Os
argumentos econômicos eleitoreiros de 2014.
Delze dos Santos Laureano[1]
Existe
toda uma manipulação de informações tentando
convencer a todo custo que o Aécio Neves é a melhor opção para ocupar o cargo
de presidente da República a partir de 1º de janeiro de 2015. O salvador da
pátria vem agora travestido de administrador eficiente e de homem preparado
para fazer a melhor política econômica para o Brasil.
Sobre
o combate à corrupção e eficiência administrativa, sob a máscara de homem
probo, trataremos em outros textos. Sobre a economia trataremos agora.
Dizem
que o povo tem memória curta, então cabe lembrar que no governo Fernando
Henrique Cardoso, também do PSDB, houve a chamada privataria tucana. Houve a
maior entrega dos bens públicos ao grande capital nacional e internacional o
que manteve os gastos públicos por algum tempo, mas cerca de 170 empresas
estatais foram vendidas a preço vil. A venda da Vale do Rio Doce, sob forte
protesto popular, foi um crime até hoje não apurado devidamente. Em Minas o que
fez o próprio Aécio e o seu sucessor com o chamado choque de gestão foi
sucatear as empresas públicas e piorar ainda mais a prestação dos serviços
públicos, especialmente a educação. Além de achatar os salários dos servidores
estaduais diminuiu os cargos para os concursados. Os eletricitários, por
exemplo, vêm denunciando as inúmeras mortes por acidentes de trabalho devido à
terceirização dos serviços da CEMIG. Nos últimos 11 anos, mais de 110 desses trabalhadores
foram mortos enquanto trabalhavam. Antes da terceirização não havia esse tipo
de morte.
Por isso, neste pequeno artigo,
quero tratar dos falaciosos argumentos econômicos que tentam dar crédito à
candidatura tucana. Hoje mesmo já recebi diversas mensagens eufóricas dizendo
que bastou o Aécio ir para o 2º turno e já o dólar teria baixado e as ações da
Petrobrás subido. Ora, simplesmente essas
pessoas repetiram o discurso manipulador sem saber o que de fato isso significa.
Os que postaram nas redes sociais os argumentos não são economistas e nem se deram
ao trabalho de estudar mais a fundo aquelas informações.
Sabemos que índices e indicadores
econômicos de risco são manipulados ao interesse dos grupos financeiros internacionais de modo a assegurar os seus ganhos,
pois detêm o poder de dizer o que será risco e para onde serão direcionados os
investimentos de maior retorno. Mas os riscos avaliados pelos consultores
contratados não levam em conta o custo social dos danos ambientais, da vida de
camponeses sem terra para cultivar, do aumento do custo e da qualidade dos
alimentos quando as terras são tomadas pelo agronegócio para exportação , das famílias
sem casa que sobram nas cidades desumanizadas pela especulação imobiliária, das
crianças sem escola ou com ensino de péssima qualidade, das mães desamparadas, dos
doentes abandonados, da previdência social saqueada, do transporte público de
péssima qualidade.
Entretanto, basta lembrar
que economia significa a administração do lar, pois vem esta palavra do grego: norma
(nomia) da casa (oikia). A economia não é ciência exata. É uma ciência social que
não é nem mais nem menos importante do que as demais ciências. Não podem os
economistas de plantão impor as suas verdades como querem. É certo que ninguém
deseja o retorno da inflação ou o isolamento do Brasil no plano internacional,
porque isso deixou de ser interessante até mesmo para o chamado mundo
desenvolvido que há décadas atrás impôs aos chamados países subdesenvolvidos
arrochos inflacionários mediante a cobrança de juros extorsivos nas dívidas
contraídas em nome do desenvolvimento.
Mas o controle da inflação e
as atividades econômicas nacionais não podem se dar à custa da dependência do
país ao grande capital internacional. Esse que vem a muito saqueando a nossa
força produtiva e esgotando os bens naturais para nos impor um único modo de
vida vista como moderna. Chega de abaixarmos a cabeça para a lógica
imperialista de mercado que parece ser invencível.
É o irritante e desgastado
discurso sobre o humor do mercado, tão ao gosto dos comentaristas da mídia
hegemônica. Tratam o mercado como um deus perigoso que deve ser alimentado e
atendido em todos os seus caprichos, sob pena de descer sobre nós e nos
destruir. Lembram-se do enorme zepelim da música Geni do Chico Buarque?
Um dia surgiu, brilhante,
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir.
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir.
O medo é o que nos fazer
ceder às imposições absurdas ou condenarmos os mais frágeis a fazê-lo. Depois
teremos a consciência de termos sido mais uma vez apenas seviciados.
Não temos outra saída. Neste
2º turno das eleições presidenciais de 2014 temos de tomar posição. No âmbito
econômico, de um lado ficarão os que apoiam, conscientes ou inconscientemente,
o velho liberalismo econômico ou o agora travestido, e também velho,
neoliberalismo. Aécio Neves, filho da velha oligarquia agrária mineira é o que
melhor representa esse projeto. Esses que irão afirmar que a iniciativa privada
é a única capaz de gerar riquezas e desenvolvimento. O que não dizem é que a riqueza
será somente para os mesmos ricos e privilegiados. Não dizem, sobretudo, que
quando o mercado vai à bancarrota, sempre sujeito às crises que ele mesmo cria,
é o Estado que arca com o prejuízo usando os recursos retirados da boca das
criancinhas.
Do outro lado estarão, de
mangas arregaçadas, os que acreditam na alteridade como respeito a todos os seres
em igual dignidade, pessoas: independentemente da cor da pele, do lugar de
nascimento – sudeste ou nordeste -, da idade e da cultura. Os que lutam por uma
economia solidária e da necessária proteção da vida no planeta.
Esgotou-se o mito da
autonomia individual (meritocracia), da linearidade da história (todos
estaremos bem se seguirmos as regras que a modernidade e a ciência nos impõem)
e do universal abstrato (idealismo) temas tão ao gosto dos defensores das
políticas neoliberais. Temos de difundir a consciência de que só há vida em
sociedade e que nenhum iluminado irá nos salvar de tanta iniquidade, se não
formos capazes, nós mesmos em união, de construir uma sociedade justa, o que nos
obriga, neste momento, para não retroceder, além de desconstruir os argumentos econômicos
fundados em uma razão irracional, o compromisso de não assistirmos de braços
cruzados a manipulação da informação.
[1] Mestra em Direito Constitucional pela UFMG; Doutora em Direito
Público Internacional pela PUC/Minas; Professora – voluntária - de Direito
Agrário na UFMG; Integrante da RENAP (Rede Nacional de Advogados Populares);
email: delzesantos@hotmail.com.