terça-feira, 29 de março de 2016

Governo de Minas Gerais (do PT), PM/MG, TJMG, INCRA e Latifúndio despejando hoje, dia 29/03/2016, 84 famílias que ocupam a Fazenda Marilândia, em Manga, no Norte de Minas há 18 anos. Nota da CPT.

Governo de Minas Gerais (do PT), PM/MG, TJMG, INCRA e Latifúndio despejando hoje, dia 29/03/2016, 84 famílias que ocupam a Fazenda Marilândia, em Manga, no Norte de Minas há 18 anos.
Nota da CPT.

Profundamente indignados/as, em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG), denunciamos o que segue: hoje, terça-feira, dia 29/03/2016, o Governo de Minas Gerais (do PT), PM/MG, TJMG, INCRA e Latifúndio estão despejando 84 famílias que ocupam a Fazenda Marilândia, em Manga, no Norte de Minas há 18 anos. Processo: 0024.03.982.125-1. Com um mega aparato de guerra – centenas de policiais fortemente armados, com tratores, caminhões, ambulâncias, cachorros – a Polícia Militar de Minas Gerais está a serviço do latifúndio e de um Estado opressor.
As 84 famílias da Baixa Funda, na fazenda Marilândia, ocupam a fazenda há 18 anos. Já produziram muito na fazenda ocupada nos últimos 18 anos. Estão sofrendo o 11º despejo. Sempre, após os despejos, as famílias reocupavam a fazenda. O processo jurídico está recheado de irregularidades. Sem audiência de conciliação na área do conflito agrário, a Vara Agrária de Minas determinou o 11º despejo, mesmo sabendo que o pretenso proprietário, Thales Dias Chaves, tinha vendido a fazenda para Antônio Taco ou Válter Arantes (o Valtinho), dizem que é dono da Rede de Supermercados BH e que já possui mais de 50 fazendas na região Norte de Minas.
Em centenas de hectares, as famílias têm plantações de mandioca, melancia, feijão, frutas, maracujá etc. Dezenas de casas de alvenaria estão sendo derrubadas pela PM de MG.
O que se diz atual dono da fazenda cometeu gravíssimo crime ambiental ao derrubar/devastar mais de 100 hectares de Mata que ainda (r)existia para plantar capim. Com tratores devastaram inclusive madeira de lei: aroeira e outros tipos de madeira nobre. As famílias foram ameaçadas de morte várias vezes pelo atual gerente da fazenda. Casas e barracos das famílias acampadas foram queimados nos últimos meses. O que fez o promotor do Ministério Público da comarca de Manga diante do crime ambiental, das ameaças e das casas que foram queimadas?
O oficial de justiça que está no local do despejo é Antônio Dourado. O acampado Josemar Silva dos Santos foi buscar uma carroça para tentar salvar os utensílios que estavam no barraco. Mas quando voltou com a carroça, a mando do oficial de justiça e da PM, com um trator já tinha derrubado o barraco do Sr. Josemar. Destruiu tudo: as panelas, cuia, lata d’água, inclusive o pouco de alimento que havia no barraco. Tudo foi transformado em entulho.
A fazenda Marilândia tem 2.212 hectares e há indícios de grilagem de terra na fazenda. A Santa Casa teria sido uma das proprietárias da fazenda no passado.
O INCRA tem sido omisso e cúmplice dessa grande violência que está sendo perpetrada contra 84 famílias, pois poderia ter desapropriado ou comprado a fazenda. Ou, pelo menos, desapropriado outra fazenda próxima do local para acolher as famílias que lutam aguerridamente pela terra há 18 anos. As famílias estão produzindo alimentos que eram vendidos na feira da cidade de Manga semanalmente.
A Defensoria Pública de MG, através da Dra. Ana Cláudia Alexandre, entrou com várias petições e ofícios alertando para as inúmeras irregularidades que estão no processo e em um despejo sem negociação. O novo código civil exige conciliação prévia antes de ordenar reintegração de posse. Em uma única reunião da Mesa de Negociação com as Ocupações urbanas e do campo, na Cidade Administrativa, a defensora pública, Dra. Ana Cláudia, e agentes da CPT enumeraram as inúmeras irregularidades do processo e a estarrecedora injustiça e violência que estava sendo perpetrada.
Exigimos que o governador de MG, Fernando Pimentel e/ou o Comandante Geral da PMMG, Cel. Bianchine mande a PM paralisar o despejo imediatamente. O PT de MG está alimentando o impeachment da presidenta Dilma? Como pode o Governo de MG mandar ou deixar a PM fazer uma atrocidade dessa? servir ao latifúndio. Humilhar, despejar e tripudiar em cima de 84 famílias, em um processo recheado de irregularidades, inconstitucional e imoral, para repassar a fazenda Marilândia para a rede de Supermercado BH que já tem mais de 50 fazendas na região norte de MG?
         A Defensoria Pública do estado de Minas Gerais requereu com urgência junto a Vara Agrária a suspensão da ordem de reintegração pelos motivos e vista dos autos, com carga, para requerer o que de direito: i – réus não identificados indefesos – ausência de intimação da curadoria especial – nulidade absoluta. Entre outros argumentos, afirma a Defensoria: “Com o advento do novo CPC -Lei nº 13.105/2015 as novas regras mais adequadas as exigências modernas de tutela dos direitos coletivos devem ser aplicadas no caso concreto em apreciação nesta lide. O conflito agrário envolve coletividade de pessoas indeterminadas, e, já desafiava a participação da Defensoria Pública como curadoria especial. Com o novo instrumento normativo tornou-se obrigatória a atuação da Defensoria Pública sempre que o litígio envolver grande número de pessoas hipossuficientes e a disputa pela posse da terra (conflitos coletivos pela posse da terra - art. 554, § 1º, do NCPC). O novo código traz em seu bojo este novo rumo, na busca de uma cultura de paz e não de litígios, logo no seu art. 3º, § 2º e 3º, estabelece como seu fundamento a busca consensual de solução dos conflitos:
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. FACE AO EXPOSTO, REQUER:
a)     A SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA LIMINAR QUE CONCEDEU  A REINTEGRAÇÃO DE POSSE  E A MARCAÇÃO DE UMA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO COM A PARTICIPAÇÃO DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS INTERESSADOS,APÓS INTIMAÇÃO, abrindo-se a partir de então prazo para apresentação de defesa pela defensoria Pública;
b)   A intimação da parte autora para regularizar a representação processual do polo ativo sob pena de extinção do feito;
c)    Após o deferimento dos pedidos acima, Vista dos autos com carga.”

Tudo isso está sendo ignorado pelo Governo de MG, PMMG e TJMG. Despejo só piora o caos social. Até quando essas injustiças se repetirão?

Assina essa Nota,
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – CPT/MG.
Para maiores informações:

Zilah, cel. (38) 99122 6130 ou com Gilvânia, cel. (38) 99155 7156

sábado, 26 de março de 2016

Dandara, ocupação-comunidade, em Belo Horizonte, MG: 7 anos de emancipaç...

Dandara, ocupação-comunidade, em Belo Horizonte, MG: 7 anos de emancipaç...

Dandara, 7 anos de luta emancipatória por moradia, em Belo Horizonte, MG...

Dandara: ocupação comunidade, em Belo Horizonte/MG: 7 anos de luta e mui...

Manifesto de religiosas e religiosos em defesa da democracia.

Manifesto de religiosas e religiosos em defesa da democracia

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. (Artigo 1ª da Declaração Universal de Direitos Humanos.)

Pertencemos a várias tradições religiosas. Queremos, com o nosso testemunho, contribuir para o diálogo e para a superação da crise pela qual passam o Brasil e diversos países da América Latina. Em nossas tradições a justiça é sagrada e sustenta a vida em igualdade. Os princípios que nos orientam não admitem que a avaliação de um grupo social se sobreponha ao outro, determinando, a partir de seus critérios e interesses, se um governo é bom ou ruim. Todos somos filhas e filhos do Criador. Por isso, todas as pessoas são portadoras dos mesmos direitos de avaliação e as mesmas obrigações com o bem comum e o bem viver.
Neste contexto de aflições, expressamos uma palavra de conforto e fortalecimento para irmãs e irmãos, companheiras e companheiros que vivem o seu testemunho em coerência com o projeto de igualdade e justiça. Colocamo-nos em comunhão com todas as pessoas perseguidas por causa do seu compromisso pela paz, pela justiça social e por um novo mundo possível. Por isso, afirmamos:
1 - Aprendemos pela fé que toda crise acarreta sofrimento, mas pode também ser como dores de parto, portadora de uma vida nova. Que essa experiência de dor nos ajude a rever os erros cometidos pelas instituições e poderes constituídos e por nós mesmos. Como pessoas de diferentes tradições religiosas, nem sempre cumprimos a missão de permanecer vigilantes para cuidar do exercício da Política e de seu papel de garantir direitos e promover o bem comum.
Que esse tempo nos encoraje para as autocríticas necessárias. Não nos deixemos tomar pelo desânimo e pessimismo. Repudiamos as manifestações de ódio, violência e intolerância que os meios de comunicação e a elite desse país têm insuflado na população. Não concordamos com a judicialização da política, com a partidarização da justiça e com a espetacularização de ações judiciais. Essas são práticas que contribuem para o descrédito das instituições e o acirramento de posições polarizadas, o que leva a população brasileira a desacreditar na justiça. Não podemos entrar no mesmo jogo. Optamos por manter o respeito a quem pensa diferente.
Defendemos o direito ao pluralismo democrático e ao contraditório. Sejamos fiéis ao diálogo sincero, mesmo com quem tem posições políticas contrárias às nossas.
2 – Lembramos que a corrupção, infelizmente, é antiga. Ela é inerente ao espírito do capitalismo, competitivo e individualista. Devemos nos empenhar para a superação dessa prática, nas esferas pública, empresarial e pessoal. Mas o combate à corrupção não pode ser um pretexto, como em diversas vezes na história do Brasil, para legitimar golpes de Estado que acarretaram perseguições e sofrimento para o povo.
3 – Reconhecemos que, além das causas oriundas de situações que são da realidade nacional, há sinais claros de interferências e patrocínios, oriundos de interesses internacionais. Esses interesses visam desestabilizar nossos países, quando nossas nações buscam independência política e econômica. Portanto, o que está acontecendo no Brasil não pode ser desligado das intervenções golpistas como as que aconteceram em Honduras e no Paraguai. Na Argentina, decisões judiciais a serviço dos interesses de corporações internacionais acarretaram prejuízos graves para aquele país. Vemos também a realidade brasileira ligada às tentativas de desestabilizar os governos da Bolívia, Venezuela, Equador e outros do continente.
Expressamos o nosso compromisso com as pessoas vulneráveis: povos indígenas, quilombolas, da floresta, mulheres, jovens negros e da periferia, LGBTTs, idosos, idosas entre outros que poderão ser profundamente impactados com os ajustes econômicos e com a ruptura da ordem democrática e do Estado de Direito.
A democracia é essencial para a convivência e a coexistência entre diferentes religiões, grupos e pessoas não religiosos. Por isso, permaneceremos vigilantes. É com a democracia que aprendemos a ser tolerantes com o outro. No entanto, nossas experiências de fé nos desafiam a irmos para além. Devemos caminhar em direção ao reconhecimento do direito do outro à existência.

Vamos fortalecer o diálogo e anunciar a paz!
24 de março de 2016. Dia Internacional para o Direito à Verdade e 36° ano do martírio de Oscar Romero.

Assinam:
Frei Rodrigo Peret, Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Franciscanos.
Frei Gilvander Luís Moreira, CPT
Etc...
Obs.: Religiosas e religiosos que quiserem assinar, esse Manifesto favor enviar adesões até o dia 29 de março para o email: secretariageral@conic.org.br 
Ao enviar a sua adesão precisamos de: Nome completo, título religioso (caso tiver) e tradição religiosa.



quarta-feira, 23 de março de 2016

QUATRO SOMBRAS AFLIGEM A REALIDADE BRASILEIRA. Por Leonardo Boff em 22/03/2016.

QUATRO SOMBRAS AFLIGEM A REALIDADE BRASILEIRA
Leonardo Boff, Adital - 22 de março de 2016

Em momentos de crise, assomam quatro sombras que estigmatizam nossa história cujos efeitos perduram até hoje.
A primeira sombra é nosso passado colonial. Todo processo colonialista é violento. Implica invadir terras, submeter os povos, obriga-los a falar a língua do invasor, assumir as formas políticas do outro e submeter-se totalmente a ele. A consequência no inconsciente coletivo do povo dominado: sempre baixar a cabeça e ser levado a pensar que somente o que é estrangeiro é bom.
A segunda sombra foi o genocídio indígena. Eram mais de 4 milhões. Os massacres de Mem de Sá em 31 de maio de 1580 que liquidou com os Tupiniquim da Capitania de Ilhéus e pior ainda, a guerra declarada oficialmente por D.João VI em 13 de maio de 1808 que dizimou os Botocudos (Krenak) no vale do Rio Doce manchará para sempre a memória nacional.
Consequência: temos dificuldade de conviver com o diferente, entendendo-o como desigual. O índio não é ainda considerado plenamente "gente”, por isso suas terras são tomadas, muitos são assassinados e para não morrerem, se suicidam. Há uma tradição de intolerância e negação do outro.
A terceira sombra, a mais nefasta de todas, foi a escravidão. Entre 4-5 milhões de pessoas foram trazidas da África como "peças” a serem negociadas no mercado para servirem nos engenhos ou nas cidades como escravos. Negamos-lhes humanidade e seus lamentos sob a chibata chegam ainda hoje ao céu. Criou-se a instituição da Casa Grande e da Senzala.
Gilberto Freyre deixou claro que não se trata apenas de uma formação social patriarcal, mas de uma estrutura mental que penetrou nos comportamentos das classes senhoriais e depois dominantes. Consequência: não precisamos respeitar o outro; ele está aí para nos servir. Se lhe pagamos salário é caridade e não direito.
Predominou o autoritarismo; o privilégio substitui o direito. Criou-se um Estado para servir aos interesses dos poderosos, e não ao bem de todos, e uma complicada burocracia que afasta o povo.
Raymundo Faoro (Os donos do poder) e o historiador e acadêmico José Honório Rodrigues (Conciliação e reforma no Brasil) nos têm narrado a violência com que o povo foi tratado para estabelecer o estado nacional, fruto da conciliação entre as classes opulentas sempre com a exclusão intencionada do povo. Assim surgiu uma nação profundamente dividida entre poucos ricos e grandes maiorias pobres, um dos países mais desiguais do mundo, o que significa um país violento e cheio de injustiças sociais.
Uma sociedade montada sobre a injustiça social nunca criará uma coesão interna que lhe permitirá um salto rumo a formas mais civilizadas de convivência. Aqui imperou sempre um capitalismo selvagem que nunca conseguiu ser civilizado. Mas depois de muitas dificuldades e derrotas, conseguiu-se um avanço: a irrupção de todo tipo de movimentos sociais que se articularam entre si.
Nasceu uma força social poderosa que desembocou numa força político-partidária. O Partido dos Trabalhadores e outros afins, nasceram deste esforço titânico, sempre vigiados, satanizados, perseguidos e alguns presos e mortos.
A coligação de partidos hegemonizados pelo PT conseguiu chegar ao poder central. Fez-se o que nunca foi pensado e feito antes: conferir centralidade ao pobre e ao marginalizado. Em função deles se organizaram, como cunhas no sistema dominante, políticas sociais que permitiram a milhões saírem da miséria e terem os benefícios mínimos da cidadania e da dignidade.
Mas uma quarta sombra obnubila uma realidade que parecia tão promissora: a corrupção. Corrupção sempre houve entre nós em todas as esferas. Negá-lo seria hipocrisia. Basta lembrar os discursos contundentes e memoráveis de Ruy Barbosa no Parlamento.
Setores importantes do PT deixaram-se morder pela mosca azul do poder e se corromperam. Isso jamais poderia ter acontecido, dado os propósitos iniciais do partido. Devem ser julgados e punidos.
A justiça focou-se quase só neles e mostrou-se muitas vezes parcial e com clara vontade persecutória. Os vazamentos ilegais, permitidos pelo juiz Sérgio Moro, forneceram munição à imprensa oposicionista e aos grupos que sempre dominaram a cena política e que agora querem voltar ao poder com um projeto velhista, neoliberal e insensível à injustiça social. Estes conseguiram mobilizar multidões, conclamando o impedimento da Presidenta Dilma, mesmo sem suficiente fundamento legal como afirmam notáveis juristas. Mas o PT respondeu à altura.
As quatro sombras recobrem a nossa realidade social e dificultam uma síntese integradora. Elas pesam enormemente e vêm à tona em tempos de crise como agora, manifestando-se como ódio, raiva, intolerância e violência simbólica e real contra opositores. Temos que integrar essa sombra, como diria C. G. Jung, para que a dimensão de luz possa predominar e liberar nosso caminho de obstáculos.
Nunca fui filiado ao PT. Mas apesar de seus erros, a causa que defende será sempre válida: fazer uma política integradora dos excluídos e humanizar nossas relações sociais para tornar a nossa sociedade menos malvada.
Leonardo Boff escreveu: Que Brasil queremos, Petrópolis, RJ: Vozes 2000.


segunda-feira, 21 de março de 2016

A dieta do fascismo e o tênue brilho da razão Mauro Santayana, em 20/03/2016.

A dieta do fascismo e o tênue brilho da razão
Mauro Santayana, em 20/03/2016.

A Agência Espacial japonesa lançou, há poucos dias, o Telescópio Astro-H, destinado ao estudo do espaço profundo, por meio da captação de raios-x.
Trabalhando a uma temperatura próxima do zero absoluto, as diferentes câmeras do Hitomi, ou “pupila” como também é conhecido, são capazes de identificar fontes extremamente distantes e tênues de raios X, e separar a sua luz em um espectro, semelhante a um arco-íris, identificando os fótons que a compõem, por meio da variação de sua temperatura individual, permitindo o estudo de estruturas supermassivas, como aglomerados de galáxias, e eventos de alta energia, como buracos negros.
Se dispuséssemos de um instrumento com acuidade semelhante para detectar, no universo político e empresarial brasileiro um brilho tênue de razão e equilíbrio, no caótico buraco negro marcado pelo radicalismo, a cegueira e a rápida sucessão de acontecimentos – muitos deles propositadamente fabricados - destes tempos confusos e sombrios, é possível que ele tivesse captado, no início desta semana, as observações feitas pelo empresário Eli Horn, fundador do Grupo Imobiliário Cyrela, após um evento organizado por sua empresa sobre as perspectivas para o Brasil e a importância do empreendedorismo.
Afirmando, em entrevista ao jornal Valor Econômico, estar otimista com a economia – sua empresa faturou mais de 3 bilhões de reais no ano passado (2015) – e que a “crise atual é pequena e faz parte da vida”, Horn deu a entender que é preciso negociar, e que a solução para a atual crise política é a realização de um acordo entre todos os partidos, que tenha como objetivo o “bem do país”.
“Tem que haver um acordo político – afirmou – e se os políticos quiserem, é possível fazê-lo. É só querer do fundo do coração.”
As afirmações de Elie Horn são um lampejo de razão, em um país dividido pela ambição, o egoísmo e a conspiração, caminhando celeremente para o abismo, em um momento em que parte daqueles que possuem mandato eletivo se lançam, desesperadamente, à derrubada do governo, sem perceber que há uma terceira força, descontrolada e radical, em ascensão, que se baseia e se alimenta da antipolítica e da sabotagem da governabilidade, e aposta na destruição da democracia como a conhecemos para entregar a tutela do Estado a castas sem voto, que agem colocando a lei a serviço de seus interesses, por meio da força discricionária do personalismo e do arbítrio.    
Tudo isso – não se iludam aqueles que acham que o Brasil amanhecerá um mar de rosas no day after de um eventual impeachment - seguindo uma estratégia contínua, permanente, coordenada, que está voltada para a conquista do poder, e que não será afrouxada, ou abandonada, se o PT for afastado do governo federal.
Ainda mais razão tem Elie Horn, em suas palavras, quando as ruas estão tomadas e ocupadas, como já ocorreu em praças de países que se autodestruíram, como o Egito, a Síria, a Líbia, a Ucrânia, por multidões desatinadas, verdadeiras colchas de retalho, que não dispõem de outro consenso que não o do ódio e já começam a agredir não apenas transeuntes ou cidadãos que não se curvam aos seus gritos e à sua vontade – convocando pela internet grupos de “bombados” imbecilizados para fazer isso - como qualquer um que delas se aproxime, reservando o culto da personalidade para “mitos” que se travestem, justamente, de “antipolíticos” e que se situam, até mesmo pelas “limitações” técnicas de seus cargos,  teoricamente à margem do contexto “político”.
Nas manifestações contra Dilma, um casal foi espancado, na quarta-feira, dia 16.
E um menino de 17 anos de idade quase foi linchado na quinta-feira em que a direção da FIESP mandou publicar anúncios coloridos de página inteira, com o apelo, em letras garrafais de RENÚNCIA JÁ, provavelmente dirigidos à Presidente da República.
A mesma quinta-feira em que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo ordenou, em uma cena digna de um filme de Fellini, que seus elegantes garçons servissem filé mignon, torta e purê de batatas aos líderes das forças antidemocráticas e anti-petistas acampadas em frente à sua sede da Avenida Paulista.
Como cidadãos e empresários, talvez tivesse sido melhor que os dirigentes da FIESP dessem ouvidos a ponderações como a do colega Eli Horn, proprietário da Cyrela, em vez de se deixar seduzir pela malta acampada em seus portões.
Até porque, apesar dos anúncios e do repasto, quando o Presidente da Federação, Paulo Skaf, saiu à rua, com alguns assessores, para tentar cantar, horas depois, o hino nacional entre os manifestantes, ele também foi escorraçado aos gritos, e teve que voltar, correndo, para o abrigo e a segurança de sua instituição, assim como ocorreu com outras autoridades e personalidades, como o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Morais, e o próprio Senador Aécio Neves e o Governador Geraldo Alckmin, também expulsos, no domingo, da Avenida Paulista, pela multidão.
A esperança é que esses episódios - principalmente os espancamentos ocorridos na principal via pública do país - abram o ouvido dos surdos e os olhos dos cegos, e contribuam, didaticamente, no universo político e do empresariado, e no que resta de bom senso na opinião pública, para o entendimento de uma verdade histórica simples e cristalina: 
Como as feras do Coliseu Romano e certos cães, quando enfermos ou enfurecidos, o fascismo é, por natureza, desatado e incontrolável, e se nutre de ignorância, ódio, preconceito, truculência e sangue.
Sangue como o do menino espancado por um numeroso bando de covardes na Avenida Paulista - por mais que se tente bajulá-lo, e alimentá-lo, com suculentos steaks de filé mignon.



sexta-feira, 18 de março de 2016

Rede GLOBO e FIESP querem justiça social? por frei Gilvander Moreira. BH, 18/03/2016.

Rede GLOBO e FIESP querem justiça social?
Frei Gilvander Moreira[1]

Na Bíblia, há inúmeras passagens que alertam o povo contra os ataques dos falsos profetas, dos lobos vestidos de cordeiros, dos falsos sacerdotes, dos latifundiários (saduceus) e imperialistas (reis, Herodes etc). “Cuidado com o fermento dos fariseus, dos saduceus e de Herodes (Marcos 8,15; Mateus 16,6)” e “se a vossa justiça não superar a justiça dos fariseus, não entrareis no reino dos céus (Mateus 5,20),” enfatizam os evangelhos.
“Diga com quem tu andas e o que fazes que direi quem tu és”, diz um ditado popular. Quem está liderando e insuflando a gritaria pró-impeachment da presidenta Dilma e exigindo a prisão do ex-presidente Lula é a Rede gLOBO, a FIESP, o PSDB, o DEM e vários outros integrantes da classe dominante. Representante gigante do poder midiático, a rede gLOBO cresceu apoiando – e sendo beneficiada pela - a ditadura militar-civil-empresarial de 1964 e está envolvida até o pescoço numa mega-evasão de divisas no SUIÇALÃO e de evasão fiscal no próprio país (estimado em mais de 600 milhões), sem contar as falcatruas envolvendo a CBF e a FIFA. Líder do mega poder econômico no Brasil, a FIESP é a Federação das Indústrias de São Paulo. Há 516 anos, no Brasil reina a exploração da classe trabalhadora pela classe dominante de plantão em ciclos sucessivos: pau brasil, açúcar, café, ouro, monoculturas do eucalipto, da soja, do capim, do agronegócio, enfim. “Importa produz produtos primários para exportar”, praticam a classe no poder. Somente nos últimos 14 anos, integrantes da classe trabalhadora conquistaram vários direitos sociais. O PSDB e DEM querem retornar ao poder junto com o PMDB, que está no poder há 30 anos.
A corrupção é a febre de uma doença em crise aguda, que é o capitalismo e o sistema do capital, que tem como regra violentar a dignidade humana e ecológica de forma ampliada e sem limites. Quem dissemina a corrupção e a imoralidade no tecido social é a TV gLOBO com Big Brother, novelas imorais e alardeamento de violência e economicismo. A classe dominante furta (dizer ‘lucro’ é eufemismo) e esfola a classe trabalhadora de forma impiedosa há 516 anos. Os banqueiros nunca furtaram tanto como nos últimos 14 anos. A corrupção corresponde a 10% do roubo, mas 90% do roubo é feito pelo sistema do capital. Por que os badaladores do golpe não questionam o lucro excessivo das grandes empresas?
O PT errou sim e muito, traindo seus princípios originários, mas ser justicializado em “justiça de fariseus e de saduceus” não é aceitável. Até 2002, toda a corrupção era empurrada para debaixo do tapete pelos governantes com a cumplicidade da classe dominante. Foi com Lula e Dilma que o Ministério Público e a Polícia Federal ganharam autonomia para investigar. Foi Dilma que sancionou a lei das delações, o que está viabilizando investigar e punir corruptos e corruptores. Mas por que não se investiga e condena todos os corruptos e corruptores? Por que investigação seletiva, só à esquerda? Por que não investiga o Aécio Neves, o PSDB em São Paulo, o Michel Temer, o Cunha, o Renan Calheiros e tantos outros? Por que não se faz uma Auditoria cidadã das dívidas pública e externa? Duas pedras e duas medidas não é justiça ética.
O juiz Sérgio Moro está sendo parcial, tendencioso, inconstitucional e cometeu várias ilegalidades chegando ao cúmulo de grampear telefones da Presidência da República, cuja competência é do STF, pois a Presidenta tem foro privilegiado. E se ele tiver gravado falas sobre assuntos de segurança nacional? Fazer espetáculo midiático mandando conduzir coercitivamente Lula para depor é se revelar testa de ferro da TV gLOBO e da FIESP. Sérgio Moro está sendo construído pela rede gLOBO, PSDB e FISP para ser Collor 2. Collor, em 1991, abriu as portas do Brasil para o neoliberalismo e para as multinacionais, processo continuado por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, com a privatização de mais de 170 empresas estatais, entre as quais a Vale do Rio Doce, hoje rio azedado pela Vale/Samarco/BHP, que vem cometendo desde o dia 05 de novembro de 2015 o maior crime humanitário-socioambiental da história da humanidade.
A classe trabalhadora está indignada com a crise econômica, com a falta de reforma agrária, de reforma urbana, com a perda de direitos trabalhistas, sociais e ecológicos. Está também irada com o PT, com o PSDB e com toda a classe política, com raras exceções, mas não aceitamos o golpe do capital, midiático e com roupagem jurídica que está sendo insuflado. A Constituição e a democracia precisam prevalecer. A vontade da maioria que elegeu nas urnas Dilma para presidenta precisa ser respeitada, pois Dilma não cometeu crime de responsabilidade.
O grave atual momento histórico ensina que os movimentos sociais e populares, o povo trabalhador organizado deste país que sempre esteve em marcha, nas ruas e na luta, precisa com lutas coletivas intervir muito mais no judiciário, no legislativo, no executivo, na opinião pública e em todas as formas de poderes deste país, sobretudo no combate a Rede gLOBO e toda mídia que está a serviço do capital. É urgente regatarmos a ética e a justiça social nas instituições e nas relações humanas e ecológicas.
Enfim, temos que ser contra o golpe do capital, golpe midiático, do poder econômico e de enclaves capitalistas no judiciário. Alegam combate à corrupção, mas não querem apenas o extermínio de Dilma, de Lula e do PT, desejam ardentemente reforçar a Casa Grande e empurrar a classe trabalhadora (90% da população) para as novas senzalas. Rede gLOBO e FIESP são lobos em pele de cordeiro. Feliz quem não acreditar na manipulação e na incitação à violência que rede gLOBO, PSDB,  FIESP e seus adeptos estão fazendo.
Belo Horizonte, MG, 18 de março de 2016.




[1] Assessor da CPT, de CEBs, do CEBI e do SAB; doutorando em Educação pela FAE/UFMG. Email: gilvanderufmg@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br

quarta-feira, 16 de março de 2016

Violações de Direitos Humanos em Belo Horizonte e Minas Gerais: uma amostra que comove e deixa indignado quem tem coração e consciência humana.

Violações de Direitos Humanos em Belo Horizonte e Minas Gerais: uma amostra que comove e deixa indignado quem tem coração e consciência humana.
Por frei Gilvander Moreira[1]

No Colóquio Social (Audiência Pública) do Ministério Público de Minas Gerais, do CAO/DH – Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos -, em Belo Horizonte, MG, Brasil, dia 14 de março de 2016, das 13:30h às 20:00h, vimos e ouvimos uma amostra das violações de direitos humanos em Belo Horizonte e em Minas Gerais, violências e injustiças que deixaram as pessoas presentes comovidas e pra lá de indignadas.
A promotora Nívia Mônica, coordenadora do CAO/DH, apresentou uma panorâmica do que o CAO/DH do MP/MG tem conseguido fazer e afirmou: “queremos ouvir os/os militantes dos direitos humanos para agirmos melhor.” Nilmário Miranda, secretário dos direitos humanos de governo de Minas, apresentou o elenco de áreas em que está tentando atuar.
Preocupado em dar visibilidade às denúncias e aos clamores, muitos deles em meio a lágrimas, registrei em vídeo, disponibilizei no youtube, em vários blogs, páginas de facebook e no blog www.freigilvander.blogspot.com.br . Eis, abaixo, uma sinopse dos depoimentos, denúncias, alertas, sugestões, criticas etc.

1 - O prof. Dr. José Luiz Quadros de Magalhães, da UFMG e da PUCMINAS, defendeu que, segundo a Constituição de 1988, promotor não mais a missão de acusar/perseguir, mas tem a missão de defender a dignidade humana. Para isso toda a atuação do Ministério Público deve ser para garantir os direitos humanos. Ministério Público acusador/perseguidor, não; dos Direitos Humanos, sim.

2 - O prof. Dr. Daniel Gaia, da FD/UFMG, defendeu que Direito Urbanístico exige Direitos Humanos transversais em todas as áreas do Ministério Público.

3 – O desembargador Renato Luís Dresch, do TJMG, defendeu que Direitos humanos exige afirmação, definição e efetivação. E que a missão precípua do Ministério Público é fazer ações coletivas na defesa dos direitos humanos fundamentais. Defendeu também a criação de Varas especializadas para julgar todas as especificidades que envolvem as violações de direitos humanos.

4 - Cláudia Spranger, promotora de justiça da área de direitos humanos de Belo Horizonte, reivindicou união de todas as instituições – TJMG, OAB, Defensoria Pública, Ministério Público, Coletivo Margarida Alves - e de todos os Movimentos sociais populares na luta por Direitos Humanos. Revelou também a falta de pessoal com qualificação específica para aprimorar a atuação da promotoria dos direitos humanos: psicólogas, assistentes sociais etc.

5 – Cleide Nepomuceno, defensora pública da DPE/MG, defendeu que todos os/as promotores/ras e defensores/ras devem praticar a defesa dos direitos humanos dos injustiçados.

6 - Dona Maria Tereza dos Santos, presidenta da Associação dos parentes e amigos/as das pessoas em privação de liberdade, com intrepidez, fez denúncias dramáticas sobre violações dos direitos dos presos em MG e teceu críticas contundentes aos promotores da área criminal. Os 204 milhões de brasileiros devem assistir ao depoimento da dona Tereza no link, abaixo.

7 – Fernanda Vieira, do Coletivo Margarida Alves e das Brigadas Populares, reafirmou as denúncias feitas pela dona Maria Tereza dos Santos e teceu contundentes críticas aos promotores da área criminal do Ministério Público. “Não há como homens ricos brancos julgarem com justiça homens e mulheres pobres negras de periferia.”

8 - Frei Gilvander Luís Moreira, da Comissão Pastoral da Terra, agradeceu e parabenizou as promotoras de justiça da área dos Direitos Humanos – Cláudia Spranger, Cláudia Amaral, Nívia Mônica, José Silvério, Renato e o procurador Afonso Henrique, esses dois últimos da área de conflitos agrários. E teceu duas críticas ao Ministério Público: altos salários (luxo) e promotores da área criminal enchendo as prisões de pobres, negros e jovens. “Não é justo os prédios luxuosos do MP e nem os altos salários e auxílio moradia (60 mil reais por ano) dos promotores, procuradores, juízes, desembargadores e ministros do poder judiciário. Não condiz com a situação da classe trabalhadora brasileira. Temos que primar por um estilo simples e austero de vida com instituições simples e austeras. É contraditório no MP promotores de (in)justiça terem acusado com mão de ferro 600 mil presos que já estão nas prisões, verdadeiras masmorras. Os promotores da área criminal precisam aprender com Eugenio Raul Zaffaroni, de Buenos Aires, que defende o princípio da co-culpabilidade, que diz: Se o criminoso não teve direito a terra, a moradia, a educação, a saúde, a emprego e a salário justo, se não teve oportunidade de se humanizar, logo a maior parte da pena deve ser creditada ao Estado, que é o maior violentador dos direitos humanos, pois empurra aos pessoas para o crime. Não é justo o MP ter o braço dos direitos humanos pequenininho e um braço forte da área criminal. Coloquem nas grades o Estado e não os pobres!”
9 - Tarcísio Moraes, morador de rua e participante da Pastoral de rua, fez várias denúncias de violações dos direitos humanos do povo em situação de rua. “Várias autoridades, quem mais deveria nos ouvir, foram embora e não ficaram aqui para nos ouvir. Nas ruas sofremos muito com arbitrariedades da política e da guarda municipal. Terminando aqui, vocês irão para as casas de vocês e eu voltarei para dormir em uma calçada. Alguém quer trocar comigo?”

10 - Maria Teresa Corujo (Teca), ambientalista intrépida na defesa do meio ambiente e dos povos, defendeu o Direito a água. Acusou o atual governador de Minas, Fernando Pimentel, de ter aprovado em regime de urgência um Projeto de Lei na ALMG que escancara o estado de MG para as mineradoras ao restringir o controle social nos licenciamentos ambientais. “Querem fazer autolicenciamento. É um absurdo mineração ser considerado algo de interesse público. E bradou: "Basta de mineradoras devastadoras!"

11 - Makota, candomblecista, denunciou as violações que as pessoas de religiões afrodescendentes estão submetidas. “É muito difícil ser candomblecista em um estado hegemonicamente cristão como Minas Gerais. Um promotor do MP de Santa Luzia exigiu que um pai de santo assinasse um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) se comprometendo a fazer acústica no seu terreiro, mas próximo há uma igreja pentecostal que faz um tremendo barulho e não se exigiu acústica. É justo haver só os símbolos católicos nos edifícios públicos?”

12 - Fábio, pesquisador da UFMG, alertou que os/as promotores/ras do Ministério público precisam aprender sobre diversidade cultural e religiosa em Minas Gerais para cometer menos injustiças.

13 - Rafael Roberto Fonseca da Silva, ex-integrante da classe média alta que foi parar na rua, onde sobreviveu por 15 anos. Ele narrou sua história pessoal comovente. Entre outros, disse: "Uma noite, enquanto dormia na rua, acordei com a enxurrada me levando e quase me jogando em um bueiro. Mas um irmão de rua me estendeu a mão e me apresentou o pessoal da pastoral de rua. Pelo Minha Casa Minha Vida, conquistei minha casa. Hoje, minha maior alegria é no final do mês receber uma conta de água e outra de energia e ver escrito lá ‘Rafael Roberto Fonseca da Silva’, isso porque tenho moradia e não preciso mais sobreviver nas ruas. Assim, voltei a ser gente. Não há sonhos perdidos. Há sonhos interrompidos."

14 – Elvis, também ex-morador de rua, hoje integrante do Movimento Nacional do povo de rua, denunciou uma série de violações de direitos das pessoas em situação de rua e dos catadores. E reivindicou políticas públicas, especialmente moradia.

15 – Uma mãe, da ONG Associação das Mães Informantes, em lágrimas, narrou sua luta para cuidar de seu filho João, de 7 anos, que tem paralisia cerebral. Denunciou com intrepidez a violação dos direitos humanos de 3 milhões de pessoas com alguma deficiência no Brasil. Clamou por Direitos Humanos, por respeito, para as pessoas com deficiência. Disse, por exemplo: “Os teatros de Belo Horizonte excluem as pessoas com alguma deficiência, pois não têm acessibilidade. Apenas um salário-mínimo da LOAS para eu e meu filho com deficiência sobreviver é uma migalha. Se vocês não fizerem algo para atender aos direitos nossos, nós vamos fazer uma revolução.” “Meu filho se tornou deficiente por erro médico. Se eu tivesse abortado, não estaria vendo e experimentando o que passa 3 milhões de pessoas no nosso país”, disse. Esse depoimento foi um dos mais comoventes que já ouvi e vi na minha vida. Só não se comove e não se compromete com a causa das pessoas com deficiência quem tem coração de pedra. Quem não assistir ao depoimento da mãe, em lágrimas, no link, abaixo, não entrará no céu.

16 – Uma militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denunciou uma série de violações de Direitos Humanos dos Atingidos por Barragens e Hidrelétricas, e especialmente, os massacrados pelo desastre e crime hediondo da Samarco/Vale/BHP. “O MAB não concorda com o Acordo que o Governo Federal e o poder público em MG firmou com a Samarco, porque não ouviram as famílias atingidas pela Samarco, dentre muitos outras injustiças.”

17 – Um professor da UFMG defendeu com intrepidez os direitos das pessoas LGBTT. Além de dar uma aula sobre respeito à diversidade de orientação sexual, fez várias denúncias e disparou: "Minas Gerais é o estado que mais mata homossexuais."
18 - Maria do Rosário de Oliveira Carneiro, advogada popular, assessor jurídica do INSEA (Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável), denunciou as violações de Direitos Humanos dos catadores de material reciclável e defendeu a extinção do TAC que o MP/MG firmou com a COPASA, CEMIG e prefeitura de BH proibindo a instalação de rede de energia, água e saneamento nas ocupações urbanas. “Isso não existe em nenhum outro estado. Água e energia é bem comum. Não pode continuar sendo tratado como mercadoria. É inconstitucional e imoral negar água e energia ao povo das ocupações. Somente na Ocupação Dandara três pessoas morreram eletrocutadas tentando fazer gato de energia. Tem que extinguir esse TAC abominável.”

19 – Gladston, da Pastoral Nacional do Povo da rua, denunciou várias violações de Direitos Humanos das pessoas em situação de rua e dos catadores.

20 – Uma jovem negra denunciou que a violência contra as mulheres está crescendo no estado de MG, o que é inadmissível.

21 – Charlene Cristiane Egídio, da coordenação das Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória), denunciou a violência perpetrada pela polícia militar de MG contra o povo das ocupações da Izidora dia 19 de junho de 2015 na Linha Verde, próximo à Cidade Administrativa, e denunciou as prefeituras de Belo Horizonte e de Santa Luzia por estarem negando acesso a saúde e a educação pública de qualidade para o povo das ocupações da Izidora.

22 – Um senhor vítima do desastre socioambiental da mineradora Samarco/Vale/BHP denunciou o descaso com que a Samarco vem tratando as vítimas do crime de Mariana. “O pouco que recebemos de direito tem sido através do promotor do Ministério Público,” disse.

Obs.: Dezenas de pessoas tiveram que ir embora antes de serem ouvidas, pois não deu tempo para ouvir todas/os. Além das denúncias, muitas sugestões foram colocadas.
Esperamos que as denúncias feitas, registradas e divulgadas por nós não fiquem sem resposta aguerrida do Ministério Público.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 16 de março de 2016.









[1] Assessor da CPT, de CEBS, do SAB e do CEBI; doutorando em Educação pela FAE/UFMG. Email: gilvanderufmg@gmail.com -  www.freigilvander.blogspot.com.br face: Gilvander Moreira

Fernanda, das Brigadas Populares: "MP não é para jogar pobre, negro e jo...

Tarcísio Moraes, morador de rua, denuncia violações dos direitos humanos...

Maria Teresa (Teca): Direito a água, sim! "Basta de mineradoras devastad...

Fábio, da UFMG: "que o Ministério público aprenda sobre diversidade cult...

Rafael Roberto, ex-morador de rua: "Alegria é receber conta em meu nome,...

Elvis: violações de direitos das pessoas em situação de rua e dos catado...

MAB na luta pelos Direitos Humanos dos Atingidos por Barragens e Hidrelé...

Mãe, em lágrimas, no MP MG, clama por Direitos Humanos para as pessoas c...

Prof. da UFMG: "Minas Gerais é o estado que mais mata homossexuais." Di...

Maria do Rosário, advogada do INSEA: Direitos Humanos dos catadores e da...

sexta-feira, 11 de março de 2016

Palavra Ética na TVC/BH: Eletricitários lutam por direitos. CEMIG oprime...

Palavra Ética na TVC/BH: Incineração de lixo tóxico de Cubatão em Sarzed...

Luta pela terra e por Direitos/Sul da Bahia. Ana Maria, advogada popular...

“SEDE SÁBIOS COMO AS ‘JARARACAS’, DISSE JESUS. Por Ildo Bohn Gass. 11/03/2016.

“SEDE SÁBIOS COMO AS ‘JARARACAS’, DISSE JESUS. Por Ildo Bohn Gass.

“Sede sábios como as ‘jararacas’, disse Jesus”, artigo de Ildo Bohn Gass, biblista e assessor do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos). Ildo diz no artigo: “Enquanto o papa Francisco convoca o ano da misericórdia, o bispo blasfema o nome de Deus, reforçando o ódio de classe, a intolerância e o fascismo, já amplamente disseminados pela elite em sua mídia comercial e em suas redes sociais.” Eu, frei Gilvander Moreira, com mestrado em Exegese Bíblica, assino embaixo de tudo o que nosso colega Ildo Bohn Gass refletiu no artigo “Sede sábios como as ‘jararacas’, disse Jesus”. Tristemente, há muitas pessoas religiosas, inclusive padres, pastores e bispos, que estão sendo analfabetos políticos diante do golpe do capital e dos capitalistas que está sendo perpetrados contra a classe trabalhadora. Esmagam a Petrobrás, porque insistem em entregar o pré-sal para as multinacionais dos Estados Unidos. Insistem em fortalecer a Casa Grande e empurrar a maioria do povo para a senzala. Querem acabar com o SUS já na UTI e exterminar os direitos sociais e ecológicos. A luta contra corrupção é desculpa. Toda e qualquer corrupção de quem quer que seja deve sim ser combatida, investigada e punida, mas a opressão maior é a exploração perpetrada pelo capital, pelo capitalismo e pelos capitalistas, os que detêm a propriedade privada dos meios de produção (terra, indústrias, fábricas etc) e compram a força de trabalho apenas por um salário, que é apenas o “sal” para revigorar as energias do/a trabalhador/a para ele/ela ser explorado/a no dia seguinte. Assim, acumula-se MAIS-VALIA, furto que eufemisticamente se chama de lucro. Essa é raiz de todas as injustiças sociais. Sugiro a leitura do artigo no link, abaixo, e peço a quem puder que divulgue, pois “de boas intenções a estrada para o inferno está pavimentada”.

http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=&noticiaId=6463

NOTA DA CNBB SOBRE O MOMENTO ATUAL DO BRASIL. 10/03/2016.

NOTA DA CNBB SOBRE O MOMENTO ATUAL DO BRASIL

“O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)
Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016, manifestamos preocupações diante do grave momento pelo qual passa o país e, por isso, queremos dizer uma palavra de discernimento. Como afirma o Papa Francisco, “ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).
Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça.
A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade. 
As suspeitas de corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas pelas instâncias competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de credibilidade nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.
O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.
Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.
Inspirem-nos, nesta hora, as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,11). 
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela nossa nação!
Brasília, 10 de março de 2016.

Dom Sergio da Rocha                              Dom Murilo S. R. Krieger
    Arcebispo de Brasília-DF                     Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA
   Presidente da CNBB                         Vice-Presidente da CNBB
      Dom Leonardo Ulrich Steiner
         Bispo Auxiliar de Brasília-DF
          Secretário-Geral da CNBB

terça-feira, 8 de março de 2016

Horta medicinal no Assentamento Nova Conquista II, do MST, na Ariadnópol...

Cantoria da militância do MST nas terras da Ariadnópolis, no Sul de MG: ...

TRÊS “FOTOGRAFIAS” DA LUTA PELA TERRA EM MINAS GERAIS: LUTA PELA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE JUSTA E SOLIDÁRIA. por Gilvander Moreira

TRÊS “FOTOGRAFIAS” DA LUTA PELA TERRA EM MINAS GERAIS: LUTA PELA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE JUSTA E SOLIDÁRIA 

(Three ‘photos’ of fight for land in Minas Gerais: fight for a fair society and with solidarity), 

artigo de Gilvander Luís Moreira, IN Revista TRABALHO & EDUCAÇÃO, vol. 24, n. 2, p. 157-168, Belo Horizonte, maio-agosto, 2015, disponível, além de impressa, no link, abaixo, podendo ser baixado em pdf:

http://www.portal.fae.ufmg.br/revistas/index.php/trabedu/article/view/2324

MST: Cooperativa Camponesa na Ariadnópolis/MG: terra, cooperação, educaç...

MEDALHA MÁTIRES DE UNAÍ EDIÇÃO 2016

08/03/2016 - MULHERES EM LUTA: OCUPAÇÕES OCUPAM CRAS EM BELO HORIZONTE, MG, E DENUNCIAM A PRIVAÇÃO DE ATENDIMENTO DE SAÚDE E EDUCAÇÃO.

08/03/2016 - MULHERES EM LUTA: OCUPAÇÕES OCUPAM CRAS EM BELO HORIZONTE, MG, E DENUNCIAM A PRIVAÇÃO DE ATENDIMENTO DE SAÚDE E EDUCAÇÃO.

Mulheres das ocupações Rosa Leão, Helena Greco, Brigadas Populares e Rede de Apoio ocupam o CRAS Zilah-Spósito no dia internacional da mulher, 8 de Março, para denunciar a crise da saúde das periferias e a privação do acesso ao direito universal e integral à saúde e educação.
Nos centros urbanos a condição de moradia das ocupações urbanas, criminalizada pelos poderes públicos locais e pelo judiciário, têm determinado o não acesso ou o acesso precário à políticas sociais de caráter universal. Seja em função do planejamento urbano que prioriza a construção de equipamentos públicos nos centros em detrimento da descentralização do atendimento nas periferias, seja por considerar um território ocupado um espaço transitório, ilegal e à espera do direito, o Estado tem negado o acesso a políticas públicas essenciais para garantir a vida e os direitos humanos das mulheres.
No bairro Zilah Spósito, ocupação da década de 80, a construção de um posto de saúde é apenas uma promessa vaga. Mais de 15.000 famílias são obrigadas a frequentar uma pequena sala no CRAS Zilah Spósito para terem acompanhamento básico de saúde. Para as famílias das ocupações nem sequer isso. Sob o argumento de não possuirem CEP fixo o posto improvisado nega à várias mulheres, crianças e idosas o atendimento básico, acompanhamento e medicamentos. Além disso, serviços como a saúde da família inexistem nos territórios tidos como “ilegais”. Várias crianças estão fora das escolas porque a região não disponibilizavam vagas para crianças de ocupação.
A realidade do bairro foi vivida por várias ocupações urbanas em Belo Horizonte. Para serem atendidas as famílias da ocupação Dandara, no bairro Céu Azul, tiveram que ocupar postos de saúde e fazer importantes denúncias. Para atendê-las o estado construiu um anexo provisório, como provisória esperava que fosse a moradia daquelas famílias que estão há quase 7 anos com a ameaça de uma ação de reintegração de posse.
Para as mulheres de periferia, responsabilizadas pelas atividades de cuidado, o ônus dessa exclusão é arrasador e incontornável. 
Hoje são as mulheres das ocupações Rosa Leão e Zilah Spósito quem dão continuidade pela dignidade de suas famílias, pela garantia de seus direitos e por uma cidade em que caibam todas.
- Que todos os moradores das ocupações Rosa Leão e Zilah Spósito-Helena Greco tenham sejam cadastrados em seus devidos endereços nas ocupações; 
- Que as famílias das ocupações sejam atendidas e respeitadas pelos servidores públicos;
- Que todas as crianças sejam imediatamente matriculadas em escolas próximas ao seu local de moradia;
- Que o posto de saúde Zilah Spósito seja construído em benefício a toda a comunidade. Já existe um espaço destinado e aprovação da obra para a construção;
- Que sejam, contratados mais profissionais da saúde para o atendimento das famílias da região;
- Que Secretaria de Saúde, de Educação e de Direitos Humanos de Belo Horizonte do estado de Minas Gerias estabeleça um diálogo imediato com as famílias das ocupações.

Contatos: 
Charlene – 31 989808219
Cleice – 31 986014535

Isabella – 31 993832733