terça-feira, 26 de junho de 2018

Latifúndio, violência; campesinato, classe social que luta pela terra.


Latifúndio, violência; campesinato, classe social que luta pela terra.
Por Gilvander Moreira[1]


O latifúndio não é apenas o cercamento de um território que pode ser medido em hectares e alqueires, mas significa poder e muita violência perpetrada pela transformação da terra em mercadoria, o que aconteceu “com o crescimento do capitalismo e com a transformação agrária na Inglaterra” (MARÉS, 2003, p. 26) e se espalhou pelo mundo. A falta de luta pela terra ou lutas ingênuas e equivocadas pela terra aprofundam a violência e o poderio de quem controla a terra para fins capitalistas. A estrutura fundiária brasileira se constitui de minifúndio, propriedades médias e latifúndios. O conceito latifúndio vem do latim latifundium, que é composto do adjetivo latus (amplo, grande, extenso) e do substantivo fundus (fundo, base, domínio rural), são as propriedades rurais que têm área acima de 15 módulos rurais. Derivado do conceito de propriedade familiar, o conceito de módulo rural, segundo o Estatuto da Terra (Lei nº 4504, de 1964), trata-se de uma unidade de medida agrária de “imóvel rural que, direta e pessoalmente, explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com ajuda de terceiros” (inciso II, do artigo 4º da lei nº 4504/64).
Além de ‘módulo rural’, há também ‘módulo fiscal’, que é uma unidade de medida agrária usada no Brasil, instituída pela Lei nº 6.746, de 10 de dezembro 1979 e corresponde à área mínima necessária a uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável.
A luta pela terra por si só não garante a reprodução social do campesinato, compreendido enquanto classe social dos camponeses, que envolve o/a trabalhador/a que vive, trabalha e resiste na terra, a partir da terra e que luta pela terra quando a perde. O campesinato não é uniforme, mas constituído por uma imensa diversidade camponesa. Integra o campesinato os posseiros, os boias-frias assalariados, pequenos proprietários, os ribeirinhos, os geraizeiros, os seringueiros, as populações dos manguezais, os acampados, os assentados, as mulheres quebradeiras de coco babaçu, os faxinalenses, os cipozeiros, os camponeses de fundo e fecho de pasto, os retireiros, os caiçaras, os ribeirinhos, os pescadores, os caatingueiros, os castanheiros, os extrativistas, os atingidos por barragens, os atingidos pela mineração, os atingidos pelos linhões de transmissão de energia, os atingidos pelos parques de energia eólica, os sem-terra etc. “A luta do campo é uma luta muito diversificada” (MARTINS, 1991, p. 34). Importante notar que o MST, no nome e na sua bandeira, se identifica como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e não como Movimento dos Camponeses Sem Terra. Óbvio que o nome carrega o contexto e os objetivos iniciais do Movimento. Com o fortalecimento do Movimento houve ampliação dos objetivos, da atuação e, nos últimos 20 anos, o MST, mesmo sem ter alterado seu nome e sua bandeira, enfatiza o conceito ‘camponês’, porque compreende a importância política de afirmar o campesinato: a classe camponesa. O MST é um movimento social popular, sindical e político. Popular, pelo fato de toda família participar: crianças, jovens, mulheres, adultos e idosos, o que dá à luta pela terra um caráter de luta popular. Sindical, porque reivindica seus interesses corporativos tais como: crédito, saúde, educação, estradas, melhor preço para os produtos da agricultura familiar etc. E político, porque o MST luta por terra para todas as famílias sem-terra e por transformação no poder político do País que leva à superação do capitalismo.
O campesinato constitui-se como classe social dentro do capitalismo. Expropriado do seu meio de produção, o camponês tem fome e sede de terra. A fome e a miséria não são um problema natural, mas “social, político e cultural” (PORTO GONÇALVES, 2004, p. 213). Com raiz na terra, mesmo quando é expulso da sua terra de origem, o camponês, com os valores da terra no seu íntimo, tem sempre a perspectiva de retornar a ela, mesmo que não seja a sua terra natal. Nesse sentido, Ariovaldo Umbelino de Oliveira afirma que “o campesinato e o latifúndio devem ser entendidos como de dentro do capitalismo e não de fora deste. [...] O campesinato deve, pois, ser entendido como classe social que ele é. Deve ser estudado como um trabalhador criado pela expansão capitalista, um trabalhador que quer entrar na terra. O camponês deve ser visto como um trabalhador que, mesmo expulso da terra, com frequência a ela retorna, ainda que para isso tenha que (e)migrar” (OLIVEIRA, 2007, p. 11).
 “As palavras ‘camponês’ e ‘campesinato’ são das mais recentes no vocabulário brasileiro” (MARTINS, 1983, p. 21), introduzidas pelas esquerdas nas décadas de 1950/60. Antes, os camponeses eram chamados de caipira, caiçara, tabaréu, caboclo, em tom depreciativo. “Também os proprietários de terra tinham designações distintas conforme a região e a atividade: estancieiros no Sul; fazendeiros em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná; senhores de engenho no Nordeste; seringalistas no Norte” (MARTINS, 1983, p. 22). Também esses “passaram a ser designados como latifundiários. Essas novas palavras – camponês e latifundiário – são palavras políticas, que procuram expressar a unidade das respectivas situações de classe e, sobretudo, que procuram dar unidade às lutas dos camponeses [...], duplamente excluídos: da condição de proprietário de terras e da condição de escravo” (MARTINS, 1983, p. 22 e 38).
No império romano, paganus designava o habitante dos campos, o civil em oposição à condição de soldado. Paganus, em latim, se tornou payan, em francês, e peasant, no inglês, que significa camponês. Em português, paganus se tornou paisano, o que não é militar, e também se tornou pagão, que faz referência a não cristão. “Vivendo na terra e do que ela produz, plantando e colhendo o alimento que vai para a sua mesa e para a do príncipe, do tecelão e do soldado, o camponês é o trabalhador que se envolve mais diretamente com os segredos da natureza” (MOURA, 1988, p. 9). Em qualquer sociedade, o camponês é sempre um oprimido e um subordinado aos donos da terra e do poder. “O campesinato é sempre um pólo oprimido de qualquer sociedade. Em qualquer tempo e lugar, a posição do camponês é marcada pela subordinação aos donos da terra e do poder, que dele extraem diferentes tipos de renda: renda em produto, renda em trabalho, renda em dinheiro” (MOURA, 1988, p. 10).
O campesinato se constitui de camponeses com fisionomias variadas. É um cultivador de pequenas extensões de terra, um pequeno proprietário rural, que é um camponês parcelar. Mas esse conceito não carrega a grande vitalidade e a força histórica do conceito camponês, pois “como não se pode declinar do conceito de burguesia para falar tão somente em capitalistas, não é possível preterir o conceito de camponês para falar apenas em pequeno produtor” (MOURA, 1988, p. 14).
Em um contexto de terras não ainda apropriadas privadamente, “os camponeses que aí residem, juridicamente denominados posseiros, trabalham apenas para seu próprio sustento” (MOURA, 1988, p. 12). Outra forma de definir o camponês “é a de conceituá-lo como o cultivador que trabalha a terra, opondo-o àquele que dirige o empreendimento rural. Aqui, o conceito é estendido a todos os cultivadores que, através do seu trabalho e do de sua família, se dedicam a plantar e transferir os excedentes de suas colheitas aos que não trabalham a terra” (MOURA, 1988, p. 13).
O camponês é um produtor que se define por oposição ao não produtor. É nesse sentido que expressa o grito dos Sem Terra que buscam apoio junto às trabalhadoras e aos trabalhadores da cidade: “Se o campo não planta, a cidade não janta!” “O campesinato é constituído de cultivadores que se definem em oposição à cidade; esta, por sua característica de sede de poder político, subordina os trabalhadores da terra” (MOURA, 1988, p. 14).

Referência
MARÉS, Carlos Frederico. A função social da terra. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2003.
MARTINS, José de Souza. Expropriação e violência: a questão política no campo. 3a edição. São Paulo: HUCITEC, 1991.
______. Os Camponeses e a Política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 1983.
MOURA, Margarida Maria. Camponeses. 2ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1988.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo de Produção Capitalista, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: Labur Edições, 2007. Disponível em http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Apoio_Valeria/Pdf/Livro_ari.pdf .
PORTO GONÇALVES, Carlos Walter; Geografia da riqueza, fome e meio ambiente: pequena contribuição crítica ao atual modelo agrário/agrícola de uso de recursos naturais. In: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de; MARQUES, Marta Inez Medeiros (Orgs. ). O Campo no século XXI: território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela e Paz e Terra, p. 207-253, 2004.

Belo Horizonte, MG, 26/6/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.

1 - Camponeses na luta por terra, teto e pão, em Nova Serrana, MG. Acampamento Nova Jerusalém. 11/5/2018.



2 - Terra para gado e não para camponeses. Ocupação Nova Jerusalém em Nova Serrana, MG. 27/5/2018.



3 - Violência do latifúndio aumenta no norte de MG/Audiência Pública/ALMG/Toninho do MST. 25/4/2018.









[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. 
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Comunidade Cigana da Lagoa de S.Antônio/Pedro Leopoldo/MG: Clamor por di...

Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio, em Pedro Leopoldo/MG: Clamor por direitos. 1a parte. 14/6/2018.

Adriana e Michele, ciganas da Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio,
em Pedro Leopoldo, MG, dia 14/6/2018, em foto de Emanuel Almada.
As 14 famílias do Acampamento Cigano localizado ao lado da Lagoa de Santo Antônio, no município de Pedro Leopoldo, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), lutam e resistem em defesa de seus direitos.
A beleza da Comunidade Cigana contrasta com a grande precariedade de condições reais de vida. As famílias estão sobrevivendo com migalhas e improvisos de água e de energia, e sem nenhuma estrutura de saneamento básico, ficando expostas a sérias doenças causadas por essa situação. Além disso, sofrem preconceito e discriminação por parte do Poder Público que tem lhes dificultado e até mesmo negado o acesso às políticas públicas a que têm direito. O descaso e o desrespeito aos direitos desse Povo Tradicional, de cultura milenar, são notórios também em outras Comunidades Ciganas do município e municípios vizinhos. A Comunidade Cigana acampada em torno da Lagoa de Santo Antônio reconhece a importância da preservação ambiental  e as famílias afirmam que só estão no local por necessidade, por não terem outro local onde armar suas tendas, que são suas moradias, onde cada família constrói o seu sagrado lar.
É urgente que a Prefeitura de Pedro Leopoldo desenvolva ações no sentido de garantir território adequado, com saneamento básico, para o acampamento dessas famílias da Comunidade fixada em torno da Lagoa de Santo Antônio. A Rede de Apoio que se formou nessa luta por direitos dos Povos Ciganos e a Comunidade Cigana da Lagoa de Santo Antônio reivindicam ainda que o Poder Público Municipal crie Políticas Públicas específicas para as Comunidades Ciganas e, enquanto isso não se efetive, que sejam garantidos os direitos fundamentais dessas famílias, que têm  inclusive, crianças com necessidades especiais de atenção, com acesso às  políticas públicas existentes na área da saúde, assistência social, educação, transporte, entre outros. É preciso VER, RESPEITAR e ATENDER o Povo Cigano. A violação dos seus direitos fere, sobretudo, o princípio da sua dignidade humana. O poder público municipal de Pedro Leopoldo tem o dever de arrumar terreno adequado para acolher a Comunidade Cigana para que possa viver com dignidade. Esse direito está assegurado pela Constituição Federal, pela Convenção 169 da OIT, pelo Estatuto dos Povos Ciganos etc.

*Reportagem do frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. São Leopoldo, MG, 14/6/2018.

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Direito à terra: retomada Indígena Kamakã Grayra, Esmeraldas/MG. 2a part...

Direito à terra e a Políticas Públicas específicas - Retomada Indígena Kamakã Grayra /Esmeraldas/MG. 2a parte. 16/6/2018.

Vice-cacique Merong Kamakã Mongoió, da Aldeia kamakã Grayra, em
Esmeraldas, MG, dia 06/6/2018, em foto de Alenice Baeta.
Representantes da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) – Coordenação Regional de Minas Gerais e do  Espírito  Santo -, da CPT-MG (Comissão Pastoral da Terra - www.cptmg.org.br ) e do CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br ) reuniram-se, no dia 06/6/2018, com lideranças indígenas da Aldeia Kamakã Grayra, em fazenda da FUCAM (Fundação Educacional Caio Martins), no município de Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), para se inteirarem melhor da atual situação da Aldeia do Povo Kamakã Mongoió, em retomada dessas terras. São 62 famílias que, há um ano e meio, desde 1 de janeiro de 2017, estão na Fazenda Santa Tereza (uma das três propriedades da FUCAM, em Esmeraldas) e, cultivando a Mãe terra e com ela se relacionando, deram função social e humana a um território que estava abandonado há décadas. Hoje, os indígenas em retomada na fazenda Santa Tereza, da FUCAM, se alimentam do que produzem, além de encontrarem ali um espaço e um ambiente próprios à prática dos seus rituais, da vivência da sua espiritualidade e do resgate da sua cultura, das suas tradições. A Rede de Apoio e o Povo Kamakã Mongoió exigem do Governo de Minas Gerais o reconhecimento da legitimidade dessa retomada, com efetivação da Concessão de Uso da terra para essa Comunidade indígena. Exigem ainda que seja garantido ao Povo Kamakã Mongoió o acesso a políticas públicas que lhes garantam melhor qualidade de vida. O justo e ideal seria que aos Povos Indígenas fossem direcionadas políticas públicas específicas, que respeitassem sua cultura, seus hábitos, seu jeito de ser e de viver. Indígenas da Aldeia Kamakã Grayra são vítimas de preconceito até mesmo em escola da FUCAM; lugar que, por ser espaço específico de Educação, deveria atuar na construção de valores humanos, morais, éticos, que defendam e promovam a inclusão e reconheçam o direito fundamental de todo ser humano à dignidade. A ação inversa a esse direito que lhes é negado faz com que muitos abandonem a escola, o que só faz aumentar a desigualdade social e aumentar a distância de acesso a oportunidades que exigem escolaridade. Para a Aldeia Kamakã Grayra, na FUCAM, em Esmeraldas/MG, e para todos os Povos Indígenas, o direito à permanência nas terras que lhes pertencem, de fato, às políticas públicas, à dignidade humana. Nenhum direito a menos.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Esmeraldas, MG, 06-6-2018.

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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Tributo ao Zequinha do MST/MG: José Nunes viverá em nós sempre, na luta!...

Tributo ao Zequinha do MST/MG: José Nunes viverá em nós sempre, na luta! 23/6/2018.

José Nunes, o Zequitnha do MST, em foto divulgação do MST, dia 23/6/2018.
José Nunes, o Zequinha do MST, nasceu no início da década de 1960 e partiu para a vida em plenitude, repentinamente, na noite de 22 de junho de 2018. Zequinha, após luta junto aos companheiros do Sindicato dos Trabalhadores de Águas Formosas, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, militou no MST de Minas Gerais, desde 1988, participando da Ocupação que se tornou o Assentamento Aruega, em Novo Cruzeiro. Zequinha, militante histórico do MST em MG, deixou um grande legado de luta pela terra.

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sexta-feira, 22 de junho de 2018

Retomada Indígena Kamakã Grayra/Esmeraldas/MG: O direito à terra. 1ª Par...

Retomada Indígena Aldeia Kamakã Grayra, em Esmeraldas, MG: O direito à terra. Reconhecer a legitimidade da Retomada é dever do Governo de Minas Gerais. 06/6/2018.

 Lideranças indígenas Kamakã Mongoió, da Aldeia Kamakã Grayra, em Esmeraldas, Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG, reuniram-se, no dia 06/6/2018, com representantes da CPT (Comissão Pastoral da Terra- www.cptmg.org.br ), CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – www.cedefes.org.br ), na Fazenda Santa Tereza da FUCAM (Fundação Educacional Caio Martins), cujo território encontra-se em retomada (os indígenas ocupando o que lhes pertence por direito), há um ano e meio. Vítimas do preconceito, da discriminação, da violência e de injustiças constantes na cidade de Belo Horizonte e Região Metropolitana, os indígenas Kamakã Grayra decidiram pela retomada da Fazenda Santa Tereza que encontrava-se totalmente abandonada, sem cumprir qualquer função social. Hoje, as 62 famílias indígenas que lá estão já mudaram a paisagem com o cultivo de hortas, mandiocas, mudas frutíferas e se alimentam do que produzem. Nesse vídeo, a beleza da dança indígena do povo Kamakã e o depoimento da cacica Éxina (que significa Onça Guerreira), Marinalva, que fala do desrespeito que sofrem por parte de diretores da FUCAM, da importância da terra para o povo indígena, da necessidade de apoio nas negociações para que a retomada seja reconhecida legalmente e da intenção de acolher ali parentes indígenas que também enfrentam dificuldades em cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. Ter reconhecida a legitimidade da Retomada Indígena Kamakã Grayra, em Esmeraldas, MG, é um direito do Povo Kamakã Mongoió e um dever do Governo de Minas Gerais.

*Reportagem em vídeo de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.

Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Esmeraldas, MG, 06-6-2018.

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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Vem aí a XXI Romaria das Águas e da Terra/MG/7a Reunião de Preparação/L...

Vem aí a XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais – 7ª Reunião de Preparação em Lagoa da Prata/Diocese de Luz/MG – 16/6/2018.


 Mais uma feliz reunião de preparação da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais aconteceu em Lagoa da Prata, Diocese de Luz, MG, no dia 16/6/2018. Com entusiasmo e renovado ardor profético, os participantes apresentaram a camiseta da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, que tem como tema: “Das Nascentes do São Francisco às Terras da Justiça” e como lema: “Cuidando da Mãe Terra e da Irmã Água”. No próximo dia 23/6/2018 – sábado – acontecerá a 1ª Pré-Romaria da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais; será em Arcos, Diocese de Luz, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, das 13h às 17h. Iluminados pelo Evangelho de Jesus de Nazaré, inspirados pela Carta do Papa Francisco, “Laudato Si” (Louvado Seja – Sobre o Cuidado com a Casa Comum), façamos da XXI Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais, o encontro profético, missionário, de anúncio, de denúncia, de solidariedade, de comunhão de luta contra toda forma de destruição da vida, em toda sua biodiversidade, em especial da morte lenta do rio São Francisco e suas nascentes, que clamam por socorro, por revitalização.

* Filmagem de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG.

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Luta que emancipa


Luta que emancipa. Por Gilvander Moreira[1]

Foto de Gilvander Moreira na 20a Romaria das Águas e da Terra
de Minas Gerais, em Unaí, MG, dia 23/7/2017.

No Brasil, as classes trabalhadora e camponesa lutam muito. Que tipo de luta pode ser emancipatória? Por luta não nos referimos à luta diária individual e familiar para sobreviver de um/a trabalhador/a que recebe mensalmente apenas um salário mínimo, ou batalhando na economia informal como camelô ou fazendo bicos. É óbvio que esse tipo de luta é necessária e imprescindível para a sobrevivência de grande parte da classe trabalhadora. Não tratamos também de luta individualista na escalada de competição que o sistema capitalista desencadeia e fomenta aos quatro ventos: luta para entrar em uma universidade, luta de uma pessoa para ser aprovada em um concurso público, luta para se tornar um/a empreendedor/a, luta para enriquecer e se tornar uma pessoa opressora, às vezes ou muitas vezes, sem ter intenção deliberada de oprimir. Enfim, não é luta como trabalho no sentido de doulos, trabalho análogo à situação de escravidão.
Referimo-nos à luta pela terra e por todos os direitos sociais no sentido de um processo conflituoso, permanente, militante e que se constrói nas brechas das leis que sustentam a ordem estabelecida do capitalismo. Na luta, contamos com a contribuição do Direito Alternativo – brechas na legalidade do Estado capitalista -, ou luta travada como desobediência civil, dentro da consciência de que ou se conquista na marra ou não se conquista. Nessa perspectiva, nos inspiramos no Direito Achado na Rua - Direito Subversivo – www.odireitoachadonarua.blogspot.com - para conquistar transformações sociais por meio de conquistas de direitos sociais, entre os quais está o direito de acesso a terra. Segundo Roberto Lyra Filho, “direito é processo, dentro do processo histórico: não é uma coisa feita, perfeita e acabada; é aquele vir-a-ser que se enriquece nos movimentos de libertação das classes e grupos ascendentes e que definha nas explorações e opressões que o contradizem, mas de cujas próprias contradições brotarão as novas conquistas” (LYRA FILHO, 2003, p. 86).
Essa luta coletiva e subversiva envolve vários aspectos e dimensões: a) Trabalho de base para reunir os camponeses injustiçados, os sem-terra e despertar neles que somente através da luta coletiva, na união e com organização, se conquistam direitos sociais; b) Formação contínua para despertar nos sem-terra sua força e o seu potencial de emancipação muitas vezes abafado e acorrentado pela ideologia dominante; c) Organização e realização de Ocupações de latifúndios que não estão cumprindo sua função social; d) Organização interna nas ocupações, o que passa pela criação de núcleos de famílias, realização de reuniões e assembleias ordinárias diariamente, ou de dois em dois dias, ou pelo menos semanalmente. A organicidade da luta em uma ocupação exige a criação de Comissões de Segurança, de Saúde, de Cozinha e Alimentação, de Comunicação, de Ética e Disciplina, de Infraestrutura etc.; e) Organização e realização de lutas coletivas, tais como marchas, bloqueio de rodovias, acampamento diante do Tribunal, ocupação de prédios públicos onde são tomadas decisões que agridem a dignidade humana do campesinato; f) Constituição e cultivo de Redes de Apoio, como, por exemplo, Coletivos de advogados populares como a Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (RENAP – www.renap.org.br ), a Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais no estado da Bahia (AATR – www.aatr.org.br ) e Terra de Direitos – www.terradedireitos.org.br ; parcerias com igrejas, ONGs, professores e estudantes de universidades a partir de Programas de Extensão Universitária e outras organizações de luta por direitos humanos, nacionais ou internacionais.
A história da luta pela terra demonstra que a construção e o cultivo de todas essas dimensões e aspectos, de forma bem articulada e entrosada, são imprescindíveis para o êxito da luta, isto é, para que processos emancipatórios irrompam e se desenvolvam.
A luta pela terra diz respeito à disputa por território, questão também de soberania no sentido macro e de autonomia em sentido micro. O campesinato não precisa do capitalista e nem do proletariado porque, ao conquistar a terra, ele pode plantar e produzir o necessário para seu sustento e se reproduzir, mas o capitalista e o proletariado precisam do campesinato, pois sem a produção da agricultura camponesa, o proletário e o capitalista não se alimentam. Sem se alimentar, o proletário não terá força de trabalho para ser vendida no mercado ao proprietário dos meios de produção do capital. Eis um dos aspectos que nos faz levantar a hipótese de que a luta pela terra seja fator de emancipação humana.
A luta pela terra acontece por meio de luta coletiva. Não é via trabalho individual segundo o slogan “que cada um faça sua parte”, que é engodo. Cada um fazendo sua parte apenas tranquiliza consciências, mas não mexe em nada nas estruturas opressoras do sistema capitalista. Apenas migalhas se conseguem, o que doura a pílula, mas não retira o amargo. “O Estado brasileiro é como uma panela de feijão velho: só cozinha na base da pressão do fogo que se acende com os gravetos debaixo da panela. Os gravetos somos nós, empobrecidos e oprimidos, na luta coletiva” (Sebastião Mélia Marques, 54 anos, Sem Terra assentado no PA Primeiro do Sul e integrante da coordenação regional do MST do sul de Minas).

Referência

LYRA FILHO, Roberto. O que é direito. 17ª edição. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Belo Horizonte, MG, 20/6/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.

1)   Reocupação da Fazenda Canta Galo/Nova Serrana/MG: pelo rio Pará, por terra e moradia. 25/5/2018.



2)   Respeito às 200 famílias da Carolina de Jesus/BH: Negociação, sim; Despejo, não. 3ª Parte. 09/5/2018.







[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. 
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