Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Guilherme Boulos, candidato do PSOL-50 à presidência da República, no comício em Belo Horizonte/MG: "No primeiro turno, depositar na urna o seu sonho, a sua esperança." 2ª Parte. 27/9/2018.
Nascido em São Paulo, Guilherme Castro Boulos, 36 anos, é filho de pais médicos e professores da USP (Universidade de São Paulo) e é o mais jovem candidato a presidente da República. Formado em filosofia pela USP, Boulos também é historiador, professor, escritor, ativista político e coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). É candidato a presidente da República pelo PSOL, tendo como candidata a copresidenta a liderança indígena Sônia Guajajara. Nesse vídeo, a 2ª parte da mensagem de Guilherme Boulos, no comício realizado em Belo Horizonte/MG, no dia 27/9/2018, em que confirma a posição da candidatura Boulos/Sônia como elo de unidade contra o fascismo, a ditadura, o retrocesso na democracia, mas defende a importância do fortalecimento do trabalho do PSOL no primeiro turno, considerando a luta por direitos que une a todas as forças vivas da sociedade que compõem a aliança em torno dessa candidatura e que se fortalece na manifestação do voto. Guilherme Boulos conclama a toda a militância e simpatizantes do PSOL a depositarem na urna, no primeiro turno, dia 07/10/2018, o voto no melhor Projeto, depositarem o sonho e a esperança da mudança para o Brasil, livre da subserviência ao capitalismo e aos capitalistas, uma Pátria livre, para todos e todas, de todos e todas.
Guilherme Boulos, no Programa Roda Vida. Reprodução do Youtube.
*Filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 27/9/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a diversos vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Guilherme Boulos, candidato a Presidente da República, pelo PSOL-50, no comício realizado em Belo Horizonte/MG: Sem medo de mudar o Brasil. 1ª Parte. 27/9/2018.
Nascido em São Paulo, Guilherme Castro Boulos, 36 anos, é filho de pais médicos e professores da USP (Universidade de São Paulo) e é o mais jovem candidato a presidente da República. Formado em filosofia pela USP, Boulos também é historiador, professor, escritor, ativista político e coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). É candidato a presidente da República pelo PSOL, tendo como candidata a copresidenta a liderança indígena Sônia Guajajara. Nesse vídeo, a 1ª parte da mensagem de Guilherme Boulos, no comício realizado em Belo Horizonte/MG, no dia 27/9/2018, em que fala da aliança formada em torno da candidatura Boulous/Sônia com Movimentos Sociais Populares e segmentos diversos da sociedade civil organizada, como alternativa de um novo modelo de país, livre da subserviência ao capital e aos capitalistas, com justiça social, agrária e ambiental, igualdade, liberdade e respeito aos direitos que garantem a dignidade de todos e todas.
*Filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira. Belo Horizonte/MG, 27/9/2018.
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Fé cristã e eleições 2018: em quem Jesus não votaria? Por Gilvander Moreira[1]
“Eta, espinheira danada / Que o pobre atravessa pra sobreviver / Vive com a carga nas costas / E as dores que sente não pode dizer ...” (Música Espinheira, de Duduca e Dalvan).
A crise plural pela qual passa o povo brasileiro e mundial é gravíssima: crise econômica, política, ecológica, social, crise das instituições etc. Ingenuamente pessoas acreditam que votar corretamente é o caminho para superar as injustiças. Pode ser um caminho, mas não o caminho, pois “entra ano e sai ano e o tal de fulano ainda é pior...”, cantam Duduca e Dalvan. Dentro dos ditames do sistema capitalista, eleições garantem apenas fachada de democracia em sistemas opressores. Correto é investir apenas 5% do nosso tempo, sabedoria e energia em eleições para elegermos os/as melhores candidatos/as e dedicar 95% do nosso tempo, sabedoria e energia na luta por direitos humanos fundamentais para construirmos Política com P maiúsculo, que é luta pelo bem comum. Justo seria se o voto fosse facultativo e votasse quem quisesse e tivesse acesso às principais informações para discernir quais são os/as melhores candidatos/as. Fato é que Eleição não é o que garante democracia econômica, social e política. O voto vale muito pouco. Se voto tivesse valor, não teria acontecido golpe parlamentar, jurídico e midiático contra e ex-presidenta Dilma Rousseff, sem ela ter cometido crime de responsabilidade. Alegando que iriam diminuir o desemprego, a maioria dos deputados federais e senadores ignoraram 54 milhões de votos e destituíram uma presidenta eleita pela vontade da maioria do povo brasileiro, abrindo as comportas para vários cortes em direitos fundamentais/sociais e rasgando a Constituição.
Há vários mitos e mentiras circulando agora em tempo de campanha eleitoral. O Brasil não é uma empresa e nem um quartel. Logo, a eleição presidencial não é para escolher o melhor coronel/capitão e nem para escolher o melhor administrador de empresa. O Brasil é um país com 206 milhões de habitantes, um território de 9,5 milhões de quilômetros quadrados e com biomas – Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal, Caatinga e Pampa – profundamente devastados pelo agronegócio que, por meio de monoculturas, uso exagerado de agrotóxico e produção de alimentos transgênicos, está causando a maior devastação socioambiental da história. Pesquisas científicas apontam que o uso de agrotóxicos na agricultura do agronegócio está causando câncer em mais de 600 mil pessoas a cada ano no Brasil.
O latifúndio continua sendo a coluna mestra do capitalismo brasileiro, que é uma máquina de moer vidas humanas e de toda a biodiversidade. As áreas urbanas, por sua vez, consolidam os modelos de desigualdade social, onde a população empurrada para a periferia não tem acesso a uma política habitacional, saneamento básico, saúde e transporte digno. A violência social campeia com mais de 70 mil jovens sendo assassinados anualmente. Diante desse cenário, seja em área rural ou urbana, uma cortina de fumaça está sendo insuflada diante do povo que está sendo cegado e impedido de discernir quais são os/as candidatos/as éticos/as e que de fato serão representantes do povo nos poderes executivo e Legislativo, em âmbito federal e estadual.
As causas principais da violência social que se abate sobre o povo brasileiro, a Mãe Terra, as águas e todos os seres vivos está no capitalismo, sob o modelo de agronegócio e a superexploração dos bens naturais que é imposta pelas empresas transnacionais e pelo capital financeiro e especulativo, principalmente. Predomina aqui o racismo ambiental sob a manutenção da condição de colonialismo que atinge trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, quilombolas e outros tipos de povos tradicionais, em regra os mais penalizados. Ainda importante lembrar que nos últimos 20 anos aproximadamente 50 mil trabalhadores se encontravam em situação análoga à escravidão, sendo que esta estimativa deve ser bem superior, estando a maioria envolvida escravizada nos setores de extração mineral, construção civil, agronegócio e confecção de roupas e tecelagem, esta última, que serve a famosas grifes de moda e de redes de varejistas.
Não podemos esquecer que a sociedade brasileira é uma sociedade de classes, organizada para reproduzir a desigualdade social. Há a classe dominante detentora dos meios de produção – terra, empresas, indústrias, fábricas, grandes comércios e capital financeiro especulativo – subjugando a classe trabalhadora e a classe camponesa. Ou seja, opressão de classe e luta de classes são características básicas das relações sociais capitalistas.
Não se deve dar crédito aos candidatos que repetem à exaustão a cantilena: “Temos que gerar emprego e para isso precisamos atrair investidores internacionais com capital internacional. Para isso temos que reduzir o Estado, promover austeridade fiscal e promover competitividade.” Candidatos e partidos que fazem esse tipo de discurso/propaganda na prática estão dizendo “bem-vindas empresas transnacionais. O Brasil está aqui para ser sugado e surrupiado. E o povo resignado aceitará nova colonização.” Quem promove isso não ama o povo brasileiro.
No Bloco de centro-direita estão os candidatos Geraldo Alkmin (PSDB), Henrique Meireles (MDB) e Bolsonaro (PSL) (para citar os que têm mais votos). São candidatos do grande empresariado e que representarão os interesses do capital nacional e internacional. Jamais irão governar para o povo e nunca com o povo. Serão sempre subservientes aos interesses imperiais dos Estados Unidos e continuarão privatizando as empresas estatais, a mãe terra, as águas, reduzindo o povo à miséria e desertificando nosso território. Esses candidatos não falam nada sobre necessidade de políticas de preservação ambiental e nem de se fazer Reforma Agrária Popular. Ao contrário, prometem fortalecer o agronegócio, as mineradoras e até impedir a demarcação de terras dos povos indígenas e quilombolas. Isso é injustiça que clama aos céus!
Na extrema-direita, Jair Bolsonaro é o pior candidato a presidente, porque ele discrimina as mulheres, os indígenas, os quilombolas, as domésticas, os homossexuais, os pobres. Bolsonaro defende torturadores e a tortura. Ele usa em vão o nome de Deus, pois semeia ódio no tecido social; em vez de colocar livros nas mãos das pessoas, quer liberar o mercado de armas no Brasil. Em 30 anos como deputado, Bolsonaro não contribuiu para melhorar nem a segurança pública no estado do Rio de janeiro. Se eleito, ele será como Trump no Brasil: autoritário e repressor. O ético é pôr nas mãos das pessoas livros e não armas. Ele recebe auxílio moradia sem precisar, usa funcionária do congresso para cuidar da mansão dele no estado do RJ. Ele quer privatizar tudo, ou seja, entregar o povo brasileiro, a Mãe Terra, as águas, tudo para multinacionais. Disse que os povos indígenas não merecem “nem um centímetro de terra”. É uma grande contradição ser pessoa cristã e apoiar quem quer semear violência na sociedade, distribuir armas e autorizar policiais a matar. O povo brasileiro não merece entrar novamente em outra ditadura. O filho dele, Carlos Bolsonaro, também deverá ser julgado por defender a tortura. Grave também são lideranças religiosas, sejam padres ou pastores, induzirem os fiéis a votarem em Bolsonaro só por causa do seu discurso enganoso que diz “Deus acima de tudo e defensor da família e da moral tradicional”. Ele mesmo já passou por vários casamentos e apresenta propostas antagônicas com a fé cristã: armar as pessoas, ensinar crianças a atirar, dizer que a polícia tem que ser autorizada a poder matar etc..
No bloco de centro-esquerda estão a candidata Marina Silva (REDE) e os candidatos Ciro Gomes (PDT), Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Vera Lúcia (PSTU). Para a classe trabalhadora e camponesa Guilherme Boulos é o melhor, pois está umbilicalmente ligado aos movimentos sociais populares, sendo Boulos do MTST e tendo como co-presidenta Sônia Guajajara, liderança indígena profundamente comprometida com a defesa da Mãe Terra, da Irmã Água e da família mais tradicional do Brasil: a indígena. Eis uma dica: no 1º turno, votar no melhor e no 2º turno impedir a eleição do pior. Ético e cristão é votarmos em candidatos não capitalistas, à esquerda, e jamais em candidatos de centro ou de direita. Votar em quem defende a classe trabalhadora e a classe camponesa.
De 2003 a 2015, sob o Governo do PT o salário mínimo teve aumento real, 16 universidades federais e 422 Institutos Federais foram construídos, além de várias políticas públicas de respeito aos direitos humanos fundamentais. Conquistas sociais que nenhum outro partido fez. Não podemos aventurar por no volante do Brasil quem insufla políticas repressoras, que são falsos remédios para injustiças sociais e, pior, até acena no rumo de uma nova ditadura. A quem não sabe o que é Ditadura Militar-civil-empresarial sugiro ler o livro Brasil Nunca Mais e assistir ao Filme Batismo de Sangue.
Como discípulos/as de Jesus Cristo, devemos primar pela busca da paz como fruto da justiça social, agrária e ambiental; ter o amor e o respeito ao diferente como princípio da convivência social; diante das injustiças sociais, cultivarmos sempre Opção pelos injustiçados como Opção de Classe trabalhadora. É muito importante e fundamental estarmos cientes de que a superação das injustiças passa sempre por educação e cultura popular, a partir dos de baixo. Se as eleições não nos motivam pela politicagem impregnada no sistema que as gerenciam, inspiremo-nos, porém, nas palavras do Papa Francisco e sigamos firmes na luta: “Não deixemos que nos roubem a esperança” (Evangelium Gaudium, 86). Enfim, Jesus de Nazaré não votaria em candidatos que usam em vão o nome do Deus da Vida e nem em candidatos que representam os interesses do capital.
Arinos, MG, 1º/10/2018.
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
O
clamor do Rio São Francisco em meio à monocultura da cana: XXI Romaria das
Águas e da Terra de MG. Missões. 6ª Parte. 08/9/2018.
A XXI Romaria das Águas e da
Terra de Minas Gerais, cuja culminância foi celebrada no dia 16/9/2018, em
Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG, teve como tema “Das Nascentes do Rio São
Francisco, às Terras da Justiça” e como lema “Cuidando da Mãe Terra e da Irmã
Água”. Nesse vídeo, o registro da visita de frei Gilvander, Hemerson e João
Bento ao rio São Francisco, cujas águas seguem cantando o louvor da criação,
mas clamam por socorro pela vida ameaçada. A região de Lagoa da Prata, antes
pantanosa, pela vitalidade do Rio São Francisco, se vê cercada a partir de 1945
pela monocultura da cana, o que prejudica gravemente a Natureza, a Mãe Terra, a
Irmã Água e toda a criação. Mudou a paisagem e muito sérias são as
consequências para a vida, em toda sua biodiversidade. Um grito por justiça
ressoa no ar: pelo Rio São Francisco, pela Mãe Terra, pela Irmã Água, por todos
os filhos e filhas de Deus, por todas suas criaturas. A força do capitalismo -
máquina de moer vidas - e dos capitalistas tem que ser contida. E isso é responsabilidade
de todas as forças vivas da sociedade e das igrejas, de todas as pessoas que
sonham e lutam por uma sociedade transformada, com justiça social, agrária e
ambiental.
*Reportagem em vídeo de frei
Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da
Equipe de Comunicação da CPT-MG.
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Só mudança de mentalidade é insuficiente. Por Gilvander Moreira[1]
Foto: Divulgação do Blog Mafarrico Vermelho.
É “a revolução a força motriz da história e também da religião, da filosofia e de toda forma de teoria” (MARX; ENGELS, 2007, p. 43). A luta pela terra aponta perspectivas emancipatórias capazes de mover a história? “Na atividade revolucionária, o transformar a si mesmo coincide com o transformar as circunstâncias” (MARX; ENGELS, 2007, p. 209). No prólogo de A ideologia alemã, Marx e Engels, de forma contundente, asseveram: “Até o momento, os homens sempre fizeram representações falsas de si mesmos, daquilo que eles são ou devem ser. Eles organizaram suas relações de acordo com suas representações de Deus, do homem normal e assim por diante. Os produtos de sua cabeça tornaram-se independentes. Eles, os criadores, curvaram-se diante de suas criaturas. Libertemo-nos de suas quimeras, das ideias, dos dogmas, dos seres imaginários, sob o jugo dos quais eles definham. Rebelemo-nos contra esse império dos pensamentos. Ensinemos-lhes a trocar essas imaginações por pensamentos que correspondam à essência do homem” (MARX; ENGELS, 2007, p. 523).
Não são com argumentos racionais e silogismos, elucubrações teóricas, que o ser humano prova a verdade do que afirma. Antropologicamente, entendemos o ser humano como um “ser de relações e não apenas de contato, não apenas está no mundo, mas com o mundo” (FREIRE, 2002, p. 47). Segundo Marx, o indivíduo se relaciona por toda atividade humana com as condições objetivas herdadas das gerações anteriores, com as condições materiais objetivas do presente e tem o desafio de produzir e se reproduzir. Segundo Freire, o homem não apenas se adapta ou se ajusta, mas se integra ao meio cultural e histórico. “Herdando a experiência adquirida, criando e recriando, integrando-se às condições de seu contexto, respondendo a seus desafios, objetivando-se a si próprio, discernindo, transcendendo, lança-se o homem num domínio que lhe é exclusivo – o da História e o da cultura” (FREIRE, 2002, p. 49).
Marx demonstra que as ideias passam pela nossa mente, onde podem ser elaboradas, mas a origem das ideias está nas condições históricas materiais, nas relações sociais e no enfrentamento dos problemas. O materialismo histórico-dialético de Marx atesta que nada chega ou sai da mente se não for suscitado pela materialidade das relações sociais. A totalidade das relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, sobre a qual se ergue uma superestrutura constituída pelas instituições jurídicas, políticas, morais e culturais. “Na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (MARX, 2005, p. 52).
De fato, enquanto compreensão de que o ser humano se forma e age nas ideias, pelas ideias e para as ideias, o idealismo, de forma explícita ou implícita, admitido ou não, há séculos tem sido uma constante na história da educação, na formatação de princípios e regras éticas e na tentativa de superar os problemas humanos. Entretanto, a história demonstra que não bastam boas intenções e nem só ideias críticas para se resolverem e superarem de forma justa as injustiças sociais.
Ao pesquisar a luta pela terra enquanto pedagogia de emancipação humana no doutorado que defendemos na FAE/UFMG, tínhamos a consciência de que “até o passado registrado – ou narrado oralmente (acréscimo nosso) – muda à luz da história subsequente” (HOBSBAWM, 1998, p. 250). Tínhamos em mente o que afirma Franco Cambi: “Através do passado criticamente revisitado, o presente (também criticamente) se abre para o futuro, que se vê carregado dos impulsos não realizados do passado, mesmo o mais distante ou o mais marginalizado e sufocado” (CAMBI, 1999, p. 36). Dia 22 de outubro de 2014, os Sem Terra acampados no Acampamento Dom Luciano Mendes, desde 26 de agosto de 2006, receberam das mãos do superintendente do INCRA/MG a imissão na posse da Fazenda Monte Cristo, em Salto da Divisa, MG. Fato histórico, pois se tratava do primeiro assentamento que estava sendo autorizado pelo Governo Federal em Salto da Divisa, na região do Baixo Jequitinhonha, MG, um município que tem uma das maiores concentrações fundiárias do mundo. O INCRA repassou a fazenda Monte Cristo a 25 famílias do MST que estavam acampadas no Acampamento Dom Luciano Mendes. Estava nascendo o Projeto de Assentamento (PA) Dom Luciano Mendes.
Pesquisamos a luta pela terra em Salto da Divisa, a partir do Acampamento Dom Luciano Mendes por vários motivos, entre os quais um se destaca. O município de Salto da Divisa, na região do Baixo Jequitinhonha, MG, tem uma das maiores concentrações fundiárias do mundo. Apenas duas famílias – Cunha Peixoto e Pimenta – estima-se que sejam proprietárias de 97,5% do território do município, com a maior parte de terras devolutas griladas e/ou propriedades improdutivas que não cumprem a função social.
Comprometido com a luta do MST, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs), desde que se tornou bispo da Diocese de Almenara, dom Hugo Steekelenburg denunciou em uma Audiência Pública: “O município de Salto da Divisa é o único município do Brasil que não tem mais nenhuma comunidade rural, exceto a comunidade do Acampamento Dom Luciano Mendes e as famílias que moram nas ilhas do rio Jequitinhonha. Só estão no campo os vaqueiros que cuidam do gado e são proibidos de plantar (DOM HUGO MARIA VAN STEEKELENBURG, em audiência da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, na cidade de Salto da Divisa, dia 23/11/2009). Atualmente, como fruto de aguerrida luta pela terra existem em Salto da divisa três comunidades camponesas: as dos Assentamentos Dom Luciano Mendes e Irmã Geraldinha e a Comunidade Quilombola Braço Forte, que está retomando seu território.
Referências.
CAMBI, Franco. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das letras, 1998.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã: crítica da mais recente Filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.
______. Karl Marx: para a crítica da Economia Política, Do Capital, O Rendimento e suas fontes. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 2005.
Belo Horizonte, MG, 25/9/2018.
Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1 - Ocupação dos Carroceiros, no Bairro Tirol, em Belo Horizonte/MG: Negociação, sim. Despejo, não. 23/9/2018.
2 - Padre Tonhão: "Nossos rios foram secados!" - XXI Romaria das Águas e da Terra de MG: Missões - 3a Parte - 08/9/2018.
3 - Aldeia Kamakã Grayra na FUCAM , em Esmeraldas/MG: Resistência pelo direito à terra/18/8/2018.
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
Compromisso
com a Casa Comum - XXI Romaria das Águas e da Terra de MG – Início das Missões
– 5ª Parte – 08/9/2018.
A culminância da XXI Romaria
das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que aconteceu em Lagoa da
Prata, Diocese de Luz/MG, dia 16/9/2018, foi precedida de uma Semana
Missionária, realizada nas 11 Comunidades da Paróquia São Francisco de Assis,
de Lagoa da Prata. No início das missões, mais de 50 missionários e
missionárias encontraram-se na Comunidade Santa Clara para um momento de
formação, com vivência da espiritualidade e mística dessa XXI Romaria. Após
momentos de reflexão acerca dos graves problemas que afetam o meio ambiente na
Diocese e que exigem ações urgentes em defesa da Mãe Terra e da Irmã Água,
missionários e missionárias foram informados também de felizes iniciativas da
Comunidade, visando o cuidado com a Casa Comum, com a vida, como é o caso do
Projeto Barraginha, que capta a água de enxurrada, controlando a erosão e
guardando a água no subsolo; da APAC (Associação de Proteção e Assistência ao
Condenado), e que também recebeu a visita missionária. Os missionários e
missionários da XXI Romaria das Águas e da Terra de MG tiveram à sua disposição
uma Cartilha com orientações para a Semana Missionária e roteiros de Sete
Encontros a serem realizados com as famílias missionadas, como também o
Cancioneiro Popular com quase 100 cantos sugeridos. “Das Nascentes do São
Francisco, às Terras da Justiça”, “Cuidando da Mãe Terra e da Irmã Água”
missionários e missionárias foram motivados a anunciar a boa nova da esperança,
denunciar injustiças e situações de morte, na certeza de que é possível
construir uma sociedade justa, fraterna, que respeite a dignidade da vida em
toda sua biodiversidade e cuide com responsabilidade da nossa Casa Comum, o
Planeta Terra.
*Reportagem e Filmagem de
frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira,
da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Lagoa da Prata/MG, 08/9/2018.
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Ocupação dos Carroceiros, no Bairro Tirol, em Belo Horizonte/MG: Negociação, sim. Despejo, não. 23/9/2018.
Famílias de carroceiros, há quase seis anos, formam a Ocupação dos Carroceiros, no Bairro Tirol, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG. A Ocupação, que conta com o apoio do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e da CPT (Comissão Pastoral da Terra), foi a única alternativa dessas famílias de carroceiros que não tinham e não têm condições de comprar a casa própria e nem de se submeterem à pesadíssima cruz do aluguel. A área, antes ponto de desmanche, de consumo de drogas, descarte, hoje é um espaço organizado por famílias que criaram vínculos afetivos umas com as outras, são usuários do serviço de saúde pública da região, seus filhos estudam em escolas próximas, têm suas criações e, muito importante, ali habitam com seus cavalos e éguas, companheiros/as de trabalho em suas carroças. Há alguns dias, as famílias foram surpreendidas com a notificação de uma liminar de reintegração de posse, em favor da SUDECAP da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) - notícia levada pela URBEL S.A (Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte, da PBH) -, exigindo que saiam do local até amanhã, dia 25/9/2018, sob pena, segundo informaram, de serem despejadas à força. Sem alternativa digna prévia, esse despejo da Ocupação dos Carroceiros é injusto, imoral e desumano e fere os princípios da Dignidade Humana, do Direito a Moradia e da função social da terra, da Constituição Federal, já que as famílias não foram ouvidas, e nem o TJMG acionou o Ministério Público e a Defensoria Pública da área de Direitos Humanos. Como despejar essas famílias que sobrevivem do trabalho com as carroças, sem lhes apresentar alternativa digna e prévia, onde possam morar, com espaço também adequado aos seus animais, companheiros/as de trabalho? Pelo direito à moradia digna, pelo direito ao trabalho dos carroceiros da Ocupação dos Carroceiros do Bairro Tirol, em Belo Horizonte/MG, pelo respeito à dignidade humana, NEGOCIAÇÃO, SIM. DESPEJO, NÃO.
*Reportagem e Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 23/9/2018.
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