Rio Verde, sim. Com cartazes e pedidos de permanência dos Kiriri naquela área, cerca de cinquenta pessoas ofereceram apoio e lágrimas de despedida ao grupo. Mesmo com este amparo da comunidade e com a visibilização do caso pela mídia local, os Kiriri partiram acreditando em uma promessa do Governo de Minas que se revelaria falsa.
Representantes do estado de Minas propuseram que estas famílias Kiriri ocupassem uma propriedade rural privada, localizada a setenta quilômetros da cidade de Patos de Minas, onde já havia uma ocupação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e de alguns indígenas Xukuru-Kariri. Dessa forma, as famílias Kiriri tiveram que deixar suas casas de morada no Rio Verde, deixando para trás camas, mesas, trabalho, plantações, além dos vínculos e afetos criados na comunidade de Rio Verde, em um domingo chuvoso, para irem para uma terra incerta, desconhecida e completamente desassistida pelo governo do estado de Minas Gerais e pela FUNAI.
A terra ofertada aos Kiriri em Patos de Minas não possuía água e não se configurava como uma terra fértil para o plantio. Ainda, os indígenas não possuíam trabalho nesta região, bem como casas ou laços afetivos locais. Após a ida do Povo Kiriri para este município, representantes do estado de Minas Gerais, que haviam prometido madeira e lonas para que estas famílias construíssem barracos, não mais apareceram na localidade, nem atenderam as ligações do cacique do grupo e nem cumpriram as promessas. Assim, o grupo de indígenas Kiriri sobreviveu alguns meses em barracos construídos com cobertor. Além disso, devido à falta de trabalho e de terras agricultáveis, os Kiriri passaram por necessidades básicas, como, por exemplo, a falta de alimentos básicos, como arroz e feijão.
Diante dos diversos problemas enfrentados nas terras estranhas de Patos de Minas, os Kiriri decidiram voltar para o sul de Minas. Com a ajuda da comunidade rural do Rio Verde em Caldas, conseguiram um caminhão para trazer suas coisas de volta à localidade de Caldas. Assim, atualmente, as 16 famílias estão aguardando decisão do estado de Minas Gerais, junto à UEMG e à FUNAI. Agora, com o profundo apoio da comunidade local de Rio Verde, os Kiriri estão determinados a nunca mais saírem da terra ocupada por eles em março de 2017 e que, por decisão judicial e pressão da prefeitura de Caldas, da Polícia Militar e do Governo de Minas, tiveram que sair para uma aventura dolorosa em busca de terra em Patos de Minas.
No dia 09 de outubro de 2018 cerca de quinze pessoas do Povo Kiriri do Rio Verde/Caldas estiveram na Cidade Administrativa, na sede do Governo de Minas Gerais, em Belo Horizonte, MG, após o recebimento de uma nova liminar de reintegração de posse no dia 26 de setembro de 2018, para reunião com representantes do Governo de Minas e FUNAI, com o objetivo de pressioná-los para que seja reconhecido o direito do Povo Indígena Kiriri permanecer na terra que ocupam em Caldas. Nesta reunião, foram relatados os momentos de dificuldade vivenciados pelos Kiriri, bem como sua determinação de permanecer na terra que ocupam no Sul de Minas. Além dos quinze indígenas presentes, a reunião contou com representantes da comunidade rural do Rio Verde, da FUNAI, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES). Neste encontro decidiu-se que representantes da Mesa Estadual de Diálogo e Negociação se reunirão com a UEMG para solucionar o conflito agrário, cultural, histórico e social.
Resgatar a história da perspectiva dos povos indígenas é imprescindível para a retomada das terras expropriadas das centenas de povos indígenas que existiam em Minas Gerais. A arqueóloga e historiadora Alenice Baeta, do CEDEFES, pontua com alegria: “Há muitas possibilidades de conexões entre as memórias indígenas pré-coloniais do Vale do Rio Verde: o desterro dos povos Tupi-guarani que deixaram tantos vestígios de suas passagens e os importantes rastros de tantos outros povos indígenas e africanos escravizados no período colonial no ribeirão dos Bugre - uma importante chave entre os diversos passados que se unem na região de Caldas, no sul de Minas Gerais. No limiar do século XXI, a chegada dos Xucuru-Kariri advindos de Palmeira dos Índios, de Alagoas, e mais recentemente dos Kiriri que vieram da região de Muquém do São Francisco, da Bahia. Esta terra banhada pelo Rio Verde e suas inúmeras cachoeiras é mesmo sagrada, tendo sido abençoada e escolhida por estes povos, para uma nova morada. Mas foi ainda abrigo ou refúgio do psicanalista, filósofo, pedagogo e escritor Rubem Alves, um dos fundadores da Teologia da libertação que lá tinha um lugar especial em Pocinhos do Rio Verde, que fez a grandiosa montanha ‘Pedra Branca’ ficar ainda mais encantada com os seus belos poemas. Em Pocinhos teria produzido tantos encontros, contos e textos tão inspiradores para muitos. Atraiu para lá um amigo muito peculiar - o nosso precioso mestre da história indígena: o professor John Monteiro. Duas pessoas que certamente deixaram muitas saudades, mas legados inigualáveis e inesquecíveis. Lembro-me de John Monteiro dando um seminário na UNICAMP sobre uma de suas obras: ‘Negros da Terra’... Que pessoa generosa, humilde, grandiosa, sábia. Impressionante as suas percepções e saberes sobre este temário. As leituras de seus textos sobre os povos indígenas e suas trajetórias inundam a nossa alma de luz e força. [...] Que as terras do rio Verde continuem a emanar tantas histórias lindas, abrindo novos capítulos das lutas, resistências e conquistas dos indígenas Kiriri do Rio Verde de Caldas, outros tantos capítulos da longa história deste fantástico povo guerreiro nas terras mineiras”.
Com a ajuda dos encantados e com o apoio firme da comunidade do Rio Verde, do CEDEFES, da CPT, entre outros da grande Rede de Apoio, o Povo Indígena Kiriri não arreda o pé da luta pelo seu território, luta justa, legítima e necessária. Viva a luta indígena pelos seus territórios! Nenhum direito a menos!

Campinas, SP, 20 de outubro de 2018.

[1] Antropóloga Mestranda em Antropologia Social na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto acima.

1 - Povo Indígena Kiriri em luta e resistência por território em Caldas/MG. 09/10/2018.



2 - Índios Kiriri - Minas em Rede (última reportagem do “Minas em Rede, no link, abaixo).



sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Povo Indígena Kiriri em luta e resistência por território em Caldas/MG. ...



Povo Indígena Kiriri em luta e resistência por território em Caldas, sul de Minas Gerais. 09/10/2018.

O dia 09 de outubro de 2018 entrou para a história da luta dos povos indígenas em Minas Gerais. Foi um dia em que os Povos Indígenas Kiriri, Pataxo, Kamakã Mongoió Ha Ha Hae e Tuxá estiveram em Belo Horizonte, na Cidade Administrativa, sede do governo do estado de Minas Gerais para reunião com representantes do governo: Mesa de Negociação. Além de serem indígenas, de lutarem por seus direitos e por políticas públicas a que têm pleno direito, há ainda outro ponto em comum: os Kiriri, os Pataxó, os Kamakã Mongoió Ha Há Hae e os Tuxá ocupam terras ociosas do estado de Minas Gerais, áreas que não estavam cumprindo sua função social. Todos estão em processo de negociação e todos estão ainda sem nenhuma solução ou acordo com o estado de Minas que garanta a posse definitiva dessas terras. Nesse vídeo, a manifestação de lideranças do Povo Indígena Kiriri, na Mesa de Negociação, manifestando o firme propósito da permanência na terra onde estão desde março de 2017, ocupada por estar ociosa, sem cumprir função social e que lhes pertence por legítimo direito. Terra esta que tem a ver com sua ancestralidade, com sua história, com sua cultura, com sua vida e a vida das futuras gerações. Entretanto, assim que houve a ocupação dos índios Kiriri, a UEMG entrou com a Ação de Reintegração de Posse para retomar a posse da terra. Vê-se uma instituição de educação e de ensino dando um péssimo exemplo, pois age com falta de cidadania e solidariedade aos povos indígenas, já tão massacrados e perseguidos ao longo de nossa história – vítimas, neste caso, também de uma prática do racismo institucional. Ação justa, ética e moral é esperada do Governo de Minas Gerais no sentido de assinar Decreto que garanta ao Povo Indígena Kiriri a posse desse território.

Divulgação:
http://sonhacaldas.org.br/2017/07/11/kiriri-nos-somos-gente-como-todo-mundo/

*Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 09/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Ocupação Professor Fábio Alves, em BH/MG: Luta pelo sagrado direito à mo...




Ocupação Professor Fábio Alves, em Belo Horizonte/MG: 500 famílias na Luta pelo sagrado Direito à Moradia. 1a parte. 10/10/2018.

A cumplicidade do Poder Público com o capital especulativo que resulta na falta de política habitacional, e condena a população empobrecida a sobreviver sob a pesadíssima cruz do aluguel, fez nascer mais uma Ocupação urbana em Belo Horizonte: a Ocupação Professor Fábio Alves, localizada na divisa de Belo Horizonte com Ibirité, ao lado da Via do Minério. Há um ano, aproximadamente, algumas famílias ocuparam o terreno e, recentemente, no início desse mês de outubro, centenas de famílias juntaram-se a esse grupo. Cerca de 500 famílias constituem a ocupação desse terreno abandonado há séculos, que servia como depósito de lixo de toda espécie, entulhos, descarte até mesmo de corpos e lá montaram seus barracos de lona preta e dedicam-se ao difícil trabalho de limpeza e à organização do local para ali construírem um espaço de moradia digna. Entretanto, a mola propulsora do capital e do capitalismo impulsionou a ganância e a cobiça dos que se julgam detentores de terrenos ociosos. O terreno antes totalmente abandonado, se tornou, injustamente e inconstitucionalmente, alvo de ação da Polícia Militar de MG que na terça-feira, 10 de outubro/2018, iniciou cerco policial em torno da Ocupação. O Movimento Luta Popular (LP), a Central Sindical Popular CONLUTAS (CSP CONLUTAS) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) apoiam a Ocupação e alertam o Governo do Estado de Minas Gerais de que uma ação policial na Ocupação Professor Fábio Alves colocará em risco a vida de trabalhadores e trabalhadoras, crianças, idosos e deficientes que só querem um lugar para morar com dignidade. Nesse vídeo, o registro do início da luta e resistência dessas famílias com o trabalho de limpeza e organização do espaço. Famílias que, animadas pela fé no Deus da Vida, mantêm-se firmes nessa busca de qualidade de vida, com dignidade e paz.

Dia das Crianças na Ocupação Prof. Fábio Alves, no Barreiro, em
Belo Horizonte, MG, 15/10/2018. Foto: divulgação do Movimento Luta Popular.

*Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 10/10/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Em quem Jesus de Nazaré não votaria no segundo turno em 2018 no Brasil?

Reprodução: Divulgação



Em quem Jesus de Nazaré não votaria no segundo turno em 2018 no Brasil?
Por frei Gilvander Moreira[1]

A crise plural pela qual passa o povo brasileiro e mundial é gravíssima: crise econômica, política, ecológica, social, crise das instituições etc. Justo seria se o voto fosse facultativo e votasse quem quisesse e tivesse acesso às principais informações para discernir quais são os/as melhores candidatos/as. Alegando que iriam diminuir o desemprego, a maioria dos deputados federais e senadores ignoraram 54 milhões de votos e sem Dilma Rousseff ter cometido crime de responsabilidade destituíram a presidenta eleita pela vontade da maioria do povo brasileiro, abrindo as comportas para vários cortes em direitos fundamentais/sociais e rasgando a Constituição. Assim, dia 31 de agosto de 2016 iniciou-se no Brasil o 7º golpe sobre o povo brasileiro, desta vez um golpe parlamentar, jurídico e midiático.
Há vários mitos e mentiras circulando agora durante o segundo turno da eleição para presidente do Brasil. O Brasil não é um quartel. Logo, a eleição presidencial não é para escolher o melhor coronel/capitão. O Brasil é um país com 206 milhões de habitantes, um território de 9,5 milhões de quilômetros quadrados e com biomas – Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal, Caatinga e Pampa – profundamente devastados pelo agronegócio que, por meio de monoculturas, uso exagerado de agrotóxico e produção de alimentos transgênicos, está causando a maior devastação socioambiental da história. Pesquisas científicas apontam que o uso de agrotóxicos na agricultura do agronegócio está causando câncer em mais de 600 mil pessoas a cada ano no Brasil. Assustador é que entre as propostas capitalistas de Jair Bolsonaro está acabar com o Ministério do Meio Ambiente e com a fiscalização feita por fiscais do IBAMA, do ICBbio e do Ministério do Trabalho. Isso, segundo ele, “para não incomodar o (grande) produtor”, ou seja: latifundiários e empresários do agronegócio estarão completamente liberados para aprofundar a devastação ambiental e o envenenamento da terra, da água, do ar e dos alimentos. Isso é proposta de exterminador do futuro. Se for colocada em prática essa proposta, será o fim da Mata Amazônica e do pouco de cerrado que ainda existe no Brasil. Essa proposta está totalmente na contramão do que propõe o papa Francisco na Encíclica Laudato Si: “A perda de florestas e bosques implica simultaneamente a perda de espécies que poderiam constituir, no futuro, recursos extremamente importantes não só para a alimentação, mas também para a cura de doenças e vários serviços” (Laudato Si, n. 32). “Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais” (Laudato Si, n. 33). O papa Francisco apoia a Agricultura Familiar na linha da Agroecologia e critica o agronegócio como um causador do êxodo rural ao dizer: “Há uma grande variedade de sistemas alimentares rurais de pequena escala que continuam alimentando a maior parte da população mundial, utilizando uma porção reduzida de terreno e água e produzindo menos resíduos, quer em pequenas parcelas agrícolas e hortas, quer na caça e coleta de produtos silvestres, quer na pesca artesanal. As economias de larga escala – agronegócio via monoculturas -, especialmente no setor agrícola, acabam forçando os pequenos agricultores a vender as suas terras ou a abandonar as suas culturas tradicionais” (Laudato Si, n. 129).
O latifúndio continua sendo a coluna mestra do capitalismo brasileiro, que é uma máquina de moer vidas humanas e de toda a biodiversidade. As áreas urbanas, por sua vez, consolidam os modelos de desigualdade social, onde a população empurrada para a periferia não tem acesso a uma política habitacional, saneamento básico, saúde e transporte digno. A violência social campeia com mais de 70 mil jovens sendo assassinados anualmente. Diante desse cenário, seja em área rural ou urbana, uma cortina de fumaça está sendo insuflada diante do povo que está sendo cegado e impedido de discernir qual é o candidato ético e que de fato governará o Brasil com o povo e para gerar o bem comum para todos.
Jair Bolsonaro (PSL) é candidato do grande empresariado do capital nacional e internacional. Se eleito, jamais irá governar com o povo e nem para o povo. Será sempre subserviente aos interesses imperiais dos Estados Unidos, pois ele prestou continência à Bandeira estadunidense. Ele continuará privatizando as empresas estatais, a mãe terra, as águas, reduzindo o povo à miséria e desertificando nosso território. Ele não fala nada sobre necessidade de políticas de preservação ambiental e nem de se fazer Reforma Agrária Popular. Ao contrário, promete fortalecer o agronegócio, as mineradoras, impedir a demarcação de terras dos povos indígenas e quilombolas e, pior, reduzir as poucas terras indígenas já demarcadas. Isso é injustiça que clama aos céus!
Se fosse “Deus acima de tudo”, Bolsonaro não discriminaria as mulheres, os indígenas, os quilombolas, as domésticas e os homossexuais etc. Bolsonaro defende torturadores e a tortura. Ele abusa do nome de Deus, pois semeia ódio no tecido social; em vez de colocar livros nas mãos das pessoas, quer liberar o mercado de armas no Brasil. Em 30 anos como deputado, Bolsonaro não contribuiu para melhorar nem a segurança pública no estado do Rio de janeiro. Se eleito, ele será como Trump no Brasil: autoritário e repressor. O ético é pôr nas mãos das pessoas livros e não armas. Ele recebe auxílio moradia sem precisar, usa funcionária do congresso para cuidar da mansão dele no estado do Rio de Janeiro. Ele disse que os povos indígenas não merecem “nem um centímetro de terra”. É uma grande contradição ser pessoa cristã e apoiar quem dissemina violência na sociedade, planeja distribuir armas e autorizar policiais a matar sem ser responsabilizados. O povo brasileiro não merece entrar novamente em outra ditadura. O ético é Ditadura Nunca Mais! Grave também são lideranças religiosas, sejam padres ou pastores, induzirem os fiéis a votarem em Bolsonaro só por causa do seu discurso enganoso que diz “Deus acima de tudo e defensor da família e da moral tradicional”. Ele mesmo já passou por vários casamentos e apresenta propostas antagônicas com a fé cristã: armar as pessoas, ensinar crianças a atirar etc.
Está enganado quem, por antipetismo, votar em Bolsonaro. Não punirá o PT, mas o povo brasileiro já tão injustiçado, pois todas as políticas públicas e direitos sociais serão liquidados. De 2003 a 2015, sob o Governo do PT o salário mínimo teve aumento real, 16 universidades federais e 422 Institutos Federais foram construídos, além de várias políticas públicas de respeito aos direitos humanos fundamentais. Conquistas sociais que nenhum outro partido fez. Não podemos aventurar por no volante do Brasil quem insufla políticas repressoras, que são falsos remédios para injustiças sociais e, pior, até acena no rumo de uma nova ditadura. A quem não sabe o que é Ditadura Militar-civil-empresarial sugiro ler o livro Brasil Nunca Mais e assistir ao Filme Batismo de Sangue.
Muito bem manifestou-se o jornalista Francisco Assis em seu Artigo de Opinião, publicado no Jornal português Público, em sua  edição do dia 11/10/2018 (Selecionamos alguns trechos.):  “Quem elogia o torturador de uma jovem mulher absolutamente indefesa atribui-se a si próprio um estatuto praticamente sub-humano. Tudo nele aponta para a pequenez: é um ser intelectualmente medíocre, eticamente execrável, politicamente vulgar. Bolsonaro é pouco mais do que um analfabeto ideológico com todos os perigos que isso mesmo encerra. Equiparar Haddad a Bolsonaro constitui um acto moral e politicamente inqualificável. Haddad é um intelectual sofisticado, um democrata respeitador dos princípios fundamentais das sociedades abertas e pluralistas, um homem de reconhecida integridade cívica e moral. Uma vitória de Bolsonaro significaria um retrocesso civilizacional para o Brasil e para o mundo. Haddad é hoje mais do que Haddad, é mais do que o PT, é mesmo mais do que o Brasil. Haddad é o símbolo da luta da razão crítica contra o obscurantismo, da liberdade face ao despotismo, da aspiração igualitária diante do culto das hierarquias de base biológica ou social. Haddad significa a civilização, Bolsonaro representa a barbárie”.

Como discípulos/as de Jesus Cristo, devemos primar pela busca da paz como fruto da justiça social, agrária e ambiental; ter o amor e o respeito ao diferente como princípio da convivência social; diante das injustiças sociais, cultivarmos sempre Opção pelos injustiçados como Opção de Classe trabalhadora. É muito importante e fundamental estarmos cientes de que a superação das injustiças passa sempre por educação e cultura popular, a partir dos de baixo.
Enfim, Jesus de Nazaré não votaria em candidato que usa e abusa do nome do Deus da Vida e nem em candidato que representa os interesses do capital. Eis o caminho: votar em quem tem sensibilidade social e humana. Prefiro votar no professor Fernando Haddad, que, como Ministro da Educação ampliou em larga escala o acesso à Educação Pública em todos os níveis, possibilitou aos jovens da classe trabalhadora e das Comunidades Tradicionais o ingresso nas Universidades Públicas e Particulares e criou o Piso Nacional de Salário dos/as professoras/es. Militarização da sociedade jamais será caminho justo para a classe trabalhadora e camponesa e para ninguém.

Belo Horizonte, MG, 17/10/2018.

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
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