Gilvander é frei e padre da Ordem dos carmelitas, Doutor em Educação pela FAE/UFMG; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP, mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas, em Minas Gerais.
Carroceiros,
carroceiras, cavalos e éguas em Belo
Horizonte, MG: dignidade e sobrevivência, 3ª Parte. 07/7/2018.
O Projeto de Lei 142/2017,
que tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte, tem como objetivo
criminalizar o uso de veículos de tração animal no município, as tradicionais
carroças. Nesse vídeo, a 4ª parte da reportagem feita por frei Gilvander
Moreira, em uma reunião de carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte e Região
Metropolitana, no dia 07/7/2018, com depoimentos desses trabalhadores/as e
apoiadores.
A justificativa do Projeto é
que os cavalos e éguas sofrem maus tratos, o que não confere com a realidade
apresentada pelos/as legítimos/as carroceiros/as que trabalham na capital
mineira e na RMBH. Percebe-se, claramente, o cuidado que dedicam aos animais,
tanto no trato com alimentação, higiene, saúde, como no carinho e afeição a
eles dispensados como se fossem membros da própria família. Esses/as
legítimos/as carroceiros/as defendem a fiscalização por parte da Prefeitura
para que sejam assegurados aos cavalos e éguas o respeito e o cuidado devidos e
lutam também pelo direito de continuarem trabalhando com suas carroças e seus
animais, pois é esse trabalho que garante o sustento de suas famílias, a sua
sobrevivência. O trabalho por eles realizado lhes confere dignidade e também
aos animais.
Vale lembrar que carroceiros
e carroceiras ajudaram a construir Belo Horizonte desde a fundação da capital;
e seus saberes tradicionais, a cultura
carroceira, fazem parte da história da
capital mineira e de toda Minas Gerais. Além disso, esses trabalhadores prestam
importantes serviços de limpeza urbana e de transporte de pequenos volumes.
Carroceiros e carroceiras de
Belo Horizonte e RMBH são a favor da vida e dos direitos de humanos e animais.
Por isso, dizem NÃO ao PL 142/2017!
Querem construir, junto com a Prefeitura de Belo Horizonte, uma política
pública efetiva que garanta o direito ao trabalho dos carroceiros e carroceiras
e as condições adequadas de vida para todos os animais.
* Reportagem em vídeo de
frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira,
da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 07/7/2018.
* Inscreva-se no You Tube,
no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link:
https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as
notificações de envio de vídeos e assista a outros vídeos de luta por direitos
sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
O que se compreende por ‘sujeito social’, ‘classe’
e ‘ideologia do trabalho’? Em uma pesquisa de doutorado sobre a Luta pela Terra
enquanto Pedagogia de Emancipação Humana buscamos deixar claro, entre muitos
conceitos, qual o conceito de ‘sujeito social’, de ‘classe’, de ‘ideologia do
trabalho’ como meio para se enriquecer. Em diálogo com Roseli Caldart, usamos a
expressão “sujeito social para
indicar uma coletividade que constrói sua identidade (coletiva) no processo de
organização e de luta pelos seus próprios interesses (direitos, acréscimo nosso) sociais” (CALDART, 2012, p. 37). Destacamos
que o termo identidade traz consigo a
noção de essência que se refere a algo
que é. Por isso, considerando que a luta pela terra trata-se de algo sempre
dinâmico e complexo, pensamos ser melhor afirmar que os Sem Terra constroem de
forma coletiva uma identificação, uma
espécie de identidade aberta[2].
Mais do que ‘interesses’ sociais, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e centenas de outros movimentos
camponeses lutam por direitos sociais, entre os quais é primordial o direito à
terra.
Compreendemos que o conceito de classe é fundamental para a análise da
luta pela terra.Ao conceituar classe, precisamos distinguir o que se
compreende por classe, ciente de que para Marx os conceitos não são fixos e
estáticos, pois a dialética se expressa no movimento próprio dos conceitos. Edward
Thompson faz a seguinte distinção: “Classe não é, como gostariam alguns
sociólogos, uma categoria estática: tais e tais pessoas situadas nesta e
naquela relação com os meios de produção, mensuráveis em termos positivistas ou
quantitativos. Classe, na tradição marxista, é (ou deve ser) uma categoria estática
descritiva de pessoas em uma relação no decurso do tempo e das maneiras pelas
quais se tornam conscientes de suas relações, como se separam, unem, entram em
conflito, formam instituições e transmitem valores de modo classista. Neste
sentido, classe é uma formação tão “econômica” quanto “cultural”; é impossível
favorecer um aspecto em detrimento do outro, atribuindo-se uma prioridade
teórica” (THOMPSON, 2001, p. 260).
A ideologia dominante e hegemônica tem muito poder.
“A ideologia dominante tem uma capacidade muito maior de estipular aquilo que
pode ser considerado como critério legítimo de avaliação do conflito, na medida
em que controla efetivamente as instituições culturais e políticas da
sociedade” (MÉSZÁROS, 1996, p. 15). Para compreendermos a Luta pela Terra
enquanto Pedagogia de Emancipação Humana, é preciso entender a ideologia do
trabalho como meio para se enriquecer. No livro O Cativeiro da Terra, José de Souza Martins diz que “além da
disponibilidade de terras, era necessária a abundância de mão de obra de
trabalhadores dispostos a aceitar o mesmo trabalho que até então era feito pelo
escravo. Trabalhar para vir a ser proprietário de terra foi a fórmula definida
para integrar o imigrante na produção do café” (MARTINS, 2013, p. 51).
Para não desmascarar a ideologia do trabalho como
meio para adquirir riqueza, “inaugurando um novo secador de café, um fazendeiro
de Campinas promoveu uma grande comemoração devidamente hierarquizada, que é
significativa indicação a respeito: “à tarde foi servido, no terreiro da
fazenda, um grande jantar aos escravos ... [...] Às 6 horas da tarde foi
servido o banquete aos convidados, na sala de jantar ... [...] Às 7 horas foi
servido, em outra sala do prédio, o lauto jantar aos colonos ...” Os do
terreiro, os de fora, não eram iguais aos de dentro da casa. Mas dentro da casa
havia o jantar do fazendeiro e o jantar do colono, o que come antes e o que
come depois. Embora desiguais, fazendeiro e imigrante são vinculados entre si
por uma igualdade básica, a identidade de quem come na casa-grande. Nesse
plano, o imigrante está contraposto à senzala” (MARTINS, 2013, p. 51).
A pedra fundamental da ideologia do trabalho como
caminho para o enriquecimento afirma que pelo trabalho se conquista autonomia e
liberdade, mas isso não acontece na maioria dos indivíduos da classe
trabalhadora e nem na maioria dos camponeses, porque a ideologia do trabalho “encobre
e obscurece o conteúdo principal da relação entre o patrão e o empregado. Por
meio dela, o trabalho não é considerado principalmente como uma atividade que
enriquece o patrão. Ao contrário, o trabalho é considerado como uma atividade
que cria a riqueza própria e, ao mesmo tempo, pode liberar o trabalhador da
tutela do patrão” (MARTINS, 2013, p. 203).
O ponto crucial do problema, que gera uma injustiça
estrutural e justifica a exploração do trabalhador pela classe patronal, é que “o
capital (a riqueza) não é visto nem concebido como produto do trabalho de
outros, isto é, como produto do trabalho do operário despojado dos meios de
produção, do confronto e do antagonismo entre o capital e o trabalho,
personificado no capitalista e no proletário. Ao contrario, o capital é concebido
como produto do trabalho do próprio capitalista” (MARTINS, 2013, p. 203-204).
A classe se forma quando um grupo de trabalhadores,
pela experiência vivenciada ou herdada, descobre que, irmanados, estão
submetidos todos ao mesmo processo de exploração e, por isso, assumem uma
identidade que os reúne na defesa dos seus direitos e na resistência contra e
para além do sistema do capital. "A classe acontece quando alguns homens,
como resultado de experiências comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam
a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos
interesses diferem (e geralmente se opõem) dos seus" (THOMPSON, 1987, p.
10).Pelas contradições do sistema do
capital, o sentimento de pertença à classe trabalhadora ou ao campesinato
acontece quando pela própria experiência a/o trabalhador/a percebe que é apenas
formal e abstrata a liberdade que a classe dominante diz que ele tem. Se fosse
real a liberdade alardeada pelos capitalistas, a/o trabalhador/a teria várias
opções. Entretanto, ao longo da história do capitalismo, a/o trabalhador/a não
teve a opção de escolha entre muitos. Somente os patrões tiveram/têm liberdade
porque tiveram/têm à sua frente um batalhão de famintos pronto a ser contratado
por qualquer preço que mitigue sua fome diária.
Referência
CALDART,
Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. 4ª Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
MARTINS, José de Souza. O
Cativeiro da Terra. 9ª edição. São Paulo: Contexto, 2013.
MÉSZÁROS, István. O Poder da Ideologia. São Paulo:
Ensaio, 1996.
THOMPSON,
Edward Palmer. As peculiaridades dos
ingleses e outros artigos. NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Sergio (org.).
Campinas, São Paulo: Unicamp, 2001.
______. A
Formação da Classe Operária Inglesa: A Árvore da Liberdade. Vol. 1. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Belo Horizonte, MG,
17/7/2018.
Obs.: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1 - MST e Povo das Ocupações urbanas unidos
na luta por terra e moradia. 23/08/2014.
2 - Ocupação Carolina Maria de Jesus/MLB,
Belo Horizonte/MG: 200 famílias/prédio de 14 andares. 06/9/2017.
3 - Dona Vilma, 73 anos, em Belo Horizonte, MG:
DESPEJO VAI. DONA VILMA FICA. 2ª Parte. 10/4/2018.
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas;
assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais
Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.E-mail: gilvanderlm@gmail.com
– www.gilvander.org.br - www.freigilvander.blogspot.com.br–
[2] Manuel
Castells, nos livros O poder da
identidade, Vol. I e Vol. II, analisa a sociedade em rede e traz uma
discussão atualizada sobre os novos movimentos socais ao falar de ‘identidade
de projeto’. Cf. CASTELLS, Manuel. O
poder da identidade. Vol. I. São Paulo: Paz e Terra, 2002. E, CASTELLS,
Manuel. O poder da identidade. Vol.
II. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
Tiãozinho da CPT e da Bio-Saúde - Vídeo inédito - Em Belo Horizonte/MG: Luta que continua. Serviço à saúde. 4ª Parte – 30/12/2018.
Vídeo inédito de Tiãozinho, gravado por frei Gilvander Moreira, no dia 30/12/2017 e editado em 14/7/2018, um dia após a passagem definitiva de Tiãozinho para a vida plena. Este vídeo é a 4a parte do Documentário feito em vídeo, por frei Gilvander, sobre a trajetória de luta, fé e vida de Sebastião Clemente de Souza, o Tiãozinho das CEBs, da CPT, do STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais) de João Pinheiro e Brasilândia e da Bio-Saúde BH/MG. Que beleza de história de vida e de luta que Tiãozinho tem! Bem-aventurado é o Tiãozinho, que teve sempre fome e sede de justiça e lutou pela partilha do pão! Bem-aventurado é o Tiãozinho, pela pureza do seu coração, que o faz, agora, contemplar, face a face, o Deus da Vida, com o sorriso de verdadeiro discípulo de Jesus Cristo e profeta da causa dos injustiçados do campo e da cidade. Bem-aventurado é o Tiãozinho, que combatendo a opressão e as injustiças, defendendo a vida de irmãos e irmãs, da Mãe terra, da Irmã água e de toda a criação, se fez construtor do Reino de Justiça e, agora, é acolhido, na vida plena pelo Deus da Vida, como filho muito amado.
Bem-aventurado é, é e será sempre, o Tiãozinho, que sofreu perseguições por
causa da justiça e desfruta agora da glória luminosa do Reino do céu!
Bem-aventurado é Sebastião Clemente de Souza, o Tiãozinho, que continua sendo luz e sal, presente em nós, na luta que continua pela construção do Reino de Deus aqui na terra... de justiça e fraternidade.
* Documentário em vídeo de frei Glvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI. 4ª Parte.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 07/7/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander,
acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a outros
vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe.
Sugerimos.
Tributo ao Tiãozinho
da CPT e da Bio-Saúde: Cristão Libertador.
Por Aline Dias Araújo[1]
e frei Gilvander Moreira[2]
Se falarmos em Sebastião Clemente de
Souza, pouca gente conhece, mas diga “Tiãozinho da CPT” ou “Tiãozinho da Bio-Saúde”
e muita gente saberá dizer quem é e com certeza todos dirão: “passou a vida
toda fazendo o bem”.
Nascido dia 02 de fevereiro de 1965, o
“Tiãozinho das CEBs do noroeste de Minas, do STR de Brasilândia e João
Pinheiro, da CPT e da Bio-Saúde, aos 53 anos, partiu, de repente, para a vida
em plenitude, dia 13 de julho de 2018, uma sexta-feira, às 12h, quando os
ponteiros apontam para o infinito. Partiu para a eternidade de forma terna e
viverá também de forma indelével nas milhares de pessoas que tiveram a alegria e
a responsabilidade de conviver com Tiãozinho e lutar ao lado dele. Nas
celebrações de corpo presente em Belo Horizonte, em João Pinheiro e em
Brasilândia, todos eram unânimes em dizer: “Tiãozinho combateu o bom combate,
perseverou na fé libertadora, foi um verdadeiro cristão”.
Roseli Augusto, da CPT-MG, por exemplo,
emocionada, deu seu depoimento: “Encontrei
Tiãozinho pelas primeiras vezes no início dos anos 1980, nos encontros de CEBs
em Unaí e Brasilândia. Atuou na equipe da CPT junto com Irma Zélia, das Irmãs
de Jesus Crucificado, no noroeste de Minas. Ajudou na criação dos Sindicatos de
Trabalhadores Rurais, lutou contra a violência agrária em uma das regiões de
maior truculência e dos mais extensos latifúndios de Minas Gerais; violência
que gerou o assassinato de muitas lideranças como o Sr. Júlio Miranda, em 1984.
Depois, Tiãozinho descobriu a riqueza das ações da saúde alternativa, da
homeopatia, fitoterapia e outros tratamentos alternativos para uma vida
saudável. Nesse campo deu enorme contribuição e foi muito feliz. Fazia com amor
esse trabalho. Nós lhe agradecemos e honraremos sempre sua memória.”
Tiãozinho viveu a vida inteiramente a serviço
dos irmãos oprimidos e injustiçados: sem-terra, camponeses, posseiros,
assalariados, aposentados, pessoas com problemas de saúde etc.
Nascido no interior de Minas Gerais, na
zona rural da cidade de Brasilândia de Minas, no noroeste de Minas, de família
de pequenos agricultores familiares, Tiãozinho conheceu desde pequeno a vida
dura e a realidade dos camponeses. Sentiu na pele e no próprio corpo o que é
ser negro e pobre neste nosso país elitista, latifundiário e discriminatório.
Com uma humildade que desarmava os
arrogantes, Tiãozinho cativou uma multidão de amigas e amigos, e desde criança
descobriu que a vida só tem sentido quando colocada a serviço do outro, do
próximo e, principalmente do outro injustiçado e explorado. Tiãozinho fazia
isso com maestria e dedicação integral a todas as causas que abraçava, sempre
causas em defesa dos oprimidos. Com sabedoria, Tiãozinho se colocava
disponível, solidário a quem precisava. Tiãozinho contribuiu decisivamente com
a luta pela conquista da terra dos trabalhadores rurais de Brasilândia e de
João Pinheiro.
Junto com as irmãs de Jesus
Crucificado, Tiãozinho, como um Apóstolo Paulo no nosso meio, fundou muitas
CEBs no noroeste de Minas. De coração generoso e humilde, sempre sorrindo,
Tiãozinho alegrava o povo das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e nos
alegrava com sua fé viva, encarnada na vida, fazendo crer em um Jesus Cristo
bem humano, íntimo, presente no cotidiano da nossa realidade.
Enquanto camponês nascido na roça, negro,
cria das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), sob animação e formação das
Irmãs de Jesus Crucificado, em Brasilândia e Unaí, Tiãozinho foi imprescindível
em Minas Gerais, em 1986 – ano em que o movimento social camponês estava
fortemente mobilizado, pressionando e atuando nas discussões pró-Constituinte,
para inscrever na Constituição de 1988 a desapropriação de latifúndios para
reforma agrária e a exigência da função social da propriedade da terra -, foram
criados os quatro primeiros assentamentos: PA Iturama, no município de Limeira
do Oeste, no pontal do Triângulo Mineiro, com 117 famílias, em 03 de setembro
de 1986; e outros três assentamentos no noroeste de Minas. Tiãozinho foi
presença protagonista em todas essas lutas.
A atuação de Tiãozinho como integrante das
CEBs, da CPT e do STR contribuiu para que o berço da luta pela terra em Minas
Gerais fosse o noroeste do Estado, onde foi implementado “o assentamento mais antigo de Arinos (e
também o primeiro assentamento realizado pelo INCRA, em Minas Gerais, no ano de
1974), que recebeu o nome de Sagarana, nome dado por causa da relação literária
existente entre a região do Rio Urucuia e João Guimarães Rosa” (BATISTA, 2015,
p. 49). O Projeto de Assentamento Sagarana fez parte do Projeto Integrado de
Colonização (PIC) da ditadura militar-civil-empresarial.
Também no noroeste de Minas, com a atuação do
Tiãozinho pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), aconteceu um marco referencial
na luta pela terra em Minas Gerais, que foi a desapropriação
das fazendas Saco Grande e Palmeirinha, no município de Unaí, em 1984, Fruta
D'Anta, no município de João Pinheiro, em 1986, e Vereda Grande, no município
de Urucuia. As fazendas Saco Grande e Palmeirinha se tornaram PA Palmeirinha
dia 01 de outubro de 1986, com 162 famílias em 6146 hectares de área.Segundo dados do INCRA, de 2016, os
camponeses Sem Terra no noroeste de Minas já conquistaram 77 assentamentos,
graças também à atuação do Tiãozinho como agente da CPT.
Em 2001, Tiãozinho partiu do interior
para a capital, e, em Belo Horizonte, ampliou seu círculo de amizades e de luta,
porque todos que conheciam Tiãozinho queriam desfrutar de sua presença e de sua
amizade. Contribuiu intensamente com a construção e o desenvolvimento da Casa
Bio-Saúde[3],
durante 17 anos (de 2001 a 2018), na promoção da medicina preventiva, no
trabalho da utilização de técnicas e terapias naturais acreditando que a saúde
e a vida são bens preciosos e, portanto, era necessário militar também nesta
causa.
Tiãozinho conseguiu ultrapassar as próprias
limitações de ter estudado em escola rural e ter feito estudo supletivo para
concluir o Ensino Médio. Com muita luta, por meio do PROUNI, fez o curso de
Fisioterapia no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, onde foi
estudante destaque sempre socializando com suas colegas seus inúmeros saberes
nas áreas de saúde alternativa e natural.
Não sendo apenas da CPT e da Bio-Saúde,
mas também das CEBs, do Sindicato dos/as Trabalhadores/ras Rurais de
Brasilândia e João Pinheiro, do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), do
Movimento Negro e da Luta dos Quilombolas etc., Tiãozinho sempre soube a quem
defender, onde exercer a sua militância, e seu jeito discreto não apagava sua
consciência política e cidadã revolucionária.
Feliz quem teve a alegria, a graça e a
responsabilidade de conviver com Tiãozinho e lutar ao lado dele por justiça
agrária, pelos direitos humanos, por saúde alternativa, naturista e holística.
Que tenhamos a coragem que Tiãozinho tinha para HONRARMOS o nome dele e o
imenso legado espiritual, profético e revolucionário que Tiãozinho nos deixou.
Vai com Deus, Tiãozinho, mas você
estará sempre em nós, conosco. Nosso coração chora sua ausência física. Não o
temos mais diante de nós. Você entrou em nós, está em nós! Dói muito saber que
ficaremos sem você fisicamente, mas, onde estiver, com este coração imenso e
bondoso, você, Tiãozinho, estará nos iluminando, nos inspirando e nos dando
coragem e perseverança na luta pelo bem comum.
Referência.
BATISTA, Elza Cristiny
Carneiro. Trajetórias escolares de
jovens assentados: estudo em Arinos/MG. (Dissertação de mestrado).
Florianópolis: UFSC, 2015.
Belo
Horizonte e João Pinheiro, 15 de julho de 2018.
Obs. 1: Esse texto é
apenas um pouco do muito que foi e fez o “Tiãozinho da CPT e da Bio-Saúde”.
Quem com ele conviveu e lutou, sinta-se à vontade para escrever algo sobre o
imenso legado espiritual e profético que ele nos deixou. Se escrever, envie-nos
(e-mail: gilvanderlm@gmail.com , que
com alegria publicaremos.
Obs. 2: Os vídeo,
abaixo, confirmam o texto, acima.
1 -
Tiãozinho da Bio Saúde BH: A trajetória de uma luta. 1ª Parte. Belo
Horizonte/MG, 30/12/2017.
2 - Tiãozinho
da Bio Saúde/BH: A coragem de seguir Jesus – 2ª Parte – Belo Horizonte/MG,
30/12/2017.
3 - Tiãozinho
da Bio Saúde/BH: luta e resistência no noroeste de Minas - 3ª Parte -
30/12/2017.
4 - TIÃOZINHO
- Vídeo inédito - Em BH/MG: Luta que continua. Serviço à saúde. 4a Parte.
30/12/2017.
5 - Palavra
Ética na TVC/BH com Sebastião Clemente: cura natural e gratuita do câncer.
15/09/2015.
Eis, abaixo, algumas fotos de Tiãozinho
da CPT e da Bio-Saúde.
[1]
Assistente Social em João Pinheiro, MG, e mestranda em Serviço Social.
Militante social com significativa participação nas CEBs, CEBI, na Cáritas e em
Projetos Sociais no Noroeste de MG e no Vale do Jequitinhonha.
[2] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em
Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel
em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em
Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte,
MG.
Carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte e RMBH: Cultura de cuidado com o meio ambiente e respeito com os animais. 2ª Parte. 07/7/2018.
Tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte o Projeto de Lei 142/2017 que tem como objetivo criminalizar o uso de veículos de tração animal no município. Carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte e RMBH, com Rede de Apoio, mobilizam-se na luta em defesa desses trabalhadores e trabalhadoras, que com essa atividade tradicional tiram o sustento da família. O Projeto é justificado pelos maus tratos aos animais, o que não confere com o comportamento dos legítimos carroceiras e carroceiras, que têm nos animais que puxam suas carroças mais que amigos, são tratados como membros da família. Se alguns poucos utilizam carroças e maltratam os animais, isso não pode ser generalizado. Os legítimos carroceiros e carroceiras apoiam a fiscalização da Prefeitura e defendem o respeito aos animais. As carroceiras e os carroceiros estão presentes na cidade de Belo Horizonte desde o início de sua criação e ajudaram a construí-la. Prestam serviços importantes de limpeza urbana e transporte de pequenos volumes. São verdadeiros agentes ambientais da cidade. Além disso, têm sua própria cultura carroceira, com saberes tradicionais que fazem parte do patrimônio da cidade. Carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte e RMBH são a favor da vida e dos direitos de humanos e animais. Por isso, dizem NÃO ao PL 142/2017! Querem construir, junto com a Prefeitura de Belo Horizonte, uma política pública efetiva que garanta o direito ao trabalho dos carroceiros e carroceiras e as condições adequadas de vida para todos os animais.
* Reportagem em vídeo de frei Glvander Moreira, da CPT, das CEBs e do CEBI.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte, MG, 07/7/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a outros vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
Carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte, MG: Respeito à cultura, direito ao trabalho. 1ª Parte. 07/7/2018.
Carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte e Região Metropolitana vivem momentos de tensão e preocupação e veem desrespeitada sua cultura, seus direitos e sua dignidade. Tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte o Projeto de Lei 142/2017 que tem como objetivo criminalizar o uso de veículos de tração animal no município. Para os carroceiros e carroceiras, os cavalos não são objetos, são amigos, parceiros, companheiros de trabalho que fazem parte de suas vidas, de suas famílias. Carroceiros e carroceiras cuidam bem de seus animais e são contra os maus tratos aos animais e, por isso, defendem e apoiam ações de fiscalização da prefeitura nesse sentido. Não é justo que se criminalize uma profissão e cerca de 8 mil trabalhadores - que envolve 8 mil famílias -, só em Belo Horizonte, por casos isolados de maus tratos aos animais praticados por pessoas que nem são legítimos/as carroceiros/as. As carroceiras e os carroceiros estão presentes na cidade de Belo Horizonte desde o início de sua criação e ajudaram a construí-la. Prestam serviços importantes de limpeza urbana e transporte de pequenos volumes. São verdadeiros agentes ambientais da cidade. Além disso, têm sua própria cultura carroceira, com saberes tradicionais que fazem parte do patrimônio da cidade. Carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte e RMBH são a favor da vida e dos direitos de humanos e animais. Por isso, dizem NÃO ao PL 142/2017! Querem construir, junto com a Prefeitura de Belo Horizonte, uma política pública efetiva que garanta o direito ao trabalho dos carroceiros e carroceiras e as condições adequadas de vida para todos os animais.
Nesse vídeo, a 1ª parte da reportagem feita por Frei Gilvander Moreira, da CPT, das CEBS e do CEBI, no dia 07/7/2018, quando carroceiros e carroceiras de Belo Horizonte realizaram reunião para discutir o assunto e decidir ações de luta, com medidas a serem tomadas em defesa dos seus direitos, da sua cultura.
Edição de Nádia Oliveira, da Equipe de Comunicação da CPT-MG. Belo Horizonte/MG, 07/7/2018.
* Inscreva-se no You Tube, no Canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos, no link: https://www.youtube.com/user/fgilvander, acione o sininho, receba as notificações de envio de vídeos e assista a outros vídeos de luta por direitos sociais. Se assistir e gostar, compartilhe. Sugerimos.
A CPT na luta ao lado
dos camponeses. Por Gilvander Moreira[1]
Muitas pessoas nos perguntam: “Que tipo de
atuação faz a Comissão Pastoral da Terra (CPT) por meio dos seus agentes de
pastoral junto aos camponeses? O que é camponês? E posseiro? Que tipo de trabalho
dignifica o/a trabalhador/a?” Camponês se distingue também de trabalhador rural
proletarizado, que “desapossado da terra e de seus instrumentos de trabalho, em
suma, dos meios de produção, não mais dispõe da autonomia social mínima dos
cultivadores, fundada no controle costumeiro ou jurídico da terra” (MOURA, 1988,
p. 15). Apoiando o camponês está o agente de pastoral da Comissão Pastoral da
Terra (CPT), que é a pessoa integrante da CPT, seja trabalhador/a com carteira
assinada pela CPT ou voluntário, que atua prestando um serviço pastoral junto
aos camponeses nas suas mais diversas formas: acampados, assentados, sem-terra,
Sem Terra, quilombolas, boias-frias[2], assalariados,
ribeirinhos, vazanteiros, indígenas, ciganos etc. O serviço pastoral envolve
conviver com os camponeses, participar de suas lutas, fomentar a organização
deles a partir deles, denunciar as injustiças e defender suas bandeiras de
luta. Isso baseando-se em uma inspiração de fé libertadora, vivenciada, como
ato primeiro, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e nas Pastorais Sociais,
e, como ato segundo, sistematizada na Teologia da Libertação, que Michael Lowy
chama de ‘Cristianismo Libertador’ “por ser esse um conceito mais amplo que
‘teologia’ ou que ‘Igreja’ e incluir tanto a cultura religiosa e a rede social,
quanto a fé e a prática” (LOWY, 2000, p. 57). Assim, a CPT presta às camponesas
e aos camponeses assessoria pastoral, teológica, metodológica, jurídica,
política, sociológica e celebra a fé, as iniciativas, as vitórias e os
fracassos do povo camponês com eles/no meio deles, interligando as lutas e
dinamizando-as.
Entende-se por posseiro o usuário de terras
ainda não tituladas. Ou seja, posseiro é o que reivindica para si as terras
sobre as quais está trabalhando. O posseiro luta, não apenas pela terra, mas
pela liberdade de trabalho familiar, o que lhe confere liberdade de trabalho
autônomo e liberdade de decisão. “A expansão do capital se faz
preferencialmente sobre terras ocupadas por posseiros, através (sic) da expropriação e da expulsão.
[...] Ele deve ser expulso porque deprime ou elimina, ou seja, destrói a renda
fundiária. A posse é a negação da propriedade” (MARTINS, 1983, p. 116).
Posseiros e Sem Terra disputando a mesma terra constitui um conflito fundiário
diferente do conflito fundiário entre empresas do agronegócio e posseiros ou
quilombolas, ou indígenas ou outra comunidade tradicional como os vazanteiros e
os geraizeiros. “O posseiro é produto da própria expansão do capital; o índio
não o é” (MARTINS, 1983, p. 117). As comunidades tradicionais não são
indígenas, mas também não são simples posseiros. Os peões e o trabalho escravo
com escravidão por dívida, combatido em campanha permanente da CPT, são também
produtos do avanço do capital sobre o campo.
Durante o império romano, na língua latina, o
termo tripálio (tripalium, em latim)faz referência a trabalho, mas
literalmente significa três paus para empalar e torturar escravos. Na língua grega existem dois termos
para se referir a trabalho: doulos e poiesas. O termo doulos se refere ao trabalho enquanto servidão, análogo à situação
de escravidão, trabalho fruto de força de trabalho vendida no mercado para
gerar mais-valia. O termo grego poiesas
se refere ao trabalho criativo e prazeroso, no qual a trabalhadora e o
trabalhador criam e gozam os frutos do seu trabalho. Trabalho no sentido de poiesas é o que o profeta Isaías na
Bíblia anuncia como utopia em uma sociedade com “novos céus e nova terra”: “Os
homens construirão casas e as habitarão, plantarão videiras e comerão os seus
frutos. Já não construirão para que outro habite a sua casa, não plantarão para
que outro coma o fruto” (Isaías 65,21-22a). No sentido criativo, na luta pela
terra há muito trabalho, que vai desde a organização inicial, passa pelo
trabalho de base, pelos enfrentamentos que são desencadeados a partir da
ocupação de latifúndios que não cumprem sua função social e permeia o dia a dia
da vida social nos acampamentos e assentamentos, transcorre a produção, a lida
com a terra e a organização que deve ser constante. A luta se torna um trabalho
educativo que busca emancipação.
Na realidade brasileira, atualmente o que
predomina é o trabalho no sentido de tripalium
ou doulos: trabalho escravo, sendo renda
capitalizada, em uma espécie de Servidão
Moderna[3],
enquanto apenas uma minoria tem garantido seu direito de trabalhar no sentido
de poiesas, trabalho que dignifica a
pessoa humana, pois é criativo e dá asas à criatividade. Para Marx, trabalho é
toda ação humana transformadora da natureza.
A CPT, durante várias décadas, preferiu se
referir aos camponeses chamando-os de lavradores,
como é mais conhecido no meio rural brasileiro, porque lavrador, além de referir-se a quem lavra a terra, exprime aquele
que exerce um labor, um trabalho.
Logo, lavrador é camponês trabalhador. “A categoria camponês, que etimologicamente vem de campo (campus, no latim), não é, no meio rural brasileiro, mais rica em conteúdo
do que lavrador, que contém na raiz a
palavra latina labor; esta não só
quer dizer trabalho, mas possui
também a conotação de esforço cansativo, dor e fadiga” (MOURA, 1988, p. 16).
Enfim, tecemos essas considerações cientes de
que a clareza sobre tudo o que envolve a luta pela terra pode aumentar o êxito
da luta dos camponeses por todos os direitos sociais, entre os quais o direito à
terra é primordial e imprescindível.
Referência
LOWY,
Michael. A Guerra dos Deuses:
religião e política na América Latina. Petrópolis: Vozes, 2000.
MARTINS, José de
Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu
lugar no processo político. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 1983.
MOURA, Margarida Maria. Camponeses.
2ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1988.
2 - A
Mãe terra acolhe seus filhos em luta: Ocupação Nova Jerusalém/Nova Serrana/MG.
30/6/2018.
3 - Terra
e dignidade para o Povo Cigano da Lagoa de S. Antônio em Pedro Leopoldo/MG. 3ª
Parte/ 14/6/2018.
[1]
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas;
assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais
Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.
[2]
“Boias-frias são trabalhadores volantes, moradores dos bairros pobres das
cidades do interior, convertidos em trabalhadores temporários na agricultura”
(MARTINS, 1983: 67).