Campanha da Fraternidade de 2016, o papa
Francisco e nós:
o desafio do
saneamento básico.
Frei Gilvander
Luís Moreira[1]
1. Introdução.
Pela
quarta vez ecumênica, a Campanha da Fraternidade de 2016 (CF/2016) tem como Tema:
“Casa comum, nossa responsabilidade”,
como Lema: “Quero ver o direito
brotar como fonte e correr a justiça
qual riacho que não seca (Amós 5,24) e como Objetivo Geral: “assegurar o
direito ao SANEAMENTO BÁSICO para
todas as pessoas e nosso compromisso, à luz da fé no Deus libertador, na luta
coletiva por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade
e o futuro de nossa Casa Comum, o planeta Terra”.
2
- A falta de
saneamento básico interpela nossa consciência.
Nova resolução da ONU, de
dezembro de 2015, coloca o saneamento como um direito humano fundamental e destaca
a situação das mais de 2,5 bilhões de pessoas no mundo que vivem sem acesso a
banheiros e sistemas de esgoto adequado no mundo todo, o que favorece
proliferação de doenças infecciosas. Segundo a ONU,SANEAMENTO BÁSICO é um direito humano fundamental de todas as pessoas e
um dever do Estado. A CF/2016 busca engajar todas as pessoas cristãs na luta
por Justiça socioambiental, especificamente na luta pela implementação de
Saneamento Básico de qualidade para toda a população. Em 2013, segundo o Ministério
da Saúde (DATASUS), foram notificadas mais de 340 mil internações por infecções
gastrointestinais no país. Se 100% da população tivesse acesso à coleta de
esgotos sanitários, haveria uma redução em termos absolutos de 74,6 mil
internações. Logo, governos que deixam a população sem saneamento básico são
criminosos – os omissos também (quem sustentam os políticos corruptos), pois
promovem a morte de milhares de pessoas indiretamente. Mais de 100 milhões de
pessoas no Brasil ainda não possuem coleta de esgotos e apenas 39% destes
esgotos são tratados, sendo despejados diariamente o equivalente a mais de 5
mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento nos rios e cursos d’água. Os
rios não podem continuar sendo privadas receptoras de esgoto.
Mais de 4.000 crianças morrem por ano por falta de acesso a água potável
e ao saneamento básico. Na América Latina, as pessoas têm mais acessos aos
celulares que aos banheiros. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008
do IBGE, divulgada em 2010, as 13 maiores cidades do país são responsáveis por
31,9% de todos os resíduos sólidos no ambiente urbano brasileiro, 50,8% dos
quais foram levados para os lixões, local para depósito do lixo bruto, sobre o
terreno, sem qualquer cuidado ou técnica especial. A América do Norte e a
Europa mandam seus resíduos sólidos para a África e, infelizmente, também para
o Brasil. Em 2009 e 2010, portos brasileiros receberam cargas de resíduos
(LIXO) domiciliares e hospitalares. De Cubatão, em São Paulo, lixo tóxico cancerígeno
está sendo levado para Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte. Focando
apenas no Brasil, os lixões e aterros sem controle, localizam-se próximos ou em
áreas de residência de populações pobres, nas quais os habitantes são obrigados
a conviver com a sujeira gerada pelos demais moradores, resultando em injustiça
ambiental. Apenas 42% das moradias rurais no campo dispõem de água canalizada
para uso doméstico. Os outros 58% usam água de outras fontes, porém, sem nenhum
tipo de tratamento. Segundo o Censo de 2011, o Brasil tem 14.612.183
analfabetos, entre mais de 162 milhões de brasileiros com mais de 10 anos de
idade, ou 9,02% da população a partir dessa faixa etária. O Censo de 2011
detectou 16,2 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza
extrema, ou seja, 8,6% da população vive com uma renda nominal mensal domiciliar
per capita de até R$ 70,00 (Setenta reais). Desse total, 4,8 milhões não
possuem nenhum rendimento. Por isso, o saneamento rural deve ser implementado
de forma articulada com outras políticas públicas, tal como Reforma Agrária com
agricultura familiar agroecológica, de modo a superar o déficit de moradias,
dificuldade de acesso à eletrificação rural e ao transporte coletivo.
Saneamento básico e água potável, uma relação vital que exige a
paralisação de mineração devastadora como a que está sendo realizada em Minas
Gerais e no Pará. As mineradoras SAMARCO/VALE/BHP, em conluio com os poderes
públicos – o Estado – devastaram o Rio Doce com o maior desastre ambiental do
Brasil ocorrido dia 05/11/2015, a partir de Mariana, MG.
“Quero ver o direito brotar como
fonte e correr a justiça qual riacho que não seca (Am 5,24).” Para iluminar nossa
atuação em sintonia com a CF/2016 temos a profecia do profeta Amós. Provavelmente as composições mais antigas do livro do
profeta Amós (Am 1-6; 7-9) datam de meados do século VIII a.C., e surgiram como
literatura de protesto e resistência. “O acento principal da mensagem de Amós
está na crítica social e no anúncio de um juízo iminente de Deus na história,
bem como na tênue, mas clara exigência do restabelecimento da justiça como
alicerce das relações sociais”[2].
Amós é um profeta precursor, radical,
exemplar e paradigmático. A profecia de Amós é, em certo modo, um divisor de
águas na história da profecia no sentido de que instaura um novo jeito de ser
profeta.
O livro de Amós está organizado em duas
grandes unidades literárias: I) Am 1-6: Palavras e II) Am 7-9: Visões.
3.1 – Endurecimento ou perdão?
Amós,
em Am 4,4-13[3], reflete sobre Culto, história, endurecimento e perdão e nos
ajuda a refletir sobre três aspectos intimamente entrelaçados, fundamentais na
ética profética sobre a concepção de pecado em relação ao culto, à história e
aos limites de uma possível reconciliação com Deus. Diante do “pecou, pecou...
endureceu, endureceu..., haverá castigo ou perdão? A conclusão que se coloca na
base e no fim do estudo de Am 4,4-13 é “Prepare-se Israel, para encontrar-se
com seu Deus!” Trata-se de um anúncio de punição in extremis diante da
incapacidade de Israel de reagir, ou de uma velada promessa de perdão? Ou
existe outra interpretação possível?
A declaração final de Javé ao ser
humano que fecha a unidade Am 4,4-13 constitui-se quase como uma nova revelação
do Sinai, que deve por fim ao conflito entre o ser humano e a divindade, em
favor do ser humano. As punições pedagógicas de Javé deixam lugar a um
esclarecimento que abre o coração do ser humano para que veja o conjunto da sua
história e reconheça o processo de endurecimento de seu coração.
Am 4,4-13 evoca, portanto, uma
situação que há certa semelhança com aquela do relato das pragas do Egito, mas
não é obviamente, a recordação daqueles fatos. O discurso de Amós menciona,
talvez, um passado histórico não identificável nem pela forma e nem pelo
conteúdo do texto. As pragas do tempo do Êxodo feriam o Egito, não Israel, e de
uma maneira diferente da relatada em Amós 4. Além do mais, as tais “pragas”
eram no mundo antigo o resultado de situações críticas naturais ou políticas: a
fome era o resultado de toda estiagem prolongada e peste nas plantações, assim
como a morte dos jovens (v. 10) é o efeito de toda ação militarista, no mundo
antigo e moderno.
Às pragas ou punições descritas se
reúnem ainda a menção de Sodoma e Gomorra. O discurso de Amós 4 quer, portanto,
dar conta de toda a antiga história de Israel, também de Israel patriarcal,
para aplicá-la a uma nova situação.
Um ponto particular de relação com o
Êxodo é a presença do refrão “mas não retornastes a mim” que estrutura o
texto de Amós 4,4-13. Assim, como no relato das pragas o endurecimento do
coração do Faraó é o motivo estruturante que faz aumentar as pragas.
No relato do Êxodo, um primeiro grupo
de textos, atribuídos tradicionalmente à fonte Javista (J), apresenta de fato o
faraó como responsável pelo seu próprio endurecimento, como havia predito Deus.[4] O
outro grupo de textos (os chamados “heloístas”) atribuem a obstinação ora ao
faraó (Ex 9,35) ora a Deus mesmo (Ex 10,20.27). O relato sacerdotal (P) o
atribui habitualmente a Javé.
Esta diversidade de concepção no
atribuir a responsabilidade pelo pecado aparece também em outros textos fora do
Êxodo, com diferente vocabulário e problemática. Em 2 Sm 24,1, Javé é o
responsável direto pelo pecado de Davi devido ao recenseamento; Segundo 1 Cr
21,1 a responsabilidade é, ao invés, de Satanás. O verbo hebraico usado é o
mesmo: swt (= incitar, seduzir).
Tanto em Êxodo como em Am 4,4-13 se
coloca um grande problema exegético e teológico: É possível e legítimo que Deus
continue a aplicar punições que levam a um endurecimento sempre crescente? Não
se comporta Javé assim como o pai que exagera, com sua punição, o seu filho e o
força a se rebelar (cf. Ef 6,4)?
É necessário reconhecer que por trás
dos textos de endurecimento há o mistério da liberdade humana e “onipotência”
divina: amor infinito de Deus. Em relação a Deus, há uma consciência profética
que as obras e a Palavra de Deus não podem permanecer sem efeito (cf. Is
55,11), mas é sempre eficaz (diferente de eficiente). Se não produzem
imediatamente a conversão, devem amadurecer o sujeito para um novo castigo, o
que, em última análise, não exclui a possibilidade de conversão.
Em relação ao “castigado” (?), há
consciência do fato que a exortação à conversão, quando não ouvida, se torna
uma condenação. Isto é, nada mais, nada menos, que a dinâmica das relações
interpessoais. Quando duas pessoas se encontram e começam a se conhecer, a
relação pode progredir, parar ou eventualmente morrer. Mas enquanto existe,
cada ação e reação levam ao crescimento ou diminuição daquela relação. Todo ato
(ou omissão) nas relações interpessoais soma e cultiva a relação ou a empobrece
descultivando-a. Nenhum ato fica neutro.
De modo semelhante, na relação do ser
humano com Deus, cada ação que não melhora a relação, a piora, mas jamais a
deixa igual. Se não se aceita um convite à conversão, como uma oferta de
amizade, o recusa. E esta recusa tornará mais difícil que aconteça um novo
convite.[5] Além
disso, aceitar uma nova oferta de amizade, implicaria em reconhecer o erro
precedente, o que pode exigir um grau maior de humildade.
Em relação aos profetas e profetisas,
este processo se explica na medida em que os/as
“intérpretes de Javé” sabem do paradoxo da missão deles. Os profetas e
profetisas sabem que a palavra profética conduz às vezes à conversão de alguns
poucos, mas na maioria das vezes leva ao endurecimento de muitos. Os oráculos
de condenação no futuro, pronunciados com absoluta segurança, refletem a
consciência dos profetas de que a advertência seria inútil.
A consciência que os profetas e
profetisas têm das três realidades descritas acima se apresenta, de modo muito
claro, em Is 6,9-11: “Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de
fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o
coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para
que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda
com o seu coração, nem se converta e seja sarado. Então disse eu: Até quando
Senhor? E respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem
habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo assolada”.
3.2 – Amós,
conspirador e subversivo?
Em
Am 7,14 Amós se recusa a ser considerado profeta segundo a ótica de um sacerdote
vassalo do poder político. Amós se define como “vaqueiro” e cultivador de
sicômoros. Em Am 7,15 Amós parece ser um pastor que cuida do rebanho miúdo
(ovelhas e cabras), mas não um vaqueiro. Em Am 7,10-17 não há a intenção
primeira de descrever pessoalmente a profissão do profeta, mas enfatiza o fato
de que Amós foi retirado da sua vida precedente, do seu mundo, das preocupações
domésticas para proclamar a Palavra de Deus.
Am
7,10-17 quer legitimar o conteúdo da profecia de Amós e ajudar a comunidade a
superar todos os preconceitos que possam existir contra o profeta por causa da
sua origem humilde, como se fosse um “nordestino”, um sem-terra, um menor de
rua, um portador do vírus HIV etc. O relato de Am 7,10-17 quer nos dizer que a
profecia vem da margem, da periferia, do meio dos marginalizados e excluídos.
São estes, por excelência, os “intérpretes de Javé”.
Na
Bíblia esse “gênero” é utilizado para descrever de maneira diferente as
vocações de Moisés, Gedeão, Eliseu, Saul. Mas uma estreita relação se encontra
em 2Sam 7,8. Natã transmite a Davi a mensagem de Javé: “Eu te tirei das
pastagens, pastoreavas as ovelhas”. O elemento que caracteriza estas
situações não é o fato do convocado pertencer a um grupo, mas, ao contrário, o
fato de ele ser um “de fora”, um excluído. Assim Am 7,14 quer exprimir a
distância de Amós das formas institucionais da profecia e dos profetas “da
corte”.
O
relato do confronto entre o sacerdote Amasias e Amós (com a implicada presença
do rei) oferece a justificação da decisão de Javé. O povo não somente não ouviu
as diversas palavras transmitidas por Amós, mas decidiu silenciá-lo,
expulsando-o para sua terra. Já não há nada mais a esperar senão o fim
definitivo, e diante disso resta somente a lamentação. O profeta anuncia a
necessidade de conversão; pede perdão a Deus pelo povo; pede para parar a
punição. O rei (e a monarquia) e o Templo expulsam o profeta, silenciando-o. O
povo sofrerá muito mais. Ai de um povo que não escuta seus profetas e
profetisas, e pior ainda, que os persegue, expulsa e os silencia.
Em
Am 7,10-17 revela a interpretação que setores da classe dirigente tinham do
conteúdo da profecia de Amós. Aos olhos da elite, o profeta é um “conspirador”,
interessado em “golpe de estado”. Para Javé e o povo empobrecido Amós é um
profeta. Para a elite ele é um “subversivo”, um agitador.
3.3 – Vacas de Basã
são mulheres ou homens opressores?
Em Am 4,1-3 temos a seguinte profecia:
“OUVI esta palavra, vacas de Basã, que estais sobre monte de Samaria,
que oprimis os fracos, que esmagais os excluídos, que dizeis aos vossos
senhores: “Trazei-nos o que beber!”. O
Senhor Javé jurou, pela sua santidade: sim, dias virão sobre vós, em que
vos carregarão com ganchos e a vossos descendentes com arpões (de pesca). E
saireis pelas brechas que cada uma tem diante de si, e sereis empurradas em
direção ao Hermon, oráculo de Javé”.
Segundo
uma interpretação mais tradicional, Am 4,1-3 seria uma investida do profeta
Amós contra as mulheres ricas de Samaria, designadas como “vacas de Basã”,
mulheres de personagens importantes, que ocupam o tempo em luxuosos banquetes,
e ao mesmo tempo são responsáveis pela opressão e exploração dos empobrecidos.
A imagem de um banquete só de madames é, no mínimo, algo curioso em uma
sociedade reconhecidamente machista e patriarcal, assim como atribuir às
mulheres a responsabilidade pela opressão e pela injustiça.
A
região de Basã, como o Líbano e o Carmelo, é famosa pela fertilidade do solo. A
tristeza causada pela punição divina se manifesta na debilidade do Líbano, do
Basã, do Carmelo e do Saron (Is 33,9). Ao contrário, a generosidade divina se
expressa no nutrimento do povo com a “manteiga das ovelhas e dos touros de
Basã” (Dt 32,14). O anúncio messiânico, com o qual se conclui o livro de
Miquéias, inclui a promessa de um pasto abundante “em Basã e em Galaad, como
nos dias antigos (Miq 7,14). No ambiente de louvor do Sl 68, “Basã” são os
montes (v. 16) que testemunham, junto com o Sinai e a natureza, a grandeza das
obras de Javé. Logo integrar “Basã” numa imagem depreciativa é algo estranho ao
uso corrente de “Basã” na Bíblia.
De
“vaca de Basã” não se fala em nenhum outro lugar no Primeiro Testamento da
Bíblia. As montanhas de Basã são famosas pelos seus touros, cabritos e
carneiros (mas não vacas; cf. Dt 32,14). Por isso os touros de Basã podem ser
imagens dos inimigos poderosos (cf. Sl 22,13 e, sobretudo, Ez 39,18).
A
expressão “vacas de Basã” adquire um sentido mais verdadeiro dentro da cultura
bíblica se o termo “vacas” não for utilizado em relação a mulheres, mas a
homens, aqueles que quiseram ser como os touros de Basã, pela força deles,
autoridade e dignidade se tornaram “vacas”, com as conotações depreciativas que
as formas femininas podem ter no Primeiro Testamento.
Neste
contexto, os “seus senhores” (Am 4,1b, com sufixo masculino) se referem
provavelmente não aos “maridos”, como propõem algumas traduções, um uso pelo
qual não se tem nenhuma outra ocorrência, mas refere-se a uma pessoa de mais
autoridade (política). “Senhor”, além do freqüente uso como título divino, se
refere a Acab (2 Rs 10,2.3.6), ao Faraó (Gn 40,1), ao Rei da Babilônia (Jer
27,4), e em casos isolados a várias pessoas: “outros senhores...” (Is 26,13).
A
interpretação que propomos de “vacas de basã”, acima, está em sintonia com a
hipótese de que “vacas de basã” seja também uma alusão às estátuas cultuadas.
Logo, em Am 4,1-3 está uma forte denúncia do poder opressor de um “senhor” com
poder político de dominação respaldado por uma legitimação religiosa.
3.4 – Profeta Amós:
“Restabeleçam a justiça!”
A
profecia de Amós é “uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos
de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o governo
expansionista de Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de
empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C.”[6].
Em outros termos, o profeta Amós não apenas critica pessoas corruptas,
mas questiona também de modo muito forte o sistema gerador de pessoas
corruptas. Não somente as mazelas pessoais estão na mira do “camponês” que
entrou para a história como um grande profeta. Amós tem consciência de que o
problema fundamental da injustiça reinante na sociedade não é fruto somente de
fraquezas pessoais, mas tem como causa matriz estruturas socio-econômico-político-culturais
e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas. Na mira de Amós também
estão relações comerciais que causam endividamento, aprisionam pessoas e
escravizam, retirando a liberdade de ser pessoa humana.
Além
das denúncias sociais, a profecia de Amós destaca-se com o anúncio de um juízo
iminente de Javé na história do seu povo. Amós inverte as expectativas quanto a
um tão sonhado “dia de Javé” (Am 5,18-20). Este não será mais uma “ideologia de
segurança político-religiosa” pelos fortes de Israel. A perversão da justiça
para os pobres, a opressão dos empobrecidos e a exploração das pessoas mais enfraquecidas
clamam pelo juízo divino. O “dia de Javé” será um “dia mau” sobre os fortes de
Israel, sobre o estado tributário, suas instituições e seus agentes.[7]
Amós critica com
coragem a “corrida armamentista” de Israel. Ele anuncia que serão desmanteladas
as forças militares dos estados vizinhos (Am 1,5.8b.14b; 2,2b) e sobretudo de
Israel (Am 2,13-16; 3,11b; 5,2-3; 6,13-14).
O profeta Amós
denuncia duramente também as instituições religiosas que estão justificando o
processo de extorsão de tributos da população camponesa (Am 4,4-5; 5,21- 23). Pelo conluio com a opressão econômica a
religião oficial também será dizimada (templos) e seus agentes (Am 5,27; 7,9;
9,1). “Odeiem o mal e amem o bem:
restabeleçam no portão a justiça!” (Am 5,15). “Aqui está a exigência
positiva por excelência na profecia de Amós. Os israelitas são conclamados a
reconstruir as relações sociais baseadas na justiça e no direito (mishpat
/ sedaqah). Só assim será possível escapar do juízo vindouro anunciado.
O futuro de um “resto” passa pela prática de Justiça”[8]. O
juízo abre caminho para a justiça. A presença dos profetas e profetizas no meio
do povo deixa Javé livre de qualquer responsabilidade diante da punição que o
povo merece.[9]
4 – Outras pistas bíblicas.
Na Bíblia há vários
relatos que exortam ao cuidado com as águas. Por exemplo: a) É preciso
organizar o povo – descentralização do poder e das decisões – para que as
pessoas sejam atendidas em suas necessidades, nos seus direitos e cuidem do ambiente
em que vivem (Êxodo 18,13-27); b) Devem manter a limpeza no acampamento, manter
as fezes cobertas para evitar sujeiras e doenças (Dt 23,13-14); c) cuidar e
tratar da água a ser consumida. As fontes, poços e cisternas devem ser mantidos
puros (Lev 11,36; Ex 15,23-25; 2 Rs 2,19-22); d) cuidar das árvores e bosques,
principalmente das árvores frutíferas (Lev 19,25; Dt 20,19; Jz 4,4-5).
Todas estas atividades devem estar sempre envolvidas com o cuidado para
com os mais pobres (Deuteronômio 23, 25; 24, 14-15.19-22, conforme Tiago
5,1-6). Assim como não se deve explorar o trabalhador, que tem o direito ao
descanso, também a terra, a cada sete anos deve ter o descanso (Levítico 25,
2-7).
Muitas
crises estão afetando as pessoas e todos os demais seres que habitam nossa Casa
Comum, o planeta Terra. A crise ecológica já acendeu o sinal vermelho há muito
tempo. Que “o mundo está em chamas”, já dizia, ainda no século XVI, Teresa de
Jesus, espanhola e freira carmelita, uma das três mulheres consideradas
doutoras pela Igreja. O que acontece, todavia, é que do século XVI para cá, o
modo de produção industrial, os estilos de vida impostos pelo modelo
capitalista e tecnocrático somente agravaram os problemas ambientais no
Planeta. “Não brinque com fogo”, dizia a mamãe Leontina. Urgente se tornou
interrompermos a espiral de autodestruição da humanidade e de todo o planeta.
Como
assessor da Comissão Pastoral da Terra, de Comunidades Eclesiais de Base e como
militante de Movimentos Sociais do campo e da cidade, li com alegria a carta
Encíclica “Laudato Si’”. E dessas janelas que tomo a liberdade de dialogar com
os ensinamentos do papa Francisco, ressaltando alguns posicionamentos dele e
arriscando a assinalar algumas ausências e lacunas. É uma oportunidade para
refletir acerca de outros pontos de vista e posturas a partir da práxis de
Movimentos Sociais Populares.
Com o
auxílio dos omissos, dos cúmplices e dos coniventes, o capitalismo causou – e
continua aprofundando – a maior crise ecológica de todos os tempos dos humanos
sobre a face da terra. As mineradoras
com suas máquinas pesadas, cada vez mais potentes, como dragões cuspindo fogo,
dizimam milhões de nascentes d’água pelo mundo afora. Ao formar crateras,
deixam a mãe Terra dilacerada. Grandes empresas do agronegócio ampliam as
monoculturas de eucalipto, de soja, de café, de cana etc e, assim, deixam um
rastro de destruição nunca antes visto. O esgotamento dos solos férteis é um
risco para a segurança e soberania alimentar da humanidade. Megaempresas do
hidronegócio transformaram a água em mercadoria. Um litro de água em alguns
lugares, como aeroportos, custa um absurdo.
Nesse
contexto dramático, que interpela a consciência de todas as pessoas de boa
vontade, faz-se necessário resgatar a profecia do Concílio Vaticano II e da
Opção da Igreja pelos pobres e pelos jovens, opção da Igreja afrolatíndia.
Imprescindível ouvirmos os clamores de todos os
injustiçados, entre os quais a Terra, as nascentes de águas e toda a
biodiversidade. Não podemos tardar mais em levar a sério o testemunho e os
ensinamentos do papa Francisco na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, no seu Discurso aos Movimentos Sociais na
Bolívia e na Carta Encíclica Laudato Si’,
sobre o cuidado da casa comum. Não há como levar a sério o testemunho e os
ensinamentos do papa Francisco sem nos comprometer com a implementação de
Saneamento Básico para toda a população brasileira.
5.1 - A dimensão social da fé a partir da
Exortação apostólica A Alegria do Evangelho
O cap. IV de A Alegria
do Evangelho (EG) trata justamente da Dimensão Social e econômica da fé
cristã. Prestemos atenção a algumas afirmações do papa Francisco:
Se a dimensão social da evangelização não for devidamente
explicitada, corre-se o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da
missão evangelizadora (EG 176).“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter
saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se
agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o
centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.” (EG
49).
Além de ser pobre e para os pobres, a Igreja desejada por Francisco é
corajosa em denunciar o atual sistema econômico, "injusto na sua raiz" (EG 59). Como disse João Paulo II, a Igreja "não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça" (EG
183). "Saiam!" é a essência da mensagem que o papa Francisco envia
aos bispos, padres e membros das comunidades cristãs. Saiam das suas cômodas
estruturas eclesiais burguesas e do caloroso círculo dos convencidos, anunciem
o Evangelho às periferias das cidades, aos marginalizados pela sociedade, aos
pobres, aos injustiçados!
Às
questões sociais, o papa Francisco dedica
dois dos cinco capítulos da Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, o segundo e o quarto. Critica o
"fetichismo do dinheiro" e "a ditadura de uma economia sem rosto
e sem um objetivo verdadeiramente humano", versão nova e implacável da
"adoração do antigo bezerro de ouro". Ele critica o atual sistema
econômico: "esta economia que mata"
porque prevalece a "lei do mais
forte". Este se opõe à cultura do "ser humano descartável"
que criou "algo novo" e
dramático: "Os excluídos não são
'explorados', mas resíduos, 'sobras'" (EG 53). Enquanto não se
resolverem radicalmente os problemas dos pobres, renunciando "à autonomia
absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas
estruturais da desigualdade social – insiste –, não se resolverão os problemas
do mundo e, em definitivo, problema algum". E indica que as raízes dos
males sociais estão na "desigualdade
social”.
A Igreja
não deve ficar indiferente a tais injustiças. A economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno,
como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de
trabalho e criando assim novos excluídos (EG 204). O papa Francisco dedica
páginas à denúncia da "nova tirania
invisível, às vezes virtual" em que vivemos, um "mercado divinizado", onde reinam a
"especulação financeira", a
"corrupção ramificada", a
"evasão fiscal egoísta"
(56).
5.2 - O Papa Francisco de mãos dadas com os Movimentos
Sociais
É
eloquente o papa Francisco iniciar a Carta Encíclica Laudato Si’ exclamando:
“Louvado sejas, meu Senhor”, invocando o Cântico das criaturas, cantado por
Francisco de Assis. Por vários motivos: Primeiro, porque “Louvado sejas” dito
diante do planeta Terra e de toda a biodiversidade revela admiração e encanto
pela natureza que nos envolve e da qual fazemos parte. Segundo, pedagogicamente
é mais promissor conclamar para o compromisso com a defesa da nossa única casa
comum a partir do encantamento e da beleza e não a partir do medo e da
insegurança que despertam tantas mazelas socioambientais.
Uma
convicção profunda permeia toda a Encíclica Laudato Si’, convicção que o papa
Francisco, carinhosamente, propõe a todas as pessoas de boa vontade: “Visto que todas as criaturas estão
interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o valor de cada uma,
e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros (42).” Isso mesmo:
Nós, seres humanos, somos os seres vivos que mais dependem de todos os outros
seres vivos. Logo, é estupidez o antropocentrismo que exalta o ser humano
individualmente abrindo, espaço para o sistema pisar, violentar e assassinar
tantos seres vivos.
O papa
Francisco adverte já no segundo parágrafo: “Entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que “geme e sofre
as dores do parto” (Rm 8,22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2,7) (2).” Ninguém deve ficar
indiferente. “À vista da deterioração
global do ambiente, quero dirigir-me a cada pessoa que habita neste planeta
(..) Nesta encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca
da nossa casa comum (3).”
Que nada
nos seja indiferente! Que beleza ver o papa Francisco olhando para além dos
muros da Igreja Católica e conclamando ao diálogo todas as pessoas crentes ou
não, todas as igrejas, todas as religiões. E diálogo com todos os seres vivos
da Terra, acrescentamos.
Ao longo
da Encíclica Laudato Si’, o papa Francisco inúmeras vezes se refere a “ser
humano”, “nosso comportamento irresponsável”, “os seres humanos que destroem a
biodiversidade” (8), “a humanidade”, “atividade humana” e a termos similares,
para de alguma forma responsabilizar a todos pela gravidade da crise ecológica.
Aqui, da perspectiva dos Movimentos Sociais e das ciências sociais críticas ao
capitalismo, é imprescindível ponderar a existência de classes sociais com
interesses antagônicos e contraditórios na sociedade. Os principais
responsáveis pela devastação socioambiental são a classe dominante, os que
detêm o poder econômico e político na sociedade. A classe trabalhadora não está
isenta de responsabilidade socioambiental vigente, mas é muito mais vítima do
que algoz nos crimes socioambientais que ora estão sendo perpetrados. Nesse
ponto, o papa Francisco foi mais contundente no Discurso aos Movimentos Sociais
na Bolívia em junho de 2015.
Que bom
ouvir do Papa: “Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é
frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. ...
Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a
justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior (10).” Para
o Chico de Assis, qualquer criatura era uma irmã, inclusive a morte.
Além de
resgatar os ensinamentos e o testemunho libertador de Francisco de Assis, é
indispensável cultivarmos a memória de todos/as mártires e lutadores por
justiça socioambiental, como Chico Mendes; Zé Maria Tomé da Chapada do Apodi,
mártir da luta contra os agrotóxicos; Francisco Anselmo, mártir da luta contra
a instalação de Usinas de álcool e açúcar no Pantanal; José Cláudio Ribeiro e
Maria do Espírito Santo, casal de militantes socioambientalistas do Pará,
mortos por madeireiros; Augusto Ruschi e muitos outros/as.
“Francisco
pedia que, no convento, se deixasse sempre uma parte do horto por cultivar,
para aí crescerem as ervas silvestres (12).” Ao resgatar essa perspectiva
agroecológica do Chico de Assis, o papa nos dá o ensejo de dizer que sem
agroecologia não há salvação para a humanidade. O agronegócio, antiecológico,
com o uso indiscriminado e criminoso de agrotóxico, está envenenando a comida
do povo.[10]
5.3 5.3 - Uma luta complexa
O papa
Francisco está preocupado em “unir toda a família humana na busca de um
desenvolvimento sustentável e integral (13).” Mas, temos que alertar: a
categoria “desenvolvimento sustentável”, no início parecia apontar para uma
alternativa emancipatória. No entanto, há muito tempo essa categoria foi
absorvida pelas empresas e tornou-se uma peça de propaganda enganosa. Strictu sensu, falar em desenvolvimento
sustentável é contraditório, pois ‘desenvolvimento’ implica crescer
economicamente, progresso, o que necessariamente terá que consumir bens
naturais. E ‘sustentável’ é uma categoria da área da ecologia e implica
garantir a continuidade dos ciclos de matéria e energia, para as gerações
presentes e futuras. Logo, ou se desenvolve e cresce economicamente ou se busca
alternativas para garantir a sustentabilidade ecológica. Diante da agudização
da crise ecológica, o ético e sensato nos parece ser manter a “comunidade de
vida” do planeta. Isso também por responsabilidade geracional. O próprio papa
Francisco adverte na Encíclica:
Não
é suficiente conciliar, a meio-termo, o cuidado da natureza com o ganho
financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os
meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. ... O discurso do
crescimento sustentável torna-se um diversivo (tergiversação) e um meio de
justificação que absorve valores do discurso ecologista dentro da lógica da
finança e da tecnocracia, e a responsabilidade social e ambiental das empresas
reduz-se, na maior parte dos casos, a uma série de ações de publicidade e
imagem (194).
Na
perspectiva dos Movimentos Sociais transformadores, são inaceitáveis os
discursos e as práticas que dizem: “precisamos conciliar desenvolvimento com
preservação ambiental”, “urge adequar os projetos mitigando os impactos
socioambientais”, “temos que adequar os grandes projetos dentro das normas
ambientais”. Isso é uma mentira. Busca-se dourar a pílula, criando uma fachada
de preocupação socioambiental para viabilizar a continuidade da máquina de moer
vidas. As megaempresas são geridas por executivos que, amarrados no mastro no
navio, ouvem e se deleitam com o canto da sereia do capital. De outro lado,
seguem os trabalhadores amarrados, (em)pregados aos seus postos de trabalho,
sem ter outra alternativa de vida, sustentando o sistema a troco de quase nada.
“A
contínua aceleração das mudanças na humanidade e no planeta junta-se, hoje, à
intensificação dos ritmos de vida e trabalho (18).” O produtivismo, o trabalho
por metas, a intensificação do ritmo de trabalho, a produção o mais rápido
possível, a terceirização e a precarização das condições de trabalho estão
desumanizando milhões de pessoas. Aumenta-se assustadoramente o número de
adoecimentos por trabalho extenuante.
A
poluição afeta a todos, causada pelo transporte, pela fumaça da indústria,
pelas descargas de substâncias que contribuem para a acidificação do solo e da
água, pelos fertilizantes, inseticidas, fungicidas, pesticidas e agrotóxicos em
geral (...). A tecnologia, ligada à finança, é incapaz de ver o mistério das
múltiplas reações que existem entre as coisas e, por isso, às vezes resolve um
problema criando outros (20).”
Não é
apenas uma questão de incapacidade. A tecnologia não é neutra. Ela está, salvo
exceções, subserviente aos interesses dos grandes conglomerados econômicos.
Logo, a raiz reside no capital que usa a tecnologia para oprimir. A tecnologia
resolve um problema, mas cria outras grades, que prenderão muita gente.
Os
defensores da “sociedade de mercado” exaltam o crescimento econômico com
constante aumento da produção de mercadorias, como se isso fosse caminho para a
felicidade de todos. O que escondem é que “produzem-se
anualmente centenas de milhões de toneladas de resíduos altamente tóxicos e
radioativos. A Terra, nossa casa única e comum, parece transformar-se cada vez
mais em um imenso depósito de lixo (21).” Ora, quanto mais o capitalismo se
desenvolve mais concentra riquezas e devasta socioambientalmente o Planeta.
Urge
superar a cultura do descartável, construindo uma sociedade sustentável. “Ainda não se conseguiu adotar um modelo
circular de produção que assegure recursos para todos e para as gerações
futuras e que exige limitar, o mais possível, o uso dos recursos não renováveis
(22).” Precisamos desacelerar a máquina de moer vidas. É hora de dar mais
valor à nossa Casa Comum e aos bens naturais, que não são apenas “recursos
naturais”, assim vistos quando reduzidos ao aspecto estritamente econômico.
5.4 5.4 - Mudanças climáticas e outras questões
Estamos
perante um preocupante aquecimento do sistema climático (..) devido a alta
concentração de gazes com efeito de estufa (anidrido carbônico, metano, óxido
de azoto e outros) (23) (..) O aquecimento influi no ciclo do carbono. Cria um
ciclo vicioso que agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a disponibilidade
de bens essenciais como a água potável
(..) A perda das florestas tropicais piora a situação, pois estas ajudam a
mitigar a mudança climática (..) A
subida do nível do mar pode criar situações de extrema gravidade, se se
considerar que um quarto da população mundial vive à beira-mar (24).”
Que bom que o papa Francisco ecoe esses
alertas que vem sendo feitos por milhares de cientistas e experimentado por
bilhões de pessoas no mundo!
Está
ocorrendo um aumento assustador dos impactos ambientais. Os atingidos por
grandes projetos de mineração, de barragens e de hidroelétricas alertam: eles
não são apenas atingidos, mas massacrados. Mais: projetos de energia eólica,
considerada como energia limpa, estão causando impactos socioambientais em vários
estados do Nordeste brasileiro. Escondendo-se por detrás da capa de combustível
limpo, as grandes empresas da monocultura de cana-de-açúcar submetem milhares
de pessoas a trabalho exaustivo, dizimam nascentes e devastam a saúde de
milhões de pessoas com as nuvens de fumaça dos canaviais invadindo as cidades.
Anima-nos
muito na luta ver o papa Francisco se posicionar, denunciando a privatização
das águas e a restrição do seu acesso aos empobrecidos:
Enquanto
a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a
tendência para se privatizar esse recurso escasso, tornando-se uma mercadoria
sujeita às leis do mercado divinizado. Na realidade, o acesso à água potável e
segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina
a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros
direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que
não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado
na sua dignidade inalienável (30).
Vários
movimentos sociais e ambientais denunciam constantemente a destruição dos
nossos biomas, como o Cerrado, a Amazônia, o Pantanal, os Pampas, a Caatinga e
a Mata Atlântica, com a consequente perda de biodiversidade. Francisco também
assume esta causa com vigor:
A
perda de florestas e bosques implica simultaneamente a perda de espécies que
poderiam constituir, no futuro, recursos extremamente importantes não só para a
alimentação, mas também para a cura de doenças e vários serviços (32).
Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais (33).
Há um
problema que está na luta cotidiana dos movimentos sociais, e que o papa
abordou com clareza. Os estudos de impactos ambientais dos grandes projetos de
interesse do capital, realizados pelas empresas, geralmente são “para inglês
ver”. Subestimam drasticamente os impactos sociais, econômicos e ambientais que
acontecerão e exaltam os pretensos benefícios “sociais”. As comunidades vistas
como indiretamente afetadas normalmente são desconsideradas. Muitos dos
afetados diretamente são excluídos e a cantilena mentirosa se repete à
exaustão: “geraremos muitos empregos e desenvolvimento para a região”. Dizem,
mas não é assim que acontece. Todos nós somos afetados de alguma maneira pelos
impactos socioambientais negativos.
Quando
se analisa o impacto ambiental de qualquer iniciativa econômica, costuma-se
olhar para os seus efeitos no solo, na água e no ar, mas nem sempre se inclui
um estudo cuidadoso do impacto na biodiversidade, como se a perda de algumas
espécies ou de grupos animais ou vegetais fosse algo de pouca relevância (35).”
Outro
problema socioambiental, que atinge uma imensa área do Brasil e é normalmente
ignorado, consiste na lenta perda de qualidade dos nossos mares e oceanos.
Francisco alerta:
Os
oceanos contêm não só a maior parte da água do planeta, mas também a maior
parte da vasta variedade dos seres vivos (40). Passando aos mares tropicais,
encontramos os recifes de coral, que equivalem às grandes florestas da terra
firme, porque abrigam cerca de um milhão de espécies, incluindo peixes,
caranguejos, moluscos, esponjas, algas e outras. Hoje, muitos dos recifes de
coral no mundo já são estéreis ou encontra-se num estado contínuo de declínio
(41).
Quem transformou o maravilhoso mundo marinho
em cemitérios subaquáticos despojados de vida e de cor?”(41)”, interpela-nos
o papa Francisco, citando Carta Pastoral dos Bispos das Filipinas. Eh! Olhando
de longe o mar, só se vê muita água. Mas, se observarmos de perto,
descobriremos que os oceanos e mares são grandes berços de vida. Infelizmente
vêm sendo irresponsavelmente envenenados pelo lixo de todo tipo.
Uma
importante bandeira dos movimentos populares, amplamente defendida no nosso
continente latino-americano, diz respeito à segurança e soberania alimentares.
Ou seja, os mecanismos para produzir e distribuir alimentos, de forma justa,
saudável e ecologicamente sustentável. Também desta questão se ocupa a Laudato Si. Denuncia que “se desperdiça
aproximadamente um terço dos alimentos produzidos”, e “a comida que se
desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre (50).” O problema de fundo
não é a falta de alimentos, mas a concentração dos alimentos que impede sua
socialização. No capitalismo, alimento é considerado como mercadoria, e não um
direito humano fundamental. Outro problema: se produz em quantidade cada vez
maior, mas com a qualidade cada vez menor. Ou seja, com o uso indiscriminado de
agrotóxico, a alimentação está cada vez mais envenenada. Enfim, a comida
desperdiçada e envenenada furta dos pobres a saúde e o bem-estar.
O papa
assume na Encíclica Laudato Si’ o que disseram os bispos do Paraguai na Carta
pastoral El campesino paraguayo y la
tierra, de 1983:
Cada
camponês tem direito natural de possuir um lote razoável de terra, onde possa
gozar de segurança existencial. Este direito deve ser de tal forma garantido
que o seu exercício não seja ilusório, mas real. Isto significa que, além do
título de propriedade, o camponês deve contar com meios de formação técnica,
empréstimos, seguros e acesso ao mercado (94).
O papa
Francisco apoia a agricultura familiar e critica o agronegócio como um causador
do êxodo rural ao dizer:
Há
uma grande variedade de sistemas alimentares rurais de pequena escala que continuam
alimentando a maior parte da população mundial, utilizando uma porção reduzida
de terreno e água e produzindo menos resíduos, quer em pequenas parcelas
agrícolas e hortas, quer na caça e coleta de produtos silvestres, quer na pesca
artesanal. As economias de larga escala, especialmente no setor agrícola,
acabam forçando os pequenos agricultores a vender as suas terras ou a abandonar
as suas culturas tradicionais (129).
Respaldando
o documento Uma terra para todos, dos
bispos da Argentina, de 2.005, o papa Francisco questiona o uso de sementes e
produtos transgênicos ao afirmar:
Em
muitos lugares, na sequência da introdução das culturas transgênicas,
constata-se uma concentração de terras produtivas nas mãos de poucos, devido ao
“progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, em consequência da
perda das terras cultivadas, se viram obrigados a retirar-se da produção direta
(134).”
O papa
Francisco denuncia a desigualdade planetária. Citando a Carta pastoral dos
Bispos da Bolívia, afirma: “tanto a experiência comum da vida cotidiana como a
investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as
agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres (48).”
Em uma
sociedade onde os pretensos valores da sociedade capitalista – individualismo,
competição, egocentrismo e acumulação – são trombeteados aos quatro ventos,
todo mundo de alguma forma agride o meio ambiente. Mas os principais
devastadores socioambientais são os que movimentam “as grandes máquinas do
mercado” que como dragões vão cuspindo fogo e deixando um rastro de devastação
por onde passam. Nesse sentido, “uma
verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve
integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor
da terra como o clamor dos pobres (49).”
Ora, a
justiça socioambiental implica em justiça agrária, justiça urbana e justiça
social. E conquistaremos isso com lutas coletivas por terra, por moradia digna,
por direitos fundamentais humanos. Como luz, fermento e sal, os/as militantes
dos Movimentos Sociais estão comprometidos de forma abnegada nessas causas.
5.5 5.5 - Ouvindo o grito dos pobres e o grito da terra
“Os gemidos da irmã terra se unem aos gemidos
dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo (53).”
Gemidos que se tornam, cada vez mais, clamores ensurdecedores. Qual rumo
seguir? Com sabedoria, o papa Francisco pondera: “as soluções não podem vir de uma única maneira de interpretar e
transformar a realidade. É necessário recorrer também às diversas riquezas
culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade
(63).” Sim, lutas coletivas são imprescindíveis, mas junto com o cultivo
das artes e culturas populares, da música, e o cultivo de uma mística
libertadora.
Diz o
papa Francisco: A narração do Gênesis,
que convida a dominar a terra (cf. Gn 1,28), apresentando uma imagem do ser
humano como dominador e devastador, não é uma interpretação correta da Bíblia
(..) É importante ler os textos no seu
contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que eles nos convidam a
“cultivar e guardar” o jardim do mundo (cf. Gn 2,15) (67) (..) A Bíblia não dá
lugar a um antropocentrismo despótico, que se desinteressa das outras criaturas
(68).” Arrisco-me a dizer que a Bíblia não referenda nenhuma forma de
antropocentrismo.
Francisco
reafirma um princípio inarredável do Ensinamento social da Igreja: o destino
comum dos bens.
A
tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à
propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de
propriedade privada. ... Sobre toda a propriedade particular pesa sempre uma
hipoteca social, para que os bens sirvam ao destino geral que Deus lhes deu
(93).
Com os
bispos da Nova Zelândia, o papa pergunta “que significado tem o mandamento “não
matarás”, quando “uns vinte por cento da
população mundial consomem recursos numa medida tal que roubam às nações
pobres, e às gerações futuras, aquilo de que necessitam para sobreviver (95).”
Isso nos leva a recordar o Decálogo bíblico (Ex 20,1-17), que ao longo da
história foi reduzido aos “Dez Mandamentos”. O Decálogo não se dirige apenas a
pessoas individualizadas, mas a todo o povo, à sociedade inteira. Logo, não são
apenas as pessoas que não podem matar, roubar ou adulterar. É a sociedade, o Estado, as
empresas e as instituições que não podem matar, nem direta e nem
indiretamente. Assim, o decálogo constitui princípios da Constituição de um
povo em marcha de libertação, de emancipação.
Os
Movimentos Sociais tem claro que é insuficiente alertar a todos para aderir a
um estilo de vida simples e austero e fazer “sua parte”. É preciso “derrubar do
trono os poderosos e elevar os humildes” (Lc 1,52), o que se fará com
enfrentamentos, com lutas coletivas de resistência e ensaios de propostas
transformadoras. Urge amar os injustiçados nos colocando ao lado deles, para
com eles e a partir deles lutarmos pelos seus direitos sociais negados. É
urgente amarmos os opressores fazendo o possível para retirarmos das suas mãos
as armas da opressão.
Muitos
daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem
concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas,
procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas. ...
Tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes de fazer
com que, nos próximos anos, a emissão de anidrido carbônico e outros gases
altamente poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os
combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável (26).”
5.6 - A opressão que vem da tecnocracia
O papa
Francisco aponta a tecnocracia como raiz humana da crise ecológica; o governo
com decisões ancoradas em argumentos “técnicos”, que não são neutros e nem
somente científicos. Diz ele: “A
humanidade entrou numa nova era, em que o poder da tecnologia nos põe diante de
uma encruzilhada. Somos herdeiros de dois séculos de ondas enormes de mudanças”
(102). Mas os avanços tecnológicos não têm sido democratizados. Ao contrário,
têm fortalecido as desigualdades sociais aumentando o abismo entre enriquecidos
e empobrecidos. O papa pergunta: “Poder-se-á negar a beleza de um avião ou de
alguns arranha-céus? (103).” São exuberantes, sim, mas não podemos esquecer que
grande parte da população continua excluída de acessar os aviões e muitos
arranha-céus são catedrais do mercado idolatrado.
Francisco
denuncia a falta de democratização do paradigma tecnocrático:
Os
produtos da técnica não são neutros, porque criam uma trama que acaba
condicionando os estilos de vida e orientam as possibilidades sociais na linha
dos interesses de determinados grupos de poder. Certas opções, que parecem
puramente instrumentais, na realidade são opções sobre o tipo de vida social
que se pretende desenvolver (107).
Sim, a técnica
geralmente antes de criar produtos mercadológicos cria consumidores,
despertando desejos e necessidades artificiais.
O papa
advoga no sentido de “limitar a técnica,
orientá-la e colocá-la ao serviço de outro tipo de progresso, mais saudável,
mais humano, mais social, mais integral (112). Ora, o rumo emancipatório
parece exigir mais do que limitar o desempenho atual e buscar outro tipo de
progresso. Sugerimos ainda: acreditar, fomentar e desenvolver técnicas
populares, fruto da sabedoria das populações tradicionais, como as alternativas
camponesas de convivência com o semiárido. O atual modelo de progresso não é
saudável, nem humano, nem social, nem integral. É, sim, doentio, desumano,
egocêntrico e desintegrador do tecido social. Não dá para remendar; é preciso
uma mudança radical.
5.7 5.7 - Nem antropocentrismo e nem biocentrismo
Ao alertar para o risco de considerar a
pessoa humana apenas mais um ser entre outros, o papa Francisco diz que um
antropocentrismo desordenado não deve necessariamente ser substituído por um
“biocentrismo” (118). Recair em um biocentrismo será certamente um problema. Mas todo e qualquer tipo de
antropocentrismo é problema, pois hierarquiza as relações entre os humanos e
outros seres vivos.
Essa hierarquização pavimenta o caminho para estruturação de poder-dominação, o
que implementa violência sem fim.
O papa
não esquece a importância de uma ecologia cultural. Afirma:
O
desaparecimento de uma cultura pode ser tanto ou mais grave do que o
desaparecimento de uma espécie animal ou vegetal. A imposição de um estilo
hegemônico de vida ligado a um modo de produção pode ser tão nocivo como a
alteração dos ecossistemas (145).
Para
orientar nossa ação conjunta, o papa Francisco reconhece que sobre a crise
ecológica todas as pessoas têm responsabilidades, mas diferenciadas. Com os
bispos da Bolívia, assevera: “Os países
que foram beneficiados por um alto grau de industrialização, à custa de uma
enorme emissão de gases com efeito de estufa, têm maior responsabilidade em
contribuir para a solução dos problemas que causaram (170).” Tem sim, mas
se não forem pressionados pelos cidadãos/ãs e os movimentos sociais, os países
que acumularam riquezas e poder jamais irão descer do pedestal voluntariamente,
pois o poder político que os governa está em grande parte no comando do grande
capital transnacional (cf. 175). Solidariedade todo mundo pode fazer, mas lutar
por justiça implica contrariar interesses de quem está no poder. Poucos se
atrevem a fazer isso. Por isso é preciso opção pelos pobres, o
que implica revelar conflitos e lutar para superá-los de forma justa.
Ao
pugnar por diálogo e transparência nos processos decisórios, o papa Francisco
propõe: “Em qualquer discussão sobre um
empreendimento, dever-se-á por uma série de perguntas, para poder discernir se
este levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral: Para que fim? Por
qual motivo? Onde? Quando? De que maneira? A quem ajuda? Quais são os riscos? A
que preço? Quem paga as despesas e como o fará? (185).”
Bastante
lúcido, o papa pergunta: “Será realista
esperar que quem está obcecado com a maximização dos lucros se detenha para
considerar os efeitos ambientais que deixará às próximas gerações? (190)”
Óbvio que não. Para evitarmos o apocalipse que está sendo engendrado pelo
mercado, as mudanças necessárias virão a partir da luta coletiva e permanente
dos injustiçados, ou não virá.
Francisco
nos motiva a educar para a aliança entre a humanidade e o ambiente com pequenas
ações diárias, em um estilo de vida simples, humilde e sóbrio. Diz ele que isso
passa por “evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, separar
o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com
desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar
o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes
desnecessárias ... (211).”
Apontando
para a necessidade de encarnarmos um estilo de vida simples, humilde e austero,
o papa denuncia a falta de liberdade para a maioria na sociedade do mercado
divinizado: “O mercado tende a criar um
mecanismo consumista compulsivo para vender seus produtos, as pessoas acabam
sendo arrastadas pelo turbilhão de compras e gastos supérfluos. O consumismo
obsessivo é o reflexo subjetivo do paradigma tecnoeconômico (203). ... O referido paradigma faz crer a todos que
são livres, pois conservam uma suposta liberdade de consumir, quando na
realidade apenas a minoria que detém o poder econômico e financeiro possui a
liberdade (203).” Exatamente. Se não há liberdade real para a maioria, não
há Estado Democrático de Direito e nem democracia efetiva.
Como um
abnegado humanista e semeador de utopia que nos faz caminhar e lutar, Francisco
afirma:
Atrevo-me
a propor de novo o desafio considerável da Carta da Terra, de 2000: “Como nunca
antes na história, o destino comum obriga-nos a procurar um novo início (...).
Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar de uma nova reverência
diante da vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela
intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração
da vida” (207).
5.8 - Enfim, a luta continua. E o diálogo também.
Há
muitas outras afirmações, reflexões e posicionamentos do papa Francisco na
Encíclica Laudato Si’ que merecem ser ressaltadas, comentadas e difundidas.
Existem também alguns pontos que, lendo na perspectiva dos Movimentos Sociais,
exigem ampliação, aprofundamento ou mudança.
Ficamos
por aqui, com profundo sentimento de gratidão, admiração, respeito e alegria
por termos guiando a Igreja Católica o papa Francisco: uma pessoa mística,
profética, fraterna e terna. Para ele, bom pastor e profeta, “tiramos o
chapéu”!
De várias
formas, o papa Francisco, assim como Jesus de Nazaré, está nos dizendo: “Vocês
devem resolver o problema do Saneamento Básico. O povo está faminto também de
saneamento básico. É responsabilidade de vocês resolverem esse gravíssimo
problema que leva à morte de milhares de crianças e pessoas em todo o Brasil.”
[1] Padre da Ordem dos Carmelitas, bacharel e licenciado
em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia, mestre em Exegese Bíblica, doutorando
em Educação na FAE/UFMG, assessor de CEBs, CPT, CEBI e SAB; e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.freigilvander.blogspot.com.br –
face: Gilvander Moreira
[2] HAROLDO REIMER, “Amós – profeta de
juízo e justiça”, em Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas
releituras, RIBLA 35-36, Ed. Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo,
2000, p. 171.
[3] Sugiro que antes de você continuar a
leitura do texto, leia na Bíblia Am 4,4-13. Assim você entenderá melhor a
reflexão que se segue.
[4] Cf. Ex 7,14.22; 8,11.15.28; 9,7.34.
[5] Gato escaldado com água quente tem
medo até de água fria, diz a sabedoria popular.
[6] HAROLDO REIMER, “Amós – profeta de
juízo e justiça”, em Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas
releituras, RIBLA 35-36, Ed. Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo,
2000, p. 188.
[7] A fé em um Deus que é infinito amor
não coaduna com a existência de inferno como um lugar de punição. No entanto, se
não há algum tipo de inferno, os opressores ficarão sem nenhuma punição?
[8] HAROLDO REIMER, “Amós – profeta de
juízo e justiça”, em Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas
releituras, RIBLA 35-36, Ed. Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo,
2000, p. 189.
[9] Cf. Artigo de frei
Gilvander Moreira “A Bíblia respira profecia: se
calarem a voz dos profetas...”, Em Revista
ESTUDOS BÍBLICOS, Vol. 29, n. 113, Petrópolis, Ed. Vozes, jan/mar 2012, p. 37-56.
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