sexta-feira, 18 de abril de 2025

O QUE PEDE DE NÓS A PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO O EVANGELHO DE LUCAS? (Lc 22,1-23,56). Por frei Gilvander

O QUE PEDE DE NÓS A PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO O EVANGELHO DE LUCAS? (Lc 22,1-23,56). Por frei Gilvander Moreira[1]



A paixão de Jesus Cristo é narrada nos quatro Evangelhos da Bíblia. Em Lucas, começa com o anúncio da traição de Judas (Lc 22,21-23). Estando reunido com seus discípulos e discípulas pela última vez, Jesus anuncia: "A mão daquele que me trai está comigo sobre a mesa". Este jeito de falar acentua o contraste. O traidor seria um íntimo. Ser traído por um companheiro reforça o heroísmo do líder (cf. a História e a Mitologia grega). O nome Judas ajuda a associar a judeus, a Judá. É, provavelmente, uma forma de tentar inocentar o Império Romano, ao lado do governador Pilatos “lavando as mãos”, o que é muito pouco provável historicamente, pelo caráter sanguinário e opressor de Pilatos, conforme escreveu o historiador Flávio Josefo, do 1º século da Era Cristã. Para os judeus, a comunhão de mesa era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Jesus ser morto na cruz não se trata de predestinação nem de fatalismo. Em um mundo organizado a partir do egoísmo e da ganância, quem decide viver o amor vai ser condenado “a morrer crucificado”.

Segundo os Evangelhos de Marcos e Mateus, Jesus está desesperado. “Apavora-se, angustia-se”. Muito diferente, em contrapartida, é o relato de Lucas. Lucas não descreve diretamente a angústia de Jesus e omite a frase: "A minha alma está triste até a morte". Não aparece o tríplice e inquieto ir e vir de Jesus. Os discípulos são repreendidos somente uma vez e também a oração é proferida somente uma vez.

Lucas acrescenta o seguinte: o anjo que conforta Jesus (Lc 22,43)[2]; a oração que, no momento da agonia, se faz mais forte e insistente, e o suor de sangue; "como de costume" (cf. Lc 21,37), afasta-se dos discípulos "a um tiro de pedra"; não reza prostrado por terra, mas "dobrando os joelhos" (naquele tempo o costume era rezar em pé), e os discípulos adormeceram "de tristeza".

"Os discípulos o acompanhavam". Aqui aparece o verbo técnico do seguimento. Jesus e os discípulos estão juntos, mesmo se em atitudes contrastantes; e, se caem de sono, é "de tristeza". Lucas procura desculpá-los revelando ternura. A tensão entre Jesus e os discípulos, em Lucas, é, na verdade, lembrada, mas também, de certa forma, dissolvida. Lucas sabe muito bem que, na realidade, os discípulos abandonaram Jesus no momento mais trágico e que Pedro até mesmo o renegou, mas sabe também que, depois, estes mesmos discípulos deram a sua vida por Jesus Cristo e seu Evangelho.

Jesus, que supera a tentação rezando, é o quadro. A moldura é "orai para não entrardes em tentação". Lucas quer ensinar às comunidades que, se pretendem superar as tentações, é necessário rezar, como fez Jesus. É como diz a sabedoria popular: "Certos "problemas" só se resolvem com reza "brava"". A oração é a única arma capaz de deter a tentação de querer instaurar o Reino com a violência do poder.

Por que Judas trai Jesus? Porque não concorda com a forma de Jesus exercer a sua liderança messiânica, não eliminando os inimigos (cf. Lc 9,54). E também Judas trai Jesus pela idolatria do dinheiro (cf. Lc 16,13[3]). Segundo Lucas, no tempo da Paixão, Jesus e os discípulos estão unidos na mesma luta.

Narrada em Lc 22,47-53, o que a prisão de Jesus quer nos dizer? O primeiro traço que desperta a atenção do leitor estudioso são os silêncios. Lucas diz que Judas "se aproximou de Jesus para beijá-lo". Mas não diz se de fato o beijou. Em seguida, não existe nenhum aceno à prisão e nenhuma referência à fuga dos discípulos. Lucas procura calar, embora supondo-as, sobre as coisas mais humilhantes que Jesus sofreu. Jesus é traído, aprisionado e abandonado, mas é, apesar disso, sempre o Senhor glorioso e inatingível.

Para Lucas, Jesus é eminentemente misericordioso, aquele que sempre perdoa. Lucas não perde oportunidade de colocar também em evidência que Jesus e compassivo-misericordioso. Mais do que o discurso, o gesto de Jesus na hora em que seu discípulo decepa a orelha de Malco, um segurança do sumo-sacerdote ("E tocando-lhe a orelha, curou-o") revela a lógica que o guia: Não à violência, nem mesmo para resistir a outra violência, mas somente o amor. Jesus é coerente com o seu ensinamento de amar os inimigos, inclusive. A distância entre Jesus e os discípulos não poderia parecer maior, na compreensão. Para uns discípulos é lógico resistir. A paixão de Jesus não aconteceu nem porque Deus quis a morte do seu Filho – o Deus da vida não é sádico! -, nem porque Jesus era masoquista e queria morrer, mas foi consequência da opressão humana (sistema e pessoal) e da arrogância dos poderosos da economia, da política e da religião, que, já naquele tempo, sentiam-se donos da vida dos seres humanos. Jesus assumiu o martírio por solidariedade a todas as vítimas do mundo, a todos/as os/as crucificados/as da história, de todos os tempos.

O dinheiro recebido por Judas (Lc 22,5) para trair Jesus, segundo Mt 26,15, tratou-se de trinta siclos de prata (e não de trinta denários, como se afirma frequentemente). Era o preço que a Lei fixava para a vida de um escravo (Ex 21,32), o equivalente a quatro meses de trabalho. Logo, Jesus foi entregue pelo preço de um escravo (cf. Mt 26,15).

Diferentemente de quanto afirmam os Evangelhos de Marcos (Mc 14,48-49) e Mateus (Mt 26,55), as últimas palavras de Jesus não são dirigidas à multidão, mas diretamente aos mandantes ("chefes dos sacerdotes, chefes dos guardas do Templo e anciãos"). Lucas sabe muito bem que, para prender Jesus veio "uma multidão" (cf. Lc 22,47), e não os mandantes. Mas ele se dirige diretamente a estes, os verdadeiros responsáveis. É a eles que Jesus fala, pois são os principais responsáveis pela condenação de Jesus à pena de morte e sua execução.

E Jesus diante do sinédrio? (Lc 22,66-71.63-65). Após o relato da prisão de Jesus, Lucas abandona a ordem da narração de Marcos e Mateus, colocando os episódios diferentemente. Primeiro, a negação de Pedro (Lc 22,54-62); depois, a cena dos ultrajes (Lc 22,63-65) e, por último, o interrogatório diante do Sinédrio (Lc 22,66-71).

O Sinédrio era um "parlamento com poder judiciário. Era composto por 71 membros (Fariseus + Anciãos + Sumo-sacerdote + Saduceus + Escribas). Segundo At 5, pelo menos um fariseu - Gamaliel - pertencia ao Sinédrio. Gamaliel consegue fazer valer sua opinião no Sinédrio. Segundo At 23, o Sinédrio era composto por fariseus e saduceus. Não se sabe se pertencer a um destes grupos era algo relevante para ser membro do Sinédrio ou se, ao contrário, os membros do Sinédrio eram determinados segundo outros critérios, como família, propriedade ou função.

"Negado pelo primeiro dos discípulos, espancado e escarnecido pelos seus adversários, Jesus anuncia diante dos chefes de Israel a sua reivindicação como Messias e filho de Deus[4]". Está delineada a figura do mártir, que nada consegue dobrar, nem a traição dos amigos nem a zombaria dos inimigos. O interrogatório de Jesus é conduzido por todos juntos, unanimemente, em coro, como se, na condenação de Jesus, ninguém pudesse ser considerado mais responsável do que o outro. O segundo significado é a absoluta centralidade de Jesus.

"Se eu vos disser, não acreditareis, e se eu vos interrogar, não respondereis" (Lc 22,67b-68). Com estas palavras, um pouco enigmáticas, que não têm nenhum paralelo em Marcos e Mateus, Jesus denuncia o vício de fundo do interrogatório: a hipocrisia dos juízes, que fingem indagar, mas na realidade já estão de posse da resposta. "Eles somente interrogam para encontrar motivos de condenação, não para saber, portanto não merecem ou não mereceriam uma resposta[5]". Com esta denúncia, Jesus, o interrogado, se transforma em juiz. É inútil dar uma resposta, se não existe a sinceridade da pergunta.

O que nos diz a cena de Jesus diante de Pilatos (Lc 23,1-25)? Lucas insiste em realçar a unanimidade (em forma de coro) da rejeição de Jesus. Multidão, sacerdotes e anciãos se sobrepõem. Não se diz que os sacerdotes incitaram a multidão. Para Lucas, autoridades e multidão são responsáveis do mesmo modo e no mesmo nível. Além da unanimidade, surpreende o encarniçamento da rejeição. Os acusadores seguem Jesus em todos os diferentes deslocamentos: do Sinédrio a Pilatos, de Pilatos a Herodes, de Herodes a Pilatos. Não são somente graves e infundadas as acusações contra Jesus, mas também e, sobretudo, encarniçada e furiosa a maneira como o acusam.

Lucas dá a entender que os responsáveis pela morte de Jesus são as autoridades judaicas, especificamente o Sinédrio, e inocenta o povo e Pilatos. Se as autoridades do Sinédrio tivessem coragem de peitar o povo, poderiam optar pela via do apedrejamento, como o farão mais tarde com Estêvão (At 6 e 7), mas preferem optar pela via política, arrancando de Pilatos o castigo aplicado aos que se rebelavam contra o império romano escravocrata.

O que as acusações contra Jesus (Lc 23,1-2) nos dizem? As acusações contra Jesus são fundamentalmente três: a) subverte a nação (acusação social religiosa); b) impede que se paguem os impostos[6] (acusação econômica) a César; c) e se proclama rei – acusação política - (cf. Lc 23,2). A acusação principal é a primeira, de tal sorte que é retomada mais adiante pelos acusadores ("ele subverte o povo” (Lc 23,5) e por Pilatos ("Vós me apresentastes este homem como agitador do povo" (Lc 23,14)).

Os chefes judeus temem a subversão religiosa. Contudo, diante de Pilatos, deixam entender que o seu temor diz respeito, acima de tudo, à subversão política, conforme fica sugerido claramente pela segunda acusação: não pagar tributos a César. Trata-se de uma maliciosa inversão de perspectiva que comprova a sua falta de sinceridade. Em parte, porém, eles mesmos se traem, ao insistirem, dizendo: "Ele subverte o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até em Jerusalém” (Lc 23,5). Logo, era o ensinamento de Jesus que metia medo nas autoridades opressoras e exploradoras.

E a inocência de Jesus (Lc 23,3-5)? Por três vezes, Pilatos declara publicamente que Jesus é inocente (cf. Lc 23,4.14-15.22) e por três vezes externa o desejo de soltá-lo (Lc 23,16.20.22). Contudo, ao final, entrega Jesus "ao arbítrio deles" (Lc 23,25).

Segundo muitos biblistas, o objetivo de Lucas é o de desculpar Jesus (e os cristãos) diante do império romano de qualquer acusação política. A sociedade romana não precisaria temer nada dos cristãos. Jesus não teria nada a ver com os zelotas, do tipo Barrabás, diz Lucas. Mesmo se o seu fundador foi crucificado - processado por um procurador romano e sentenciado com a condenação que os romanos reservavam aos revoltosos -, a acusação de sublevação que lhe foi imputada era completamente infundada. Na década de 80 do 1º século, com as pessoas cristãs sendo expulsas da sinagoga, Lucas percebe que é melhor ir infiltrando no império romano que confrontá-lo abertamente, o que poderia levar à exasperação da perseguição às pessoas cristãs.

A ironia da troca entre Barrabás e Jesus (Lc 23,18-19) é, em Lucas, muito mais descoberta do que em Marcos e Mateus. Acusam Jesus de ser um subversivo e pedem a libertação exatamente de um subversivo! Com efeito, Lucas descreve Barrabás assim: "Este último havia sido preso por um motim na cidade e por homicídio" (Lc 23,19). Lucas quer dizer: este povo não sabe o que faz, não tem cabeça, é massa e não povo. Por ironia da história, Jesus, que tinha sido acusado injustamente de amotinar o povo, é entregue ao arbítrio de seus acusadores em troca de um condenado por "subversão e assassinato".

E a verdade de Jesus? Se de um lado Jesus rompe o esquema teocrático, irritando os judeus, por outro lado rompe o esquema do absolutismo político, irritando os romanos. Assim Jesus foi um profeta religioso-político, não somente um revoltoso político. Todavia, as coisas "religiosas" que disse e que fez eram também socialmente e politicamente "perigosas".

E Jesus diante de Herodes (Lc 23,8-12)? A novidade mais importante do relato de Lucas é o comparecimento de Jesus diante de Herodes (Lc 23,8-12), algo que os outros evangelhos não mencionam. Lucas ainda acrescenta: a partir desta data, Pilatos e Herodes, antes inimigos, fazem as pazes. Para a comunidade de Lucas isso tem um sentido muito claro e dramático, que se expressa na oração da primeira comunidade cristã em At 4,24-30: trata-se da união dos poderes opressores e violentos para destruir o ungido de Deus, como já o dissera o Salmo 2. "Nesse mesmo dia Herodes e Pilatos ficaram amigos entre si" (Lc 23,12). Contra a verdade de Jesus, estão de acordo também aqueles que em outras coisas são inimigos, como precisamente os judeus e os romanos.

E a crucificação e morte de Jesus (Lc 23,26-49)? Lucas está muito interessado em mostrar a grandeza ética de Jesus, representando-o como o modelo do mártir cristão. Lucas enfatiza a inocência de Jesus, já enfatizada no processo diante de Pilatos e aqui reconhecida pelo bom ladrão (Lc 23,41) e pelo centurião pagão (Lc 23,47).

Jesus passou toda a sua vida em perene busca dos injustiçados, excluídos e dos pecadores, e agora morre na cruz entre dois malfeitores (Lc 23,33). Falou de perdão e pregou o amor aos inimigos (cf. Lc 6,27-42; 15) e agora, na cruz, não somente rejeita a violência, mas perdoa os seus crucificadores (Lc 23,34) e morre por aqueles que o rejeitam, ilustração viva da misericórdia de Deus, de que fala toda a Escritura Sagrada. O mártir afirma o homem diante de Deus, Jesus afirma Deus diante da pessoa humana.

A caminho do Calvário (Lc 23,26-32) o que nos diz? No caminho para o calvário, os soldados romanos propositalmente não são citados. A estrada que conduzia do palácio do governador ao lugar da execução, fora dos muros, não era longa. O condenado, porém, era obrigado a passar pelas ruas do centro de Jerusalém. A condenação devia ser pública e servir de escárnio. As tropas de ocupação podiam obrigar qualquer um a prestar um serviço de ordem pública. Simão, de Cirene (de fora da Palestina), ajuda Jesus a carregar a cruz. "Vinha do campo" indica que era um discípulo (cf. Lc 6,1). Lucas utiliza, ao contrário, uma expressão mais genérica, de uso civil: "tomaram". E continua: "e impuseram-lhe a cruz para levá-la atrás de Jesus" (Lc 23,26). Simão, personagem representativo ("certo") de um grupo real (nome próprio) de discípulos oriundos da diáspora judaica ("que vinha do campo", "de Cirene” (cf. At 11,20; 13,1), é figura do discípulo que faz sua a cruz de Jesus, levando até o fim o seu seguimento (cf. Lc 9,23; 14,27).

Nos sepultamentos judaicos, estavam sempre presentes algumas mulheres que elevavam lamentos fúnebres. Isto fazia parte do rito. Para os sentenciados à morte, porém, estavam proibidos os lamentos fúnebres, proferidos em público, porque o justiçado era considerado uma maldição (cf. Dt 21,22-23). As mulheres que seguem Jesus demonstram, com o seu corajoso testemunho, que ele não é um malfeitor, mas um profeta que está padecendo a sorte de todos os profetas: o martírio[7].

"Pai, perdoa-lhes" (Lc 23,34). A crucifixão era um castigo imposto pelo império romano aos que se engajavam politicamente fazendo oposição ao império. Curiosamente, à direita e à esquerda de Jesus são crucificados dois líderes da oposição ao império, chamados de malfeitores. O Crucificado de Lucas não está em silêncio, mas fala: às multidões, ao Pai, ao ladrão arrependido. Jesus não somente perdoa, mas desculpa. Não morre ameaçando com o juízo de Deus, mas perdoando e desculpando. Toda a Paixão, segundo Lucas, está, efetivamente, atravessada pela misericórdia: o gesto de Jesus que cura a orelha do servo do Sumo Sacerdote, o olhar benevolente a Pedro que o renega e a palavra de perdão aos que o crucificam. Jesus não dá pessoalmente o seu perdão, mas o pede ao Pai. Deve ficar claro que o seu perdão remete ao do Pai. A cruz é o esplendor do perdão do Pai. Morrer perdoando é uma característica essencial do mártir cristão.

"Salva-te a ti mesmo!" (Lc 23,35b.37.39). Observe-se a insistência na expressão "salvar a si mesmo", dirigida a Jesus por todos os três representantes da incredulidade: os chefes, os soldados e um dos dois malfeitores. Renunciando salvar a si mesmo, ele permanece solidário com todas as pessoas que, na morte, podem esperar salvação somente de Deus - abandonando-se a ele na fé.

"Jesus, lembra-te de mim!" (Lc 23,39-43). O primeiro malfeitor é, provavelmente, um indomável zelota, que, mesmo na morte, continua fiel à sua opção de se rebelar contra o domínio estrangeiro, para instaurar o reino de Deus. O ladrão arrependido confia nele prontamente ("Jesus, lembra-te de mim!"), e Jesus responde com a sua pessoa, assegurando-lhe uma vida de comunhão com ele ("estarás comigo"), e logo ("hoje"). A um pedido que remetia ao futuro ("quando vieres no teu reino"), Jesus responde, remetendo ao presente ("hoje")[8]. No episódio dos dois malfeitores estão presente a misericórdia e a justiça.

"Dizendo isso, expirou" (Lc 23,44-46). Para a comunidade de Lucas a cruz é o momento último de reafirmar a fidelidade ao projeto do Pai, à missão que recebeu pela unção do Espírito. Quem morre ali é o mártir, fiel até o fim. A cruz é o momento: a) do perdão maior, do perdão àqueles que lhe tiram a vida (Lc 23,34. Cf. Estevão em At 7,60); b) da promessa da vida (Lc 23,43) para aquele que na última hora reconheceu o sentido de sua missão; c) de afirmar, no último suspiro, a confiança no Pai (Lc 23,46).

Diferentemente do que relatam Marcos e Mateus, para Lucas, "a vida de Jesus não termina com uma trágica interrogação, mas na serena convicção do cumprimento de uma missão libertadora[9]". Para Lucas não houve uma salvação da morte, mas na morte.

E as Sete Frases exclusivas de Lucas o que nos dizem? Eis Sete frases de Jesus que só Lucas nos conservou e nas quais transparece a vitória da vida que a morte não conseguiu matar:

1) "Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês" (Lc 22,15).

2) "Façam isto em memória de mim!" (Lc 22,19).

3) "Simão, rezei por você, para que não desfaleça a sua fé!" (Lc 22,32).

4) Na hora da negação de Pedro, Jesus fixa nele o olhar, provocando o choro de arrependimento (Lc 22,61).

5) No caminho do calvário, Jesus acolhe as mulheres: "Filhas de Jerusalém, não chorem por mim!" (Lc 23,28).

6) Na hora de ser pregado na cruz, ele reza: "Pai, perdoa, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).

7) Ao ladrão pendurado na cruz ao seu lado ele diz: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!" (Lc 23,43).

Estas frases nos dão os olhos certos para ler e a saborear a descrição da morte, do enterro e da ressurreição de Jesus.

Enfim, Jesus aceitou ser crucificado por infinito amor à humanidade e a toda a Criação, e pede de nós compromisso com a libertação de todos/as que estão crucificados atualmente. A crucificação de Jesus foi consequência da sua opção incondicional pelo reino de Deus, de liberdade, de justiça, de amor, de paz, de vida! Os poderosos da época foram desmascarados. Jesus incomodou a religião, o sistema político do império romano, os grandes do poder econômico e passou a ser uma ameaça para os exploradores. Por isso,  não tem sentido fazer memória da paixão de Jesus, do seu martírio,  sem reconhecer que Jesus continua padecendo, encarnado na vida de tantos irmãos e irmãs vítimas de um sistema que oprime, exclui, mata. E como discípulos e discípulas de Jesus, devemos seguir com coragem e esperança seus passos, em defesa de vida com dignidade para todos e todas e para toda a Criação, na certeza de que a morte não tem a última palavra... O horizonte é de ressurreição!

 

18/04/2025.

Obs.: A videorreportagem no link, abaixo, de alguma forma ATUALIZA o assunto tratado, acima.

1 - SENTIDO DA PÁSCOA DA CRUZ NAS PESSOAS CRUCIFICADAS E NOS POVOS MARTIRIZADOS (JO 18 E 19): EVANGELHO PARA ALÉM DOS TEMPLOS. Por Nancy Cardoso, Gilvander Moreira e Darlan Oliveira. 18/04/25



2 - Segue Sexta-feira da Paixão em Ibirité/MG. MRS/Vale, despejo/DEMOLIÇÃO de CASAS SEM DECISÃO JUDICIAL



3 - Basta de sexta-feira da Paixão em Betim, MG! Construamos Domingos de Ressurreição. Araújo! Vídeo 3



4 - Paixão e calvário no despejo de Ocupação em Miravânia, norte de MG. Zilah. Vídeo 5. 10/7/2019



 



[1] Doutor em Educação pela FAE/UFMG; Mestre em Ciências Bíblicas; Bacharel e Licenciado em Filosofia; Bacharel em Teologia; frei e padre da Ordem dos Carmelitas; e Agente de Pastoral e Assessor da CPT/MG (Comissão Pastoral da Terra – www.cptmg.org.br ); e-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.brwww.youtube.com/@freigilvander – No instagram: @gilvanderluismoreira

 

[2] Pela terceira vez em Lc Deus se manifesta diretamente a Jesus. A primeira vez foi no Batismo (Lc 3,21-22). A segunda, na Transfiguração (Lc 9,35). E agora, a terceira vez, no Horto das Oliveiras (Lc 22,43).

[3] “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.”

 

[4] J. ERNST, op. cit., pp. 863-864.

[5] O. SPINHETOLI, Da Luca, Assis, Cittadella, 1982, p. 893.

[6] O Império Romano dominava os povos conquistados através de uma pesadíssima carga tributária.

[7] Mencionando a presença da multidão e das mulheres, Lucas mostra a sua predileção pelas grandes multidões e pela presença das figuras femininas. Ver, a propósito, ROSSÉ, G., Il vangelo di Luca, Roma, Città Nuova, 1992, p. 967.

[8] Cf. GRELOT, P., De la mort à la vie eternelle, Paris, Cer, 1971, pp. 201ss.

[9] G. ROSSÉ, Il vangelo di Luca, op. cit., p. 987.

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