Manifesto de
religiosas e religiosos em defesa da democracia
“Todas
as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão
e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade”. (Artigo 1ª da Declaração Universal de Direitos Humanos.)
Pertencemos
a várias tradições religiosas. Queremos, com o nosso testemunho, contribuir
para o diálogo e para a superação da crise pela qual passam o Brasil e diversos
países da América Latina. Em nossas tradições a justiça é sagrada e sustenta a
vida em igualdade. Os princípios que nos orientam não admitem que a avaliação
de um grupo social se sobreponha ao outro, determinando, a partir de seus critérios
e interesses, se um governo é bom ou ruim. Todos somos filhas e filhos do Criador.
Por isso, todas as pessoas são portadoras dos mesmos direitos de avaliação e as
mesmas obrigações com o bem comum e o bem viver.
Neste
contexto de aflições, expressamos uma palavra de conforto e fortalecimento para
irmãs e irmãos, companheiras e companheiros que vivem o seu testemunho em
coerência com o projeto de igualdade e justiça. Colocamo-nos em comunhão com
todas as pessoas perseguidas por causa do seu compromisso pela paz, pela
justiça social e por um novo mundo possível. Por isso, afirmamos:
1 - Aprendemos pela
fé que toda crise acarreta sofrimento, mas pode também ser como dores de parto,
portadora de uma vida nova. Que essa experiência de dor nos ajude a rever os
erros cometidos pelas instituições e poderes constituídos e por nós mesmos.
Como pessoas de diferentes tradições religiosas, nem sempre cumprimos a missão
de permanecer vigilantes para cuidar do exercício da Política e de seu papel de
garantir direitos e promover o bem comum.
Que esse tempo nos
encoraje para as autocríticas necessárias. Não nos deixemos tomar pelo desânimo
e pessimismo. Repudiamos as manifestações de ódio, violência e intolerância que
os meios de comunicação e a elite desse país têm insuflado na população. Não
concordamos com a judicialização da política, com a partidarização da justiça e
com a espetacularização de ações judiciais. Essas são práticas que contribuem
para o descrédito das instituições e o acirramento de posições polarizadas, o
que leva a população brasileira a desacreditar na justiça. Não podemos entrar
no mesmo jogo. Optamos por manter o respeito a quem pensa diferente.
Defendemos o direito
ao pluralismo democrático e ao contraditório. Sejamos fiéis ao diálogo sincero,
mesmo com quem tem posições políticas contrárias às nossas.
2 – Lembramos que a
corrupção, infelizmente, é antiga. Ela é inerente ao espírito do capitalismo,
competitivo e individualista. Devemos nos empenhar para a superação dessa
prática, nas esferas pública, empresarial e pessoal. Mas o combate à corrupção
não pode ser um pretexto, como em diversas vezes na história do Brasil, para
legitimar golpes de Estado que acarretaram perseguições e sofrimento para o povo.
3 – Reconhecemos que,
além das causas oriundas de situações que são da realidade nacional, há sinais
claros de interferências e patrocínios, oriundos de interesses internacionais.
Esses interesses visam desestabilizar nossos países, quando nossas nações
buscam independência política e econômica. Portanto, o que está acontecendo no
Brasil não pode ser desligado das intervenções golpistas como as que aconteceram
em Honduras e no Paraguai. Na Argentina, decisões judiciais a serviço dos
interesses de corporações internacionais acarretaram prejuízos graves para
aquele país. Vemos também a realidade brasileira ligada às tentativas de
desestabilizar os governos da Bolívia, Venezuela, Equador e outros do
continente.
Expressamos o nosso
compromisso com as pessoas vulneráveis: povos indígenas, quilombolas, da
floresta, mulheres, jovens negros e da periferia, LGBTTs, idosos, idosas entre
outros que poderão ser profundamente impactados com os ajustes econômicos e com
a ruptura da ordem democrática e do Estado de Direito.
A democracia é
essencial para a convivência e a coexistência entre diferentes religiões,
grupos e pessoas não religiosos. Por isso, permaneceremos vigilantes. É com a
democracia que aprendemos a ser tolerantes com o outro. No entanto, nossas
experiências de fé nos desafiam a irmos para além. Devemos caminhar em direção
ao reconhecimento do direito do outro à existência.
Vamos fortalecer o
diálogo e anunciar a paz!
24 de março de 2016.
Dia Internacional para o Direito à Verdade e 36° ano do martírio de Oscar
Romero.
Assinam:
Frei Rodrigo Peret, Comissão Justiça, Paz e
Integridade da Criação dos Franciscanos.
Frei Gilvander Luís Moreira, CPT
Etc...
Obs.: Religiosas e
religiosos que quiserem assinar, esse Manifesto favor enviar adesões até o
dia 29 de março para o email: secretariageral@conic.org.br
Ao enviar a sua adesão precisamos de: Nome
completo, título religioso (caso tiver) e tradição religiosa.
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