Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
terça-feira, 21 de julho de 2015
Leonilde Medeiros, após a Fila do povo em Análise de Conjuntura no IV Congresso da CPT, em Porto Velho, Rondônia, dia 12/07/2015.
Leonilde Medeiros, após a Fila do povo em Análise de Conjuntura no IV Congresso da CPT, em Porto Velho, Rondônia, dia 12/07/2015.
DESPEJO AGORA EM RIO ACIMA, MG, da Ocupação Vila Feliz: injustiça e covardia. Nota pública.
DESPEJO AGORA EM RIO ACIMA, MG, da Ocupação
Vila Feliz: injustiça e covardia. Nota
pública.
“Toda família tem direito a moradia digna.” (Papa Francisco)
O despejo de 30 famílias da ocupação Vila Feliz, em Rio Acima,
região metropolitana de Belo Horizonte, começou hoje de madrugada, terça-feira,
dia 21/07/2015. As famílias foram cercadas por grande aparato de repressão da
Policia Militar de MG desde o final da madrugada. Essas famílias ocupavam casas
do Minha Casa Minha Vida, casas inacabadas e abandonadas há mais de 2 anos. Por
que o Ministério Público e o judiciário não julgaram e puniram os responsáveis
pelas casas inacabadas e abandonadas?
Na pouca negociação que aconteceu, o prefeito de Rio Acima, Wanderson
Lima, mentiu para o povo sobre o bolsa aluguel, disse que daria e mesmo sem garantir, decidiu jogar as famílias na rua.
Já a nível estadual, apesar de ser "novo" o governo, agora do PT, esse nada fez para mudar a PM, que continua a mesma, reprimindo e servindo de cão de guarda dos ricos e das propriedades abandonadas.
Já a nível estadual, apesar de ser "novo" o governo, agora do PT, esse nada fez para mudar a PM, que continua a mesma, reprimindo e servindo de cão de guarda dos ricos e das propriedades abandonadas.
A área está congelada pela PM.
Todas as entradas estão bloqueadas. A PM não deixa ninguém entrar, não deixa
tirar fotos e nem registrar o despejo. Por quê? Para impedir que a injustiça
venha à luz do sol? A PM só deixa sair. A PM proibiu uma pessoa de entrar na
casa para buscar remédio para uma criança. Houve pessoas que desmaiaram. Os
móveis de uma família foram queimados. Policiais jogaram spray de pimenta em
uma criança que teve que ser levada às pressas para o hospital. Estão
carregando os móveis das famílias não se sabem para onde. O povo está
resistindo na rua.
Mais uma covardia contra nosso povo está em
curso em MG. A revolta do povo é enorme. “De um lado, as famílias estavam
abandonadas e do outro lado, as casas inacabadas e abandonadas. Umas 30 famílias
ocuparam e estavam cuidando das casas e de seus filhos. Uma família está
ficando em uma das casas com autorização da Prefeitura. Se uma família está
ficando, por que as outras famílias não podem permanecer? Essa injustiça não
podemos engolir,” denuncia uma moradora que acompanha do lado de fora, proibida
de entrar na casa onde morou nos últimos meses.
Já foram presos sete pessoas: Anderson, Joubert,
que são militantes do MLB, e outros 5 moradores.
Eis o Estado violento e violentador rasgando
a Constituição que prescreve o direito a moradia e respeito à dignidade humana.
Enfim, o TJMG + a prefeitura de Rio Acima +
o Governo de MG + a PM de MG + os cúmplices, os omissos e os coniventes estão
fazendo mais uma sexta-feira da paixão, mas o povo dará a volta por cima e
construirá um domingo de ressurreição com moradia digna para todos/as. Não dá
para viver no ar! A luta por moradia digna vai continuar! Repressão a problema
social só aumenta a indignação e agrava os problemas sociais.
Enquanto
morar for um privilegio, ocupar é um direito!!!
Assinam essa Nota:
MLB -
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB
CPT –
Comissão Pastoral da Terra
Contatos no local, na Ocupação Vila Feliz,
em Rio Acima, MG:
Com
Maria, cel.: 31 9366 2181 ou 31 92438958.
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Jesus de Nazaré e as CEBs: da Solidariedade à luta por Justiça. Por uma pedagogia emancipatória. 1a parte. por frei Gilvander Moreira.
Jesus de Nazaré e as CEBs: da Solidariedade à
luta por Justiça. Por uma
pedagogia emancipatória.[1] (1ª parte).
Gilvander Luís
Moreira[2]
“O
camponês de Nazaré, nessa luta nos reuniu. Vem conosco caminhar, pela Terra
Livre Brasil...” (Hino do 3º
Congresso da PJR)
"Nada a temer senão o correr da luta / Nada a fazer senão esquecer o medo / Abrir o peito à força, numa procura / fugir às armadilhas da mata escura.” (Música Caçador de mim, de Milton Nascimento).
1 - A partir de uma experiência pessoal e
social.
Nasci
na roça, no campo. Fiz muitos calos nas mãos no cabo da enxada tocando roça à
meia ao lado do papai José Moreira e da mamãe Leontina. Na hora da colheita,
quando via o fazendeiro levar no caminhão a metade da nossa safra e quase toda
a outra metade também, porque contraíamos dívida na sede da fazenda onde
comprávamos, do plantio à colheita, açúcar, café, sal, remédios etc, dentro de
mim, ainda criança, gritava uma voz: “Deus
não quer isso. Isso não é justo.” Trago na minha memória essa indignação
diante da opressão do latifúndio e dos latifundiários. Saí da roça, mas a roça
não saiu de mim.
2 - Deus na história, o divino no humano.
O Deus do
cristianismo é um Deus da história, quer dizer, age nas entranhas dos fatos e
dos acontecimentos. O Deus da vida, mistério de infinito amor, não faz mágica.
Desde que Deus, por infinito amor à humanidade, encarnou-se, o divino está no
humano.
O Concílio de
Calcedônia, no ano de 451, reconheceu Jesus Cristo com “natureza” divina
e humana. O apóstolo Paulo reconhece que Jesus é o Cristo, filho de
Deus, mas “nascido de mulher” (Gal 4,4), ou seja, humano como nós desenvolveu
seu infinito potencial de humanidade. “Jesus, de tão humano, se tornou divino,”
dizia o papa João XXIII.
“Não é
ele o filho de Maria e José, o carpinteiro (Mt 13,55)?”.
Progressivamente, na Galileia, Samaria e Judéia, Jesus se revela, à primeira
vista, em aparentes contradições, mas, no fundo, com tal equilíbrio que chama a
atenção de todos. Assim, ele testemunha que Deus é mais interior a nós do que
imaginamos. A mística “encarnatória” revela a pessoa humanamente divina e
divinamente humana. “Quem me vê, vê o Pai (Jo 14,9)”.
Jesus, antes de se
tornar mestre, foi discípulo, mas como mestre continuou aprendendo. Antes de
ensinar, aprendeu muito com muitos: com Maria e José, com o povo da sinagoga,
com os vizinhos, amigos, com os acontecimentos históricos, com a natureza etc.
Somos discípulos/as
de um jovem camponês, da periferia, que foi condenado à pena de morte pelos
podres poderes da política, da economia e da religião. Somos discípulos de um
mártir. Feliz quem não esquece a vida, o testemunho e o ensinamento dos
mártires.
Jesus compreende a
mulher acusada de adultério, mas ferve o sangue de ira santa contra os
vendilhões do templo.
3 – Seis características da pedagogia emancipatória de
Jesus de Nazaré, fundamentação bíblica para as Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs) na práxis da Solidariedade à luta por Justiça.
Jesus
não nos salva automaticamente, mas testemunha um jeito de viver, melhor
dizendo, um jeito de conviver, que é libertador e salvador. Vital é prestarmos
atenção no jeito e como Jesus ensina e atua. Faz bem prestarmos atenção no
processo pedagógico efetivado por Jesus, processo esse que será base bíblica
para o povo das Comunidades Eclesiais de Base ser militante do Reino de Deus da
solidariedade à luta por Justiça. Trata-se de uma Pedagogia emancipatória com
muitas características, entre as quais, destacamos aqui seis.
3.1) Luta a partir da periferia, a partir dos
injustiçados.
O Evangelho de Lucas interpreta a vida, as ações e os ensinamentos de Jesus ao
longo de uma grande caminhada da Galileia até Jerusalém, ou seja, da periferia
geográfica e social ao centro econômico, político, cultural e religioso da
Palestina. A Palavra, no Evangelho de Lucas, é a palavra de um leigo, de um
camponês galileu, “alguém de Nazaré”, pessoa simples, pequena, alguém que vem
da grande tribulação. Não é palavra de sumo sacerdote, nem do poder.
3.2) Prioriza a formação de base. Nessa grande viagem,
subida para Jerusalém, Jesus prioriza a formação dos discípulos e das discípulas.
Ele percebe que não tem mais aquela adesão incondicional da primeira hora.
Jesus descobriu que para consolar os aflitos era necessário incomodar os
acomodados e denunciar as pessoas e as estruturas injustas e corruptas. Assim,
o jovem de Nazaré começou a perder apoio popular. Era necessário caprichar na
formação de um grupo menor que pudesse garantir os enfrentamentos que se
avolumavam. Jesus sabia muito bem que em Jerusalém estava o centro dos poderes
religioso, econômico, político e judiciário. Lá travaria o maior embate.
3.3) Não foge do combate. O Evangelho de Lucas
diz: Jesus, cheio do Espírito, em uma proposta periférica alternativa, vai, em
uma caminhada, de Nazaré a Jerusalém; ou seja, vai da periferia para o centro,
caminhando no Espírito. Em Jerusalém acontece um confronto entre o projeto de
Jesus e o projeto oficial. Este tenta matar o projeto de Jesus (e de seu
movimento) condenando-o à morte na cruz. Mas o Espírito é mais forte que a
morte. Jesus ressuscita. No final do Evangelho de Lucas, Jesus diz aos
discípulos: “Permaneçam em Jerusalém até
a vinda do Espírito Santo” (Lc 24,49).
3.4) Sempre em movimento. Seguir Jesus exige
uma dinâmica de permanente movimento. A sociedade capitalista leva-nos a buscar
segurança, o que é uma farsa. É hora de aprendermos a seguir Jesus de forma
humilde e vulnerável, porém mais autêntica e real. Isso não quer dizer distrair
com costumes e obrigações que provêm do passado, mas não ajudam a construir uma
sociedade justa, solidária e sustentável ecologicamente.
3.5) Anda na contramão. Seguir Jesus implica andar na
contramão, remar contra a correnteza de tantos fundamentalismos e da idolatria
do consumismo. Exige também rebeldia, coragem, audácia diante de costumes que
entortam o queixo e de modas que aniquilam o infinito potencial humano
existente em nós.
3.6) Sabe a hora de conviver e a hora
de lutar.
O Evangelho de Lucas apresenta dois envios de discípulos para a missão. No
primeiro envio (Lc 10,1-11), Jesus indicou aos discípulos que fossem despojados
e desarmados para o campo de missão. Assim deve ser todo início de missão:
conhecer, conviver, estabelecer amizades, cativar, assumir a cultura do outro,
tornar-se um/a irmã/ão entre as/os irmãs/ãos para que seja reconhecido como “um
dos nossos”. No segundo envio (Lc 22,35-38), em hora de luta e combate, Jesus
sugere que os discípulos devem ir preparados para a resistência. Por isso “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no
máximo.” (Lc 22,36-38). Durante a evolução da missão, chega a hora em que
não basta esbanjar ternura, graciosidade e solidariedade. É preciso partir para
a luta coletiva, pois as injustiças precisam ser denunciadas. Ao tomar partido
e “dar nomes aos bois” irrompem-se as divisões e desigualdades existentes na
realidade. Os incomodados tendem naturalmente a querer calar quem os está
incomodando. É a hora das perseguições que exigem resistência. Confira a
trajetória de vida dos/as mártires da caminhada: Padre Josimo, Padre Ezequial Ramin,
Chico Mendes, Margarida Alves, Sem Terra de Eldorado dos Carajás, Irmã Dorothy
Stang, Santo Dias, Chicão Xucuru, Padre Gabriel, padre Henrique, João Canuto
etc.
[1] Esse texto é a 1ª
parte de um Artigo publicado como Capítulo V do livro CEBs: Raízes e Frutos, ontem e hoje, Benedito Ferraro e Nelito Dornelas (org.),
Brasília, DF: Scala Editora, 2014, pp. 64-74.
[2] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e
bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; doutorando em
Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; conselheiro
do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.freigilvander.blogspot.com.br
- www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis -
facebook: Gilvander Moreira
Mística de abertura do IV Congresso Nacional da CPT, em Porto Velho, Rondônia, dia 12/07/2015.
Mística de abertura do IV Congresso Nacional da CPT, em Porto Velho, Rondônia, dia 12/07/2015.
Filme-documentário "A liberdade não tem preço": de trabalho escravo no Pará a Assentamento Nova Conquista no Piauí. Isso no IV Congresso Nacional da CPT, em Porto Velho, Rondônia, de 12 a 17/07/2015.
Filme-documentário "A liberdade não tem preço": de trabalho escravo no Pará a Assentamento Nova Conquista no Piauí. Isso no IV Congresso Nacional da CPT, em Porto Velho, Rondônia, de 12 a 17/07/2015.
Dom Moacyr, saudações e cantoria no IV Congresso da CPT, em Porto Velho, Rondônia, dia 12/07/2015.
Dom Moacyr, saudações e cantoria no IV Congresso da CPT, em Porto Velho, Rondônia, dia 12/07/2015.
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