O CASO DO HELICÓPTERO
Antônio
Pinheiro, de Belo Horizonte, pai do Chico Pinheiro da TV Globo.
A liberdade de imprensa e o compromisso com a
verdade são dois mitos que insistem em desafiar os profissionais que lidam
diariamente com a informação.
Se por um lado, no caso brasileiro, os jornalistas
ficaram livres daquela censura mais ostensiva, escancarada e torpe, própria dos
regimes ditatoriais, de outro, eles continuam sofrendo cerceamento em sua
liberdade de expressão por parte dos grupos econômicos e políticos que dão
sustentação às empresas para as quais trabalham.
Assim, não são raras as ocasiões em que os
jornalistas são simplesmente impedidos de abordar ou reportar determinados
assuntos ou de noticiá-los de maneira mais clara ou isenta.
Ou eles se submetem à ordem estabelecida ou são
demitidos.
Como leitor assíduo de jornais e, eventualmente
procurado por jornalistas em função das posições políticas que adotei ao longo
da minha vida pública, essa é uma questão que sempre me intrigou e despertou
curiosidade.
Lembro-me de certa vez, quando exercia o mandato
de deputado estadual na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), ter
recebido em meu gabinete um jornalista que havia feito a cobertura de um dos
meus pronunciamentos no plenário daquela Casa.
Tratava-se de um profissional respeitado pelos
seus pares e pelos colegas parlamentares, que foi até minha sala tentar
justificar-se comigo pelo fato de não ter dado o devido destaque ao teor do que
eu havia dito em sua reportagem que saiu publicada em um grande jornal da
capital mineira.
De acordo com esse profissional, cuja
identidade, por motivos óbvios, peço licença para manter em sigilo, o jornal
para o qual trabalhava, lhe pagava um salário insuficiente para cobrir as suas
despesas.
Assim, para compor o seu orçamento, teve que
buscar um segundo emprego. Achou-o na Assembleia Legislativa, que, como uma
mãe, lhe pagava duas vezes mais do que recebia pelo jornal.
Em função disso, ficou clara a razão pela qual a
sua matéria saíra incompleta, pois, segundo me explicou, ela deveria seguir
certos protocolos, ter um certo viés capaz de atender a determinados interesses
políticos partidários.
Já desconfiava disso, e tal fato só veio
confirmar a censura camuflada que vigora em nosso Estado e em nosso país.
Um flagrante desrespeito à opinião pública e ao
cidadão que paga seus impostos (e, que, indiretamente, paga os salários daquele
jornalista e dos deputados), mas que tem subtraído por interesses escusos, o
seu sagrado direito à informação.
Menciono este caso para lembrar-lhes de outra
notícia, bem mais importante que saiu publicada na imprensa em 26/11/2013.
Ganhou logo as páginas dos jornais e os
telejornais como mais um grande escândalo político, mas que, não obstante o seu
potencial escandaloso, acabou sendo esquecido (ou abafado) pela mídia, já que
ninguém fala mais sobre ele.
Trata-se do caso do helicóptero pertencente a
uma empresa da família do senador Zezé Perrella (PDT-MG) que foi apreendido
naquele dia transportando meia tonelada de cocaína.
Soube-se depois que a aeronave era pilotada por
um funcionário da ALMG lotado no gabinete do filho do senador, o deputado
Gustavo Perrella (SD), e que era abastecida com dinheiro público.
O helicóptero teria saído com a droga de São
Paulo, fez escala em Divinópolis (MG), e depois seguiu rumo a uma fazenda em
Afonso Cláudio (ES), onde foi preso pela Polícia Federal.
Ou seja: um helicóptero e pilotos pagos com
dinheiro público para traficar 450 quilos de cocaína.
Estou enganado ou isso não é um escândalo? Um
helicóptero transportando cocaína à custa do erário dos vazios cofres do Estado
de Minas Gerais!
Diante disso, me vem à memória os recentes
pronunciamentos feitos pelos deputados Sávio Souza Cruz quando denunciou da
tribuna da ALMG que a Casa que nos representa é um “prostíbulo”, e
Sargento Rodrigues, que igualmente indignado, denunciou publicamente que há
colegas seus que são “venais”.
Como a imprensa, conforme dito no início desse
artigo, tem lá suas limitações para tratar determinados temas, indago então aos
nossos caros parlamentares, se eles vão preferir vestir a carapuça ou dar um
basta nessa situação escandalosa, investigando a fundo esse caso que associou a
instituição ao tráfico de drogas e manchou vergonhosamente a sua imagem e história?
Quando darão uma satisfação à opinião pública?
Quando esclarecerão a quem pertencia esta carga de desgraça, que é a cocaína?
Qual será a punição que pretendem aplicar aos envolvidos? E como a ALMG será
ressarcida pelo dinheiro que foi desviado?
Minas Gerais e o Brasil não merecem mais esse
vexame moral, como bem disse o nobre jornalista Acílio Lara Resende, em artigo
publicado no jornal “O Tempo” do dia 7 de janeiro de 2016. Nos diz ele que
“além da inteligência, o Brasil perdeu a sua consciência moral.”
Volto a citar um provérbio bíblico: Se “um filho
insensato é a desgraça dos pais”, não seriam um bando de políticos insensatos
os responsáveis pela desgraça que hoje abate nosso povo?