segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), teimosas flores de mandacaru. Artigo de frei Gilvander Moreira. BH, 27/01/2014.

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), teimosas flores de mandacaru.
Gilvander Luís Moreira[1]

Que beleza espiritual, ética e profética, o 13º Intereclesial das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base -, na Diocese de Crato, no Ceará, em cinco cidades – Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Caririaçu e Missão Velha -, de 7 a 11 de janeiro de 2014, com o tema “Justiça e Profecia a serviço da vida” e o lema “CEBs romeiras do reino no campo e na cidade.” Participaram mais de 5 mil pessoas, entre as quais, leigos/as, freiras, freis, padres e bispos, 4.065 representantes de CEBs do Brasil, dezenas de convidados internacionais, mais de mil pessoas nas equipes de serviços. O povo ficou hospedado nas casas de mais de 2 mil famílias.
Foi inspirador andar nas terras de Padre Cícero, do beato Zé Lourenço e da beata Maria de Araújo; e experimentar a religiosidade do povo, a acolhida, o sorriso, a criatividade infinita e a resistência inquebrantável do povo do cariri, região do “coração alegre e forte do Nordeste”.
De 1975 a 2014 perfazem 39 anos de intereclesiais das CEBs. Quase 40 anos de caminhada libertadora das Comunidades Eclesiais de Base, essas sementeiras de movimentos sociais populares, realizando encontros paroquiais, diocesanos, estaduais e “nacionais”. Como romeiras do reino do Deus da vida, sob a luz e o incentivo do papa Francisco, com a exortação apostólica Alegria do Evangelho, as CEBs brasileiras podem estar diante do rio Jordão, após os muitos anos de deserto sob os pontificados de João Paulo II com início em 1978 e Bento XVI que o sucedeu até 2013. Pela 1ª vez na história dos intereclesiais de CEBs, o papa enviou uma mensagem animadora aos 4.065 representantes de CEBs reunidos neste 13º Intereclesial. Disse Francisco, na Mensagem: “Como lembrava o Documento de Aparecida, as CEBs são um instrumento que permite ao povo “chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos (D.A, n.178). As Comunidades de Base trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja.”
O grito maior do 13º Intereclesial das CEBs foi por Justiça e Profecia a serviço da vida. Que a justiça de vocês seja maior do que a justiça dos capitalistas, dos fundamentalistas, dos proselitistas, dos adeptos do ídolo capital, diria Mateus nos dias de hoje. “Não deixe morrer a profecia”, alertava dom Hélder Câmara. É hora de resgatarmos e sermos, na prática, encarnação das três eloquentes metáforas do Evangelho: ser luz no mundo das relações e instituições humanas, luz que revele as trevas do mercado idolatrado, do agronegócio que envenena a comida do povo com agrotóxico e fere de morte a nossa mãe Terra e toda a biodiversidade. Ser sal na comida, isto é, em tudo aquilo que alimenta a vida do povo a partir dos injustiçados. Evitar que as podridões da democracia representativa, do Estado, de pessoas alienadas e de segmentos de igrejas falsifiquem o evangelho do galileu de Nazaré. Ser o fermento nas massas das cidades empresas e dos campos do agronegócio, eis a missão profética das CEBs atualmente.
É hora de assumirmos compromisso com a herança espiritual e profética dos mártires das Comunidades Eclesiais de Base, tais como “Zé Maria, assassinado com oito tiros, animador da CEB de Limoeiro do Norte, CE, na Chapada do Apodi, presidente da Associação dos trabalhadores rurais, que denunciam as intoxicações de trabalhadores e até de crianças e a poluição provocada pelas nuvens de agrotóxico despejadas pelos aviões das produtoras de frutas, sobre os abacaxis, as mangas e as bananas, sobre o açude, o campo de bola e a escola, seguindo o capricho dos ventos...”[2]
É hora de retomar a práxis libertadora da fé cristã, sob a reflexão da Teologia da Libertação. É hora de reconhecer e fortalecer as CEBs ecológicas da/na Amazônia, as CEBs da Convivência com o semiárido do/no Nordeste, as CEBs urbanas das periferias das metrópoles brasileiras, as CEBs abertas ao ecumenismo e os vários outros tipos de CEBs existentes dentro e fora do Brasil. É hora de pedir perdão ao povo das religiões de matriz afro-brasileiras, tais como o candomblé e a umbanda, ainda, injustamente discriminados por posturas moralistas e fundamentalistas de certos católicos, evangélicos e (neo) pentecostalistas.
 Libertador será o dia em que pela nossa forma de viver e conviver possamos gritar, sem nenhum ruído, que somos terra, que somos água, que somos negros, índios, mulheres, homossexuais, deficientes, sem-terra, sem-casa, pessoas em situação de rua, catadores de materiais recicláveis, presos, candomblecistas e umbandistas. Isto porque somos filhos/as do mesmo Pai, Deus, mistério de amor que nos envolve, e da mesma mãe, a terra. Somos todos esses, porque “mexer com qualquer um desses grupos é mexer conosco”. A causa/luta deles deve ser a nossa causa/luta. Nada nos deve ser indiferente. Ser luz, sal e fermento, eis nossa tarefa.
Os 72 bispos presentes no 13º intereclesial, em uma mensagem às CEBs e ao povo, disseram: “Muito nos sensibilizaram os gritos dos excluídos que ecoaram neste 13º intereclesial: gritos de mulheres e jovens que sofrem com a violência e de tantas pessoas que sofrem as consequências do agronegócio, do desmatamento, da construção de hidrelétricas, da mineração, das obras da copa do mundo, da seca prolongada no nordeste, do tráfico humano, do trabalho escravo, das drogas, da falta de planejamento urbano que beneficie os bairros pobres; de um atendimento digno para a saúde...”
Os 72 bispos, 72 verdadeiros discípulos de Jesus de Nazaré e do seu Evangelho, nos dias atuais, disseram ainda: “Reconhecemos nas CEBs o jeito antigo e novo da Igreja ser, muito nos alegraram os sinais de profecia e de esperança presentes na Igreja e na sociedade, dos quais as CEBs se fazem sujeito. Que não se cansem de ser rosto da Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas e não de uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças, como nos exorta o querido Papa Francisco (cf. EG 49). Para tanto, reafirmamos, junto às Cebs, nosso empenho e compromisso de acompanhar, formar e contribuir na vivência de uma fé comprometida com a justiça e a profecia, alimentada pela Palavra de Deus, pelos sacramentos, numa Igreja missionária toda ministerial que valoriza e promove a vocação e a missão dos cristãos leigos (as), na comunhão.”
Sensibilizou a muitos o grito dado por algumas mães de santo do candomblé que só tiveram acesso ao microfone, na Celebração Ecumênica, após insistirem para falar. Protestaram: “Saudamos a todos/as os presentes, mas viemos aqui para denunciar que os católicos da região do cariri estão nos discriminando. Sofremos muito com isso.” Ficou no ar o clamor. Feliz quem ouvir.
Representantes da CEB da comunidade do Jardim Fortim, no Litoral Leste do Estado do Ceará, nos disseram: “Somos Pescadores e Pescadoras e lutamos para defender o nosso território. Desde 2012 realiza em todo o Brasil uma Campanha pela regularização do Território das Comunidades Tradicionais Pesqueiras. Essa campanha foi lançada em Brasília (DF), em Junho/2012 e busca a assinatura de 1% dos eleitores brasileiros, por isso temos que conseguir mais de 1.406.466 assinaturas. Queremos que exista (e seja cumprida) uma lei de iniciativa popular que proponha a regularização do território das comunidades tradicionais pesqueiras (Depoimento de Maninha, Maria Eliene).”
Irmã Tea Frigerio, assessora das CEBs e membro da equipe de reflexão do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), destacou a importância da realização do Intereclesial na terra do padre Cícero. “Aqui se encontram duas realidades fortemente significativas para a Igreja do Brasil: a religiosidade popular que sustenta a vida do povo nos seus sofrimentos e as CEBs, mandacaru que resiste como modo de ser Igreja.” “Esses dois braços do povo brasileiro expressam duas maneira de viver a fé: a Romaria de padre Cícero dá voz à fé do povo pobre e excluído e as CEBs que fazem memória de um jeito diferente de ser Igreja. Estes dois braços se encontraram para se fortalecer e se enriquecer reciprocamente”, afirmou Tea.
Frei Betto, lembrou que “as CEBs, quando estavam muito vivas e apoiadas pela hierarquia da Igreja, nos anos 70 e 80, provocaram o crescimento de fiéis católicos. Depois que houve a vaticanização da Igreja na América Latina, com João Paulo II, as CEBs se fragilizaram, a Igreja começou a se encher de movimentos e os fiéis começaram a migrar para as igrejas evangélicas.” “Está provado historicamente que quanto mais CEBs, mais fiéis e quanto menos CEBs, menos fiéis”, complementou frei Betto.
Irmã Anette Dumoulin, religiosa belga que se dedica a acolher os romeiros em Juazeiro do Norte, defendeu uma nova formação dos seminaristas e padres. Segundo ela, “se o padre não aceita partilhar como pastor no meio do seu povo, as CEBs vão continuar sofrendo muito. Nós precisamos transformar a formação dos seminaristas para ter novos tipos de padres, que saibam lavar os pés de suas ovelhas como Jesus fez. Se os seminários continuam a formar padres que são chefes, donos, nós não vamos conseguir que as CEBs vivam a realidade do novo céu e de uma nova terra”, argumenta. 
Dom Fernando Panico, bispo de Crato, anfitrião do 13º Intereclesial, bradou na celebração de abertura do 13º Intereclesial: “As CEBs são o jeito da Igreja ser. As CEBs são o jeito “normal” da Igreja ser.”
O índio Anastácio profetizou: “Roubaram nossos frutos, arrancaram nossas folhas, cortaram nossos galhos, queimaram nossos troncos, mas não deixamos arrancar nossas raízes.” 
O Nordeste tem vivido nos últimos anos uma das maiores estiagens e as conseqüências desta seca são muitas na vida do povo empobrecido, sobretudo os camponeses e os que têm na roça a única alternativa de sobrevivência. Mas, uma coisa é certa: basta que a chuva caia um pouco para o mandacaru florir e revelar em uma ousada profecia que a vida é mais forte que a morte. Como as flores dos mandacarus do Nordeste, o povo presente no 13º Intereclesial das CEBs sinalizou para o Brasil e para o mundo que o projeto de Jesus Cristo, jovem camponês da periferia, profeta mártir de Nazaré, está vivo no meio dos pobres.
Gravamos e disponibilizamos em www.youtube.com mais de 7 horas de momentos marcantes do 13º Intereclesial. Quem quiser assistir, busque no www.youtube.com “XIII Intereclesial das CEBs, em Juazeiro do Norte, CE”.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 27 de janeiro de 2014.
No facebook: Gilvander Moreira



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; natural de Rio Paranaíba, MG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT (Comissão Pastoral da Terra), CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), SAB (Serviço de Animação Bíblica) e Via Campesina; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; Além de acompanhar pastoralmente a luta pela terra no Estado de MG, acompanha, nos últimos 10 anos, a luta por moradia em BH e várias outras cidades de MG; e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br - www.twitter.com/gilvanderluis - Facebook: Gilvander Moreira

[2] VV.AA. Justiça e Profecia a serviço da vida, Texto-base do 13º Intereclesial, CEBs, Romeiras do Reino no Campo e na Cidade, 7 a 11/01/2014, p. 343.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Jesus de Nazaré: jovem camponês da periferia, mártir e portador de uma pedagogia emancipatória. Artigo de frei Gilvander Moreira. BH, 24/01/2014.

Jesus de Nazaré: jovem camponês da periferia, mártir e portador de uma pedagogia emancipatória.
Gilvander Luís Moreira[1]
 “O camponês de Nazaré, nessa luta nos reuniu. Vem conosco caminhar, pela Terra Livre Brasil...”  (Hino do 3º Congresso da PJR)
Jovem da roça também tem valor!” (Grito da PJR desde 1985.)
1 - A partir da roça, do campo.
Nasci na roça, no campo. Fiz muitos calos nas mãos no cabo da enxada tocando roça à meia ao lado do papai José Moreira. Na hora da colheita, quando via o fazendeiro levar no caminhão a metade da nossa safra e quase toda a outra metade também, porque contraíamos dívida na sede da fazenda onde comprávamos, do plantio à colheita, açúcar, café, sal, remédios etc, dentro de mim, ainda criança, gritava uma voz: “Deus não quer isso. Isso não é justo.” Trago na minha memória essa indignação diante da opressão do latifúndio e dos latifundiários. Saí da roça, mas a roça não saiu de mim. Meu sacerdócio e meu jeito de ser frade carmelita estão intimamente conectados com a luta dos camponeses por terra, pão e dignidade.
2 - Juventude camponesa em Recife.
O III Congresso da Pastoral da Juventude Rural (PJR – www.pjr.org.br), em Recife, PE, de 14 a 19 de janeiro de 2014, reuniu mais de 1.500 jovens camponeses de todo o Brasil. Além das reflexões, troca de experiência, convivência, noites culturais etc, foi momento propício também para beber da herança espiritual profética de frei Caneca, padre Ibiapina, Padre Cícero, beato Zé Lourenço, padre Henrique, frei Jessé, Dom Hélder Câmara, Francisco Julião, cacique Chicão Xucuru, dentre tantos outros lutadores do povo. Frei Jessé e padre Henrique foram homenageados. Frei Cícero dos Santos Jessé (1954 a 1995), uma vida a serviço da Juventude Camponesa. Frei Jessé foi assessor da PJR por vários anos. Ao adoecer dizia: “Não deixem de fazer nada porque estou ausente.” Padre Antonio Henrique Pereira Neto (1940 a 1969), mártir da juventude que ousa viver a sua fé no mundo. Chamado por dom Hélder, padre Henrique, além de secretário do Dom, foi também assessor da Juventude. Chamado de subversivo, em 26 de maio de 1969, foi torturado e assassinado pela ditadura civil-empresarial-militar. Antes de completar 29 anos tombou por sua opção pelos pobres e pelos jovens, mas frei Jessé e padre Henrique, assim como todos os mártires da caminhada, continuam conosco, presente, presente, presente.
A cidade de Recife nos convida a recordar: a) frei Caneca, o carmelita da Confederação do Equador, fuzilado dia 13 de janeiro de 1824, após ter sido preso em 1817 e ter ficado vários anos no cárcere, em Salvador, Bahia. Frei Caneca, ao lado de outros 50 padres, esteve à frente da Confederação do Equador que lutava pela independência do Pernambuco, contra a violência da monarquia. Lutava por vida e liberdade para todos; b) Dom Hélder Câmara, o dom do amor, da paz e da justiça; d) Pernambuco também foi palco das Ligas Camponesas que, sob a liderança de tantos como o advogado Francisco Julião, se espalharam pelo país, com mais de 2.000 já organizadas quando se instaurou a ditadura. As Ligas camponesas lutando por reforma agrária na lei ou na marra.
3 – Deus na história, o divino no humano.
O Deus do cristianismo é um Deus da história, quer dizer, age nas entranhas dos fatos e dos acontecimentos. O Deus da vida, mistério de infinito amor, não faz mágica. Desde que Deus, por infinito amor à humanidade, encarnou-se, o divino está no humano.
O Concílio de Calcedônia, no ano de 451, reconheceu Jesus Cristo com “natureza” divina e humana. O apóstolo Paulo reconhece que Jesus é o Cristo, filho de Deus, mas “nascido de mulher” (Gal 4,4), ou seja, humano como nós desenvolveu seu infinito potencial de humanidade. “Jesus, de tão humano, se tornou divino,” dizia o papa João XXIII.
“Não é ele o filho de Maria e José, o carpinteiro (Mt 13,55)?”. Progressivamente, na Galileia, Samaria e Judéia, Jesus se revela, à primeira vista, em aparentes contradições, mas, no fundo, com tal equilíbrio que chama a atenção de todos. Assim, ele testemunha que Deus é mais interior a nós do que imaginamos. A mística “encarnatória” revela a pessoa humanamente divina e divinamente humana. “Quem me vê, vê o Pai (Jo 14,9)”.
Jesus, antes de se tornar mestre, foi discípulo, mas como mestre continuou aprendendo. Antes de ensinar, aprendeu muito com muitos: com Maria e José, com o povo da sinagoga, com os vizinhos, amigos, com os acontecimentos históricos, com a natureza etc.
Somos discípulos/as de um jovem camponês, da periferia, que foi condenado à pena de morte pelos podres poderes da política, da economia e da religião. Somos discípulos de um mártir. Feliz quem não esquece a vida, o testemunho e o ensinamento dos mártires.
Jesus compreende a mulher acusada de adultério, mas ferve o sangue de ira santa contra os vendilhões do templo.
4 – Jesus, a Juventude Camponesa e a PJR.
Em sintonia com a Campanha da Fraternidade de 2013 - Fraternidade e Juventude -, como instrumento inspirador para a Juventude Camponesa e para a Pastoral da Juventude Rural, apresentamos Jesus de Nazaré, o jovem de Nazaré que se tornou Cristo, messias, filho de Deus. Jovem, camponês, da periferia, Jesus, no meio de muitos jovens, apresenta uma Pedagogia que emancipa e liberta. Hoje, os/as jovens estão sendo marginalizados, violentados em sua dignidade, milhares assassinados anualmente. As prisões estão abarrotadas de jovens das periferias. Os modelos de educação hegemônicos mais fazem adestramento, capacitação profissional para encaixar os jovens na máquina mortífera que é o mercado endeusado. No meio dessa realidade conflituosa, faz bem nos inspirar na pedagogia de Jesus, um jovem camponês da periferia, que humaniza pelo seu ensinamento e testemunho.
5 – Treze características da pedagogia emancipatória de Jesus de Nazaré.
Jesus não nos salva automaticamente, mas testemunha um jeito de viver, melhor dizendo, um jeito de conviver que é libertador e salvador. Vital é prestarmos atenção no jeito e como Jesus ensina e atua. Faz bem prestarmos atenção no processo pedagógico efetivado por Jesus. Trata-se de uma Pedagogia emancipatória com muitas características, entre as quais, destacamos treze.
5.1) A partir da periferia. O Evangelho de Lucas interpreta a vida, ações e ensinamentos de Jesus ao longo de uma grande caminhada da Galileia até Jerusalém, ou seja, da periferia geográfica e social ao centro econômico, político, cultural e religioso da Palestina. A Palavra, em Lucas, é a palavra de um leigo, de um camponês galileu, “alguém de Nazaré”, pessoa simples, pequena, alguém que vem da grande tribulação. Não é palavra de sumo sacerdote, nem do poder.
5.2) Prioriza a formação. Nessa grande viagem, subida para Jerusalém, Jesus prioriza a formação dos discípulos e discípulas. Ele percebe que não tem mais aquela adesão incondicional da primeira hora. Jesus descobriu que para consolar os aflitos era necessário também incomodar os acomodados e denunciar pessoas e estruturas injustas e corruptas. Assim, o jovem de Nazaré começou a perder apoio popular. Era necessário caprichar na formação de um grupo menor que pudesse garantir os enfrentamentos que se avolumavam. Jesus sabia muito bem que em Jerusalém estava o centro dos poderes religioso, econômico, político e judiciário. Lá travaria o maior embate.
5.3) Não foge do combate. O Evangelho de Lucas diz: Jesus, cheio do Espírito, em uma proposta periférica alternativa, vai, em uma caminhada, de Nazaré a Jerusalém; ou seja, vai da periferia para o centro, caminhando no Espírito. Em Jerusalém acontece um confronto entre o projeto de Jesus e o projeto oficial. Este tenta matar o projeto de Jesus (e de seu movimento) condenando-o à morte na cruz. Mas o Espírito é mais forte que a morte. Jesus ressuscita. No final do Evangelho de Lucas, Jesus diz aos discípulos: “Permaneçam em Jerusalém até a vinda do Espírito Santo” (Lc 24,49).
5.4) Sempre em movimento. Seguir Jesus exige uma dinâmica de permanente movimento. A sociedade capitalista leva-nos a buscar segurança, o que é uma farsa. É hora de aprendermos a seguir Jesus de forma humilde e vulnerável, porém mais autêntica e real. Isso não quer dizer distrair com costumes e obrigações que provêm do passado, mas não ajudam a construir uma sociedade justa, solidária e sustentável ecologicamente.
5.5) Anda na contramão. Seguir Jesus implica andar na contramão, remar contra a correnteza de tantos fundamentalismos e da idolatria do consumismo. Exige também rebeldia, coragem, audácia diante de costumes que entortam o queixo e de modas que aniquilam o infinito potencial humano existente em nós.
5.6) Sabe a hora de conviver e a hora de lutar. O Evangelho de Lucas apresenta dois envios de discípulos para a missão. No primeiro envio (Lc 10,1-11), Jesus indicou aos discípulos que fossem despojados e desarmados para o campo de missão. Assim deve ser todo início de missão: conhecer, conviver, estabelecer amizades, cativar, assumir a cultura do outro, tornar-se um/a irmã/ão entre as/os irmã/ãos para que seja reconhecido como “um dos nossos”. No segundo envio (Lc 22,35-38), em hora de luta e combate, Jesus sugere que os discípulos devem ir preparados para a resistência. Por isso “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no máximo.” (Lc 22,36-38). Durante a evolução da missão, chega a hora em que não basta esbanjar ternura, graciosidade e solidariedade. É preciso partir para a luta, pois as injustiças precisam ser denunciadas. Ao tomar partido e “dar nomes aos bois” irrompem-se as divisões e desigualdades existentes na realidade. Os incomodados tendem naturalmente a querer calar quem os está incomodando. É a hora das perseguições que exigem resistência. Confira a trajetória de vida dos/as mártires da caminhada: Padre Josimo, Padre Ezequial Ramin, Chico Mendes, Margarida Alves, Sem Terra de Eldorado dos Carajás, Irmã Dorothy, Santo Dias, Chicao Xucuru, Padre Gabriel, padre Henrique etc.
5.7) Resiste, o que não é violência, mas legítima defesa. Diante de qualquer tirania e de um Estado violentador, vassalo do sistema capitalista que sempre tritura vidas e pratica injustiças, é dever das pessoas cristãs resistirem contras as opressões perpetradas contra os empobrecidos, os preferidos de Jesus. Lucas, em Lc 22,35-38, sugere desobediência civil – econômica, política e religiosa. Em uma sociedade desigual, esse é “outro caminho” a ser seguido (cf. Mt 2,12) por nós, discípulos e discípulas de Jesus, o rebelde de Nazaré.
5.8) Não trai sua origem. Jesus, o jovem de Nazaré, se tornou Cristo, filho de Deus. Como camponês, deve ter feito muitos calos nas mãos, na enxada e na carpintaria, ao lado de seu pai José. Os evangelhos fazem questão de dizer que Jesus nasceu em Belém, (em hebraico, “casa do pão” para todos), cidade pequena do interior. “És tu Belém a menor entre todas as cidades, mas é de ti que virá o salvador”, diz o evangelho de Mateus (Mt 2,6), resgatando a profecia de Miquéias (Miq 5,1). Segundo Lucas, Jesus inicia sua missão pública em Nazaré, sua terra de origem, em uma sinagoga, onde aprendeu muita coisa libertadora. Jesus se orgulhava de ser jovem camponês. Valorizava a cultura camponesa. Percebia que a cidade, muitas vezes, mata os profetas, mata os jovens, como o jovem de Naim (Lc 7,11-17).
5.9) Pedagogia da partilha de pães, que liberta e emancipa. A fome era um problema tão sério na vida dos primeiros cristãos e cristãs, que os quatro evangelhos da Bíblia relatam Jesus partilhando pães e saciando a fome do povo.[2] É óbvio que não devemos historicizar os relatos de partilha de pães como se tivessem acontecido tal como descrito. Os evangelhos foram escritos de quarenta a setenta anos depois. Logo, são interpretações teológicas que querem ajudar as primeiras comunidades a resgatar o ensinamento e a práxis original do jovem galileu. Não podemos também restringir o sentido espiritual da partilha dos pães a uma interpretação eucarística, como se a fome de pão se saciasse pelo pão partilhado na eucaristia. Isso seria espiritualização do texto. Eucaristia, celebrada em profunda sintonia com as agruras da vida, é uma das fontes que sacia a fome de Deus, mas as narrativas das partilhas de pães têm como finalidade inspirar solução radical para um problema real e concreto: a fome de pão.
A beleza espiritual das narrativas de partilha de pães – o correto é partilha de pães e não multiplicação de pães - está no processo seguido: uma série de passos articulados e entrelaçados que constituem um processo libertador. O milagre não está aqui ou ali, mas no processo todo. Ei-lo em várias características:
5.10.1) Cidade, lugar de violência? O evangelho de Mateus mostra que o povo faminto “vem das cidades”. As cidades, ao invés de serem locais de exercício da cidadania, se tornaram espaços de exclusão e de violência sobre os corpos humanos. Faz bem recordar que Deus criou – e continua criando -, nas ondas da evolução, tudo “em seis dias e no sétimo dia descansou.” Conta-se que alguém teria perguntado a Deus porque ele resolveu descansar após o sexto dia. Deus teria dito que já tinha criado tudo com muito amor e para o bem da humanidade e de toda a biodiversidade. Quando viu que faltava criar a cidade, o Deus criador concluiu que era melhor descansar.
5.10.2) Ir para o meio dos excluídos e injustiçados.Jesus atravessa para a outra margem do mar da Galileia” (Jo 6,1), entra no mundo dos gentios, dos pagãos, dos impuros, enfim, dos excluídos e injustiçados. Jesus não fica no mundo dos incluídos, mas estabelece comunicação efetiva e afetiva entre os dois mundos, o dos incluídos e o dos excluídos. Assim, tabus e preconceitos desmoronam-se.
5.10.3) Nunca perder a capacidade de se comover e de se indignar. Profundamente comovido, porque “os pobres estão como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), Jesus percebe que os governantes e líderes da sociedade não estavam sendo libertadores, mas estavam colocando grandes fardos pesados nas costas do povo. Com olhar altivo e penetrante, Jesus vê uma grande multidão de famintos que vem ao seu encontro, só no Brasil são milhões de pessoas que têm os corpos implodidos pela bomba silenciosa da fome ou da má alimentação.
5.10.4) Postura crítica. Jesus não sentiu medo dos pobres, encarou-os e procura superar a fome que os golpeava e humilhava. Apareceram dois projetos para resgatar a cidadania do povo faminto. O primeiro foi apresentado pelo discípulo Filipe: “Onde vamos comprar pão para alimentar tanta gente?” (Jo 6,5). No mesmo tom, outros discípulos tentavam lavar as mãos: “Despede as multidões para que possam ir aos povoados comprar alimento.” (Mt 14,15). Filipe está dentro do mercado e pensa a partir do mercado. Está pensando que o mercado é um deus capaz de salvar as pessoas. Cheio de boas intenções, Filipe não percebe que está enjaulado na idolatria do mercado.
5.10.5) Postura criativa. O segundo projeto é posto à baila por André, outro discípulo de Jesus, que, mesmo se sentindo fraco, acaba revelando: “Eis um menino com cinco pães e dois peixes” (Jo 6,9). Jesus acorda nos discípulos e discípulas a responsabilidade social, ao dizer: “Vocês mesmos devem alimentar os famintos” (Mt 14,16). Jesus quer mãos à obra. Nada de desculpas esfarrapadas e racionalizações que tranquilizam consciências. Jesus pulou de alegria e, abraçando o projeto que vem de André (em grego, andros = humano), anima o povo a “sentar na grama” (Jo 6,10). Aqui aparecem duas características fundamentais do processo protagonizado por Jesus para levar o povo da exclusão à cidadania, da injustiça à justiça. Jesus convida o povo para se sentar. Por quê? Na sociedade escravocrata do império romano somente as pessoas livres, cidadãs, podiam comer sentadas. Os escravos deviam comer de pé, pois não podiam perder tempo de trabalho. Deviam engolir rápido e retomar o serviço árduo. Um terço da população era escrava e outro terço, semiescrava. Logo, quando Jesus inspira o povo para sentar-se, ele está, em outros termos, defendendo que os escravos têm direitos e devem ser tratados como cidadãos.
5.10.6) Organização é o segredo da pedagogia de Jesus. Jesus estimula a organização dos famintos. “Sentem-se, em grupos de cem, de cinquenta,  ...” (Mc 6,40). Assim, Jesus e os primeiros cristãos e cristãs nos inspiram que o problema da fome e todos os outros problemas sociais só serão resolvidos, de forma justa, quando o povo marginalizado e injustiçado se organizar e partir para lutas coletivas.
5.10.7)  Gratidão.Jesus agradeceu a Deus...” A dimensão da mística foi valorizada. A luz e a força divinas permeiam e perpassam os processos de luta. Faz bem reconhecer isso. Vamos continuar cantando com Manelão - cantor e compositor das Comunidades Eclesiais de Base que já partilha vida em plenitude - cantos revolucionários, tal como: É madrugada, levanta povo! / A luz do dia vai nascer de novo! / Rompe as cadeias, abre o coração,/ Vamos dar as mãos, já é o reino do povo! / O povo agora é Senhor da história, / Somos rebentos desta nova era. / A liberdade, a fraternidade. / São as bandeiras desta nova terra!
5.10.8) Não ser paternalista. Quem reparte o pão não é Jesus, mas os discípulos. Jesus provoca a solidariedade conclamando para a organização dos marginalizados como meio para se chegar à cidadania de e para todos. Dar pão a quem tem fome sem se perguntar por que tantos passam fome é ser cúmplice do capital que rouba o pão da boca da maioria.
5.10.9) Reaproveitar.Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada.” (Jo 6,12). Economia que evita o desperdício. Quase 1/3 da alimentação produzida é jogada no lixo, enquanto tantos passam fome. É hora de reduzir o consumo. Reaproveitar, reciclar. Nada deve se perder, mas ser tudo transformado. Em uma casa ecológica tudo é reaproveitado, inclusive as fezes são consideradas recursos, pois viram adubo fértil e orgânico. Envolvidos pela crise ecológica, com aquecimento e escurecimento global é hora de reduzir, reutilizar, reciclar reaproveitar, recusar, recuperar e repensar.
5.11) Participar da vida pública transformando a sociedade (Lc 10,38-42).
Seguindo para Jerusalém, Jesus entra na casa de duas mulheres, Marta e Maria (Lc 10,38-42). Tradicionalmente, a narrativa de Lc 10,38-42 tem sido interpretada como uma oposição entre vida ativa e vida contemplativa. Ao longo dos séculos e ainda hoje, muitos usam e abusam de Lc 10,38-42 para justificar a vida contemplativa em detrimento da vida ativa, mas essa interpretação não tem consistência exegético-bíblica. Não há nenhuma referência no texto que diga que Jesus estivesse rezando ou orando com Maria. Para entender bem Lc 10,38-42 é preciso considerar algumas coisas.
Primeiro, nas duas perícopes anteriores, Lucas revelou uma oposição, um contraste: humildes X entendidos (Lc 10,21-24) e samaritano X sacerdote e levita (Lc 10,29-37). Em Lc 10,38-42 também há uma oposição, um contraste: Maria X Marta. A postura de Maria é elogiada por Jesus e a postura de Marta é censurada: “Marta, Marta! ... uma só coisa é necessária...” (Lc 10,41-42).
Segundo, precisamos considerar a situação das mulheres na época de Jesus e do evangelho de Lucas (anos 80/90 do 1º século). As mulheres eram - não todas, é óbvio - propriedades do pai e, depois de casadas, dos maridos; não participavam da vida pública, deviam ficar restritas ao lar; não aprendiam a ler e a escrever; não recebiam os ensinamentos da Torá, a Lei. Encontra-se escrito no Talmud dos Judeus (Escritura não-sagrada): “Que as palavras da Torá sejam queimadas, mas não transmitidas às mulheres”. A oração que muitos judeus piedosos rezavam dizia: “Louvado sejas Deus por não ter-me feito mulher!” O machismo e o patriarcalismo campeavam.
Ao sentar-se aos pés de Jesus, para ouvir-lhe os ensinamentos, Maria reivindica para si o direito de ser discípula. Ela reclama para si o direito de ser cidadã no sentido pleno. “Sentar-se aos pés” era a atitude dos discípulos dos rabis, os mestres.
Em Lc 10,38-42, Maria faz desobediência civil e religiosa, pois fica aos pés de Jesus ouvindo-o. Somente os homens judeus podiam ficar aos pés de um mestre e se tornarem discípulos. Maria ouve Jesus e, provavelmente, dialoga com Jesus e o interroga. Assim Maria se torna discípula.
Um judeu entrar em uma casa onde só havia mulheres também era algo censurável pela sociedade. Jesus desobedece a essa regra moral e entra na casa de duas mulheres. Assim, Jesus vai formando seus discípulos e discípulas enquanto caminha para Jerusalém.
5.12) Ser simples como as pombas e esperto como as serpentes.
Após uma longa marcha da Galileia a Jerusalém, da periferia à capital (Lc 9,51-19,27), Jesus e seu movimento estão às portas de Jerusalém. De forma clandestina, não confessando os verdadeiros motivos, Jesus e o seu grupo entram em Jerusalém, narra o Evangelho de Lucas (Lc 19,29-40). De alguma forma deve ter acontecido essa entrada de Jesus em Jerusalém, provavelmente não tal como narrado pelo evangelho, que tem também um tom midráxico, ou seja, quer tornar presente e viva uma profecia do passado.
 Dois discípulos recebem a tarefa de viabilizar a entrada na capital, de forma humilde, mas firme e corajosa. Deviam arrumar um jumentinho – meio de transporte dos pobres -, mas deviam fazer isso disfarçadamente, de forma “clandestina”. O texto repete o seguinte: “Se alguém lhes perguntar: “Por que vocês estão desamarrando o jumentinho?”, digam somente: ‘Porque o Senhor precisa dele’”. A repetição indica a necessidade de se fazer a preparação da entrada na capital de forma discreta, clandestina, sutil, sem alarde. Se dissessem toda a estratégia, a entrada em Jerusalém seria proibida pelas forças de repressão.
Com os “próprios mantos” prepararam o jumentinho para Jesus montar. Foi com o pouco de cada um/a que a entrada em Jerusalém foi realizada. A alegria era grande no coração dos discípulos e discípulas. “Bendito o que vem como rei...” Viam em Jesus outro modelo de exercer o poder, não mais como dominação, mas como gerenciamento do bem comum.
Ao ouvir o anúncio dos discípulos – um novo jeito de exercício do poder – certo tipo de fariseu se incomoda e tenta sufocar aquele evangelho. Hipocritamente chamam Jesus de mestre, mas querem domesticá-lo, domá-lo. “Manda que teus discípulos se calem.”, impunham os que se julgavam salvos e os mais religiosos. “Manda...!” Dentro do paradigma “mandar-obedecer”, eles são os que mandam. Não sabem dialogar, mas só impor. “Que se calem!”, gritam. Quem anuncia a paz como fruto da justiça testemunha fraternidade e luta por justiça, o que incomoda o status quo opressor. Mas Jesus, em alto e bom som, com a autoridade de quem vive o que ensina, profetisa: “Se meus discípulos (profetas) se calarem, as pedras gritarão.” (Lc 19,40). Esse alerta do galileu virou refrão de música das Comunidades Eclesiais de Base: “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão. Se fecharem uns poucos caminhos, mil trilhas nascerão... O poder tem raízes na areia, o tempo faz cair. União é a rocha que o povo usou pra construir...!”
Dia 10 de abril de 1996, milhares de trabalhadores rurais do MST, em marcha, estavam chegando a 22 capitais do Brasil. Na chegada a Belo Horizonte, após marcharem de Governador Valadares à capital mineira, 500 Sem Terra foram bloqueados pela tropa de choque da polícia militar de Minas Gerais. Vinte Sem Terra foram presos; outros vinte, hospitalizados. O governador de Minas havia dado ordens para proibir a entrada do MST em Belo Horizonte, porque três dias após, dia 13 de abril de 1996, a Fiat faria o lançamento de um novo modelo de automóvel, o Fiat Pálio, na Av. Afonso Pena, em Belo Horizonte. 700 jornalistas internacionais estariam presentes. Os gritos do MST por reforma agrária poderiam aparecer na imprensa internacional, o que seria mosca na sopa. Mesmo reprimidos, conseguimos entrar em Belo Horizonte no dia seguinte contando com o apoio do povo de BH. Um Sem Terra disse: “Quando os oprimidos hebreus tentaram fugir da opressão do imperialismo egípcio tiveram que enfrentar o Mar Vermelho. Na chegada de Belo Horizonte, um Mar de policiais queria fazer um Mar Vermelho com nosso sangue. Feriram-nos, mas conseguimos entrar na capital. Assim foi com Jesus de Nazaré também.”
5.13) Intransigência diante da opressão econômica e política. Os quatro evangelhos da Bíblia  (Mt 21,12-13; Mc 11,15-19; Lc 19,45-46 e Jo 2,13-17) relatam que Jesus, próximo à maior festa judaico-cristã, a Páscoa, impulsionado por uma ira santa, invadiu o templo de Jerusalém, lugar mais sagrado do que os templos da idolatria do capital que muitas vezes tem a cruz de Cristo pendurada em um ponto de destaque. Furioso como todo profeta, ao descobrir que a instituição tinha transformado o templo em uma espécie de Banco Central do país + sistema bancário + bolsa de valores, Jesus “fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e bois, destinados aos sacrifícios. Derramou pelo chão as moedas dos cambistas e virou suas mesas. Aos que vendiam pombas (eram os que diretamente negociavam com os mais pobres porque os pobres só conseguiam comprar pombos e não bois), Jesus ordenou: “Tirem estas coisas daqui e não façam da casa do meu Pai uma casa de negócio.” Essa ação de Jesus foi o estopim para sua condenação à pena de morte, mas Jesus ressuscitou e vive também em milhões de pessoas que não aceitam nenhuma opressão.
Enfim, jovens como Jesus de Nazaré, exercitemos pedagogias que libertam e emancipam.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 24 de janeiro de 2014.
Frei Gilvander



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brwww.gilvander.org.brwww.twitter.com/gilvanderluis - facebook: Gilvander Moreira

[2] Cf. Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-17 e Jo 6,1-13.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Plebiscito Popular sobre o sistema político brasileiro: reforma política, com Ricardo Gebrim, no 3º Congresso da Pastoral da Juventude Rural (PJR), em Recife, dia 18/01/2014 (1a parte).

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Plebiscito Popular sobre o sistema político brasileiro: reforma política, com Ricardo Gebrim, no 3º Congresso da Pastoral da Juventude Rural (PJR), em Recife, dia 18/01/2014 (2a parte).

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Plebiscito Popular sobre o sistema político brasileiro: reforma política, com Ricardo Gebrim, no 3º Congresso da Pastoral da Juventude Rural (PJR), em Recife, dia 18/01/2014 (3a parte)

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INCRA/MG tentará comprar a terra para as 106 famílias que estão ameaçadas de despejo pela 13ª vez, na Fazenda Marilândia, em Manga, Norte de MG. BH, 16/01/2014.

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Sem Terra de duas ocupações na Fazenda Marilândia, em Manga, Norte de MG, 106 famílias não aceitarão ser despejadas. Vão resistir. Esperamos que o INCRA e o fazendeiro negociem. BH, 16/01/2014.

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