Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
domingo, 28 de junho de 2015
sábado, 27 de junho de 2015
Minha Casa Minha Vida no Jardim Vitória: Era para ser felicidade. Por frei Gilvander Moreira[1] e Adriano Ventura
Minha Casa Minha Vida
no Jardim Vitória: Era para ser felicidade.
Minha Casa Minha Vida decepciona no Jardim Vitória, em
Belo Horizonte, MG, ao fazer de um programa social um gueto onde os moradores
não têm alternativas para sobreviver com dignidade.
“Temos que andar quilômetros a pé até
pegarmos um ônibus superlotado no bairro vizinho para irmos trabalhar. Há um
morro onde o ônibus passa que precisamos descer do ônibus, porque é impossível subir
lotado. Algumas pessoas tentam cortar atalho passando nos quintais e portas de
casas de uma vila próxima aqui, mas muitas pessoas proibiram a passagem, outras
passaram a cobrar um pedágio de 70 centavos pela travessia em quintais de
vizinhos. Ruas que poderiam ser abertas para facilitar o acesso à BR 381 não
são feitas. Alegam que os terrenos são particulares.”
O
relato acima não é uma ficção e acontece em uma das maiores metrópoles do
Brasil: Belo Horizonte. Depois de 10, 15, 20 ou mais anos amargando a pesadíssima
cruz do aluguel ou a humilhação que é sobreviver de favor nas costas de
parentes, ao receber os apartamentos do Minha Casa Minha Vida (MCMV) no Jardim
Vitória, em Belo Horizonte, MG, mais de mil famílias ficaram felizes. Mas foi
começar a morar nos apartamentos logo descobriram que foram enganados.
Começaram a experimentar no próprio corpo que moradia digna é direito humano,
mas não é só um apartamento pequeno: inclui muito mais, necessariamente infraestrutura
pública existente em um bairro organizado.
Dia
9 de junho último (2015) aconteceu Audiência Pública da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara de Vereadores de Belo Horizonte no Conjunto habitacional Canários,
no Jardim Vitória. Saímos de lá comovidos e indignados por causa das injustiças
perpetradas pela prefeitura da capital contra cerca de 9 mil pessoas que lá
residem sem quase nenhuma infraestrutura pública. Aliás, o bairro Jardim
Vitória, antes mesmo da vinda do conjunto, já amargurava há anos com a ausência
do poder público. Fato facilmente comprovado ao andar pelas ruas do bairro,
algumas ainda na terra e sem acesso aos serviços básicos, dignos para qualquer pessoa
cidadã da cidade.
Na
chegada aos prédios do MCMV, as aparências enganam. Porteiro controlando a
entrada e a saída. De longe e à primeira vista prédios bonitos. Mas foi só abrir
a palavra para moradores que uma enorme lista de injustiças começou a vir à
tona.
São
prédios de 5 andares, 50 metros quadrados, sem elevadores, com apenas 30% de vagas
para automóveis nos pátios. Além disso, falta quase tudo. Não há transporte
coletivo. Não há creche para as crianças. Não há posto médico próximo e nem
UPA. Não há segurança pública. Não há espaços culturais. Não há comércio por
perto. Não há ruas de bom acesso à BR 381, que passa próximo. A sensação de
estar no lugar errado é uma constante para todos. “Nos postos dos bairros vizinhos somos muito mal atendidos. Falta quase
tudo: funcionários, remédios e não há como fazer exames. Se alguém passa mal
aqui, seja de dia ou de noite, não adianta chamar o SAMU, pois aqui eles não
vêm. Há um morador aqui que já recebeu o nome de SAMU, pois com o automóvel
dele, bastante surrado, é quem socorre quem está prestes a morrer aqui”,
desabafou um dos moradores, ao se recordar da situação vivida recentemente
quando teve que socorrer um filho doente e buscar socorro tarde da noite.
A
insegurança também é uma realidade. Chamar a policia em uma emergência é ter a
certeza de que raramente será atendido. “Muito
difícil a PM fazer ronda por aqui. Quando chamada, a polícia militar não
aparece. Estranhamente vemos viaturas rondando em um condomínio privado aqui
perto, que está sendo construído, onde não há ninguém ainda morando”, conta
um senhor, revoltado. Em alguns casos, essa realidade colaborou para mudanças
radicais: “Muitas mães tiveram que
desistir dos empregos quando passaram a viver aqui, porque precisam ficar
cuidando de seus filhos. Como sair daqui de madrugada? Se sair, o risco de ser
assaltada antes de chegar ao bairro vizinho para pegar um ônibus é muito
grande. Ganhamos apartamentos, mas perdemos o emprego.”
A
realidade vivida por esses moradores tende a piorar: é que a prefeitura deve
inaugurar mais apartamentos que estão sendo construídos na região do Jardim
Vitória, fora os conjuntos particulares, tocados por construtoras, na faixa 2
do MCMV, e que já estão ficando prontos. Bom lembrar que a menos de 3
quilômetros de onde realizamos a audiência, deve ser construído os prédios da
região conhecida como Capitão Eduardo, ao lado do bairro Paulo VI. Como garantir
respeito à dignidade humana de gente sem boa infraestrutura pública?
A
audiência foi mais uma prova de que o sonho da casa própria no Jardim Vitória
acabou virando um grande projeto de construção de guetos, onde os mais pobres
são levados para morar distante do centro urbano, abandonados à própria sorte.
E a prova disso foi que mais uma vez a prefeitura de Belo Horizonte (PBH)
sequer se fez representar durante a reunião. Talvez essa gente humilde, que um
dia se cadastrou nos programas sociais da PBH, participou dos núcleos de
habitação, acompanhou com afinco os sorteios para finalmente ter acesso a casa
própria, não sejam contados como pessoas cidadãs para a prefeitura que deveria
representá-los.
Assim,
o “Minha Casa Minha Vida” foi reduzido a meu pequeno apertamento. Jardim
Vitória? Ah! O Jardim murchou e a Vitória continua a ser um desafio. Era para
ser felicidade, mas o poder do capital e dos seus vassalos continuam nos
aprisionando. Moradia digna continua sendo um sonho ainda não realizado.
Moradia digna é condição indispensável para conquistarmos outros direitos, tais
como saúde, educação e paz como fruto da justiça. Quem tem ouvidos ouça o que o
MCMV do Jardim Vitória está dizendo sobre um dos maiores conflitos fundiários e
sociais do Brasil que envolve diretamente cerca de 8 mil famílias das Ocupações
da Izidora.
Belo
Horizonte, MG, Brasil, 27 de junho de 2015.
[1] Padre carmelita, assessor da Comissão
Pastoral da Terra e doutorando em Educação pela FAE/UFMG; email: gilvanderlm@gmail.com
[2] Jornalista, professor da PUCMINAS,
vereador em Belo Horizonte pelo PT; email: venturaa@terra.com.br
sexta-feira, 26 de junho de 2015
A luta pela terra. Coluna de Eduardo Costa, na Rádio Itatiaia, dia 26/06/2015.
A luta pela terra. Coluna de Eduardo Costa, na Rádio
Itatiaia, dia 26/06/2015.
“Está
seguro de que a lei, de 1914, cedendo o imóvel para instalação de um hospital
(sanatório) foi revogada; portanto, o dono é a Prefeitura. Sem falar que o
prefeito Célio de Castro decretou, em 2001, parte dos lotes como Zona Especial
para Fins Sociais... Então, as famílias já estariam ocupando o que lhes
pertence...” (Eduardo Costa, na
Rádio Itatiaia, em 26/06/2015.)
A luta pela terra. Coluna de Eduardo Costa, dia
26/06/2015.
A
reintegração de posse naquela área conhecida como Izidoro, no limite de
municípios de Belo Horizonte e Santa Luzia está suspensa e promete mais
emoções. Agora, o advogado Obregon Gonçalves está juntando documentos a uma
ação civil pública de três promotoras para ver a prova de propriedade dos
terrenos. Está seguro de que a lei, de 1914, cedendo o imóvel para instalação
de um hospital (sanatório) foi revogada; portanto, o dono é a Prefeitura. Sem
falar que o prefeito Célio de Castro decretou, em 2001, parte dos lotes como
Zona Especial para Fins Sociais... Então, as famílias já estariam ocupando o
que lhes pertence...
Há
mais perguntas: quantos terrenos existem lá no Isidoro, uma área tão grande que
é considerada a décima regional de Belo Horizonte? Há informações de que uma
área, de 657 mil metros quadrados, hoje pertence a empresa de pessoas da
família do ex-presidente da Assembleia, Diniz Pinheiro... Foi vendida à família
Pinheiro pelos Werneck, por 1,969 milhões mas, para fins de ITBI foi avaliada
em 3 milhões... Detalhe, a venda foi feita parcelada, e o pagamento das
parcelas não foi registrado em cartório, o que, segundo advogados, impede a
contratação de financiamento pela Caixa Econômica Federal, a exemplo do que
está sendo cogitado no Isidoro, em área da Família Werneck.
Outro
terreno pertence a uma empresa que tem na direção pessoa da família de José
Geraldo Ribeiro, aquele que foi secretário de ações rumorosas nos governos de
Hélio Garcia, virou deputado federal e foi cassado por ser um dos anões do
orçamento... Gente que roubava o dinheiro da União, através de emendas...
Detalhe é que a área foi utilizada como garantia em Execução da União, contra a
empresa filantrópica chamada Associação Cultural Caldas da Rainha, que não
aplicou recursos federais como devia, tendo a Justiça Federal determinado o
leilão da área dada em garantia. Na hora H, agora em 2013, alguém pagou 1,5
milhão e suspendeu o leilão. É o caso então de a Justiça Federal investigar
quem fez o depósito e, dependendo do resultado, até impedir que o terreno seja
alvo de financiamento federal, caso a área esteja incluída no projeto em curso
na Caixa Econômica.
Sobre
as empresas encarregadas de construir os prédios, está no negócio a Construtora
Bela Cruz Empreendimentos Imobiliários Ltda., pertencente ao Grupo Direcional.
A Bela Cruz tem capital de R$ 1.000,00 e foi criada em Agosto de 2.013, quando
estavam em andamento as negociações com a Caixa Econômica Federal para
financiamento do Projeto Isidoro. O endereço da Construtora Bela Cruz é o mesmo
endereço comercial das controladoras, integrantes do Grupo Direcional. E
criaram outra, a Direcional Participações, com capital social também de mil
reais... Então, como entender que a Direcional Participações seja a segunda
garantidora de um negócio de um bilhão de reais, com financiamento de 756
milhões do governo federal e aporte complementar de 177 milhões por parte da
Prefeitura? São perguntas...
Obs.: Pedimos a quem puder, por favor, divulgue ao
máximo o texto, acima.
Apelo às Autoridades Mineiras: Pelos Sem-teto da Izidora. Por Antônio Pinheiro, comendador do Vaticano no Brasil.
Apelo
às Autoridades Mineiras: Pelos Sem-teto da Izidora.
Por Antônio Pinheiro,
comendador do Vaticano no Brasil.
(Publicado no Jornal
O TEMPO, dia 25/06/2015)
O Brasil é o país mais católico do
mundo, segundo afirma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
-, e em nome disso, venho solicitar às nossas autoridades o cumprimento do
pedido de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida” (Evangelho de João 10,10).
Existem hoje oito mil famílias de “sem
teto” ocupando uma área conhecida como Granja Werneck, situada na região norte
da cidade de Belo Horizonte. Ali chegaram com barracas de lona e, pouco a pouco,
foram construindo alguns cômodos para abrigar suas famílias. A maioria está
desempregada, vivendo do trabalho informal e com renda de zero a um salário
mínimo, logo não tem condição de pagar por moradia e prover o sustento dos
filhos.
O
aluguel de um barraco na favela custa em torno de quatrocentos a quinhentos
reais. Como um pai de família que ganha setecentos e oitenta e oito reais (salário
mínimo) pode pagar um aluguel de quinhentos reais e mais conta de água, luz,
gás, alimentação, saúde e transporte? Além do mais, essas famílias vivem à
margem da sociedade, pois não são recebidas nos postos de saúde do SUS (Sistema
Único de Saúde), não conseguem matricular seus filhos nas escolas públicas, e
são recusadas em entrevistas para emprego quando informam que moram em um
acampamento de “sem teto”.
Como
se não bastassem todas as dificuldades enfrentadas por essas famílias, elas
vivem hoje um momento de angústia, desespero e revolta, diante da sentença de
despejo proferida pelo Judiciário Mineiro. Muitas pessoas que ali moram
disseram que preferem morrer a ser despejadas nas ruas com suas famílias.
Segundo denúncia do nosso Arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo morreram nas
ruas da capital mineira, nos últimos dois anos, mais de cem moradores de rua e
nenhuma investigação foi feita, pois eram cidadãos pobres “sem teto”.
Apelo
ao espírito de justiça social, e também ao espírito cristão de nossas
autoridades, para que não despejem essas famílias nas ruas, e busquem uma
solução digna para que elas tenham seus direitos constitucionais respeitados - Artigo 6°: São direitos sociais a educação,
a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
O
despejo dessas famílias configura descumprimento da Lei Maior, isso não seria um
crime? Como aceitar que o Estado de Minas Gerais governado por um líder do
Partido dos Trabalhadores não tenha uma política de habitação para abrigar
essas famílias? Como aceitar que oito mil famílias, na sua maioria chefiadas
por mulheres com três a quatro filhos, sejam despejadas nas ruas, sem nenhuma
assistência dos órgãos públicos? Tal
tratamento é desumano e cruel, e não pode ser aceito por uma nação que se diz Cristã.
Antonio
Pinheiro – Comendador do Vaticano
quinta-feira, 25 de junho de 2015
A IZIDORA RESISTE, coluna de Guilherme Boulos, no Jornal Folha de São Paulo (FSP), dia 25/06/2015.
A IZIDORA RESISTE, coluna de Guilherme Boulos,
na FSP, dia 25/06/2015.
Leia o texto,
abaixo, e entenda o Conflito que envolve 8 mil famílias das Ocupações Rosa
Leão, Esperança e Vitória, Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte e Santa
Luzia, MG. E contribua para que um dos maiores conflitos fundiários e sociais
seja superado com justiça, ética e de forma pacífica.
A IZIDORA RESISTE, coluna de Guilherme Boulos,
na FSP, dia 25/06/2015.
Se
pegarmos os primeiros mapas de Belo Horizonte veremos ali o ribeirão da
Izidora, que deu nome a uma região posteriormente grafada como Isidoro. Local
de resistência, ali estabeleceu-se o Quilombo das Mangueiras e consta que o
nome original fazia referência a uma escrava alforriada, a Izidora.
A
mudança oficial da grafia não encerrou a história de resistência. Em 2013, com
o agravamento da especulação imobiliária na cidade, milhares de famílias
organizaram três grandes ocupações na região. Rosa Leão, Esperança e Vitória
reúnem mais de 8.000 famílias de trabalhadores sem-teto.
A
região metropolitana de Belo Horizonte concentra o terceiro maior déficit
habitacional do Brasil: são 148 mil famílias sem moradia digna. O aumento desse
número, identificado pela Fundação João Pinheiro, segue um padrão da maioria
das metrópoles do país. E está relacionado ao aumento extorsivo no valor dos
aluguéis urbanos.
Raquel
de Mattos Viana, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo oficial do déficit
habitacional, declarou: "O ônus excessivo com aluguel é um componente que
tem grande peso nas regiões metropolitanas brasileiras. Nos últimos anos, houve
um 'boom' imobiliário nessas regiões, o que influenciou o aumento do valor dos
aluguéis". Em Belo Horizonte, o valor do metro quadrado aumentou 107% em
cinco anos, de acordo com o índice Fipe/Zap.
Isso
não é novidade para os moradores das grandes cidades, principalmente os mais
pobres. O aumento do aluguel tem expulsado silenciosamente as famílias
trabalhadoras para regiões mais periféricas. Junto com a piora das condições de
moradia e o comprometimento do orçamento doméstico, esses deslocamentos
forçados significaram piora no acesso aos serviços básicos e na mobilidade.
Quanto mais longe do centro, piores as condições.
Mas
a expulsão gerou resistência. Centenas de ocupações surgiram nos últimos anos
nas cidades brasileiras. As três da Izidora nasceram nesse contexto.
Hoje,
depois de dois anos, há ali um bairro consolidado. Das 8.000 casas erguidas com
as próprias mãos, mais de 5.000 são de alvenaria. A comunidade se organizou e
mesmo na total ausência do Estado criou suas condições de convivência, com a
contribuição decisiva de movimentos como as Brigadas Populares, o MLB
(Movimento de Luta nos Bairros e Favelas) e a Comissão Pastoral da Terra.
Mas,
ao mesmo tempo, longe da Izidora e sem diálogo com os moradores, o prefeito
Marcio Lacerda (PSB), o então governador Antonio Anastasia (PSDB) e a Caixa
Econômica Federal negociavam com a empreiteira Direcional –dona dos terrenos– a
implementação de um megaprojeto na área.
A
proposta seria a construção de um empreendimento de 8.896 apartamentos pelo
programa Minha Casa Minha Vida, com moradias-caixotes de 43 metros quadrados e
sem a garantia de que os atuais moradores seriam atendidos.
Aliás,
mesmo que houvesse essa garantia, o que justificaria demolir mais de 8.000
casas já construídas para construir 8.000 apartamentos em cima delas? Não seria
muito mais lógico o poder público desapropriar o terreno e repassar os lotes já
existentes para os seus moradores?
Seria
sem dúvida a melhor solução do ponto de vista social e urbano, mas neste caso a
empreiteira não ganha. Se a empreiteira não ganha, então não pode. E caso
encerrado. A propósito, não estamos falando de bagatelas: pelas regras do
programa, a construtora receberá cerca de R$ 750 milhões para realizar o
empreendimento, a maior parte em recurso federal e outra da Prefeitura de Belo
Horizonte.
Na
semana passada, o caso das ocupações da Izidora voltou ao cenário nacional com
a decisão do governador Fernando Pimentel (PT) de executar a ordem de despejo.
Mesmo sem acordo nas negociações, o governo deu 15 dias de prazo e deixou claro
que poderá colocar a PM para expulsar as famílias da Izidora.
O
mesmo Pimentel, na campanha eleitoral, havia se comprometido com os movimentos
sociais de que não ocorreriam despejos em Minas sem alternativa para as
famílias removidas. Parece que de outubro passado até aqui, a crise de amnésia
tornou-se uma epidemia na política brasileira.
Se
o governo insistir na política do confronto, poderemos ter um massacre nas
próximas semanas em Belo Horizonte. As cenas tão lamentáveis do despejo do
Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), poderão se repetir.
As
famílias da Izidora, sem alternativa, certamente resistirão. Resta saber se a
inconsequência do governo tucano de São Paulo em 2012 será repetida pelo
governo petista de Minas Gerais em 2015. Esperamos todos que não.
Obs.: Pedimos a quem puder, por favor, divulgue
ao máximo o texto, acima.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Por uma Política Habitacional que Garanta a Dignidade. Nota Pública conjunta. BH, 17/06/2015.
Por uma
Política Habitacional que Garanta a Dignidade.
Nota
Pública conjunta.
A ineficácia ou mesmo
a ausência de políticas públicas de habitação e a cumplicidade do Estado com a
injustiça habitacional, dentre tantas outras violências perpetradas pelo
Estado, fizeram com que a história das grandes cidades Brasileiras fosse uma
história de ocupações. Isto é assim até hoje.
Em Minas Gerais, vivemos
uma situação explosiva. Os municípios da região metropolitana de Belo Horizonte
não têm políticas habitacionais próprias. E, pior, fazem remoções forçadas
para a efetivação de “obras públicas”, cujas prioridades e interesses são questionáveis.
O Governo Estadual não construiu nenhuma casa na região metropolitana nos
últimos 20 anos. O Governo Federal segue a lógica de governos anteriores com
programas que atuam com ações pontuais que não conseguem se constituir como uma
política pública para enfrentar o déficit/injustiça habitacional. É o caso do Programa
Minha Casa, Minha Vida, criado primordialmente em 2009 para gerar lucro para
grandes construtoras, tais como a Direcional e a Encamp.
Fruto desta situação,
vários polos de conflitos se instalaram na região metropolitana de BH, situações
em que a necessidade de moradia do povo se chocou com os interesses da
especulação imobiliária e dos governantes de plantão.
O atual governador de
Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), fez campanha dizendo que estabeleceria diálogo
e teria uma postura justa e ética no trato com as ocupações. Assim que assumiu
o governo, estabeleceu Mesa de Negociação com as ocupações, não por acaso. Os
moradores das ocupações da região da Izidora – Ocupações/comunidades Rosa Leão,
Esperança e Vitória -, apoiados pelos movimentos sociais derrotaram as diversas
tentativas de despejo perpetradas por Márcio Lacerda e Anastasia. A ocupação
William Rosa, de Contagem, MG, depois de inúmeras manifestações, já havia
estabelecido Mesa de Negociação com o Governo Federal e a prefeitura de
Contagem, e, após manifestação na Assembleia Legislativa em Março de 2014, o Governo
de MG, através da COHAB, veio para a Mesa de negociação.
Não é politicamente
razoável que o Governo do PT em Minas assuma o serviço sujo e temerário que o
PSDB não conseguiu realizar: despejar e massacrar trabalhadores pobres que
lutam por moradia.
A ocupação William
Rosa se situa em terreno federal. Desde de 2013, vêm sendo trabalhado, com
muita dificuldade, uma proposta de construção de moradias pelo programa Minha
Casa, Minha Vida Entidades. A viabilização dessa proposta se daria a partir da
doação de um terreno pela prefeitura de Contagem, apoio técnico do Governo de
MG e da COHAB. Os recursos para a construção viriam do Governo Federal e do Governo
de MG, se necessário. O projeto dos apartamentos seria feito, dentro dos recursos
do programa MCMV, mas em conjunto com o movimento Luta Popular. Durante a
construção, os moradores ficariam em parte do terreno que hoje ocupam. Os
moradores da William Rosa, que moram em casas de Madeirite, entendem que se a
proposta se efetivar, será uma vitória de sua luta, pois fizeram a fila andar.
Os governos tiveram que se mexer e com sua ação ajudaram a desmascarar a grave injustiça
que se revela em um imenso déficit de moradia no país.
A motivação para que
as famílias das Ocupações da Izidora ocupassem o terreno onde estão foi a mesma
das famílias de todas as ocupações, inclusive da William Rosa: a necessidade de sair do aluguel e ter onde
morar com dignidade. No entanto, a solução para as mesmas não pode ser igual à
solução em construção para a William Rosa. Aliás, isto é parte do problema:
governos não respeitarem a identidade, a história e as especificidades de cada
grupo social.
Nos últimos meses, o Governo
de Minas tem tentado chantagear as famílias das ocupações da Izidora com o
argumento de que "se a William Rosa aceitou o acordo-proposta, por que
eles também não aceitam?". Esta é uma atitude deplorável do Governo de MG,
pois atua para dividir o movimento social e deturpa o que tem sido discutido na
Mesa de Negociação. As famílias da Izidora investiram na autoconstrução,
movidas pela necessidade e pela ausência completa de uma alternativa antes que
isto se desse. As ocupações estão localizadas em áreas extensas privadas, para
onde está previsto um empreendimento imobiliário bastante questionável pela
comunidade do entorno. As famílias investiram o que não tinham para construir
suas casas e hoje têm uma situação consolidada no local. A proposta que exige abrir
mão disso para serem incluídas em um grande projeto, já estabelecido, de
apartamentos de apenas 43m² é inaceitável. Além disso, a proposta para a Ocupação
William Rosa é que seja desenvolvido um projeto verticalizado, de apartamentos
populares, mas um projeto específico para aquela comunidade.
Nós, ocupações e
movimentos sociais que assinam esta Nota Pública, reiteramos que somos irmãos
na luta, não aceitamos soluções atravessadas e únicas que não considerem as
especificidades de cada comunidade. Nossa luta é para que as ocupações não
sejam necessárias e que os espaços ociosos das cidades, que não cumprem sua
função social, sejam disponibilizados para moradia digna. O déficit
habitacional, que é uma gravíssima injustiça urbana, deve ser tratado de forma
organizada pelos governos com políticas públicas para zerá-lo em um prazo
determinado, para que todos possam morar com dignidade.
Belo Horizonte e Contagem, MG, 17 de junho de
2015.
Assinam essa Nota
Pública:
Coordenações das Ocupações
Rosa Leão, Esperança, Vitória e William Rosa,
Brigadas Populares –
Minas Gerais,
Luta Popular –
CSP/Conlutas,
Comissão Pastoral da
Terra (CPT-MG) e
Movimento de Luta nos
Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
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