Ocupação de Areias, Ribeirão das Neves, Acampou na Cidade
Administrativa, em Belo Horizonte, dia 12/05/2014, até conquistar a suspensão
de despejo de 300 famílias que já tem 100 casas de alvenaria em construção.
Mais uma luta por moradia digna e própria.
Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
terça-feira, 13 de maio de 2014
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Tensão está aumentando na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, com Acampamento de 300 famílias de Rib. das Neves.
Tensão está aumentando na Cidade Administrativa, em Belo
Horizonte. BH, 12/05/2014, às 15:50h.
Tensão está aumentando na Cidade Administrativa, em Belo
Horizonte. Quem puder ir para lá contribuir na resolução justa e pacífica do
conflito social lá explicitado será bem-vindo/a. Motivo: Cerca de 300 famílias
de uma Ocupação urbana do bairro Areias, Ribeirão das Neves, MG, estão
acampadas na Cidade Administrativa, porque um Ofício da PM ao CONEDH informou
que a Polícia Militar de MG fará o despejo forçado dessas famílias amanhã, dia
13/05/2014. As famílias não tiveram o direito de se defender no processo
judicial. Nenhuma liderança da Ocupação e de nenhum movimento social e nem
defensores de Direitos Humanos foram convidados para participar de reuniões de
"preparação" para o despejo. O comandante militar do 40o Batalhão
disse que já foram feitas as reuniões de preparação para o despejo, mas ninguém
do lado do povo das ocupações participou. O povo não aceita o despejo e, por
isso, está acampado na Cidade Administrativa. Exigem ser recebidos por secretários
da SEDs e da SEDRU e dizem que não aceitam sair da Cidade Administrativa sem a
garantia do adiamento do despejo e início de uma Mesa de Negociação. Despejar
300 famílias já com mais de 100 casas de alvenaria em construção é injustiça
que clama aos céus! Por que não esperar a defensoria e o MP se pronunciar no
processo? Por que não dialogar com o povo? Lideranças já foram ameaçadas de
prisão agora há pouco na Cidade Administrativa. O povo insiste em armar as
barracas lá na Cidade Administrativa, mas a PM não está deixando. Está
aumentando a tensão. Pedimos que o Dr. Rômulo, da SEDs, e o Secretário da SEDRU
receba a lideranças e suspenda a ordem de despejo adiando-o e abrindo negociação.
Se não poderá ser riscado um palito de fósforo na tensão que já se vive em
muitas Ocupações que estão sob ordem de despejos. Só a sensatez, diálogo e
serenidade, mas ouvindo os clamores dos pobres poderá levar a uma solução justa
e pacífica para os graves problemas sociais como esse das ocupações, fruto do déficit
habitacional e da injustiça social. Abraço na luta. Frei Gilvander - Mais
detalhes em www.freigilvander.blogspot.com.br
Acampamento agora na cidade administrativa, em Belo Horizonte! Risco de despejo iminente em Ribeirão das Neves! Release e Nota à Imprensa, às autoridades e à sociedade.
Acampamento agora na cidade administrativa,
em Belo Horizonte! Risco de despejo
iminente em Ribeirão das Neves!
Release e Nota à Imprensa, às autoridades e à sociedade.
Ribeirão das Neves,
MG, Brasil, 12 de maio de 2014, às 11:15h, divulgação de frei Gilvander.
Nós moradores da
Ocupação no bairro Areias, em Ribeirão das Neves, onde vivem mais de 300
famílias, com mais de 100 casas de alvenaria levantadas, estamos montando
acampamento na Cidade Administrativa, nesta segunda-feira, dia 12 de maio de
2014, com o objetivo de reivindicar do Sr. Governador do Estado, Sr. Alberto
Pinto Coelho, a suspensão imediata da operação de remoção forçada de nossa
comunidade, marcada para amanhã!
Não podemos aceitar
que seja autorizada a realização do despejo sem que seja formulada qualquer
proposta de moradia para as nossas famílias! Sem alternativa digna, despejo é
inadmissível! A prefeitura de Ribeirão das Neves ofereceu apenas um galpão de
200 m², com dois banheiros, como alojamento para as mais de 300 famílias que
foram identificadas no cadastro social. Alternativa essa que se mostra inviável
e contrária ao direito de morar com dignidade das mais de 300 famílias que
ocupam essa área! São mais de 120 crianças e 70 idosos residentes na área, além
de 5 deficientes físicos e/ou mentais.
Submeter todas essas
pessoas a um alojamento forçado, em condições sub-humanas de um abrigo sem infraestrutura
adequada, é violar um conjunto significativo de normas e padrões internacionais
de direitos humanos, direitos do idoso e da criança e do adolescente, entre
outros protegidos em nossa Constituição Federal, como o direito à moradia e o
principio pétreo de respeito à dignidade da pessoa humana!
Não podemos aceitar
também que seja autorizado o despejo sem nossa ampla defesa jurídica nos autos
do processo reintegração de posse. Ainda não tivemos advogado constituído para
a alegação de nossa defesa. A Defensoria Pública ainda não nos está assistindo
e o Ministério Público também não se posicionou ainda. Ou seja, está sendo
violado um dos princípios basilares do nosso ordenamento jurídico, o direito ao
contraditório! A decisão do Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Ribeirão das
Neves, em favor do suposto proprietário do terreno, é em caráter liminar e
desrespeita a Constituição no tocante à função social da propriedade que não
foi considerada e desrespeita o princípio da dignidade humana, além de ignorar
o direito à moradia para quem não suporta mais sobreviver debaixo da cruz do
aluguel ou debaixo da humilhação que é sobreviver de favor!
O Governo do Estado de
Minas Gerais não pode autorizar a Polícia Militar a passar o trator por cima
das casas de mais de 300 famílias com base em uma decisão judicial liminar
(leia-se provisória) e ainda sem que a outra parte do processo tenha seu
direito de defesa garantido! É preciso continuar com a praxe segunda a qual as
remoções forçadas sejam realizadas como último recurso, após decisões
colegiadas do Tribunal de Justiça e precedidas de amplos processos de
negociação!
Por isso, estamos
legitimamente usufruindo do nosso direito constitucional à manifestação pública
e estamos montando acampamento na Cidade Administrativa com objetivo de
reivindicar:
1) A suspensão
temporária da Operação de Reintegração de Posse marcada para esta semana, sob o
comando do 40° Batalhão da Policia Militar de Minas Gerais.
2) A abertura de um
processo de negociação que vise promover uma solução justa, pacífica e
respeitosa dos amplos direitos fundamentais, sociais e humanos das famílias
pobres envolvidas no conflito.
Não é possível que há
30 dias da Copa do Mundo, quando todos os olhos da imprensa e opinião pública
internacional estarão voltados para Minas Gerais, o Governo do Estado se
deixará ser conhecido como promotor de remoções forçadas ilegais e inconstitucionais!
Não à remoção! Sim à
moradia!
Por uma cidade aonde
caibam todos e todas!
ASSINAM ESSA NOTA:
Lideranças da
Ocupação do Bairro Areias em Ribeirão das Neves,
Frente pela Reforma
Urbana das Brigadas Populares e
Comissão Pastoral da
Terra (CPT/MG).
Maiores informações no Acampamento na Cidade
Administrativa, CONTATO com:
Rafael, cel. 031 8812 0110 ou 31 9469 7400, ou Clara, cel
031 9437 0374, ou ainda Charlene, cel.: 31 9338 1217.
domingo, 11 de maio de 2014
Festa de 1 ano da Ocupação Rosa Leão, dia 17/05/2014, sábado, a partir das 14hs.
Festa
de 1 ano da Ocupação Rosa Leão, dia 17/05/2014, sábado, a partir das 14hs.
Todo o povo das Ocupações de
BH e região metropolitana, Rede de Apoio, integrantes de movimentos sociais
populares, forças vivas da sociedade e pessoas de boa vontade estão convidados
a participar conosco. Venham festejar um ano de muita luta e muitas conquistas
da Ocupação Rosa Leão, no bairro Zilah Sposito, região do Isidoro, Belo
Horizonte, MG.
Referência: De ônibus, ir no
ônibus Zilah Sposito, n. 5534 (Final Conj. Ubirajara). Descer no último ponto.
Programação:
14h - Apresentação e
recepção dos/as convidados/as.
15h - Apresentação dos
alunos da escola integrada Daniel Alvarenga.
16h - Apresentação de Circo
com professora de Dança do Ventre.
17h - COPELADA – Copa pra
Quem?, no Campinho do Ubirajara.
18h - Celebração Ecumênica
com Frei Gilvander, homenagens, trajetória da Ocupação Rosa Leão, Baiano e
Banda, moradores da Ocupação Rosa Leão.
20h - MC DEDÊ, da Dandara, e
Duelo de MCs.
21h30 - Saral Vira Lata.
22h30 - Samba da meia noite
(a confirmar).
Obs.: Terá
diversas barraquinhas com comes e bebes.
Contatos
para maiores informações:
Com Charlene, cel. 31 9338
1217, ou com Tânia, cel.: 31 9261 3068.
Cf. também www.ocupacaorosaleao.blogspot.com.br
Grupo fortemente armado, encapuzado, atacou e queimou todo o Acampamento 1º de Maio, do Movimento social Popular de luta pela terra OITRA, no Município de Uberlândia, MG, duas noites consecutivas, de 4 para 05/05 e de 05 para 06/05/2014. 48 barracos de lona preta foram queimados, 18 pessoas feridas, muito terror. Isso em fazenda abandonada que não cumpre função social. Milícia armada atuando no Triângulo Mineiro? Veja a denúncia no vídeo, abaixo.
Grupo fortemente armado, encapuzado, atacou e queimou todo o Acampamento
1º de Maio, do Movimento social Popular de luta pela terra OITRA, no Município
de Uberlândia, MG, duas noites consecutivas, de 4 para 05/05 e de 05 para
06/05/2014. 48 barracos de lona preta foram queimados, 18 pessoas feridas,
muito terror. Isso em fazenda abandonada que não cumpre função social. Milícia
armada atuando no Triângulo Mineiro? Veja a denúncia no vídeo, abaixo.
sábado, 10 de maio de 2014
Ocupação William Rosa, em Contagem, com mais de 3.000 famílias, novamente atacada pela Polícia Militar de Minas Gerais, na noite do dia 07/05/2014. Que injustiça!
Ocupação William Rosa, em Contagem,
com mais de 3.000 famílias, novamente atacada pela Polícia Militar de Minas
Gerais, na noite do dia 07/05/2014. Que injustiça!
segunda-feira, 5 de maio de 2014
A Plenitude do Reino inclui a Luta por Justiça. A Luz e a Força Divinas estão em nós e em nosso meio (Mt 19 - 28), de frei Gilvander Moreira.
A Plenitude do Reino inclui a
Luta por Justiça.
A Luz e a Força Divinas estão em nós e em
nosso meio (Mt 19 - 28)
Gilvander Luís Moreira*
Obs.: Eis, aqui, a
Parte 1 do Artigo “A
Plenitude do Reino inclui a Luta por Justiça. A Luz e a Força Divinas estão em
nós e em nosso meio (Mt 19 - 28)”, de Gilvander L. Moreira, publicado no livro Prosseguir o Caminho com as Comunidades
judaico-cristãs, uma Leitura do Evangelho de Mateus feita pelo CEBI-MG,
Marysa Mourão Saboya (Org.), São Leopoldo: Ed. Oikos; Minas Gerais: CEBI, 2014,
p. 127-143.
1. Iniciando a reflexão.
Evangelho não é apenas boa
notícia, é também péssima notícia. Evangelho é boa, melhor dizendo, ótima
notícia para os empobrecidos, os oprimidos, os aprisionados e os cegados, mas
para ser ótima notícia para esses, evangelho é também péssima notícia para os
enriquecidos, os opressores, os aprisionadores e para quem fura os olhos dos
outros. O evangelho de Jesus Cristo não exclui ninguém a priori,
antecipadamente, mas convida todas as pessoas para aderirem ao projeto do
Evangelho, que é um caminho de vida e liberdade para todos, com todos e a
partir dos últimos.
Considerando que o Evangelho de
Mateus está organizado estruturalmente em cinco livros, contendo cinco blocos
narrativos e cinco grandes e eloquentes discursos, cabe-nos agora refletir com
e a partir do 5º e último livro, que compreende dez capítulos: Mt 19 - 28. Na
nossa análise vamos pressupor que quem ler este texto aqui, terá lido primeiro
as perícopes do Evangelho de Mateus, dos capítulos 19 a 28. Assim poderão
entender melhor as reflexões que teceremos. Vamos pressupor também muitas
informações e análises já tecidas nos textos anteriores que, com esse aqui,
compõem um Texto Base sobre o Evangelho de Mateus.
Proporemos algumas reflexões na
esperança de que funcionem como chaves que destranquem algumas passagens,
muitas vezes, difíceis de serem entendidas. Para início de reflexão, cai bem
observar que quase todo o 5º livro do Evangelho de Mateus está imerso em
situações profundamente conflituosas e, por isso, tratam de assuntos
espinhosos.
Veremos como Jesus exerce sua
autoridade, que tipo de autoridade o Galileu exerce e que a construção do Reino
do Céu inclui a luta por justiça. Não se restringe ao exercício da
solidariedade, característica básica na primeira fase da ação missionária de
Jesus de Nazaré.
Lidaremos com uma parte
narrativa, (Mt 19 a 23), que nos revela: o Reino é universal, não exclui
ninguém. Mas, para não excluir ninguém, precisa ser pensado e construído dentro
do que foi proposto por Jesus de Nazaré: a partir dos últimos, os injustiçados.
Em Mt 19 a 23 várias questões
complexas e espinhosas são colocadas a Jesus por fariseus, saduceus (=
anciãos), discípulos e até por um jovem rico. Questões tais como:
a) Divórcio: pode-se fazer ou não?
b) Ressurreição: existe ou não?
c) Imposto: deve-se pagar ou não?
d) Vida eterna: qual o caminho para conquistá-la?
Segundo o Evangelho de Mateus,
Jesus, com grande perspicácia, não se enrosca em nenhuma das questões complexas
a ele levantadas. Com as rédeas na mão, Jesus pergunta aos fariseus: “O que
vocês acham do Messias?” (Mt 22,41). No final de Mt 22 se diz: “Desse
dia em diante, ninguém mais se arriscou a fazer perguntas a Jesus”. (Mt
22,46).
Em Mt 23, Mateus mostra Jesus condenando
a dominação intelectual e a hipocrisia religiosa. Em Mt 24 e 25 temos o 5º
Discurso do evangelho de Mateus: o Discurso escatológico. Em Mt
26 e 27 temos as narrativas da Paixão. E em Mt 28, as narrativas da
ressurreição.
Logo no início do 5º livro de Mt
(Mt 19 a 28) se diz que Jesus ao iniciar a 5ª e última grande parte do
evangelho não está mais na Galileia, mas já na Judeia (Mt 19,1). O grande apoio
que Jesus e seu movimento receberam no início da missão, quando a prioridade
era ser solidário – “todos acorriam a Jesus”, agora não mais existe.
Diminuiu o número de apoiadores e de seguidores/ras. Agora, a prioridade é a
luta por justiça, o que implica contrariar os interesses de quem está no poder,
seja poder político, econômico ou religioso. Esse é o pano de fundo que devemos
considerar para bom entendimento de Mt 19 a 28. Para não estender muito a
reflexão, priorizaremos a análise de algumas narrativas tentando suscitar
chaves para uma interpretação libertadora.
2. Mt 19:Em questão: matrimônio, divórcio, celibato,
crianças e ricos.
“Alguns fariseus” interrogam Jesus armando-lhe
uma cilada (Mt 19,3). Levantam uma questão espinhosa: divórcio. Partem de uma
perspectiva moralista e casuística. “Pode-se divorciar por qualquer motivo?”
(Mt 19,3). Jesus não se esquiva do assunto complexo. Resgata o sonho divino
para a convivência humana: homem e mulher se unirem e juntos perseverarem,
partilhando sonhos, lutas, desafios, alegrias e dores. Mas os fariseus percebem
que a realidade é mais complexa do que o ideal e recorrem a uma autoridade da
história, Moisés, que mandou dar carta de divórcio à mulher que fosse
abandonada pelo marido. Ou seja, Moisés sinalizou que a dignidade da mulher
deve ser respeitada, que nenhum homem tem o direito de deixar a mulher abandonada
na rua da amargura. Jesus pondera que é a “dureza de coração” que leva ao
divórcio. Poderíamos pensar hoje quantas questões afetam negativamente as
relações entre homem e mulher: sociedade capitalista que estimula o
individualismo e o egocentrismo, programação televisiva que incentiva a
irresponsabilidade nas relações afetivas, a cultura do descartável, do
troca-troca etc.
A perícope Mt 19,3-9 mostra um
Jesus que não ficou preso em questões doutrinárias ou dogmáticas, mas teve a
grandeza de ajudar as comunidades a refletirem
que devemos nos inspirar na História, nas boas utopias, mas não podemos
ser duros e insensíveis às complexidades que muitas vezes tornam necessários os
divórcios. Assim, o autor do Evangelho de Mateus mostra Jesus admitindo que, em
certos casos, o divórcio é compreensível. Diz o texto “em casos de
fornicação/porneia” (Mt 19,9).
Ao longo da história e, hoje
ainda, entre os biblistas, há várias formas de interpretar o que seria “caso de
porneia” que justifica o divórcio. Claro é que devemos excluir as ideias
moralistas que reduzem porneia a traição sexual, adultério entendido de
uma forma bastante estreita. Há casos em que a relação entre o marido e a
mulher se torna um inferno, por inúmeros motivos. Nesses casos, sente-se que é melhor
a separação. Se Deus é amor, ou o amor é Deus, não podemos, por obediência cega
a doutrinas, discriminar quem passa a se sentir crucificada/o no matrimônio e
luta para se libertar. Em nome de Mt 19,3-9 devemos ser compreensivos e
generosos com quem, cansado de sofrer em uma relação falida, busca libertação,
chegando à separação e até a procurar e
encontrar outro amor.
Jesus, segundo Mateus, não
justifica também seguir o caminho mais cômodo, como alegavam alguns discípulos
que ainda não compreendiam o projeto de Jesus: “Então, não vale a pena
casar-se” (Mt 19,10). Jesus alerta que cada um/a precisa descobrir e seguir
a sua vocação. Não dá para colocar todo mundo no mesmo saco.
Muitos equivocados repreendiam as
crianças que queriam se aproximar de Jesus. Jesus retruca pedindo para não
proibir as crianças de se aproximarem dele. “O Reino do Céu pertence às
crianças” (Mt 19,14). Ou seja, é a partir das crianças, especialmente as
crianças empobrecidas, as mais fragilizadas, que o Deus da vida nos visita. Logo,
devemos pensar e agir a partir dos fragilizados e injustiçados.
O autor do Evangelho de Mateus
não é extremista, mas é radical ao abordar a relação entre pobreza e riqueza.
Ele percebe a íntima relação existente entre pobres e ricos. Não há como alguns
se enriquecerem sem empobrecer outros. Parece que Jesus e Mateus tinham claro
que acumular bens é, ao mesmo tempo, roubá-los de outros. Mateus advoga um uso
acertado dos bens materiais. Não dá para ser cristão e capitalista. A pessoa
cristã deve viver sob o signo da partilha, enquanto as pessoas capitalistas
vivem acumulando, concentrando riquezas e, assim, socializando miséria para
outros.
Em Mt 19,16-30 se discute a
relação entre a adesão ao projeto de Deus e adquirir grandes riquezas. Um
jovem, enriquecido, pensa que lhe bastaria seguir certos mandamentos da lei de
Deus e poder continuar gozando o luxo de grandes riquezas. Jesus, segundo
Mateus, mostra que a observância dos princípios do decálogo, principalmente os
preceitos que têm referência direta com as relações humanas – não matar, não
roubar, não adulterar... – implica necessariamente no compromisso com a
construção de uma sociedade justa e solidária. Implica ainda na não
cumplicidade com uma sociedade desigual, onde uns têm demais, vivem no luxo, e
a maioria sobrevive na miséria, crucificada pela falta de terra, de moradia, de
dignidade.
“Vá, venda tudo o que tem, dê
aos pobres e siga-me” (Mt 19,21), conclama Jesus. Mas isso não sugere
apenas ações individuais isoladas que, mesmo sendo posturas heróicas, deixam
intato o sistema econômico capitalista. O princípio da partilha deve ser
vivenciado por todos para, assim, criarmos uma organização social a partir das
necessidades das pessoas e não a partir do capital.
Ao propor partilha de bens,
socialização dos bens, Jesus gera também uma subversão religiosa, pois havia a
Teologia da Retribuição e da Prosperidade que via no acúmulo de bens uma bênção
de Deus. Assim, Mateus faz questão de mostrar Jesus desmoronando o edifício da
teologia da prosperidade. “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma
agulha do que um rico entrar no reino do Céu.” (Mt 19,23). Os discípulos de
Jesus ficam assustados com esse alerta.
Muita gente fica olhando para a
metáfora do camelo passando pelo fundo de uma agulha e esquece-se de ver o
espanto dos discípulos. De fato, a metáfora é forte e eloquente e revela uma
grande dificuldade, mas o evangelho quer enfatizar o espanto dos discípulos,
porque para eles, segundo a teologia da retribuição – da prosperidade – não
havia contradição entre enriquecer-se e se salvar. Aliás, o enriquecimento era
visto como caminho para a salvação e resultado das bênçãos divinas.
Jesus, na contramão do mundo de ontem e de hoje,
mostra que o caminho para a salvação passa por relações de partilha, o que se
coloca dentro da teologia da gratuidade. A fé em Jesus Cristo e no seu projeto
é para ser vivida nas entranhas das relações humanas e sociais e não fora, como
peruca na cabeça de careca. Além da fé em Jesus, é preciso ter a fé de
Jesus: acreditar e investir no projeto de partilha, de sociabilidade, de
convivência fraterna.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 05 de maio de 2014.
Frei Gilvander Luís Moreira,
* Frei e padre da Ordem dos
carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia
pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de
Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB
e Via Campesina; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas
Gerais – CONEDH.
E-mail: gilvanderlm@gmail.com - www.gilvander.org.br
– www.freigilvander.blogspot.com.br
- http://www.twitter.com/gilvanderluis -
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