O Brasil pós-eleições. Por Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior[1]
O Brasil pós-eleições parece com um
povo andando pelo deserto ainda desnorteado com a liberdade mal testada, com as
tropas egípcias ainda no seu pé e gente querendo voltar para trás com saudades das
cebolas. Caminhar sem mapa no deserto exige mirar estrelas.
Vamos precisar de profetas para as
várias etapas que estamos a viver. Algumas e alguns são agora deputados e
deputadas na luta parlamentar. Nossos companheiros para fortalecer a sociedade
civil e a voz do povo organizado.
Precisamos de profetas para cidades
como São Paulo que ainda vive no exílio, apesar de ter votado na democracia.
Mas a maioria dos paulistas quis um miliciano de direita.
Profetas para rincões da Amazonia que
sofre os abusos gritantes dos latifundiários, do trabalho escravo e da
monocultura coloniais. Felizmente temos o cardeal Steiner como voz que clama em
Manaus.
E, claro, para o Brasil inteiro,
oxalá surjam profetisas e profetas pós exilicos na árdua tarefa coletiva e política
e social e religiosa e ética, de reconstruir a democracia, a voz dos pequenos,
das mulheres, dos indígenas e do povo negro. A nos fortalecer temos MST E
MTST.
Recordo da voz do padre Bouzon:
“A análise da literatura profética
mostra-nos, pois, que a preocupação máxima de um profeta não é predizer o
futuro, o profeta não é um adivinho. Ele é, sim, um pregador que anuncia a
vontade do Deus de Israel ao povo. Ele fala, portanto, conforme a necessidade
do seu tempo. A preocupação de um profeta pré-exílico é condenar os abusos e as
injustiças sociais que reinavam na sociedade israelita e judaica nos séculos
VIII, VII e VI a.C. Já o profeta exílico procura reanimar o povo exilado e sem
independência política e religiosa. O profeta pós-exilico trabalha na reconstrução
de Jerusalém e do país" (Emanuel Bouzon, O profetismo no Antigo Oriente e
no Antigo Testamento, in: Maria Clara Lucchetti Bingemer & Eliana Yunes,
Profetas e profecias numa visão interdisciplinar e contemporânea, São Paulo:
Ed. Loyola, 2002, p. 41).
Discernir a hora, o lugar e as
utopias necessárias. Tarefa importante na casa, na rua, na Escola, nos
sindicatos, nas associações e ongs. Em cada lugar uma palavra oportuna e
lúcida. Tenho em meu olhar Dom Paulo, pastor Jaime Wright, dom Helder e dom
Luciano como luminares e exemplos a seguir.
Enfrentar os fascismos e ouvir as
dores do povo. As duas tarefas ao mesmo tempo pois são duas faces da mesma
moeda.
Há estes destruidores do Centro dom
Bosco no Rio, há os velhos e novos nazistas em Santa Catarina, há fome nas
ruas, há milicianos por toda parte, há corruptos e criminosos nos aparelhos
policiais, enfim, tá danado. MAS EXISTEM padres Julios e irmãs Dulces e as
comunidades nas periferias resistindo e existindo e haurindo forças das raízes
culturais. São as redes de jovens lutadores e das mulheres articuladas. Gente
que ama e luta. Gente que partilha. Gente ecumênica das várias denominações que
sabe que o amor nos une.
Há torcidas organizadas derrubando
barreiras.
Ah, enfim, temos papa Francisco, agora
costurando fraternidade no Bahrein.
Aleluia! Deus é misericórdia e está conosco. Bem do nosso lado. Emanuel
- conosco.
Teremos que construir todo o edifício
popular pedra a pedra, argamassa a argamassa, suor a suor, cantiga a cantiga.
Como diz o primeiro samba: Ô, abre alas, que vamos passar! Com serenidade e
paz. Com memória, justiça, verdade.
Abraços na esperança teimosa e com muita paz nas mãos e no coração.
SP, 05/11/2022
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