segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejam 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG. 28/10/2013.

Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejam 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG.

Nota de repúdio à violência perpetrada pela PM de MG e pela GM/PBH a 150 famílias pobres de MG.

REPRESENTAÇÃO AO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, áreas de Direitos Humanos e de Assuntos Comunitários.

Dia 25/10/2013, a Polícia militar de Minas Gerais e a Guarda Municipal de Belo Horizonte, semelhante ao que fizeram na Ocupação Zilah Spósito/Helena Greco há 3 anos atrás, foi arbitrária, agiu de forma ilegal, truculenta e se comportando como jagunços disfarçados de policiais e funcionários públicos. Entre a Vila Corumbiara e Vila Pinho, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, MG, cerca de 150 famílias ocuparam há dez dias um grande terreno abandonado. Tentavam sair da cruz do aluguel, veneno que come no prato dos pobres, e da cruz que é sobreviver de favor, uma humilhação. Mas na manhã do dia 25/10/2013, dezenas de policiais militares de MG chegaram à Ocupação e sem mandato judicial, de forma truculenta, ilegal e imoral, expulsaram as famílias sem-casa e sem-terra que estavam no local. O povo foi enxotado sob a mira de fuzis e armas de grosso calibre, com bombas, spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Quatro pessoas foram presas: uma vovó, a senhora Meire; um adolescente, um policial do exército e um jovem que voltava do trabalho.
Sem nenhum critério objetivo ou mandato judicial que justificasse esta ação violenta da PM/MG e GM/PBH, foi usada força desproporcional contra mulheres, idosas, gestantes, pessoas com deficiência visual e crianças recém nascidas que foram atacadas por policiais do sexo masculino. Não bastasse a covardia desencadeada sob o comando do Major PM Natan, comandante da 12ª CIA da PMMG localizado no Vale do Jatobá, região oeste da Capital, uma criança de 14 anos foi conduzida no xadrez da viatura junto com adultos e permaneceu presa no quartel do bairro Vale do Jatobá até as 09 (nove) horas da noite e após conduzida pela viatura da PM até a delegacia de menores do Bairro  Barro Preto,  permanecendo presa até tarde da noite. Essas verdadeiras barbaridades cometidas contra o povo pobre, acontecem pela segunda vez na região do Barreiro. Em maio de 2012, policiais comandados pelo Major Natan, ainda quando este era capitão, também cometeram diversas agressões contra os moradores do assentamento ELIANA SILVA na mesma região, o qual foi denunciado na Comissão de Direitos Humanos da ALMG e ao Ministério Público da área de Direitos Humanos pela conduta violenta e abuso de autoridade, ações essas que ainda continuam impunes e abrem caminho para mais agressões. Ato contínuo, o advogado Elcio Pacheco, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, foi acionado pelos moradores para que intervisse na prisão das pessoas dentro de um quartel, o qual foi agredido verbal e fisicamente pelo SGT ZILVANE e CABO WIMERSON, subordinados do MAJOR NATAN, os quais o empurraram para fora da sala onde eram confeccionados os Boletins de Ocorrência, no momento em que o advogado havia indagado sobre as ilegalidades de se prender pessoas dentro de um quartel e da permanência de uma criança, também presa junto com adultos e da proibição pelos PMs ao advogado consultar com os presos. Mas qual foi o motivo que justificasse as prisões? Nenhum. Somente para tentar intimidar o povo que se dispersou sob a ação militar que semeou o terror na região.
Em entrevista a frei Gilvander Luís Moreira, uma mãe, dona Maria Neuza Barbosa, disse: “Meu filho é cego. Entramos na ocupação porque não suportamos mais sobreviver em um único cômodo, cedido, por favor, pela dona Neuza. A gente estava almoçando na barraca e, de repente, bombas começaram a explodir ao lado da nossa barraca, que era já nossa casa, esperança de uma vida nova. Foi um sufoco enorme ter que fugir correndo com meu filho cego sob tiros e gritaria. Meu filho e eu temos direito de viver em paz. Como pode fazer isso também com uma criança cega?” A criança cega é José Reinaldo, aluno de uma Escola Municipal de Belo Horizonte. A mãe acrescentou: “Eu vesti a camisa da Escola no meu filho para verem que ele estudante e está lutando para melhorar a vida.”
Outra mãe, dona Maria de Lourdes, disse: “Sou mãe de 11 filhos. Tivemos que ocupar, porque não temos para onde ir, porque estão exigindo o barraco onde a gente vive. Não temos condições mais de pagar aluguel. Onde vou viver com meus 11 filhos?”
Um jovem, com um olho avermelhado, disse: “Um policial gritou comigo “Suma daqui. Não encoste em mim.” Eu disse ao policial que eu tenho que respeitá-lo, mas ele tem que me  respeitar também. “Do mesmo jeito que não posso encostar em você, você policial, também não pode encostar em mim.” Nessa hora, jogaram uma bomba ao meu lado. Por isso meu olho está vermelho e ardendo. A bomba caiu próxima de uma criança de 15 dias. Deve ter arrebentado os ouvidos dela. Isso é um absurdo. A polícia não respeita mais nem criança.”
Por isso, uma criança de 15 dias de vida foi ferida e teve que ser levada para o hospital. Uma bomba, lançada pela PM, explodiu ao lado da barraca onde estava a criança. Imagine o sistema auditivo dessa criança sendo danificado por essa bomba! Representantes da PBH tentaram cooptar uma pessoa que se apresentou como liderança, oferecendo indenização para ela com a condição de que ela não mais liderasse o povo para reocupar a área.
Fiscais da PBH agrediram inclusive mulheres grávidas de 8 meses. Um rapaz trabalhador que chegava do serviço apanhou da polícia sem motivo algum. Bombas explodiram ao lado de criança, de idosas que, ao correr, caíram. Um rapaz que tem platina no tornozelo, ao correr das bombas, caiu em um buraco e, provavelmente, terá que operar novamente o tornozelo.
A prefeitura de Belo Horizonte, que se diz proprietária da área tenta justificar o despejo dizendo que se trata de área ambiental. Primeiro, a maior parte do terreno não é área ambiental. Segundo, os terrenos que “são da prefeitura de BH” na região do Vale do Jatobá até início da década de 90 do século XX eram terras públicas, do Governo Estadual. Foram repassados para empresas por preço irrisório, sem licitação e com cláusula contratual que exigia a construção de empreendimento industrial que gerasse emprego na região no prazo de 12 ou 24 meses. Diziam que seria criado o Distrito Industrial do Vale do Jatobá, mas mais de 20 anos se passaram e muitas empresas não cumpriram a cláusula contratual, ficaram especulando com os terrenos. Por isso há várias Ações Civis Públicas, da Defensoria Pública e do Ministério Público, arguindo a anulação dos contratos e o retorno dos terrenos ao Governo de MG. Basta o Governador de MG, Sr. Antônio Anastasia, reconhecer a nulidade dos contratos e destinar os terrenos para um grande programa habitacional popular. Na época, como compensação ambiental, vários terrenos foram doados para a Prefeitura de BH. Por isso é que a PBH diz ter terrenos lá na região. Enfim, se os contratos forem anulados, a PBH poderá também perder a titularidade desses terrenos. Logo, a propriedade dos terrenos por parte da PBH é questionável. Mais grave ainda: A PBH é responsável, ao lado dos Governos estadual e federal, pelo cumprimento da Constituição que prescreve moradia para todos como um direito constitucional. Se os poderes públicos não viabilizam moradia popular para o povo, é óbvio que o povo tem o direito e o dever de ocupar os terrenos abandonados, que não cumprem sua função social.
Um comandante da PM, olhando na direção de uma liderança que chegou após o despejo, gritou e repetiu: “Se alguém estimular a violência aqui, será preso.” A esse comandante e a todos os policiais de MG (50 mil soldados da PM e 10 mil da polícia civil) sugerimos a leitura do livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, de 1967, mas atualíssimo. Lá vemos, por exemplo, que quem inicia a violência não são os oprimidos, mas os opressores. Logo, comandante, quem está, mais do que estimulando a violência, está sendo violento é a classe dominante, e com ela o Estado, que não respeita a Constituição, que protege de forma absoluta a propriedade que não cumpre sua função social e reprime os pobres quando esses se unem e, de forma coletiva e organizada, lutam por seus direitos. Por isso, comandante, prenda quem realmente “estimula” a violência: os empresários especuladores e gestores públicos que usam e abusos dos poderes públicos para beneficiarem particulares e submeterem milhões de famílias à cruz do aluguel ou à humilhação que é sobreviver de favor. Comandante, mais do que enxugar gelo, saiba que a polícia ao reprimir lutas coletivas por direitos humanos jamais fará justiça. Sempre agravará o problema social, pois a repressão aumenta a indignação. O Povo dá um passo atrás, mas retorna com mais força para a luta. Policiais, recordem que vocês são da classe trabalhadora. É asqueroso pessoas cumprirem ordens injustas que violentam quem vem sendo violentado a conta-gota. A lei maior do Deus da vida diz: Não matarás! E se mata de muitas formas. Viver crucificado pelo aluguel ou por sobreviver de favor também mata. Rebelião contra esta engrenagem que violenta a dignidade humana é algo ético, justo e necessário.
Como documentos, apresentamos, abaixo, os links de três vídeos que atestam a veracidade dos fatos apresentados e denunciados aqui nessa nota.

1)   PM de MG e Guarda Municipal de Belo Horizonte, sem mandato judicial, com truculência, despejam 150 famílias:

2)   150 famílias são despejadas, sem mandato judicial, ao lado da Vila Corumbiara, em Belo Horizonte:

3)   PM de MG prende avó, um soldado do exército, um adolescente e um trabalhador, ilegalmente e de forma truculenta.

Pelo exposto, acima, exigimos:
1)   Que o Ministério Público de MG apure as arbitrariedades e tome as medidas judiciais necessárias para punir comandantes e policiais que agiram fora da lei;
2)   Do Prefeito Márcio Lacerda, do Governador de MG, Sr. Antonio Anastasia, e da Presidenta Dilma exigimos moradia digna para todas as famílias que estão crucificadas pelo aluguel ou pela humilhação que é sobreviver de favor.
3)   Que todas essas famílias que foram despejadas sejam reassentadas em casas ou apartamentos do Programa federal Minha Casa, Minha Vida;

Belo Horizonte, MG, Brasil, 28 de outubro de 2013

Contatos para maiores informações:
Com Leo, cel.: 31 9133 0983 ou Poliana, cel.: 31 9283 9027

Assinam essa Nota,
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB

Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP.

Reunião no Governo de MG para tratar sobre o despejo das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória. LUZ AMARELA ACESA! 28/10/2013.

Reunião no Governo de MG para tratar sobre o despejo das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória. LUZ AMARELA ACESA!

Dia 21/10/2013, aconteceu na Cidade Administrativa uma reunião do “Alto Comando do Estado de MG” para tratar sobre os despejos das Ocupações Rosa Leão (com 1.500 famílias), Esperança (com 2.000 famílias) e Vitória (com 4.500 famílias) na região do Isidoro e Granja dos Werneck. A reunião foi coordenada por Maria Coeli, Secretária da Casa Civil e da Secretaria de Relações Institucionais do Governo de Minas Gerais. Participaram da reunião o Comandante Geral de polícias, Cel. Santana, a juíza Luzia Divina, da 6ª Vara de Fazenda Pública Municipal, a que está com quatro processos envolvendo as três Ocupações, acima referidas; a Defensora Geral da Defensoria Pública de MG, Dra. Andrea Tonet, a defensora pública Dra. Cleide Nepomuceno, a defensora pública Dra. Christyane Linhares, o defensor público Dr. Lucas di Simões, o deputado João Leite, o desembargador Armando, etc. O tom da reunião não foi de abrir negociação, mas de encaminhar de fato os despejos. Alguém alertou que se trata de 8.000 famílias envolvidas. O deputado João Leite, em uma postura humanista, tentou defender os direitos das 8.000 famílias que estão nas três ocupações. Tivemos a defesa das defensoras públicas, mas representantes da polícia apresentaram “informações” que tentam justificar o despejo. Ficou decidido que fariam outras reuniões com a prefeitura de BH, que, segundo o Governo do estado, é quem deve abrigar as famílias a serem despejadas.
Esperamos sensatez do Governo Estadual de Minas, dos comandantes da polícia militar, do prefeito de Belo Horizonte, da juíza Dra. Luiz Divina, a mesma que mandou despejar a Ocupação Eliana Silva, no Barreiro, e jogou em cima de 350 famílias 400 policiais, cavalaria, helicóptero e até caveirão, tanque de guerra. Esperamos sensatez do TJMG, pois além das 8.000 famílias nas ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, temos mais 4.000 famílias na Ocupação Wiliam Rosa, perto do CEASA em Contagem, isso sem contar 1.300 famílias da Ocupação Dandara, 350 famílias da Ocupação Eliana Silva, 142 famílias da Ocupação Camilo Torres, 180 famílias da Ocupação Irmã Dorothy, 120 famílias da Vila Cafezal, no Novo São Lucas, 1.500 famílias no Novo Lagedo, 150 famílias despejadas pela PM e Guarda Municipal de BH dia 25/10/2013, ao lado da Vila Corumbiara, no Barreiro em Belo Horizonte, etc. Enfim, na região metropolitana já são mais de 25.000 famílias em ocupações. Já pensou se a maioria dessas famílias resolverem paralisar Belo Horizonte!
O Povo não vai tolerar mais sobreviver crucificado pela cruz do aluguel, que é veneno que come no prato dos pobres. Não vai tolerar mais sobreviver de favor, o que é muito humilhante. O povo pobre, animado pelas manifestações de junho último, está levantando a cabeça e não vai abrir mão de conquistar seus direitos constitucionais e sagrados, entre eles o direito de morar dignamente. Milhares de famílias sem-terra e sem-casa também estão vendo e ouvindo o exemplo da Ocupação-Comunidade Dandara, uma estrela a ser seguida.
Enfim, está mais claro do que o sol do meio-dia que polícia, repressão e despejos JAMAIS RESOLVERÃO de forma justa os gravíssimos problemas sociais que envolvem somente em Belo Horizonte mais de 150.000 famílias – eis o déficit habitacional de BH -, que estão sem-casa.
Por tudo isso, clamamos por DIÁLOGO E NEGOCIAÇÃO SÉRIA! O povo das Ocupações jamais vai aceitar ser despejado. E jamais vão se DISPERSAR!
Quem tem ouvidos que ouça antes que seja tarde demais!

Abraço terno na luta. Frei Gilvander Moreira

sábado, 26 de outubro de 2013

Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejaram 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG, ontem, dia 25/10/2013, ao lado da Vila Corumbiara, no Barreiro em BH.


Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejaram 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG, ontem, dia 25/10/2013, ao lado da Vila Corumbiara, no Barreiro em BH.

Dia 25/10/2013, a Polícia militar de Minas Gerais e a Guarda Municipal de Belo Horizonte, semelhantemente ao que fizeram na Ocupação Zilah Spósito/Helena Greco há 3 anos atrás, foi arbitrária, agiu de forma ilegal, truculenta e se comportando como jagunços disfarçados de policiais e funcionários públicos. Entre a Vila Corumbiara e Vila Pinto, no Barreiro, em Belo Horizonte, MG, cerca de 150 famílias ocuparam há dez dias um grande terreno abandonado. Tentavam sair da cruz do aluguel, veneno que come no prato dos pobres, e da cruz que é sobreviver de favor, uma humilhação. Mas na manhã do dia 25/10/2013, dezenas de policiais militares de MG chegaram à Ocupação, que nem nome tinha ainda. Sem mandato judicial, de forma truculenta, ilegal e imoral, expulsaram as famílias sem-casa e sem-terra que estavam na ocupação. O povo foi enxotado sob a mira de fuzis e armas de grosso calibre, com bombas e gás lacrimogêneo. Quatro pessoas foram presas: uma vovó, a senhora Meire; um adolescente, um policial do exército e um jovem que voltava do trabalho. Motivo que justificasse as prisões? Nenhum. Somente para tentar intimidar o povo que se dispersou sob a ação militar que semeou o terror na região.
Abraço na luta.
Frei Gilvander Moreira – www.freigilvander.blogspot.com.br


Frei Cláudio van Balen, mestre e amigo. Por frei Gilvander Moreira. 09/09/2013.


Frei Cláudio van Balen, mestre e amigo.
Gilvander Luís Moreira[1]

Pelo frei Cláudio van Balen nutro uma eterna gratidão e o considero um dos meus mestres. Tive a alegria e a responsabilidade de morar na mesma comunidade junto com frei Cláudio e ao lado dele trabalhar na pastoral da Igreja do Carmo, de Belo Horizonte, MG, durante dez anos, de junho de 2000 a junho de 2010.
Durante o meu mestrado em exegese Bíblica em Roma, Itália, fui muito apoiado, através de cartas e etc, por muita gente do CEBI[2], da CPT[3], das CEBs[4] e do MST[5] de Minas Gerais, pois antes de ir para Roma eu tinha trabalhado na assessoria do CEBI, CPT, CEBs e MST de Minas. Por isso eu sentia-me com a missão de continuar a missão em Minas. Perguntei ao frei Cláudio se eu poderia fazer parte da Comunidade do Carmo, após voltar de Roma. Ele, prontamente, disse que sim. Fui vigário na Igreja do Carmo por 7,5 anos, auxiliando frei Cláudio na condução de uma evangelização emancipatória na comunidade do Carmo, ao mesmo tempo em que assessorava as CEBs, CPT, CEBI e o MST em Minas Gerais. Isso implicava que eu tinha que viajar muito e ficar boa parte do meu tempo fora da Igreja do Carmo. Frei Cláudio sempre se mostrou compreensivo diante de minhas “ausências”. Aliás, sempre me apoiou e sempre me incentivou a continuar apoiando a luta dos pobres que buscam seus direitos de forma organizada. Inclusive me disse algumas vezes: “Se eu tivesse a sua idade – 30 anos mais jovem -, eu estaria como você colocando fogo no mundo”.
Frei Cláudio tem uma história de compromisso com a luta pelos direitos humanos durante a ditadura militar-civil-empresarial, pois, junto com outros frades, colocou a Igreja do Carmo como uma trincheira que oxigenava a luta contra a ditadura. Por isso teve que responder Inquérito militar. Com essa história, frei Cláudio sempre compreendeu minha luta ao lado dos movimentos sociais populares, pois sabe que hoje uma ditadura econômica paira sobre a maioria do povo.
Com frei Cláudio, os momentos de almoço, de reuniões, de palestras, de correção de textos e conversas informais eram sempre momentos de formação teológica na linha libertadora. Eu sempre pedia ao frei Cláudio e ao saudoso Eliseu Lopes – grande biblista do CEBI – para corrigirem os meus textos. Com alegria eu acatava quase todas as sugestões de melhorias nos meus textos. E frei Cláudio humildemente sempre pedia que eu corrigisse os seus textos e aceitava quando eu sugeria mudar algumas palavrinhas, em uma troca mútua de conhecimentos e experiências.
Durante 10 anos eu celebrei a missa na Comunidade da Vila Acaba Mundo, comunidade da Igreja do Carmo, aos domingos, às 09:00h da manhã. Eu voltava e fazia questão de chegar a tempo de assistir a homilia do frei Cláudio na missa das 11:00h. Quanto aprendizado! Frei Cláudio, assim como o profeta Oséias, nos estimula sempre a fazermos autocrítica e não nos acomodar no jeito de pensar e agir tradicionalmente Frei Cláudio é um exímio crítico do poder religioso. Hoje, na sociedade capitalista – individualista, consumista e mercantilizadora de tudo – para as igrejas e pessoas religiosas criticarem os podres da política e da economia é menos difícil, mas criticar o poder religioso e os funcionários do templo é muito complicado, é mexer em um vespeiro. Mas frei Cláudio, destemidamente, ajuda-nos a desmascarar as opressões veladas, sutis e, muitas vezes, disfarçadas de propostas religiosas que aparentemente se dizem humanizadoras, mas são na prática moralistas, doutrinadoras, proselitistas e domesticadoras, infantilizando pessoas. Por isso vejo muitas semelhanças entre frei Cláudio e Oséias, o profeta das relações de amor e da anti-idolatria religiosa. Em ambos vejo uma profecia que vai do miúdo da vida para o macro, do cotidiano para as questões globais, mas revelando a interdependência e o entrelaçamento das várias dimensões da vida humana e social. O profeta Oséias e frei Cláudio denunciam o poder opressor localizado nas grandes instituições, mas também desvenda a microfísica do poder: todas as relações interpessoais (sociais, etc) são permeadas de relações de poder. O poder não está localizado somente nas grandes instituições, mas está presente nas micro-relações. Estão permeadas de poder as relações homem-mulher, adulto-criança, professora-estudante, governante-governados, branco-negro, sadio-doente...
Com frei Cláudio aprendi muitas perspectivas teológicas que inspiram minha atuação ao lado dos pobres na luta pelos seus sagrados direitos. Aprendi, por exemplo, que nenhum dualismo é cristão e evangélico. O divino está no humano. A luz e a força divina permeiam e perpassam todos e tudo. O profano é o que existe de mais sagrado. Muitas orações transferem para Deus responsabilidades que são nossas. Que a eucaristia não é prêmio para os puros, mas é alimento espiritual para todos e que ninguém tem o direito de excluir ninguém  da eucaristia. A primeira eucaristia foi um jantar e certamente Jesus de Nazaré não excluiu nenhum dos que estavam na caminhada. Jesus veio para todos a partir dos pecadores e dos doentes. Logo, todos devem se sentir convidados de honra para participar da mesa da eucaristia. É terrorismo religioso excluir alguém da eucaristia por questões morais, por ser divorciado/a, desquitado/a, homossexual etc.
Mas, após 7,5 anos sendo auxiliar do frei Cláudio, a pedido dele por se sentir cansado, com menos força física e também para que ele tivesse mais liberdade para “fazer o que mais gosta”: escrever de forma teológica para contribuir no processo de humanização das pessoas, eu aceitei assumir a coordenação da Igreja do Carmo, tornei-me pároco, o que fiz durante 2,5 anos. Diminuí muito minhas viagens e me dediquei à coordenação do trabalho pastoral da Igreja do Carmo. Aprendi muito, sofri muito e, sem querer, fui ocasião de sofrimento para muitas pessoas e motivo de alegria para outras. Experimentei o desafio que é aliar lutas por solidariedade, por promoção humana, com lutas por justiça. Alguns amigos/as de frei Cláudio não compreenderam a nossa opção de tentar unir as perspectivas do profeta Oséias, o que frei Cláudio faz com muita destreza e sabedoria, com a perspectiva do profeta Amós: luta por justiça social, o que eu tento fazer caminhando ao lado dos pobres que lutam de forma organizada por terra, moradia digna, direitos sociais etc. Assim, saí da Igreja do Carmo, mas sendo sempre grato ao frei Cláudio e o reconhecendo como um dos meus mestres, bem como, diga-se de passagem, também sou grato a muitas pessoas da Comunidade da Igreja do Carmo.
Frei Cláudio, que beleza você celebrando 80 anos de vida e de muitas lutas! Obrigado por tudo o que você me ensinou e tem ensinado a tanta gente.
Belo Horizonte, MG, 09 de setembro de 2013.



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; e-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.brwww.twitter.com/gilvanderluis - Facebook: Gilvander Moreira
Esse texto está publicado no Livro ARTESÃO DE FÉ: Frei Cláudio Van Balen, Org. Mauro Passos e Cláudio Bueno Guerra, Belo Horizonte: 3i editora, 2013, pp. 180-184.
[2][2] Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – Cf. www.cebi.org.br
[3] Comissão Pastoral da Terra – Cf. www.cptnacional.org.br
[4] Comunidades Eclesiais de Base – Cf. www.cebsuai.org
[5] Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – Cf. www.mst.org.br

Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejaram 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG, ontem, dia 25/10/2013, ao lado da Vila Corumbiara, no Barreiro em BH.


Sem mandato judicial, Polícia Militar de MG e guarda municipal da Prefeitura de Belo Horizonte despejaram 150 famílias de ocupação em Belo Horizonte, MG, ontem, dia 25/10/2013, ao lado da Vila Corumbiara, no Barreiro em BH.

Dia 25/10/2013, a Polícia militar de Minas Gerais e a Guarda Municipal de Belo Horizonte, semelhantemente ao que fizeram na Ocupação Zilah Spósito/Helena Greco há 3 anos atrás, foi arbitrária, agiu de forma ilegal, truculenta e se comportando como jagunços disfarçados de policiais e funcionários públicos. Entre a Vila Corumbiara e Vila Pinto, no Barreiro, em Belo Horizonte, MG, cerca de 150 famílias ocuparam há dez dias um grande terreno abandonado. Tentavam sair da cruz do aluguel, veneno que come no prato dos pobres, e da cruz que é sobreviver de favor, uma humilhação. Mas na manhã do dia 25/10/2013, dezenas de policiais militares de MG chegaram à Ocupação, que nem nome tinha ainda. Sem mandato judicial, de forma truculenta, ilegal e imoral, expulsaram as famílias sem-casa e sem-terra que estavam na ocupação. O povo foi enxotado sob a mira de fuzis e armas de grosso calibre, com bombas e gás lacrimogêneo. Quatro pessoas foram presas: uma vovó, a senhora Meire; um adolescente, um policial do exército e um jovem que voltava do trabalho. Motivo que justificasse as prisões? Nenhum. Somente para tentar intimidar o povo que se dispersou sob a ação militar que semeou o terror na região.
Abraço na luta.

Frei Gilvander Moreira – www.freigilvander.blogspot.com.br

Espaço Comum Luiz Estrela traz mais vida ao bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, MG. 26/10/2013.

Espaço Comum Luiz Estrela traz mais vida ao bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, MG.

Agentes socioculturais inauguram Centro Cultural em imóvel público abandonado há mais de 30 anos.

 Neste sábado, dia 26 de outubro de 2013, o Espaço Comum Luiz Estrela abre suas portas para a comunidade reativando um prédio público abandonado desde 1980 à rua Manaus, 348, no bairro de Santa Efigênia, Zona Leste de Belo Horizonte, MG. Vestindo figurinos teatrais, dezenas de agentes culturais e ativistas sociais de diferentes ideologias participaram de uma instalação artística que culminou com a devolução do prédio à comunidade. 
 A partir de agora, o  novo Centro Cultural de Belo Horizonte proporcionará à população, gratuitamente, experiências de criação e formação artísticas e políticas.  As atividades do Luiz Estrela começam no início do sábado com a distribuição de flores à comunidade do bairro. Em seguida, todos são convidados a tomar café da manhã no Espaço para conhecer melhor o projeto. Ao longo do dia, voluntários trabalharão na limpeza do local que está em avançado processo de degradação após mais de três décadas de descaso do poder público.
 A primeira das muitas atividades artísticas que o Centro Cultural vai  oferecer à população é o Sarau Luiz Estrela, que começa às 18h deste sábado, 26/10/2013, e deve encerrar-se até 22h para não incomodar os vizinhos. Durante o Sarau, todos que quiserem poderão apresentar textos, músicas e poesias.
 No domingo, a programação multicultural do Espaço Comum Luiz Estrela começa às 8h com aula de Hatha Yoga oferecidas por uma das voluntárias envolvidas no projeto. Às 18h, dia 27/10/2013, domingo, o músico Gustavito, destaque na produção musical contemporânea de Belo  Horizonte, fará uma apresentação acústica de seu trabalho. Antes do show, às 15h, domingo, 27/10/2013, acontecerá a primeira Assembleia Popular Horizontal do espaço para definir os próximos passos da gestão do Centro Cultural, bem como a programação da semana seguinte.  
               Por uma cidade mais participativa.
 O sentido de ocupar ganhou uma outra dimensão na capital mineira com o surgimento do Movimento Praia da Estação, em 2010. A partir daí, a luta por uma maior participação da população nas decisões políticas da cidade foi sendo intensificada com o surgimento de novos grupos e iniciativas. 
 Na esteira dos protestos de junho de 2013, diversos agentes de diferentes movimentos populares instalaram-se, pacificamente, na Câmara dos Vereadores e na Prefeitura de Belo Horizonte. As ocupações ampliaram as reivindicações da população por uma gestão pública mais democrática. 
 Tal contexto inspirou, entre outras ações, a fundação do Espaço Comum Luiz Estrela, mais novo Centro Cultural  de BH. O local será administrado de maneira horizontal e autogerida, proporcionando uma nova experiência de mobilização e participação social para a nossa cidade.  A ação é uma nova tentativa dos movimentos populares serem ouvidos pela administração local sobre as importantes reformas necessárias para o desenvolvimento sustentável de nossa metrópole. 
 Com o Centro Cultural ESPAÇO COMUM LUIZ ESTRELA, os ativistas pretendem incentivar a discussão sobre a democratização das decisões políticas da cidade, especialmente em questões ligadas às políticas públicas de cultura e ao uso e ocupação de áreas urbanas abandonadas.                                    
 Ocupações Culturais pelo Mundo.
 Grandes cidades globais enfrentam ou enfrentaram, em um passado próximo, problemas semelhantes ao vivido hoje por Belo Horizonte no que se refere ao sub-aproveitamento de sua área já construída.  Em muitos destes locais, especialmente na Europa, a população conseguiu acelerar o processo de reativação de espaços abandonados por meio de ocupações artísticas como a proposta para o Luiz Estrela.  
 Assim como nos bem sucedidos exemplos internacionais, todas as atividades desenvolvidas no Centro Cultural serão financiadas pelos frequentadores do espaço. A própria população se encarregará também das muitas tarefas ligadas à reforma do local que está muito degradado após 33 anos de total descaso do poder público. 
 Todos os interessados em conhecer e ajudar a (re)construir o local são bem vindos. Mais informações podem ser conseguidas em uma rápida visita ao Espaço (Rua Manaus,  348, bairro Santa Teresa, Belo Horizonte, MG) ou e http://www.facebook.com/espacoluizestrela

Luiz Estrela.
 Luiz Otávio da Silva, mais conhecido como Luiz Estrela, era uma pessoa. Vivia na rua e era amigo de muitos, principalmente dos artistas e dos habitantes do centro da cidade de Belo Horizonte. Poeta, escrevia seus pensamentos em folhas soltas, numa espécie de diário desencadernado. Participava das mobilizações artísticas e culturais da cidade, como carnaval de rua, Praia da Estação, Festival de Performance, atrações no Teatro Espanca!, no Nelson Bordello, entre outras.
 Era ainda um militante da diversidade. Homossexual, foi integrante da 'Gangue das Bonecas', um grupo de estudos que discute questões relacionadas ao gênero e diversidade sexual nas ruas. Com a gangue, também realizou intervenções urbanas pela cidade. 
 O Luiz Estrela era muitos, de muitas histórias, de muitas pessoas e foi covardemente assassinado por espancamento no centro de BH na noite de quarta-feira, 26 de junho de 2013. Sua morte brutal não foi investigada. Virou mais uma estatística para o poder público. Nos últimos dois anos, mais de 100 moradores em situação de rua foram assassinados em BH.
 Patrimônio Histórico.
 Desativado e abandonado desde 1980, o casarão onde agora funciona o  Espaço Comum Luiz Estrela tem uma extensa história.  O prédio foi inaugurado em 1913 para receber o Hospital Militar da Força Pública Mineira (atual Hospital da Policia Militar), primeiro Hospital Militar de Belo Horizonte.
 O ex-presidente Jucelino Kubitschek foi um dos médicos do HMFM de onde saiu em 1940 para assumir a prefeitura de Belo Horizonte. Em 1946, o hospital foi transferido para seu endereço onde funciona até hoje, na av. do Contorno, 2787, Santa Efigênia. No ano passado, o imóvel foi notícia em alguns jornais de BH devido ao seu lamentável estado de conservação, fato que começará a mudar com o surgimento do Espaço Comum Luiz Estrela.

Serviço.

Inauguração do Espaço Comum Luiz Estrela
Sábado, dia 26/10/2013,  e domingo, 27/10/2013,  entre 8h e 22h
Rua Manaus, 348, Santa Efigênia, Belo Horizonte, MG.

Contatos para imprensa
Victor Diniz – 31 9476 6367 (assessor de imprensa)

Um abraço terno.
Gilvander Luís Moreira
gilvanderlm@gmail.com
www.gilvander.org.br
www.freigilvander.blogspot.com.br 
facebook: Gilvander Moreira

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Polícia de MG está preparando para tentar despejar a Ocupação Wiliam Rosa, em Contagem, MG.

Polícia de MG está preparando para tentar despejar a Ocupação Wiliam Rosa, em Contagem, MG.
Por frei Gilvander Luís Moreira
Hoje, dia 23/10/013, de madrugada, recebi, via secretaria da CPT/MG, um e-mail (Ofício de convocação) do ten. Cel. comandante do 18º Batalhão da PM de MG, situado em Contagem, MG, me convidando, como assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), para reunião, hoje, dia 23/10, às 09:30h, para reunião de preparação para efetuar o despejo da Ocupação Wiliam Rosa, situada perto do CEASA/MG, no bairro Laguna, em Contagem, MG. Agradeço o convite e a manifestação de respeito e admiração pelo nosso trabalho e pelo trabalho da CPT em MG. Mas devo fazer sete considerações.
Primeiro, não poderei ir à reunião, porque devo fazer palestra em Seminário na PUC/MG, das 10 às 12:00h, hoje. Segundo, convite assim em cima da hora para quem tem agenda cheia ... Terceiro, agora, hoje, a partir das 09:00h está acontecendo Audiência Pública na Assembleia Legislativa de MG, na Comissão de Direitos Humanos, sob a liderança dos deputados Durval Ângelo e Rogério Correia, para discutir as violações de direitos fundamentais, especialmente do direito à moradia de 11.900 famílias que estão ameaçadas de despejo em 4 ocupações: 3.900 famílias da Ocupação William Rosa, localizada no Município de Contagem, 4.500 famílias da Ocupação Vitória, localizada no município de Belo Horizonte, 2.000 famílias da Ocupação Esperança, localizada entre a Ocupação Vitória e a Ocupação Rosa Leão, com 1.500 famílias, no bairro Zilah Sposito, em Belo Horizonte. É uma gravíssima contradição isso: enquanto se discute em Audiência pública como encontrar saídas justas para respeitar os direitos humanos do povo das ocupações, a PM fazer reunião para preparar despejo. Por isso também peço que a reunião da PM seja adiada.
Quarto, SE A CONSTITUIÇÃO FOR RESPEITADA, NENHUMA REINTEGRAÇÃO DE POSSE EM OCUPAÇÕES COLETIVAS PODE SER FEITA. Eu, frei Gilvander Moreira, concordo 100% com a professora Delze dos Santos Laureano ao dizer: "Se fossem mesmo levados a sério os direitos humanos fundamentais nenhuma reintegração de posse poderia ser feita nas ocupações coletivas, pois esses atos ferem de morte o direito à dignidade da pessoa humana, o direito à alimentação e à moradia. Afrontam, violentamente, tais decisões contra a democracia, os direitos das crianças, dos idosos, dos deficientes. Todos que estes recebem, por força da própria constituição, ainda que formalmente, a proteção do Estado."
Quinto, a Ocupação Wiliam Rosa já entrou com Agravo de Instrumento junto a TJMG questionando a Liminar de reintegração de posse concedida de forma atabalhoada e sem ouvir o outro lado, o das 3.900 famílias que ocupam o terreno. Há uma série de ilegalidades que estão sendo questionadas juridicamente. Por exemplo, o terreno está registrado em nome do Governo de MG e não do CEASA. O local apontado é diferente do local onde está a ocupação, etc.
Sexto, a história nos mostra que DESPEJO JAMAIS É SOLUÇÃO JUSTA para grave problema social como o que envolve essas 11.900 famílias das 4 ocupações acima referidas. Despejo só piora mil vezes o problema social. Acirra os ânimos, cria condições para se fazer massacres, o que é abominável. A solução justa para superar de forma justa esses conflitos sociais passa necessariamente por Política, por diálogo, por negociação, por política de habitação séria, popular e massiva, com participação social. Jamais polícia, repressão, vai resolver o problema que as ocupações urbanas e rurais estão desvelando.
Sétimo, temos em Belo Horizonte, dois exemplos que devem ensinar muito a todas as autoridades. Há 3 anos atrás, a tropa de choque da PM de MG acompanhou guardas municipais da prefeitura de BH e seus fiscais e gerentes e, sem decisão judicial, demoliram 11 casas de alvenaria na Ocupação Zilah Spósito/Helena Greco. Jogaram gás de pimenta no povo, inclusive em criança de 4 anos. Fizeram um terror. Mas, a Rede de Apoio chegou rápido e, sob a liderança da Defensoria Pública de MG, área de Direitos Humanos, conquistamos uma liminar que impediu demolir as 20 casas que resistiam em pé. Moral da história: Após 3 anos estão lá 160 casas de alvenaria construídas. Conquistamos a retirada do secretário da PBH, regional Norte, que comandou a operação. O Ministério Público denunciou 11 soldados que estão respondendo processos. E o povo está lá firme na luta. No Barreiro, dias 11 e 12 de maio de 2012, um verdadeiro aparato de guerra – 400 policiais, cavalaria, helicóptero da PM, caveirão – durante 36 horas, despejou 350 famílias da Ocupação Eliana Silva, aterrorizando as crianças que, abraçadas nas mamães, gritavam: “Mãe, a polícia vai nos matar.” Traumas indeléveis. Mas três meses depois, a Ocupação Eliana Silva ressuscitou ocupando outro terreno a um quilômetro de distância e hoje, após 1,5 ano já estão com 300 casas de alvenaria construída e a Comunidade segue, de cabeça erguida, sob a guia do MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas.
Enfim, eu poderia arrolar aqui outros argumentos, mais por ter que sair correndo para a palestra na PUC/MG, fico por aqui, na esperança de que as autoridades e os comandantes tenham a sensatez de não tentar despejar as 4 ocupações referidas, acima, e nenhuma outra, sem antes efetuar um profundo processo de negociação. Policiais são também trabalhadores, da classe trabalhadora e não estão obrigados a cumprir ordens que são contrárias à lei maior de Deus, que diz: Não matarás!
Abraço terno. Frei Gilvander Moreira