domingo, 5 de outubro de 2014

Testemunho de uma moradora da Ocupação Vitória, na região do Isidoro, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG.



Testemunho de uma moradora da Ocupação Vitória, na região do Isidoro, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG.

Meu nome é Sônia Ferreira Gomes, estudante do 7º período de Letras pela Fundação Helena Antipoff, hoje, agregada à Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) Unidade Ibirité, MG.
Eu e minha mãe (83 anos de idade) morávamos de favor na casa de uma irmã, e apesar de muitas tentativas, não tive nenhuma possibilidade de financiar um imóvel sendo assalariada com salário muito baixo, assim como grande parcela do povo brasileiro. Não tenho ficha criminal, nem passagem pela polícia como marginal. Ao contrário, procuro me esforçar para viver da melhor forma possível, preservando minha dignidade como pessoa. Sendo assim, deixo claro meu repúdio a quem ousa dizer que na Ocupação Vitória, e demais ocupações, só existem marginais. Frente a esse desrespeito, sinto-me no direito de informar a todas as autoridades competentes que julgamentos sem conhecimento de causa são sempre portadores de uma verdadeira injustiça. Existem, sim, muitas pessoas agindo de má fé no Congresso Nacional, mas a diferença é exatamente as desculpas esfarrapadas são dadas e providências legais de forma alguma são tomadas e executadas na íntegra. Como podem então afirmar que nas Ocupações só existem bandidos, marginais?
Até o presente cumpri minhas obrigações como cidadã em um País que se intitula DEMOCRÁTICO, para algumas questões, é claro, porque quando se trata de moradia, por exemplo, as configurações de democracia são postas em última instância, e nem ouso dizer a respeito dos direitos garantidos pela Constituição Brasileira que a todo instante são negados ao povo. Direito esse que vejo sendo negado a mim, como a todos os companheiros e companheiras que fazem parte das Ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão, enfim, em todas as ocupações. Sou Vitória, faço parte desta família, e infelizmente, a luta e a resistência são o único meio oferecido a nós injustiçados/as, aqueles que não se conformam em permanecer numa situação indigna, pagando aluguel e muitas vezes vivendo situações de constrangimento físico, moral e espiritual.
Não tenho vergonha alguma em assumir minha postura de lutadora, guerreira. Ao contrário, me envergonha dizer que em nosso Brasil as autoridades que deveriam proteger, amparar, oferecer condições dignas de sobrevivência às pessoas que lhes pagam os salários absurdos, por exemplo, viram-lhes as costas para defender interesses escusos...e  tudo em prol de um capitalismo, máquina cruel que devasta e rouba do povo diariamente. Sistema que pisa no nosso direito de ser e ter humanidade.
Se o paternalismo corrompe o povo, quem dirá o autoritarismo que impera entre aqueles que pensam deter o poder de nos tirar daqui e jogar para lá... de enviar milhares de soldados com caminhões, tratores, para varrer de um terreno milhares de famílias que o poder público nem se deu ao trabalho de conhecer, apenas “contar” mais ou menos, afinal, nossas autoridades não sabem o que é sobreviver de aluguel, porque se viveram ou vivem, o dinheiro dispensado não fez e não faz diferença alguma, pois o salário é bem gordo no início do mês... dá e sobra.
Senhores e Senhoras, não queremos nada além do que a Constituição nos garante por direito e por lei, embora o que temos visto é o completo desrespeito à Constituição que prescreve respeito à dignidade humana, função social da propriedade e direito à moradia, entre muitos outros direitos sociais e coletivos. Sendo assim, confirmo minha resistência em permanecer na Ocupação Vitória, juntamente com todas as famílias que aqui residem até que as autoridades encontrem o caminho da sensatez, e recobrem a consciência de que direito garantido não pode ser tirado, cerceado por qualquer poder que seja.
Sou Vitória e partilho da luta das Ocupações Rosa Leão e Esperança.
Saibam que, unidos, na mesma intensidade com que podemos ser ROSAS, quando necessário nos tornamos leões e leoas para lutar por nossos direitos, sem perder a ESPERANÇA um segundo sequer, apesar das covardes ameaças que nos são feitas. Sabem por quê? Porque somos e confiamos na VITÓRIA. Temos certeza que Deus é por nós, e sendo assim, quem será contra nós?
Com luta, com garra, a casa sai na marra!!!
Nossos direitos vêm, nossos direitos vêm. Se não vêm nossos direitos, o Brasil perde também (bis). Quem negar nossos direitos será negado também. Já chega de tanta conversar sem cumprir para ninguém, mas com todo o povo unido, o mundo muda de sentido e nossos direitos vêm...
Sigamos firmes na luta coletiva nos animando mutuamente. Pátria Livre! Venceremos!

sábado, 4 de outubro de 2014

Carta dos povos e movimentos sociais da América Latina, Europa e África contra o despejo das Ocupações da região do Isidoro, em Belo Horizonte.



Carta dos povos e movimentos sociais da América Latina, Europa e África contra o despejo das Ocupações da região do Isidoro, em Belo Horizonte.
Lima, Peru, 27/09/2014.
Nós, movimentos sociais e povos da América Latina, Europa e África, reunidos no “V Diálogos de saberes y movimientos – ¿crisis capitalista? Y alternativas emancipatorias: sembrando Buenos vivires desde los movimientos”, em Lima, no Peru, condenamos os despejos forçados de comunidades e povos no campo e na cidade e por isso somos solidários com as 8.000 famílias das ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória localizadas na região do Isidoro, em Belo Horizonte – Brasil.
Os despejos são formas brutais de apropriação dos territórios dos pobres pelos latifundiários e empresários, que especulam lucros exorbitantes a custas da carência habitacional e da falta de terras disponíveis para a construção de uma vida digna. Em decorrência de uma lógica de apropriação e violência, cujas raízes remetem ao período de colonização de nossos povos, as ocupações do Isidoro vivem hoje sob a ameaça iminente de um despejo que desalojara de forma violenta 8.000 famílias.
O histórico de despejos ocorridos em diferentes estados brasileiros nos últimos anos torna temerário o cenário de reintegração de posse das terras onde se encontram tais ocupações. Há uma grande preocupação de que normas nacionais e internacionais, que garantem uma série de direitos e proteção às famílias do Isidoro, sejam desrespeitadas; além de desalojamento forçado e violento, o qual atenta contra a vida dos moradores, entre os quais há um grande número de mulheres, crianças e idosos.
Condenamos os despejos, pois eles desestruturam a vida individual e coletiva das populações, aumentando a segregação urbana e violando o direito essencial à moradia!
Condenamos os despejos, pois eles servem a uma lógica social injusta baseada na supremacia de uma elite branca, masculina e proprietária sobre as grandes maiorias oprimidas!
Nós viemos por meio deste manifesto solicitar às autoridades responsáveis que prezem pelo direito fundamental à vida, à moradia, à dignidade humana e à segurança. A especulação imobiliária não pode se sobrepor aos direitos humanos das famílias que fizeram do Isidoro o seu abrigo e a sua comunidade. Exigimos que os poderes judiciário e executivo observem o direito das populações pobres, que não devem ser criminalizadas e/ou punidas por materializarem o seu direito fundamental à moradia, inviabilizado por um histórico político e econômico de beneficiamento de especuladores.
Globalizemos a resistência! Globalizemos a esperança!