sexta-feira, 25 de maio de 2018

Reocupação da Fazenda Canta Galo/Nova Serrana/MG: pelo rio Pará, por ter...

Reocupação da Fazenda Canta Galo, em Nova Serrana/MG: pelo rio Pará, pelo direito à terra e à moradia. 25/5/2018.

Pelo Rio Pará, e por terra e moradia para as mais de 100 famílias do Acampamento Nova Jerusalém, a FAZENDA CANTA GALO, situada no MUNICÍPIO DE NOVA SERRANA, MG, foi REOCUPADA ontem, dia 24/05/2018,  quinta-feira, por volta das 19h, pelos moradores, trabalhadores e trabalhadoras do campo, que dela foram despejados, injustamente, inconstitucionalmente e covardemente. dia 26/4/2018, após morarem e trabalharem na Fazenda Canta Galo por 6 anos, terem construído mais de 80 casas de alvenaria e estarem cultivando mais de 60 hectares de plantações: quintais, hortas, legumes, mandioca etc., alimentos saudáveis, sem agrotóxicos.  Apesar de encontrarem tudo praticamente destruído, as famílias, firmes na luta e resistência, vão se organizando novamente na Ocupação-Comunidade Nova Jerusalém, e manifestam-se determinadas a permanecer na fazenda Canta Galo.  Assista ao vídeo com depoimento de moradores.

*Filmagem feita por Luciana, da Ocupação-Comunidade Nova Jerusalém. Apoio: Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Nova Serrana/MG, 25/5/2018.

* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander e assista a outros vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.



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No CEDEFES: INDÍGENAS EM BH/MG: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA. ...

NO
CEDEFES/BH: INDÍGENAS EM BELO HORIZONTE/MG: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E
VIOLÊNCIA. 1ª PARTE –  23/4/2018.

Aconteceu no CEDEFES (Centro
de Documentação Eloy Ferreira da Silva - www.cedefes.org.br ), em Belo
Horizonte/MG,  no dia 23/4/2018, uma Roda
de Conversa com o tema: “Direitos Indígenas e a questão ambiental: partilhando
reflexões para a luta”.  Várias
lideranças indígenas participaram do evento, que contou também com a
participação da Professora Dra. Alenice Baeta, Historiadora e Arqueóloga, e
outros/as integrantes do CEDEFES, do Frei Gilvander Moreira, pela CPT-MG
(Comissão Pastoral da Terra), entre outros/as. Nesse vídeo, a 1ª parte do  registro de graves denúncias de lideranças
indígenas:  assassinatos de
indígenas,  preconceito e  violência que os indígenas têm sofrido na
região metropolitana de Belo Horizonte e 
dificuldades que enfrentam para expor e vender seu artesanato e usar o
transporte público.

*Filmagem de frei Gilvander
Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de
Comunicação da CPT/MG. Belo Horizonte/MG, 23/4/2018.

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Famílias despejadas da Comunidade Nova Jerusalém REOCUPAM a fazenda Canta Galo, em Nova Serrana, MG. A tensão é grande no local.


Famílias despejadas da Comunidade Nova Jerusalém REOCUPAM a fazenda Canta Galo, em Nova Serrana, MG. A tensão é grande no local.


Pelo Rio Pará, e por terra e moradia para as mais de 100 famílias do Acampamento Nova Jerusalém, a FAZENDA CANTA GALO, situada no MUNICIPIO DE NOVA SERRANA, MG, foi REOCUPADA ontem, dia 24/05/2018,  quinta-feira, por volta das 19h, pelos moradores, trabalhadores e trabalhadoras do campo, que dela foram despejados, injustamente, inconstitucionalmente e covardemente. dia 26 de abril de 2018, após morarem e trabalharem na Fazenda Canta Gala por 6 anos, terem construído mais de 80 casas de alvenaria e estarem cultivando mais de 60 hectares de plantações: quintais, hortas, legumes, mandioca etc., alimentos saudáveis, sem agrotóxicos.
A reocupação acontece após os TRÊS despejos realizados de forma ARBITRÁRIA, com uma TROPA DE MAIS DE 300 policiais da Polícia Militar de Minas Gerais. Mesmo com a FORMA PACÍFICA dos/as TRABALHADORES/RAS, a Comunidade Nova Jerusalém passou nos dias 26 e 27 de abril ÚLTIMO, por TRÊS HUMILHANTES DESPEJOS, os dois últimos sem decisão judicial; além de injustos, ilegais. A Fazenda Canta Galo é de propriedade do Estado de Minas Gerais e foi cedida pelo Estado de MG ao município de Nova Serrana, para construção de um Aterro Sanitário, onde nunca houve investimentos dos municípios da região. Até o momento o que a sociedade presencia são irregularidades, tais como: ARRENDAMENTO da Fazenda Canta Galo, do Estado de Minas Gerais, frisamos, PARA ENGORDAR GADO DE AUTORIDADES DO MUNICÍPIO, segundo vizinhos da fazenda Canta Galo. O Elias e Egídio são os ganham com a engorda de gado na fazenda Canta Galo e o Prefeito do município de Pitangui, Marcílio Valadares (do PSDB) é conivente.
A SEDE da Fazenda Canta Galo está sendo UTILIZADA PELA SRA.TEREZINHA, vizinha da FAZENDA. Cumpre recordar que ao ser ocupada por mais de 120 famílias há seis anos, a fazenda Canta Galo estava totalmente abandonada, ociosa, sem cumprir a função social. Frisamos também que a fazenda Canta Galo é banhada pelo Rio Pará, um dos grandes afluentes do rio Francisco, que irriga 15 municípios antes de desaguar suas águas no Velho Chico. Construir um aterro Sanitário em área ambiental, ao lado do Rio Pará é um crime ambiental, uma injustiça que clama aos céus. O rio Pará clama para ser preservado e não pode ser contaminado com chorume e resíduos químicos.
Por estas INJUSTICAS E IRREGULARIDADES JÁ DENUNCIADAS, as famílias REOCUPAM A FAZENDA CANTA GALO, pois NAO ACHAM JUSTO serem despejadas de SUAS CASAS E DA TERRA ONDE VIVIAM DIGNAMENTE E PERMANECEREM JOGADAS ÀS MARGENS DO RIO PARÁ, DORMINDO EM BARRACAS DE LONAS, ao RELENTO, SOB O FRIO, INTEMPÉRIES E AMEAÇAS DE JAGUNÇOS, enquanto EMPRESÁRIOS E AUTORIDADES LOCAIS USUFRUEM da fazenda Canta Galo, do Estado, para acumularem capitais, se enriquecerem e destruírem os POUCOS PERTENCECES das famílias construídos na Fazenda Canta Galo: casas, quintais, cercas, eletrificação etc. Tudo isso feito com muito suor e luta. A LUTA É LEGITIMA e NECESSÁRIA! SEGUIREMOS EM LUTA!
TERRA, TRABALHO e LIBERDADE!

Assinam essa Nota:
Coordenação do Acampamento Nova Jerusalém
Frente Nacional de Luta (FNL)
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG).

Nova Serrana, centro-oeste de MG, 25/5/2018.






quarta-feira, 23 de maio de 2018

Na luta por direitos, desrespeitou um/a, desrespeitou todos/as.Resiste, ...

Na luta por direitos, desrespeitou um/a, desrespeitou todos/as. Resiste, Carolina!/4ª parte/09/5/2018.

Nesse tempo de usurpação crescente de direitos, resistir é a palavra-chave. Ainda mais quando se trata da luta por moradia digna. Enquanto morar for um privilégio, enquanto a especulação imobiliária tiver prioridade sobre política habitacional séria, que atenda aos trabalhadoras e trabalhadoras, ocupar é um direito e um dever. Ocupar e resistir. A Ocupação-Carolina Maria de Jesus, do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e Rede de Apoio mantêm-se firmes diante da notificação de iminente despejo e abertos à negociação. A Ocupação do prédio no centro de Belo Horizonte, na Avenida Afonso Pena, 2.300, além da luta pelo sagrado direito à moradia, trata também do direito ao centro da cidade com todos os equipamentos públicos disponibilizados, facilitando a vida dos que dele dependem. A organização e a estrutura coletiva da Ocupação fortalecem ainda mais essa resistência. O bem comum é possível. Resiste, Carolina! *

Filmagem feita por Stéfane, moradora da Ocupação Carolina Maria de Jesus.
Apoio de frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 09/5/2018.

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terça-feira, 22 de maio de 2018

Deus também é cigano. Dia 24/5, Dia Nacional dos Ciganos. O que comemorar? Resistência e Luta na Região Metropolitana de Belo Horizonte.


Deus também é cigano. Dia 24 de maio, Dia Nacional dos Ciganos.

Por Gilvander Luís Moreira[1]


Que beleza que o CEDEFES e a professora Dra. Alenice Baeta estão comprometidos com a luta justa, legítima e necessária das Comunidades Ciganas em Minas Gerais. Há alguns anos, entrevistei na TVC/BH Bernadete Lage, uma lutadora em defesa da causa dos ciganos em Minas Gerais, e também o Carlos, cigano da comunidade cigana do bairro São Gabriel, em Belo Horizonte, MG. Inesquecível ver e ouvir a paixão e o encantamento com o qual Bernadete e Carlos falavam das belezas da cultura cigana. Ao ouvir Carlos, um cigano, e Bernadete, alguém que se apaixonou pela causa das Comunidades Ciganas, ouvi dentro de mim uma voz que dizia: “Deus também é cigano!” Em Minas Gerais, estima-se que existam mais de 100 mil ciganos, povo milenar oprimido e injustiçado, povo que carrega e cultiva uma cultura linda. Logo, reforço aqui a reivindicação para que a prefeitura de Ibirité arrume terreno com condições adequadas para acolher a Comunidade Cigana do Acampamento São Pedro. Inadmissível violentar a dignidade humana das pessoas ciganas, negando-lhes a terra que lhes é de direito. E pior, negar terra para os ciganos para doar terreno para empresas que irão acumular capital é um crime que clama aos céus. Em breve, visitarei a Comunidade Cigana de São Pedro em Ibirité, MG. Espero não ter que fazer uma reportagem em vídeo e escrever texto para denunciar o prefeito e todo o poder público municipal de Ibirité. Em nome do Dia Internacional dos Ciganos, dia 24 de maio, pedimos: Prefeito de Ibirité, atenda às justas e legítimas reivindicações da Comunidade Cigana que está aí em Ibirité, e se torne um bom exemplo para todas os municípios de MG, onde estão 100 mil ciganos, nossos irmãos que cultivam uma cultura milenar linda, e esperam de quem não é cigano respeito pelo seu jeito de ser e agir. A cultura cigana nos humaniza.
Abraço terno na luta em defesa dos injustiçados.
Frei Gilvander Moreira.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas. 
www.twitter.com/gilvanderluis        –     Face book: Gilvander Moreira III



O que comemorar no Dia Nacional do Cigano? Resistência e Luta na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Por Alenice Baeta


Apesar do dia Nacional do Cigano, 24 de Maio, estar se aproximando, boa parte de suas lideranças não conseguem pensar em organizar celebrações como gostariam, pois se encontram mobilizadas temendo ordem de despejo em muitos de seus acampamentos e ranchos em diversas localidades do estado.
Lamentavelmente este é o caso do Acampamento São Pedro, situado no município de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte-RMBH, Minas Gerais. As lideranças ciganas Valdinalva Caldas e Itamar Soares, contam que têm tentado, sem sucesso, chegar a um acordo com a Prefeitura de Ibirité há meses. Segundo elas, já houve encontros com o Prefeito Sr. William Parreiras e reuniões com o Procurador Municipal Dr. Wagner Miguel, atual Secretário de Governo, Sr. Reinaldo Oliveira e demais representantes do poder público municipal, que teriam prometido a definição de uma área com infraestrutura adequada – água limpa, banheiro e energia elétrica, pois há crianças, jovens e idosos no acampamento.
Atualmente o acampamento está em um terreno público considerado oficialmente como “área verde”, mas estranhamente, quando as primeiras famílias ciganas ali chegaram, já encontram um terreno com lixo e entulho.  O que mais chama a atenção é que a Prefeitura parece pretender doar justo esta “área verde” para duas empresas e por isto quer que as famílias ciganas desocupem este local, todavia, não indicou um novo terreno adequado para elas se instalarem.
No dia 21 de Maio houve uma audiência entre as lideranças supracitadas, que foram acompanhadas por membro da ONG CEDEFES-Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, e representantes do município, que assustadoramente não apresentaram nenhuma proposição ou solução oficial para as lideranças, contradizendo assim todas as tratativas, negociações e promessas feitas até então. Não houve acordo algum nessa audiência, exigindo que as lideranças tivessem que solicitar no Fórum de Ibirité a nomeação de um advogado que as defenda em curtíssimo prazo.  Agora, o grande temor das famílias é uma futura ordem de despejo, o que seria um grande desrespeito à dignidade humana deste milenar povo tradicional itinerante e suas associações.
O que leva um poder público e seus representantes a preferirem doar esse terreno a empresas particulares, sem nenhuma alternativa ou proposta de usufruto de outra área para o acampamento cigano aqui focalizado, ferindo frontalmente os direitos constituídos em nível internacional e nacional de um grupo tradicional?
Bom lembrar às autoridades municipais e seu secretariado, em especial os que atuam no âmbito do governo, cultura, desenvolvimento social e meio ambiente, que desde o século XVI há registros de clãs ciganas no Brasil e que esta minoria étnica é considerada uma das mais vulneráveis, de acordo com as agências internacionais e a ONU, sendo que as suas tendas,  acampamentos e ranchos configuram-se como lar ou asilo inviolável. Os ciganos continuam sendo vítimas de procedimentos racistas, discriminatórios, xenófobos e intolerantes, por isto, espera-se que o poder público de Ibirité se comprometa, para além de discursos e promessas, em romper de forma prática e eficaz as cruéis barreiras do “Racismo Institucional” buscando soluções exemplares e alternativas comprometidas com a inclusão social, diversidade cultural e a valorização das tradições étnicas e culturais ciganas.
Destaque: Líderes Ciganos do Acampamento São Pedro no município de Ibirité-RMBH. Foto: A. Baeta – Maio de 2018.

Sabedoria: “Os justos vivem para sempre”


Sabedoria: “Os justos vivem para sempre”
Por Gilvander Luís Moreira[1]


No livro da Sabedoria, em Sab 3,1-12, pela primeira vez na Bíblia, surge a ideia de imortalidade de forma assertiva e categórica e não como apenas expressando um desejo de que o justo fosse salvo para sempre – como nos outros livros sapienciais bíblicos. Mas o pensamento semítico e judaico, desde séculos, buscava caminhos de transformar esse desejo em uma certeza de fé. A filosofia grega forneceu ao autor do livro de Sabedoria conceitos que expressassem de forma mais exata o desejo do justo: os conceitos de imortalidade (athanasia) e incorruptibilidade (aphtarsía), que não existiam na língua hebraica. Escrevendo em grego, mas com cabeça hebraica, o autor do livro da Sabedoria usou os termos da filosofia helênica para se expressar mais exatamente.
Certamente houve influência da filosofia grega, disseminada pela cultura helenista durante o período de glória do imperialismo grego que, através de guerras e invasões anexou muitos territórios de outros povos. Mais do que apenas defender a vida pós-morte, o sábio autor do Livro da Sabedoria enfatiza um tipo de fé revolucionária que carrega a seguinte convicção: os justos viverão para sempre e os injustos serão aniquilados. Em consonância com a defesa do estilo de vida das pessoas justas, em Sabedoria 3,8 se afirma outra utopia revolucionária: “Os justos governarão as nações, (...) e Deus reinará para sempre sobre eles”. Esse tipo de fé é imprescindível para sustentar a caminhada e luta de quem se dedica a viver na contramão do sistema opressor, no nosso caso, o sistema do capital, pois mostra que vale a pena ser pessoa justa e dedicar-se à construção de uma sociedade justa, solidária, ecumênica e sustentável ecologicamente, o que passa necessariamente pela superação do capitalismo, máquina de moer vidas humanas e vidas de todos os seres vivos.
Isso é verdadeiro, libertador e, certamente, não exclui a fé e a esperança na imortalidade pessoal de cada justo, que se expressa em muitos Salmos e no próprio Livro de Jó: “Eu sei que o meu Redentor está vivo e que no fim se levantará acima do pó. (...) Eu mesmo o verei e não outro; eu o verei com meus próprios olhos” (Jó 19,25.27). A fé em Deus, que nos ama e nos quer dar a imortalidade, é uma aposta que vale a pena ser feita! Apoia-se na convicção de que Deus é justo, e “criou a pessoa humana para ser incorruptível e a fez à imagem da sua própria natureza.” (Sab 2,23).
Em Sab 3,13-4,6, o autor da Sabedoria dessacraliza a concepção judaica segundo a qual a reprodução da família judaica se dava através da produção de filhos, por meio dos quais continuaria a herança dos pais. Em ambiente de intensa idolatria e exploração da dignidade humana, o sábio alerta que é melhor ser estéril do que gerar filhos opressores, adeptos da ideologia dominante. Casar com filho de família opressora pode corroer a fina flor da experiência de fraternidade do povo. É o que atesta Sab 3,13. Em Sab 4,1 o sábio autor aponta a alternativa sensata a não ter filhos: “É melhor não ter filhos e possuir a virtude, porque a memória da virtude é imortal...” (Sab 4,1). Aqui o livro da Sabedoria faz uma “revolução copernicana”: não mais o simples reproduzir a prole para se ter futuro, mas cultivar virtude, ou seja, ser pessoa justa segundo um conhecimento que liberta - o que não é, logicamente, a ideologia dominante, mas são saberes que envolvem as pessoas na luta pelo bem comum sem discriminar ninguém e nada.
As pessoas injustas se tornarão para sempre cadáveres desonrados e objetos de zombaria entre os mortos (...) e a memória delas desaparecerá” (Sab 4,19). Ao contrário, as pessoas justas, mesmo que tenham vida curta, “quando morrem, condenam os injustos que continuam a viver” (Sab 4,16). Assim acontece com todos os/as oprimidos/as da história: fazem história e permanecem na história os que são justos e militam na defesa da justiça, no sentido da construção do bem comum para todos sem nenhuma discriminação ou privilégio. “Os justos vivem para sempre” (Sab 5,15), assevera o sábio autor da Sabedoria. Possuído pela ira divina, o sábio antevê que nas contradições assumidas pelos injustos e opressores “eles serão devastados e a própria maldade deles derrubará o trono deles” (Sab 5,23), pois o projeto dos opressores é um projeto de morte, assassino e suicida.
Em Sab 6,1-11 o sábio autor aponta que os governantes devem governar com justiça, que é: defender os empobrecidos e injustiçados diante daqueles que os exploram. A responsabilidade das autoridades é muito grande, pois das decisões delas depende a vida do povo. Todos serão julgados proporcionalmente, de acordo com a repercussão social das suas ações. As autoridades terão julgamento divino implacável (Sab 6,5), pois das decisões delas dependem a vida e a liberdade do povo. O Deus de Sabedoria não é neutro, pelo contrário, coloca-se explicitamente ao lado dos injustiçados: “Os pequenos serão perdoados com misericórdia, mas os poderosos serão examinados com rigor” (Sab 6,6.8).
O autor demonstra que a Sabedoria não é acessível apenas aos ricos e estudados, mas ela é democrática e acessível a todos, pois nascemos e nos despedimos desse mundo de forma semelhante: nus, sem trazer e sem levar nada (Cf. Sab 7,6). O sábio é aquele que prefere a sabedoria e não cetros e tronos; é aquele que considera a acumulação capitalista como palha que o vento leva e o fogo devora (Sab 7,8-9). Por essa perspectiva, em uma linguagem atualizada, podemos afirmar que a pessoa sábia não se deixa conduzir pelas seduções da sociedade capitalista, não dedica a vida a acumular riqueza e gozar poder, mas vive e convive de forma simples e austera, sendo assim coerente com o projeto do Deus da vida que quer vida e liberdade em abundância para todos/as e tudo.
O autor do Livro da Sabedoria compreende que o “senso comum” disseminado pelos injustos domina a consciência da maioria das pessoas. Em uma linguagem atual, podemos dizer que a ideologia dominante e hegemônica tem muito poder, conforme nos ensina István Mészáros, falecido dia 02 de outubro de 2017: “A ideologia dominante tem uma capacidade muito maior de estipular aquilo que pode ser considerado como critério legítimo de avaliação do conflito, na medida em que controla efetivamente as instituições culturais e políticas da sociedade.[2]
Enfim, o sentido da vida está em ser pessoa justa e, por isso, comprometida com as lutas libertárias dos povos injustiçados. Os injustos como palha no fogo desaparecerão da história. Feliz quem não se deixa seduzir pelo canto da sereia do sistema do capital que reduz tudo a mercadoria e aniquila o humano que clama para ser cultivado em nós.

Referências Bibliográficas
MÉSZÁROS, István. O Poder da Ideologia. São Paulo: Ensaio, 1996.

Belo Horizonte, MG, 22/5/2018.

Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.


1)   Palavra Ética na TVC/BH com Tio Maurício (Maurício Alves Pereira), servidor dos pobres da rua. 05/12/2012.

2)   Fila do Povo da Ocupação Eliana Silva, na ALEMG, em Belo Horizonte: Mães e Crianças clamam por moradia. 06/09/2012.

3)   Fila do Povo da Ocupação Eliana Silva na ALEMG, em Belo Horizonte: Palavras de fogo. Quem ouvirá? 06/09/2012.






[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas. 
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15. MÉSZÁROS, István. 1996, p. 15.

Respeito às 200 famílias da Carolina de Jesus/BH:Negociação, sim.Despejo...

Por respeito à dignidade de 200 famílias da Ocupação Carolina Maria de Jesus, em BH/MG: Negociação, sim. Despejo, não. 3ª Parte. 09/5/2018.

Uma Ocupação no centro de Belo Horizonte/MG, na Avenida Afonso Pena, 2.300, Bairro Funcionários. Há 8 meses, um prédio até então abandonado, sem cumprir qualquer função social, tornou-se espaço de moradia para 200 famílias que já não suportavam a pesadíssima cruz do aluguel, a moradia de favor, a situação de moradores de rua. E, sob a coordenação do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), fizeram desse prédio um espaço acolhedor, com ações coletivas que lhes permitem uma convivência harmoniosa, solidária, onde todos têm a consciência de que o bem comum é fundamental para o fortalecimento da comunidade. Com a Comunidade consolidada, bem estruturada, com moradores participando de vários projetos de formação, cultura, arte, educação e cidadania, a notificação da reintegração de posse, com possibilidade de iminente despejo, deixou a todos e todas - MLB, moradores e Rede de Apoio - indignados/as. A indignação motiva à resistência. Sair só se for para moradia igual, ou melhor, prévia. Negociação, sim. Despejo, não. Sem uma alternativa prévia e digna, resistência é a palavra-chave. Resiste, Carolina!

* Filmagem feita por Stéfane, moradora da Ocupação Carolina Maria de Jesus. 
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