Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Frei Gilvander na Rádio Veredas FM - 88,5, de Lagoa da Prata, MG: XXI Romaria das Águas e da Terra de MG, dia 12/9/2018.
Na Semana de Missões em preparação à culminância da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que acontecerá em Lagoa da Prata, Diocese de Luz/MG, no próximo domingo, 16/9/2018, Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI, participou do Programa Repórter, da Rádio Veredas FM 88,5, de Lagoa da Prata, com entrevista ao vivo. *Edição de áudio com foto, por Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação do CPT-MG. Lagoa da Prata/MG, 12/9/2018.
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Início
das Missões da XXI Romaria das Águas e da Terra/MG, em Lagoa da Prata/MG. 1ª
Parte. 08/9/2018.
A XXI Romaria das Águas e da
Terra de Minas Gerais chega à Lagoa da Prata, Diocese de Luz/MG, com grande
riqueza espiritual e profética Mais de 50 missionários e missionárias da Mãe
Terra e da Irmã Água estão nessa acolhedora cidade, desde o dia 08 de setembro/2018,
quando teve início a Semana de Missões nas 11 Comunidades da Paróquia São
Francisco. Iluminados pela Palavra de Deus, que inspirou a produção da Cartilha
da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais (Sete Encontros
para Reflexão em Pequenos Grupos), missionárias e missionários se organizam
como Povo de Deus em caminhada, para anunciar a Boa Nova da Esperança e da
Libertação, para denunciar as injustiças contra a criação e as criaturas, para
convidar a todos e todas à construção de uma nova sociedade, com justiça
agrária, social e ambiental, em que todos e todas tenham vida com qualidade,
com a dignidade de filhos e filhas do Deus da Vida. Nas águas e na terra, dons
de Deus, direitos de todos e todas, está também a sacralidade da vida. É esta a
mística da XXI Romaria das Águas e da Terra de MG, que terá sua culminância em
Lagoa da Prata, Diocese de Lu/MG, nesse próximo domingo, 16/9/2018. “Das
Nascentes do São Francisco, às Terras da Justiça”, sigamos firmes na luta, em
romaria e resistência, “Cuidando da Mãe Terra e da Irmã Água”. Nesse vídeo, a
1ª parte do primeiro encontro das missionárias e missionários da XXI Romaria
das Águas e da Terra de Minas Gerais, no salão da Comunidade Santa Clara,
Paróquia São Francisco, que tem como pároco o Padre Joel.
*Filmagem de frei Gilvander
Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de
Comunicação do CPT-MG. Lagoa da Prata/MG, 089/2018.
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Vida em primeiro lugar! - 24º Grito dos Excluídos/BH/MG - 2ª Parte - 07/9/2018.
Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, realizou, com grande participação popular, o 24º Grito dos Excluídos. “Vida em primeiro lugar! Desigualdade gera violência: basta de privilégios!” Milhares de pessoas fizeram ressoar esse grito pelas ruas da capital mineira. É o grito contra a violação da democracia e dos direitos fundamentais, em consequência do golpe em curso, que fere a vida e a dignidade do povo brasileiro. Um grito contra as medidas politiqueiras criminosas de austeridade que só fazem aumentar a desigualdade social e, por consequência, a violência social. O momento é preocupante, é crítico, e só a mobilização popular, consciente e responsável, pode frear essa tentativa de avanço das forças do capital e dos capitalistas, que defendem privilégios, oprimem, excluem, matam, querem se apoderar das terras, das águas e gerar cada vez mais riqueza para poucos à custa de mais pobreza para muitos. Só a mobilização popular pode dar rumo novo a essa história e construir uma nova sociedade fundamentada na justiça social, a serviço da vida com dignidade para todas e todos.
*Reportagem em vídeo de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. 2ª Parte. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 07/9/2018.
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XIV Grito dos Excluídos em Belo Horizonte/MG - 1ª Parte - 07/9/2018.
Milhares de pessoas foram às ruas de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, nesse 7 de setembro de 2018, fazendo ecoar o 24º Grito dos Excluídos: “Vida em primeiro lugar! Desigualdade gera violência: basta de privilégios!” A data, que deveria ser a celebração da liberdade e da independência do Brasil, torna-se uma data histórica de luta por direitos, ainda mais nesse tempo pós-golpe, que fez surgir um tempo sombrio para a democracia, para a soberania do país e do povo brasileiro. Tempo de retirada de direitos, de criminalização dos movimentos populares, de violência crescente no campo contra trabalhadores/as rurais e Comunidades Tradicionais, de taxa assustadora de desemprego, de descaso com o Patrimônio Histórico e Cultural do país, de destruição da Natureza, com o desrespeito à Mãe Terra e à Irmã Água, dons do Deus da Vida, direitos de todos e todas, tratadas como mercadorias para alimentar o capitalismo e os capitalistas. Tempo que, com tristeza, vemos o Brasil destacar-se como o 3º país em desigualdade social e voltar a integrar o Mapa da Fome. Enquanto isso, a classe dominante, com seus grupos extremistas, motivados pelo poder do capital, fomenta o preconceito, o ódio, a discriminação contra negros, indígenas, quilombolas, LGBTs, povos periféricos... Um país em chamas. Chamas que tentam avançar queimando a dignidade do povo brasileiro e suas conquistas históricas. Mais que nunca, é preciso fazer desse tempo o tempo de mobilização popular, de união das forças vivas da sociedade e das Igrejas, de todos os que lutam por direitos, em defesa do bem comum. O Grito dos Excluídos faz ecoar a voz de todos os que defendem uma Pátria verdadeiramente livre e resistem e seguem firmes nessa luta por uma sociedade justa, fraterna e solidária; uma Pátria, verdadeiramente de todos e todas; para todos e todas.
*Reportagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. 1ª Parte.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte, 07/9/2018.
Incêndio no Museu Nacional/RJ: O descaso com a memória, com a história - Dra. Alenice Baeta, Cacica Marinalva e Vice-Cacique Merong, ambos do Povo indígena Kamakã Mongoió, em entrevista a frei Gilvander. 03/9/2018.
A noite do dia 2 de setembro de 2018 jamais será apagada da mente e da alma dos brasileiros e das brasileiras, mesmo daqueles que não têm a ideia plena do que se perdeu no incêndio do Museu de História Natural, da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. "Uma tragédia!" Dizem alguns, perplexos com a força das chamas que, altas, anunciavam a noite sombria do domingo. Não, não foi simplesmente uma tragédia, considerando que tragédia tem a ver com fatalidade, com o inesperado. Podemos dizer, isso sim, que esse incêndio de tão grandes proporções, foi uma tragédia anunciada, resultado de um projeto de governo que, tendo como cúmplice, grande parte da sociedade movida pela ambição do capital e dos capitalistas, despreza e reduz à insignificância tudo o que é relacionado à educação, à ciência, à cultura, à história. Para esse grupo dominante só merecem atenção investimentos que movimentam o deus mercado, que geram lucros às suas ganância e ambição desmedidas. O mundo pôde assistir ao vivo as chamas que, tornando escura e longa a noite de 02/9/2018, consumiam coleções e mais coleções e peças de vários lugares do mundo, bibliotecas, múmias egípcias, registros de pesquisas, artefatos indígenas... Em meio a tantas raridades, muitas que só havia ali, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Entre as preciosidades históricas, a “Luzia”, um dos mais antigos esqueletos da humanidade, que teve sua face reconstituída por profissionais do Museu, e foi consumida pelas chamas, dando forma à metáfora da vida que vai sendo apagada e destruída pela falta de políticas públicas que respeitem, de fato, a dignidade humana, pela omissão dos/das que, podendo fazer, não fazem, negligenciam, e pela triste cumplicidade dos/das que se calam, como se não fossem parte dessa história e corresponsáveis pelos rumos a essa história dados. Dói, e dói muito, saber da perda imensurável do acervo de Línguas Indígenas, as referências etnológicas e arqueológicas das etnias do Brasil, desde o século XVI. Como se já não bastassem a opressão, a violência, as injustiças, o desrespeito aos seus direitos, nossos parentes indígenas veem transformada em cinzas sua memória, sua história... Uma Memória Histórica de 200 anos foi apagada, foi destruída na noite do dia 02/9/2018. O Brasil que, sendo de grande extensão territorial, rico de cultura, de tradições belíssimas, de bens naturais, com grandes avanços na ciência e tecnologia, com brasileiros e brasileiras que não se deixam abater pelo cansaço da luta e por tantas injustiças... Esse mesmo Brasil mostrou ao mundo a face que lhe foi dada pelas chamas desse incêndio que destruiu praticamente todo o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro: um país que não reconhece em sua história, em seu patrimônio cultural e científico, elementos fundamentais que podem orientar para a construção de um país melhor, fraterno, justo e feliz. Resta saber se saberemos (re)agir e ressurgir dessas cinzas que podem se espalhar com o vento ou vamos deixar arderem ainda mais as chamas da destruição. Nesse vídeo, frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI, conversa sobre esse incêndio criminoso com a Dra. Alenice Baeta, professora, arqueóloga e historiadora, com a Cacica Marinalva Kamakã e o Vice-Cacique Merong Kamakã, após participarem de uma Mesa de Negociação do Governo de Minas Gerais, na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, na luta em defesa da Retomada Indígena da Aldeia Kamakã Grayra, em Esmeraldas/MG.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 03/9/2018.
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Nota
do CEDEFES e da CPT/MG sobre Tragédia no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista,
no Rio de Janeiro.
Detalhe de peça cerâmica indígena que estava em exposição no Museu Nacional – Foto: A. Baeta, em 2016.
A equipe do Centro de
Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES) e os/as agentes de pastoral da
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG) encontram-se devastados com o trágico
incêndio ocorrido na noite do dia 02 de setembro de 2018, na belíssima
edificação histórica que abrigava o MUSEU NACIONAL da Quinta da Boa vista, no
Rio de Janeiro, RJ. Grande referência para todos que pesquisam sobre a
etnografia, a história indígena e a de outros povos tradicionais de nosso país,
o Museu Nacional sempre foi guia e fonte inesgotável de pesquisa e de
conhecimento, sobretudo no âmbito da antropologia, da história e da
arqueologia. Estamos nos sentindo órfãos e desolados ao saber que gravações,
fotografias, vídeos e cadernos de campo sobre centenas de povos indígenas,
inclusive povos extintos, foram totalmente incinerados em duas horas de fogo,
em um incêndio anunciado. Muitos alertas foram dados às autoridades do Estado
Brasileiro, e parece que, de fato, não foi um incêndio de museu a mais; há
sérios indícios que demonstram a existência de um Projeto para apagar a memória
da nossa pré-história tão rica! Como é o caso do testemunho pré-histórico da
Luzia, fóssil de mais de 11,5 mil anos encontrado na Gruta Vermelha no
município de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, que revolucionou a concepção
sobre a povoação das Américas. A destruição de
Luzia, um dos mais antigos esqueletos da humanidade, deu forma à metáfora da
vida que vai sendo apagada e destruída pela falta de políticas públicas que
respeitem, de fato, a dignidade humana, pela omissão dos/das que, podendo
fazer, não fazem, negligenciam, e pela triste cumplicidade dos/das que se
calam, como se não fossem parte dessa história e corresponsáveis pelos rumos a
essa história dados. Mais de 20 milhões de testemunhos “vivos” da
pré-história e da nossa história totalmente devastado e incinerado. O incêndio
violentou também os espíritos dos nossos povos ancestrais com seus ritos
fúnebres, inclusive.
Para a idolatria do mercado –
sistema do capital – e para um Estado cúmplice das opressões capitalistas que
despreza e reduz à insignificância o que é relacionado à educação, à ciência, à
cultura, à história, porque, na sua concepção, só
merecem atenção investimentos que movimentam o deus mercado, nada melhor
do que aniquilar a memória. Além da Dívida Histórica com os povos indígenas
expropriados de suas terras e da Dívida com povos negros arrancados da mãe
África para ser escravizados nas Américas, após serem violentados em navios
negreiros, nos Engenhos, na Mineração etc., agora, com o incêndio do Museu
Nacional, a classe dominante brasileira e o Estado Brasileiro contrariam uma
dívida impagável com a cultura, a memória e com todos os que nos precederam.
Oxalá esse incêndio mantenha acesso o alerta para todas as forças vivas da
sociedade exigirem cuidado e respeito com nossa história, com nossa
pré-história, com nossa memória necessária para termos presente e futuro. De
que adianta construir Museu do Amanhã se não temos mais o Museu de Ontem? O Brasil que, sendo de grande extensão territorial,
rico de cultura, de tradições belíssimas, de bens naturais, com grandes avanços
na ciência e tecnologia, com brasileiros e brasileiras que não se deixam abater
pelo cansaço da luta por direitos e por tantas injustiças... Esse mesmo Brasil
mostrou ao mundo a face que lhe foi dada pelas chamas desse incêndio que
destruiu praticamente todo o Museu Nacional da Quinta da Boa Vita, no Rio de
Janeiro: um país que não reconhece em sua história, em seu patrimônio cultural
e científico, elementos fundamentais que podem orientar para a construção de um
país melhor, fraterno, justo e feliz. Compartilhamos nossa dor e
indignação ao saber que coleções compostas por artefatos variadíssimos
pré-colombianos, múmias e peças egípcias, artefatos da Polinésia e da África,
inúmeros instrumentos pétreos, vasilhames e urnas funerárias da Amazônia e do
restante do país oriundos da fase pré-colonial, bem como, peças e adereços
indígenas de natureza perecível, tais como: cestaria, trançados, algodão, madeira,
ossos e conchas foram totalmente destruídos.
Prestamos a nossa
solidariedade aos funcionários, professores, pesquisadores, estudantes e
visitadores do MUSEU NACIONAL, lamentando os inúmeros projetos interrompidos
por esta inaceitável tragédia, um crime anunciado; ainda a perda de dados de
pesquisa, de coleções únicas das áreas da paleontologia, botânica,
zoologia, mineralogia, antigos livros, documentos escritos e obras raras.
SOMOS TODOS MUSEU
NACIONAL!
Assinam essa
Nota:
Centro de Documentação
Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES);
Comissão
Pastoral da Terra (CPT/MG)
Belo Horizonte,
MG, 06 de setembro de 2018.
Obs.: A Entrevista,
abaixo, em vídeo reforça o dito, acima.
1 – Incêndio no Museu
Nacional/RJ: Descaso com a história. Dra. Alenice / Merong e Marinalva, ambos Kamakã.
03/9/2018.
Não podemos confundir pesquisa participante com
pesquisa-ação. Há distinção entre elas. “Existem diversos tipos de pesquisa
participante e diversos tipos de pesquisa-ação. Uma clara distinção é
necessária. A pesquisa-ação é uma forma de pesquisa participante, mas nem todas
as pesquisas participantes são pesquisa-ação. [...] A pesquisa-ação não é
apenas uma pesquisa participante, é um tipo de pesquisa centrada na questão do
agir” (THIOLLENT, 1987, p. 83), este embasado em quatro princípios: a) de
identidade: quem age?; b) de oposição: ação contra quem?; c) de totalidade:
ação sobre o quê?; d) de finalidade: com qual utopia? “A pesquisa-ação opera a
partir de certas instruções relativas aos problemas identificados na situação e
relativos aos modos de ação. Essas instruções, ou diretrizes, possuem um
caráter menos rígido do que o das hipóteses. Com os resultados da pesquisa,
essas diretrizes podem sair fortalecidas ou, caso contrário, devem ser
abandonadas e substituídas por outras” (THIOLLENT, 1987, p. 101).
Pesquisar segundo instrumentos metodológicos da
pesquisa participante é um desafio, pois exige perguntar “até que ponto é mais
participação do que pesquisa e em que medida participação pode ser uma maneira
de descobrir a realidade e de a manipular?” (DEMO, 1987, p. 104). A prática não
é o critério da verdade, pura e simplesmente, pois pode uma teoria não
verdadeira chegar a uma prática. Isso porque “de uma mesma teoria podemos
deduzir várias práticas opcionais, inclusive contraditórias” (DEMO, 1987, p.
105). A prática é sempre concreta e específica, enquanto a teoria é
generalizante. “Assim, não se pratica toda a teoria, mas versões concretas
dela” (DEMO, 1987, p. 106). A prática tem um caráter limitante, em face da teoria. “Toda prática apequena a teoria,
porquanto não ultrapassa a condição histórica de uma versão dela. [...] Toda
prática, ao mesmo tempo que realiza a teoria, também a limita, no sentido de
que não consegue esgotar todas as potencialidades teóricas” (DEMO, 1987, p.
106). Exemplos disso não faltam. A ditadura do proletariado não passou até hoje
de uma pretensão teórica; na prática o que houve na Rússia foi ditadura do
partido que dizia ser representante do proletariado. A democracia, entendida
como “poder exercido pelo povo” também tem sido uma pretensão teórica, pois na
prática a ‘democracia’ existente é ‘poder exercido pelos eleitos pelo povo’, em
eleições com pesadíssimo poder econômico e midiático contaminando o processo
eleitoral. Assim como toda teoria, “toda prática é necessariamente ideológica,
porque se realiza dentro de uma opção política” (DEMO, 1987, p. 107). “O
teórico foge muitas vezes da prática, porque tem medo da condenação histórica,
do compromisso atacável. Prefere criticar a propor, porque toda proposta, se
for prática, é também atacável, pois não representará a perfeição histórica,
mas uma versão dela. Todavia, a fuga da prática é, à revelia, uma prática, um
tipo de compromisso político, geralmente conservador. Assim, ao querermos não
sujar as mãos, sujamo-las mais ainda, ou por malandragem, quando escamoteamos
compromissos escusos e que não gostamos de revelar, ou por inocência útil, quando
não chegamos a tomar consciência do compromisso latente que é a falta de
compromisso” (DEMO, 1987, p. 108-109).
A ideia de objeto de pesquisa ainda é cabível nas
ciências naturais, mas nas ciências humanas e sociais não cabe mais tal noção,
pois, mais do que objetos de pesquisa são sujeitos sociais participantes sendo
pesquisados. “Entre sujeito e objeto não há mera observação por parte do
primeiro, nem imposição evidente por parte do segundo, mas interação dinâmica e
dialética. Acabam-se identificando, sobretudo quando os objetos são sujeitos
sociais também o que permite desfazer a ideia de objeto, que caberia somente em
ciências naturais” (DEMO, 1987, p. 115).
Conflitos e desigualdades estão presentes em todas
as sociedades, sejam elas capitalistas ou não, pois há sempre que se lidar com
o poder. “Em toda sociedade existe poder e ele caracteriza-se principalmente
pela desigualdade entre grupo dominante e maioria dominada” (DEMO, 1987, p.
120). Quem faz pesquisa participante acredita na potencialidade da comunidade,
na capacidade criativa de todos, desierarquiza a construção do conhecimento e
fundamenta a noção segundo a qual “o conhecimento não nasce nos cérebros de uma
parte da sociedade, mas é socialmente produzido através de um processo
compartido por todas as partes. Não há diferença qualitativa entre conhecimento
teórico e prático; pertencem a diferentes finalidades do mesmo contínuo” (DEMO,
1987, p. 126).
A pesquisa
participante pode ser considerada como pesquisa militante que apregoa uma
íntima relação – união intrínseca - entre conhecimento e ação. “Conhecimento e
ação são dois aspectos inseparáveis da atividade humana. O conhecimento não é
mera contemplação, nem a prática mera atividade; separada da prática, a teoria
se reduz a meros enunciados verbais; separada da teoria, a prática não é mais
que um ativismo inconducente. Não há, pois, autêntico conhecimento e autêntica
ação, se não se expressam em uma permanente inter-relação unitária” (RIGAL,
1978, p. 3).
A pesquisa militante se constituiu como estratégia
metodológica em um contexto político de opressão de classe e também de reação
frentes às opressões. Entre os anos 20 e 40 do século XX, Gandhi e seus
seguidores inovam e recriam pistas teóricas e práticas de ação não violenta.
Mas, nas décadas de 1950 a 1970, tivemos, por um lado, a ascensão do império
estadunidense na época da guerra fria e, por outro lado, vários movimentos
anti-imperialistas e de libertação nacional na América Latina recriaram
diferentes estratégias de luta, entre as quais, as de guerrilha.[2] Na
Bolívia, em 1952, houve uma tentativa de revolução socialista. Em 1954, o
governo de Jacobo Arbenz na Guatemala tomou medidas anti-imperialistas. Em
1959, a revolução cubana. Em 1965, o movimento constitucionalista na República
Dominicana. E, em 1970, o triunfo da Unidade Popular no Chile. Houve também
movimentos guerrilheiros na Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, República
Dominicana, Guatemala e Brasil (Cf. BONILLA et al., 1987, p. 132). A dominação
buscada pelo império estadunidense não seria apenas política, militar e
econômica, mas também cultural e necessariamente dominação pelas ciências
também. Com o golpe militar-civil-empresarial no Brasil, em 1964, imediatamente
as universidades foram dominadas e os cursos de filosofia e de sociologia foram
extintos e os professores expulsos, encarcerados ou exilados. “Neste cenário de
conflitos de classe, de luta pelo controle do poder político tanto no plano
nacional como internacional, as ciências em geral, e as ciências sociais em
particular, não poderiam ficar à margem da contenda. Elas se converteram
efetivamente em uma arma do imperialismo não apenas através de investigações
sociais de caráter contrarrevolucionário, como também mediante a difusão de uma
ideologia que pretende mostrar as sociedades capitalistas dominantes –
principalmente os Estados Unidos e seus procuradores ou estandartes – como
metas de desenvolvimento ou modelos de progresso e democracia para os países do
chamado Terceiro Mundo” (BONILLA et al., 1987, p. 132-133).
Referências.
BONILLA,
Victor Daniel. CASTILLO, Gonzalo; BORDA, Orlando Fals; LIBREROS, Augusto. Causa
popular, ciência popular: uma metodologia do conhecimento científico através da
ação. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.).
Repensando a pesquisa participante. 3ª edição. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
DEMO,
Pedro. Elementos metodológicos da pesquisa participante. In: BRANDÃO, Carlos
Rodrigues (Org.). Repensando a pesquisa
participante. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1987.
RIGAL, Luis. Sobre el
sentido y uso de la investigación-acción. In: Simposio Mundial de Cartagena. Crítica y Política en Ciencias Sociales,
Vol. I,
Bogotá: Punta de Lanza, 1978.
THIOLLENT,
Michel. Notas para o debate sobre pesquisa-ação. In: Carlos Rodrigues Brandão
(Org.). Repensando a pesquisa
participante. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Belo
Horizonte, MG, 04/9/2018.
Obs.: Os vídeos, abaixo,
ilustram o texto, acima.
1 -
Livro da Sabedoria: conhecimento de Deus. Luiz Dietrich fala com frei
Gilvander. 19/8/2018.
2 -
Palavra Ética na TVC/BH: Despejo e resistência em Nova Serrana, MG, Ocup. Nova
Jerusalém. 07/6/2018
3 -
Aldeia Kamakã Grayra na FUCAM/Esmeraldas/MG: Resistência pelo direito à
terra/18/8/2018.
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas;
assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais
Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
[2]
Na Guerrilha do Araguaia se expressou uma tensão muito maior do que a sua mera
expressão local. “Um grupo de guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil,
erguendo a bandeira política da terra para quem nela trabalha” (MARTINS, 1991a:
125), apenas 69 guerrilheiros, ao lado dos posseiros, de um lado, e do outro
lado, cerca de 20 mil soldados das Forças Armadas Brasileiras em três campanhas
de busca e aniquilamento. Três anos de resistência, de 1972 a 1975. “O
personagem histórico essencial desse conflito foi e é o posseiro, o pequeno
lavrador baseado no trabalho familiar. Ele foi fundamente atingido pela
repressão [...] É estarrecedor saber que o primeiro contato de sertanejos com o
progresso da eletricidade foi através
de um aparelho de choque, de um instrumento de tortura, de uma máquina da ordem. [...] O combate à guerrilha
agravou a questão da terra em várias regiões da Amazônia” (MARTINS, 1991a:
126). O regime militar, ao reprimir, piorou muito o conflito agrário no
Araguaia e em todo o Brasil. Cf. MARTINS, José de Souza. Guerrilha do Araguaia:
o vencedor e o vencido. In: MARTINS, José de Souza. Expropriação e violência: a questão política no campo. 3ª edição.
São Paulo: HUCITEC, 1991, p. 115-127.