Testemunho de uma
moradora da Ocupação Vitória, na região do Isidoro, em Belo Horizonte e Santa
Luzia, MG.
Meu nome é Sônia Ferreira Gomes, estudante do 7º
período de Letras pela Fundação Helena Antipoff, hoje, agregada à Universidade
Estadual de Minas Gerais (UEMG) Unidade Ibirité, MG.
Eu e minha mãe (83 anos de idade) morávamos de
favor na casa de uma irmã, e apesar de muitas tentativas, não tive nenhuma
possibilidade de financiar um imóvel sendo assalariada com salário muito baixo,
assim como grande parcela do povo brasileiro. Não tenho ficha criminal, nem
passagem pela polícia como marginal. Ao contrário, procuro me esforçar para
viver da melhor forma possível, preservando minha dignidade como pessoa. Sendo
assim, deixo claro meu repúdio a quem ousa dizer que na Ocupação Vitória, e
demais ocupações, só existem marginais. Frente a esse desrespeito, sinto-me no
direito de informar a todas as autoridades competentes que julgamentos sem
conhecimento de causa são sempre portadores de uma verdadeira injustiça. Existem,
sim, muitas pessoas agindo de má fé no Congresso Nacional, mas a diferença é
exatamente as desculpas esfarrapadas são dadas e providências legais de forma
alguma são tomadas e executadas na íntegra. Como podem então afirmar que nas
Ocupações só existem bandidos, marginais?
Até o presente cumpri minhas obrigações como
cidadã em um País que se intitula DEMOCRÁTICO, para algumas questões, é claro,
porque quando se trata de moradia, por exemplo, as configurações de democracia
são postas em última instância, e nem ouso dizer a respeito dos direitos
garantidos pela Constituição Brasileira que a todo instante são negados ao
povo. Direito esse que vejo sendo negado a mim, como a todos os companheiros e
companheiras que fazem parte das Ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão,
enfim, em todas as ocupações. Sou Vitória, faço parte desta família, e infelizmente,
a luta e a resistência são o único meio oferecido a nós injustiçados/as,
aqueles que não se conformam em permanecer numa situação indigna, pagando
aluguel e muitas vezes vivendo situações de constrangimento físico, moral e
espiritual.
Não tenho vergonha alguma em assumir minha
postura de lutadora, guerreira. Ao contrário, me envergonha dizer que em nosso
Brasil as autoridades que deveriam proteger, amparar, oferecer condições dignas
de sobrevivência às pessoas que lhes pagam os salários absurdos, por exemplo,
viram-lhes as costas para defender interesses escusos...e tudo em prol de um capitalismo, máquina cruel
que devasta e rouba do povo diariamente. Sistema que pisa no nosso direito de
ser e ter humanidade.
Se o paternalismo corrompe o povo, quem dirá o autoritarismo
que impera entre aqueles que pensam deter o poder de nos tirar daqui e jogar
para lá... de enviar milhares de soldados com caminhões, tratores, para varrer
de um terreno milhares de famílias que o poder público nem se deu ao trabalho
de conhecer, apenas “contar” mais ou menos, afinal, nossas autoridades não
sabem o que é sobreviver de aluguel, porque se viveram ou vivem, o dinheiro
dispensado não fez e não faz diferença alguma, pois o salário é bem gordo no
início do mês... dá e sobra.
Senhores e Senhoras, não queremos nada além do
que a Constituição nos garante por direito e por lei, embora o que temos visto
é o completo desrespeito à Constituição que prescreve respeito à dignidade
humana, função social da propriedade e direito à moradia, entre muitos outros
direitos sociais e coletivos. Sendo assim, confirmo minha resistência em
permanecer na Ocupação Vitória, juntamente com todas as famílias que aqui
residem até que as autoridades encontrem o caminho da sensatez, e recobrem a
consciência de que direito garantido não pode ser tirado, cerceado por qualquer
poder que seja.
Sou Vitória e partilho da luta das Ocupações
Rosa Leão e Esperança.
Saibam que, unidos, na mesma intensidade com que
podemos ser ROSAS, quando necessário nos tornamos leões e leoas para lutar por
nossos direitos, sem perder a ESPERANÇA um segundo sequer, apesar das covardes
ameaças que nos são feitas. Sabem por quê? Porque somos e confiamos na VITÓRIA.
Temos certeza que Deus é por nós, e sendo assim, quem será contra nós?
Com
luta, com garra, a casa sai na marra!!!
“Nossos
direitos vêm, nossos direitos vêm. Se não vêm nossos direitos, o Brasil perde
também (bis). Quem negar nossos direitos será negado também. Já chega de tanta conversar
sem cumprir para ninguém, mas com todo o povo unido, o mundo muda de sentido e
nossos direitos vêm...”
Sigamos firmes na luta coletiva nos animando
mutuamente. Pátria Livre! Venceremos!